Terça, 23 Setembro 2025 10:18

DIA DA ÁRVORE, JUBILEU DA ESPERANÇA E A PRIMAVERA - Juacy da Silva

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

 

“Propomos definir o pecado ecológico como uma ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade e o meio ambiente. É um pecado contra as gerações futuras e se manifesta em atos e hábitos de contaminação e destruição da harmonia do ambiente, em transgressões contra os princípios da interdependência e na ruptura das redes de solidariedade entre as criaturas e contra a virtude da justiça”. Fonte: Documento Final do Sínodo dos Bispos da Amazônia, matéria publicada por Elisangela Cavalheiro, em 30/01/2024 no Portal A12.

Bom dia, amigas e amigos, ótimo, abençoado e feliz domingo, 21 de setembro, DIA DA ÁRVORE e amanhã, 22 de setembro, é o início da primavera no Hemisfério Sul (Brasil, América do Sul, boa parte da África e vários outros países) e o início do outono no Hemisfério Norte (Europa, EUA, Canadá e outros países).

A primavera representa o fim de um verão cada vez mais escaldante, de poucas chuvas, baixa umidade do ar, que afetam tremendamente a saúde humana, mas também o mês das flores, do verde, da renovação da vida, da esperança, principalmente para o meio ambiente, para a ecologia integral, um melhor cuidado com o Planeta, a nossa Casa Comum, ou seja, um tempo benfazejo.

E por estarmos no ANO DO JUBILEU, convocado pelo Papa Francisco, que ao longo de seus 12 anos de magistério nos deixou um rico legado de exortações quanto à degradação dos biomas e ecossistemas, à necessidade de a Igreja ser e estar sempre em saída, no espírito da sinodalidade e do profetismo, para caminhar junto com os pobres, oprimidos e excluídos, os mais afetados pelas consequências da degradação ambiental e da crise climática.

Sempre é bom recordarmos que o tema do Jubileu de 2025 é PEREGRINOS DA ESPERANÇA, que deve representar um período especial de graça e renovação espiritual em todas as dimensões da vida humana, inclusive na caminhada ecológica da Igreja, representada pelos fiéis e também pela hierarquia eclesiástica, principalmente quando, por coincidência, estamos também celebrando o TEMPO DA CRIAÇÃO, representado por tantas obras da natureza e da humanidade. Isto deve nos iluminar para percebermos que precisamos construir uma harmonia total entre os seres humanos e destes com a natureza.

Quanto às celebrações do DIA DA ÁRVORE, não basta apenas plantarmos umas poucas mudinhas em diferentes locais, principalmente onde houver visibilidade, para fotografarmos e compartilharmos nas diferentes redes sociais com nossos contatos, como tanto gostam de fazer nossos governantes.

O importante é também refletirmos sobre a destruição que temos assistido de imensas áreas de florestas, a extração ilegal de madeira, a contaminação por mercúrio e agrotóxicos, o desmatamento e as queimadas, legais ou ilegais, de milhões de hectares e BILHÕES DE ÁRVORES, de forma irracional, transformando essas áreas em terras degradadas, como tem acontecido em todos os biomas brasileiros, principalmente no CERRADO, na AMAZÔNIA LEGAL e no PANTANAL.

Apenas para “refrescar” nossa memória e aquilatarmos o tamanho desta destruição, basta mencionar que em 2023 o desmatamento e as queimadas no CERRADO atingiram mais de 1,1 milhão de hectares, o que corresponde a 750 MILHÕES DE ÁRVORES.

Entre 1985 e 2023, o desmatamento e as queimadas no Cerrado destruíram 38 milhões de hectares, o que representa 27% da perda de toda a cobertura vegetal originária deste bioma e uma perda significativa de sua biodiversidade vegetal e animal, além de afetar todas as nascentes que formam os rios que alimentam tanto a Bacia Amazônica quanto a do Paraguai/Paraná, do São Francisco e do Parnaíba, inclusive os aquíferos que estão nesta vasta região.

Em termos de árvores destruídas, é algo extremamente gigantesco. Em quatro décadas este bioma “perdeu” nada menos do que 24,7 BILHÕES DE ÁRVORES.

É fundamental também que se diga que em 2023 o desmatamento e as queimadas que destruíram boa parte do Cerrado representaram um aumento de 68% em relação ao ano anterior e que esta destruição superou as perdas registradas na Amazônia.

Quanto à Amazônia, mesmo que tenha havido uma queda significativa em relação às décadas anteriores, mesmo assim o desmatamento e as queimadas devoraram 515 mil hectares, o que representa a destruição de aproximadamente 335 MILHÕES DE ÁRVORES.

Todavia, apesar desta “queda” no desmatamento e queimadas, na Amazônia Legal, no período de 1984 até 2023, ou seja, em 39 anos, foram destruídos 12,7 milhões de hectares de florestas nativas. Isto é algo assustador, pois representa 8,3 BILHÕES DE ÁRVORES destruídas e, pior ainda, boa parte deste vasto território teve os solos degradados, não se prestando mais para qualquer uso produtivo.

Já em relação ao nosso PANTANAL, considerado pela nossa Constituição, juntamente com a Amazônia, como Patrimônio Nacional, estabelecendo que, enquanto tais, devem ser preservados e cuidados, pelo respeito que devemos ter para que as presentes e, principalmente, as futuras gerações possam desfrutar de um meio ambiente saudável e sustentável.

Apesar de toda esta preocupação dos Constituintes em 1988, o Pantanal, nos últimos trinta ou quarenta anos, tem experimentado um aumento e agravamento do desmatamento e das queimadas e a redução significativa do volume de suas águas. Mesmo com uma redução significativa, em 2023 foram destruídos por desmatamento e queimadas uma área de 21 mil hectares, ou seja, 13,7 MILHÕES DE ÁRVORES desapareceram neste bioma que, pela sua exuberância, também é considerado pela UNESCO como PATRIMÔNIO NATURAL DA HUMANIDADE e não apenas patrimônio brasileiro.

Para compreendermos melhor a dinâmica da destruição, seja de forma legal ou ilegal ou por queimadas, é bom que vejamos qual o tamanho desta destruição nas últimas quatro décadas.

Entre 1985 até 2023, nada menos do que 1,8 milhão de hectares do Pantanal foram destruídos, sendo que em algumas regiões as queimadas atingiram áreas de uma forma totalmente devastadora, ocasionando também a degradação total das mesmas. Quando traduzimos esta destruição em relação ao total de árvores que desapareceram, chegamos a um número também absurdo. Em 39 anos foram destruídas 1,17 BILHÕES DE ÁRVORES que sumiram deste bioma, que, pela sua dimensão, corre o risco de desaparecer totalmente em algumas décadas, tanto pelo desmatamento e queimadas quanto por outros fatores como a destruição e degradação de todos os cursos d’água, como rios e córregos que alimentam o Pantanal e formam a Bacia Paraguai/Paraná.

Assim, quando estamos celebrando o TEMPO DA CRIAÇÃO, o DIA DA ÁRVORE e também o início da primavera em nosso país, plantando algumas mudinhas de árvores, como em Cuiabá, que há anos vem sofrendo perda de sua cobertura vegetal urbana, substituindo árvores por concreto, de outrora quando recebia a alcunha de CIDADE VERDE, para hoje que nem mesmo o PDAU (Plano Diretor de Arborização Urbana) tem, apesar de a cada ano experimentarmos temperaturas mais escaldantes, é imperioso termos uma visão crítica sobre a questão da falta de arborização urbana e também a gravidade das perdas que já ocorreram pelo desmatamento e queimadas sem controle ao longo das últimas quatro décadas em todos os biomas e ecossistemas.

Resumindo, nessas últimas quatro décadas a soma das áreas que foram desmatadas e queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal chega a 52,5 milhões de hectares e 34,2 BILHÕES DE ÁRVORES, que simplesmente desapareceram nesses territórios. Convenhamos: algo que deveria nos preocupar quanto ao presente e também quanto ao futuro, nos contextos da COP30, da justiça climática, justiça social, justiça intergeracional e dos DIREITOS HUMANOS.

Oxalá, este DIA DA ÁRVORE, do início da primavera, da mesma forma que o DIA DAS FLORESTAS, dos RIOS e de todos os biomas brasileiros, nos imponha a necessidade de buscarmos soluções para os nossos grandes desafios socioambientais, tanto no Brasil quanto nos territórios de cada bioma e ecossistema, presentes em cada território.

Os desafios socioambientais em Mato Grosso, principalmente para a Igreja Católica e as demais Igrejas Cristãs e outras religiões, são muito maiores do que em outros estados, tendo em vista que em nosso território estão presentes a Amazônia Legal, o Cerrado e o Pantanal. Por coincidência ou não, os três biomas são os que têm sido mais devastados e destruídos nas últimas décadas.

Para a doutrina da Igreja Católica, a OMISSÃO é um pecado, e a OMISSÃO diante da destruição da natureza, da ecologia integral, é um PECADO ECOLÓGICO, mais uma razão para assumirmos nossas responsabilidades como católicos, católicas, cristãos e cristãs.

 

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy

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