Quarta, 15 Agosto 2018 15:21

MARCHA À RÉ À FRENTE - Roberto Boaventura

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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A quem aprecia entrevistas de candidatos à presidência da República, as últimas semanas foram fartas disso, com destaque ao programa Roda Viva (TV Cultura), ao primeiro debate, na TV Bandeirantes, e à Central das Eleições (Globo News).

No geral, sempre o mesmo dos mesmos. Por isso, das referências acima, comentarei o trabalho jornalístico da Globo News, que, a cada dia, de 30/07 a 03/08, entrevistou, por duas horas, os cinco candidatos que aparecem nas primeiras colocações das pesquisas. Lula – preso por corrupção – não foi entrevistado.

Pela ordem das entrevistas, os candidatos foram Álvaro Dias, Ciro Gomes, Marina Silva, Alckmin e Bolsonaro.

No primeiro programa, um caos. A Central das Eleições – composta por um “time de comentaristas”, liderado por Mirian Leitão – exibiu, acima de tudo, explosões de egos de seus jornalistas.

Sem coordenação firme por parte de quem deveria organizar as intervenções, parecia haver, no ar, uma disputa de quem seria o primeiro a nocautear o entrevistado. Dessa forma, Álvaro Dias foi secundarizado. Pouco falou.

Para a segunda entrevista, o “time” parecia enquadrado pelos editores. Cada um tentou respeitar a vez e a voz do outro. Assim, não foram causados maiores transtornos à Marina Silva, que pouco soube se aproveitar do efeito “anestesia forçada” dos jornalistas.

O mesmo não ocorreu com Ciro Gomes. De novo, o “time” pegou pesado. Motivo: o comportamento explosivo do candidato. De início, Ciro entrou na ciranda. Irritou-se. Contudo, logo pediu, literalmente, que os jornalistas perguntassem sobre “coisas sérias, como a economia do país”.

Daí em diante, o candidato, tentando se apresentar diferente, ganhou a cena; parece ter vencido a luta verbal contra o “time global”.

Com Alckmin, quase sempre linear, a paz reinou no estúdio. Por vezes, um ou outro do “time” o deixara com o sorriso amarelo, diante de contradições antológicas, buscadas em arquivos, que seu partido e sua prática política tão bem favorecem.

Por fim, e por tudo que envolve a figura Bolsonaro, sua entrevista foi a que teve maior repercussão. Nesse sentido, mesmo sem querer, testemunhei uma conversa em um restaurante, um dia após sua sabatina. Fiquei preocupado.

Explico: de todos, Bolsonaro, que tentou esconder seus preconceitos embaixo do tapete, é o mais despreparado. Assumiu que não entende nada de economia. Pensei que, por isso, perderia alguma coisa. Parece que não.

Pelo teor da conversa de que me referi, três senhoras, falando alto, elogiaram exatamente a ignorância assumida por Bolsonaro. Acharam aquilo honesto, “compatível com ele próprio”, disse uma às demais, que consentiram.

Saí preocupado do recinto. Os candidatos, além de limitados, no geral, estão sendo vistos pela maioria como corruptos. Desses, Lula – que obviamente não é preso político, como querem fazer crer sectários do PT – foi citado por uma daquelas senhoras, mas com o aval das demais.

Nesse sentido, parece ser inegável o malefício que Petrolões e Mensalões fizeram ao nosso futuro. Logo, caso vença as eleições, é inegável a dívida que Bolsonaro terá para com Lula e o PT; ou seja, os grandes responsáveis por essa tragédia anunciada, caso ela se concretize. Uma decepção popular pode ter rumos indesejados.

E se a tragédia que vem se anunciando se concretizar, para deixar o quadro ainda mais sombrio, Bolsonaro terá um general do Exército como vice.

Isso mesmo! Um fardado e um saudosista das fardas.

À frente, se der essa dobradinha, na certa, será marcha à ré. 

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