Quarta, 09 Março 2016 18:48

 

Centenas de pessoas assistiram, na manhã dessa terça-feira, 08/03, em Cuiabá, o último debate oficial entre as quatro chapas candidatas à Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Com capacidade para cerca de 500 pessoas, o Teatro Universitário ficou lotado, das cadeiras ao chão.

 

O que a comunidade acadêmica da UFMT deseja a partir do processo de “eleição” está evidente: mudança. As manifestações reivindicam não apenas melhorias estruturais, mas principalmente melhores condições de trabalho; respeito e ampliação dos espaços deliberativos, com participação efetiva de docentes, técnicos e estudantes nos processos decisórios; valorização dos profissionais, comprometimento da instituição com as demandas da comunidade, dentre outros. Mas será que as candidaturas apresentadas apresentam alguma perspectiva de mudança para a universidade? Para a Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind), não.

 

“Há uma retórica dos candidatos em defesa da universidade pública de qualidade. No entanto, nós temos profundas dúvidas sobre qual modelo de universidade pública estamos falando. É o modelo que segue a lógica do Reune [projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais]?”, pontua o presidente do sindicato, Reginaldo Araújo.  

 

A questão é que, embora o discurso seja de preservação da universidade pública, algumas respostas (por vezes, evasivas) demonstram que todos os candidatos reconhecem a parceria com o setor produtivo como uma alternativa imprescindível para financiamento das atividades acadêmicas. “A busca de recursos da iniciativa privada retira do Estado a responsabilidade de garantir mais recursos para a universidade”, avalia o presidente.

 

Essa compreensão, formada a partir das entrevistas concedidas ao Jornal da Adufmat-Ssind e dos debates realizados durante a campanha, despertou nos docentes a necessidade de fazer uma rodada de discussão mais aprofundada com os candidatos. O sindicato, junto ao Diretório Central dos Estudantes (DCE), chegou a convidá-los para mais um debate, que seria realizado na próxima sexta-feira (11), no auditório da Adufmat-Ssind, mas os candidatos das chapas 01, 02 e 03 devolveram o convite respondendo: “As chapas abaixo assinado participarão apenas dos debates programados pela comissão eleitoral” (veja na foto disponível abaixo).

 

Assim, permanece a compreensão de que os candidatos, apesar de reivindicarem para si a capacidade de mudanças na gestão da universidade (inclusive apontando entre eles quem seria a chapa que tem o apoio da atual Reitoria, numa tentativa de marcar diferenças), devem dar continuidade ao modelo atual de administração, que partilha da política nacional de educação imposta pelos governos, que se mostra extremamente nociva à universidade pública e ao ensino como um todo.  

 

Os discursos representam, no máximo, vontades pontuais de melhorias de infra-estrutura e mobilidade. Nenhuma proposta aponta mudança efetiva na relação com o governo e suas políticas. Não há um projeto de uma universidade diferente do atual. Há, ao contrário, a perspectiva de aprofundamento das políticas que já estão postas.

 

“Nós lamentamos que o princípio constitucional da autonomia não seja retomado por nenhum dos candidatos. É a partir dele que pode-se exigir, inclusive, recursos que garantam o cumprimento das tarefas para as quais a universidade se propõe”, conclui o professor.  

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

 

 

 

 

Sexta, 04 Março 2016 11:52

A reitora da UFMT, Maria Lúcia Cavalli Neder, acredita que a discussão sobre o financiamento de pesquisas pela iniciativa privada numa perspectiva crítica é “ideológica” e está ultrapassada. Pouco mais de um mês após a sanção do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação pela presidente Dilma Rousseff, Cavalli afirmou que considera uma questão de ignorância problematizar a autonomia do pesquisador a partir dessa abertura para novos modelos de parcerias.

 

Com essas palavras, “ultrapassada” e “ignorância”, Maria Lúcia fez as únicas ponderações sobre o que representa o Marco, durante exposição realizada no auditório da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia da UFMT na última terça-feira, 01/03.

 

Não por acaso, a exposição, de nome Fórum sobre o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, foi feita naquele auditório. Afinal, as humanas têm certa dificuldade em encaixar-se nesse espaço em que a principal preocupação é oferecer “produtos” à sociedade, por meio de parcerias com o setor produtivo, a fim de proporcionar “avanços sociais e econômicos”, como afirmaram os expositores. Esse é um dos primeiros pontos que a Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind), ao contrário da reitora, acha importante problematizar.

 

“O mercado está muito mais interessado em inovação tecnológica, oferta de produtos, patentes, que são atividades mais comuns nas áreas de exatas, tecnologia, biológicas... as humanas têm outras preocupações, outros objetos, outro tempo de reflexão e produção. Então, um dos temores é de que as áreas de humanas sejam totalmente prejudicadas em suas pesquisas, devido a esses novos tipos de investimento”, alerta o presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo.

 

Ligado a isso, a precarização da educação pública e a defasagem do salário docente são outros dois pontos a questionar. “Na tentativa de complementar renda, porque os nossos salários estão muito defasados, os colegas podem perder a perspectiva de autonomia intelectual e pesquisar apenas aquilo que é de interesse do mercado, aquilo que os grupos financeiros estejam dispostos a investir, e que não trazem, necessariamente, benefícios sociais”, pontua o presidente.

 

Diante da retirada estratégica de recursos da educação, que dificultam cada vez mais a realização de pesquisas, a possibilidade de o governo sentir-se cada vez mais desobrigado a custear essa atividade acadêmica é outra importante preocupação. Nesse ponto, não haveria mais autonomia intelectual alguma do pesquisador, em especial dos cursos de humanas. A universidade estaria completamente refém de grupos econômicos que detém recursos para financiar pesquisas. No cenário atual, essa não parece uma realidade tão distante.    

 

A elaboração, aprovação e sanção do Projeto de Lei Complementar 77/2015, de autoria do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que resultou na Lei 13.243/2016 (o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação), é produto de uma luta de seis anos, segundo a reitora da UFMT, que também a atual presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), uma das 60 entidades envolvidas nesse processo. 

 

Paradoxalmente, a sanção do Marco representa liberdade, na compreensão dos seus defensores. Nas palavras da presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior (Confies), Suzana Montenegro, os pesquisadores de universidades públicas não precisarão mais “se esconder, agir na clandestinidade” ao realizar suas parcerias com a iniciativa privada.    

 

Aprovado o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Informação, a preocupação de seus idealistas agora é, além de derrubar os nove vetos da presidente Dilma Rousseff, regulamentar os tramites internos das universidades para que não entrem em conflito com a legislação, tornando-a inexequível. “É preciso ter muito cuidado e atenção nessa etapa. A regulamentação pode ser ótima, e pode ser péssima. Não podemos descansar. Temos que acompanhar tudo para que isso realmente facilite o diálogo com a Lei”, explicou a procuradora do Confies, Rebeca Pernambuco.

 

Dentre as alterações que o Marco traz, estão a dispensa de licitação na aquisição de bens e serviços diretamente relacionados à pesquisa, alteração de carga horária de trabalho docente e a dinamização dos tramites processuais que envolvem a relação universidade, fundações de apoio e empresas. 

 

Durante a exposição, o veto presidencial mais criticado foi o que reverteu a isenção de impostos sobre materiais adquiridos no exterior. “É uma pena, porque as fundações de apoio, muitas vezes, foram canais que possibilitaram a compra de equipamentos no exterior para algumas entidades, que nos procuravam devido as facilidades para aquisição, mas agora isso não é mais possível”, lamentou o mediador da mesa, diretor geral da Fundação Uniselva, professor Cristiano Maciel.   

 

Clique aqui para ler a Lei 13.243/2016

 

Na galeria de imagens abaixo, estão disponíveis fotos dos slides utilizados pela representante do Confies para apresentar suas considerações sobre o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

   

  

 

Sexta, 04 Março 2016 11:48

 

 

A reitora da UFMT, Maria Lúcia Cavalli Neder, acredita que a discussão sobre o financiamento de pesquisas pela iniciativa privada numa perspectiva crítica é “ideológica” e está ultrapassada. Pouco mais de um mês após a sanção do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação pela presidente Dilma Rousseff, Cavalli afirmou que considera uma questão de ignorância problematizar a autonomia do pesquisador a partir dessa abertura para novos modelos de parcerias.

 

Com essas palavras, “ultrapassada” e “ignorância”, Maria Lúcia fez as únicas ponderações sobre o que representa o Marco, durante exposição realizada no auditório da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia da UFMT na última terça-feira, 01/03.

 

Não por acaso, a exposição, de nome Fórum sobre o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, foi feita naquele auditório. Afinal, as humanas têm certa dificuldade em encaixar-se nesse espaço em que a principal preocupação é oferecer “produtos” à sociedade, por meio de parcerias com o setor produtivo, a fim de proporcionar “avanços sociais e econômicos”, como afirmaram os expositores. Esse é um dos primeiros pontos que a Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind), ao contrário da reitora, acha importante problematizar.

 

“O mercado está muito mais interessado em inovação tecnológica, oferta de produtos, patentes, que são atividades mais comuns nas áreas de exatas, tecnologia, biológicas... as humanas têm outras preocupações, outros objetos, outro tempo de reflexão e produção. Então, um dos temores é de que as áreas de humanas sejam totalmente prejudicadas em suas pesquisas, devido a esses novos tipos de investimento”, alerta o presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo.

 

Ligado a isso, a precarização da educação pública e a defasagem do salário docente são outros dois pontos a questionar. “Na tentativa de complementar renda, porque os nossos salários estão muito defasados, os colegas podem perder a perspectiva de autonomia intelectual e pesquisar apenas aquilo que é de interesse do mercado, aquilo que os grupos financeiros estejam dispostos a investir, e que não trazem, necessariamente, benefícios sociais”, pontua o presidente.

 

Diante da retirada estratégica de recursos da educação, que dificultam cada vez mais a realização de pesquisas, a possibilidade de o governo sentir-se cada vez mais desobrigado a custear essa atividade acadêmica é outra importante preocupação. Nesse ponto, não haveria mais autonomia intelectual alguma do pesquisador, em especial dos cursos de humanas. A universidade estaria completamente refém de grupos econômicos que detém recursos para financiar pesquisas. No cenário atual, essa não parece uma realidade tão distante.    

 

A elaboração, aprovação e sanção do Projeto de Lei Complementar 77/2015, de autoria do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que resultou na Lei 13.243/2016 (o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação), é produto de uma luta de seis anos, segundo a reitora da UFMT, que também a atual presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), uma das 60 entidades envolvidas nesse processo. 

 

Paradoxalmente, a sanção do Marco representa liberdade, na compreensão dos seus defensores. Nas palavras da presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior (Confies), Suzana Montenegro, os pesquisadores de universidades públicas não precisarão mais “se esconder, agir na clandestinidade” ao realizar suas parcerias com a iniciativa privada.    

 

Aprovado o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Informação, a preocupação de seus idealistas agora é, além de derrubar os nove vetos da presidente Dilma Rousseff, regulamentar os tramites internos das universidades para que não entrem em conflito com a legislação, tornando-a inexequível. “É preciso ter muito cuidado e atenção nessa etapa. A regulamentação pode ser ótima, e pode ser péssima. Não podemos descansar. Temos que acompanhar tudo para que isso realmente facilite o diálogo com a Lei”, explicou a procuradora do Confies, Rebeca Pernambuco.

 

Dentre as alterações que o Marco traz, estão a dispensa de licitação na aquisição de bens e serviços diretamente relacionados à pesquisa, alteração de carga horária de trabalho docente e a dinamização dos tramites processuais que envolvem a relação universidade, fundações de apoio e empresas. 

 

Durante a exposição, o veto presidencial mais criticado foi o que reverteu a isenção de impostos sobre materiais adquiridos no exterior. “É uma pena, porque as fundações de apoio, muitas vezes, foram canais que possibilitaram a compra de equipamentos no exterior para algumas entidades, que nos procuravam devido as facilidades para aquisição, mas agora isso não é mais possível”, lamentou o mediador da mesa, diretor geral da Fundação Uniselva, professor Cristiano Maciel.   

 

Clique aqui para ler a Lei 13.243/2016

 

Na galeria de imagens abaixo, estão disponíveis fotos dos slides utilizados pela representante do Confies para apresentar suas considerações sobre o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

   

  

 

Segunda, 29 Fevereiro 2016 12:03

 

A terceirização tem se mostrado, de fato, um grande prejuízo aos trabalhadores. Em nome da “manutenção” do emprego nesse modo de produção globalizado, os direitos constitucionais, coletivos e individuais, têm perdido espaço para a exploração e desrespeito sem limites. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), essa relação tem sido evidente em todos os espaços ocupados por empresas terceirizadas.

 

Na última semana, a falta de cumprimento do preceito mais básico da relação de trabalho, que é o pagamento de salário por jornada realizada, foi motivo de paralisação dos funcionários da Luppa Administradora de Serviços no campus da UFMT em Cuiabá. A empresa, de propriedade de um ex-vereador do município, e responsável pela limpeza, jardinagem e alguns serviços administrativos na universidade, é uma das que mais tem contratos com órgãos públicos no estado.

 

Mas, se o preceito mais fundamental foi rompido, outras ações que o distanciamento da terceirização (ou quarteirização, quinteirização...) favorece não falham: assédio moral, falta de condições de trabalho (material e equipamentos de proteção individual), precarização total dos contratos com os trabalhadores, baixos salários, poucos benefícios, imposições que prejudicam o funcionário e favorecem o lucro da empresa, desmandos e desrespeito, entre outras coisas, são alguns dos relatos de centenas de trabalhadores terceirizados.

 

Essa relação distanciada entre o trabalhador e seu contratante no local de trabalho, provocada pela terceirização, ficou ainda mais evidente a partir da reação da reitora da UFMT ao ser informada dos motivos da paralisação dos funcionários da Luppa: não sabia de nada, nunca recebeu nenhuma reclamação e, se receber, encaminhará aos responsáveis.   

 

Todos esses conflitos estão presentes nas relações da Luppa com seus funcionários, mas também de outras empresas terceirizadas da UFMT, como a IT Alimentos, prestadora de serviços na UFMT de Sinop.

 

Também na semana passada, enquanto estourava a mobilização dos trabalhadores da Luppa, a IT Alimentos demitiu quatro funcionárias, sem motivo aparente para isso. Coincidentemente, essas quatro mulheres cometeram o grave erro de relatar à empresa algumas questões relacionadas à falta de condições de trabalho. Essa prática também foi registrada na empresa terceirizada de Cuiabá, mas depois das manifestações e grande repercussão do caso na imprensa local, a demissão foi revertida.

 

Em Sinop, no entanto, além da demissão pela incompreensão de que trabalhador tem direito, inclusive, de reclamar melhores condições de trabalho, o empregador incorreu em outros erros, como o não cumprimento de prazos para devolução da carteira de trabalho, não pagamento dos direitos da maneira correta, entre outros. Agora, as trabalhadoras terão o desgaste de recorrer à Justiça para conseguir obter o que é seu, por direito.

 

A questão que provavelmente determinou a demissão de umas das funcionárias, Elisa Lopes, é a mesma que motiva muitas reclamações dos estudantes da UFMT em Sinop: falta de comida. A ex-cozinheira do Restaurante Universitário (RU) alertava constantemente sobre a falta do material adequado para realizar seu trabalho. “A minha briga era que muitas vezes não tinha um alho, uma cebola, nem sal para cozinhar. Tinha que usar sal grosso e água para fazer arroz. Eu pedia para eles comprarem as coisas e eles achavam que eu estava errada. No café da manhã, faltava pão, aí a gente ligava para a empresa e eles diziam que não podiam fazer nada. Acabava a carne, nunca era o suficiente, aí tinha que fritar ovo”, conta a trabalhadora que tem cerca de 15 anos de experiência na área.

 

A estudante Izabella Rocha, que integrou uma comissão estudantil de fiscalização do RU de Sinop, confirma o relato de Elisa. “Os estudantes reclamam muito que não tem comida, que tem mosca na comida, fila grande, mas tem muito mais coisa que acontece ali. Tem atraso de salário, fornecedor que não é pago, coação... a situação é caótica!”, afirma. Além disso, a estudante destaca o que já é visível a olho nu: “toda terceirizada em Sinop é assim, não é só a IT”, afirma.

 

Daniele Silva, outra trabalhadora demitida, destacou casos de desvio de função, não reajuste de salário, e assédio moral. “Eu fui contratada como auxiliar de cozinha, mas depois comecei a limpar banheiro, lavar panelas, às vezes ficava no caixa... eu fazia tudo. Aí eu falava que achava correto ser registrada como serviços gerais, mas quando a gente falava alguma coisa era punido. Eles ameaçavam mandar embora, dar advertência, até gritavam. E o dono sabia. Teve uma reunião em que a gente contou tudo para ele. Mas ele concordava, porque não mudou nada depois que a gente falou”, lembrou a trabalhadora.

 

Não bastasse isso, quase 30 dias depois da demissão, as trabalhadoras não podem arrumar outro emprego, dar entrada no seguro desemprego ou mesmo sacar o FGTS, porque a empresa ainda não devolveu a carteira de trabalho nem os documentos referentes à rescisão do contrato. “Eles tratam a gente com deboche, diminuição. A Elisa estava com a filhinha doente, ela tem uma bebê, estava toda pitadinha, ela mandou foto para a encarregada, pediu misericórdia para eles fazerem o acerto. Eles mandaram ela procurar os direitos dela. Aí é ruim, a gente tem família, criança pequena. Parece que o mundo de hoje não é como antes, antigamente as pessoas tinham direitos”, afirma Daniele.         

 

Outra estudante da UFMT de Sinop, Evelyn Araújo, relata que tem de utilizar parte da bolsa monitoria que recebe da universidade para se alimentar. “Minha mãe compra parte das coisas lá na minha cidade e eu compro outras coisas no Atacadão, com outras duas colegas que moram comigo. É muito mais caro, quatro, cinco vezes mais caro, mas é complicado depender do RU, comer lá todos os dias. Quem chega mais tarde não consegue pegar salada, carne. A gente reclamava a falta das coisas, falta de tempero, mas as funcionárias dizem que é para reclamar para a empresa. Aí a gente falava com a nutricionista, nem sei se é a mesma, porque eles vivem tocando, mas ela nos tratava com grosseria. Aí até ficava bom uns dias, depois piorava outra vez”, afirma a estudante.

 

Mas não depender do RU, para Evelyn, não é apenas uma questão de opção. “Tem gente que não consegue comer lá. Quando a pessoa não quer comer a carne, porque está crua ou com aparência ruim, pede a opção vegetariana e eles não dão. Aí a pessoa fica sem comer proteína. Eu não estava conseguindo comer no RU, voltava para casa e não tinha nada para comer. Aí minha imunidade caiu, eu estava ficando doente”, afirma.

 

É por causa de relatos como esses que a Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind), Sindicato dos técnicos administrativos (Sintuf) e estudantes querem debater a terceirização na UFMT. “Os movimentos organizados são contrários a esse tipo de contrato, mas se o trabalhador está aqui nessa condição, tem de ser respeitado e a universidade tem de assumir sim a responsabilidade sobre ele”, ressalta o presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo.

 

Compromisso?

 

 

Embora a IT Alimentos tenha contratado outros quatro funcionários após as demissões relatadas acima, os trabalhadores terceirizados comentam sobre a possibilidade de falência da empresa.

 

Na reunia realizada em Cuiabá na última segunda-feira (22) com a reitora Maria Lúcia Cavalli e a pró-reitora Administrativa da UFMT, Valéria Calmon (leia aqui a matéria), foi esclarecido que a universidade não poderia resolver o imbróglio diretamente com os trabalhadores. No entanto, as funcionárias de Sinop afirmam que a pró-reitoria local teria se comprometido a, no caso de falência da IT Alimentos, fazer os acertos com os trabalhadores.

 

A assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind entrou em contato com a pró-reitoria Administrativa (Proad) da UFMT para saber se, em caso de falência, a universidade deve assumir tal compromisso. Por telefone, a assessoria da Proad esclareceu que a universidade pode tomar providências em caso de falência, de forma cautelatória, desde que o fato seja oficializado.

 

Análises jurídicas entendem, com base nos primeiros artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que a instituição contratante tem, sim, responsabilidades nas relações de trabalho. No §2 do Art. 2º (Introdução), a CLT determina: “sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas”.

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind       

       

Segunda, 29 Fevereiro 2016 11:52

 

A terceirização tem se mostrado, de fato, um grande prejuízo aos trabalhadores. Em nome da “manutenção” do emprego nesse modo de produção globalizado, os direitos constitucionais, coletivos e individuais, têm perdido espaço para a exploração e desrespeito sem limites. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), essa relação tem sido evidente em todos os espaços ocupados por empresas terceirizadas.

 

Na última semana, a falta de cumprimento do preceito mais básico da relação de trabalho, que é o pagamento de salário por jornada realizada, foi motivo de paralisação dos funcionários da Luppa Administradora de Serviços no campus da UFMT em Cuiabá. A empresa, de propriedade de um ex-vereador do município, e responsável pela limpeza, jardinagem e alguns serviços administrativos na universidade, é uma das que mais tem contratos com órgãos públicos no estado.

 

Mas, se o preceito mais fundamental foi rompido, outras ações que o distanciamento da terceirização (ou quarteirização, quinteirização...) favorece não falham: assédio moral, falta de condições de trabalho (material e equipamentos de proteção individual), precarização total dos contratos com os trabalhadores, baixos salários, poucos benefícios, imposições que prejudicam o funcionário e favorecem o lucro da empresa, desmandos e desrespeito, entre outras coisas, são alguns dos relatos de centenas de trabalhadores terceirizados.

 

Essa relação distanciada entre o trabalhador e seu contratante no local de trabalho, provocada pela terceirização, ficou ainda mais evidente a partir da reação da reitora da UFMT ao ser informada dos motivos da paralisação dos funcionários da Luppa: não sabia de nada, nunca recebeu nenhuma reclamação e, se receber, encaminhará aos responsáveis.   

 

Todos esses conflitos estão presentes nas relações da Luppa com seus funcionários, mas também de outras empresas terceirizadas da UFMT, como a IT Alimentos, prestadora de serviços na UFMT de Sinop.

 

Também na semana passada, enquanto estourava a mobilização dos trabalhadores da Luppa, a IT Alimentos demitiu quatro funcionárias, sem motivo aparente para isso. Coincidentemente, essas quatro mulheres cometeram o grave erro de relatar à empresa algumas questões relacionadas à falta de condições de trabalho. Essa prática também foi registrada na empresa terceirizada de Cuiabá, mas depois das manifestações e grande repercussão do caso na imprensa local, a demissão foi revertida.

 

Em Sinop, no entanto, além da demissão pela incompreensão de que trabalhador tem direito, inclusive, de reclamar melhores condições de trabalho, o empregador incorreu em outros erros, como o não cumprimento de prazos para devolução da carteira de trabalho, não pagamento dos direitos da maneira correta, entre outros. Agora, as trabalhadoras terão o desgaste de recorrer à Justiça para conseguir obter o que é seu, por direito.

 

A questão que provavelmente determinou a demissão de umas das funcionárias, Elisa Lopes, é a mesma que motiva muitas reclamações dos estudantes da UFMT em Sinop: falta de comida. A ex-cozinheira do Restaurante Universitário (RU) alertava constantemente sobre a falta do material adequado para realizar seu trabalho. “A minha briga era que muitas vezes não tinha um alho, uma cebola, nem sal para cozinhar. Tinha que usar sal grosso e água para fazer arroz. Eu pedia para eles comprarem as coisas e eles achavam que eu estava errada. No café da manhã, faltava pão, aí a gente ligava para a empresa e eles diziam que não podiam fazer nada. Acabava a carne, nunca era o suficiente, aí tinha que fritar ovo”, conta a trabalhadora que tem cerca de 15 anos de experiência na área.

 

A estudante Izabella Rocha, que integrou uma comissão estudantil de fiscalização do RU de Sinop, confirma o relato de Elisa. “Os estudantes reclamam muito que não tem comida, que tem mosca na comida, fila grande, mas tem muito mais coisa que acontece ali. Tem atraso de salário, fornecedor que não é pago, coação... a situação é caótica!”, afirma. Além disso, a estudante destaca o que já é visível a olho nu: “toda terceirizada em Sinop é assim, não é só a IT”, afirma.

 

Daniele Silva, outra trabalhadora demitida, destacou casos de desvio de função, não reajuste de salário, e assédio moral. “Eu fui contratada como auxiliar de cozinha, mas depois comecei a limpar banheiro, lavar panelas, às vezes ficava no caixa... eu fazia tudo. Aí eu falava que achava correto ser registrada como serviços gerais, mas quando a gente falava alguma coisa era punido. Eles ameaçavam mandar embora, dar advertência, até gritavam. E o dono sabia. Teve uma reunião em que a gente contou tudo para ele. Mas ele concordava, porque não mudou nada depois que a gente falou”, lembrou a trabalhadora.

 

Não bastasse isso, quase 30 dias depois da demissão, as trabalhadoras não podem arrumar outro emprego, dar entrada no seguro desemprego ou mesmo sacar o FGTS, porque a empresa ainda não devolveu a carteira de trabalho nem os documentos referentes à rescisão do contrato. “Eles tratam a gente com deboche, diminuição. A Elisa estava com a filhinha doente, ela tem uma bebê, estava toda pitadinha, ela mandou foto para a encarregada, pediu misericórdia para eles fazerem o acerto. Eles mandaram ela procurar os direitos dela. Aí é ruim, a gente tem família, criança pequena. Parece que o mundo de hoje não é como antes, antigamente as pessoas tinham direitos”, afirma Daniele.         

 

Outra estudante da UFMT de Sinop, Evelyn Araújo, relata que tem de utilizar parte da bolsa monitoria que recebe da universidade para se alimentar. “Minha mãe compra parte das coisas lá na minha cidade e eu compro outras coisas no Atacadão, com outras duas colegas que moram comigo. É muito mais caro, quatro, cinco vezes mais caro, mas é complicado depender do RU, comer lá todos os dias. Quem chega mais tarde não consegue pegar salada, carne. A gente reclamava a falta das coisas, falta de tempero, mas as funcionárias dizem que é para reclamar para a empresa. Aí a gente falava com a nutricionista, nem sei se é a mesma, porque eles vivem tocando, mas ela nos tratava com grosseria. Aí até ficava bom uns dias, depois piorava outra vez”, afirma a estudante.

 

Mas não depender do RU, para Evelyn, não é apenas uma questão de opção. “Tem gente que não consegue comer lá. Quando a pessoa não quer comer a carne, porque está crua ou com aparência ruim, pede a opção vegetariana e eles não dão. Aí a pessoa fica sem comer proteína. Eu não estava conseguindo comer no RU, voltava para casa e não tinha nada para comer. Aí minha imunidade caiu, eu estava ficando doente”, afirma.

 

É por causa de relatos como esses que a Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind), Sindicato dos técnicos administrativos (Sintuf) e estudantes querem debater a terceirização na UFMT. “Os movimentos organizados são contrários a esse tipo de contrato, mas se o trabalhador está aqui nessa condição, tem de ser respeitado e a universidade tem de assumir sim a responsabilidade sobre ele”, ressalta o presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo.

 

Compromisso?

 

Embora a IT Alimentos tenha contratado outros quatro funcionários após as demissões relatadas acima, os trabalhadores terceirizados comentam sobre a possibilidade de falência da empresa.

 

Na reunia realizada em Cuiabá na última segunda-feira (22) com a reitora Maria Lúcia Cavalli e a pró-reitora Administrativa da UFMT, Valéria Calmon (leia aqui a matéria), foi esclarecido que a universidade não poderia resolver o imbróglio diretamente com os trabalhadores. No entanto, as funcionárias de Sinop afirmam que a pró-reitoria local teria se comprometido a, no caso de falência da IT Alimentos, fazer os acertos com os trabalhadores.

 

A assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind entrou em contato com a pró-reitoria Administrativa (Proad) da UFMT para saber se, em caso de falência, a universidade deve assumir tal compromisso. Por telefone, a assessoria da Proad esclareceu que a universidade pode tomar providências em caso de falência, de forma cautelatória, desde que o fato seja oficializado.

 

Análises jurídicas entendem, com base nos primeiros artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que a instituição contratante tem, sim, responsabilidades nas relações de trabalho. No §2 do Art. 2º (Introdução), a CLT determina: “sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas”.

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind       

       

Sexta, 05 Fevereiro 2016 17:42

 

A agenda de debates oficiais entre candidatos à Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) já foi divulgada pela comissão de consulta. Eles serão realizados após o carnaval, um em cada campi da universidade, incluindo o Hospital Julio Müller.

 

A comissão avalia que o tempo total de cada debate seja, em média, de 3 horas, organizadas em quatro blocos: apresentação das candidaturas (40 minutos); perguntas da plateia (80 minutos); debate entre os candidatos (38 minutos); e considerações finais (20 minutos).

 

Todas as regras do debate serão expostas pelos organizadores do pleito, membros das entidades representativas da universidade, o Sindicato dos Trabalhadores Técnicos e Administrativos, o Diretório Central dos Estudantes e a Associação dos Docentes da UFMT.

 

Para além da agenda oficial, alguns institutos já realizam debates entre os candidatos.

A agenda divulgada é a seguinte:

 

16/02, às 8h30 – Debate no Hospital Júlio Müller

18/02, às 9h – Debate no campus de Sinop

24/02, às 9h – Debate nos campi do Araguaia  

03/03, às 9h – Debate no campus de Rondonópolis

08/03, às 9h – Debate no campus de Cuiabá (e Várzea Grande)

 

O primeiro turno da eleição será no dia 16/03. Não havendo chapa com 50% +1 dos votos, o processo eleitoral continua em segundo turno, com eleição no dia 12/04.

 

Clique aqui para acessar o Regimento, calendário e outras informações sobre o processo de consulta 2016 da UFMT.

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind    

Sexta, 05 Fevereiro 2016 17:36

 

A agenda de debates oficiais entre candidatos à Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) já foi divulgada pela comissão de consulta. Eles serão realizados após o carnaval, um em cada campi da universidade, incluindo o Hospital Julio Müller.

 

A comissão avalia que o tempo total de cada debate seja, em média, de 3 horas, organizadas em quatro blocos: apresentação das candidaturas (40 minutos); perguntas da plateia (80 minutos); debate entre os candidatos (38 minutos); e considerações finais (20 minutos).

 

Todas as regras do debate serão expostas pelos organizadores do pleito, membros das entidades representativas da universidade, o Sindicato dos Trabalhadores Técnicos e Administrativos, o Diretório Central dos Estudantes e a Associação dos Docentes da UFMT.

 

Para além da agenda oficial, alguns institutos já realizam debates entre os candidatos.

A agenda divulgada é a seguinte:

 

16/02, às 8h30 – Debate no Hospital Júlio Müller

18/02, às 9h – Debate no campus de Sinop

24/02, às 9h – Debate nos campi do Araguaia  

03/03, às 9h – Debate no campus de Rondonópolis

08/03, às 9h – Debate no campus de Cuiabá (e Várzea Grande)

 

O primeiro turno da eleição será no dia 16/03. Não havendo chapa com 50% +1 dos votos, o processo eleitoral continua em segundo turno, com eleição no dia 12/04.

 

Clique aqui para acessar o Regimento, calendário e outras informações sobre o processo de consulta 2016 da UFMT.

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind    

Quinta, 04 Fevereiro 2016 20:39

 

Quando o professor do departamento de Letras da UFMT, Antônio Rodrigues Pimentel, escreveu, em 1986, o poema “Velhos Tachos”, inspirado pelos objetos que decoravam o saguão do teatro da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), provavelmente não imaginava que, anos mais tarde, eles ainda estariam lá, compondo o cenário preparado para uma emocionante homenagem a ele. É... talvez, pela perspicácia e inteligência, qualidades ressaltadas por todos aqueles que tiveram o privilégio da convivência com Pe. Pimentel, ele imaginasse, sim, que isso pudesse acontecer um dia.

De fato, nessa quarta-feira, 03/01, o Foyer do teatro da UFMT, onde estão alguns dos tachos contemplados por Pimentel, fizeram parte de uma bela cerimônia, que trouxe à tona uma importante parte da sua história como professor, padre e poeta, e também parte das histórias da UFMT, do estado e do país.

Os tachos que ainda decoram o teatro da UFMT decoram, igualmente, a capa do livro do professor Roberto Boaventura da Silva Sá, que tem o título “Abrangência dos vôos poéticos de Avoante do Cariri”. “Aqueles tachos, mais do que decorar espaços, dialogam com profundas e doloridas passagens da nossa história”, pontuou Boaventura. Fizeram parte da vida nos engenhos durante o período colonial brasileiro. 

É justamente porque o contexto social está muito presente nas linhas escritas pelo Pe. Pimentel - ou Avoante do Cariri, como também ficou conhecido - que Boaventura dedicou-se a analisar o conjunto da sua obra, deixado pelo próprio autor na mesa de Boaventura apenas dois dias antes da sua (estranha) morte, em 2007. Certamente uma relíquia inestimável! Mas naquele dia, 05/02/2007, duas questões que jamais seriam respondidas se colocaram: por que as obras foram entregues, e por que todos os livros tinham, escrito à mão, exatamente a mesma dedicatória: “Ao professor Roberto, expoente da Adufmat”. Diante da rápida e inesperada partida que impossibilitou agradecê-lo, Boaventura decidiu, então, homenageá-lo.     

Relatos de amigos, colegas, alunos e admiradores retrataram uma relação entre Avoante e a universidade que, aos novatos, é difícil reconhecer. Professor interessado no contato com a população, de olhar atento aos menos favorecidos e às questões sociais, Pe. Pimentel estava sempre disposto a brincar com o conhecimento e apresentar ou descobrir o novo. Certamente, ficaria entristecido se presenciasse as políticas de privatização que avançam sobre sua querida “universidade da selva”, dentre elas, a PEC 395/2014, que autoriza a cobrança de projetos de extensão, um dos tripés da universidade que Pimentel valorizava, pela possibilidade de aproximação entre a comunidade acadêmica e a população local.

Poliglota, escrevia sem nenhuma dificuldade textos em idiomas como latim e francês. Numa perspectiva sempre crítica, registrou sua posição contrária ao regime militar e questionou duramente o sistema capitalista. “Ele não era atrevido, como eu, ou polemista, como alguém me chamou. Ele tinha um jeito especial de fazer a crítica, pela poesia, que às vezes, acredito, fala mais alto do que os textos que eu costumo escrever”, disse Boaventura.

Os ex-reitores da UFMT, professores Benedito Pedro Dorileo e Fernando Nogueira de Lima, também ressaltaram o compromisso social de Pe. Pimentel. “Ele prezava pelo contato com a população menos favorecida. Ele tinha essa compreensão de que é preciso ampliar o contato da universidade com a sociedade, com a comunidade toda, com a periferia. É preciso tirar os doutores do ar condicionado e levar para as ruas”, afirmou Dorileo.   

O professor Fernando Nogueira destacou que aprendeu, com o Pe. Pimentel, que o trabalho intelectual, em especial na universidade, exige que as pessoas tomem posições, e foi assim que entendeu a importância de escrever e emitir opinião. “Também tenho aprendido com você, nessa sua caminhada, com seus textos, Roberto”, acrescentou Nogueira.   

Um outro objetivo do autor de “Abrangência dos voos poéticos”, além de homenagear o professor Pimentel, foi abordado pelo ex-reitor Pedro Dorileo: “esse é um momento muito importante para reviver a história dele [Avoante], até para cobrar pesquisas da UFMT acerca do seu trabalho”, observou.

A atual reitora, professora Maria Lúcia Cavalli Neder, contou algumas histórias da sua relação com o mestre e amigo pessoal, que chegou a dedicar a ela um de seus poemas, intitulado “Bodocó”. O nome é de um município do interior do Pernambuco, onde nasceu a mãe da professora, sobre a qual conversavam bastante. “Quem quiser saber quem era Maria Lúcia aos 22 anos, pode ler o poema”, brincou a reitora.

A presidente da Academia Mato-grossense de Letras e professora da UFMT, Marília Beatriz, enviou uma carta de apresentação do livro, que faria pessoalmente, não fosse o ataque de um mosquito transmissor do zika vírus. “Roberto constrói uma leitura precisa e preciosa da obra do Avoante, desmistificando, inclusive, algumas interpretações errôneas”, escreveu no documento, cuja leitura foi feita pelo professor Elias Andrade.

O professor Abel Santos iniciou sua homenagem com um canto gregoriano, e também relembrou dos bons momentos de convívio com o Pe. Pimentel. Sua mania de brincar com as línguas proporcionou, ao final do evento, uma dinâmica: o professor Germano Aleixo Filho lia as cantigas brasileiras traduzidas pelo Avoante para o latim, e a plateia tentava adivinhar quais eram.

A professora e uma das fundadora da UFMT, Therezinha Arruda, prestigiou o lançamento, e foi fortemente aplaudida ao receber as honras de sua presença, com palavras do professor Roberto Boaventura.     

Um dos momentos de maior emoção foi a leitura de “Velhos Tachos”, feita pela ex-aluna de Pimentel, Claudete Rachid Jaudy. O poema segue transcrito abaixo, acompanhado de um link que remete a análise feita pelo professor Roberto Boaventura.

Velhos Tachos

Avoante do Cariri

Desovas em Trovas III, 1986 

 

“Aposentados vos contemplo, ó tachos,

Relíquias eloquentes de um passado!

Recendeis a heroísmo embalsamado,

Acrisolado em mil e um despachos.

Centrastes atenção e sapateado,

Escanchados sobre ígneos capachos,

Enquanto ao vosso bojo, erguia-se em cachos

A escuma pardacenta do melado.

Testemunhas da história urdidura

Que as lágrimas transmuta na fartura,

Luzis no báratro de um céu bem atro.

E, ao refogar doçura em dissabores,

Me segredais, de em meio aos bastidores,

Que a vida nada é mais do que um teatro.” 

Clique aqui para ler a análise do professor Roberto Boaventura do poema acima.  

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind