Sexta, 31 Maio 2019 17:35

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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No dia 06 de junho, no Teatro da UFMT, às 20h, ocorrerá a segunda apresentação do trabalho literomusical “SÓ DE PÉROLAS”, roteirizado e dirigido por Roberto Boaventura, que, ao lado da cantora japonesa Akane Iizuka, compartilhará um conjunto de sofisticadas pérolas de nossa MPB.

No rol das composições, encontram-se canções de Luiz Gonzaga, José Fernandes, Venâncio, Corumbá, J. Guimarães, Joubert de Carvalho, Waldir Serrão, Isidoro, Aldir Blanc, João Bosco, Chico César, Chico Buarque, Fernando Brant, Milton Nascimento, Djvan, Filó Machado, Renato Teixeira, Rita Lee, Roberto de Carvalho, Dori Caymmi, Délcio de Carvalho, além de uma canção regional de domínio popular.

Todavia, mais do que juntar composições, tão sensíveis quanto fortes no plano poético, buscou-se, pelo roteiro, contemplar elos de conteúdo entre as músicas que serão apresentadas.

Com esse cuidado estético, um pouco da vida brasileira será revisitado, a partir de diferentes olhares e sensibilidades poético-musicais, e tudo tendo início com o astral junino, porém, a ele não se restringindo.

Diante do atual contexto vivido por todos nós, brasileiros, a poesia-musicada de enfrentamento das durezas deste estranho tempo também tem seu lugar de destaque nesse trabalho artístico.

Para a concretude de tais elos músico-poéticos, a ponte entre uma e outra canção foi construída por meio de fragmentos literários, jornalísticos e bíblicos, afinal, para o bem ou para o mal, o judaísmo-cristão é a base de nossa cultura; aliás, isso sempre teve significado (de conformação ou de confrontação) também entre os poetas de nossa MPB.

A presença marcante de Akane Iizuka – que realmente encanta por onde canta – servirá também como elemento do processo de partilhar pérolas com o público, afinal, a cantora residindo apenas há quatro anos em Cuiabá, mesmo sendo oriunda de um país culturalmente tão distinto de nossa realidade, tem pesquisado composições de nossa MPB com profundo respeito e competência artística. Sua qualidade musical é tamanha que não se intimida perante arranjos complexos de um Djavan, um Milton Nascimento, um João Bosco e outras raridades mais.

Para acompanhar Akane Iizuka e Roberto Boaventura, o instrumentista de sopro Andrew Moraes assina os arranjos e a direção musical do espetáculo. Além desse ilustre filho do Curso de Música da UFMT, mais três instrumentistas de primeira qualidade artística completam o grupo: Clau Simpatia (cordas), Anderson Lima (baixo) e Wender Couto (bateria).

Antecipadamente, a produção de Só de Pérolas agradece a Pró-Reitoria de Graduação e a Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Vivência da atual gestão da UFMT. Ambas as pró-reitorias deram aval à proposta artística, que tem um nítido toque didático.

Os ingressos (15 reais) podem ser adquiridos no Restaurante La Fontana, na Galeria Itália, na Adufmat ou na bilheteria do Teatro da UFMT, duas horas antes do início da apresentação do espetáculo.

 

Quarta, 29 Maio 2019 08:53

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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A condição de sermos brasileiros nos dá várias características positivas, mas negativas também. Destas, uma é ignorar culturas alheias. Assim como desconhecemos as culturas dos indígenas, africanos, também ignoramos – e talvez mais – a milenar cultura dos orientais, como a dos japoneses.

Dessa condição, surgem os preconceitos também contra esse povo, de cuja imigração iniciou-se em 1908, quando 165 famílias – a maioria pobre – vieram trabalhar em fazendas de café no oeste de SP.

Particularmente, por conta do local onde nasci, sempre tive contatos com japoneses. Meu ensino médio (antigo 2º grau) foi realizado em um colégio de predominância de descendentes nipônicos. Também tive a oportunidade de trabalhar em uma microempresa desses orientais.

Infelizmente, por imaturidade, acabei não aproveitando tanto essas oportunidades, como, p. ex., estudar a língua japonesa e, consequentemente, me aprofundar naquela cultura.

De qualquer forma, algumas coisas aprendi. Destaco: os japoneses – pelo menos a maioria – são pessoas que cultivam, acima de tudo, a vontade de aprender e de superar dificuldades. Também me chama a atenção o respeito que eles têm pelas crianças e pelos idosos.

Mas por que estou falando dos japoneses agora?

Por conta do artigo “Cabeça de japonês do presidente”, que li, em 27/05, na mídia cuiabana, escrito por um professor de Filosofia.

Quando vi aquele título, confesso que não o entendi, pois, em nada, o atual presidente do Brasil – cujo repertório intelectual é impressionantemente boçal – poderia lembrar a mentalidade de um japonês, via de regras, brilhante.

O que fiz?

Li o artigo.

De chofre, um susto, pois, procurando uma coisa, encontrei outra. O texto é aberto por uma expressão eivada de preconceito: “Só cegos não percebem que o país está destrambelhado...”.

Quem disse a esse “filósofo” que os cegos não percebem o absurdo retrocesso pelo qual estamos passando? Aliás, a maioria dos cegos percebe antes e melhor do que muitos não-cegos as artimanhas não só deste governo, mas perceberam também as falcatruas de governos anteriores, se é que me entendem...

Depois dessa, respirei fundo. Continuei a leitura, pois eu queria entender a relação do título do artigo com o seu corpo.

Textualmente, encontrei apenas um enunciado do “filósofo” fazendo referência àquela atitude racista de Bolsonaro, que insinuou, por meio de gesto com os dedos, o tamanho da genitália de um japonês, que fazia questão de uma foto com o presidente brasileiro: “...recentemente chamando os japoneses de miniaturas, com alusões subterrâneas nefastas”.

Fora isso, o texto do “filósofo” centra-se no óbvio: mostrar a exuberante boçalidade de Bolsonaro, que poderia ser sintetizada no seguinte fragmento escrito pelo articulista: “O passado do presidente o condena, revela uma criatura baixa, pequena, atrasada, defensor (sic.) das piores práticas humanas...”.

Ora, ora!

Se for isso que o articulista pensa sobre Bolsonaro, então infiro que o “filósofo” caiu na mesma armadilha racista – logo, abominável – exposta pelo presidente. Assim, o “filósofo” e o presidente se unem na mesma estupidez.

Explico: para o filósofo, “a cabeça de japonês do presidente” seria “pequena”, no caso, equivalendo ao tamanho da genitália do oriental, apontado pelo gesto grosseiro e racista do presidente.

Há muito eu não via um “filósofo” bater em sua própria face, pensando esmurrar a do outro.

A despeito desse mico filosófico, reafirmo a importância da Filosofia na vida de todos nós.

 

Terça, 28 Maio 2019 14:21

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Guardadas as devidas proporções, no tempo e espaço, que separam o inicio do Governo Bolsonaro, há praticamente cinco meses e a renúncia de Jânio Quadros, ocorrida  há uma semana antes de completar sete meses como presidente da República, em 25 de Agosto de 1961, quase levando o Brasil a uma Guerra civil e abrindo caminho para mais de três anos de graves crises, que desembocaram na derrubada de João Goulart, não há duvidas que existem alguns paralelos entre tais fatos e esses dois personagens de nossa história politica (Jânio Quadros e Bolsonaro).


Tanto Jânio Quadros quanto Bolsonaro tem algumas características em comum, além do conservadorismo que os caracterizam, o que podemos denominar de uma “personalidade forte”, tendente ao caráter autoritário, avesso ao dialogo, considerar-se iluminando, escolhido por Deus para governar, personalismo, pouco apreço pelo Legislativo e outras instituições nacionais apesar de Bolsonaro ter sido deputado federal por 28 anos e ter sua origem nas fileiras militares e se aposentado aos 33 anos, com apenas 15 anos de “trabalho” prestado `a mãe pátria, serem o que popularmente se denomina de “estopim curto” e afeitos a decisões imprevisíveis.


Diferente de Jânio que fez uma carreira meteórica brandindo sua vassoura no combate `a corrupção, Bolsonaro, durante seus 28 anos como Deputado Federal jamais se destacou por tomar partido em grandes causas nacionais, razão pela qual era considerado como pertencente ao chamado “baixo clero” da Câmara Federal, onde se situam centenas de deputados de pouca expressão politica e, praticamente desconhecidos da opinião pública nacional, a não ser em seus estados e currais eleitorais.


Diferente de Jânio, nosso atual Presidente é cercado por familiares pouco avessos a tolerância, com posições autoritárias expressas em “twitters”, que não existia na época de Jânio, com ataques aos poderes constituídos, como aquela manifestação de um de seus filhos  dizendo que bastava um um cabo e dois soldados para fechar o Supremo Tribunal Federal ou outros ataques a membros do próprio governo do pai, além de diversas declarações estapafúrdias e contraditórias do próprio presidente, antes, como deputado federal e depois, já como presidente, dizendo, por exemplo que o problema do Brasil é a classe politica, da qual ele próprio faz parte nas últimas três décadas, diversas decisões de governo que são tomadas e pouco depois revogadas ou voltando atrás, ou contraditórias como a que defende que não cabe ao governo interferir nas decisões das estatais e interfere em publicidade do Banco do Brasil ou nos preços dos combustíveis, causando celeuma no Mercado, a questão de acabar com as lombadas eletrônicas nas estradas federais que foram sustadas graças ao bom senso de uma juíza federal que revogou esta medida absurda ou no caso do decreto que iria permitir a aquisição de fuzis por parte da população civil, tornada sem efeito por outro decreto ante a “grita” geral até de organizações internacionais.


No plano politico, seu partido PSL anda metido com a questão de candidaturas laranjas, com desavenças internas, sua “base” no Congresso não consegue acertar os passos e acaba criando problemas para o próprio governo. Enquanto Bolsonaro critica o que chama de velha politica, escolhe como líder de seu governo no senado federal  um senador que fez parte dos governos do PT e atualmente está sendo investigando por corrupção e recebimento de propina e está com seus bens bloqueados em centenas de milhões de reais.


No plano da gestão pública, apesar de ter feito um “enxugamento” da maquina ministerial, até o momento não conseguiu apresentar ao Congresso Nacional e ao público brasileiro um PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, com justiça social , nem mesmo as grandes diretrizes que devem orientar seus quatro anos de mandato, da mesma forma que por falta de um plano nacional e de diretrizes presidenciais, até agora seu governo não tem planos setoriais ou regionais, razões pelas quais seus ministros não conseguem dizer a quem vieram, “tocam” o dia a dia dos ministérios, sem rumo, sem visão de curto, médio e longo prazos, em meio a muita confusão e ações desconexas e desarticuladas, como acontece nos ministérios da educação, do meio ambiente, da família, da mulher e dos direitos humanos e em certo sentido no super ministério da economia, causando, inclusive incertezas na “deus” Mercado que não investe por não acreditar no Governo.


Parece que o único projeto do Governo é a reforma da previdência, com a qual está chantageando a sociedade, enganando a opinião pública, às custas de uma propaganda massificadora custeada com preciosos recursos públicos escassos; quando todos sabem que esta reforma, pouco importa como será aprovada, não resolverá o problema do déficit fiscal e os buracos das contas públicas.


Todos sabem que os grandes problemas nacionais que afetam as contas públicas são outros, como a divida pública, esta sim, que já chega a mais de 85% do PIB e consome praticamente entre 45% e 48% do Orçamento Geral da União todos os anos, mais do que o dobro gasto com a Previdência.

Outros problemas são as renúncias fiscais que a cada ano deixam de arrecadar mais de R$350 bilhões de reais ao Tesouro Nacional, a Sonegação, que só de divida ativa já inscrita chegam a mais de R$2,2 trilhões de reais, sendo que apenas 1% dos grandes devedores (28 mil aproximadamente) são responsáveis por mais de 62% deste estoque trilionário de sonegação consentida e os subsídios e “incentivos” fiscais, que também sugam preciosos recursos orçamentários em mais de R$480 bilhões de reais por ano e também as dividas dos grandes latifundiários, muitos dos quais integram a famosa “bancada ruralista” no Congresso Nacional e acabam aprisionando o governo e instituições, legislando em causa própria ou simplesmente sonegando impunemente.


Cabe ressaltar que tanto em governos anteriores quanto no atual, os grandes sonegadores, mesmo inscritos na divida ativa da União acabam recebendo perdão  de parte desta divida, que, em alguns casos, chegam a quase 90% e ainda parcelam tais débitos em até 180 meses, ou seja, 15 anos, valores que acabam sendo corroídos pela inflação e a desvalorização cambial.


Em uma economia com inflação as vezes elevada e desorganização da máquina pública, o Tesouro praticamente nada recebe desses grandes devedores, muitos dos quais estão investidos de mandatos populares e fazem “lobby” ou legislam em causa própria, praticando inclusive o famoso “toma lá, dá cá” , que Bolsonaro tanto tem condenado, mas que acabará também praticando, com toda certeza, `a medida que precisar desses votos no Congresso Nacional para aprovar seus projetos.


Enquanto isso, a reforma da previdência quer “economizar” em dez anos, mais de um trilhão de reais retirando parcos recursos de aposentados do INSS (80%)  que ganham m média R$1,200 reais, pouco mais do que um salário mínimo do total a ser economizado, além de cortar pela metade o que os idosos pobres, miseráveis ou deficientes recebem como uma verdadeira esmola social para sobreviverem, o chamada BPC Benefício de Prestação Continuada, que é de um salário mínimo, que Bolsonaro e Paulo Guedes e seus apoiadores no Congresso querem reduzir de um salário mínimo para R$400,00 reais mensais, importância esta que esses deputados , senadores e ministros gastam em apenas um almoço, além do garrote que querem impor aos trabalhadores e trabalhadoras rurais, professores/professoras, nada fazendo para acabar com os atuais privilégios dos marajás da República nos três poderes, militares, ministérios público , tribunais de contas e outras estruturas estaduais.


Não é, portanto, sem razão que tanto a pesquisa de opinião pública realizada pelo DATAFOLHA em meados de abril, após os primeiros cem dias do Governo Bolsonaro, demonstrou que seu governo é o pior avaliado desde Collor de Mello, primeiro presidente eleito após os governos militares e o governo de transição de Sarney, ou seja, na avaliação do povo o Governo Bolsonaro neste inicio de mandato está sendo pior do que Collor, FHC, Lula e Dilma.


A mais recente pesquisa de avaliação, já neste final de maio pelo instituto XP Investimentos/IPESPE demonstrou que a avaliação negativa do governo Bolsonaro acaba de ultrapassar a avaliação positiva, ou seja, há um mês, as pessoas que avaliavam seu governo como ótimo/bom era de 35% e caiu para 34%; enquanto a avaliação negativa ruim/péssimo subiu de 31% para 36%, com destaque para a avaliação do vice presidente General Mourão que recebeu pontuação melhor do que o Presidente Bolsonaro.


A continuar com esta toada com certeza dias sombrios devem estar a caminho, tanto por fatores políticos quanto sociais, econômicos e culturais, simplesmente pelo fato de que o atual governo parece que ainda está em campanha, no palanque eleitoral, em constante embate com seus supostos inimigos imaginários, com Sancho Pança contra os moinhos de vento. na obra Cervantes, Dom Quixote, daí o mito “quixotesto” para este tipo de ação que caracteriza o Governo Bolsonaro.


“A luta contra os moinhos de vento é única e ajudou a forjar o mito quixotesco, porque envolve objetos inanimados que se transformam, para Dom Quixote, em gigantes cruéis, e depois, novamente, em moinhos de vento. O absurdo não reside somente em ver gigantes onde há trinta ou mais moinhos de ventos, mas principalmente em arremeter sozinho contra todos eles, gritando: "Não fujam, criaturas vis e covardes, que um cavaleiro sozinho é quem os ataca". Fonte: Gustavo Bernardo em Porque lutar contra os moinhos de vento.


Para Bolsonaro e sua “trupe” , incluindo seu guru astrólogo brasileiro que vive nos EUA, os moinhos de vento são a classe politica, os partidos de esquerda, os socialistas, os comunistas, a oposição, a turma LGBT, o MST/MTST, a mídia, o Estado “intervencionista” que não dão tréguas ao seu governo e podem levar o Brasil ao completo caos, contra esses inimigos imaginários gasta todo o seu tempo, suas energias brandindo, não a espada de Sancho Pança, mas sua grande arma, mais letal do que os fuzis que desejava que todos os cidadãos de bem poderiam ter para se defender já que o não compete ao Estado oferecer segurança aos cidadãos,, mas sim com o seu “Twitter” e “lives”, `a semelhança de seu ídolo do hemisfério norte. Já esta passando a hora de nosso presidente acordar de seus devaneios e começar a realmente governar.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.,.br" target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.,.br Twitter@pro
 

 

Segunda, 27 Maio 2019 11:10

 

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Por Roberto de Barros Freire*

 

Só cegos não percebem que o país está destrambelhado, tendo um grupo de extremistas biruta, boca suja, ignorante, feroz, rude, sórdido e sinistro, capaz de causar tanto desarranjo num governo desgovernado. Assistimos bestificados ao sururu atroz da nova elite do poder, uma obra de desconstrução sem nada construir, de lamentável ignorância, de improviso, de preconceito e a estupidez correndo solta a serviço de decisões governamentais: o levante dos extremistas, que confundem os ecos de seus tuítes com a voz do povo.


Bolsonaro é um espécime rústico de um gênero de políticos autoritários, a quem os estudiosos denominam populistas e que se caracterizam pela aversão ao pluralismo e às liberdades próprias das democracias contemporâneas. Um fenômeno social que se alimenta da desilusão, do desassossego, do desespero e da raiva, assim como da irresponsabilidade, irracionalidade e ignorância. Jair Bolsonaro não tem nada para fazer em um governo normal. Não entende de nenhum assunto, não sabe fazer articulação política, nunca demonstrou interesse em um único problema brasileiro. É salutar e inerente à democracia que um governo revise programas de governos anteriores, desde que haja estudos técnicos para respaldar as mudanças sem colocar em risco a segurança das pessoas. No entanto, o que se vê não é uma revisão, mas uma negação ideológica do passado tão somente, desrespeitando a autonomia das autarquias para cumprir suas metas, com base em opinião pessoal de fundamento subjetivo, e sem lastro técnico.


Não é apenas a ignorância que é grande, a falta d educação, a deselegância, as ofensas que o presidente realiza deixa a todos atônitos. Professores são tratados como bandidos, mas bandidos das milícias são tratados como gente de bem. Grupos humanos são ofendidos diariamente, quando se refere aos quilombolas pensando-os como arrobas, ou como no caso dos judeus quando Bolsonaro denominou o nazismo como fenômeno de esquerda, ou recentemente chamando os japoneses de miniaturas, com alusões subterrâneas nefastas.


Enfim, nossa realidade está tumultuada. Não é um tumulto causado por revolta popular, movimentos sociais ou oposição, que ora quase inexiste, mas o tumulto de fazer e desfazer, dizer e desdizer, ofender e negar as ofensas. De interferir em prejuízo das instituições, menosprezando especialistas e sábios, e sem consultar ninguém, fazendo de improviso e repentes, o que deveria ser pensado e refletido por sábios competentes.


Nostálgico da ditadura, se depender de Bolsonaro, não só acabará com a filosofia e a sociologia no Brasil, como fizeram os militares aniquilando a antiga educação pública de qualidade com a reforma de 1971, e que resultou nessa coisa horrorosa que temos até hoje; implantará o direito de matar à polícia, e com certeza fará vista grossa as atividades de tortura. O passado do presidente o condena, revela uma criatura baixa, pequena, atrasada, defensor das piores práticas humanas, favorável à tortura e morte de pessoas. O fato dele não estar mais manifestando suas opiniões íntimas não significa que as tenha abandonado. No máximo estão adormecidas, esperando a oportunidade de dar um golpe de Estado, sob o que já se manifestou favorável inúmeras vezes, defendendo a ditadura do passado. Só que, como já afirmou, por ele tem que matar uns 30.000 e não apenas uns 400 e poucos infelizes como fizeram os militares de 64 à 85.


 
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Quinta, 23 Maio 2019 14:15

 

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P. Wescley M. Pinheiro

Professor da UFMT

Resistência Tricolor

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     Numa conjuntura onde muita gente trata política como futebol, futebol como religião e religião como política a falsa premissa que não se pode discutir sobre esses três assuntos é tão falsa como sempre foi. Com a máxima de que “só é ideológico aquilo que se contrapõem à ordem vigente” o discurso travestido do mito da neutralidade reproduz no esporte a perpetuação de espaços antidemocráticos. Assim, o silenciamento diante de tantas questões que fazem parte da produção e reprodução da cultura e dos valores do nosso povo tem sido uma forma de obscurecer contradições, romantizar desigualdades e vilipendiar possibilidades de diálogo.

    Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Nelson Rodrigues, afirmava que “em futebol, o pior cego é o que vê só a bola”. O antropólogo Roberto da Matta (1982) afirmou também que esse esporte é uma espécie de drama da vida social onde se pode descortinar aspectos culturais e sociais da sociedade brasileira. O sociólogo Maurício Murad (1996) superou o entendimento do futebol como mero lazer fortuito, colocando como “simbologia e metalinguagem, e como tal, revelador das culturas das coletividades e revelador expressivo das condições humanas”.

     Precisamos pensar que o futebol não é um mero reflexo da sociedade, mas sim de um espaço de materialização cotidiana daquilo que estrutura nossa sociabilidade e, assim sendo, mais que um espelhamento, resguarda limites, mas também possibilidades, lócus de reproduções, mas também de ações pedagógicas dentro de uma perspectiva emancipatória, vivências em diferentes medidas, forças e leituras sobre a realidade que se atravessam diante dos principais temas que constituem a ordem do dia da sociedade brasileira.

     Observando o futebol e tudo que está no seu entorno mergulhamos numa história de fundação eurocêntrica e lógica excludente até o processo de popularização e posterior massificação. Percebemos o racismo, dentro e fora do campo, como algo construído historicamente, o apagamento das mulheres em todos os setores, as reproduções machistas e lgbtfóbicas como condição permanente, entre tantas outras questões.

     Se isso tudo é fato, é preciso destacar também que, nesse mesmo lugar,  diversos movimentos, manifestações e fatos históricos importantes e representativos de processos de resistência, de construção coletiva, de denúncia de violência e desmandos políticos e de luta contra preconceitos se apresentaram pertinentes.

 

O chute no preconceito da pátria de chuteiras

 

     Na conjuntura de fortalecimento da lógica mercadológica em todos os espaços da vida, da intolerância e do fatalismo histórico tecer reflexões e construir ações profundas sobre os alicerces de outra cultura política é condição para resistir à barbárie.

     Se há um crescimento do fundamentalismo religioso apontando para posições políticas autoritárias é mister que tenhamos processos de visibilidade de setores religiosos progressistas, democráticos e defensores da diversidade. Se a indústria cultural rebaixa a cultura periférica em produtos que só reproduzem o consumismo, o individualismo e o hedonismo, absorvendo e rebaixando os discursos de representatividade, é fundamental que se fortaleçam meios de fazer crescer os artistas e as produções que perseveram no protagonismo com a história de seu povo, buscando organicidade e posições coletivas comprometidas.

     Se a política formal é majoritariamente construída pelo oportunismo e fisiologismo, é crucial que construamos coletivos que se espraiam longe da dependência do pragmatismo eleitoral, saíndo da busca de atalhos, afastando-se das novidades estéreis e também do tradicionalismo torpe. Nessa mesma direção, se o futebol foi majoritariamente ocupado pelos setores que reproduzem e defendem o processo de exploração e opressão é urgente que corroboremos iniciativas que partem para o contra-ataque disso.

     Quando se fala de futebol e política todos os lados políticos ficam de orelha em pé. Os setores de direita costumam reproduzir que são coisas incompatíveis, ao mesmo tempo que elegem seus cartolas como deputados e senadores, realizam eventos nos clubes para defender pautas políticas e continuam a perseverar culturas violentas e marginalizadoras de diversos setores socialmente discriminados. No apogeu mercadológico e de ascensão ultra-liberal a defesa de que é preciso “não polemizar” para não prejudicar o clube também aparece como desculpa, ou seja, a versão esportiva de “quem lacra não lucra”.

     Sabemos que esse argumento econômico é facilmente refutado e que historicamente os clubes e empresas que se anteciparam em construir posições liberais no campo dos direitos humanos sempre tiveram sua história exaltada. Além disso, os processos históricos transformam consciências individuais e percepções coletivas demonstrando que esse processo é muito mais complexo do que se estabelece no discurso antipático do não-debate.

     Vejamos como o Vasco da Gama (RJ) se orgulha de ser o primeiro clube que colocou um jogador negro oficialmente em campo, mesmo que tenha enfrentado, na época, a cultura elitista, racista e proibicionista. Vejamos como a torcida do Flamengo (RJ) transformou a ideia do “Urubu” em símbolo e não em ofensa racial como costumeiramente se impôs. Pensemos nos diversos clubes mundo afora  que saem na frente no campo mercadológico diante as possibilidades de marketing e formação de plateia para além do modelo arcaico do futebol.

     Se essa argumentação é frágil é preciso frisar que a mera demarcação de posição com interesse no mercado é também repleta de frigidez, sendo necessário atitudes reais que desenvolvam mudanças efetivas e enfrentam as incoerências dentro dessa sociedade. É nesse sentido que o afastamento do pensamento de esquerda na arquibancada e nos bastidores se expressa como um problema, pois perde a oportunidade de desenvolver a batalha das ideias num campo fértil de possibilidades, não somente ocupando um espaço, mas construindo, aprendendo e expandido atores políticos.

     Sem observar essas frestas de contradição, parte dos movimentos de esquerda, historicamente assumiram a máxima de "ópio do povo", repetida, corriqueiramente, de forma rebaixada até mesmo com relação à frase original de Marx sobre a religião que, analisada em sua completude, demonstra o caráter contraditório desses complexo, afirmando "o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma".

     Assim, saindo de uma visão mecanicista e rasa sobre a formação da superestrutura é preciso analisar os espaços de cultura e construção de valores em sua potência contraditória, percebendo os sujeitos como seres da práxis e suas manifestações individuais e coletivas como expressões dos antagonismos sociais vigentes.

     A compreensão que limita o futebol como alienação das massas é rasa. Tal e qual todos os espaços de sociabilidade esse é só mais um que expressa as questões fundamentais de um dado tempo histórico. Quando não há organização, interesse e não se planta nas brechas das contradições sociais um discurso emancipatório os espaços são ocupados apenas pela manutenção do status quo.

     Quando há um avanço substancial de valores conservadores na sociedade não é chocante que a maioria dos atletas profissionais de destaque fiquem em silêncio ou se posicionem contra os direitos dos oprimidos e explorados, mesmo que boa parte deles venham desses setores e tenham ascendido socialmente pelo esporte. Quando não há uma política de esporte que não se reduz ao aspecto competitivo e salta para questões mais amplas à manutenção da ideologia vigente se expressa também nas consciências individuais de atletas, dirigentes e torcedores.

    Se nos espaços de formação de atletas e do processo de trabalho o futebol apresenta suas contradições, a arquibancada também vira arquétipo dos processos da sociabilidade constituída por cisões sociais importantes. A claque reverbera e potencializa as disputadas inerentes da sociedade, reproduz e retroalimenta valores, expressa as manifestações da questão social, encobre coisas, absorve algumas, revela tantas outras.

    Na hipertrofia da elitização do futebol os estádios se embranqueceram, tornaram-se cada dia mais distantes dos marcos da torcida e mais próximos das marcas televisivas. Essa constatação, no entanto, não é nada saudosista. O ontem e o hoje demarcam a naturalização de práticas preconceituosas, reprodutoras de machismo, racismo e lgbtfobia como modus operandi do ser torcedor. O cerne da questão está em potencializar aqueles/as que buscam, nesse mesmo espaço, ir no caminho inverso.

    Da famosa Democracia Corinthiana, emblemática na luta pela redemocratização do país nos anos 1980, até o fortalecimento de vários coletivos antifascistas, torcidas organizadas LGBT´s e ações sociais com as tradicionais torcidas organizadas o processo político cotidiano nos oferece oportunidade de formação de consciências, de aprendizado sobre educação popular, de reconhecimento de problemas importantes na formação de base e dos desafios que exigem paciência histórica, capacidade de diálogo, criatividade e a habilidade de endurecer sem perder a ternura.

    Realizar debates sobre preconceitos e opressões ou mesmo sobre política e outros temas espinhosos não é uma tarefa fácil em lugar nenhum, no entanto, é incomparavelmente mais desafiador quando não estamos lidando com o ambiente universitário, com a militância dos movimentos sociais e partidos de esquerda e quando se enfrenta a realidade de frente, partindo do dia-dia dos sujeitos, mergulhando em nossos afetos, em nossos lugares, desmistificando as impossibilidades deles, descortinando a zona de conforto dos privilégios e a zona de desconforto das violências.

     O distanciamento daqueles que se dizem de esquerda da cultura popular e do cotidiano dos sujeitos da classe trabalhadora enfraqueceu a leitura emancipatória na batalha das ideias. Isso ocorreu por diversos motivos que perpassam desde o processo de institucionalização e protagonismo da estratégia centrada na política formal, dos setores tradicionalmente vinculados aos movimentos populares, passando ainda pelo encastelamento acadêmico, pela vulgarização da teoria crítica, pela abstração pós-moderna e também por certo vício ilusório da atualidade com a participação virtual.

     Em tempos de obscurantismo, as ações antifascistas, dentro e fora de campo, se expressam nas disputas nas instituições de massa que são os clubes de futebol e, principalmente, nas torcidas organizadas que afirmam a democracia, a diversidade e os direitos dos/das torcedores/as. Essas ações são exercício de cidadania, de expressar a coragem de falar sobre temas invisibilizados, de tocar em feridas e quebrar tabus em uma sociedade de que fortalece o constrangimento contra quem quer dialogar sobre o direito à diferença.

     Por isso, esse processo é também um exercício pedagógico que demonstra o grau de conservadorismo da sociedade, o quanto os processos de espraiamento dos aparelhos ideológicos do reacionarismo conseguiu enraizar desvalores em nossa população e como as bolhas virtuais, políticas e acadêmicas precisam enfrentar seus limites e buscar as pessoas reais, com seus limites de consciência e suas reproduções das opressões.

     As ações afirmativas nos clubes de futebol, as atividades coletivas com as torcidas, os debates políticos, as polêmicas suscitadas, são questões que evidenciam a capacidade de voltar os olhos para a formação das pessoas naquilo que faz sentido para elas. Mais que somente demarcações políticas, performances e bandeiras o desenvolvimento pedagógico e a batalha das ideias na realidade se apresenta como tarefa fundamental.

    No atual momento histórico essas ações cumprem o seu papel civilizatório, concretizam leituras da realidade a partir da vida concreta, suspendem o cotidiano, atacam o senso comum, dão oportunidade de muitos conhecerem bandeiras de luta, provocam reações, tensionam pactos invisíveis e consciências amortecidas além de, obviamente, evidenciarem o caráter de classe e o incômodo dos poderosos da sociedade com o exercício de participação popular.

    Nesse sentido, o enraizamento cultural e a identidade afetiva do espaço do futebol  possibilita que cresça a percepção da capacidade de fortalecermos uma consciência de que podemos agir na realidade. Afinal, no futebol há uma construção simbólica de que a torcida participa do jogo: jogar em casa, ter o estádio cheio, ouvir o grito motivando faz diferença no certame. O exercício de ação coletiva e a pulsão simbólica de que o sujeito fora do campo não é um mero espectador, mas um protagonista que constrói sua paixão  afirma possibilidades de sairmos do lugar de apassivamento contra aqueles que atacam a condição de vida e trabalho dos menos favorecidos socialmente.

   

“Paz entre as torcidas, guerra entre as classes”

 

     Há anos a Resistência Coral (Ferroviário-CE) estampou nos estádios cearenses a célebre frase “Paz entre as torcidas, guerra entre as classes” apresentando à massa de pessoas que ali torciam que, embora haja uma disputa no campo, a derrota principal se expressa na violência urbana e policial, que se apresenta no extermínio da juventude negra e que, no futebol, tem sua particularidade nas brigas entre as torcidas e na repressão da polícia. A goleada real está nos gritos lgbtfóbicos e racistas que nada mais são do que gols contra diante de pessoas que tem sua vida diminuída, suas práticas marginalizadas, seus afetos atacados.

    Nos anos 2010, páginas nas redes sociais e coletivos que afirmavam o direito LGBT e de mulheres nessa área foram cobertos de ameaças e repúdio. Esse movimento retomou iniciativas que existiram desde a década de 1970, conforme afirmou o pesquisador Maurício Rodrigues, com grupos como a FlaGay (Flamengo-RJ) e ColiGay (Grêmio-RJ). Nessa retomada grupos como Gaivotas Fiéis (Corinthians-SP), Galo Queer (Atlético-MG), Cruzeiro Maria (Cruzeiro-MG), Bambi Tricolor (SPFC-SP), Timbu Queer (Náutico-PE), Vitória Livre (Vitória-BA), Queerlorado (Internacional-RS), Palmeiras Livre (Palmeiras-SP)  e tantas outras enfrentaram as críticas e as ameaças, formas próprias do patriarcado, do machismo e da misoginia, afinal, para a cultura hegemônica, o homossexual é sempre o adversário, denotando como a orientação sexual e a identidade de gênero não-hegemônicas são vistas como ofensivas.

     Para os mesmos setores a figura da mulher ou é a torcedora objetificada como musa, ou a mãe do juiz a ser xingada. No debate das opressões a construção e desconstrução dos valores é um processo constante. Em mais um ano de copa do mundo de futebol feminino vemos o processo de luta contínua por visibilidade, estruturação e reconhecimento entrando em choque com o machismo, com a lesbofobia, com a desconfiança própria do machismo. Essa disputa é contínua, avança em alguns momentos, retrocede em outros. Quanto mais é visível o sucesso das atletas, quanto mais se pauta a modalidade, quanto mais conhecemos aquelas mulheres mais elas são reconhecidas, tidas como exemplos e apresentam para a sociedade a particularidade e os desafios impostos do ser mulher em qualquer espaço do mercado de trabalho.

    Observando tudo isso o ataque preciso não é somente ao “futebol moderno”, mas sim aos processos de absorção que a cultura popular promoveu no silenciamento de setores oprimidos. Para isso é preciso articular um debate sobre a estrutura social que vivemos, a particularidade do futebol, o progressivo distanciamento das classes populares do esporte, além de atividades mais elaboradas que possibilite uma aproximação didática com essas defesas e não somente um disputismo estéril diante daqueles sujeitos da classe trabalhadora quem também reproduzem as opressões.

    Nesse sentido, se tem crescido o conservadorismo na sociedade é também verdade que, nos últimos anos, se intensificou o processo de formação popular e disputa de valores, iniciativas que haviam se enfraquecido no futebol e deixado para os conservadores todo o processo de fortalecimento de sua lógica. Atividades que, por exemplo, a Gaviões da Fiel (Corinthians-SP) e tantas outras torcidas realizavam no passado voltaram a ter visibilidade, encarando a função social do esporte, a construção educativa coletiva, os espaços de lazer e a identidade da torcida como possibilidade de ser solidário tem retomado a condição de debates sobre gênero, raça, sexualidade, violência mesmo com o estranhamento de muitos torcedores.

    Nesse sentido, a Resistência Tricolor (Fortaleza-CE) vem construindo uma experiência autônoma, democrática e explicitamente anti-conservadora, que apresenta preocupação com a laicidade do futebol, com o combate das opressões, a reprodução de preconceitos, com a não instrumetalização político-partidária dos clubes e a função social do esporte.

    O coletivo se constrói de modo horizontal, progressivamente ganha corpo e se revela lócus para juntar pessoas para debater temas, exercitar convergências e divergências, aprofundar afetos e cultivar, diante da paixão pelo Fortaleza Esporte Clube, os aspectos socialmente positivos diante da realidade que nos cerca. Os processos políticos que se fortalecem nesse processo aprofundam a maturidade sobre as disputas nos bastidores do futebol, possibilitam autocrítica sobre as ações na arquibancada e afirmam potencialidades desconhecidas no esporte.

    Mais que faixas no estádio, os tais grupos que potencializam esses debates vão construindo possibilidades de incluir na arquibancada as pessoas oprimidas que antes não viam condições de vivenciar a paixão pelo clube, devido aos ataques à sua condição e a potencialização dos preconceitos. Assim, a afirmação dos direitos da população, a caracterização desse esporte e desse espaço como genuinamente do povo, apresenta possibilidades de fortalecimento de bandeiras que defendem os direitos humanos e sociais dentro e fora do futebol.

    Nesse sentido, mais que uma afirmação política, os processos vão motivando outros grupos, trazendo a realização de ações efetivas de aproveitamento da identidade futebolística dos/as torcedores/as para melhoria das condições dos mesmos. Um bom exemplo é o projeto de Aulões para o ENEM que a Resistência Tricolor tem realizado em parceria com a TUF (Fortaleza-CE), maior torcida organizada do clube. Nessa ação se aproveita a unidade de diversos profissionais da educação em torno do amor pelo tricolor para realizar possibilidades mais amplas e construir pontes entre indivíduos que antes somente tinham em comum a paixão clubística.

    Tal exemplo demonstra que não se trata de afirmar uma tensão dentro da torcida, provocar pessoas e coletivos, mas agir no sentido democrático, inclusivo e contra-hegemônico, numa sociedade que afirma cada vez mais as desigualdades. Assim, quando avança a torcida, avança também o clube e, por tantas ações de diversos outros grupos, dirigentes e torcedores, nos últimos anos, o Fortaleza E.C.  também cresceu em participação democrática e ampliou posicionamentos progressistas, ainda que haja necessidade de avançar e que isso demonstre os desafios internos nesse processo.

    Dentro e fora desses coletivos, esses debates vão crescendo e catalisando novas possibilidades, como o crescimento de grupo de mulheres que se unem para ir aos jogos juntas e enfrentar o assédio, de pessoas LGBT que buscam estratégias de auto-cuidado, de deficientes físicos e outros setores com acessibilidade dificultada, etc.

    Essas iniciativas contam com desafios importantes e que podem ampliar ou retroagir sua capacidade de interlocução. Por serem majoritariamente experiências novas, por resguardar processos fluidos de absorção de novos quadros e por ter uma diversidade de posições e diferentes niveis de maturidade política entre os seus membros e simpatizantes. A capacidade formativa que não cair no mero voluntarismo, na construção espontaneísta e no pragmatismo diante dos resultados do seu clube no campo serão os grupos e ações mais crescerão e terão condições de interferir na necessária e urgente formação de processos políticos emancipatórios na sociedade brasileira.

    Entre tantos exemplos, talvez o Esporte Clube Bahia (BA) tem sido o maior deles em ações institucionais que fortalecem a cidadania. O clube vem afirmando em seus meios de comunicação oficiais, nos produtos do clube e na construção política interna uma série de questões que explicitam o direito à diversidade, o combate à violência, a afirmação do povo negro, das mulheres, da população LGBT e da popularização da arquibancada. Essas ações, ainda dentro de um futebol que é negócio e disputa, ao contrário do que muitos pensam, não desvaloriza a marca do clube e ainda eleva o patamar histórico da instituição.

    Num tempo histórico marcado pela perseguição de quem busca a afirmação de direitos uma instituição tão cara aos sujeitos das classes populares pode revelar importantes possibilidades no enfrentamento de uma lógica que se espalha na sociedade. As posições oficiais apresentam à todos os setores a necessidade de pensar sobre os temas em questão.

    Não por coincidência um coletivo de torcedores baianos vem construindo uma experiência contra-hegemônica plural de destaque nacional nesses debates e demonstrando que esse processo democrático é retroalimentado entre torcida e clube, não como tutela e imposição, mas como construção coletiva. A Frente Esquadrão Popular (Bahia-BA) tem conseguido de maneira autônoma ampliar debates, realizar ações, fortalecer posições de uma forma bastante interessante, articulando a tradição popular do clube com temáticas costumeiramente vilipendiadas.

    As atividades junto com jornalistas renomados sobre política e futebol, a parceria acadêmica e política com o Observatório de discriminação racial, as palestras e debates, os posicionamentos virtuais e as articulações com movimentos sociais, populares e setores universitários demonstram o caminho a ser seguido por todos os coletivos e as possibilidades de pensarmos esses processos em uma rede nacional de todas as torcidas.

    Assim, por todo o Brasil as ações populares se alimentam, algumas tímidas, outras mais estruturadas. Mais que potencializar a espetacularização do mercado e da violência pela mídia ou demarcar posição política é preciso potencializar, conhecer e reverberar as ações dentro do futebol que buscam resistir.

    O processo de ataques aos direitos sociais, o desmonte das políticas sociais e relativização das liberdades democráticas precisa encontrar resistência nas ruas de forma ativa e criativa, absorvendo os instrumentos históricos da classe trabalhadora, mas buscando também chegar aos espaços culturais onde historicamente sempre foi lugar de suposto pensamento único. Dirigentes ricos, políticos tradicionais e novos empresários utilizaram e continuam utilizando os clubes para afirmar um projeto de sociedade que não realiza nada de positivo para a maioria dos/das torcedores/as.

    No atual ambiente de instabilidade, a naturalização da forma política baseada numa reprodução mercantil e no distanciamento da população dos espaços representativos, se aliaram ao resultado de décadas sem espaços de formação política para a classe trabalhadora, à descrença nos instrumentos de mobilização diante dos processos de cooptação de inúmeros sindicatos, movimentos sociais e outros setores e formalizam uma cultura de ódio à democracia e a política do ódio como ferramenta.

    Diante desse quadro, os desafios da disputa de hegemonia em terra arrasada se realizam na tarefa de não repetir os erros interpostos no rebaixamento de horizonte emancipatório e nem constituir uma análise meramente abstrata da conjuntura. Não se conquista corações e mentes partindo de uma condição ideal, mas colocando a bola no chão e compreendendo o mundo como ele é. Há que se buscar o chão da realidade, as frestas do cotidiano e impedir a degeneração do contra-hegemônico, buscando as mediações para seu enraizamento a partir de pautas concretas e da realidade cotidiana da classe trabalhadora.

    A bola está no meio-campo e nesse jogo não há empate. Ou os setores antifascistas se expressam, se articulam e disputam a sociedade ou obscurantismo continuará goleando, dentro e fora do futebol, tomando nossos direitos, nos matando e lucrando com nossa alegria e com nossas dores. Grita, torcida, grita!

Quarta, 22 Maio 2019 14:28

 

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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Nunca foi tão fácil encontrar um título para um artigo como o que se lê acima; bastou-me um “Ctrl+C”/“Ctrl+V”, pois ele foi um dos destaques nos cartazes das manifestações do último dia 15, ocorridas em mais de 200 cidades brasileiras.

De posse desse enunciado politicamente dúbio, presto reverências aos que foram às ruas para defender a educação dos ataques profundos que (também) o governo atual promove.

Detalhe: caso os ataques não sejam interrompidos, outras manifestações virão. A luta pela educação pública, de qualidade, gratuita e laica não pode perder força. Mais do que antes, a união será necessária.

Aliás, isso foi o que compartilhei com os egressos de Literatura/UFMT, durante o um recente descerramento da placa de formatura. Para tanto, resgatei um fragmento de São Bernardo (1934) de Graciliano Ramos, um escritor que foi encarcerado por nos fazer repensar as estruturas do sistema capitalista.

No cerne, o romance trata da existência de Paulo Honório, um ser de origem humilde, além de órfão de pai e mãe desde cedo, mas que vai se tornando tão ambicioso que passa a ser proprietário de muitas terras. Por conta disso, já perto dos 50 anos, percebe que precisava de um herdeiro. Por algumas artimanhas, casa-se com Madalena para ter essa garantia. Ao se casar, age como se tivesse adquirido também a propriedade do corpo e da alma de sua esposa.

Enganara-se.

Madalena – que era “professora das primeiras letras – lia também “em estrangeiro”; logo, pelo acúmulo de suas leituras, ela compreendia a existência de forma humanitária, solidária e respeitosa, principalmente com os trabalhadores da Fazenda São Bernardo. Isso bastou para Honório considerá-la comunista.

Identificando-a assim, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. Mais: Honório tem auxílio de todos os que o circundam, exceto de Pe. Silvestre, que, em uma passagem sobre a calorosa discussão ideológica, sentenciara:

“(...) Quanto ao comunismo, lorota, não pega. Descansem: entre nós não pega. O povo tem religião, o povo é católico”.

Salvas as exceções, assim como Madalena, os professores brasileiros não pretendem (e nem têm armas para) implodir o capitalismo para a ascensão do comunismo, até porque já se sabe que o sistema vigente, por si, é autofágico.

Assim, a preocupação da maioria dos professores é, no máximo, compartilhar uma visão de vida mais humanitária e solidária, buscando minimizar as desigualdades, mas tudo dentro do modelo sistêmico.

Todavia, com a chegada do neofascismo ao poder central, até mesmo essa simples intenção pedagógica, sempre atrelada ao conteúdo das matérias, está ameaçada, pois, como dissera Gilberto Gil, na versão da música “Woman, no cry”, de Bob Marley, os hipócritas já estão “disfarçados, rondando ao redor”; alguns já estão imitando Silvério dos Reis, o delator vil da Inconfidência Mineira.

Como já “há perigo na esquina”, pedi aos novos professores que não privilegiem o seu EU. Neste momento de tormenta, semelhante a mares já antes navegados em nosso passado recente, o NÓS precisa estar no primeiro plano das ações nossas de cada dia.

Juntos, poderemos resistir às ações dos ignorantes e cruéis guardiões da ordem. Em cada escola, cada professor tem de ser solidário com o outro. Jamais ser traíra. Nunca aquele enunciado “mexeu com ele, mexeu comigo” foi tão importante.

Espero que ninguém, nos espaços de aprendizagem, se deixe vencer pelo medo, pois é verdadeiro que “a educação destrói ‘mitos”. Todos! Inclusive os recém-criados.  

Segunda, 20 Maio 2019 15:06

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Em algum momento no futuro, daqui a 50 ou 100  anos, alguém vai ler sobre como as pessoas que viveram no inicio do Século XXI, as gerações atuais, destruíram o meio ambiente de forma impiedosa, enfim o planeta terra acabou se tornando um espaço praticamente inabitável e então, através de relatos vão saber e  se lembrar que o nosso planeta era diferente, visto do espaço era considerado o planeta azul, era coberto de florestas, tinha uma rica biodiversidade, a poluição já era um problema que chamava a atenção de muitos, que as mudanças climáticas representavam um sério desafio , mas que governantes  e empresários irresponsáveis diziam que nada disso era verdade. Até mesmo as pessoas comuns com seu hábitos consumistas e com um desperdício de recursos naturais não renováveis também fizeram parte deste pacto de morte.
 
Antes dessa época, no final do século XIX ou durante a primeira metade o Século XX o convívio do ser humano com a natureza não era uma relação tão destrutiva, mas que nosso planeta praticamente foi destruído pela ganancia de empresários e grandes grupos econômicos, que em sua sanha destruidora deixaram um passivo ambiental impagável, uma herança maldita para as gerações futuras. O imediatismo era a bússola que orientava aquele processo destrutivo e irracional.
 
O modelo de desenvolvimento implementado, tanto sob a ótica do capitalismo predatório quanto de seu oposto, o socialista/marxista que imperou por muitas décadas simplesmente não contabilizava o custo ambiental, deixando para as futuras gerações muita degradação, desmatamento desenfreado, calcado em uma matriz energética suja, baseado em combustíveis fósseis e meios de transporte altamente poluidores. Nada disso era problema, desde que nas bolsas do “deus” Mercado as ações dos grandes conglomerados econômicos estivessem “subindo” sempre, pouco importava se o planeta estivesse dando mostras de verdadeiras “dores do parto”, clamando por mais respeito `a mãe natureza.
 
Aqui mesmo no Brasil, ecossistemas como MATA ATLÂNTICA e os PAMPAS praticamente não existem mais. A Amazônia, o Cerrado e a Caatinga estão sendo destruídas/destruído, e na esteira desta destruição surgem, não os desastres naturais, mas sim crimes ambientais como de Mariana, Barcarena, Brumadinho e outros mais. Rios como o Tietê, Pinheiros e outros mais já viraram esgotos a céu aberto. O Pantanal, um patrimônio natural da humanidade também está na mira da exploração predatória e da destruição iminente, tudo pela busca do lucro fácil e imediato. A baia da Guanabara, no Rio de Janeiro, há muitas décadas tem se transformado em uma grande fossa a céu aberta, onde, praticamente, todos os tipos de vida já desapareceram. O mesmo acontece com diversas outras baias de nossa extensa costa oceânica.
 
A reciclagem continua ausente, o lixo eletrônico, os plásticos, os esgotos urbanos sem tratamento continuam amontoados em lugares impróprios, os lixões, onde ratos, urubus, porcos e catadores de lixo que desfrutam de condições sub-humanas de vida e de trabalho, além de prejuízos bilionários também tornam a condição de vida miserável para milhões de pessoas. Esta é a realidade tanto do Brasil quanto de centenas de países subdesenvolvidos ou emergentes, de baixa e media renda, onde vivem mais de 78% da população mundial, ou seja, mais de seis bilhões de pessoas, considerando que a população mundial no final de abril deste ano (2019) é na ordem de 7,7 bilhões de pessoas.
 
A titulo de que é preciso fornecer alimentos, outros bens e serviços a uma população desta ordem e que continua crescendo, mesmo que em índices mais reduzidos do que acontecia há um ou dois séculos, deverá chegar a 10 bilhões dentro de poucas décadas, em 2050,  a voracidade empresarial não tem limites, pouco importando que os custos ambientais, que não entram nos cálculos do Sistema produtivo, deixando este passive ou “prejuízo” para as sociedades, enfim, para toda a população, enquanto os lucros frutos deste modelo de desenvolvimento continuem cada vez mais concentrados em poucas mãos, gerando pobreza, miséria e exclusão social. Modelo este que tem sido criticado por cientistas, estudiosos e também líderes políticos e religiosos como o Para Francisco, vide a Encíclica “Laudato Si”.
 
Se você pensa nas futuras gerações, não se cale ante a ganância de uns poucos que estão destruindo rios, florestas, lagos, mares e oceanos, poluindo sem piedade, destruindo as nascentes e todos os cursos d'agua, envenenando o solo e os alimentos com uma enorme quantidade de agrotóxicos, tudo em busca do lucro fácil, que não respeita a biodiversidade e nem mesmo os seres humanos, principalmente povos primitivos, ribeirinhos, quilombolas, pequenos agricultores e ambientalistas.
 
Demonstre sua preocupação e sua indignação, não se cale, faça alguma coisa hoje, agora, antes que seja tarde demais. Exija que os Governos Federal, estaduais e municipais definam e implementem políticas ambientais que possibilitem reverter esta sanha destruidora!
 
O tempo para construir um novo modelo de desenvolvimento que tenha como paradigma central, não o lucro imediato, mas a sustentabilidade e a transformação de hábitos de consumo perdulários, esta ficando cada vez mais escasso. Enfim, precisamos de um modelo onde a produção e o consumo sejam mais racionais e sustentáveis, enfim, o que é denominado de economia circular, onde o desperdício seja uma prática do passado.
 
De forma semelhante, precisamos de uma nova matriz energética, onde os combustíveis fósseis e as grandes barragens hidrelétricas sejam abolidas e substituídas por energia limpa e renovável, como a solar, a eólica e outras mais que já existem e estão disponíveis, mas que não são utilizadas de forma ampla devido aos subsídios que diversos governos, inclusive do Brasil, ainda concedem aos proprietários e distribuidores de energia, `as custas do meio ambiente e da população em geral.
 
Oxalá o nosso amanhã não seja mais uma grande tragédia irreparável!
 
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

Segunda, 20 Maio 2019 10:20

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

O atual presidente da República, Jair Bolsonaro, que ao longo de 28 anos foi deputado federal e participou do chamado “baixo clero”, grupo de parlamentares que pouco se destacam na defesa de causas consideradas importantes para o País, também sempre foi e continua sendo conhecido, amado por alguns e odiado por outros, por suas declarações que podem ser consideradas grosseiras ou fora da linha do razoável.


Se antes, como deputado já acumulava problemas, inclusive ações judiciais em consequência de suas declarações e ideias conservadoras, xenófobas ou racistas, como presidente da República, considerando que tal cargo exige a postura de um estadista, pessoa capaz de promover o diálogo tanto entre grupos quanto entre países em situações de beligerância, o “nosso” presidente continua falando como se ainda estivesse em campanha eleitoral, sempre estabelecendo as linhas de conflito, o que é denominado de “nós contra eles”.


Ao longo da campanha eleitoral alinhou-se a grupos e pessoas conservadoras, retrógradas ou o que é chamada de extrema direita no espectro politico e ideológico e, neste sentido, tanto o presidente quanto alguns de seus auxiliares diretos, como os ministros das relações exteriores, da economia, da educação, do meio ambiente, além de seus filhos que não poupam criticas azedas e injustas, não apenas contra adversários políticos, tidos e considerados como inimigos, alcunhados sempre de pertencerem ao “movimento comunista internacional”, mas também contra militares que participam do Governo, principalmente generais, escolhidos pelo presidente.


Parece que o grupo mais próximo do presidente, além dele próprio, carecem de luz própria e passam a ser utilizados por um ideólogo e astrólogo brasileiro, pensador da extrema direita, que vive nos EUA que alimenta uma campanha odiosa contra, não apenas parlamentares e integrantes de partidos de esquerda, incluindo alguns que se situam no espectro marxista como PCdoB, PSOL, em grau menor o PT, mas também contra outros partidos que se auto intitulam socialistas ou socialistas democráticos como PSB e PDT, todos, diga-se de passagem devidamente registrados segundo as normas que regem a organização política-partidária em nosso país, da mesma forma que o partido do presidente, o PSL, que se situa como de direita ou extrema direita. Ou seja, se são partidos registrados legal e legitimamente, segundo o ordenamento jurídico e constitucional brasileiro, deveriam merecer, no mínimo, respeito por parte do Presidente e de seus auxiliares e seguidores.


Há poucos dias, diante das manifestações que levaram milhões de estudantes, professores, cientistas, trabalhadores e gestores da área da educação pública às ruas e praças de nosso país, manifestações também legítimas e pacíficas, o Presidente, que parece não tolerar o dissenso, o contraditório, tanto é verdade que, juntamente com seu ministro da educação, pretende acabar com os cursos de sociologia e filosofia nas universidades públicas, fez mais uma de suas declarações estapafúrdias, dizendo que esses milhões de pessoas que se manifestam contra os cortes nos orçamentos das universidades federais, dos institutos federais de educação e no FUNDEB, que financia a educação fundamental e básica nos estados e municípios, o presidente disse que essas pessoas “são idiotas ou imbecis uteis e massa de manobra de partidos e movimentos de oposição”.


Enquanto isso, o Vice Presidente, Gen Hamilton Mourão, no exercício da presidência, entrevistado por jornalistas disse que as manifestações, desde que pacíficas, são legais e legítimas e inclusive fazem parte do jogo democrático, posição completamente oposta da defendida pelo Presidente.


Talvez seja por isso, que os chamados olavistas, seguidores do guru da extrema direita e que tanto tem criticado os militares/generais que estão no governo, por escolha pessoal de Bolsonaro, tem atacado de forma, as vezes, chula, esses militares, que são defendidos no Congresso por parlamentares que fazem parte da base de apoio do Presidente.


Logo a seguir, mesmo estando fora do Brasil, quando seu filho, que até bem pouco tempo era deputado estadual no Rio de Janeiro e atualmente é senador da República, e que teve seu sigilo fiscal e bancário quebrado pela justiça do Rio de Janeiro, a pedido do Ministério Público daquele estado, diante de indícios de crimes como lavagem de dinheiro, peculato e associação criminosa, o Presidente, em um sinal de prepotência, não se furta de voltar sua indignação contra o ordenamento jurídico do país, onde ninguém, inclusive senadores, deputados federais, estaduais, governadores e o próprio presidente da República, está acima das Leis da República. Pois bem, em total desrespeito ao Ministério Público e ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Bolsonaro disse que esta decisão da justiça “é um esculacho” e que isto seria apenas para atingi-lo.


Não foi sem razão que o Prefeito de New York disse que “nosso” presidente não era bem vindo `aquela metrópole internacional, quando estava previsto que o mesmo receberia uma homenagem aprovada pela Câmara de Comércio EUA x Brasil. Além da Prefeitura de New York, várias entidades negaram seus espaços para que a homenagem fosse realizada, bem como duas grandes empresas, incluindo a Delta Airlines também retiraram seu apoio, alegando que o presidente do Brasil tem defendido ideias homofóbicas e racistas.


A referida homenagem foi transferida para a cidades de Dallas, estado governado pelo Partido Republicano, mas que praticamente todas as suas maiores cidades são governados por prefeitos democratas, como é o caso de New York. Diante da manifestação crítica da Câmara de Vereadores de Dallas, contra o Presidente Bolsonaro, o Prefeito daquela cidade também considerou que “nosso” presidente não era bem vindo à cidade e que ele, prefeito democrata, não iria participar das homenagens.


Vale observar que, praticamente metade dos governadores e prefeitos das 35 cidades americanas com mais de um milhão de habitantes, 27 são governados por prefeitos do partido democrata; 2 por independentes e apenas 6 por republicanos, do partido do Presidente Trump e a Câmara Federal dos EUA também voltou ao comando dos democratas, portanto, o alinhamento automático e quase pessoal de Bolsonaro aos republicanos e ao próprio presidente Republicano, pode causar em algum momento no futuro outros dissabores ao nosso presidente, com repercussões negativas para o Brasil.


Há poucas semanas todos os últimos sete ministros do meio ambiente do Brasil se reuniram e aprovaram uma crítica severa `a politica ambiental do governo Bolsonaro, destacando que a mesma está contribuindo para a destruição dos ecossistemas, a degradação ambiental e a privatização de parques nacionais e área de proteção ambiental.


De forma semelhante, mais de 600 cientistas e pesquisadores europeus firmaram documento no sentido de condenar a politica ambiental do  governo do Brasil, principalmente, a possível saída do Brasil do Acordo do Clima de Paris, quando a Europa, a China, o Canadá, o Japão e outros países estão dando ênfase à questaãas mudanças climáticas e suas consequências sobre a vida no planeta. Governos da União Europeia estão, inclusive, aumentando substancialmente os recursos públicos a serem investidos para reduzir tais efeitos e reduzir/controlar o aquecimento global, enquanto no Brasil esta e outras áreas estão sofrendo cortes de recursos.


Se considerarmos os resultados do segundo turno das eleições do ano passado, quando Bolsonaro sagrou-se vitorioso; até final de maio já terão se passado 7 meses e, por incrível que pareça, até hoje o mesmo não conseguiu apresentar um plano claro e coerente de governo, com diretrizes e propostas para dar um rumos `as suas ações, que continuam sendo intempestivas, sem articulação, permeadas por conflitos internos, enquanto a economia continua se deteriorando e o tecido social se esgarçando, o único foco de seu governo tem sido a propalada reforma da previdência que, mesmo que passe no Congresso, não será suficiente para dar um rumo seguro ao país e recompor o equilíbrio fiscal, como não o foram a aprovação do teto dos gastos e a reforma trabalhista, “vendido/vendida” como a saída para a crise, o que não aconteceu.


Muitos analistas costumam dizer que já esta passando o tempo para que o Presidente Bolsonaro desça do Palanque eleitoral e comece a governar, diga a que veio, busque “pacificar” o país e não alimente ou fomente mais conflitos do que os presentes ao longo de década em nosso país. Que com Guerra ideológica não se constrói uma nação e que esta ideia de movimento comunista internacional, como ameaça `a democracia e ao Brasil é algo que foi sepultado quando da queda do muro de Berlim, há exatamente 30 anos.


Alguns costumam dizer que o Presidente precisa entender que Guerra ideológica só constrói fosso e nunca pontes que levem ao diálogo e à formação do consenso, condição fundamental para se construir um PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO, com crescimento econômico, justiça social ,igualdade de oportunidade para todos, inovação e modernização da gestão publica.


Vale relembrar que o maior milagre econômico das últimas quatro ou cinco décadas ocorreu em um país comunista, que é a China, que é o maior parceiro comercial do Brasil e o maior Mercado mundial. Como o Governo Bolsonaro vai alimentar uma Guerra ideológica detratando a ideologia comunista se nosso maior parceiro comercial é um país comunista?


Não tem cabimento que o Brasil faça um alinhamento automático com qualquer país, subordinando seus interesses nacionais aos interesses nacionais de outro ou outro países, simplesmente guiado pela dimensão ideológica, mesmo que este país seja uma super potência. Nossa politica externa deve ser baseado nos interesses nacionais, na soberania nacional, na defesa de nossos interesses, jamais de subserviência a outros países.


Quem puder ou tiver a oportunidade que pergunte ao presidente, a alguns de seus seguidores como isto pode ser feito, longe de qualquer alinhamento ideológico automático, que em última instância representa um novo tipo de colonialismo.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Quinta, 16 Maio 2019 20:02

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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O título deste artigo, antes de tudo, dialoga com as capas de Veja e Isto É desta semana.

Na capa de Veja, vê-se uma parede de um sanitário masculino, ilustrada com uma grande foto (em preto e branco) do rosto de Olavo de Carvalho, o principal mentor intelectual do presidente Bolsonaro.

Na mesma parede, fixados, há três vasos sanitários, destacados em vermelho. Um deles ocupa o lugar da boca da criatura fotografada, numa relação direta com o título “Revolução Escatológica”, inserido abaixo dessas ilustrações.

No lead da mesma capa, lê-se: “Com bandeiras radicais e fartura de palavrões, Olavo de Carvalho fustiga os militares e ganha o apoio cada vez mais evidente de Bolsonaro”.

Essa capa de Veja centra-se em episódios bizarros que só um boçal poderia provocar. Em um deles, Carvalho refere-se ao general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo da Presidência, como uma “bosta engomada”.

Fora isso, Carvalho sempre tem atacado o vice-presidente Mourão, que já se consolidou como o maior fantasma para o presidente; aliás, Mourão, na condição de fantasma de um governo tão medíocre, já faz mais estrago ao sono presidencial do que os comunistas que Bolsonaro insiste em enxergar nas universidades.

Por sua vez, a capa da Isto É também traz a fotografia de Olavo, mas usando um multicolorido chapéu de bobo da Corte. No título, surge sua perfeita identificação como “O imbecil”.

Aliás, “imbecil” é um daqueles termos que dispensam explicações em nossa língua, diferentemente de “boçal”, que, junto com “Nero”, no plural, ajuda a compor o neologismo do título deste meu artigo.

Embora “boçal” seja um termo antigo, ao contrário da popularização de “imbecil”, ele não se vulgarizou tanto. Por isso, resgatando sua origem e seu significado, vemos que “boçal”, no início da exploração portuguesa no Brasil, dentre outros preconceitos, referia-se ao escravo recém-chegado da África, que ainda não falava o português.

Por extensão, daquele tempo para cá, o “bocal”, independentemente de sua condição social, passou a ser aquela pessoa ignorante, rude, tosca, mesmo que, paradoxalmente, agora, fale o português formal com certa desenvoltura. 

E sobre Nero, o que dizer?

Que foi um polêmico imperador Romano, dentre 54 a 68 da era cristã. Que, a despeito de outras versões, por ser considerado demente, teria provocado o incêndio em Roma para se inspirar, poeticamente, e poder produzir um poema, como fizera Homero no episódio do incêndio em Troia. Reza a lenda ainda que, enquanto o fogo consumia a cidade, Nero contemplava a cena, tocando com sua lira.

Tudo isso posto, temos, assim, um resumo do governo que ora nos desgoverna. Sem identificar este ou aquele agente, a boçalidade de quase todos é de estarrecer. Em alguns, a boçalidade acaba elevando-os ao perigoso estágio da demência de Nero.

Essa condição tem feito alguns governistas, sem mensurar o tamanho do estrago para as gerações futuras, atacarem as universidades, que são os mais importantes pilares de uma sociedade.

Assim, depois de um corte linear de 30% por universidade, os Neros do governo ainda anunciaram cortes específicos nas pós-graduações.

Tudo isso junto e bem misturado tem começado a provocar indignação no meio acadêmico. A prova são as manifestações que já estão ocorrendo. Isso tudo poderá fazer explodir nova greve das federais. Se explodir, uma certeza se evidenciará: ela não será a catalisação de atos provocados por Neros da academia, mas por meros defensores de um dos maiores bens públicos de nosso país.

 

Sexta, 10 Maio 2019 09:55

 

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Roberto de Barros Freire*
 

Nosso presidente, saudosista e nostálgico dos tempos da ditadura militar, quer impor aos tempos atuais, o que de pior se obteve naqueles tristes tempos. Imitando a ditadura de 64, ele retira filosofia e sociologia, mas não apenas no ensino médio como fizeram outrora os militares, causando atrasos terríveis na formação do brasileiro: quer acabar com os cursos formadores de filósofos e sociólogos nas universidades, coisa que nem os ditadores ousaram fazer. Ignorante, rude, rústico, grosso acha que as ciências humanas são só marxismo, sem saber da multiplicidade de teorias e concepções que se abriga pelas infinidades de áreas e subáreas que habitam as humanidades.


No clima da ditadura, achando que há uma “conspiração” comunista no mundo, o discurso de Bolsonaro sobre educação é marcado pela perseguição a uma suposta doutrinação de esquerda, que seria predominante nas universidades, sobretudo nas ciências humanas. A luta contra o chamado marxismo cultural é a espinha ideológica do seu governo, fazendo ainda menção de forma genérica à área de humanas, que agrupa outros conhecimentos, como educação e psicologia. Esqueçam os 13 milhões de desempregados, o péssimo desempenho no PISA dos nossos estudantes, apenas cacem os comunistas!


É um equívoco achar que as ciências sociais não têm um papel importante na pesquisa nacional. Que se “perde” dinheiro nessas áreas, como atesta nosso ignorante presidente: nenhum país desenvolvido atingiu esse nível sem antes dar uma boa formação humanística à sua população, com filosofia, sociologia, psicologia, antropologia e artes. Sem esses conhecimentos as pessoas se tornam menos humanas, mais ignorantes e suscetíveis a se deixar levar pelos mais astutos, além, é claro, de contribuir para bestializar a sociedade. Sem esses conhecimentos não se pode criar políticas públicas para sanar os problemas nacionais, não se sabe sequer quais são de fato nossos problemas, cujo problema ideológico é insignificante diante de tantos problemas estruturais que nos cercam: a desigualdade social, a má formação educacional da nação, a violência.


Bolsonaro ignora o roubo de merenda, escolas sem estrutura, universidades quebradas, salários de professores achatados, falta de investimento para formação e treinamento, falta de recursos pedagógicos, falta de transporte nas escolas e acredita que o grande mal da educação e único problema é a "doutrinação” político-partidária. Da educação corta recursos, mas aumenta enormemente os gastos com as forças armadas, aumentando inclusive os salários dos militares, alegando uma suposta defasagem salarial, quando é mais gritante, público e notório a defasagem salarial dos professores, fenômeno historicamente persistente em solo nacional, afastando os melhores quadros das salas de aula, que não querem se submeter a tão baixa remuneração.


Desde que assumiu o governo, faz visitas regulares aos militares, mas nunca visitou uma escola que não fosse a militar, nunca elogiou ou se solidarizou com os professores das escolas públicas. Escolheu para ministro da educação dois incapazes, sem a menor formação pedagógica, sem militância na área educacional. Buscou ideólogos, não educadores. O atual ministro é economista especializado em previdência, e nunca escreveu ou pensou na educação, além de acreditar numa irreal conspiração comunista cujos membros estão por trás de toda imprensa e até mesmo nos grandes bancos, que dirá nas universidades. Sua carreira acadêmica é medíocre (consultem o seu currículo Lattes), sem ter boa formação e sem formar bons acadêmicos, visto ter militado quase que exclusivamente em instituições financeiras. Sua única intenção é destruir as universidades, para ele, um antro de comunistas.


Até o momento esse governo não deu uma bola dentro com relação à educação. Não encara seus problemas reais (evasão escolar, o baixo nível educacional, as péssimas condições educacionais do país, o baixo salário dos professores etc.), não se dispôs a ajudar os professores a realizarem uma boa educação. Pelo contrário, antes, desconfiando dos pobres dos professores, quer impor sua ideologia, atrasada, perigosa, arcaica e retrógrada. Como na ditadura, quer proibir ideias e excluir pensamentos das escolas. Não se combate as más ideias proibindo-as, mas debatendo em praça pública suas falhas e erros; ao se recusar ao debate apenas atesta a sua incapacidade de debater democraticamente, ou seja, respeitando as especialidades, e não decretando que todos são ideólogos e só ele é detentor da verdade. Um presidente que nega competência aos cientistas e se considera acima de todos e de tudo, acima até mesmo de Deus, não está preparado para dirigir uma nação, apenas para combates estéreis pelas redes sociais, que é o que mais faz.

 
*Roberto de Barros Freire

Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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