Sexta, 19 Outubro 2018 10:26

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Texto enviado pelo Prof. Dirceu Grasel

 

Autoria: Gustavo Bertoche - Dr. em Filosofia 

 

Desculpem os amigos, mas não é de um "machismo", de uma "homofobia" ou de um "racismo" do brasileiro. A imensa maioria dos eleitores do candidato do PSL não é machista, racista, homofóbica nem defende a tortura. A maioria deles nem mesmo é bolsonarista.

O Bolsonaro surgiu daqui mesmo, do campo das esquerdas. Surgiu da nossa incapacidade de fazer a necessária autocrítica. Surgiu da recusa em conversar com o outro lado. Surgiu da insistência na ação estratégica em detrimento da ação comunicativa, o que nos levou a demonizar, sem tentar compreender, os que pensam e sentem de modo diferente.

É, inclusive, o que estamos fazendo agora. O meu Facebook e o meu WhatsApp estão cheios de ataques aos "fascistas", àqueles que têm "mãos cheias de sangue", que são "machistas", "homofóbicos", "racistas". Só que o eleitor médio do Bolsonaro não é nada disso nem se identifica com essas pechas. As mulheres votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad. Os negros votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad. Uma quantidade enorme de gays votou no Bolsonaro.

Amigos, estamos errando o alvo. O problema não é o eleitor do Bolsonaro. Somos nós, do grande campo das esquerdas.

O eleitor não votou no Bolsonaro PORQUE ele disse coisas detestáveis. Ele votou no Bolsonaro APESAR disso.

O voto no Bolsonaro, não nos iludamos, não foi o voto na direita: foi o voto anti-esquerda, foi o voto anti-sistema, foi o voto anti-corrupção. Na cabeça de muita gente (aqui e nos EUA, nas últimas eleições), o sistema, a corrupção e a esquerda estão ligados. O voto deles aqui foi o mesmo voto que elegeu o Trump lá. E os pecados da esquerda de lá são os pecados da esquerda daqui.

O Bolsonaro teve os votos que teve porque nós evitamos, a todo custo, olhar para os nossos erros e mudar a forma de fazer política. Ficamos presos a nomes intocáveis, mesmo quando demonstraram sua falibilidade. Adotamos o método mais podre de conquistar maioria no congresso e nas assembleias legislativas, por termos preferido o poder à virtude. Corrompemos a mídia com anúncios de empresas estatais até o ponto em que elas passaram a depender do Estado. E expulsamos, ou levamos ao ostracismo, todas as vozes críticas dentro da esquerda.

O que fizemos com o Cristóvão Buarque?

O que fizemos com o Gabeira?

O que fizemos com a Marina?

O que fizemos com o Hélio Bicudo?

O que fizemos com tantos outros menores do que eles?

Os que não concordavam com a nossa vaca sagrada, os que criticavam os métodos das cúpulas partidárias, foram calados ou tiveram que abandonar a esquerda para continuar tendo voz.

Enquanto isso, enganávamo-nos com os sucessos eleitorais, e nos tornamos um movimento da elite política. Perdemos a capacidade de nos comunicar com o povo, com as classes médias, com o cidadão que trabalha 10h por dia, e passamos a nos iludir com a crença na ideia de que toda mobilização popular deve ser estruturada de cima para baixo.

A própria decisão de lançar o Lula e o Haddad como candidatos mostra que não aprendemos nada com nossos erros - ou, o que é pior, que nem percebemos que estamos errando, e colocamos a culpa nos outros. Onde estão as convenções partidárias lindas dos anos 80? Onde estão as correntes e tendências lançando contra-pré-candidatos? Onde estão os debates internos? Quando foi que o partido passou a ter um dono?

Em suma: as esquerdas envelheceram, enriqueceram e se esqueceram de suas origens.

O que nos restou foi a criação de slogans que repetimos e repetimos até que passamos a acreditar neles. Só que esses slogans não pegam no povo, porque não correspondem ao que o povo vivencia. Não adianta chamar o eleitor do Bolsonaro de racista, quando esse eleitor é negro e decidiu que não vota nunca mais no PT. Não adianta falar que mulher não vota no Bolsonaro para a mulher que decidiu não votar no PT de jeito nenhum.

Não, amigos, o Brasil não tem 47% de machistas, homofóbicos e racistas. Nós chamarmos os eleitores do Bolsonaro disso tudo não vai resolver nada, porque o xingamento não vai pegar. O eleitor médio do cara não é nada disso. Ele só não quer mais que o país seja governado por um partido que tem um dono.

E não, não está havendo uma disputa entre barbárie e civilização. O bárbaro não disputa eleições. (Ah, o Hitler disputou etc. Você já leu o Mein Kampf? Eu já. Está tudo lá, já em 1925. Desculpe, amigo, mas piadas e frases imbecis NÃO SÃO o Mein Kampf. Onde está a sua capacidade hermenêutica?).

Está havendo uma onda Bolsonaro, mas poderia ser uma onda de qualquer outro candidato anti-PT. Eu suspeito que o Bolsonaro só surfa nessa onda sozinho porque é o mais antipetista de todos.

E a culpa dessa onda ter surgido é nossa, exclusivamente nossa. Não somente é nossa, como continuará sendo até que consigamos fazer uma verdadeira autocrítica e trazer de volta para nosso campo (e para os nossos partidos) uma prática verdadeiramente democrática, que é algo que perdemos há mais de vinte anos. Falamos tanto na defesa da democracia, mas não praticamos a democracia em nossa própria casa. Será que nós esquecemos o seu significado e transformamos também a democracia em um mero slogan político, em que o que é nosso é automaticamente democrático e o que é do outro é automaticamente fascista?

É hora de utilizar menos as vísceras e mais o cérebro, amigos. E slogans falam à bile, não à razão.

 

Quinta, 18 Outubro 2018 10:00

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. em Jornalismo pela USP/Professor da UFMT

 

Nas relações sociais, muitas coisas são perversas; poucas são piores do que a chantagem.

De forma geral, a chantagem se caracteriza pelo ato de se prometer alguma coisa a alguém para obter determinado comportamento diante de uma dada situação. O fenômeno envolve os sentimentos/crenças/convicções de uma pessoa em troca de algo que não se baseia, necessariamente, em bens materiais, mas simbólicos.

A chantagem pode até se constituir em crime; todavia, como não é disso que pretendo tratar, ficarei com as anotações anteriores.

Mas por que estou falando de chantagem, e de “chantagem política”, como está predito no título do artigo?

Por conta da polarizada e indesejada conjuntura. Do resultado do primeiro turno, restaram-nos duas frentes de fanáticos que se digladiam por tudo. O segundo turno já bate às portas.

Por que a polarização se concretizou, embora fosse possível evitá-la?

Porque o PT, mesmo cometendo avalanche de erros gravíssimos, como o Mensalão e o Petrolão, não foi capaz – e tampouco democrático – de fazer autocrítica pra valer. Ao contrário. De forma irresponsável, faz-se passar por injustiçado e perseguido pelas elites.

Pior: há algumas semanas, quando a polarização já estava avançada, o PT não recuou. Ignorou as possibilidades de candidaturas atenuadoras da tensão. Esticou a corda o quanto pode, apostando, até o último instante, na candidatura de Lula, preso por corrupção. A arrogância do PT – mais do que qualquer outra força – está desafiando a nossa democracia.

Naufragada a candidatura Lula, o soberbo tupiniquim, a ele só lhe restava comandar, da cadeia, a candidatura Haddad, que fora seu ministro da Educação; aliás, um ministro antidemocrático. Desse recorte, destaco que o ENEN/Sisu (Sistema de Avaliação Integrada) serviu a Haddad como moeda de troca às universidades: ou elas aderiam àquilo ou não recebiam verbas.

Outra: quando Haddad se tornara ministro, herdara de Lula e Tarso Genro a construção do Proifes, ou seja, um “sindicato” de professores pelegos das universidades, criado para enfraquecer a representação do ANDES, o legítimo sindicato dos docentes das Instituições de Ensino Superior. Haddad, que já recebera a UNE e a CUT cooptadas por Lula, usou os pelegos do Proifes na greve das universidades em 2012. Nunca Haddad dialogou com os professores em greve. 

Haddad fez mais: ajudou a canalizar recursos públicos até para as piores faculdades particulares do país, via ProUni e Fies, que é o carro-chefe da política de enganação aos jovens pobres do país. A maioria deles, hoje, não tem emprego, mas tem uma dívida com o empréstimo bancário e um diploma vazio de conteúdo.

Mesmo diante de tudo isso, descobri que as forças progressistas do país, incluindo as das universidades, tentam me fazer crer que votar em Haddad é dar voto crítico para salvar o regime democrático, que, de fato, repito, por responsabilidade direta do PT, corre riscos, se Bolsonaro ganhar as eleições.

Sobre Bolsonaro, não preciso dizer nada. Ele fala por si e para seus semelhantes, e sem a menor cerimônia. Por isso, resumo: Bolsonaro me faz lembrar a prepotência de Collor; todavia, seus discursos são ainda mais devastadores. Ele é sinal nítido de atraso. Bolsonaro jamais terá o meu voto.

Então, votarei em Haddad? Cederei ao voto chantagem?

Não.

Anularei. Delegarei à “sabedoria popular” o pleno e democrático direito da escolha do nosso futuro imediato, irremediavelmente de perdas.

E depois?

Estarei na luta, tentando recuperar o que for possível, se for possível.

Sinto muito. 

Quarta, 17 Outubro 2018 09:00

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Os resultados do primeiro turno das eleições gerais de 2018 tem deixado analistas, institutos de pesquisas, dirigentes partidários, acadêmicos, enfim, estudiosos da dinâmica politica brasileira um tanto estupefatos ou atarantados.


Alguns analistas e profissionais da mídia falam em um verdadeiro “tsunami” na politica brasileira, com a derrota de velhos caciques que durante décadas, alguns com quase meio século de vida pública, verdadeiros donos de currais eleitorais e de cadeiras cativas no Senado, na Câmara Federal e nas Assembleias Legislativas foram vergonhosamente derrotados nas urnas.


Parece que os eleitores, de forma anônima, deram cartão vermelho para velhas raposas,  boa parte ou talvez a maioria desses políticos e de outros que escaparam por pouco da guilhotina eleitoral, fazem parte de suspeitos e investigados por corrupção ou pertencem a grupos que são acusados de corrupção ativa e passiva, enriquecimento ilícito, formação de quadrilha e com alta probabilidade, ao perderem a impunidade e o foro privilegiado, poderão ter o mesmo destino de outros políticos que estão trancafiados, longe do convívio politico, social e econômico da vida nacional.


Outro aspecto desta onda foram as derrotadas dos chamados partidos de centro ou o “centrão”, incluindo os tucanos (PSDB), MDB, DEM e alguns outros de seus satélites. Comparados os desempenhos, por exemplo, da ex-presidente Dilma, do atual senador e futuro deputado federal Aécio Neves nas últimas eleições em 2014, tanto a derrota de Dilma para o Senado em Minas Gerais quanto a pífia votação de Geraldo Alkmin quanto de Henrique Meireles, foi possível perceber que os mesmos foram deixados à própria sorte por seus correligionários, traídos como se chegou a dizer de forma aberta.


Outra particularidade deste primeiro turno foi o derretimento de Marina Silva, que passou de mais de 20 milhões de votos há quatro anos quando quase  chegou ao segundo turno contra seus poucos mais de um milhão de votos, metade da votação de Janaina Paschoal, do PSL,  eleita como a deputada estadual em São Paulo, com mais de dois milhões de votos, a mais votada na história do Brasil.


A busca de um consenso como alternativa de centro para evitar a radicalização entre esquerda e direita, mesmo com o empenho de Ciro Gomes, de Geraldo Alkmin, Meirelles e outros candidatos fracassou de forma clara. Os eleitores preferiram os extremos, com Bolsonaro representando as forças de direita, os conservadores como a opção mais provável no segundo turno, a não ser que ocorra outro tsunami no segundo turno e Fernando Haddad, que representa a esquerda, venha a ser o vitorioso, realidade pouco provável.


Além do DEM, MDB e PSDB, que em passado recente eram os partidos que representavam os interesses do mercado, das forcas conservadoras, também o PT e alguns de seus aliados, principalmente o PCdoB, perderam espaço no Congresso Nacional. O espaço antes ocupado pelos partidos de centro deverão ser ocupados  de forma avassaladora pelo PSL um partido nanico até a presente legislatura e que a partir de 2019 deve ser a segunda força na Câmara Federal.


Com o advento da cláusula de barreira diversos partidos nanicos devem desaparecer e ou seus parlamentares eleitos deverão migrar para outros partidos. As perspectivas, devido ao fisiologismo que é a marca registrada da politica brasileira, a maioria desses parlamentares devem aumentar as fileiras do PSL, partido de Bolsonaro e outros que deverão ser seus aliados no Congresso.


Dificilmente os partidos de esquerda, mesmo com o bom desempenho do PSB, deverão ter número de deputados e senadores para barrarem o rolo compressor da direita tanto no Congresso Nacional quanto nas Assembleias Legislativas, incluindo a de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.


Nota-se perfeitamente não apenas uma polarização entre esquerda e direita na politica brasileira a partir deste segundo turno e com mais ênfase a partir de 2019, mas sim, uma guinada avassaladora das forças de direita, incluindo empresários e a classe media, servidores públicos graduados e os marajás da República nos três poderes, no MPF/MPE que, com exceção do Nordeste e do Pará e da população pobre, deverão mudar as pautas da vida nacional, estimulando, ainda mais não apenas os conflitos ideológicos, mas principalmente a violência politica nos próximos anos, incluindo as eleições municipais de 2020, onde esquerda e direita voltarão a se enfrentar em verdadeiras lutas fratricidas.


Quem viver verá.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Terça, 16 Outubro 2018 09:40

 

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Por Vicente Machado Ávila*
 

 
Capitalismo e comunismo andam numa via de mão dupla. Combater só um deles é enganação absurda.
 
Do embate entre capitalismo e comunismo resultou a Guerra Fria.  Se existisse só um deles ela não existiria, o velho comunismo de guerra, há quase três décadas foi sepultado, debaixo dos escombros do muro de Berlim ele se encontra soterrado.
 
O moderno comunismo- quem diria! Está construindo seus bons projetos fortalecendo a democracia.
 
Só a direita reacionária faz do anti-comunismo um discurso sem fim. Ignora a atuação revolucionária da grande senadora Graziotin.
 
Deram um tiro no pé os candidatos que usaram Cuba e a Venezuela em seus discursos absurdos, caminharam na contra-mão e de marcha a ré e não chegaram nem ao segundo turno.
 

Lula falou e fez

 
A paz a gente consegue não é com a força dos armamentos. É com a democracia, participação popular e alimentos. Através do Bolsa Família, matou e está matando a fome de milhões. Este programa é aplaudido na França e em outros rincões.
 

Pragmatismo e Ideologismo

 
Felizmente as relações internacionais seguem mais o Pragmatismo que o Ideologismo.

Vide EUA e China.
 

 

*Vicente Ávila
Professor de Economia Política da UFMT (aposentado)

 

Segunda, 15 Outubro 2018 13:53

 

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Por Roberto de Barros Freire*

 

O que caracteriza as eleições desse ano, é que o desemprego e a recessão que se prolongam por anos, e que sempre foram as principais discussões políticas nas eleições, deixaram de ser temas relevantes, assim como a saúde e a educação. O que mais conta, sem dúvida, é a segurança pública, a promessa de tratar os bandidos na bala e com fúria, de acabar com os direitos humanos, que para muitos parece só servir aos bandidos.

Propostas para o Estado e para o governo são vagas; e as pessoas simplesmente não têm paciência para ouvi-las. Identificam-se os culpados: a economia vai mal porque houve muita roubalheira. A solução é simples: morte à petralhada! Morte à sem-vergonhice: eis o conceito capaz de englobar tudo, dos ministros do STF aos transexuais, dos artistas de vanguarda aos professores da escola pública e índios, dos advogados criminalistas bem pagos aos miseráveis que vivem do Bolsa Família, dos quilombolas aos comunistas e homossexuais.

O desejo é um só, de destruição. Qual reforma pretende fazer? A resposta: "alguma".

Impostos? Quem ganha até uns cinco salários mínimos deixaria de pagar Imposto de Renda, dizem. Quem bancaria a diferença, pois o governo está quebrado? "Alguém" ou “O dinheiro retirado da corrupção!”

A campanha resume-se a demonizar o adversário mais do que o adversário demoniza você. E o melhor jeito de fazer isso é disseminar o medo entre os carentes, e o ódio entre os potentes. Quem pode odeia; quem não pode teme. O que não sabem é que o medo e o ódio podem eleger pessoas, porém não conseguem governar os homens.

Em seu ataque contra a velha ordem, Bolsonaro montou o tripé moralista de família, religião e Forças Armadas, as três instituições que ainda gozam de alguma confiança popular, ainda que o candidato em termos familiares não seja lá um exemplo, em termos religiosos menos ainda (com certeza não é um cristão) e foi expulso das forças armadas: nem as forças armadas suportaram suas idiossincrasias. Bolsonaro representa um risco imediato à democracia, à defesa dos direitos humanos, à defesa do meio ambiente. Defende tortura e morte aos “ruins”, e doar toda natureza aos ruralistas.

Mas, ele percebeu que a sociedade está enfurecida. E está encabeçando essa fúria. Uma pessoa que está no poder há 27 anos, que nunca teve participação ativa ou alguma sugestão para a nação em todos esses anos, que era amigo de Eduardo Cunha e reinava no baixo clero, sempre defendendo as piores coisas como tortura e ditadura, morte aos “inimigos”, a extinção de minorias, o fim da democracia, hoje lidera uma nação cega e surda pelo ódio e ressentimento. 

Bolsonaro não é levado a sério pelas elites financeiras. Seu evidente despreparo para tratar de temas econômicos e seu histórico de defesa do regime militar brasileiro, marcado pelo forte intervencionismo estatal, o descredenciam entre analistas de mercado e defensores do liberalismo. Porém, na falta de coisa melhor, empresários e o mercado vêm apostando tudo em Bolsonaro, apesar do entulho retrógrado que ele traz consigo. Qual é a alternativa?

A eleição para o legislativo aumentou a fragmentação partidária dentro do Congresso como nunca antes visto, ao ponto de torná-lo ingovernável. É um condomínio sem síndico, administradora ou regulamento interno. A chance de o prédio virar uma guerra de todos contra todos é alta. Ele terá que convencer esse congresso de suas propostas, pois que passam necessariamente por mudanças legislativas, mas dificilmente terá 308 deputados para que possa impor sua vontade.

Com um ano de governo Bolsonaro (assim como aconteceu com Collor) nos daremos conta de que ele nada sabe sobre nossos problemas, menos ainda conhece as soluções. Que os militares não sabem quais são os problemas e quais sejam as soluções; eis porque saíram do poder em 1985, e estão loucos para sair da encrenca do Rio de Janeiro. Com certeza a nação ficará arrependida em pouco tempo e não se descartará um impeachment para um governante que soube catalisar o ódio, mas não soube desenvolver o amor. Apostando na desunião, não se conseguirá depois realizar a união necessária para qualquer nação superar seus problemas; continuaremos nessa guerra de todos contra todos.

 

*Roberto de Barros Freire

Professor do Departamento de Filosofia/UFMT

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Quinta, 11 Outubro 2018 08:48

 

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Vanessa C. Furtado

Departamento de Psicologia - UFMT

 
Qual o cenário que temos pela frente? O da luta! Respondo prontamente, este foi, é  e será o caminho para conquista e garantia de direitos da classe trabalhadora. Não importa quem vença o pleito eleitoral a luta é a nossa única alternativa para barrarmos as reformas neo-liberais. O que podemos escolher neste momento é se elas virão de forma bruta, com violência e violação de direitos ou de forma serena, alisando a nossa cabeça.


É importante ressaltar, o projeto de política para o Brasil já está posto e, para nossa categoria docente, a privatização da universidade pública é o horizonte não tão distante. Bolsonaro anunciou, em seu pronunciamento do domingo, o enxugamento da folha de pagamento, responsabilizando os/as servidoras/es públicas/os pela oneração da conta do Estado. E nós, docentes federais, somos alvo direto dos governos, vocês já pararam para olhar sua folha de pagamento? O que e quanto efetivamente é o seu salário? Retirem dessa folha os auxílios alimentação, retribuição por titulação, auxílios creche (quem recebe), auxílio assistência à saúde (quem paga plano de saúde) e observem qual o real valor do seu salário? Pois bem, são todos esses “penduricalhos”, chamados benefícios que estão em jogo. A privatização da educação pública superior no Brasil é projeto de longa data, já iniciada nos de FHC, petistas e aprofundada no governo ilegítimo de Temer, com todos os pesos possíveis da liberação da terceirização das atividades fins. E nossa carreira, mais do que nunca, está sendo ameaçada!


Portanto, não há diferença em quem ganhar as eleições presidenciais? Sim e não. O que está em jogo neste cenário eleitoral é a ascensão de um discurso protofascista, que catalisou os discursos de ódio e preconceito tão presente em nossa sociedade. A sua ascensão e vitória no primeiro turno foi o desvelamento das raízes conservadoras da sociedade brasileira, algo que os movimentos sociais (negro, lgbt) vem denunciado e não é de agora. O que está em jogo são nossas liberdades civis e quando um candidato à presidência afirma que colocará “um ponto final em todo tipo de ativismo político no Brasil”, ele anuncia que tempos duros estão a caminho e que não haverá possibilidade de lutar contra projetos políticos com os quais não concordamos, a não ser de forma clandestina: 1964 bate à nossa porta! Isto é o que demarca fortemente as diferenças entre um e outro candidato.


O clima de insegurança e desconfiança já existe, recebo notícias e diversos relatos de pesquisadoras/es que têm suas bases teórico-metodológicas questionadas e deslegitimadas (eu sou uma dessas pessoas) enquanto ciência; de pessoas que, por medo do comunismo (como se o PT fosse comunista ou mesmo socialista) viram amigos, familiares se afastando; pais que aconselham filhas/os a não se aproximarem de pessoas com ideias “meio comunistas”, o que o protofascismo conseguiu foi, justamente, instaurar esse clima 64. As ideias plantadas pelo “Escola sem partido” já adentraram as salas de aula da universidade, estamos assistindo a ascensão da ignorância!


Por isso, o que não pode ser diferente, ganhe quem ganhar as eleições presidenciais, é a nossa luta, com um senado e congresso onde grande parte dos eleitos são militares, devemos estar em estado permanente de luta! A cooptação e institucionalização dos movimentos sociais, só o fez garantir o seu papel (do Estado) de gerente do Capital. E o que não devíamos ter deixado arrefecer era a luta, a pressão popular em efetivar direitos e acesso a eles. Portanto, o estado permanente de luta é essencial, ganhe quem ganhar!


O PT, durante os anos que esteve no governo, no que tange a política de educação cumpriu exemplarmente a agenda neo-liberal, destruiu nossa carreira em 2012 com a fundação de seu sindicato (PROIFES) e assinando, apenas com este, o acordo que destroçou a carreira docente. Sem contar nos cortes de verbas das universidades públicas cujos impactos sentimos agora seja na escassez de recurso para a assistência estudantil, seja no anúncio da UFMT em não comprar mais tinta para suas impressoras. Contudo, eu prefiro derrotar o projeto neo-liberal petista nas ruas, do que ter nossas liberdades individuais cassadas. Há luta companheiras e companheiros!

 

Quarta, 10 Outubro 2018 10:09

 

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Por Vicente Machado Ávila*

 

Voto de cabresto no passado.

 

A figura do coronel era muito comum durante os anos iniciais da República, principalmente nas regiões do interior do Brasil. O coronel era um grande fazendeiro que utilizava seu poder econômico para garantir a eleição dos candidatos que apoiava. Era usado o voto do cabresto, onde o coronel obrigava e usava até mesmo de violência para que os eleitores de seu “curral eleitoral” votassem nos candidatos apoiadores por ele.  Como o voto era aberto.

Coronéis capangas e candidatos

Os interesses dos coronéis e candidatos eram garantidos pala ação impiedosas dos capangas.

Esse sistema permitia que os títulos eleitorais se transformassem em títulos negociáveis e que o governo exercesse sobre eles o ato do voto, praticado sob a odiosa fiscalização e vigilância de seus agentes.  Da ameaça de represália, da peita e do suborno.

Voto de cabresto no presente

No sistema político e eleitoral brasileiro, nos dias atuais, é mais difícil controlar o voto das pessoas, mas há novos mecanismos de pressão que são usados como, por exemplo, anotar as secções em que os eleitores de uma determinada família ou localidade votam, para depois conferir se a votação do candidato correspondeu ao que se esperava dos eleitores, que em troca recebem dinheiro, lotes e alimentos (cesta básica). Embora não seja possível se determinar “quem” votou em “quem” por este método, ele é eficaz entre a população mais pobre como instrumento de pressão psicológica.

Mas há também o uso de poder das milícias, nas comunidades pobres, que obrigam os moradores locais a votar em quem eles querem, ou não permitem o voto em candidatos que a milícia não aceita; se a população não cumpre a milícia pode abusar do poder e causar mortes ou parar de “ajudar” os moradores

Laicos ou lacaios?

Ignorando o sadio principio que separa religião do estado muitos pregadores religiosos( padres e pastores)praticam o voto de cabresto influenciando seus fiéis a votarem em candidatos na-povo e com isso empurram suas ovelhas para as presas afiadas da selvageria capitalista. 

                                                          

Professor

 BRASILINO EXPERANÇOSO

Terça, 09 Outubro 2018 10:38

 

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Por Aldi Nestor de Souza*
 

Planejei submeter um relato de experiência para o congresso de educação, SEMIEDU, que acontecerá aqui na UFMT, no mês de novembro desse ano.  O relato trata de uma experiência que fiz em sala de aula, de uma disciplina de Álgebra, aqui do curso de licenciatura em matemática da UFMT, na qual Paulo Freire e sua Pedagogia do Oprimido se fizeram presentes e transitaram no meio da abordagem axiomática da teoria dos Anéis e Corpos de que trata a citada disciplina. Chamei a experiência de Álgebra do Oprimido.

Eu até cheguei a escrever o relato. Num wordzinho, como esse que aqui escrevo, num total de 6 páginas, estava tudo pronto e relatado: as leituras freireanas, as aulas de álgebra, a linguagem abstrata da teoria matemática em questão, os debates sobre: a serviço de quem estão estas palavras abstratas?, de quem são mesmo as palavras que constam dos livros de Álgebra?, quem lê livros de matemática?, é a Matemática, em particular, a Álgebra, uma concentradora de conhecimentos e que tem a linguagem como o grande gargalo?

A ideia de usar Paulo Freire foi justamente a de discutir, à luz de sua educação como prática da liberdade e de sua educação dialógica, o papel rígido, de certa forma indubitável das ideias e escritas matemáticas que gozam de um conforto estupendo no meio acadêmico e quase não sofrem crítica sobre sua forma de se apresentar à sociedade e, em particular, para estudantes de cursos como os de formação de professores.

Até fiz a inscrição no SEMIEDU, paguei o boleto e tudo mais. Na hora H, a de enviar o material, fui dar uma conferida nas instruções para tal submissão e parei. O conjunto de regras e normativas, coisas da ABNT, davam um total de 15 páginas. Isso só para a modalidade RELATO DE EXPERIÊNCIA, relato esse que, segundo uma das normas, deveria ter entre 4 e 8 páginas. Isso mesmo, 15 páginas de regras para a submissão de um texto com no máximo 8 páginas.

Quando eu pensei em relatar essa experiência foi com a melhor das intenções, e até mesmo acreditando estar contribuindo ou sugerindo uma possibilidade de abordagem para disciplinas, como a que relatei, marcadas por um alto grau de abstração e reprovação por parte dos estudantes. Pensei no relato como forma de mostrar pros colegas de ofício e receber deles a apreciação e críticas, tão fundamentais na construção de práticas de ensino e aprendizagem.

Mas as regras, ah, as regras, me retiraram de tal maneira a vontade da tal submissão que desisti por completo. Tamanho de letras, espaçamentos, margens, referências bibliográficas, tudo com suas medidas, tantas e tão implacáveis, que cansei até de lê-las.

Reproduzo aqui, como ilustração, um pouquinho das tais regras só para o uso de alíneas.

“ É possível, também, o uso de alíneas, que obedecem às seguintes indicações:

  1. a) Cada item de alínea deve ser ordenado alfabeticamente por letras minúsculas seguidas de parênteses, como neste exemplo;
  2. b) Use ponto-e-vírgula para separar as alíneas, exceto no último item;
  3. c) A lista de alíneas é separada do parágrafo de texto anterior por meia linha em branco (6pts) e do parágrafo de corpo de texto seguinte por uma linha (12pts);
  4. d) O estilo "Alínea" constante deste documento pode ser usado para a aplicação automática da formatação correta de alíneas.”

É claro que esse conjunto de regras não é um privilégio apenas do SEMIEDU. Para qualquer lugar que se ande na academia, é forte a pressão de órgãos que nos medem da cabeça aos pés, nos controlam e nos padronizam. Estamos, lembrando aqui de Herbert Marcuse,  unidimensionais, no apogeu do progresso técnico e vivendo numa sociedade cada vez mais sem oposição.

Mas qual será mesmo a gravidade estética de um espaçamento 1,5 ser trocado, por exemplo, por um de medida 1,0? Ou por outra, quão sério é uma margem superior 2,5 ser trocada por uma de 3? Mais grave do que tudo: imagine a tristeza de um avaliador do evento ao ter que conferir essas medidas. Imagine ainda dispensar um trabalho acadêmico sob a alegação de que numa referência bibliográfica, uma certa letra minúscula foi trocada por uma maiúscula.

Lembrei aqui de um artigo, no qual constava a demonstração da infinitude dos números primos e que foi feita em apenas uma linha. Segundo as normas do SEMIEDU, esse importante trabalho não teria chance de ser aceito.

Por fim, quem tem tempo de ter criatividade se uma avalanche de normas e regras rígidas tolhem a paciência, roubam o tempo e  asfixiam a liberdade de pensar sob o pretexto de, nos moldes de uma linha de montagem, padronizar os trabalhos pela escrita?

De quem são, afinal, as palavras iguais que constam dos trabalhos acadêmicos? A quem interessa tanta coisa cinza?



*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá.
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Segunda, 08 Outubro 2018 09:15

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Primeiro turno das eleições 2018 encerrado. Confirmada a polarização política que não poderia ter ocorrido em nosso país. Lembrando Drummond, eis a clássica pergunta: e, agora, José?

Agora, precisamos tentar entender os porquês de termos chegado a esse ponto de tão perigosa divisão social. Divisão que, aliás, mal começou. Se, no segundo turno, ocorrer a vitória dos bolsonaristas, muita coisa nova – e não necessariamente razoável em termos de cidadania – estará por vir, podendo transformar o porvir de muita gente num verdadeiro inferno.

Na tentativa de pensar sobre os motivos que nos trouxeram a esse ponto de esgarçamento, é preciso ouvir/compreender a sustentação discursiva que deu a vitória – por ora, parcial – a Bolsonaro, um antigo deputado federal que sempre esteve nas fileiras do baixo clero do Congresso. Antes de se lançar à presidência, Bolsonaro, saído da reserva das Forças Armadas, raramente era lembrado – nem mesmo visto – por alguém que não fosse do Rio, seu Estado de origem.

Mas, afinal, qual é a base discursiva dos bolsonaristas?

Resposta: Tradição; Família; Propriedade. Em outras palavras, a famosa tríade da entidade TFP, cujo lema, no Brasil, é “ipsa conteret” (“Ele vai”), retirado do universo bíblico (Gênesis; 3,15). Centralmente, aquela passagem bíblica refere-se ao ato do esmagamento da cabeça da serpente que provocara um tipo de “abalo sísmico” no Paraíso; ou seja, uma lorota que nos acompanha desde o ventre, mas que tem efeito devastador coletiva e individualmente.

Mas por que esse discurso conservador/reacionário, que estava adormecido, reapareceu agora?

Porque ele estava apenas adormecido, não extirpado; logo, se provocado fosse, poderia se reanimar. Provocado foi. Reanimou-se.

Quem o provocou?

Antes de quaisquer outros, os adversários diretos dos bolsonaristas que vão para o segundo turno, ou seja, os petistas, que, aos bolsonaristas, incorporam o fazer maligno da serpente, que precisa ser esmagada.

Cá entre nós, a corda foi esticada demais, e por muito tempo. De fato, não é qualquer um que aceita friamente, p. ex., um presidiário fazer se passar por um preso político e, de dentro de sua cela, manipular seu partido, tentando intervir diretamente nas eleições. Isso pode ter sido a gota d’água para muitos eleitores decidirem seus votos. Todavia, antes da gota, com certeza, um tsunami ocorreu durante os governos do PT, sempre eleito com base em discursos de honestidade política; logo, também de cunho moralista, mas travestido de discurso ético.

Desse tsunami fazem parte dois esquemas criminosos: o Mensalão e o Petrolão. Se aos petistas apaixonados isso é irrelevante, podendo ser esquecido e perdoado, aos demais brasileiros, não necessariamente.

O discurso petista de “eles também são corruptos” (e, de fato, a maioria é mesmo corrupta) parece que não terá a sustentação e a duração que se pretendia. Ele corre o risco concreto de ser interrompido com a ascensão dos bolsonaristas ao poder.

Com essa possível subida, esmagando a cabeça da serpente petista, tudo o que pode estar por detrás da “tradição”, “família” e “propriedade” virá com força por meio de decretos, projetos de lei, emendas constitucionais...

E o que pode estar por detrás desses termos acima?

Com base no discurso de defesa da ordem e da segurança, está todo o conjunto de direitos humanos duramente conquistados. Paradoxalmente, em nome de Deus, que, para os bolsanaristas, está “acima de todos”, eles poderão ser perdidos. Com certeza, serão interrompidos.

Dificultadas também serão as lutas do “politicamente correto”, que, novamente, cá entre nós, também esticou a corda desnecessariamente em várias situações. Nesse bojo, novos (e reacionários) direcionamentos para a educação poderão, infelizmente, vir.

Enfim, o porvir do povo brasileiro poderá ser vigiado, controlado; logo, apequenado.

O que nos resta?

Saber que “desesperar, jamais”.  

Quinta, 04 Outubro 2018 11:26
 
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Profa. Vanessa C Furtado
Departamento de Psicologia - IE/UFMT
 
  
Antes, eu, sinceramente estava radicalmente contra as aulas de empreendedorismo na UFMT, mas com o tempo fui mudando meu modo de compreender a necessidade de empreender. Por curiosidade, fui ler o que significa empreender e esta palavra está diretamente ligada com a capacidade de fazer, realizar coisas que são difíceis. A partir daí, entendi que o que faço, cotidianamente, para poder realizar meu trabalho é puro empreendedorismo!!
 
Vejam vocês, coordeno um grupo de extensão e realizamos um seminário anual sobre Saúde Mental, evento este que foi vencedor de editais para sua realização. Com o financiamento garantido, convidamos pessoas de renome e reconhecido trabalho científico na área que prontamente se dispuseram a vir. Toda a burocracia para realização do evento (reserva de espaço, solicitação de apoio de infraestrutura, certificados, etc) fora realizada.
 
Vamos ao evento!
 
Ao chegar no espaço reservado, por “sorte” as cadeiras estavam lá para o público se sentar, mas não havia caixa de som nem microfones para a palestra; não havia mesas para colocar no palco, não havia água para beber. Então, eis que vi na dificuldade uma grande oportunidade de por minhas habilidades empreendedoras em ação: realizamos o seminário! Contudo, foi exigido uma enorme capacidade empreendedora, pois como se não bastasse todas as faltas que já citei, no último dia a luz acabou! E, embora a universidade dispusesse de dois eletricistas para reparar o dano, não podiam dirigir o carro da universidade e não puderam fazê-lo. Haja resiliência! Diante do público inscrito, dos eminentes convidados, tivemos que encarar esta situação e, contando com a boa vontade de servidoras desta Universidade, conseguimos outro auditório para continuar nosso evento. E continuamos!
 
Fora as questões relacionadas ao evento, descobri, após minha pesquisa, que as atividades laborais docente são marcadas de atitudes empreendedoras, quem de nós nunca teve sua aula prejudicada porque não havia equipamentos necessários ou se eles existiam funcionavam de forma precária ou nem mesmo funcionavam? Quem de nós nunca deixou o seu próprio livro (comprado com parte de seu salário, sem qualquer custeio da instituição) na Xerox ou usa seus próprios computadores para dar aula? Ou vive dando jeitinhos para conseguir realizar seus projetos: seja uma parceria com empresas privadas, seja num contato amigo que libera o carro pra uma aula de campo fora do edital?
 
Logo, acredito que as aulas de empreendedorismo são fundamentais para que possamos fazer dessas adversidades oportunidades. Hoje defendo que elas sejam ampliadas ao corpo docente, porque entendi que esta habilidade nos será cada vez mais exigida a medida em que os projetos neoliberais avançam na universidade pública e a precarização está dada como projeto para Educação! Por outro lado, isto também está relacionado a pauta mais corrente na universidade: Saúde Mental!
 
Foi e é paradoxal discutir Saúde Mental na UFMT diante de tanta desvalorização do trabalho empreendido na universidade, por esta professora e todos os demais colegas, para realizar um evento científico e totalmente gratuito; diante da falta de respeito para com as pessoas que aqui estavam para prestigiar o evento; diante da violência que sofremos pelas péssimas condições estruturais para a realização de um evento nesta Universidade.
 
O processo de adoecimento mental se dá justamente nestas condições, em que individualizamos questões que são de cunho coletivo, culpabilizamos os sujeitos e os expomos enquanto incompetentes por não conseguirem resolver problemas, por não terem feito limonada dos limões que a vida lhe dá. E quando retiramos não culpabilizamos os indivíduos, limitamo-nos a jogar pra causalidade ou pro pensamento supersticiosos (sorte ou azar daquela pessoa) ao passo que exaltamos o empreendedorismo daqueles que, resilientes, enfrentam estas adversidades com criatividade! Nem um nem outro processo é menos enlouquecedor/adoecedor que o outro!
 
As ausências de infraestrutura básica para que exerçamos nossa atividade profissional nos impõe uma urgência em empreender. Num contexto em que as universidades tiveram um impacto real de 28% (número emblemático na UFMT) de cortes orçamentários, empreender deve mesmo ser a lógica para a realização de nosso trabalho docente. Venderemos, para o fórum de graduação, nossos standers às empresas privadas que virão decorá-los; venderemos nossas pesquisas de empresa em empresa para que consigamos os recursos necessários para desenvolver nosso trabalho; em breve, até os estágios curriculares obrigatórios deverão ser vendidos para termos financiamento de uma visita a comunidade, salas para atendimento, equipamentos que nos possibilitem a desenvolver a atividade... Numa sociabilidade em que tudo se transforma em mercadoria, seria incoerência nossa querer que a ciência não fosse tratada da mesma forma. Portanto, “ao empreendedorismo e além!” com o processo de desmonte da universidade pública brasileira e adoecimento de seus/suas servidoras/es e discentes.