Terça, 14 Agosto 2018 11:08

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

Por Aldi Nestor de Souza
  

Para ajudar na renda da família, dona Cândida acaba de abrir uma universidade em sua casa. Funciona no puxadinho onde antes era o brechó, que faliu. Aposentada, ela precisa de renda extra por causa dos remédios, do plano de saúde e dos cremes pra pele, dos quais não abre mão. Dona Cândida estava em dúvidas entre vender Avon ou abrir a universidade. Optou pela última por ser mais fácil e também por causa dos filhos, que se propuseram a ajudar.

Ex aluna de uma faculdade à distância, dona Cândida cursou  administração de empresas e foi essa experiência que a levou a pensar em abrir esse novo negócio. Ela recorda que a única coisa física, a qual ela tinha contato, da universidade era o boleto bancário, que mandavam entregar pelo correio em sua casa. Lembra bem de como eram as horas de estudo, ali de frente pro computador e pras apostilas online, e brinca: “aquela aula servida fria não tinha gosto de nada, qualquer um é capaz de servir.”

Dona Cândida tem três os filhos: uma pedagoga, um formado em administração e outro em informática. Só a pedagoga trabalha na área, é professora. Os outros dois são atendentes de telemarketing.

Num final de semana, os quatro e mais alguns amigos, em mutirão, trataram da infraestrutura do puxadinho. Depois de instalar uma internet nova, mais potente, e de lavar bem o prédio, vestiram-no de uma pintura nova e instalaram uma mesinha, com um computador. Na frente da casa, esticaram uma faixa, feita pelo vizinho, Neco das Faixas, com os letreiros:

UNIVERSIDADE PARA TODOS

FAÇA SUA FACULDADE AQUI!

ÓTIMOS PREÇOS!

ACEITAMOS CARTÃO!

A universidade oferece, de início, dois cursos: Pedagogia e Administração, ambos integralmente à distância. E são os filhos de dona Cândida os encarregados de organizar a parte pedagógica. O material didático foi todo baixado da internet. Tem apostilas e links para vídeo aulas no youtube. E tem o chat, onde à noite e nos finais de semana eles tiram dúvidas.

Para compor um corpo docente e iniciar a empreitada, contaram com a ajuda de alguns amigos professores, que, em uma tarde de sábado, aprontaram os dois projetos dos cursos. A internet, brinca dona Cândida, “é uma perdição.“

Dona Cândida cuida da divulgação: distribui panfletos nas ruas, nas feiras livres e nas redes sociais. Também vai na vizinhança e nas casas das amigas convencê-las a voltar a estudar e fazer um curso superior. “Faça pedagogia, mulher! É melhor do que ficar só assistindo novela,” argumenta.

A proposta principal da universidade é o preço da mensalidade, 49,90, o menor do mercado. Mas como o negócio é um bico, e montado quase sem custos, toda grana que entrar é lucro. Lucro que é dividido igualmente entre os quatro.

Para a matrícula, eles aceleraram na propaganda, bolaram promoções e botaram até carro na rua a anunciar: “venha fazer um curso superior, super promoção de inauguração na UNIVERSIDADE PARA TODOS. Não tem vestibular, basta ter concluído o ensino médio.  Somente essa semana, fazendo sua matrícula, que custa apenas 50 reais, você participa do sorteio de um lindo liquidificador”.

Eles pensam em, no futuro, se cadastrarem pra disputar as linhas de crédito da financeira FIES. Por enquanto, capricham no argumento de que é melhor pagar pouco e não acumular dívida. Sabem bem, e exploram ao máximo, a proposta do governo de transformar o FIES numa espécie de empréstimo consignado, que será descontado em folha assim que o estudante arrumar um emprego.

Cerca de 80 alunos se matricularam em cada curso, na primeira turma. E dona Cândida, que já foi balconista de loja, recepcionista de hotel e adora blush, hoje é reitora.

 

Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
 

Quinta, 09 Agosto 2018 10:06

 

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 
  
JUACY DA SILVA*
 

O mundo, de uma maneira geral, está envelhecendo, ou seja, a população nas faixas etárias com 60 anos e mais anos de idade, nas últimas décadas, tem crescido de forma muito mais acentuada do que o crescimento geral da população e, principalmente, bem maior do que a população infantil, com menos de 14 anos.


Alguns países  desenvolvidos, como os europeus, o Japão, a Austrália, o Canadá e também alguns emergentes como Brasil e a China, apresentam índices de crescimento e parcelas da população com mais de 60 anos, bem superior à média mundial.


A maioria dos países europeus e o Japão, já tem mais de 22% da população total com 60 ou mais anos de idade e dentro de mais duas ou três décadas a participação de idosos será superior a um terço, sendo que por volta de 2050 alguns poderão ter um índice de envelhecimento superior a 40%.


Até o inicio da década de 1950, o crescimento populacional na maioria dos países era determinado por altas taxas de fertilidade e fecundidade, a partir dos anos cinquenta, com a redução dos índices de mortalidade e de fertilidade/fecundidade, muita gente e instituições imaginavam que o crescimento populacional mundial estaria chegando a um ponto de equilíbrio ou “crescimento zero”.


Todavia, algumas regiões com a África e países como a Índia e alguns outros países asiáticos como Indonésia, Bangladesh e outros mais, continuam experimentando altos índices de fecundidade/fertilidade e iniciam  tardiamente a transição demográfica, indicando, por exemplo que dentro de pouco mais de uma década a Índia devera ter uma população bem superior à da China.


A nível mundial, em 2015 o contingente de idosos, acima de 60 anos, era de 900 milhões de pessoas, representando 12,3% do total da população mundial; as projeções da ONU e outras instituições de pesquisas e estudos demográficos indicam que em 2030 o contingente de idosos na população mundial deverá ser de 16,5% ou 1,4 bilhões de pessoas e em 2050 os idosos serão mais de 2 bilhões de pessoas ou 21,5% do total da população mundial.


Em 35 anos, a população mundial deverá passar de 7,3 bilhões em 2015 para 9,8 bilhões em 2050, um crescimento de 135,6%; enquanto isso, no mesmo período o crescimento da população de idosos devera crescer 222%, com tendência a uma aceleração mais acentuada nas décadas seguintes.

No Brasil o envelhecimento também vem ocorrendo de forma mais acelerada do que aconteceu na Europa. Na França, por exemplo, foi necessário mais de um século para que a população idosa “pulasse” de 7% para 14%, e no Brasil este “salto” ocorreu em apenas duas décadas.


Em 1950 a população idosa no Brasil era de 2,195 milhões de pessoas ou 4,2% do total; passando para 14,352 milhões ou 8% no ano de 2000. Em 2017 os idosos representavam 14,6% da população total ou 30,2 milhões de pessoas e as previsões indicam que em 2030 o Brasil terá a quinta maior população idosa do planeta, nada menos do que 42,8 milhões de pessoas ou 18,7% da população total.


Em 1950 a população total do Brasil era de 51,9 milhões de habitantes e a população idosa era de 2,2 milhões; as projeções tanto do IBGE quanto da ONU e outras instituições indicam que em 2030, dentro de 12 anos, a população total do Brasil será de 228,9 milhões de habitantes e a população de idosos será de 42,8 milhões de pessoas. Diante desses números a conclusão é clara e óbvia, enquanto a população total de nosso país deverá ter crescido 440,7% nesse período (de 1950 a 2030), o total de idosos deverá ter crescido 1.945,5% ou seja, 4,4 vezes mais.


Pouca gente, inclusive nossos governantes e a elite dominante do país ou até mesmo as instituições de estudos e pesquisas nacionais se dão conta das repercussões que o envelhecimento populacional terá dentro de pouco mais de uma década. O Envelhecimento populacional não é uma mera questão pessoal ou familiar, mas muito mais uma questão nacional e internacional que demanda estudos e definição de politicas públicas e ações efetivas tanto na área econômica, quanto social, cultural, politica e, principalmente, em relação `as estruturas e ações de governo.


Em uma próxima oportunidade tentarei refletir sobre essas dimensões e o papel que tanto as instituições públicas quanto as representativas da sociedade civil organizado e também as universidades, no sentido da necessidade de uma compreensão mais profunda, atual e futura desta realidade que, para muitos, é uma verdadeira “bomba relógio”, prestes a ser detonada e que poderá levar pelos ares não apenas sistemas de governo, mas a própria sobrevivência humana neste planeta.


O Mundo esta envelhecendo e o Brasil de forma mais rápida ainda. Será que esta questão consta da pauta ou agenda dos candidatos para as eleições de outubro próximo? Sei, não, como diz o matuto!


*JUACY DA SILVA, professor universitário aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e articulista veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Quarta, 08 Agosto 2018 15:18

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

O Bom Dia Brasil (Globo) do último dia 07 – data em que a Lei Maria da Penha completou 12 anos – nada teve de bom, pelo menos em seu começo, pois diversas reportagens referiram-se a violências cometidas contra mulheres.

 

De início, noticiou-se a morte da catarinense Andreia Araújo (28 anos), grávida de 3 meses. O algoz foi Marcelo Kroin, seu companheiro, a quem a jovem, no Face, em 12/06 pp., declarou:

 

“Você é a escolha acertada. Te amo, meu bem. #Tudo perfeito #Eternos namorados”.

 

Engano. A jovem foi assassinada durante uma briga, à noite.

 

Depois, anunciou-se a morte de Simone Souza, mãe de dois filhos e grávida do terceiro. A jovem, de 25 anos, foi asfixiada. Por ciúme, Anderson, o companheiro, a matou na frente do caçula, de 3 anos. Isso foi no Rio.

 

Seguindo a longa lista, em Brasília, Carla Graziele, de 37 anos, caiu de costas do 3º andar do prédio onde morava com Jonas Andonadi. Antes da queda, vizinhos ouviram barulho de mais uma briga; elas eram frequentes. Aliás, contra cada um existiam antigos registros de boletins de ocorrências policiais.

 

A quarta notícia atualizou informações acerca da morte de Tatiane Spitzner, ocorrida no Paraná. O assassino é seu companheiro, Luis Felipe Manvailer, que já foi denunciado pelo MP/PR. Antes de arremessar Tatiane do 4º andar de um edifício, o rapaz cometeu sucessivas agressões físicas contra a vítima. As imagens da tragédia são nítidas, irrefutáveis e revoltantes.

 

Na sequência, informou-se que, em MG, a PM fazia “operação de combate à violência contra a mulher. Ao todo, eram cento e setenta mandados de busca, apreensão e de prisão”. Os casos referiam-se a agressões físicas, verbais e psicológicas, além de estupros de vulneráveis e feminicídios.

                        

Na reportagem, ainda foi dito que, conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 503 mulheres sofrem algum tipo de agressão, por hora, no Brasil.

       

Depois desse conjunto, por motivos diferentes dos já expostos, mais duas matérias abordaram agressões contra mulheres: uma se referia ao assassinato – na infernal Favela de Paraisópolis – de Juliane Santos Duarte, assassinada por ser identificada como integrante da corporação da PM/SP; a outra, das ameaças que Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco, vem sofrendo por cobrar, do MP/RJ, resultados das investigações da morte de sua companheira.

 

Excluindo as duas últimas agressões, infiro: os demais assassinatos ocorrerem (e outros ocorrerão) por conta da violenta cultura machista de nossa sociedade judaico-cristã. Por si, a própria Bíblia Sagrada estimula o machismo. Disso decorrem registros comportamentais lastimáveis, à esteira de “sabedorias populares”, tais como:

 

“Ruim com ele, pior sem ele”; "É melhor você chamar um homem para te ajudar com isso"; “Já sabe cozinhar, já pode casar”; “Mulher só é completa quando tem filhos”; “Em briga de marido e mulher, não se mete a colher”...

 

Todos os enunciados acima, numa análise de discursos, têm relação interdiscursiva direta com excertos bíblicos machistas, principalmente, alguns inseridos no Velho Testamento. Sinto muito ter de dizer isso.

 

Do outro lado da mesma moeda, em geral, a mulher, também cristãmente falando e agindo, oferta sucessivos perdões e crença na regeneração do outro, que – sartreamente falando – é o inferno/seu algoz na Terra.  

 

Como o que afirmo acima é forte em nossa sociedade, a saída não é fácil, mas precisamos superar dogmas maléficos. Se não avançarmos, vamos chorar muitas mortes ainda. Infelizmente.

 
 
 
 
 
Terça, 07 Agosto 2018 16:17

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

Por Aldi Nestor de Souza
 

Um possível jeito do mundo de hoje ser lembrado lá no futuro é o fato de termos criado as condições para que uma vassoura, feita lá em Xangai, na China, possa atravessar dois oceanos e vir parar no Centro Oeste brasileiro, para unir-se com um cabo vindo de sobral, no Ceará.

O caso acima, claro, é só um exemplo particular conhecido. Estou falando de uma vassoura e de um cabo que moram na minha casa, comprados involuntariamente num supermercado. Em muitos lugares do mundo, certamente, achamos exemplos análogos.

Repare que pra essa vassoura cruzar o índico e o atlântico foram necessários: as descobertas dos caminhos marítimos, a construção de um moderno e possante navio cargueiro, uma competente tripulação a bordo, um grande acordo de comércio entre nações e uma tecnologia de ponta, posta lá na órbita da terra, para vigiar todos os passos do navio em alto mar.

Isso sem contar com o pessoal de terra: os trabalhadores das fábricas de vassouras, os operadores portuários, os carregadores, os conferidores de notas fiscais, os cobradores de impostos, os caminhoneiros, os trabalhadores dos mercados e, por fim, os consumidores.

Mas o que justificaria essa viagem? Seria o Brasil incapaz de produzir as vassouras que a gente precisa? Ou, por outro lado, estaria o Brasil, de uma vez por todas, se inserindo no mundo moderno, no mundo da globalização, no mundo do consumo, no mundo do mercado? Seria isso o progresso?

Por mais homérica que tenha sido a viagem da vassoura, a do cabo também impressiona. Sim porque faz muito pouco tempo que cabo de vassoura viaja. Segundo porque, além de não viajar, ele não era sequer uma mercadoria. O cabo era parte integrante da vassoura até dias atrás. Aliás, houve um tempo em que a gente improvisava o cabo, fazia-o de um galho seco qualquer. Foi o mundo moderno, portanto, que deu identidade ao cabo de vassoura. Deu identidade, preço e até um código de barras, que é um símbolo de existência no mundo de hoje.

Seja como for, eu me dei conta dessa vassoura intercontinental num domingo de manhã, na hora em que me preparava pra varrer a casa. Estava enroscando uma peça na outra quando percebi, ali perto do made in China, o made in Sobral, indicando, assim como fazem os abstracts dos trabalhos acadêmicos, que o cabo também tinha pretensões internacionais.
 

 
Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Quinta, 02 Agosto 2018 10:08

 

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 
 
JUACY DA SILVA*
 

Estamos há praticamente dois meses para a realização de uma eleição muito importante no Brasil, quando os eleitores, que, pretendemos, representam os anseios, desejos e expectativas do povo brasileiro, irão escolher um novo ou nova presidente da República, todos os governadores de estados, dois terços do Senado, toda a Câmara Federal e todas as Assembleias Legislativas. Enfim, serão escolhidos os novos governantes e, através da constituição de um “novo” corpo politico,  todos os gestores de primeiro, segundo, terceiro escalões da administração pública do país.


Na maioria dos países existem regras, regulamentos e legislação que permanecem por décadas a fio, facilitando a dinâmica politica e eleitoral, dando estabilidade ao processo e segurança jurídica, diferente do que ocorre no Brasil, onde  tanto a legislação quanto os ritos e regras politicas quanto eleitorais são alteradas a cada pleito, de dois em dois anos e ainda, a incerteza e morosidade da justiça comum e da justiça eleitoral.


As regras para as próximos eleições são totalmente diferentes das que vigoravam quando das eleições gerais de 2010 e 2014, incluindo as formas de financiamento eleitoral, a figura do caixa dois que sempre existiu e todo mundo, inclusive a justiça eleitoral, fazia de conta que nada sabia, nada via e quando as denúncias eram apuradas os mandados já estavam praticamente no final ou já havia terminado, o tempo de propaganda eleitoral e outros detalhes mais.


Dois exemplos são patentes nesta barafunda, o caso da eleição suplementar, quando um novo governador e vice foram eleitos há poucos meses no Tocantins, para um mandato tampão até o final do que seria o mandato do governador e vice eleitos em 2014, cujo processo de investigação e cassação demorou anos.


O mesmo acontece em Mato Grosso, a cassação do mandato do senador Medeiros nesta semana, eleito como suplente de Pedro Taques que foi eleito em 2010 e renunciou em 2015, para assumir o cargo de governador de Estado. A denúncia de que teria havia fraude na ata da convenção, na ordem dos suplentes da chapa de Pedro Taques, quando o nome do atual senador Medeiros teria “pulado” de segundo para primeiro suplente, demorou vários anos e só agora a decisão foi tomada, possibilitando que tal fraude seja corrigida e o suplente que foi “passado para traz” possa ter seu mandato garantido por apenas poucos meses.


Muita gente, incluindo a grande mídia tenta massificar a ideia, errônea em minha opinião, de que os eleitores tem todo o poder do mundo e podem escolher os melhores candidatos, dar  cartão  vermelho para os políticos/candidatos corruptos, incompetentes, demagogos, ineficientes e espertalhões. Pesquisas indicam que a grande maioria dos atuais parlamentares, inclusive os investigados por corrupção serão eleitos ou reeleitos.


A realidade não é bem assim, quem escolhe os candidatos são os partidos e suas convenções e a quase totalidade dos partidos tem donos tanto no âmbito nacional, quanto nos estados e municípios, alguns que mandam e desmandam nos partidos por mais de duas ou três décadas. A grande maioria dos partidos não cultiva a democracia interna, quando muito manipulam seus filiados que continuam encabrestados pelos donos dos partidos, vários dos quais utilizam as alianças e composições politicas para acomodarem seus quadros de maior expressão nos cargos em comissão, onde existe um verdadeiro balcão de negócios, inclusive escusos como as operação lava jato e outras investigações a níveis nacional, regional e local tem comprovado.

 

Outro aspecto que denigre e transforma o processo eleitoral em uma barafunda, uma verdadeira mixórdia politica, eleitoral e ideológica são as famosas composições, onde o que determina como serão construídos os “palanques” dos candidatos a Presidente, Governadores, Senadores, deputados federais e estaduais nos Estado não é a coerência doutrinária, ética ou de princípios e muito menos as propostas ou planos de governo, mas sim  o tempo de TV, de rádio ou o montante do fundo partidário que cada partido possui, os interesses nacionais ou estaduais ou mesmo os interesses da população jamais são levados em conta.


Existem partidos que se aliam no âmbito nacional com diversas outros e não mantem a mesma aliança nos estados, disto resulta a eleição de deputados e senadores que irão “negociar” o apoio parlamentar com o/a presidente da República ou governadores de Estados, todo mundo sabe que isto acarreta a fragilidade de tais governos que acabam resvalando para práticas nada ética ou melhor, práticas corruptas para conseguir apoio parlamentar e poder governar.


Diante de toda esta balbúrdia politica e eleitoral fica difícil imaginar que 2019 poderá ser um ano de transformação politica, econômica, social ou de governança em nosso país. Eleições em uma realidade como a que existe atualmente no Brasil não terão o poder de uma varinha de condão que possa alimentar as esperanças do povo. Vamos continuar convivendo com as mesmas figurinhas já carimbadas e bem manjadas que levaram o país e nossos estados a esta vergonha em que estamos vivendo.


*JUACY DA SILVA,  professor universitário, UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversas veículos de comunicação. EmailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

Quarta, 01 Agosto 2018 14:40

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
**** 

 

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. em Jornalismo pela USP/Professor da UFMT

 

Como já se aproximam as eleições presidenciais, hoje, tratarei disso. Para tanto, pontuarei considerações que, ao longo do tempo, expuseram alguns escrivães, escritores e pensadores sobre o caráter do nosso povo, o que influencia em tudo, inclusive em seu voto.

Começo por dois registros do século XVI: um de Caminha, outro de Gândavo. Do primeiro, acerca dos aborígenes, destaco suas considerações sobre a inocência daqueles que andavam nus; que não “cobriam suas vergonhas”. Do segundo, sua observação sobre a ausência das letras F, L e R na língua tupi, o que o levou a concluir que os indígenas não tinham Fé, Lei e nem Rei. Dessa absurda interpretação ideológica, outras iguais e posteriores vêm se sucedendo desde então.

No século seguinte de vida nacional (XVII), o poeta Gregório de Matos denunciou corrupções e promiscuidades de nosso povo. Daí suas críticas aos “negociantes ambiciosos, à nobreza estúpida e vaidosa, aos pretos e mestiços sem valor, à justiça corrupta e injusta, aos religiosos hipócritas, à Câmara (no caso, políticos da Bahia) incompetente e à economia açucareira decadente” (cf. Rafael Julião; Revista Terceira Margem).

Do mesmo século, temos a vida plural do Pe. Vieira, do qual destaco sua peculiar forma de resolver problemas de ordem moral: os fins justificam os meios. Ele defendia o uso do dinheiro judeu, o que era condenado pela Igreja Católica, para a construção da Companhia das Índias Ocidentais, que poderia – segundo seus conselhos à Coroa Portuguesa – alavancar a economia local. Assim, o “jeitinho” brasileiro pode ter vindo de Portugal, e vestido de batina!

Dois séculos adiante, Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um Sargento de Milícias, narra as lembranças de Leonardo Pataca, menino travesso que, próximo do herói pícaro, se torna um “malandro” – não delinquente – antes de ser sargento de milícias. De resto, as demais personagens, quiçá as mais populares de nossa literatura, ignorando a história de luta dos inconfidentes mineiros no século anterior, ajudam a montar nossas características como um povo que ia se consolidando perante o mundo.

No início do Modernismo (séc. XX), Mário de Andrade publica o Macunaíma, aquele herói sem nenhum caráter, ou seja, desprovido de qualquer valor moral.

Já em perspectiva idealista, a decantada cordialidade do brasileiro, ou seja, “a forma natural e viva que se converteu em fórmula”, foi a centralidade do mote explicativo de nossa gente que Sérgio Buarque de Holanda nos trouxe em Raízes do Brasil (1936).

Essa característica, conforme o autor, originada nos tempos coloniais, faz que as relações familiares continuem a ser o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. Como consequência, isso nos dificulta compreender a distinção fundamental entre o público e o privado, resultando na fórmula contemporânea e pop do “tudo junto e misturado”.

Por fim, eu não poderia esquecer de importantes personagens de Jorge Amado, com destaque àquelas, cuja sensualidade está sempre à flor da pele por este país tropical, deitado em berço esplêndido.

Grosso modo, eis um pouquinho do que podemos ser como povo: inocentes, cooptáveis, corruptos, promíscuos, incompetentes, malandros/espertalhões, sem nenhum caráter, sensuais, cordiais...

Para mais ou para menos, pois também vejo qualidades em nós, este é o povo que elegerá o presidente para os próximos quatro anos, a partir de 2019.

Ah, sim! Os candidatos, com as mesmas qualidades e defeitos de fábrica, saíram desse mesmo povo.

Salve(m) o futuro! 
 

 

Terça, 31 Julho 2018 11:30

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 
Por Aldi Nestor de Souza
  
 

E graças à China, o ser humano poderá chegar ao ponto de não precisar mais apertar o tubo da pasta de dentes. É que os chineses lançaram no mercado o Kit Dispenser Automático, um aparelho que funciona como suporte pro creme dental e que possibilita, com apenas um toque feito com a escova, que a pasta caia direto nas cerdas, na medida certa e pronta pra escovação.
 
Quando soube disso pensei que fosse só uma brincadeira, uma invenção maluca como aquelas do guarda chuva pros pés ou da gravata com espelho. Que nada. Na loja Mercado Livre, na internet, por exemplo, encontrei um rebanho com mais de 100 modelos diferentes do aparelho. Várias cores, tamanhos, preços, etc. Um mar de opções, a perder de vista e a nos forçar a acreditar que a coisa só pode ser séria.
 
De onde será que veio a ideia pra essa criação? Quem terá sido o empreendedor dessa façanha? O que fará o ser humano com o tempo economizado com mais essa comodidade? Estaríamos nós, humanos, desenvolvendo mais um instinto natural: o de transformar tudo em mercadoria, a qualquer custo, por mais desnecessária que esta venha a ser? Estaríamos a caminho do fim, da condenação de sermos obrigados a não fazer nada, não pensar, não se mover, apenas parar?
 
A partir desse kit, é bem possível que, neste momento, algum empreendedor já esteja pensando em algo como: um aparelho pra escovar nossos próprios dentes e em um outro pra abrir a nossa boca e ficar segurando nossos queixos durante a escovação.
 
Seja como for, o que parece certo é que o Kit Dispenser Automático contribui com o PIB da China, o PIB que se assenhora dos economistas e governos do mundo todo e os faz render-lhe graças, copiá-lo, estudá-lo, endeusá-lo. O PIB que determina o que o mundo é, o que as pessoas devem ser, o que deve ser feito. O PIB que reduz as pessoas a meros números, que suplanta o nosso ser e que transforma a vida das pessoas num imenso vazio.
 
Esse kit me remeteu aquela produção científica universitária, feita como numa linha de montagem, com datas, metas, números e resultados previamente estabelecidos e implacáveis, a troco de pontos pra engordar o currículo lattes e fazer existir o pobre do pesquisador, num processo em que pesquisa e pesquisador não passam de meras mercadorias. Nessa produção viciada, segundo afirma Daniel Lettier, no artigo “Por que professores universitários estão escrevendo coisas que ninguém lê?”, 80% de toda a produção de artigos acadêmicos ninguém jamais vai ler e portanto, se isso for mesmo verdade, tal produção não vai conseguir sequer transformar-se num Kit Dispenser Automático.
 
O que diria, desse kit, o filósofo grego Sócrates? do qual se conta que costumava andar pelas ruas do comércio de Atenas a ressaltar pros seus discípulos, em meio às lojas abarrotadas de produtos: “Vejam só, meus jovens, de quanta coisa eu não preciso para viver!”
 
Pensei também no que diria minha saudosa mãe, uma nordestina forjada no solo seco do sertão, sem nenhuma escolaridade formal, mas que sabia extrair,da casca do tronco do juazeiro, o creme dental de nossa casa. Com uma faca peixeira, ela raspava a casca, punha no sol pra secar e, depois de seca, esfarelava, ou batia num pilão e extraía um pó fininho com o qual a gente escovava os dentes.
 
Pensei, por fim, que, nesse ritmo,  não há analgésico que nos seja suficiente e que é preciso muita tarja preta pra suportar a angústia de existir nesse mundo que nos condena a ser apenas inutensílios, mercadorias expostas numa prateleira pra nada.
 
Que graça tem o mundo se existe uma tecnologia até pra apertar o tubo da pasta de dente?
 
 
Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

Segunda, 30 Julho 2018 09:25

 

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 
 
JUACY DA SILVA*
 

Muitas pessoas, incluindo a grande maioria dos candidatos aos cargos executivos e legislativos estaduais, federais e a grande mídia, acreditam que só existem três grandes problemas ou desafios em nosso país que são a violência que está extremamente generalizada em todos os quadrantes do Brasil, a saúde publica que é uma vergonha, um caos que afeta e mata milhões de pessoas, desrespeitando um dos mais sagrados direitos humanos que é o DIREITO À VIDA e à dignidade do ser humano e também nossa educação pública que, além de um caos, também ostenta os mais baixos índices perante os demais países desenvolvidos e emergentes.


Todavia, existem dezenas de outros problemas extremamente graves e que vem sendo empurrados com a barriga, como costuma-se dizer, pelos nossos governantes que estão muito mais preocupados com seus esquemas de chegada às estruturas ou manutenção do poder e a partir daí se locupletarem em associação com empresários corruptos, assaltando e roubando os cofres públicos, surrupiando, impunemente,  preciosos e vultuosos recursos econômicos e financeiros que tanto fazem falta para a implementação das politicas públicas que seriam necessárias para minorar o sofrimento do povo e proporcionar melhores níveis de vida,  de crescimento econômico e de desenvolvimento nacional sustentável.


Eu gostaria de destacar neste artigo/reflexão, de forma resumida, alguns aspectos relacionados com o meio ambiente que vem sendo negligenciados tanto pelas autoridades, dos três poderes, federais, estaduais e também municipais quanto pela população em geral.


Como exemplo temos a degradação ambiental em geral, incluindo a poluição urbana, o desmatamento e destruição dos biomas amazônia, cerrado, caatinga, pampas, pantanal e mata atlântica, destruindo a biodiversidade, o solo, subsolo e afetando seriamente as águas das três principais bacias do pais: Amazônica, Paraná/Paraguai, São Francisco. O desmatamento, aliado `as queimadas e o uso/abuso de agrotóxicos, além de afetarem os ecossistemas e contribuírem para a produção de gases de efeito estufa e as mudanças climáticas, também afetam gravemente a saúde da população.


Outro problema/desafio extremamente grave é a questão do saneamento básico, incluindo a universalização de água tratada e,  principalmente, a coleta e tratamento de esgotos, condições necessárias para que exista uma boa saúde e qualidade de vida para a população e o Brasil possa honrar, até 2030, os compromissos que assumiu perante a ONU na implementação dos OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.


Ainda existem mais 12 milhões de habitantes, principalmente nas periferias dos grandes centros urbanos e também nas pequenas e médias cidades que não tem acesso à agua tratada, contribuindo para o agravamento da saúde publica.


Pior do que a falta de água tratada é o problema/desafio da falta de saneamento básico, a coleta e tratamento de esgotos, mais de 62 milhões de habitantes não tem acesso aos serviços de coleta de esgotos e mais de 100 milhões não tem acesso a tratamento de esgotos, chegando em alguns municípios e até mesmo capitais em que este déficit é superior a 95% da população.


Dos esgotos que são coletados, menos de 30% são tratados, ou seja, são lançados diretamente em valões, córregos, rios, lagoas e o oceano, tornando a paisagem brasileira em um mar de esgotos, como o que acontece na Baia da Guanabara ou  em Cuiabá e Várzea Grande, o maior aglomerado urbano de Mato Grosso, cujos córregos e o próprio Rio Cuiabá que já se transformaram e irão se transformar no maior esgoto a céu aberto na região Centro-Oeste, destruindo de morte o Pantanal, um patrimônio do Brasil e da humanidade.


De acordo com os dados do último relatório do Instituto Trata Brasil de 2018, Cuiabá  tem apenas 51,4% de coleta de esgoto e deste total apenas 30,9% são tratados. A média anual de ampliação da coleta e tratamento de esgoto em relação `a universalização deste serviço essencial tem sido de apenas 0,48% ao ano. Isto nos leva `a conclusão: para que a coleta de esgotos seja universalizada em Cuiabá serão necessários 101 anos e para a universalização do tratamento de esgotos nada menos do que 135 anos. Ou seja, só depois dos 400 anos de Cuiabá. Em Várzea Grande a situação também não é muito diferente, para universalizar a coleta serão necessários 59 anos e para universalizar o tratamento nada menos do que 122 anos.


Mesmo assim, nossos políticos e governantes, muitos dos/das quais já estão na vida pública há mais de duas ou três décadas, ainda tem a coragem ou a cara de pau durante as eleições em andar pela periferia urbana ou rural prometendo grandes realizações, enganando a boa fé da população humilde que sofre ante tantos descasos. Parafraseando o Jornalista Boris Casoy “Isto é uma vergonha”, um verdadeiro descalabro, um acinte diante do sofrimento do povo.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversas veículos de comunicação. Email  O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

 
 
Sexta, 27 Julho 2018 09:53

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

Em assembléias recentes da Adufmat-Ssind, por discordar de encaminhamentos propostos pela direção desta seção sindical, foram nominadas, discutidas e debatidas pautas importantes, considerando tanto o sindicato quanto a instituição/UFMT. Ou seja, reconhecemos, ainda, a seção sindical, e suas assembléias, como espaços de discussões e deliberações.

Acreditamos, que após início da greve estudantil a Adufmat-Ssind confundiu, e muito, o que seria sua atuação e o das representações colegiadas na UFMT. De toda maneira, essa é uma das discussões importantes para futuro próximo.

Pontuamos ainda que propor, democraticamente, discussão de alguns pontos, como feito nas assembléias dos dias 16 e 18/07/2018 causou mal estar à direção da Adufmat- Ssind. Assim professores que não seguem a mesma opinião daquela direção, são nominados como facistas, alienados e, mais recentemente, de portadores de problemas/distúrbios mentais. Quem quiser verificar os ocorridos basta solicitar os vídeos de ambas as assembléias.

De todo modo, há parte dos professores filiados à Adufmat-Ssind que acreditam ser possível o diálogo, mesmo em divergências, como necessário e enriquecedor se for entendido enquanto tal.

Diante dos fatos ocorridos na UFMT, tendo por cenário a greve estudantil, nos solidarizamos com os professores/as, estudantes e técnicos/as que tiveram seus locais de trabalho invadidos, foram desrespeitados/as e tratados com violência, como pode ser verificado em documentos (um deles enviado à Adufmat-Ssind quando de ação ocorrida na PROAD e PROEG) e vídeos divulgados em redes sociais.

Ao que parece aqueles/as que, cotidianamente, tentam construir ambiente acadêmico, solidário e universal como o termo universitas explica, causa incomodo àqueles/as que se sentem ameaçados por tal convicção.

Quiça possamos (re)construir cotidianos e relações após período em que a desconfiança e a divisão sectária pautou nosso dia a dia. Somos, afinal, professores, estudantes e técnicos que, embora não compartilhando os mesmos pensamentos/convicções, acreditamos na solidariedade e na pluralidade de opiniões.

Afonso Lodovico Sinkoc, Professor da Faculdade de Medicina Veterinária; Alexandre Martins dos Anjos, Professor do Departamento de Teorias e Fundamentos da Educação, Instituto de Educação; Alexandre Paulo Machado, Professor do Departamento de Ciências Básicas em Saúde, Faculdade de Medicina; André Ribeiro Lacerda, Professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política; Auberto Siqueira, Professor do Departamento de Engenharia Sanitária Ambiental; Bianca Borsatto Galera, Professora do Departamento de Ciências Básicas em Saúde, Faculdade de Medicina; Carlos Ueslei Rodrigues de Oliveira, Professor do Instituto de Computação; Carmen Lucia B. Branco, Professora do Departamento de Ciências Básicas em Saúde, Faculdade de Medicina; Cecília Moraes, Professora da Faculdade de Administração; Daniel Moura Aguiar, Professor da Faculdade de Medicina Veterinária; Elisabeth Aparecida Furtado de Mendonça, Professora da Faculdade de Agronomia e Zootecnia; Eunice Pereira dos Santos Nunes, Professora do Instituto de Computação; Flavio Tampelini, Professor do Departamento de Ciências Médicas em Saúde, Faculdade de Medicina; Glauce Viana de S. Torres, Professora do Departamento de Ensino e Organização Escolar, Instituto de Educação; Katia Morosov Alonso, Professora do Departamento de Ensino e Organização Escolar, Instituto de Educação; Patricia Cristiane de Souza, Professora do Instituto de Computação; Regina Tadano, Professora aposentada da Faculdade de Educação Física; Romulo Mora, Faculdade de Engenharia Florestal; Sania Lúcia Camargos, Professora da Faculdade de Agronomia e Zootecnia.

 

Quinta, 26 Julho 2018 09:48

 

****
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

 

Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Jornalismo pela USP/Professor da UFMT

 

Poucas coisas são mais humilhantes do que a afirmação desse título. 

Cabresto é o “arreio de corda ou couro, sem freio ou embocadura, e que serve para prender o animal, geralmente o cavalo, para controlar sua marcha”. No plano metafórico, é algo, ou alguém que controla, que subjuga outrem, reprimindo-o, contendo-o, prendendo-o.

Do sentido figurado, nasceu o asqueroso “voto de cabresto”. No Brasil, isso surgiu no início da República, quando coronéis compravam quem estivesse apto ao voto. Assim, eles sempre elegiam candidatos mantenedores de seus interesses.

Como o voto era aberto, os velhacos asseguravam um “curral eleitoral” composto por pessoas dependentes financeiramente, e que viviam amedrontadas por ameaças objetivas e/ou simbólicas. Os capangas controlavam os votos.

Por “curral eleitoral”, entende-se como sendo uma região onde um político exercia influência. Nesses locais, o coronel oferecia ao eleitor, em troca de seu voto, dinheiro em espécie e/ou objetos, como dentaduras e sapatos baratos; por vezes, atividades laborais.

Hoje, “curral eleitoral” é usado para definir a forte intimidação e pressão a eleitores, em geral, de baixa escolaridade e poder aquisitivo.

Mas por que estou falando de voto de cabresto e curral eleitoral?

Porque foi a isso que se prestaram alguns colegas em duas recentes assembleias do Sindicato dos Docentes da UFMT (Adufmat).

Em um dos momentos, um dos itens da pauta era discutir sobre a possibilidade de o Sindicato judicializar duas reuniões de um dos conselhos superiores da UFMT, pois a presidência daqueles trabalhos desrespeitou questões regimentais, tornando suas decisões ilegais e ilegítimas.

Assim, a reitora jogou a Instituição num tipo de caos nunca antes experimentado na UFMT; aliás, longe do final, mesmo com o término da greve estudantil, que foi o estopim para os desarranjos atuais e poderá ser a muralha para eventual desejo de reeleição em 2020.

Diante do quadro, para não correr o risco de uma possível judicilização, e desmoralizar-se por completo, a magnífica reitora parece ter mobilizado seus pró-reitores e asseclas a comparecem à referida assembleia e votar contrários a isso.

Para que seu batalhão de choque se fizesse presente, o que raramente o faz, embora a isso todos tenham direito, mensagens mentirosas, levianas e chulas lhes foram enviadas. Eis uma prova:

Atenção, colegas, reunião da Adufmat para judicilizar a situação na UFMT, hoje às 14h. Reunião na surdina, pois parece que Reginaldo e Alair pretendem ferrar a reitora e a instituição. A reitora pede que avisemos professores para irem votar, pois a assembleia deve ser aberta”.

A expressão “na surdina” é mentirosa. Não há possibilidade de assembleias da Adufmat serem realizadas nos bastidores.
 
Na sequência, a leviandade do(a) remetente se materializa no verbo “parecer”, bem como na citação dos nomes de dois valorosos docentes, que não agem na surdina, mas que, no plano político, estão por ora questionando ações desastrosas da reitoria.

O lado chulo, que deve ser a cara do(a) remetente, se concretiza por meio do verbo “ferrar”: termo inadequado a um(a) docente, até mesmo em mensagens inescrupulosas, como a que se lê acima.

Mesmo diante de mentiras, leviandades e chulices, algumas criaturas cumpriram a ordem que “veio de cima”. Encabrestados, votaram como mandado. Foram servis. Assim, alguns mantiveram cargos e/ou seus micropoderes. Outros, apenas a fidelidade canina. Só não mantiveram a dignidade. Ela se foi à frente dos colegas e das câmeras.