Sexta, 15 Junho 2018 15:45

 

Foi uma trajetória de anos de lutas em defesa da vida e dos direitos das mulheres na Argentina, que culminou, nesta quinta-feira (14), em uma vitória histórica. Depois de uma sessão de quase 24 horas, acompanhada por mais de um milhão de pessoas nas ruas do país, os deputados aprovaram, na Câmara dos Deputados, o projeto de legalização do aborto na Argentina. Segundo a lei aprovada, a interrupção da gravidez poderá ser feita até a 14ª semana de gestação. A proposta segue agora ao Senado, onde também será votado, para posterior sanção presidencial.

Pela legislação atual, que data de quase um século atrás, o aborto é permitido em casos de estupro ou risco para a vida da mãe. Nos demais casos, a prática é penalizada com até quatro anos de prisão para a mulher e para o médico.

“Maré Verde”
Durante meses, a Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Gratuito e Seguro promoveu uma série de mobilizações massivas, que ficaram marcadas pelo símbolo de um lenço verde. Nessa terça (13), quando teve início o debate da votação do projeto, milhares de mulheres ocuparam mais uma vez as ruas de Buenos Aires, com lenços e bandeiras verdes.

Votação histórica
Foram 129 votos favoráveis, 125 contrários e uma abstenção que garantiram a aprovação do Projeto de Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez no país. A lei para ser aprovada necessitava de, pelo menos, 128 votos. O projeto já havia sido apresentado sete vezes na Câmara, mas nunca foi posto em votação.

No entanto, a crescente pressão dos movimentos sociais articulados na Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito, com a pauta educação sexual para decidir, anticoncepcional para previnir, aborto legal para não morrer, conseguiu fazer com o que a proposta finalmente fosse apreciada pelas deputadas e deputados.
As falas das parlamentares e dos parlamentares favoráveis ao projeto ressaltaram o alto índice de mortes e internações por conta de complicações derivadas de abortos realizados de forma clandestina. Chamaram a atenção para a necessidade de o tema ser tratado como questão de saúde pública e não sob a ótica de valores morais individuais e religiosos. Ressaltaram também o fato de que países onde o aborto é garantido por lei número de abortos são bem menores.

Foram lembrados também casos emblemáticos como da adolescente Julia, de 16 anos, que morreu alguns dias após realizar um aborto numa clínica clandestina. A jovem passou dias com febre alta por conta das complicações e foi tratada pela mãe como se estivesse resfriada. Quando finalmente foi levada ao hospital, já resistiu e acabou falecendo.

Outro caso mencionado foi o da jovem conhecida como Belén, que, em 2014, procurou o pronto-socorro de um hospital público com hemorragia vaginal, sem saber que estava grávida. Foi diagnosticada com um aborto espontâneo, mas depois foi acusada de ter descartado o feto no banheiro do hospital. 

Belén foi presa e condenada, pela justiça local, a oito anos de prisão por “homicídio agravado pelo vínculo” em um processo cheio de irregularidades e sem provas. A jovem, na época com 27 anos, passou mais de dois anos detida até que, em agosto de 2016, em meio a uma grande mobilização social, a Corte Suprema provincial autorizou que aguardasse a sentença definitiva em liberdade. Sete meses depois, esse mesmo tribunal a absolveu.

“Este é o século dos direitos das mulheres, mais cedo ou mais tarde, as jovens que portam os lenços verdes vão conquistar o que reivindicam. Tiremos da clandestinidade o aborto. Unidas em nossas diferenças, que o aborto seja lei”, pediu, em meio a lágrimas, a deputada Silvia Lospennato, a última oradora a favor do projeto, antes do debate dar espaço para a votação.

Segundo os dados da Campanha Nacional Pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito, cerca de 600 mil mulheres abortam todo ano no país, o que comprova que a ilegalidade não proíbe que a prática aconteça, mas expõe as mulheres a mais riscos. De acordo com as estatísticas oficiais do Ministério da Saúde, cerca de 100 mulheres morrem por ano em decorrência de abortos inseguros. No entanto, para as organizadoras da campanha, há uma subnotificação das mortes por aborto clandestino.

Avaliações
Para a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Katia Marro, que é argentina, a vitória foi extremamente importante, diante da conjuntura de ataques aos direitos sociais naquele país. “Com o avanço do Macrismo à frente da presidência do país, a Argentina vem experimentando uma série de retrocessos que atingem as condições de vida da população, com ampliação da pobreza, com crescimento de pautas reacionárias”, explicou. 

Katia destaca o processo de construção da adesão em torno da pauta, que ganhou muitas consciências, inclusive por dentro das forças de direita que, historicamente, não votariam essa pauta. Isso, segundo a docente, demonstra a capacidade de conquistar as mulheres, inclusive por dentro da direita. “Podemos dizer que as feministas construíram a contra hegemonia ganhando consciência, a partir de uma experiência tão concreta que atravessa qualquer mulher”, comentou. “Um argumento chave, que me parece que a gente precisa aprender a partir disso, é a ideia de que o que se está votando é aborto legal ou aborto clandestino, porque as mulheres já abortam. E há um recorte de classe em relação a isso, pois a mulher rica, burguesa consegue pagar por um aborto ilegal, e a mulher que morre é a mulher pobre, filha da classe trabalhadora”, completou.

Maíra Kubik Mano, docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA), também comemorou a aprovação da lei. “É um marco emocionante esse momento na Argentina. É um reconhecimento dos direitos das mulheres ao próprio corpo e é realmente comovente ver um país vizinho, que tem um processos históricos de colonização e religiosidade que podem ter algum grau de similaridade conosco, aprovar uma lei que legaliza o aborto. Isso é muito impactante”, comentou. 

Maíra contou que acompanhou parte dos debates durante a votação e também destacou a construção dos argumentos, que reforçaram a ideia de que o que estava em votação era a legalidade ou não do aborto, pois a prática de fato já existe na Argentina, e não legislar sobre isso não vai alterar o fato de que milhares de mulheres recorrem ao aborto. “Inclusive, nos países onde já se tem a legalização ou a descriminalização do aborto, os dados mostram que houve uma diminuição na taxa de aborto, por que junto com a descriminalização, houve investimento em prevenção e acho que esse é o caminho que parece que a Argentina está tomando agora”, acrescentou, lembrando o slogan campanha “educação sexual para decidir, anticoncepcional para previnir, aborto legal para não morrer”.

 

Para Maria Regina Ávila Moreira, docente da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ainda que parcial, a aprovação mostra o avanço da luta das mulheres, especialmente pelo amplo processo de mobilização ocorrido. “É uma voz que vem das ruas, da população. Embora os coletivos feministas aqui no Brasil, das mais variadas tendências, lutem pela legalização do aborto, nós ainda temos dificuldades de termos um processo de mobilização mais massivo como foi na Argentina. Até para isso penso que seja importante essa aprovação, para que as mulheres daqui se sintam motivadas a ir para as ruas para lutar por isso também no Brasil. É uma luta pelo direito à vida das mulheres, que desmitifica a proposta da legalização do aborto. Estou em êxtase com a notícia”, declarou. “É um momento para os coletivos e sindicatos do Brasil assumirem essa bandeira e ir às ruas, inclusive para apoiar a luta das argentinas, que ainda segue até a aprovação no Senado”, concluiu. 

Andrea Moassab, professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), destaca que essa não é uma luta só das mulheres, mas sim de toda a sociedade. “Algo que é muito impressionante no caso da Argentina é o número de mulheres que foram para as ruas, cobrar os parlamentares, fruto de uma construção histórica. Esse projeto de lei já tinha sido apresentado por sete vezes, mas nunca tinha ido à votação. É uma construção histórica e uma conquista histórica. Por outro lado, aqui no Brasil, com todas as dificuldades de mobilização que a gente tem tido nos últimos anos, as mulheres também têm ido pra rua. A Primavera das Mulheres, em 2015, pedindo o “Fora Cunha” também foi muito importante naquele momento. Nesse debate das mulheres o que está em foco é como os corpos são políticos, e não podemos nos esquecer também dos corpos dos negros e dos LGBTs, que também são historicamente violentados”, avaliou. A docente ressaltou que no caso do aborto, é importante publicizar o debate e também resgatar pautas antigas – como ampliação de creches públicas, educação em período integral, condições igualitárias de trabalho - que estão relacionadas com a emancipação da mulher e a exploração do trabalho não pago das mulheres. “O capitalismo se sustenta nesse trabalho não pago. Publicizar o debate do aborto é também debater essa questão. Como os sindicatos vão debater esse trabalho não pago? Cada vez mais essas pautas tem que ser prioridade para o movimento sindical”, disse.

Mariana Trotta, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também avalia que a votação desta quinta foi uma vitória histórica do movimento feminista e que certamente vai repercutir na América Latina e fortalecer a luta para conseguir essas vitórias também no Brasil. “No Brasil, tivemos uma ascensão feminista, de uma luta histórica que já vem de muito tempo, mas que nos últimos anos, com a Primavera Feminista, ganha mais força. E ganha mais força ainda com essa conquista histórica das mulheres argentinas. Já tivemos a legalização do aborto no Uruguai, agora na Argentina, e esperamos que gere uma reação em cadeia que fortaleça as lutas no Brasil, tanto no julgamento da ADPF pela descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação como no projeto de lei, que tramita no Congresso, pela legalização”, declarou. 

Qelly Quirino, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), também considera a votação um avanço significativo para a América Latina como um todo. “Pensar que um país vizinho conseguiu, nesse contexto de exacerbado conservadorismo, aprovar uma pauta extremamente polemica como essa, faz com que o movimento de mulheres do Brasil possa, pelos mesmos mecanismos das argentinas, utilizar a mesma estratégia. Enquanto representante de um coletivo feminista, em termos objetivos e concretos, temos vivenciado no Brasil a retirada de direitos fundamentais. A própria perspectiva da criminalização do aborto em caso de estupro e de anencefalia ou risco à saúde da gestante, evidenciam extremo retrocesso no que tange à saúde pública. A experiência argentina vai nos impulsionar, enquanto movimento organizado de rua, a tomar como experiência essa realidade e essa estratégia de luta.”, declarou. 

“Em termos de resistência, nós não temos recuado, e não recuar já um avanço significativo. A própria perspectiva do ANDES-SN de aprovar a legalização do aborto em seu último Congresso [em Janeiro em Salvador] é fundamental e teremos que retomar essa pauta no novo ciclo. É um momento oportuno, a partir dessa experiência, de retomar o processo dialógico de luta”, completou. 

A diretora do ANDES-SN, Jacqueline Lima, também comemorou a vitória, que considerou não só da Argentina, para o movimento de mulheres de todo o mundo. “Principalmente porque, no mundo inteiro, a gente percebe o recrudescimento do conservadorismo que, geralmente, recai diretamente sobre as mulheres e sobre os direitos das mulheres. É importante a vitória na Argentina, mesmo sabendo que ainda falta passar pelo Senado, e há uma grande a ser travada pelos movimentos sociais e pela população. É um fortalecimento dos movimentos de luta em defesa da escolha da mulher e da defesa do direito da mulher pelo seu corpo”, comentou.

Em 2015, o ANDES-SN aprovou em seu 34º Congresso a posição favorável à luta pela descriminalização do aborto. Este ano, no 37º Congresso do Sindicato Nacional, os docentes deliberaram por lutar pela legalização do aborto, assim como pelo fortalecimento de oferta de políticas públicas de saúde direcionadas aos direitos sexuais e reprodutivos parar atender as mulheres.

 

Fonte: ANDES-SN (com informações e imagens Izquierda Diario e Brasil de Fato)

 

 

Sexta, 15 Junho 2018 13:40

 

Em assembleia geral realizada nessa quinta-feira, 14/06, os professores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) concluíram o debate e encaminhamentos sobre a conjuntura política, iniciado na assembleia do dia 07/06, e escolheram os representantes da entidade para o 63º Conselho do ANDES Sindicato Nacional, que será entre os dias 28/06 e 01/07, no Ceará.

 

Os presentes retomaram debates importantes, e atualizaram os relatos a greve estudantil na universidade e os ataques aos serviços públicos em nível nacional. A criminalização dos estudantes por meio de uma lista fornecida pela administração superior da UFMT à Justiça, contendo nomes e registros de matrícula de todos os estudantes dos cursos de Serviço Social e História, a ausência da reitora Myrian Serra na reunião do Conselho Universitário (Consuni) realizada no dia 13/06, bem como a recusa em dialogar com o Comando de Greve do campus de Cuiabá foram duramente criticadas. Alguns docentes mencionaram, inclusive, que ações do tipo foram praticadas durante a ditadura militar.

 

A lista entregue pela Reitoria não discrimina estudantes que trancaram a matrícula ou mesmo já se formaram. “Nós dissemos à reitora que a demora na abertura do diálogo levaria a situações gravíssimas, como confrontos com a polícia e outros casos de perseguição, agressão e violência. O professor Roberto chegou a pedir que ela não viajasse enquanto isso não fosse resolvido, mas nós fomos surpreendidos pela retomada da agenda no dia da reunião do Consuni. Agora nós temos 749 estudantes que, indiscriminadamente, terão de responder por atividades das quais nem fizeram parte. No mínimo terão de contratar um advogado e gastar dinheiro, e poderão ter problemas, inclusive, para assumir cargos públicos”, ressaltou o presidente da Adufmat-Seção Sindical do ANDES, Reginaldo Araújo.

 

O professor da UFMT no Araguaia, Ivairton Santos, afirmou que desde antes do Movimento Estudantil entrar em greve a Reitoria já demonstrava fragilidades na condução das negociações. “Os estudantes do interior informaram que o estopim para o início da greve foi justamente a ruptura do diálogo que já estava em andamento, quando a Reitoria anunciou sua proposta já para o mês de maio”, disse o docente.  

 

A pedido do professor Elifas Gonçalves Junior, a assembleia debateu uma campanha da Adufmat-Ssind contra a imposição da Reitoria de implementar disciplinas de empreendedorismo em todos os cursos da universidade. O professor do Departamento de Administração afirmou que há outras leituras acerca do empreendedorismo, nem sempre numa perspectiva de lucro, e que parte dos docentes quer esse tipo de conteúdo no currículo dos estudantes. O docente chegou a solicitar que o banner fosse retirado, proposta rejeitada pela plenária, por meio de votação.

 

No entanto, após algumas considerações, a plenária concordou que o sindicato precisa ampliar o debate sobre o assunto a partir das diferentes perspectivas apontadas.

 

Por fim, após retomada do debate sobre conjuntura, as propostas apresentadas e aprovadas foram: criar uma comissão para acompanhar os planos de saúde que têm convênio com o sindicato; realizar pelo menos três debates sobre empreendedorismo até o final do ano; manter os banners elaborados pela Adufmat-Ssind; viabilizar a participação de um docente de cada campi (totalizando três) na jornada de lutas convocada pelo ANDES Sindicato Nacional nos dias 19 e 20/06, em Brasília; realizar uma campanha com mote NEGOCIA, MYRIAN; elaborar uma moção de republico às declarações do deputado federal Nilson Leitão à Rádio Meridional FM, em Sinop, no dia 07/06/18; promover uma campanha publicitária em defesa da universidade pública.

 

Para representação do sindicato no 63º Conad, que será realizado no Ceará entre os dias 28/06 e 01/07, foram escolhidos os professores Alair Silveira (delegada), Clariana Silva (1ª suplente), Patrícia Marisco (2ª suplente), Adriana Pinhorati (3ª suplente), e Maria Luzinete Vanzeler.

 

O ponto de pauta “pesquisa de opinião entre os professores sobre o sindicato” não foi debatido pelo avançado da hora.

 

 

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind  

 

     

 

 

 

 

Sexta, 15 Junho 2018 12:55

 

O Indicador Antecedente Composto da Economia (Iace), que mede a atividade econômica do país, caiu 1% de abril para maio e chegou a 116 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos. Segundo dados divulgados, nesta quinta-feira (14), pela Fundação Getulio Vargas (FGV), dos 8 componentes do indicador, 4 tiveram queda, com destaque para o Índice de Ações Bovespa, que recuou 10,9%. Na Agência Brasil

piora economia
Os outros 7 indicadores que compõem o Iace são:

1) taxa referencial de swaps DI pré-fixada - 360 dias (do Banco Central do Brasil);

2) Índice de Expectativas da Indústria (da FGV);

3) Índice de Expectativas dos Serviços (da FGV);

4) Índice de Expectativas do Consumidor (FGV);

5) índice de produção física de bens de consumo duráveis (do IBGE);

6) Índice de Termos de troca (da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior/Funcex); e

7) Índice de quantum de exportações (da Funcex).

De acordo com a FGV, as dificuldades de aprovação das reformas necessárias para a melhora do quadro fiscal e os desdobramentos da greve dos caminhoneiros pioraram a percepção com relação à retomada do nível de atividades, que já era considerada modesta, segundo a FGV.

Já o Indicador Coincidente Composto da Economia (ICCE, FGV TCB) do Brasil, que mensura as condições econômicas atuais, caiu 0,1%, no mesmo período.

 

Fonte: DIAP

Sexta, 15 Junho 2018 10:48

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

  

Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Jornalismo/USP; prof. de Literatura/UFMT

 

A interrogação do título acima foi inspirada em “Paranoia ou mistificação?”, artigo escrito por Monteiro Lobato contra a exposição que Anita Malfatti realizou, em 1917, após ter voltado da Alemanha, berço do Expressionismo.
 
Impiedoso, Lobato desconsiderou a arte de Malfatti, embora reconhecesse seu “formoso talento”; inconformado com as inovações da exposição, disse:
 
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas... A outra dos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes...
 
Para Lobato, a segunda espécie cairia nas “trevas do esquecimento”.
 
Anita não caiu.
 
Mesmo ciente do erro lobatiano, correndo, pois, o mesmo risco seu, digo: grande parte da produção musical do que – hoje – se propõe a cantar a vez e “a voz do morro” não passa de relatos de vida.
 
Para reforçar a contundência dessa afirmação, tomo um “relato poético” de Drummond, que, no “Poema de Sete Faces”, enuncia sua trajetória existencial:
 
Quando nasci, um anjo torto// desses que vivem na sombra// disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida” (...)// Meu Deus, porque me abandonaste...// se sabia que eu era fraco (...)// Mundo mundo vasto mundo// se eu me chamasse Raimundo// seria uma rima, não seria uma solução...”
 
Mesmo na art engajé, há de se fugir da panfletagem. Até para denunciar a vida de miséria e violência das favelas, ou tratar do racismo, ou explicitar a condição social feminina e/ou do gay etc, há de se ter (e)labor(ação) poética(o), como nos versos drummondianos acima.
 
Ao artista, relatar não basta. Se – no plano da linguagem – não houver elaboração para a expressão artística, aquilo que se pretende/vende como arte não passa de denúncia de uma conjuntura social, econômica e política de exclusão e desigualdades.
 
O fato de relatos virem acompanhados por batidas envolventes, geralmente eletrônicas e repetitivas, por si, não é suficiente para elevar qualquer texto/discurso à condição de arte, por mais dorida e verdadeira que seja sua essência. Arte é suprarrealidade; não é a realidade em si.
 
Portanto, como relatos, respeito os discursos vendidos com registros musicais de inúmeros rapfunk... Como arte, não. Ao dizer isso, estou me afastando da hipocrisia e da visão populista de arte, mesmo quando me circunscrevo ao universo da arte popular.
 
Nessa perspectiva, exemplifico o que considero arte que pode dar voz a brasileiros das periferias, aos negros, a pobres, a mulheres, gays et alii.
 
No séc. 19, o romance que tem o olhar voltado aos da periferia é Memórias de um Sargento de Milícias de Manuel Antônio de Almeida. Já pelo processo de nominação das personagens, vê-se arte em suas páginas. Genial.
 
Muitos outros da arte-denúncia poderiam ser listados. Para este artigo, elejo Chico César: um negro, pobre, que nasceu em Catolé do Rocha (PB), driblou dificuldades para estudar em Caicó (RN) e depois em João Pessoa (PB). Um gênio. Na música autobiográfica “A prosa impúrpura do Caicó”, esbanja talento:
 
Ah! Caicó arcaico// Em meu peito catolaico// Tudo é descrença e fé// Meu cashcouer mallarmaico// Tudo rejeita e quer”.
 
Isso é relato, mas tão genialmente trabalhado que poucos chegam a compreendê-lo no cerne. Esses versos acionam referências repertoriais, tanto do universo cultural nordestino, quanto de Mallarmé, o poeta francês de Un coup de dés, que divide as águas da literatura ocidental.
 
Quando há talento, um relato vira arte maior. Do contrário, engana-se e viraliza enganos.
 
..........................................
 
PS.: por falar em arte, reforço meu convite já feito: domingo (17/06), às 20h, no Espaço Mosaico (Rua Floriano Peixoto, 512), realizarei uma experiência artística denominada “Só de Pérolas”, no qual cantarei, ao lado da cantora japonesa Akane Iizuka, um conjunto de músicas brasileiras poeticamente bem elaboradas. As músicas serão entremeadas por textos literários. Estão todos convidados. 

Quinta, 14 Junho 2018 19:05

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

  

A despeito do equívoco e da repercussão negativa que teve o banner colocado em um dos postes da UFMT com os dizeres “Universidade pública não é empresa! Não à implementação de disciplinas de empreendedorismo [...] Professores da UFMT em defesa da universidade pública” me senti na obrigação de escrever, ao menos, sobre os pontos que conheço a respeito deste tema.

Há anos a disciplina de empreendedorismo existe como componente curricular, obrigatório ou optativo, em diversos cursos da UFMT além do tema ser trabalhado também em projetos de extensão e de pesquisa. Para comprovar o que estou falando, encaminho um artigo meu escrito em 2015 e publicado no Boletim dos Bacharelados - UFMT, Ano I, No 3. Nov/Dez 2015, página 7. Se alguém se interessar por ler o Boletim na íntegra, verá que esse número foi todo dedicado às ações de empreendedorismo e a inovação tecnológica existentes à época na UFMT.

A educação empreendedora não é uma corrente ou um modismo que vai contra a educação pública de qualidade e esse não é o único equívoco deste banner. Acredito que nós professores da UFMT, sempre estaremos em defesa da universidade pública de qualidade, mas isso não quer dizer que precisamos ir contra o ensino de empreendedorismo. Por fim, espero que um tema tão importante como esse, não seja mais usado como se fosse um posicionamento de toda a classe de professores que a Adufmat deveria representar e que seja trazido à discussão em plenária do sindicato.

 

O Ensino de Empreendedorismo nos Cursos de Computação[1]

O Instituto de Computação, campus Cuiabá, possui dois cursos de graduação: Ciência da Computação e Sistemas de Informação. Em ambos é ofertada a disciplina de empreendedorismo em informática com carga horária de 60h.

Esta disciplina tem como objetivos: fornecer ao aluno mecanismos para desenvolver habilidades do perfil de um empreendedor de TI; promover a implantação da cultura do jovem-empreendedor apoiando a integração com a classe empresarial e governamental como estímulo à criação de empresas de base tecnológica e estimular por meio da participação no Desafio Universitário Empreendedor do Sebrae a percepção e atitudes empreendedoras.

A dinâmica que tenho adotado à frente das disciplinas de empreendedorismo é trabalhar os conceitos técnicos e buscar desenvolver com mais afinco as atitudes comportamentais visando transformar o estudante num profissional com capacidade para aplicar seus conhecimentos de forma independente, inovadora e articulada com o mundo dos negócios por meio de uma visão organizacional dinâmica.

Para tanto, tenho utilizado um método desenvolvido por Fernando Dolabela chamado de “Os oito caminhos do empreendedor”. Este método considera que o empreendedor em potencial precisa percorrer oito caminhos que os levará a sua formação empreendedora. Em cada caminho ele vai se deparar com material de estudo, desafios e atividades que o fazem refletir e a buscar aprimorar suas habilidades tendo como foco desenvolver o perfil empreendedor e, por fim, a elaboração e a "venda" do seu plano de negócios.

Junto a este método também participamos do Programa Desafio Universitário Empreendedor do Sebrae, que a partir de uma competição por meio de jogos online visa estimular o desenvolvimento de habilidades empreendedoras. A competição inicia de forma individual e os melhores classificados em cada estado, formam grupos para competir em nível nacional. Prêmios são distribuídos aos melhores colocados inclusive uma viagem técnica ao exterior para conhecer algum tipo de empreendimento.

Por tudo isto, esta disciplina se desenvolve de forma bastante dinâmica, com leitura; estudo; muitas discussões; atividades diversas como entrevista, pesquisa de mercado, visita técnica e ainda bate-papo com empreendedores que são convidados a vir à sala de aula contar sua experiência no mercado local. E é com muito entusiasmo que planejo e organizo esta disciplina, que tem despertado o interesse e o desenvolvimento das habilidades empreendedoras em meus alunos.

 

Profa Dra Patricia Cristiane de Souza

Instituto de Computação, UFMT, Campus Cuiabá

O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

Nota de Rodapé

[1] Artigo originalmente publicado no Boletim dos Bacharelados - UFMT, Ano I, No 3. Nov/Dez 2015, página 7.

 

 

Quarta, 13 Junho 2018 15:40

 

No dia sete de junho, o governo corrupto de Michel Temer realizou o leilão da 4ª Rodada de Partilha das áreas do Pré-Sal. O governo entregou para petroleiras estrangeiras três das quatro áreas ofertadas pelo valor R$ 3,15 bilhões, valor irrisório diante das reservas estimadas nos blocos arrematados.

 

 

A Petrobrás como era de se esperar atuou de forma secundária e foi superada por petroleiras estrangeiras em duas áreas em que tinha manifestado interesse. Teve de exercer o chamado “direito de preferência” para integrar os consórcios vencedores.

 

O bloco do pré-sal Uirapuru foi disputado por 4 consórcios, Três Marias por 2 e Dois Irmãos recebeu apenas uma oferta, sendo arrematado pelo preço mínimo fixado pelo leilão. A área de Itaimbezinho, localizada na Bacia de Campos, foi a única que não teve nenhum interessado.

 

Neste modelo, as empresas vencedoras são as que oferecem ao governo o maior percentual de óleo excedente da futura produção. Esse excedente é o volume de petróleo ou gás que resta após a descontar os custos da exploração e investimentos.

 

Protesto

Barrados no “feirão” do Pré-Sal representantes da FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), Sindipetro-RJ, SOS Emprego, entre outras entidades, realizaram um protesto em frente ao Hotel Grand Hyatt, Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, cercados por mais de 50 integrantes do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

 

 

 

“Fizeram a entrega de mais uma parte do patrimônio nacional a preço de banana. O petróleo do pré-sal representa uma riqueza imensurável e poderia ser usada para garantir educação e saúde de qualidade, por exemplo, mas está sendo dilapidado pelo governo Temer, assim como também ocorreu no governo Dilma que realizou a maior privatização da história com o leilão de Libra”, disse o dirigente do Sindipetro-RJ e da FNP, Eduardo Henrique.

 

“Somente a luta dos petroleiros e de toda a classe trabalhadora pode barrar essa dilapidação das riquezas nacionais e barrar a privatização da Petrobras, que também é alvo dessa política entreguista”, afirmou.

 

 

Fonte: CSP-Conlutas (com informações de Sindipetro-RJ)

 

Quarta, 13 Junho 2018 15:19

 

O primeiro dia de atividades da caravana da CSP-Conlutas em solidariedade aos migrantes e refugiados venezuelanos, nesta segunda-feira (11), foi extenso, com ações de divulgação da iniciativa, visita a abrigo e uma plenária sindical e popular para debater o tema da campanha “todo ser humano é legal”.

 

Pela manhã, o dirigente da CSP-Conlutas Nacional Atnágoras Lopes, e o membro descompatibilizado da direção estadual, Lourival Gomes, fizeram visitas a duas rádios locais como parte da divulgação da caravana.

 

Na parte da tarde, a Central visitou o abrigo Consolada, coordenado pela Pastoral Social, que conta com cerca de 200 pessoas, em sua maioria venezuelanos. As cartilhas da Central sobre o tema foram distribuídas e recebidas com bastante interesse pelos moradores do abrigo. Muitos já começaram a ler o material e tiravam dúvidas com os dirigentes presentes.

 

Em barracas, e em condições de improviso, os venezuelanos estão em abrigos Roraima como refúgio da crise que assola a Venezuela.

 

A maioria é controlada por militares, o que é questionado por movimentos sociais e pelos próprios venezuelanos, que reclamam da rigidez e de que por trás dessa ação com ares de “humanitária”, na realidade, tem a intenção de militarização e controle dessas pessoas.

 

Durante a visita da Central, cerca de 100 pessoas ouviram atentas as falas dos dirigentes que levavam apoio aos refugiados diante dessa difícil realidade enfrentada por eles, que só querem trabalho, ter um lugar digno para morar e comida para alimentar suas famílias.

 

Os representantes da Caravana aproveitaram o momento em que estiveram no abrigo e conversaram com os venezuelanos sobre seus direitos e como se organizar para cobrar isso dos governos. Foi um momento de troca de informações e de primeiro contato com os migrantes.

 

Plenária sindical e popular

No final da tarde, a Central realizou, no Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Roraima, uma plenária sindical e popular que contou com a presença de representações de entidades e movimentos, como a CPT (Comissão Pastoral da Terra) que apoia a caravana e a publicação da cartilha, a Oposição dos Correios, Luta Popular, Anel, Sintracomo (construção civil), Movimento Mulheres em Luta, representantes das pastorais sociais, Sindicato dos Servidores de Cantá, base do Sinasefe, Sinosep, CUT, entre outras entidades.

 

Atnágoras dividiu com os presentes o objetivo da caravana assim como o calendário de atividades , que ocorrerão até sexta-feira (15). “O nosso objetivo é de pautar, nacionalmente, o que acontece em Roraima com os refugiados, tentar ajudar nossos irmãos e minimizar seu sofrimento”, salientou.

 

Para Lourival, a importância da ida da Central até Roraima reforça o caráter classista e internacionalista da entidade. “Convidamos a todos aqui presentes a se somarem a essas ações que ocorrerão durante toda a semana e a fortalecerem nossa caravana para mostrar a realidade dos refugiados aqui em Roraima, pois é neste estado em que estão os trabalhadores migrantes mais precarizados e precisando no nosso apoio”, apontou.

 

O calendário de luta segue durante toda a semana. Você pode conferir tudo no evento do face.

 

 

Veja também:  Cartilha produzida pela CSP-Conlutas traz direitos de refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil

 

 

 Fonte: CSP-Conlutas

 

 

 

Quarta, 13 Junho 2018 14:26

 

 

               Nos últimos dias viralizou pelas redes sociais a foto de um cartaz atribuído à ADUFMAT onde se lê “NÃO À IMPLEMENTAÇÃO DE DISCIPLINAS DE EMPREENDEDORISMO!”. As postagens são seguidas por comentários irônicos, jocosos e ácidos sobre a postura do sindicato e dos professores da UFMT, comentários de deixar qualquer um envergonhado e que não valem a pena ser reproduzidos aqui.

A frase do cartaz, embora pareça ter sido redigida na melhor das intenções, foi um tiro pela culatra dado pela ADUFMAT. A julgar pela repercussão negativa nas redes sociais, foi um prato cheio para os inimigos da universidade pública, do movimento sindical e do serviço público, que se aproveitaram do ocorrido para dizer dentre outras coisas, que a universidade desperdiça dinheiro público com “doutrinação ideológica” (aspas minhas) e deve ser privatizada, esse o maior pesadelo de pessoas ligadas ao movimento de defesa da universidade pública.

Dizer “não” a uma disciplina aprovada em órgão colegiado, seja ela qual for, não me parece ser coerente com a autonomia didática, diversidade e liberdade de pensamento que deve existir na universidade, salvo em casos de infração legal ou falta de bases teóricas, práticas ou científicas para a disciplina proposta. Enquanto colégios de criança possuem empreendedorismo em seu currículo complementar como uma forma de ensinar liderança, respeito, cooperação e fomentar a formação de pensamento crítico e independente, setores da universidade demonizam uma proposta de disciplina em nível superior e, ao que parece, preferem ficar presos em doutrinas já superadas. Tais setores normalmente alegam que ao oferecer uma disciplina de empreendedorismo, a universidade se rende a uma “lógica de mercado”, seja lá o que isso signifique.  Então, tenho a ousadia de perguntar como um exercício retórico: então me digam onde os alunos vão trabalhar depois de formados? A universidade e o setor público não podem ser um fim em si mesmos.

Disciplinas sobre empreendedorismo, quando bem conduzidas, podem ser uma oportunidade de se encontrar e treinar futuros líderes que ajudarão na inovação tecnológica e desenvolvimento do país. Empreendedorismo não se resume a montar um negócio “ganancioso” para ficar rico e explorar o trabalhador através da “mais-valia”. Uma visão mais ampla de empreendedorismo envolve reconhecer pessoas inovadoras, criativas, artesões, artistas, “start-ups” e assentados do MST, dentre outros exemplos, como empreendedores. E o que dizer sobre o tão falado empreendedorismo social, onde empresas buscam crescer, mas ao mesmo tempo buscam soluções para problemas sociais.

Inovação, melhora da condição de vida das pessoas e solução de problemas, incluindo problemas sociais, esse é o papel do empreendedorismo. Um dos papéis da universidade tão repetido até pelo pessoal que diz não à implementação de disciplinas de empreendedorismo, é o da inovação e busca de soluções para problemas sociais. E isso é empreendedorismo puro! A universidade é empreendedora por natureza, por que não ensinar isso aos alunos?

 

Prof. Dr. Ricardo Stefani

Professor Associado

Bacharel em Química Industrial pela Universidade de Franca e Doutor em Química pela Universidade de São Paulo

ICET/CUA/UFMT

 

Terça, 12 Junho 2018 17:50

 

O Grupo de Trabalho de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA) do ANDES-SN realizou, nos dias 8, 9 e 10 de junho, o Encontro Nacional de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria com o tema “Ebserh, Funpresp e Federalização dos Hospitais Universitários”. O evento aconteceu na sede da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (Apufpr – Seção Sindical do ANDES-SN), em Curitiba (PR), e reuniu mais de 30 docentes de 15 seções sindicais.

 

João Negrão, 2º tesoureiro do ANDES-SN e um dos coordenadores do GTSSA do Sindicato Nacional, avalia que os três dias de encontro foram muito bem aproveitados pelos docentes presentes em Curitiba, propiciando importantes debates, com ampla participação. “No debate sobre o Funpresp fizemos uma retomada histórica da seguridade social desde a Constituição de 1988, passando pelo processo de desmonte da seguridade social e dos direitos previdenciários dos brasileiros”, comenta.

 

O docente lembra que a Ebserh está prestes a completar dez anos e que a privatização dos Hospitais Universitários (HUs) federais também foi debatida no encontro. “Defendemos a federalização dos HUs, mas não é nosso objetivo transferir a gestão dos hospitais federalizados para a Ebserh. Defendemos uma federalização clássica, a estatização. O Estado é que deve assumir os hospitais”, comenta.

 

A criação de um dossiê nacional sobre a Ebserh, tratando dos seus problemas em todo o país, como a privatização e a precarização do trabalho, foi ressaltada no encontro. A Apufpr-SSind apresentou aos presentes o dossiê local sobre a Ebserh na UFPR e a campanha que foi feita pela seção sindical a partir da pesquisa. “Os docentes ficaram entusiasmados com a apresentação do passo a passo de como a Apufpr-SSind realizou seu dossiê. Como os problemas da Ebserh são nacionais, temos que aprofundar as pesquisas em outras universidades cujos hospitais são geridos pela Ebserh”, completa João Negrão.

 

Confira aqui os vídeos produzidos pela Apufpr-SSind com a cobertura do Encontro Nacional de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria. Vídeo 1Vídeo 2 e Vídeo 3

 

Fonte: ANDES-SN (com informações e imagem de Apufpr-SSind.)

 

 

Terça, 12 Junho 2018 17:45

 

Os trabalhadores da Eletrobras paralisaram as suas atividades desde as zero horas de segunda-feira (11) contra a privatização da estatal e de suas distribuidoras, contra o aumento da conta de luz e pela saída do presidente da companhia energética, Wilson Pinto Ferreira Jr., que segundo os trabalhadores tem contribuído no processo de privatização e de destruição da Eletrobras. Os trabalhadores também reivindicam reajuste salarial. Em janeiro deste ano, o presidente Michel Temer enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL) 9463/18, que propõe regras para a privatização da estatal.

A greve de 72 horas, iniciada no dia do aniversário da empresa  - que funciona desde 1962 -, foi convocada por sindicatos de trabalhadores da companhia energética. Segundo Emanuel Mendes, diretor do Sintergia-RJ - entidade que reúne os trabalhadores em empresas de energia no Rio de janeiro -,  e também representante da Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel), a greve teve adesão de 85% da categoria. Mendes destacou que a Eletrobras é hoje um patrimônio de quase R$ 400 bilhões e que o governo estaria entregando a instituição por R$ 12 bilhões. Para ele, a privatização da Eletrobras pode significar um aumento de cerca de 18% na tarifa para a população, além de gerar uma precarização dos serviços.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinou que fosse mantido 75% dos empregados de cada uma das empresas da estatal, com multa diária por descumprimento de R$ 100 mil por entidade sindical. No entanto, as entidades ainda não foram notificadas da decisão.

Para o diretor do Sindicato dos Urbanitários no Distrito Federal (Stiu-DF), Victor Frota, a greve dos eletricitários é legitima. “Estamos lutando pela soberania e segurança energética do nosso país. A nossa paralisação é pelo direito ao acesso à energia para toda a população brasileira. Ilegal é entregar uma empresa que vale R$370 bilhões por R$ 12 bilhões, mesmo quando 70% da população é contra a privatização da Eletrobras”, enfatizou.

A greve nacional da categoria vai até esta quarta-feira (13) quando serão realizados atos em diversos estados.

Campanha salarial
Além da luta em defesa da Eletrobras pública, a categoria negocia o acordo coletivo de trabalho e votou em assembleias de base pela rejeição da proposta da empresa. A empresa ofereceu a integralidade do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC para reajustes nos salários e benefícios, que representa 1,69%. Em resposta a falta de avanços na negociação, os eletricitários aprovaram na segunda-feira (11) indicativo de greve por tempo indeterminado a partir do dia 25 de junho.

“Nosso objetivo é continuar chamando a atenção da sociedade sobre esse grande crime que o governo Temer quer cometer contra a população, caso a Eletrobras venha a ser privatizada. Isso porque vender a maior empresa de energia elétrica da América Latina implica em enriquecer um pequeno grupo de empresários em função do empobrecimento da sociedade, que terá que pagar contas de luz ainda mais caras. Não podemos admitir isso”, alertou Victor Frota.

Privatização da Eletrobras
O governo federal espera arrecadar com a privatização da Eletrobras um total de R$ 12,2 bilhões. A venda foi dividida em partes. A primeira etapa seria a venda de distribuidoras da companhia; a de 70 Sociedades de Propósito Específico (SPEs) nas áreas de transmissão e energia eólica prevista para junho, mas ainda sem data marcada; e a capitalização da Eletrobras em bolsa de valores com diluição da participação do governo, prevista para o final do ano.

Na segunda-feira (11), o desembargador Fernando Antonio Zorzenon da Silva, presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, com sede no Rio de Janeiro, acatou pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) para suspender a liminar proferida no dia 5 de junho, que impedia o processo de privatização de cinco distribuidoras da Eletrobras: Amazonas Distribuidora de Energia S.A. (Amazonas Energia), as Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron), a Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre), a Companhia Energética de Alagoas (Ceal) e a Companhia Energética do Piauí (Cepisa).

No pedido de suspensão da liminar, a AGU advertiu que se a venda dessas empresas não fosse feita até o dia 31 de julho deste ano, a Eletrobras seria obrigada "a liquidar as distribuidoras, o que será muito mais prejudicial aos empregados”. Na sequência, o mandato de segurança da AGU foi suspenso pela desembargadora Giselle Bondim Lopes Ribeiro. 

No entanto, a Presidencia do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região suspendeu os efeitos da liminar concedida pela 49ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro e que havia sido mantida nesta segunda (11) pelo próprio TRT. A suspensão de medida liminar pela Presidência de Tribunal é utilizada apenas para casos excepcionalíssimos, diante de comprovada e grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. De acordo com a defesa dos sindicatos, nenhuma dessas lesões teria sido abordada na decisão do Presidente do TRT da 1° Região.

Em dezembro de 2017, o governo enviou ao Congresso a Medida Provisória (MP) 814/17, que autoriza a privatização da Eletrobras e de suas subsidiárias. Entretanto, por conta do prazo apertado para apreciação, a MP perdeu sua eficácia. A Medida revogava o trecho da lei que define regras para a comercialização de energia elétrica no País (Lei 10.848/04) para permitir a inclusão da estatal brasileira no Programa Nacional de Desestatização (PND). A medida atingia também Furnas, Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), Eletronorte, Eletrosul e Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE).

Eletrobras

A Eletrobras é a maior holding do setor elétrico da América Latina e a 16ª maior empresa de energia do mundo, detendo 32,2% da capacidade de geração de energia, 50% das linhas de transmissão e 5,1% do fornecimento ao mercado consumidor no país. Atualmente, a Eletrobras possui 11.405 trabalhadores, sendo 6.277 contratados diretamente e 5.128 terceirizados.

 

Fonte: ANDES-SN (com informações da Sintergia-RJ, Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), STIU-DF e Portal Justificando)