Terça, 28 Agosto 2018 14:19

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

Por Aldi Nestor de Souza *

 

O porte obrigatório, que começou pelas escolas, fez com que uma enxurrada de professores e professoras, que nunca haviam pego em armas, corressem para adquirir as suas. O governo, com o apoio da indústria das armas e das munições, deu subsídio aos mestres e estes puderam comprar as suas com descontos generosos e até financiar em 36 vezes sem juros.

A arma preferida pelos professores é o revólver calibre 38, pois cabe na bolsa e facilita o transporte. Mas há os que preferem coisas maiores, como as pistolas, chegando até às metralhadoras. Além da compra da arma, o treinamento para poder usá-la surgiu como demanda, o que fez com que várias escolas de tiro fossem criadas em todas as cidades.

O uso de armas pelos profissionais da educação, durante o exercício da profissão, foi uma decisão acatada pelas autoridades de ensino e tem por objetivo conter a violência no interior das unidades escolares. E a decisão é válida pra todo mundo da escola: professores, coordenadores, diretores, pessoal da limpeza, da segurança, da cozinha. Só os estudantes são impedidos de usar armas.

Além dessa medida, uma outra, na mesma direção, também foi implantada. Trata-se da revista minuciosa de todos os estudantes na entrada das escolas. Revista completa e de tudo. Mochila, bolsas, uniformes, tênis e até as virilhas. Foi preciso muito esforço no começo, até seguranças precisaram ser contratados e uma hora por dia foi acrescentada ao horário habitual para que as revistas fossem levadas a cabo.

Amplamente debatidas pela comunidade escolar e pela sociedade em geral, essas medidas, sugeridas pelo governo, contam com apoio quase unânime das pessoas, das escolas, dos pais e mães dos alunos e dos estudantes bem comportados. Aos pouquíssimos professores que não concordam, a demissão ou mudar de função são as saídas.

As medidas estabelecem ainda critérios para o uso das armas de fogo em sala de aula. Por exemplo, cada aluno que for repreendido três vezes ou mais, por qualquer que seja o motivo, poderá, a critério do professor, ser baleado.

E os estudantes bem comportados cumprem papel fundamental nessa empreitada. É graças a eles e ao serviço de delação premiada, criado em cada escola, que os motins, as tentativas de rebelião e os ensaios de greve ou de protesto são contidos a tempo.

Qualquer aglomeração de mais de duas pessoas na quadra, nos corredores, no pátio ou mesmo nas salas de aula, é acompanhada pelos “estudantes do bem”, que é como são chamados os bem comportados, que imediatamente comunicam à direção.

Rodrigo, de quinze anos, foi vitima de uma delação. Ele era aluno do nono ano quando o professor, novato no uso de armas, foi  alertado e o flagrou pela terceira vez colando em uma prova. Para repreendê-lo, o professor decidiu dar um tiro no pé do estudante. Mas, com a falta de prática e o nervosismo, acabou acertando o coração e o garoto morreu na hora.

Os pais de Rodrigo, conhecidos defensores da ordem, da moral, da família e do porte de armas, apesar da tristeza, compreenderam ser isso o melhor pra toda a sociedade e alertaram ao filho mais novo a não repetir o erro do irmão.

Vários casos, semelhantes aos de Rodrigo, aconteceram por todo o país. Apesar deles, os relatos de contenção da violência foram tantos que conseguiram sufocar os tropeços. Além disso, outro fato serviu para animar a sociedade e dar a ela a segurança de ter feito a escolha certa. É que o desempenho dos estudantes melhorou consideravelmente. Os índices de permanência na escola, assiduidade e aprovação nos anos letivos subiram a níveis nunca antes vistos. Até em exames nacionais e internacionais as escolas melhoraram seu desempenho.

O porte obrigatório faz parte de um projeto bem maior, que pretende, progressiva e rapidamente, ser estendido para toda a sociedade.

 

*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de Matemática da UFMT/Cuiabá 

O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

 
 
 
 
Quinta, 23 Agosto 2018 09:34

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

Que dentre as manifestações artísticas, a fotografia se tornasse uma das mais vulneráveis por conta do processo de massificação das tecnologias, nunca tive dúvidas. Com tanta gente com um celular nas mãos e um ego gigantesco na cabeça, tudo estava propício à degeneração dessa arte.

Todavia, ressalvando quem consegue respeitar a arte fotográfica, a degeneração que supus circunscrevia-se ao processo de vulgarização da fotografia em si; ou seja, com as facilidades para registros quaisquer, até mesmo o antigo fotógrafo profissional seria esquecido aos poucos. Em seu lugar, qualquer criatura poderia se colocar. E isso tem ocorrido à exaustão, incluindo no espaço as esdrúxulas e caricatas selfies.

Mas o que poderia ser apenas ruim – por perdas do toque e retoque artístico – tem sido pior no tocante a inúmeros “conteúdos” fotográficos disseminados em redes sociais. De incontáveis exemplos, destaquei para comentar neste artigo duas fotografias produzidas em universidades federais.

O primeiro destaque ganhou repercussão nacional. O portal G1, de 16/04, extraindo uma foto do Instagran/paulomaiaadv, a publicou para ilustrar o seguinte título: “Estudantes postam foto de formatura com gesto obsceno e UFCG abre sindicância”.

Os estudantes da Universidade Federal de Campina Grande, campus de Sousa, na Paraíba, eram formandos em Direito. O gesto obsceno – feito por quase todos os que estão presentes na foto – reproduzia – com as mãos unidas pelos polegares e indicadores – a genitália feminina.

Diante da repercussão, os novos advogados, formados com recursos públicos, alegaram que foram “ingênuos”, pois “não perceberam que tal imagem poderia trazer uma conotação negativa à imagem da mulher”.

Seria mesmo “ingenuidade”? Se for, pergunto: que tipo de formação eles receberam? Será que nunca leram algo sobre ética, que envolve a noção de respeito social?

A segunda foto foi tirada em frente ao pórtico da UFMT, campus de Sinop-MT. Possivelmente inspirados pelo grupo de Sousa, formandos de Agronomia enfileiraram-se para escrever a palavra “vagina”.

Buscando dar criatividade à foto, o registro da letra “V” foi “desenhado” pelas pernas abertas de um dos estudantes, que se pôs de cabeça para baixo na cena. Na sequência do emparelhamento humano, outros jovens seguravam um cartaz contendo as demais letras da palavra, que parece ser o maior legado intelectual daquelas criaturas.

Pelo menos por enquanto, a repercussão desse episódio, produzido em solo da estuprada Floresta Amazônica, não ganhou mundo; todavia, de pronto, recebeu a defesa de um dos docentes da turma. Em um grupo de whatsapp, o colega defendeu a “arte” de seus pupilos, dizendo o previsível diante do inaceitável: “aquilo foi apenas uma brincadeira”.

Se não fosse absurdo, brincadeira seria uma defesa boçal como essa, que beira a irracionalidade, pois as mulheres, apesar de uma lei específica visar protegê-las, continuam a sofrer todo tipo de violência neste país, inclusive a violência simbólica, como, p. ex., a contida na foto, que é tão ou mais perigosa quanto a física, posto ser algo que humilha o gênero feminino como um todo. Se tais violências não forem exemplarmente repudiadas, elas voarão ao infinito. 

Por isso, sobre esse episódio, quero ver quebrado o silêncio da Instituição, que, aliás, precisa apostar numa política cultural mais intensa nos campi universitários, afinal, as fotografias em pauta também são reflexos do baixo nível cultural da juventude que povoa também as universidades.

Quarta, 22 Agosto 2018 11:01

 

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

 
JUACY DA SILVA*
 

Impressionante. Mesmo estando preso há vários meses, sem poder aparecer na mídia, sem poder se comunicar diretamente com os eleitores, mesmo tendo sido condenado em segunda instância por acusação, ainda sem provas cabais, segundo sua defesa, o ex-presidente Lula tem aparecido na dianteira em todas as pesquisas de opinião pública, de todos os institutos que se dedicam ao mister de sondar o que vai na cabeça dos eleitores.


Com certeza, todas as pesquisas de opinião pública, quando bem feitas, com o devido rigor metodológico, estatístico e científico serve de base, como uma amostra, para que sejam feitas deduções do universo total, no caso, o número total de eleitores no Brasil.


Para que a amostra das pesquisas sirvam de base para essas conclusões, a mesma deve ter idêntica proporcionalidade que as características do universo para o qual se pretende concluir. Este rigor metodológico precisa, deve e é acompanhado pela Justiça Eleitoral para evitar que instituições fajutas e a serviço deste ou daquele candidato possam usar dados mentirosos para manipular o inconsciente coletivo do eleitorado.


Feitas essas ressalvas, a pesquisa feita pelo IBOPE, um conceituado instituto de pesquisa nacional, ao lado de outros que, com certeza, já estão em campo coletando dados e dentro de poucos dias ou semanas devem também apresentar seus resultados, constata-se o que todo mundo sabe de cor e salteado, os brasileiros, de norte a sul, de leste a oeste, de ambos os sexos, de diferentes estratos econômicos e sociais, com exceção das elites e da classe media alta, de todos os níveis de escolaridade, com exceção da minoria que tem curso superior, enfim, as massas já decidiram que seu candidato a Presidente da República é LULA.


Com exceção de Bolsonaro que já atingiu seu patamar superior de preferência, nunca tem passado de 20% ou 22%, mesmo quando Lula não faz parte da sondagem/pesquisa, os demais candidatos, de grandes partidos como o PSDB, com apoio do DEM e outros mais; do MDB, da Rede de Marina Silva, ou os demais nanicos, tem um desemprenho medíocre, todos abaixo de 10% da preferência dos eleitores e pelo menos seis ou sete com apenas 1% ou praticamente zero.


Na última pesquisa divulgada pelo IBOPE em 28 de junho, antes de os partidos e coligações escolherem e registrarem seus candidatos, Lula tinha 33%, Bolsonaro 15% e Marina Silva 7%. Na atual pesquisa, onde aparecem apenas os candidatos com pedidos de registro no TSE, Lula sobe para 37%, um ponto a mais do que o dobro da soma dos cinco seguintes, pela ordem Bolsonaro 18%; Marina Silva 6%;  Ciro Gomes e Alkmin com 5% cada e Álvaro Dias com apenas 3%.


Dos demais, apenas três tiverem 1% cada e outros três não pontuaram, ou seja, zero %. A soma de quem disse que votaria em branco, nulo, não sabia ou não respondeu foi de 22%, maior do que Bolsonaro que há meses esta “estacionado” em segundo lugar e com índices de rejeição aumentando e elevados.


A preferência dos entrevistados pelo IBOPE por LULA é clara em todos os segmentos considerados: Homens 35%; mulheres 39%; todas as faixas etárias de eleitores: 16 a 24 anos 45%; 25/34 anos 37%; 35/44 anos 35%; 45/54 anos 35% e acima de 55 anos 33%. Quando a variável é renda Lula tem a preferência disparada em todos os extratos, com exceção de quem ganha mais de 5 salários mínimos; o mesmo acontece nos diferentes níveis educacionais, entre as pessoas que tem apenas até 4 anos de escolaridade Lula é o preferido por 51% dos entrevistados, 44% por quem tem até 8 anos de escolaridade e 35% entre os que tem nível médio e empata com o segundo colocado entre os eleitores de nível superior com 23%, com o destaque de que apenas 12% da população brasileira tem nível superior e apenas 15% da população ganha mais de 5 salários mínimos, no Nordeste Lula é o preferido de 60% dos entrevistados, continua em primeiro lugar no sudeste, norte e centro-oeste, só fica em segundo lugar na região sul.


Como o espaço deste artigo é limitado, citarei apenas três outras variáveis: Religião, entre os católicos Lula é o preferido por 45%, o triplo de Bolsonaro; evangélicos 31%; outras religiões 35%. Entre negros e pardos Lula chega a 44% e entre Brancos 26%, sempre á frente dos demais candidatos

Quando o nome de Lula fica fora da pesquisa, os demais candidatos não sobem muito nas escolhas. Bolsonaro ganha 2%; Marina dobra e vai para 12% e os demais aumentam entre 1% e 4%. E os entrevistados que irão votar em branco, nulo ou não irão votar sobe de 22% para 38%.


Pelos resultados desta pesquisa, pode-se notar que se em uma democracia a voz do povo é a voz de Deus e que cabe a maioria decidir quem deva ser escolhido livremente, impedir que Lula seja candidato será na verdade um golpe contra a vontade popular e uma aberração jurídica, ante, por exemplo, a última decisão da primeira turma do STF de manter José Dirceu e Genu livres da prisão até que o STJ ou o STF julgue em definitivo o caso do ex-presidente.


Este tema ainda vai dar muito pano para mangas!


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Terça, 21 Agosto 2018 13:47

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

Por Aldi Nestor de Souza*

 

Uma notícia, que ocupou o noticiário recentemente e que agora vive na internet, dá conta de uma casa que saiu das entranhas de uma impressora 3D. É uma casa de verdade, de gente morar, foi feita lá nos Estados Unidos e tem 60 metros quadrados de área coberta. Todo o processo de impressão e montagem leva menos de 24 horas e sai bem mais barato do que nos moldes tradicionais.

Muitas reflexões acerca desse fato são inevitáveis. Por exemplo, o que farão os futuros engenheiros civis? Serão vendedores de software? E os arquitetos? E o que acontecerá com o cimento, os tijolos, os pedreiros, os serventes de pedreiro? E com as telhas, as madeiras, as lojas de material de construção? A serviço de quem estarão essas casas?

Se não precisarmos mais nem fazer casa pra morar, iremos, enfim, inaugurar uma nova era, uma nova sociedade? Teremos tempo de folga pra desenvolver outras habilidades humanas e nos dedicarmos a arte, a leitura, ao ócio, ao que quisermos?

Essa notícia me fez lembrar de uma outra, de 1969, dada pelas ondas do rádio a pilha, e ouvida por um jovem casal, na hora do almoço, numa casinha de taipa lá do sertão nordestino. Família reunida, mesa posta, rádio ligado, chovia forte quando o locutor interrompeu o programa para comunicar que o homem acabara de pisar na lua.

João, o patriarca da família, que nesse dia nem tomou banho pro almoço e portanto ainda guardava nos pés os restos da terra revolvida pela enxada, protestou: Eu não acredito! Eles podem dizer o que quiser, não tem como a gente saber se é verdade ou mentira. Ninguém vai conseguir ir lá pra conferir.

Benedita, a matriarca, ponderou: Sossega, João! Seja como for, se o homem conseguiu ir à Lua, é sinal de que vai ser fácil conseguir acabar com a seca no sertão e com a fome no mundo. E mesmo que seja mentira, se alguém diz que descobriu como ir à lua, com que cara vai dizer que não sabe resolver um problema como o nosso, tão terreno.

Foi imediato, portanto, pensar na reflexão feita por Benedita. Se uma casa, feita nessa máquina, fica pronta em menos de 24 horas, e é bem mais barata do que o normal, resolver o grave problema de moradia no Brasil e no mundo parece coisa fácil e ninguém vai ter coragem de negar como resolvê-lo.

Mas aí, num átimo, lembro que hoje, passados quase 50 anos daquele almoço e da ida do homem à lua, 815 milhões de pessoas continuam passando fome no mundo e que 1 bilhão não tem moradia digna. Só no Brasil, por exemplo, são quase sete milhões de famílias sem casa pra morar.

Por fim imaginei, quem sabe na mesma hora do almoço de 1969, nas mesmas ondas de rádio e na mesma casa de taipa, inúmeras vezes retocada de barro, como reagiram ou reagirão o casal, agora seu João e dona Benedita, ao saber da notícia de que existe uma máquina que, num apertar de botão, lança no mundo uma casa de morar, novinha em folha?

Seu João, que agora nem consegue mais se sujar de barro, vive em casa e almoça limpo, talvez, como antes e como sempre, duvide. Dona Benedita, por sua vez, depois de meio século de decepções e olhando pras repetidas secas e pras repetidas fomes, talvez apenas diga. Sossega, João! Coma logo essa comida senão esfria.
 


* Aldi Nestor de Souza
Departamento de matemática - UFMT/Cuiabá
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Quinta, 16 Agosto 2018 09:19

 

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 
  
JUACY DA SILVA*

 
Conforme destacado em meu último artigo, o mundo de uma maneira geral e os países desenvolvidos de uma maneira particular estão envelhecendo de forma bem rápida. Com exceção dos países africanos e alguns asiáticos que ainda não iniciaram a transição demográfica, países emergentes como o Brasil, a China, a Turquia e outros mais também estão em processo bastante acelerado de envelhecimento.


Com certeza o processo de envelhecimento não afeta apenas cada pessoa ou família em particular, mas tem reflexos profundos na vida econômica, social, politica, institucional e cultural de cada país e, por extensão, é uma questão de interesse internacional, razões pelas quais tanto a ONU, durante suas assembleias gerais desde os anos setenta e oitenta, bem como seus organismos especializados como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outras instituições internacionais e nacionais vem alertando para que os países se preparem para o que poderá ser uma das maiores revoluções na história da humanidade.


O processo de envelhecimento pode ser notado a partir da análise de alguns indicadores, tanto a nível mundial quanto dos diversos países, inclusive o Brasil. Dentre tais indicadores podemos mencionar a expectativa de vida ao nascer e a expectativa de vida em cada faixa etária; os índices de fertilidade/fecundidade ou seja, número de filhos por mulher durante seu período reprodutivo; índices de mortalidade geral e de mortalidade infantil; índices de migração interna e internacional; participação da mulher no Mercado de trabalho, índice educacional em geral e por gênero em particular; número e percentual de pessoas com mais de 60, 70,80,90 ou cem anos.


De posse desses dados é possível construir cenários demográficos, socioeconômico e os impactos que o processo de envelhecimento tem sobre os diversos aspectos da vida nacional, por exemplo, Sistema previdenciário, sobrevida das pessoas após se aposentarem, taxa de dependência econômica, ou seja, percentual de pessoas que não trabalham (crianças/adolescentes e aposentados/idosos) x população economicamente ativa e população ocupada.


Outro desafio, talvez o maior de todos relacionados com o processo de envelhecimento será a questão da saúde pública em geral e a saúde dos idosos em particular, com destaque para as doenças crônicas, debilitantes e incuráveis, principalmente pelo fato que a cada faixa etária a pessoa idosa tem a propensão de ter maiores problemas de saúde, inclusive saúde mental e doenças neurológicas relacionados com o envelhecimento como as várias formas de demência, alzheimer, Parkinson, câncer, doenças cardiovasculares, principalmente.


Os custos da saúde/doenças que afetam a população idosa são muito maiores do que o custo da saúde/tratamento de doenças para a população não idosa e ai é que reside um grande desafio, tendo em vista que dentro de duas ou no máximo três décadas a maior concentração de idosos será nos países emergentes e de baixa renda, incluindo o Brasil que terá a quinta maior população de idosos do planeta.


O envelhecimento não apenas reproduz mas também torna mais cruel as taxas de empobrecimento, de fome, miséria e exclusão que existem na maior parte dos países, mas com maior ênfase nesses países emergentes e de baixa renda.


No Brasil, por exemplo, as taxas de concentração  de renda, medidas pelo índice de Gini é uma das maiores do mundo. Isto significa que a população pobre, excluída e de baixa renda será representada pela população idosa pobre e excluída.


Enquanto os países atualmente desenvolvidos tiverem um longo tempo, mais de um século para preparar suas instituições públicas e a infra estrutura econômica e social para encarar os desafios do processo de envelhecimento, os países emergentes, incluindo o Brasil, e os de baixa renda como a maioria dos países africanos e asiáticos não tiverem a preocupação de um planejamento de longo prazo para enfrentar os novos e atuais desafios decorrentes do processo de envelhecimento populacional.


Os governantes desses países, inclusive do Brasil, além do imediatismo, falta de visão estratégica, mediocridade no trato das questões econômicas e sociais, aliada à corrupção e atuação voltada muito mais para seus interesses de classe ou de grupo econômico, estão relegando e continuarão  relegando milhões de pessoas idosas `a marginalização ou apenas aos cuidados das respectivas famílias, que também não dispõem de recursos financeiros ou de outra ordem para os cuidados que a população idosa necessita e merece.


Precisamos incluir, de verdade, a população idosa na agenda, não apenas das discussões eleitorais, recheados de mentiras e demagogia; mas fundamentalmente, na pauta e na definição real das politicas públicas. Se isto não for feito com urgência, idosos e idosas estarão condenados a uma vida miserável em sua última etapa da existência, nada humana,  altamente desumana.

*JUACY DA SILVA, professor universitário aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversos veículos de comunicação. EmailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twiter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

 
 
 
 
Quarta, 15 Agosto 2018 15:21

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

  

Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

A quem aprecia entrevistas de candidatos à presidência da República, as últimas semanas foram fartas disso, com destaque ao programa Roda Viva (TV Cultura), ao primeiro debate, na TV Bandeirantes, e à Central das Eleições (Globo News).

No geral, sempre o mesmo dos mesmos. Por isso, das referências acima, comentarei o trabalho jornalístico da Globo News, que, a cada dia, de 30/07 a 03/08, entrevistou, por duas horas, os cinco candidatos que aparecem nas primeiras colocações das pesquisas. Lula – preso por corrupção – não foi entrevistado.

Pela ordem das entrevistas, os candidatos foram Álvaro Dias, Ciro Gomes, Marina Silva, Alckmin e Bolsonaro.

No primeiro programa, um caos. A Central das Eleições – composta por um “time de comentaristas”, liderado por Mirian Leitão – exibiu, acima de tudo, explosões de egos de seus jornalistas.

Sem coordenação firme por parte de quem deveria organizar as intervenções, parecia haver, no ar, uma disputa de quem seria o primeiro a nocautear o entrevistado. Dessa forma, Álvaro Dias foi secundarizado. Pouco falou.

Para a segunda entrevista, o “time” parecia enquadrado pelos editores. Cada um tentou respeitar a vez e a voz do outro. Assim, não foram causados maiores transtornos à Marina Silva, que pouco soube se aproveitar do efeito “anestesia forçada” dos jornalistas.

O mesmo não ocorreu com Ciro Gomes. De novo, o “time” pegou pesado. Motivo: o comportamento explosivo do candidato. De início, Ciro entrou na ciranda. Irritou-se. Contudo, logo pediu, literalmente, que os jornalistas perguntassem sobre “coisas sérias, como a economia do país”.

Daí em diante, o candidato, tentando se apresentar diferente, ganhou a cena; parece ter vencido a luta verbal contra o “time global”.

Com Alckmin, quase sempre linear, a paz reinou no estúdio. Por vezes, um ou outro do “time” o deixara com o sorriso amarelo, diante de contradições antológicas, buscadas em arquivos, que seu partido e sua prática política tão bem favorecem.

Por fim, e por tudo que envolve a figura Bolsonaro, sua entrevista foi a que teve maior repercussão. Nesse sentido, mesmo sem querer, testemunhei uma conversa em um restaurante, um dia após sua sabatina. Fiquei preocupado.

Explico: de todos, Bolsonaro, que tentou esconder seus preconceitos embaixo do tapete, é o mais despreparado. Assumiu que não entende nada de economia. Pensei que, por isso, perderia alguma coisa. Parece que não.

Pelo teor da conversa de que me referi, três senhoras, falando alto, elogiaram exatamente a ignorância assumida por Bolsonaro. Acharam aquilo honesto, “compatível com ele próprio”, disse uma às demais, que consentiram.

Saí preocupado do recinto. Os candidatos, além de limitados, no geral, estão sendo vistos pela maioria como corruptos. Desses, Lula – que obviamente não é preso político, como querem fazer crer sectários do PT – foi citado por uma daquelas senhoras, mas com o aval das demais.

Nesse sentido, parece ser inegável o malefício que Petrolões e Mensalões fizeram ao nosso futuro. Logo, caso vença as eleições, é inegável a dívida que Bolsonaro terá para com Lula e o PT; ou seja, os grandes responsáveis por essa tragédia anunciada, caso ela se concretize. Uma decepção popular pode ter rumos indesejados.

E se a tragédia que vem se anunciando se concretizar, para deixar o quadro ainda mais sombrio, Bolsonaro terá um general do Exército como vice.

Isso mesmo! Um fardado e um saudosista das fardas.

À frente, se der essa dobradinha, na certa, será marcha à ré. 

Terça, 14 Agosto 2018 11:08

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

Por Aldi Nestor de Souza
  

Para ajudar na renda da família, dona Cândida acaba de abrir uma universidade em sua casa. Funciona no puxadinho onde antes era o brechó, que faliu. Aposentada, ela precisa de renda extra por causa dos remédios, do plano de saúde e dos cremes pra pele, dos quais não abre mão. Dona Cândida estava em dúvidas entre vender Avon ou abrir a universidade. Optou pela última por ser mais fácil e também por causa dos filhos, que se propuseram a ajudar.

Ex aluna de uma faculdade à distância, dona Cândida cursou  administração de empresas e foi essa experiência que a levou a pensar em abrir esse novo negócio. Ela recorda que a única coisa física, a qual ela tinha contato, da universidade era o boleto bancário, que mandavam entregar pelo correio em sua casa. Lembra bem de como eram as horas de estudo, ali de frente pro computador e pras apostilas online, e brinca: “aquela aula servida fria não tinha gosto de nada, qualquer um é capaz de servir.”

Dona Cândida tem três os filhos: uma pedagoga, um formado em administração e outro em informática. Só a pedagoga trabalha na área, é professora. Os outros dois são atendentes de telemarketing.

Num final de semana, os quatro e mais alguns amigos, em mutirão, trataram da infraestrutura do puxadinho. Depois de instalar uma internet nova, mais potente, e de lavar bem o prédio, vestiram-no de uma pintura nova e instalaram uma mesinha, com um computador. Na frente da casa, esticaram uma faixa, feita pelo vizinho, Neco das Faixas, com os letreiros:

UNIVERSIDADE PARA TODOS

FAÇA SUA FACULDADE AQUI!

ÓTIMOS PREÇOS!

ACEITAMOS CARTÃO!

A universidade oferece, de início, dois cursos: Pedagogia e Administração, ambos integralmente à distância. E são os filhos de dona Cândida os encarregados de organizar a parte pedagógica. O material didático foi todo baixado da internet. Tem apostilas e links para vídeo aulas no youtube. E tem o chat, onde à noite e nos finais de semana eles tiram dúvidas.

Para compor um corpo docente e iniciar a empreitada, contaram com a ajuda de alguns amigos professores, que, em uma tarde de sábado, aprontaram os dois projetos dos cursos. A internet, brinca dona Cândida, “é uma perdição.“

Dona Cândida cuida da divulgação: distribui panfletos nas ruas, nas feiras livres e nas redes sociais. Também vai na vizinhança e nas casas das amigas convencê-las a voltar a estudar e fazer um curso superior. “Faça pedagogia, mulher! É melhor do que ficar só assistindo novela,” argumenta.

A proposta principal da universidade é o preço da mensalidade, 49,90, o menor do mercado. Mas como o negócio é um bico, e montado quase sem custos, toda grana que entrar é lucro. Lucro que é dividido igualmente entre os quatro.

Para a matrícula, eles aceleraram na propaganda, bolaram promoções e botaram até carro na rua a anunciar: “venha fazer um curso superior, super promoção de inauguração na UNIVERSIDADE PARA TODOS. Não tem vestibular, basta ter concluído o ensino médio.  Somente essa semana, fazendo sua matrícula, que custa apenas 50 reais, você participa do sorteio de um lindo liquidificador”.

Eles pensam em, no futuro, se cadastrarem pra disputar as linhas de crédito da financeira FIES. Por enquanto, capricham no argumento de que é melhor pagar pouco e não acumular dívida. Sabem bem, e exploram ao máximo, a proposta do governo de transformar o FIES numa espécie de empréstimo consignado, que será descontado em folha assim que o estudante arrumar um emprego.

Cerca de 80 alunos se matricularam em cada curso, na primeira turma. E dona Cândida, que já foi balconista de loja, recepcionista de hotel e adora blush, hoje é reitora.

 

Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
 

Quinta, 09 Agosto 2018 10:06

 

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 
  
JUACY DA SILVA*
 

O mundo, de uma maneira geral, está envelhecendo, ou seja, a população nas faixas etárias com 60 anos e mais anos de idade, nas últimas décadas, tem crescido de forma muito mais acentuada do que o crescimento geral da população e, principalmente, bem maior do que a população infantil, com menos de 14 anos.


Alguns países  desenvolvidos, como os europeus, o Japão, a Austrália, o Canadá e também alguns emergentes como Brasil e a China, apresentam índices de crescimento e parcelas da população com mais de 60 anos, bem superior à média mundial.


A maioria dos países europeus e o Japão, já tem mais de 22% da população total com 60 ou mais anos de idade e dentro de mais duas ou três décadas a participação de idosos será superior a um terço, sendo que por volta de 2050 alguns poderão ter um índice de envelhecimento superior a 40%.


Até o inicio da década de 1950, o crescimento populacional na maioria dos países era determinado por altas taxas de fertilidade e fecundidade, a partir dos anos cinquenta, com a redução dos índices de mortalidade e de fertilidade/fecundidade, muita gente e instituições imaginavam que o crescimento populacional mundial estaria chegando a um ponto de equilíbrio ou “crescimento zero”.


Todavia, algumas regiões com a África e países como a Índia e alguns outros países asiáticos como Indonésia, Bangladesh e outros mais, continuam experimentando altos índices de fecundidade/fertilidade e iniciam  tardiamente a transição demográfica, indicando, por exemplo que dentro de pouco mais de uma década a Índia devera ter uma população bem superior à da China.


A nível mundial, em 2015 o contingente de idosos, acima de 60 anos, era de 900 milhões de pessoas, representando 12,3% do total da população mundial; as projeções da ONU e outras instituições de pesquisas e estudos demográficos indicam que em 2030 o contingente de idosos na população mundial deverá ser de 16,5% ou 1,4 bilhões de pessoas e em 2050 os idosos serão mais de 2 bilhões de pessoas ou 21,5% do total da população mundial.


Em 35 anos, a população mundial deverá passar de 7,3 bilhões em 2015 para 9,8 bilhões em 2050, um crescimento de 135,6%; enquanto isso, no mesmo período o crescimento da população de idosos devera crescer 222%, com tendência a uma aceleração mais acentuada nas décadas seguintes.

No Brasil o envelhecimento também vem ocorrendo de forma mais acelerada do que aconteceu na Europa. Na França, por exemplo, foi necessário mais de um século para que a população idosa “pulasse” de 7% para 14%, e no Brasil este “salto” ocorreu em apenas duas décadas.


Em 1950 a população idosa no Brasil era de 2,195 milhões de pessoas ou 4,2% do total; passando para 14,352 milhões ou 8% no ano de 2000. Em 2017 os idosos representavam 14,6% da população total ou 30,2 milhões de pessoas e as previsões indicam que em 2030 o Brasil terá a quinta maior população idosa do planeta, nada menos do que 42,8 milhões de pessoas ou 18,7% da população total.


Em 1950 a população total do Brasil era de 51,9 milhões de habitantes e a população idosa era de 2,2 milhões; as projeções tanto do IBGE quanto da ONU e outras instituições indicam que em 2030, dentro de 12 anos, a população total do Brasil será de 228,9 milhões de habitantes e a população de idosos será de 42,8 milhões de pessoas. Diante desses números a conclusão é clara e óbvia, enquanto a população total de nosso país deverá ter crescido 440,7% nesse período (de 1950 a 2030), o total de idosos deverá ter crescido 1.945,5% ou seja, 4,4 vezes mais.


Pouca gente, inclusive nossos governantes e a elite dominante do país ou até mesmo as instituições de estudos e pesquisas nacionais se dão conta das repercussões que o envelhecimento populacional terá dentro de pouco mais de uma década. O Envelhecimento populacional não é uma mera questão pessoal ou familiar, mas muito mais uma questão nacional e internacional que demanda estudos e definição de politicas públicas e ações efetivas tanto na área econômica, quanto social, cultural, politica e, principalmente, em relação `as estruturas e ações de governo.


Em uma próxima oportunidade tentarei refletir sobre essas dimensões e o papel que tanto as instituições públicas quanto as representativas da sociedade civil organizado e também as universidades, no sentido da necessidade de uma compreensão mais profunda, atual e futura desta realidade que, para muitos, é uma verdadeira “bomba relógio”, prestes a ser detonada e que poderá levar pelos ares não apenas sistemas de governo, mas a própria sobrevivência humana neste planeta.


O Mundo esta envelhecendo e o Brasil de forma mais rápida ainda. Será que esta questão consta da pauta ou agenda dos candidatos para as eleições de outubro próximo? Sei, não, como diz o matuto!


*JUACY DA SILVA, professor universitário aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e articulista veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Quarta, 08 Agosto 2018 15:18

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

O Bom Dia Brasil (Globo) do último dia 07 – data em que a Lei Maria da Penha completou 12 anos – nada teve de bom, pelo menos em seu começo, pois diversas reportagens referiram-se a violências cometidas contra mulheres.

 

De início, noticiou-se a morte da catarinense Andreia Araújo (28 anos), grávida de 3 meses. O algoz foi Marcelo Kroin, seu companheiro, a quem a jovem, no Face, em 12/06 pp., declarou:

 

“Você é a escolha acertada. Te amo, meu bem. #Tudo perfeito #Eternos namorados”.

 

Engano. A jovem foi assassinada durante uma briga, à noite.

 

Depois, anunciou-se a morte de Simone Souza, mãe de dois filhos e grávida do terceiro. A jovem, de 25 anos, foi asfixiada. Por ciúme, Anderson, o companheiro, a matou na frente do caçula, de 3 anos. Isso foi no Rio.

 

Seguindo a longa lista, em Brasília, Carla Graziele, de 37 anos, caiu de costas do 3º andar do prédio onde morava com Jonas Andonadi. Antes da queda, vizinhos ouviram barulho de mais uma briga; elas eram frequentes. Aliás, contra cada um existiam antigos registros de boletins de ocorrências policiais.

 

A quarta notícia atualizou informações acerca da morte de Tatiane Spitzner, ocorrida no Paraná. O assassino é seu companheiro, Luis Felipe Manvailer, que já foi denunciado pelo MP/PR. Antes de arremessar Tatiane do 4º andar de um edifício, o rapaz cometeu sucessivas agressões físicas contra a vítima. As imagens da tragédia são nítidas, irrefutáveis e revoltantes.

 

Na sequência, informou-se que, em MG, a PM fazia “operação de combate à violência contra a mulher. Ao todo, eram cento e setenta mandados de busca, apreensão e de prisão”. Os casos referiam-se a agressões físicas, verbais e psicológicas, além de estupros de vulneráveis e feminicídios.

                        

Na reportagem, ainda foi dito que, conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 503 mulheres sofrem algum tipo de agressão, por hora, no Brasil.

       

Depois desse conjunto, por motivos diferentes dos já expostos, mais duas matérias abordaram agressões contra mulheres: uma se referia ao assassinato – na infernal Favela de Paraisópolis – de Juliane Santos Duarte, assassinada por ser identificada como integrante da corporação da PM/SP; a outra, das ameaças que Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco, vem sofrendo por cobrar, do MP/RJ, resultados das investigações da morte de sua companheira.

 

Excluindo as duas últimas agressões, infiro: os demais assassinatos ocorrerem (e outros ocorrerão) por conta da violenta cultura machista de nossa sociedade judaico-cristã. Por si, a própria Bíblia Sagrada estimula o machismo. Disso decorrem registros comportamentais lastimáveis, à esteira de “sabedorias populares”, tais como:

 

“Ruim com ele, pior sem ele”; "É melhor você chamar um homem para te ajudar com isso"; “Já sabe cozinhar, já pode casar”; “Mulher só é completa quando tem filhos”; “Em briga de marido e mulher, não se mete a colher”...

 

Todos os enunciados acima, numa análise de discursos, têm relação interdiscursiva direta com excertos bíblicos machistas, principalmente, alguns inseridos no Velho Testamento. Sinto muito ter de dizer isso.

 

Do outro lado da mesma moeda, em geral, a mulher, também cristãmente falando e agindo, oferta sucessivos perdões e crença na regeneração do outro, que – sartreamente falando – é o inferno/seu algoz na Terra.  

 

Como o que afirmo acima é forte em nossa sociedade, a saída não é fácil, mas precisamos superar dogmas maléficos. Se não avançarmos, vamos chorar muitas mortes ainda. Infelizmente.

 
 
 
 
 
Terça, 07 Agosto 2018 16:17

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

Por Aldi Nestor de Souza
 

Um possível jeito do mundo de hoje ser lembrado lá no futuro é o fato de termos criado as condições para que uma vassoura, feita lá em Xangai, na China, possa atravessar dois oceanos e vir parar no Centro Oeste brasileiro, para unir-se com um cabo vindo de sobral, no Ceará.

O caso acima, claro, é só um exemplo particular conhecido. Estou falando de uma vassoura e de um cabo que moram na minha casa, comprados involuntariamente num supermercado. Em muitos lugares do mundo, certamente, achamos exemplos análogos.

Repare que pra essa vassoura cruzar o índico e o atlântico foram necessários: as descobertas dos caminhos marítimos, a construção de um moderno e possante navio cargueiro, uma competente tripulação a bordo, um grande acordo de comércio entre nações e uma tecnologia de ponta, posta lá na órbita da terra, para vigiar todos os passos do navio em alto mar.

Isso sem contar com o pessoal de terra: os trabalhadores das fábricas de vassouras, os operadores portuários, os carregadores, os conferidores de notas fiscais, os cobradores de impostos, os caminhoneiros, os trabalhadores dos mercados e, por fim, os consumidores.

Mas o que justificaria essa viagem? Seria o Brasil incapaz de produzir as vassouras que a gente precisa? Ou, por outro lado, estaria o Brasil, de uma vez por todas, se inserindo no mundo moderno, no mundo da globalização, no mundo do consumo, no mundo do mercado? Seria isso o progresso?

Por mais homérica que tenha sido a viagem da vassoura, a do cabo também impressiona. Sim porque faz muito pouco tempo que cabo de vassoura viaja. Segundo porque, além de não viajar, ele não era sequer uma mercadoria. O cabo era parte integrante da vassoura até dias atrás. Aliás, houve um tempo em que a gente improvisava o cabo, fazia-o de um galho seco qualquer. Foi o mundo moderno, portanto, que deu identidade ao cabo de vassoura. Deu identidade, preço e até um código de barras, que é um símbolo de existência no mundo de hoje.

Seja como for, eu me dei conta dessa vassoura intercontinental num domingo de manhã, na hora em que me preparava pra varrer a casa. Estava enroscando uma peça na outra quando percebi, ali perto do made in China, o made in Sobral, indicando, assim como fazem os abstracts dos trabalhos acadêmicos, que o cabo também tinha pretensões internacionais.
 

 
Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.