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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Wescley Pinheiro
Professor do Departamento de Serviço Social da UFMT
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Não há como não se afetar com os elementos presentes na conjuntura. Não existe ninguém satisfeito com as coisas como estão e, seja qual for a posição política diante do quadro atual, é inegável que o agravamento das questões atravessam nossas relações pessoais, atinge nossas emoções e causam sofrimento. Isso ocorre de diferentes formas e níveis e por distintas motivações. Nesse sentido, com o processo de recrudescimento do conservadorismo e ascensão do protofascismo, legitimado pelas parcas estruturas democráticas, temos a tônica de algo tão doloroso quanto real: a hipertrofia da violência vivida no cotidiano.
Esse fenômeno tira do armário todos os preconceitos, vilipendia qualquer concessão civilizatória, vomita tudo de desumano que se encontrava aparentemente domesticado em nossas relações e, sem necessidade de lógica e coerência, os espaços da singularidade e das particularidades são tomados de assalto por todas as formas de opressões historicamente determinadas. Dos púlpitos das cátedras ou das catedrais, dos bancos ou das bancadas, das piadas infames ao relativismo das desigualdades impera a explosão de violações travestidas de neutralidade, boa vontade ou explicitamente agressivas. Entre a patologização da questão social, a normalização da exploração e das opressões, a medicalização da vida e a moralização da barbárie caminha nosso processo de individuação entre relacionamentos abusivos, práticas intolerantes e relações adoecedoras no desencaixe dos espaços comuns.
Com isso as violências morais, simbólicas e psicológicas cravam as possibilidades mais severas por via de instituições tão caras ao nosso tempo histórico. Por tudo aquilo que colocamos no texto “O ovo da serpente foi chocado: protofascismo brasileiro e novos desafios frente ao obscurantismo contemporâneo” cresce a necessidade da busca pelos culpados nos espaços cotidianos diante daquilo que nos desumaniza.
Para aprofundarmos o entendimento de como um projeto autoritário ganha força nos setores populares e de como isso faz com que fortaleça opressões históricas é preciso compreender a estrutura da hegemonia e sua retroalimentação ideológica para além da política formal, perpassando a mídia, a religião, a ciência, além dos diversos aparelhos ideológicos, instituições e ambientes importantes para a propagação e reprodução da cultura, inclusive o lócus de socialização primária. Quando aquilo que chamamos de “esquerda”, por diversas razões, perdeu espaço, abriu mão ou se equivocou na construção da contra-hegemonia, com táticas reformistas e/ou reproduzindo práticas de estranhamento no trato nas relações particulares, o vácuo possibilitou a ampliação avanço protofascista.
Quando a crise do capital degrada a condição de vida das pessoas, o Estado busca tomar as rédeas para administrar a possibilidade das taxas de lucro de modo mais agressivo e a moral aparece como instrumento mistificador da realidade, engabelando possíveis resistências diante das questões essenciais e dirigindo olhares para a superfície. Por isso, as relações subjetivas, os espaços cotidianos de trabalho, assim como a família, os lugares coletivos onde buscamos fortalecer o espírito, as relações de amizade, entre outros afetos surgem com toda a violência possível, materializando em nossas vidas aquilo que se projeta, se propaga e se consolida no fascismo contemporâneo.
A negação dos elementos que fundamentam a realidade frente aos fragmentos da cotidianidade se alastram na constituição individual em tempos de acirramento das contradições de classe. O sofrimento subjetivo busca o pensamento mágico, particularismos e esquivas diante do real. Nesse sentido, tanto conservadores quanto muitos daqueles que buscam desconstruí-lo desenvolvem suas manifestações de mistificação.
No entanto, mesmo nos meandros da fantasia a realidade existe. Ela é inexorável, objetiva, concreta, complexa, cheia de determinações, se expressando no cotidiano irremediavelmente heterogêneo, imediato, fragmentado, insuprimível. A realidade se esconde e se revela sorrateira, surge com vendas em nossos olhos, nos permitindo conhecê-la parcialmente por nossas experiências. Ela se manifesta caleidoscópica, cumprindo suas armadilhas de sugerir-se inteira a partir das vivências particulares.
Entre um ser humano inteiro e o inteiramente humano vamos dançando o baile entre nosso cotidiano e a realidade. Permanecemos passeando pelo que nos salta aos olhos, comumente sem conseguir ultrapassar o alcance da nossa visão, ainda com esforço, mesmo que pintemos esse espetáculo com os sentidos que queremos. A tarefa não é simples, sobretudo num tempo de confusão, onde o ar é pesado, as falas são duras e os laços frígidos.
Buscando atalhos há quem acredite não haver o real, embora ele esteja lá, há quem acredite que o real é apenas aquilo que vive, ou ainda que é possível somente por ali conhecer todas as mediações que o constituem. Há também quem molde um real amplo para o seu particular, quem mergulhe nas buscas profundas, mas se afogue em seu próprio ar. O tempo da barbárie também é o tempo da vaidade e da ultrageneralização.
Diante desses desafios tudo tende a ser reduzido ao binômio causa-consequência ou à falácia da impossibilidade. Criam-se mitos para dar sentido às percepções, referendam-se crenças nas mudanças singulares ou nas respostas microscópicas ou ainda naquelas que são supostamente amplas. Por outro lado, se confunde universalidade com totalidade, jogam as apostas nas mudanças de sentido e significado, blefam na dinâmica da imediaticidade rivalizando, fulanizando, umbiguizando as coisas.
Nesse jogo, nessa dança, nesses olhares, a busca pela trajetória mais difícil tem sucumbido, perdido ressonância, vivido um descompasso. O temor é que não haja mais tempo nem espaço para se aprofundar. Que seja realmente o espetáculo do maniqueísmo, da dieta da consciência aparentemente radical, temperada com hedonismo ou individualismo, com moralismo ou fatalismo, com as tintas e cores moribundas e verossímeis, mas perecíveis. O temor subjetivo é que seja isso tudo nosso espectro do tão pouco.
O desespero e o desamparo constitui sujeitos armados de metralhadoras giratórias, vociferando o não-diálogo, ampliando o irracionalismo e abstraindo que aquilo que aparece como fórmula mágica para a resolução de problemas políticos viola seus comuns. Para quem sofre com as opressões e com a possibilidade direta de perda de direitos, aquilo que é aparentemente uma opinião divergente é, na verdade, pura reprodução de desigualdade, risco iminente.
A violência física e simbólica, aparente nos números oficiais, obscurecida nas percentagens oficiosas e tão relativizadas em tempos sombrios atinge cada vez mais os setores que sempre estiveram às margens das mínimas garantias da emancipação política do Estado democrático de direito. Mais que atiradores de elite, o medo social, aliado ao moralismo e catalisado pelo fundamentalismo religioso se funde à seletividade do judiciário e a criminalização midiática para multiplicar atiradores da elite. Com as desculpas fundamentadas e capilarizadas, sem o devido contraponto estabelecido, essa forma de violência funde com ferro e fogo nas marcas da sociabilidade cotidiana da classe trabalhadora brasileira para garantir um cotidiano paramilitar. O baile de máscaras entoa o canto da serpente fascista para multiplicar ódios, rancores e afogar qualquer luta emancipatória.
Entre os eleitores de Bolsonaro existem os que organizadamente militam pela potencialização dos preconceitos e da discriminação, no entanto, há também os que são tomados pelo saudosismo mistificador, que se veste com o moralismo reacionário para acalentar uma suposta reestruturação da sociedade, deslocando tudo isso da política e fingindo que isso trará atenuantes às expressões da questão social. Essa direção ganha contornos absurdos para um país que nunca efetivou a laicidade do Estado, não amadureceu a democracia e não enfrentou sua tradição autoritária, patriarcal, racista e machista. Os sujeitos querem resoluções imediatas, buscam um discurso seguro, absorvem a tragédia e a farsa bonapartista pela sua carência de projeto coletivo e qualquer simbologia que dê uma direção que pareça diferente do vento que nos carrega, ainda que seja apenas um sopro mais forte para o caos, é uma aposta a se fazer.
Para esses sujeitos, há uma abstração do cotidiano, o moralismo é percebido como mero discurso, com materialização distante de seus comuns, algo no campo das ideias e, ainda que sejam capazes de refletir sobre discursos violentos, preferem fechar os olhos para o óbvio e apostar que o discurso de ódio seja exagero, efeito colateral de uma proposta de ordem e progresso. Assim, submersos nas turvas águas das fake news, de discursos de pastores inescrupulosos e de bravatas de asseclas da econometria, abstraem que amigos/as, filhos/as, tios/as que pensam diferente ou que simplesmente existam, sejam nordestinos/as, negros/as, LGBT´s, mulheres estarão sofrendo ainda mais riscos dentro do protofascismo legitimado.
Quando o moralismo e a violência simbólica não são somente abstrações que potencializam o aumento das estatísticas, mas aparecem entre nós, nos grupos de whatsapp, nas reuniões de família, nas relações mais prosaicas, ainda que saibamos as razões, criamos a expectativa, pela famosa empatia, de um processo mínimo de identificação e sensibilidade. Desejamos a compreensão, ainda que limitada, de que a ferida aberta e cutucada por tudo aquilo que virou moda possa ser entendida como a propagação de uma ideologia capaz de estruturar coisas que farão sangrar seus semelhantes. O sofrimento se amplia quando percebemos que isso tende a não ocorrer.
O (des)afeto dentro desses grupos, por sua própria estrutura conservadora, acaba por cavar buracos ainda mais profundos, desavergonham os preconceitos, retiram laços, enchem os espaços de perversidade diante do diferente. O tempo do protofascismo se constitui também pelo mascaramento da realidade e desmascaramento de violências entre as pessoas próximas, onde o ódio ou a indiferença crescem ao som da trilha sonora da crueldade, do relativismo, do desdém oriundo dos discursos de autoridade que consideram tudo coitadismo.
No livro os “Sofrimentos do Homem Burguês”, Leandro Konder reflete sobre nós, aqueles do tipo humano da sociedade burguesa, seres ontologicamente sociais, que transcendem e potencializam sua individualidade por via da coletividade, que criam possibilidade pela diversidade através da nossa capacidade de fazer história, mas que, numa sociedade fundada na apropriação das coisas e das pessoas, buscamos (e não encontramos) essa essência em coletividades estranhadas, em relações alienadas e alienantes e, assim, o autor reflete como nossos arranjos e relações familiares e toda sua carga histórica são passíveis de naturalização de opressões, como nossas religiões mistificam o mundo concreto, normalizam o hegemônico e moralizam a diferença, como a mídia rebaixa tudo em mercadoria, como a história é vista apenas como passado e não como possibilidade concreta de construirmos o presente e o futuro.
Numa reprodução hegemônica do discurso de que democracia é a ditadura da maioria e não a convivência da diversidade de pensamento, onde os valores moralistas circulam sempre nas práticas políticas, onde público e privado sempre se confundiram, onde combater privilégios e a intolerância foi e é visto como ataque aos direitos, numa sociedade absolutamente perversa e que amorteceu possibilidades amplas de construções coletivas com sentido, o cotidiano, espaço privilegiado de naturalização daquilo que é construído socialmente, apura seu caráter mistificador, imediatista, heterogêneo, capaz de negar qualquer lógica, racionalidade e elementos da realidade.
Assim, o descolamento do real é característica do nosso tempo. Não importa se o sujeito que diz que “odeia o pecado, mas ama o pecador” defende líderes políticos que potencializam crimes de ódio, se defende a vida e, ao mesmo tempo, a tortura, se estuda para concursos públicos e milita para o fim dos mesmos, se sonha com educação para seus filhos e aprofunda a desconstrução dela como direito, se é contra a corrupção e a mentira, mas desconsidera as práticas corruptas de seus mitos diante da necessidade de vencer o inimigo. Não importa o real, as evidências e tudo aquilo que aponta a direção que estamos seguindo, a ideia de que é preciso mudar, ainda que para pior, constitui o sadomasoquismo social do “sofrimento do homem burguês” e negar a realidade faz parte disso.
Tudo aquilo que produziu a possibilidade real de hegemonia do protofascismo constituiu também subjetividades dilaceradas, visões opacas diante do outro, relações ainda mais coisificadas. O discurso pautado no mito de dois extremos quando, na realidade, só há um, aquele da violência sob todas as formas, amplia no cotidiano as atitudes de poder e desvalor sobre as pessoas tidas como “não-normais” e, portanto, compreendidas como menos humanas. A apatia ou a agressividade diante do caos cotidiano, ação desmedida, desenfreada, sem projeto coletivo ou sobreposta de pura reprodução das opressões atinge em cheio nossas subjetividades.
A insensibilidade diante do fato que poderemos perder o emprego ou nunca ter um, que poderemos ser “varridos”, agredidos, violentados, presos ou mortos nos afeta quando vem como discurso personificado por aqueles que nos conhecem e sabem que não somos uma caricatura. A desumanização é ainda mais devastadora quando vem daqueles que nutrimos afetos, que construímos projetos ou histórias e que, ainda assim, não são capazes de perceber que o discurso que reproduzem afeta a vida concreta daqueles que dizem amar. A profusão de um sentimento reificado se constitui mútuo, mas a decepção e o sofrimento aparecerão muito mais do lado de quem é coisificado.
Diante de rupturas particulares em relações tão caras, diante de posicionamentos tão duros e irresponsáveis com aquele/as que dizem nutrir afeto, num tempo histórico onde nossa emoção é estranhada e o irracionalismo toma de conta atingimos a agudização do individualismo. Ele vem fantasiado de preocupação com o futuro, de conversão religiosa, de afeto familiar, de amizade, mas sempre traz na mão o punhal das opressões e a bainha do preconceito.
Precisamos reinventar coletivos com sentido, necessitamos construir tanto a resistência objetiva quanto a subjetiva. Elas caminharão juntas. Até as coisas se revelarem, até conseguirmos suspender o cotidiano, até demonstrarmos todas as determinações que nos levaram ao protofascismo muito sofrimento se aprofundará. Nenhum espaço de nossa vida pode ser desprezado na luta contra reprodução da exploração, da violência e das opressões. Construir formas de disputa no campo dos valores, apreendendo a vida concreta e a cultura dos setores populares para um projeto emancipatório é fundamental. Para isso precisaremos pleitear novos valores em todos os âmbitos de socialização e também exercitar formas de autocuidado.
Os espaços onde nos encontramos, onde socializamos nossas angustias, medos e vontades, onde apreendemos que essas experiências são constituídas historicamente, onde desnaturalizamos as coisas e mostrando possibilidades para outra sociabilidade, onde potencializamos as respostas coletivas podem nos fortalecer enquanto indivíduos e nos ajudar na construção de relações mais profundas.
Na exacerbação da forma mais grave da sociabilidade capitalista a reprodução do protofascismo exigirá de nós a necessária construção coletiva, a paciência histórica e o exercício da lucidez. Entre as estratégias e as táticas, entre as reuniões e os atos, entre sofrimentos, desapontamentos e desafetos, entre a necessária resistência e a vida cotidiana haverão ainda mais desafios. O exercício de diálogo, de enxergar as pessoas, de construir relações para visibilizar nossa humanidade nos outros será também rebeldia em tempos de cólera. O desafio é enorme pois não haverá relações com sentido numa sociedade sem sentido.
Os professores, estudantes e técnicos administrativos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) têm realizado intensas discussões e se posicionado a respeito da conjuntura política nacional. Templo da racionalidade, do respeito ao contraditório e das liberdades, a universidade é, historicamente, espaço de amplo debate e análise da realidade social na qual está inserida. Assim, não só a comunidade acadêmica da UFMT, mas também de outras instituições de ensino superior têm observado e apontado, há algum tempo, os caminhos estreitos que estão encurralando a prematura democracia brasileira.
Como a situação se agravou no período eleitoral, com manifestações explícitas que condenam a própria existência da universidade pública nos moldes atuais, nos últimos dias, a Adufmat-Seção Sindical do ANDES (Adufmat-Ssind), o Sindicato dos Servidores Técnicos Administrativos (Sintuf-MT) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) identificaram a necessidade de que a UFMT, como um todo, reforçasse a defesa de suas bandeiras históricas: democracia e ensino superior público, gratuito, laico, socialmente referenciado, autônomo, de qualidade.
Nessa quinta-feira, 25/10, por meio de nota, a universidade atendeu à reivindicação das categorias, e reiterou seu “compromisso com:
a defesa da Democracia, dos Direitos Humanos e da Universidade pública; do irrestrito respeito à Constituição Federal, a começar pelos princípios fundamentais (soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e pluralismo político); o respeito integral à autonomia das universidades; ao financiamento constante e permanente da pesquisa e desenvolvimento da ciência no ensino superior; a luta pela revogação da Emenda Constitucional nº 95/2016, que instituiu o novo regime fiscal que restringe verbas para a educação e a saúde; uma sociedade livre, justa e solidária, erradicando a pobreza e reduzindo as desigualdades, promovendo o bem de todos e repudiando qualquer forma de preconceito e discriminação” (clique aqui para ler a íntegra, também disponível abaixo).
No início da semana, as três entidades representativas da universidade se reuniram no Ato em Defesa das Liberdades Democráticas, dos Direitos e dos Serviços Públicos, atividade da qual participaram também outros sindicatos e coletivos de trabalhadores organizados. No evento, os presentes afirmaram o sentimento de unidade e a consciência da tarefa de barrar os ataques do capital à classe trabalhadora. “A universidade sempre foi protagonista na luta pela democracia e organização autônoma dos trabalhadores. Tenho certeza de que esse é o embrião de uma unidade muito maior em resposta à ofensiva da direita”, disse o representante do Sintuf-MT, Fábio Ramires.
Na mesma perspectiva, o presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo, afirmou que a grande resposta dos trabalhadores em defesa dos seus direitos e liberdades terá de ser nas ruas. “Eu aprendi desde cedo que para atravessar a correnteza temos que dar as mãos e segurar forte. Consolidar a unidade para responder a esses ataques nas ruas é a tarefa que a Adufmat-Ssind se dispõe a cumprir”, declarou o docente.
Na quarta-feira, 24/10, os representantes da comunidade acadêmica voltaram a se reunir, dessa vez com membros do Conselho Universitário da UFMT (Consuni), para dialogar sobre a necessidade de a instituição se posicionar publicamente. A reunião do Consuni não ocorreu por falta de quórum, mas os diretores de Institutos presentes, preocupados inclusive com atos de intolerância já identificados dentro da universidade, realizaram o debate sobre a conjuntura eleitoral e demonstraram à Reitoria a importância da manifestação.
Abaixo, a íntegra da Nota publicada pela UFMT nessa quinta-feira, 25/10:
A UFMT reafirma defesa da democracia e da universidade pública
A Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) vem a público reafirmar a defesa da universidade pública como patrimônio do povo brasileiro.
A UFMT, assim como o conjunto das universidades federais, tem contribuído significativamente para a democratização da educação pública, formando cidadãos altamente qualificados por meio de produção científica, tecnológica e inovadora, indispensável para o desenvolvimento econômico, social e sustentável do país.
Esta instituição seguirá defendendo firmemente a sua expansão e a garantia da universidade pública, gratuita, autônoma, transparente, laica, pluralista, inclusiva, de qualidade, de gestão democrática e socialmente referenciada. A universidade, alicerçada no tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, é ambiente de manifestação livre e responsável do pensamento, respeito à pluralidade de ideias, no qual é missão primeira formar academicamente para a edificação de um país justo, inclusivo e democrático.
Nas universidades, há um esforço coletivo de abertura à diversidade social, que vislumbra o acesso ao ensino superior por negros, pobres, indígenas, quilombolas, deficientes e outros segmentos populacionais histórica e economicamente vulneráveis. Neste sentindo, reiteramos o compromisso com:
- A defesa da Democracia, dos Direitos Humanos e da Universidade pública; do irrestrito respeito à Constituição Federal, a começar pelos princípios fundamentais (soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e pluralismo político);
- O respeito integral à autonomia das universidades; ao financiamento constante e permanente da pesquisa e desenvolvimento da ciência no ensino superior;
- A luta pela revogação da Emenda Constitucional nº 95/2016, que instituiu o novo regime fiscal que restringe verbas para a educação e a saúde;
- Uma sociedade livre, justa e solidária, erradicando a pobreza e reduzindo as desigualdades, promovendo o bem de todos e repudiando qualquer forma de preconceito e discriminação.
A Reitoria da UFMT
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
Estamos quase chegando ao final do OUTUBRO ROSA, mês dedicado ao alerta, principalmente `as mulheres, quanto aos riscos do CÂNCER DE MAMA e a importância do diagnóstico precoce para que o tratamento seja viável e possível, evitando-se mais mortes, consideradas desnecessárias.
Dentro de uma semana, será iniciado o NOVEMBRO AZUL, mês dedicado ao alerta, principalmente, aos homens quanto ao CÂNCER DA PRÓSTATA, doença que também vem crescendo e fazendo vitimas que poderiam não apenas sobreviverem mas terem uma vida digna em lugar de mortes precoces e evitáveis, em meio a um grande preconceito quanto ao exame de toque é a forma de detectar-se a doença.
O câncer, em seus mais de 22 tipos diferentes, mas com o mesmo estigma e pavor que causa nas pessoas e em seus familiares, é uma doença que data de milhares de anos e, mesmo com o avanço da medicina, da indústria farmacêutica e uma verdadeira revolução tecnológica na saúde, ainda está presente no mundo através de mais de 18,1 milhões de novos casos em 2018 e em escala crescente pelos próximos anos, podendo chegar a mais de 25 milhões de novos casos em 2030, além de 9,6 milhões de mortes, muitas totalmente evitáveis, caso a doença tivesse sido detectada, diagnosticada e o tratamento realizado a tempo.
Só para se ter uma ideia, em 2012 foram estimados 14,1 milhões de novos casos de câncer no mundo, passando para 18,1 milhões em 2018 e deverá atingir mais de 25 milhões em 2030. Em relação `as mortes por câncer, no ano 2000 ocorreram 6,9 milhões de óbitos; passou para 8,1 milhões em 2010, este ano de 2018 deverá registrar 9,6 milhões e em 2030 estima-se que mais de 21 milhões deverão morrer vitimas de algum tipo de câncer, sendo que os principais serão: pulmão; colorretal, estômago, fígado, mama e esôfago.
Em relação aos novos casos, em 2018, pela ordem decrescente os mais significativos são: Pulmão e mama, com 2,1 milhões de casos aproximadamente cada um; colorretal com 1,7 milhões; próstata com 1,3 milhões e estômago com 1,03 milhões de casos.
No Brasil o panorama acompanha da tendência mundial, com um fator agravante que é a circunstância de sermos um país subdesenvolvido ou emergente, com poucos recursos para a saúde em geral e a área do câncer em especial, além do caos em que se encontra a saúde pública em nosso país, pela da falta de planejamento, gestão empírica e deficiente, situação ainda mais agravada pela corrupção endêmica que tomou conta do Brasil em geral e da saúde pública em particular, há décadas ou séculos, pouco importando o tipo de governo ou ideologias defendidas pelos governantes de plantão.
Segundo estimativas do INCA – Instituto Nacional do Câncer e de outras instituições públicas e não governamentais, a luta contra o câncer, inclusive do CÂNCER DE MAMA, objeto do OUTUBRO ROSA ou do CÂNCER DE PRÓSTATA que será destaque dentro de poucos dias com o NOVEMBRO AZUL, tanto em 2018 quanto 2019, o número de novos casos de câncer no Brasil será de 634.880, um aumento de 35,1% em relação a 2008 e 2009 quando ocorreram aproximadamente 470 mil casos.
Neste mesmo período o número de novos casos de câncer de mama passaram de 49.400 em 2012 para 59.700 em 2018/2019; o de próstata aumentou de 49.530 em 2012 para 68.220 em 2018; o colorretal de 26.990 para 36.360 e o de pulmão de 22.770 em 2012 para 31.270 em 2018.
O que mais desafia a sociedade brasileira quando falamos de câncer é que o tratamento é caro e as vezes se prolonga por vários anos e para 80% da população que é constituída de trabalhadores, urbanos e rurais, de baixa renda, onde mais de 85% tem uma renda per capita de no máximo 2,5 salários mínimos, a única alternativa para diagnosticar a doença e realizar o tratamento é o SUS, que está praticamente falido, faltando recursos para aquisição de medicamentos de alto custo, como são os relacionados com tratamento de câncer e outras doenças crônicas, falta de equipamentos como mamógrafos, tomógrafos e para outras imagens ou mesmo falta de leitos hospitalares e profissionais nas áreas de média e alta complexidade. Por isso este número elevado de mortes e muito sofrimento.
Segundo matéria da BBC/Brasil em fevereiro último, nada menos do que 235 mil pessoas morreram de câncer no Brasil em 2017, sendo que dessas mortes 38,7% eram de pessoas entre 15 e 65 anos, ou seja , participantes da população economicamente ativa , outra parte entre crianças e a maior parte entre idosos, grupo populacional bastante vulnerável e excluídos social, econômica e politicamente em nosso país.
Enfim, tanto o OUTUBRO ROSA quanto o NOVEMBRO AZUL e os demais meses com suas cores e fitas ligadas aos demais tipos de câncer, não basta apenas alertar a população, despertar a consciência para que as pessoas se precavejam, se, ao mesmo tempo, nossos governantes, nos poderes legislativos, executivos e judiciário também não se conscientizarem de que tratamento do câncer e de todas as demais doenças, principalmente as crônicas, não se faz com discursos e belas mentiras, mas sim, com dotações e execução orçamentárias adequadas e uma gestão humanizada e de qualidade.
Se isto não for feito, vamos presenciar centenas de milhares de pessoas sofrendo, sendo mal tratadas e morrendo ante o descaso de quem tem por obrigação e dever de zelar pela dignidade e qualidade de vida da população. Para isso é que são eleitos ou designados para cargos importantes nos governos federal, estaduais e municipais. O resto é conversa mole ou discursos para boi dormir.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e articulista de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@ profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Considerando o atual cenário sócio-político instaurado pela disputa eleitoral e as prementes questões que se colocam nesse momento como norteadoras de ações futuras, o Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) vem a público se manifestar em defesa da democracia, sem a qual não pode haver saúde, em seu mais amplo sentido, qual seja, o de se inscrever como referencial da vida social entre seus cidadãos e cidadãs.
Ratificamos, assim, a necessidade de instituições de ensino superior gratuitas, autônomas, laicas, pluralistas, de qualidade, socialmente referenciadas, geridas democraticamente com base em órgãos colegiados e deliberativos, atentas e responsivas às demandas da sociedade.
Esse ideário tem sido destacado por outras instituições de ensino superior públicas que se vêm compelidas a reafirmar conquistas históricas que não podem ser ignoradas em nome de soluções imediatistas e/ou que possam comprometer o direito social à educação. Nesse contexto, a saúde, dentre outros direitos sociais, também se apresenta indispensável, sem o qual não se pode pensar em uma vida digna na atualidade. Ainda que estabelecidos constitucionalmente, convém relembrar que os direitos sociais expressam, na prática, nossa concepção de sociedade e a direção na qual pretendemos avançar.
A Saúde Coletiva, na qualidade de campo científico atento às determinações sociais do processo saúde-doença, aos efeitos das iniquidades em saúde, à precarização do trabalho, à violência, em suas variadas manifestações, incluindo a negação da diversidade de manifestações humanas; interessada na gestão e no acesso universal aos sistemas de saúde, afirma-se no apoio incondicional à democracia participativa, face à constatação de que não se pode excluir, de fato, os membros de um sistema, pois suas demandas não atendidas retornarão, invariavelmente.
Nesse sentido, nós do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso colocamo-nos frontalmente contrários ao corte de gastos em Educação e em programas de Fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS); ao fim do atendimento obrigatório e integral da rede pública de saúde às vítimas de violência sexual; ao fim da demarcação e a fiscalização de Terras Indígenas e à Proteção dos Povos Indígenas Isolados; à redução de investimentos no Saneamento Básico em comunidades ribeirinhas e quilombolas; à defesa de atos violentos envolvendo tortura, estupro, porte de armas, desvalorização da mulher, discriminação racial, religiosa e sexual.
Finalmente, corroboramos com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) colocando-nos firmes na defesa das liberdades democráticas, do Estado laico e do direito de todos à saúde e a educação públicas e de qualidade repudiando toda e qualquer ideologia antidemocrática, privatista, elitista, que propague o armamentismo e a violência, de qualquer forma, dirigida a pessoas e grupos vulneráveis da sociedade. Entendemos que ainda são muitos os nossos desafios na Saúde, na Educação, na Segurança, na Economia e no âmbito dos Direitos Humanos. Contudo, acreditamos que os mesmos não podem prescindir da construção de políticas sociais solidárias, participativas e democráticas para todos e todas.
Cuiabá, 22 de outubro de 2018.
O Colegiado de Curso de História manifesta seu mais veemente repúdio aos atos de violência política no país. Já são mais de 50 casos registrados, segundo o Mapa da Violência Política no Brasil. Essa violência adentrou os muros da nossa Universidade, que foi pichada com a suástica, símbolo adotado como emblema oficial do III Reich, e que se tornou a insígnia do nazismo. Também um discente do curso de História foi vítima de violência de gênero com motivação política. Ao mesmo tempo em que repudiamos toda e qualquer forma de violência política, reafirmamos a nossa defesa intransigente da democracia e do Estado Democrático de Direito.
Colegiado de Curso de História.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Domingo (28/10), longe das opções singelas entre “Ou Isto ou Aquilo”, inseridas em um “poema infantil” de Cecília Meireles, os brasileiros elegerão o novo presidente; em princípio, para quatro anos. “Em princípio”, pois é certo o futuro incerto.
Dos mais recentes discursos e acontecimentos sabidos, destaco o vídeo em que Eduardo Bolsonaro – filho do “capitão” Jair – admite estarmos caminhando a um “estado de exceção”. Para ele, o STF poderia, a qualquer momento, ser fechado “por um simples cabo e um soldado”, sem sequer precisar “de jipe”.
Estarrecedora declaração.
Pior: o estarrecimento deve ser redimensionado, pois esse filho de Bolsonaro teve a maior votação que um deputado já pode ter em nossa história republicana.
Feito o registro daquela aberração, seguida de inaceitáveis desculpas, tanto do pai, quanto do filho, a realidade é que tais criaturas – em nome da Tradição, Família e Propriedade, tendo “Deus acima de todos”, é que, conforme as últimas pesquisas – deverão conduzir os rumos de nosso país.
Céus! A que ponto descemos!
Mas, agora que a “Inês já é morta”, melhor do que o desespero, seria didático para todos nós, defensores da democracia, entendermos os motivos pelos quais a esse ponto chegamos; afinal, é indiscutível que manifestações conservadoras e protofacistas possam surgir do nada.
Logo, se tal situação não vem do nada, por que a maioria de nosso povo está dando aval a um candidato com os mais profundos vínculos com o militarismo? Como faremos para sobreviver ao que poderá vir?
Partindo das indagações acima, é possível que leitores possam avaliar que antes de pensar sobre isso, o ideal seria, em nome de salvar o regime democrático, fechar os olhos e tapar o nariz para a história recentíssima do país e acatar a chantagem do “voto crítico” em Haddad.
Infelizmente, divergindo de amigos tão caros, não reflexiono em cima de cadáveres. Repito, hoje, a “Inês já é morta”. E foi “morta” – antes de outras quaisquer – pelas ações do PT, que insistiu em errar, deixando-nos num beco sem saídas, a não ser voltar a seus próprios subterrâneos políticos, ainda que a volta seja estratégica e momentânea, dado o esforço que isso exige de tantos, inclusive de filhos pródigos do Partido.
Mas a propósito: quem “mata Inês” pode salvar a democracia?
Convenhamos. A derrota do PT era previsão dada. Sem Lula, o Partido perderia o segundo turno, fosse a quem fosse. Bolsonaro, idem, desde que não disputasse com o PT. Portanto, se todos sabiam disso, tínhamos saídas, mas todas foram inviabilizadas pelo PT. Agora, a reversão desse quadro seria enorme surpresa.
Por que?
Porque “nunca antes na história...” o “antipetismo” foi tão forte. Por isso, não leu os rumos que a rua foi tomando quem não quis. E quem não quis, apostou no escuro.
Agora, imersos ao desespero, seria interessante desvendar os porquês de não terem lido as evidências.
Arrisco a dizer que muito do estrago feito à nossa democracia se deu por conta dos caprichos do “comandante” preso, que apostou em si até o limite. Depois, acreditou que passaria sua herança política a alguém. Não fosse isso, nossa democracia não correria o risco que corre; não da forma como corre. Ninguém seria obrigado a se juntar a uma “organização criminosa” travestida de partido.
Por fim, antes que o futuro sombrio chegue de fato, é prudente, desde agora, a quem puder, “já ir” pensando em saídas, pois, para nós, o sinal poderá se fechar de repente, não mais do que de repente.
Que tristeza.
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Alice Saboia*
PARA “BONS ENTENDEDORES” POUCAS PALAVRAS NÃO BASTAM? HÁ MAIS “MISTÉRIOS” ENTRE OS POLITIQUEIROS DE PLANTÃO E O PROJETO DE PODER E DE DESMANDO NO BRASIL DO QUE DESCONFIA O ELEITOR!!! EIS A QUESTÃO! A QUEM SERVEM TAIS DESPAUTÉRIOS? AO INTERESSE PÚBLICO? COM CERTEZA NÃO!
Um ponto fundamental do conhecido filme de Ingmar Bergman é destacar que os humanos, de maneira geral, trazem, em si mesmos, o bem e o mal. Aliás, para ser mais precisa, essa dicotomia atravessa toda a história da humanidade e, de tudo que se sabe, esteve bem em foco durante a chamada “idade das trevas”, a Idade Média, nos famosos procedimentos de “caça às bruxas” que levaram tantos e tantos às fogueiras da inquisição... Na estética romântica também foi pano de fundo. A literatura, de modo geral, é prenhe do emprego da dicotomia bem versus mal, heróis versus anti-heróis e por aí segue.
Certos “modismos, são cíclicos. Volta e meia aparece um “exorcista” de plantão para jogar os infiéis à fogueira! Melhor forma não existe que adotar um “argumento” que cala alto à alma dos “santos”, como, por exemplo, o “ovo da serpente”!!! Não é de graça que os politiqueiros de plantão jogam com o “medo” e a “esperança”, ou seja: o “demônio”, a reencarnação dos torturadores, a volta da ditadura militar, tudo a ser derrotado pelo “salvador da pátria”.
A propósito dos “temidos militares”, das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) Polícias, Militar e Civil, ocorre, sempre, uma pergunta: os militares são “extraterrestres do mal” que têm o propósito de torturar as pessoas do bem? Pelo que se sabe, só brasileiros podem integrar os contingentes militares. Normalmente, esses contingentes são constituídos por jovens (filhos, hoje também filhas) das famílias brasileiras, e têm obrigação de prestar serviço militar.
Tudo faz crer que a referência raivosa às Forças Armadas Brasileiras não passa de um grande equívoco, ou de uma terrível desinformação. Quanto aos embates a que insistem em se referir alguns “ideólogos”, esses foram, de fato, fantasiosos fogos cruzados, de parte a parte... Não há tantos santos crucificados, como querem fazer crer, nem demônios a ser exorcizados. A “briga” foi pau a pau. Bateram e levaram, levaram e bateram. As verdadeiras vítimas estavam enterradas numa vala comum no Cemitério de Perus, São Paulo. Os demais não passam de atores medíocres fazendo mera figuração.
Por todo o mundo, sabe-se que há alguns “mecanismos” temíveis e terríveis, em alguns países, como a famosa, temida e indestrutível KGB russa, pouco referida no Brasil. Certas lembranças não são tão convenientes... Não é mesmo? Os soviéticos não não nazistas! Nem fascistas! São eles mesmos e dispensam ideologias importadas, pois não precisam disso...
Aqui muito se fala do DOI-CODI, de triste memória, já foi, faz muito tempo, juntamente com os “guerrilheiros anistiados”, estes continuam recebendo polpudas aposentadorias e pensões, quando jamais contribuíram para a Previdência Social.
Que tal jogar um aterrorizante “ovo da serpente”, como uma espécie de “premonição” de instauração de um regime fascista ou nazista, se o candidato do outro lado que não o do ideólogo vencer nas urnas com o voto da maioria que, nesse caso, será constituída dos “nazistas ou dos fascistas”? Dependendo do ponto de vista (na grande tirada na trilha do inesquecível e irreverente Millor Fernandes), se o povo escolher seu governante democraticamente nas urnas, mas a maioria depositar seu voto em um candidato que não seja o “recomendado” pelos ideólogos bons, será esse povo, imediatamente, carimbado de nazista ou fascista.
No entendimento dos “bons”, o mal, diferentemente do “bem”, não costuma ser tão “evidente”, a não ser que aqueles que se julgam “bons” e emissários do “bem” tratem de evidenciá-lo nos outros, não em si mesmos! O ”ovo da serpente” é gestado sempre, sempre, sempre nos outros... Seria trágico, se não fosse hilariante... Só os “clarividentes” são capazes de detectá-lo, nos outros, naturalmente... É claro!!!
O conhecido cientista inglês, Stephen Hawking (falecido em março do ano passado, depois de uma longa doença paralisante), no exercício normal de sua respeitável sabedoria e de sua reconhecida sapiência, certa vez teria asseverado que, no DNA do ser humano, há informações que o conduzem para o bem e(ou) para o mal. Um exemplo disso é o fato de todo ser humano ser movido pela ambição que tanto pode conduzi-lo à prática do bem, quanto do mal. Em excesso, a ambição conduz a guerras e a toda sorte de práticas maléficas, por isso, segundo esse gênio único, a ambição está na raiz de todas as guerras. Pode-se concluir: tudo em torno das disputas pelo poder.
Tudo levar a crer que não é diferente nas disputas políticas e eleitorais.
Nessa linha, há temas que conduzem os humanos a desencontros muito graves. No Brasil, por exemplo, as discussões sobre times de futebol que têm torcidas numerosas, religião, partidos políticos com diferentes ideologias, gênero e raça são bastante controvertidas e, não raro, levam às vias de fato os mais radicais, que beiram ao fanatismo irracional.
Nos tempos atuais, os brasileiros deveriam aproveitar a oportunidade de escolher seus governantes e os seus representantes no Parlamento, neste momento de gravíssima crise econômica, social e, sobretudo, ética, sem precedentes, para consignar suas aspirações por uma sociedade melhor, mais justa, calcada em valores como decência, dignidade da pessoa humana, honestidade, desenvolvimento social, atendimento competente às necessidades públicas em saúde, educação, segurança, infraestrutura e fortalecimento das instituições públicas, investimento na ciência, na tecnologia, enfim, na produção do conhecimento que assegure à nação brasileira uma posição de autonomia em todos os setores da produção do saber, com soberania, independência e respeito no concerto das nações, sem filiação a qualquer fanatismo político-ideológico, como é de esperar de uma não nação livre e democrática.
Não se sabe exatamente por qual razão determinados ideólogos consideram que esses valores são de “direita”, “insulto”, utilizado de regra, pelos que se consideram de “esquerda”!
Como humoristicamente diria Millor Fernandes, direita e esquerda dependem sempre do ponto de vista de quem olha. Direita e esquerda são apenas as designações de lados opostos linearmente que se podem alternar, dependendo da perspectiva e dos interesses em jogo... Acontece que o universo não se constitui apenas de direita e de esquerda, porque ele é multidimensional. Reduzi-lo à direita e à esquerda é de uma mediocridade espantosa, principalmente quando isso parte de pessoas consideradas “esclarecidas”...
Nessa mesma visão simplória, é que, para certas pessoas, "serpentes" sempre são as outras. É o caso de quem só acha que é o outro o culpado, e os outras pessoas são "serpentes venenosas" (pleonasmo vicioso!!!, porque toda serpente é venenosa!). Ela pica, na certeza de que, com seu veneno, eliminará o outro ser, de quem pretende defender-se)... Assim, como o veneno é-lhe inerente, conhece muito bem seu potencial destrutivo, logo, trata de disseminá-lo, de forma a “eliminar” as outras “serpentes” que, por vezes, são cobras inofensivas...
É obvio que, ao praticar tal “precaução” as serpentes, pensam passar a falsa ideia de que seu veneno não é veneno, mas "forma de limpar" o ambiente das “impurezas” produzidas pelas serpentes infiéis. Essa é a lógica daqueles que se julgam bons... Nessa perspectiva, quem não se subordina a essa mesma lógica, tem que ser destruído... Não é isso? A lógica destrutiva, projetiva, assenta-se em atribuir ao outro a gestação do "ovo de serpente"...
A cegueira político-ideológica é um mal que destrói qualquer possibilidade de convivência respeitosa, harmoniosa, digna, decente, honesta, leal, enfim, todas as práticas positivas na direção de uma sociedade saudável, fraterna, humana e humanitária.
O bom-senso e a democracia deveriam fazer com que todos respeitassem o direito de o cidadão votar, segundo seu entendimento, aspirações, visão de mundo, etc. sem manipulações da parte de quem quer que seja... Essa, sim, a verdadeira democracia. Ganhar ou perder são contingências normais da vida.
Ganhar, a qualquer custo, ou impingir derrota ao outro, a qualquer preço, é a concretização da barbárie.
Em síntese, politicamente, a direita e a esquerda se merecem mutuamente...
Um bom fecho é o que disse, certa vez, Millor Fernandes:
Não gosto da direita porque ela é de direita, e não gosto da esquerda porque ela é de direita.
*Alice Saboia, Professora Titular (aposentada), Doutora em Letras e Linguística - (USP), Pós-Doutorado - Université Lumière Lyon II, Pós-Doutorado - Université de Toulouse, Le Mirail - França
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Por Vicente Machado Ávila
Deixem o povo votar, exercer seu livre arbítrio. É assim que quer o Papa Francisco.
Não transforme sua Igreja em um palco de RINGUE
Preguem o amor, a paz e a democracia. É assim que queria o pastor Martin Luther KING.
Deixem o povo votar, livremente escolher, caminhar, rezar e sonhar.
É assim que queria a Madre Teresa de Calcutá.
Deixem o povo votar, livremente sem raiva e sem medo.
Não faça da sua missão uma ferramenta do voto de cabresto.
Professor Vicente Ávila
Colaboradoras
Professoras Enelinda Escala e Acadêmica de Direito Silvia Melo
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Por Aldi Nestor de Souza*
A mãe de Adelina sabia tudo do algodão. Mas tudo mesmo, do plantio ao feitio das roupas. Até o solo pra receber e gestar as sementes ela sabia preparar. Plantava, cultivava, colhia, descaroçava, fiava, tecia, fazia até linha de costura e costurava. Era isso: de uma sementinha de algodão e o conhecimento adquirido dos pais, avós, bisavós e etc, ela conseguia fazer uma blusa, uma saia, uma calça, uma rede.
E tudo isso se dava ali, no sossego do roçado ao redor da casa, no alpendre ventilado e na sala espaçosa. Era uma fábrica sem pressa, sem hora marcada, que conseguia dar conta de tudo, da matéria prima ao produto final, e que funcionava de portas abertas, de chinelo de dedo, de calção cerzido, de saia de chita, às vezes pra empurrar o tempo. Era uma fábrica muito engraçada, uma fábrica que nem era fábrica.
Adelina, que agora vive muito longe dali, se pegou pensando nessas habilidades da mãe ao dobrar uma blusa de algodão, feita artesanalmente, e muito parecida com as que a mãe fazia. Ela estava numa casa, de pessoas completamente desconhecidas, prestando seus serviços de arrumadeira de mala de viagem. Um aplicativo da internet a levou até ali.
O serviço dela consiste apenas de arrumar mala de viagem. É o seguinte: alguém um dia percebeu que poderia ser um bom negócio, assessorar as pessoas que viajam e que costumam esquecer de colocar na bagagem os pertences necessários para tal. Daí nasceu a figura do Personal Organizer, com especialização em arrumação de malas, que é o caso de Adelina.
Para se tornar um profissional como esses, você precisa primeiro fazer um curso de Personal Organizer, que é uma formação geral, e depois se especializar. Pode ser em arrumação de malas, como a Adelina, mas pode ser em arrumação de gavetas, em arrumação de interiores de casa, arrumação de armário de banheiro, arrumação de quarto de criança, pode ser apenas especialização em dobrar roupas. Sim porque tem gente que até consegue colocar as roupas no guarda roupa ou na mala, mas não sabe dobrá-las.
Para contratar os serviços de Adelina, o cliente precisa saber: para onde está viajando, quantos dias vai ficar lá, se é viagem a negócio ou a passeio, se no lugar tem pontos turísticos e quais, se tem praia, etc. Com tudo isso informado no aplicativo, Adelina segue até o destino e faz seu trabalho. Uma nota pelo aplicativo, sela a qualidade do serviço prestado.
Adelina, ao lembrar da mãe, lembrou também da fábrica sem pressa e de quando brincava de fazer nuvem com a lã do algodão. Ela tinha inclusive um céu inteiro, todo cheio de nuvem no seu quarto. Tinha nuvem escura, pintada de carvão, que era pro tempo de chuva. E tinha nuvem escassa, nuvem de tempo limpo.
Adelina abandonou suas nuvens para ir pra cidade estudar. Hoje ela é formada em administração de empresas. Sabe até falar língua distante. Mas com o desemprego, acabou indo parar na onda tecnológica e no empreendedorismo. Agora ela é uma micro empreendedora individual. Não tem patrão, o aplicativo é quem dita as regras. Mas é um aplicativo que ela carrega dentro da própria bolsa, no seu próprio celular, é tudo de casa, portanto.
A mãe de Adelina, que sabia tudo do algodão, que sabia preparar o solo, que sabia plantar, que sabia cultivar, que sabia colher, que sabia descaroçar, que sabia fiar, que sabia tecer, que sabia fazer linha de costura, que sabia costurar, nunca foi à escola.
A fábrica sem pressa não existe mais. Não existe mais tempo vadio nesse mundo. A fábrica, o roçado, o alpendre, a sala e as nuvens, não resistiram a exatidão do aplicativo.
*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática UFMT/Cuiabá
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