Segunda, 14 Outubro 2019 15:59

 

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
 

Alguma coisa deve estar errada com pessoas que se tornam fanáticas. Algo de errado está acontecendo e afetando o cérebro dessas pessoas. O fanatismo é uma doença mental e psicossocial que pode afetar profundamente, primeiro o cérebro de quem assim passa a pensar, sentir e agir, cometendo, inclusive crimes de ódio, como acontecia e ainda acontece com os nazistas, neonazistas, comunistas e, segundo, desvirtua as relações politicas, religiosas, culturais e econômicas.

A lógica das pessoas fanáticas é reducionista, totalitária, obscurantista, desvirtuada, se preciso for, até os princípios científicos devem ser ignorados e combatidos, além do menosprezo pelas pessoas que pensam de forma diferente e que devem ser combatidas diuturnamente e, em alguns casos,  até eliminadas fisicamente.

O pensamento e as ações das pessoas fanáticas não tem amparo na racionalidade dos argumentos e no embasamento científico, a única coisa que conta e que vale são suas verdades, tudo o mais é desprezado, afinal, as pessoas fanáticas, em algum momento da caminhada, imaginam-se semideuses, ungidos ou enviados por alguma divindade para salvar um país ou até mesmo a humanidade como um todo. Por isso, colocam-se, sempre, acima do bem e do mal e se transformam em ditadores e agentes do totalitarismo.

Além do fanatismo politico e ideológico, o que continua, praticamente explodindo nos dias atuais, inclusive no Brasil, é o fanatismo religioso, onde a intransigência dos falsos messianismos voltou a praticar o “crê ou morre”, que ao longo de séculos surgiu na expansão do cristianismo e, modernamente, com grupos extremados que, em nome do islamismo, do budismo e de setores de diversos cultos ditos adeptos do cristianismo, onde o desvirtuamento dos princípios cristãos, imaginam que apenas esta ou aquela religião ou corrente de pensamento religioso seja a única expressão da verdade. Esses grupos de fanáticos querem se apropriar das figuras divinas, o seu deus é o único, os deuses das demais religiões são falsos e errados.

Quando essas pessoas aliam fanatismo religioso com fanatismo politico, uma grande ameaça paira sobre cada pessoa, cada cidadão e pior, sobre a sociedade como um todo, essas pessoas desejam uma coletividade que deve seguir passivamente seus líderes, seus gurus e isto alimenta as práticas totalitárias e corruptas na sociedade.

As pessoas fanáticas buscam sempre um salvador da pátria, um messias que conduzam os fiéis para a terra prometida e, no caso da politica,  para um país maravilhoso, pouco importa a realidade com milhões de desempregados, uma violência cruel que ceifa vidas inocentes e uma corrupção endêmica, mesmo que isto imponha mais e maiores sacrifícios aos excluídos, aos despossuídos, aos marginalizados, `as minorias, os e as quais devem ser tratados como cordeiros rumo ao abatedouro.

Quanto mais obedientes,  submissas e alienadas forem as pessoas e as instituições, maior é o regozijo de quem adota o fanatismo politico e religioso como padrão de comportamento.

Todos os tipos de fanatismo carregam consigo a intolerância, a falta do respeito à diversidade de pensamento, de crença e servem de base para práticas como o racismo, as diversas fobias, o preconceito, como os que alimentam os grupos supremacistas brancos nos EUA e seus similares em diversos outros países, inclusive no Brasil.

Na cabeça da pessoa fanática, a única verdade que pode existir é a sua, o que ela pensa, todas as demais pessoas estão erradas em todos os campos do pensamento e das relações sociais; apenas a sua religião ou ideologia são verdadeiras, todas as demais são falsas e envoltas em heresias e práticas errôneas.

Podemos perceber fanatismo nas torcidas esportivas, nas correntes/seitas religiosas, nas militâncias politicas, no obscurantismo teológico e ambiental; na construção de tipologias que exaltam os mitos, os salvadores da pátria, na crença do super homem, que pode ser um politico, um líder religioso ou um guru ideológico.

A consequência do fanatismo é provocar o acirramento das relações politicas, culturais, religiosas e sociais, gerando e aprofundando os conflitos, suprimindo o diálogo e, por extensão, destruindo os princípios democráticos, facilitando o surgimento de líderes políticos e religiosos totalitários, autoritários e que acabam suprimindo as liberdades sociais, civis e individuais e perseguindo implacavelmente seus opositores que, para as pessoas fanáticas, passam a ser inimigos internos ou internacionais, como aconteceu por muitas décadas quando vigorava o espirito da guerra fria, que alguns fanáticos da atualidade tentam ressuscitar no Brasil e em diversos outros países.

Em nome do fanatismo, politico, religioso e ideológico, milhões de pessoas morreram e continuam morrendo mundo afora em tantas guerras e conflitos armados, em atentados terroristas. Milhões de pessoas tem sido obrigadas a fugir da violência desses conflitos irracionais, alimentados pelo fanatismo, que só servem para estimular a indústria da morte que é representada pelo complexo industrial-militar e pelos fabricantes de armas que jamais trazem  a tão sonhada segurança individual e coletiva, mas tão somente o lucro para quem as fabricam e comercializam.

É bom a gente começar a colocar “a barba de molho”, pois está em curso no Brasil o desabrochar de um fanatismo muito perverso que está aliando teocracia com autoritarismo, religião e politica, da caça `as bruxas, com a demonização de quem pensa diferente do figurino oficial, mesmo que este figurino esteja envolto em pensamentos e práticas irracionais, antiéticas, que cultuam a violência, principalmente a simbólica, como tanto faz o Presidente da República e seus seguidores que, com frequência além de exprimirem desapreço pela oposição, por quem pensa diferente, ainda se deixa fotografar, até em eventos religiosos e com criancas impunhando uma arma (de brinquedo) engatilhada, prestes a ferir de morte seus opositores, quase sempre considerados inimigos.

Só existe uma forma de se combater o fanatismo e a violência e esta forma é promovermos a CULTURA DA PAZ, do diálogo, do entendimento, da participação popular e democrática, jamais com o acirramento dos conflitos, sejam eles reais ou apenas simbólicos. Um país só está seguro quando propicia condições para que todos/todas sintam-se participes na construção de um projeto nacional que conduza a um futuro comum onde todos/todas participam da justa repartição dos bens e serviços produzidos social e economicamente, toda e qualquer forma de imposição representa fanatismo e violência.

A paz não é sinônimo apenas da ausência da violência, mas sim, da promoção do bem estar, da solidariedade, da equidade, da justiça social, da sustentabilidade e, como diz o Papa Francisco, com tanta ênfase, da promoção da ECOLOGIA INTEGRAL, na construção da civilização do amor e da sociedade do bem viver.

Vamos refletir mais profundamente sobre esses aspectos da realidade brasileira, isto pode apontar para outros caminhos que não sejam apenas os expressos  na vontade, na intolerância e fanatismo dos governantes de plantão, para a construção de uma sociedade realmente humana, solidária, justa e sustentável!

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Twitter@profjuacy  Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com
 

 

Quarta, 09 Outubro 2019 08:46

 

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Por Aldi Nestor de Souza*

Aí o Jair se acorda, numa manhã de segunda feira, numa segunda feira sem muitos planos, e apenas quatro dias após o resultado da votação, e aprovação sem nenhuma surpresa, da reforma da previdência no senado. E ainda com os olhos esbugalhados, antes mesmo de beijar a Michele, de verificar o cerzido da cicatriz, de dar uma mijadinha e de escovar os dentes, pega o celular e vai direto pro twitter.

E lá encontra a seguinte notícia: sindicatos e movimentos sociais, reunidos em São Paulo aprovam a seguinte consigna: “Fora maduro!”. A primeira reação foi a de achar que ainda estava dormindo, depois entregou-se a uma gargalhada. Mas, viciado e experiente nas questões de fake news, resolve tirar a história a limpo e liga pro seu rebento que mora na terra dorificada.

- Que história é essa, meu garoto, esses comunistas acham que me enganam?

- É isso mesmo, meu pai pai, reunidos em congresso, eles aprovaram o  “Fora Maduro” !

- Mas que mundo doido é esse?

- Não sei.

E aí o Jair, que não é dado em entender bem as coisas, acorda a Michele e manda ela chamar a avó dela, que sabe ler qualquer tipo de mão,  para pedir uma mãozinha e explicar o que diabos está acontecendo.

“ É uma loucura que nem eu, que sou doido, estou dando conta de entender, talkey!”.

E enquanto aguarda a chegada da avó de Michele, pega o telefone e liga pros Estados Unidos:

- Alô, aqui é o Jair, eu gostaria de falar com I love You.

- Alô, aqui não tem nenhum I Love You, não.

- Como, não? Aí é da Casa Branca?

 - Sim, é;

- Então, é claro que tem, pô. I Love You me disse que trabalha aí. Diga a ele que é o Jair, aquele da bandeira, que comprou o etanol de vocês, o pai do Eduardo.
O telefone é desligado do outro lado da linha.

Jair decide então ligar para o juiz Conje.

- Conje, bom dia, tá sabendo dessa história de “Fora Maduro” dos comunistas? Eles estão me copiando, isso é pauta minha. Faça já um processo! Ligue praquele seu sócio, aquele  rapaz que vende power point e peça um. Ligue pra televisão, praquela que você tem conchavo e faça uma reportagem. Anda logo!

- Farei isso, sim, patrão. Pode deixar!

Enquanto isso, liga pro Guaidó:

- Alô, bom dia, hermando, aqui é o Jair! Você está sabendo de alguma coisa, de algum golpe tramado pela esquerda brasileira?

- Alô, como estas Jair?

- Estão pedindo “Fora Maduro” aqui no Brasil, pô!

- Fuera, Maduro? No compreendo!

- Ah, então vá pro raio que o parta!

- Raio? No te entiendo, Jair!

Enfim, chega a avó de Michele. E já entra contando o resultado da eleição pra o conselho tutelar.

- Você viu, meu genro-neto? Demos de lavada, ganhamos em um monte de conselhos.

- Sim, é claro que vi, passei o domingo envolvido nisso. Mas hoje não quero saber de conselho tutelar coisa nenhuma. Eu quero saber qual é a armação desses comunistas. Jogue essas cartas aí, os búzios, seja lá o que for. Por acaso eles também estão de combinação com I Love You?

- Esquenta com isso não, Jair. Ninguém vai conseguir levar isso a sério.  Aquilo foi apenas uma reunião pra discutir se o coco é oco.  O povo tá é com fome, sem emprego, preocupado com uma bala na cabeça, sem ter onde morar, nas esquinas, nos semáforos, pedindo esmola. Tá cheio de mendigos, de retirantes, de estrangeiros, o escambau a quatro. O povo tá fodido.  Como você não liga pra isso, vá se preocupar com os milicianos, com os laranjas, com seus filhos e com esse pingo aí no seu pijama. Você tá se mijando, Jair?  
 

*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT
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Segunda, 07 Outubro 2019 09:34

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Durante meses a Amazônia esteve na pauta das discussões nacionais e internacionais. Apesar de que o desmatamento legal ou ilegal, as queimadas, as  terras indígenas e reservas florestais serem invadidas por grileiros, madeireiros, garimpeiros e a violência correr solta nesta vasta área brasileira e também de outros sete países que a integram, no caso brasileiro, desde a posse do Governo Bolsonaro esta realidade recrudesceu, tanto pelos discursos do Presidente teimando em dizer que a Amazônia , principalmente as terras indígenas e aa reservas florestais e ambientais estão atrapalhando o desenvolvimento do país quanto pelo sucateamento dos órgãos de fiscalização ambiental, situações que, em conjunto garantem a impunidade para os crimes ambientais.

As discussões ocorridas na reunião do clima que antecedeu a Assembleia Geral da ONU, mantiveram o tema aceso, com destaque para os pronunciamento da jovem ativista ambiental Greta Thunberg e as palavras do Secretário Geral da ONU que insistiram que os cuidados com o meio ambiente, principalmente o combate efetivo às mudanças climáticas não podem continuar sendo negligenciados por governos de países que se comprometeram com as deliberações do Acordo de Paris há poucos anos. Afinal, a adesão aos termos daquele acordo não foram de governos transitórios, mas de Estados soberanos e devem ser honrados, mesmo que nos países governantes venham a ser substituídos, como foi o caso com a eleição de Bolsonaro.

O atual governo brasileiro tem manifestado aberta ou veladamente que está preocupado com a realização do Sínodo da Amazônia, convocado pelo Papa Francisco há quase dois anos, em 15 de outubro de 2017, a realizar-se de 06 a 27 de Outubro de 2019. O lema da Sínodo é o seguinte: “Amazônia: novos caminhos para uma ecologia integral”.

Nas palavras do Sumo Pontífice, quando da divulgação do Sínodo o mesmo deixa claro que deseja reunir centenas de bispos, padres, religiosos/religiosas, leigos, leigas, representantes da população  da região da Pan-Amazônia, com assessoria de  estudiosos , preparando a Igreja para uma atuação mais profunda na defesa da região, das populações indígenas e demais habitantes da Amazônia.

O Papa Francisco naquela ocasião disse textualmente:” O objetivos desta convocação é encontrar novos caminhos para a evangelização daquela parte do povo de Deus, especialmente os indígenas, geralmente esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também para a causa da crise da Floresta amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta”.

Antes de adentrarmos no cerne do que poderá resultar deste Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia, é bom que entendamos o que significa sínodo no contexto da ação da Igreja Católica. De acordo com o documento da REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica, que deu organicidade aos trabalhos preparatórios para este Sínodo que se inicia neste 06 de Outubro de 2019, “Sínodo significa caminhar juntos em comunidade e na mesma direção para dar resposta a uma realidade muito importante para a Igreja”. Enfatizando, é afirmado que este caminhar deve ser feito com a efetiva participação de todos, para traçar os rumos com os povos que habitam esta vasta região. É, pois, um trabalho de equipe, liderado pelo Papa Francisco, que democraticamente, quer ouvir quem, de fato está com a mão na massa.

Com esta esta iniciativa o Papa Francisco alça o Sínodo na mesma posição que as conferências regionais, como por exemplo, a CELAM  - Conferência dos Bispos da América Latina e outras mais, ou até mesmo dos Concílios, como do Vaticano II, que deu uma nova cara e um novo rumo para a Igreja, abrindo as suas portas para, por exemplo, a teologia da libertação, muito temida há mais de 50 anos pelas forças conservadoras dentro e fora da Igreja. Vale a pena relembrar que o Papa Francisco tem enfatizado a ideia de uma “Igreja em saída”, uma igreja missionária e também profética, mais comprometida com os pobres e excluídos.

Por isso, o Sínodo da Amazônia, vai discutir tanto os temas internos da Igreja, voltados e adaptados para a Amazônia quanto temas da realidade desta vasta região onde a Igreja Católica, em todos os países, atua e tem presença marcante há quase 500 anos, tempo muito maior do que os períodos governamentais em cada país.

A igreja precisa estar presente na vida do povo e, como os profetas, tem que denunciar as injustiças e defender tais povos, que nesta região são mais de 300, representando diversas etnias, enfim, indígenas que tem sido explorados e violentados desde os tempos coloniais até a atualidade, além da população que nas matas, como os seringueiros ou nas cidades, nas periferias urbanas, continuam excluídos , vivendo no abandono, na miséria e toda sorte de discriminação.

O que tanto o Papa Francisco quanto os arcebispos, bispos, padres, religiosos, religiosas, leitos e leigas que estarão participando do Sínodo da Amazônia e milhões de fiéis que vivem na Amazônia, desejam é “uma Igreja com o rosto da gente amazônica”, jamais de costas para o povo e de braços dados com os poderosos e exploradores da região e deste povo que nela habita.

Por isso, temas como violência, trabalho escravo e semiescravo, narcotráfico, tráfico humano e de armas, miséria, exclusão social, prostituição, principalmente prostituição infantil; desmatamento legal ou ilegal, queimadas, destruição da biodiversidade, poluição, mudanças climáticas, mineração, garimpo, avanço das fronteiras agrícolas, desertificação, contaminação dos rios; grandes , médias e pequenas represas hidrelétricas e seus impactos na vida dos povos indígenas e demais agricultores que vivem há séculos em tais áreas, não poderão estar ausentes desses debates no Vaticano.

Existe também um tema que deverá ser discutido, de forma aberta ou veladamente, que é a soberania que cada país exerce, politica, econômica e militarmente, sobre o território amazônico que cada país possui. Enquanto os governos nacionais aguçam este assunto, com palavras de ordem nacionalistas, preocupados com uma possível invasão por parte de países estrangeiros, inclusive seus vizinhos, levando muitas vezes `as guerras como aconteceram no passado, até mesmo em passado recente, a Igreja pela sua vocação internacionalista e global, estará procurando articular a sua atuação para toda a área, seja pelo fortalecimento da REPAM ou mesmo a criação de uma Conferência regional para a Amazônia, nos moldes da CELAM e também o fortalecimento das ações pastorais, como por exemplo, que no Brasil são realizadas pela CPT – Comissão Pastoral da Terra, CIMI – Conselho Indígno Missionário ou a pastoral dos Pescadores e pastoral ecológica e do meio ambiente.

Apenas para relembrar, ocorreram guerras entre Chile e Bolívia, que acabou usurpando parte do território boliviano impedindo sua saiída para o Pacífico, guerras entre Peru e Equador; entre Colômbia e Venezuela, conflito entre Brasil e a Bolívia, resultando na “pacificação” e incorporação do Acre ao território brasileiro. Mas tudo isso já está, razoavelmente, “pacificado”, pois as fronteiras nacionais são aceitas por todos os países que integram a Amazônia.

Hoje, na atualidade existem duas dimensões quando se trata da Amazônia, a politica e econômica de um lado e a ideológica de outro, que estão sempre juntas, dependendo da orientação ou perfil ideológico dos governantes de plantão. Além da instabilidade politica que atualmente está acontecendo no Peru, no Equador e na Venezuela, existe também uma Guerra surda entre governantes com visões de mundo diferentes, o que poderíamos denominar de esquerda e direita. Este é o pano de fundo para entender as rusgas entre o Governo Bolsonaro e o governo da Venezuela, e deste último com o governo da Colômbia.

Não podemos esquecer que a Igreja atua em uma realidade politica, econômica, social, cultural, sociológica e étnica/antropológica concreta. `A medida em que se propõe a defender a justiça social, aprofundar seus ensinamentos contidos na Doutrina Social da Igreja, na Encíclica Verde (Laudato Si), a defender povos indígenas, pequenos agricultores, seringueiros, populações urbanas excluídas, poderá entrar em conflito com forças ponderosas internamente instaladas na região ou governos conservadores que favorecem a exploração e destruição da biodiversidade, das florestas ou dos recursos naturais da Amazônia, afetando diretamente o que o Papa Francisco denomina de povo de Deus.

Por último, para não tornar esta reflexão muito longa e enfadonha, quando de sua visita a Maldonado, cidade situada na Selva Amazônica peruana, há pouco tempo, o Papa Francisco assim se dirigiu `a multidão: “ provavelmente os povos amazônicos originais nunca foram tão ameaçados como agora” .

Por essas razões já expostas sobejamente em diversos estudos e documentos da Igreja e que embasaram a convocação do Sínodo dos bispos para a Amazônia, para a Igreja (Católica) a Amazônia é vista como um território único, integrado, apesar de que este imenso território seja ocupado por mais de 300 povos indígenas e não indígenas distintos, onde oito países exercem soberania, cada qual, sobre uma parte deste território. Alguns desses povos, que as vezes são chamados de nações, vivem em território de dois ou mais países, países esses que não se cansam de afirmar sua soberania sobre parte do território onde vivem esses povos, como no caso dos yanomamis, que vivem e ocupam áreas do Brasil e da Venezuela.

Este é um tema complexo, para evitar o que aconteceu na África onde as potências colonialistas dividiram territórios ancestralmente ocupados por tribos, criando conflitos políticos graves, quando o surgimento de estados nacionais soberanos criam empecilhos para a livre circulação dessas populações em seus territórios originalmente ocupados.

Enfim, durante três semanas os olhos e a atenção da Igreja , dos meios de comunicação e dos governos e população desses oito países que integram a Pan Amazônia estarão voltados para Roma, para o que estará sendo discutido e analisado no Vaticano. Com certeza o documento final deste Sínodo terá um grande impacto não apenas na vida e atuação pastoral da Igreja na Amazônia, mas também irá nortear a relação desta mesma Igreja em cada país, principalmente no Brasil, onde o Governo atual não se cansa de dizer que a Igreja, a CNBB podem vir a ser uma força que estimule a oposição ao seu governo conservador com orientação de direita, muito enfatizado em seus últimos pronunciamentos na ONU e em outras ocasiões.

Vale a pena acompanhar tudo isso bem de perto. Afinal, o que esta em jogo é o futuro tanto da Amazônia, que compreende mais da metade dos territórios dos países que a integram e onde vivem mais de 35 milhões de habitantes, a maior Floresta tropical do planeta, super importante não apenas para o desenvolvimento desses países, mas também para evitar as mudanças climáticas que a todos afetam e não apenas os países amazônicos.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso/Cuiabá. Sociólogo, mestre em sociologia, articulista e colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@perofjuacy

 

 

 
 
 
 
Quinta, 03 Outubro 2019 13:15

 

 

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 JUACY DA SILVA*

Costuma-se dizer que é próprio da juventude o inconformismo, a contestação, o espirito revolucionário, a inquietude. Só assim as mudanças tem acontecido e a humanidade tem conseguido avançar para novos patamares em todos os setores. Isto é o que é denominado de capacidade de produzirmos rupturas na ordem social, econômica, politica, social, cultural ou religiosa.

A alienação e o conformismo são as formas ideais para que a realidade seja mantida em proveito do status quo e de quem se beneficia com o  mesmo, tal como se apresenta em cada momento e em cada local e permaneça sempre do mesmo jeito, como se tudo estivesse parado no tempo.

Sem luta, sem protestos e sem o despertar do inconformismo o sistema escravocrata, o racismo e outras formas discriminatórias jamais teriam sido abolidos, o sistema colonialista ainda estaria vigente, as injustiças seriam perpetuadas para sempre. Sem inconformismo e luta os trabalhadores serão sempre escravos ou semiescravos, as mulheres jamais teriam conquistado seus direitos e por que não dizer, sem inconformismo, representado pelo ATIVISMO AMBIENTAL, a sustentabilidade jamais será alcançada, garantida e as mudanças climáticas aumentarão sua velocidade destruidora.

É por isso que surgem figuras, personagens que encarnam este espírito de luta, de inconformismo, de uma consciência ambiental ou social aguçada que não se calam. Daí o surgimento de figuras como MALALA, GRETA THUNBERG e agora um “Grupo que vai velejar da Holanda até a América do Sul para acompanhar a Conferência do Clima da ONU. Veleiro com 36 ativistas de 13 países diferentes sai da cidade de Amsterdã, na Holanda, nesta quarta-feira (2). Expectativa é chegar ao Rio no meio de novembro e seguir de ônibus até Santiago do Chile, onde acontece a COP25”. Além de acompanhar a COP25, em Santiago, o grupo também vai participar da Conferência da Juventude (COY15), que acontece em Valparaíso poucos dias antes da COP e deve reunir jovens de todo o mundo interessados no ativismo ambiental, conforme noticiam os veículos de comunicação.

Esta é uma matéria interessante que demonstra a importância do ativismo ambiental por jovens conscientes quanto aos danos ambientais que estão causando o aquecimento global e as mudanças climáticas e todas as consequências que atualmente estamos sofrendo, mas que serão muito piores dentro de algumas décadas, tornando a vida das futuras gerações um verdadeiro inferno no planeta terra.

Oxalá, a juventude do Brasil também possa despertar para as consequências da degradação ambiental e como os sistemas, os modelos e as práticas econômicas, que para produzirem bens e serviços e buscarem apenas o lucro estão de fato negligenciando os aspectos ambientais e da sustentabilidade, pouco se importando com o passivo ambiental que recairá sobre os ombros das futuras gerações, principalmente das camadas mais pobres dos países, como atualmente acontece.

Não podemos continuar com práticas que acarretem mais destruição, mais poluição, mais desperdício, mais ineficiência e mais aquecimento global, mais mudanças climáticas e todas as consequências que daí advém.

Não adianta a gente ficar reclamando das ondas de calor ou de frio, termos conhecimento de que grandes icebergs estão surgindo na Antártida, que as geleiras e as calotas polares estão derretendo e que isto  elevará do nível dos oceanos como os cientistas tem alertado e afirmado o tempo todo, que isto irá destruir milhares de cidades costeiras e desalojar dezenas ou centenas de milhões de pessoas, que as  secas se tornarão mais frequentes e muito piores, que as represas para abastecimento das cidades e das usinas hidrelétricas irão secar como já esta acontecendo no Brasil e vários outros países, que os furacões, os maremotos, as tempestades estarão mais presentes e que  também irão destruir não apenas a natureza mas também irão causar muito mais danos materiais e humanos como todos os anos assistimos pelos veículos de comunicação.

Devemos refletir sobre as fontes de energia que estamos usando, onde os combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) deixam também um rastro de destruição; sobre os nossos sistemas de transportes pouco eficientes e altamente poluidores, precisamos refletir e discutir como estão as práticas industriais com suas chaminés lançando bilhões de toneladas de gases tóxicos na atmosfera todos os dias, e como podemos reduzir a produção de lixo, reduzir o consumo e o desperdício?

Por que ao invés de desmatamento e queimadas irracionais e que tantos danos causam ao planeta e `a população nossos empresários, principalmente do agronegócio não param com tais práticas e procurem aumentar a produtividade de suas atividades, adotar novos modelos de produção; por exemplo, plantando florestas, praticando a agroecologia? 

Porque não mudarmos radicalmente a nossa matriz energética, utilizando mais as fontes alternativas como biogás, energia solar e eólica? Porque não investirmos mais em eficiência energética e maior racionalidade nas atividades produtivas? Porque ao invés de imaginarmos que o pré-sal é a “salvação” do Brasil, mesmo sendo uma fonte de energia suja, o Governo, a Petrobrás, os empresários, o BNDES e demais bancos não investem mais em energias alternativas e limpas?

Por que nossos prefeitos e governantes não participam de um grande projeto nacional para arborizar as cidades, criando verdadeiros filtros que ajudam a sugar os gases tóxicos que  são lançados e se acumulam na atmosfera ao invés de ficarem plantando umas poucas mudinhas só para fotos no dia da árvore? por que milhões de moradores das cidades, as construtoras e imobiliárias não plantam árvores ao invés corta-las impiedosamente?

Por que nossos governantes, engenheiros, arquitetos, planejadores urbanos não ajudam a planejar e construir casas, prédios comerciais e cidades que atendam, de fato, aos princípios da sustentabilidade ambiental?

Enfim, não podemos esperar de braços cruzados que governantes, que sempre tem se mostrado insensíveis quanto ao meio ambiente, de uma hora para outra se convertam em ambientalistas conscientes. Precisamos agir o quanto antes, principalmente a juventude, afinal os jovens, as crianças e adolescentes de hoje é que estarão sofrendo, dentro de uma, duas, três ou mais décadas as terríveis consequências desta destruição que estamos assistindo passivamente. Não basta reclamar, chiar, gritar, espernear; precisamos agir social, econômica e politicamente.

Baladas, shows musicais, malhação, academias, grandes eventos esportivos são maravilhosos, mas porque nossa juventude não desperta também a consciência para questões importantes como a proteção da biodiversidade, o combate às práticas criminosas ambientais, a defesa dos direitos das camadas populacionais que estão vivendo na pobreza, excluídas social, politica e economicamente?

Não podemos apenas nos comovermos e sermos solidários quando os crimes ambientais ceifam centenas de vidas, como em Mariana, Brumadinho e tantas outras catástrofes como nos morros do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife e tantas outras cidades. Precisamos agir antes que essas tragédias aconteçam. Isto também é ativismo ambiental. Nossos governantes e os organismos de controle e fiscalização ambiental não podem continuar omissos como tem acontecido, só agindo depois do prejuízo.

A alienação é uma forma de compactuar com toda esta degradação ambiental e exploração humana que presenciamos diariamente. A alienação politica, ambiental e social, representam uma omissão indefensável em relação ao nosso “futuro comum”, ao futuro do planeta, como tem dito com frequência o Papa Francisco, que dentro de poucos dias, no próximo domingo, 06 de novembro de 2019, estará abrindo o SINODO DA AMAZÔNIA, em Roma, discutindo com Bispos de todos os países, cujos territórios integram a PAN AMAZONIA essas e tantas outras questões de interesse público e não apenas da Igreja Católica.

Com certeza, se a Encíclica Verde (Laudato Si) iniciou um novo despertar da consciência ecológica no seio da Igreja Católica, mas cujo engajamento a nível de Arquidioceses, Dioceses e Paróquias ainda está muito longe do que pensa, expressa e deseja o Sumo Pontífice.

Uma das formas concretas deste engajamento e ativismo ambiental é, com certeza, a organização das pastorais ecológicas e do meio ambiente, para que, a partir de cada Paroquia, de cada comunidade passamos discutir e agir na defesa do meio ambiente.

Enfim, além de ler matérias, sobre questões ambientais cada pessoa precisa refletir sobre a realidade ambiental do mundo, mas também como está a realidade ambiental de sua cidade, de sua comunidade, de seu bairro, de sua rua; usando aquela máxima "pensar globalmente e agir localmente", atuar no "aqui e agora". A igreja disponibiliza um excelente método para tanto, o “VER, JULGAR E AGIR”.

Além dessas pastorais da Igreja Católica, espera-se que as demais igrejas, sindicatos, movimento comunitário, ONGs e outras organizações da sociedade possam participar desta cruzada em prol do ativismo ambiental, estimulando a juventude a participar mais das discussões e formas de atuação, diante da gravidade do que está acontecendo em relação  ao meio ambiente.

Este é o significado do ATIVISMO AMBIENTAL que está aumentando e que ganha mais força a cada dia, em que milhões de jovens mundo afora estão praticando e que tanto tem incomodado governantes, empresários que teimam  em degradar o meio ambiente e pessoas que fingem não verem o desenrolar desta catástrofe. Talvez isto possa contagiar a juventude do Brasil para um novo despertar ecológico planetário!

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Quarta, 02 Outubro 2019 10:48

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Estamos iniciando mais um OUTUBRO ROSA, mês dedicado ao despertar quanto à importência dos cuidados, da prevenção , de alerta e de combate ao CÂNCER DE MAMA, doença insidiosa que a cada ano assusta, apavora e também leva ao sofrimento milhões de mulheres ao redor do mundo.


De acordo com o último relatório da Globocan de 2018, Agência Internacional de Pesquisas em Câncer (IARC, sigla em inglês) no mundo no último ano foram registrados 18,1 milhões de novos casos de câncer, sendo que o câncer de mama representa 15% deste total, ou seja, 2,715 milhões de mulheres foram diagnosticadas com novos casos de câncer de mama.


Os vários tipos de câncer também, em 2018, levaram `a morte nada menos do que 9,6 milhões de pessoas e o câncer de mama foi responsável por 2,1 milhões de mortes de mulheres ao redor do mundo, milhares aqui no Brasil.


Isto demonstra que estamos diante de uma verdadeira tragédia humana. O jargão utilizado para suavizar esta tragédia tem sido o seguinte “câncer de mama, se diagnosticado precocemente, tem cura”. Todavia, o sucateamento dos serviços públicos de saúde, ante o descaso de governantes insensíveis aos dramas humanos, aliados aos altos índices de pobreza, falta de recursos financeiros para mais de dois terços da população brasileira e a desinformação tem impedido que milhões de mulheres consigam fazer regularmente seus exames preventivos. Ou então, muitas vezes, a demora entre o diagnóstico e o inicio do tratamento tem provocado a morte para  dezenas de milhares de mulheres que continuam sendo discriminadas e excluídas em seus direitos fundamentais que são a saúde e a vida.


Se não diagnosticado a tempo, seja por dificuldades financeiras ou pelo sucateamento do Sistema de saúde pública, pela falta de equipamentos, de medicamentos ou de vagas em hospitais, com certeza muitas vidas serão ceifadas, transformando-se em meras estatísticas oficias, ante a insensibilidade de governantes para quem a saúde pública é apenas gasto desnecessário ou invés de investimento em qualidade de vida, inclusive para a população pobre e excluída.


A Constituição Federal tem um artigo, o 196,  que afirma textualmente que “saúde é um direito todos e dever do Estado (ou seja, de todas as pessoas, independente da faixa etária, do sexo/gênero, status social, nível econômico, local de moradia, religião etc.), mas que no Brasil é algo que consta apenas no papel, como se diz, “para inglês ver”, essas mulheres vão fazer parte das estatísticas de “mortes por câncer de mama”

Apesar de que a prevenção é muito mais barata, menos onerosa, o descaso dos nossos governantes e o sucateamento do SUS continuam impossibilitando que dezenas de milhares de mulheres , todos os anos,  não tenham acesso a tais serviços de prevenção e tratamento, quanto se trata de câncer de mama ou outros tipos de câncer, incluindo também os que afetam os homens, crianças, jovens, adultos ou idosos.


Prevenção não se faz apenas com belos discursos e falsas promessas, mas sim com ações concretas e recursos humanos, materiais, orçamentários e financeiros.


Apesar disto, um grande progresso tem sido feito em termos de avanços tecnológicos e da medicina tanto em termos de possibilitar que o diagnóstico da doença seja feito precocemente quanto com o surgimento de novos medicamentos e outros insumos capazes de tratar, prolongar a vida e até curar o câncer de mama.


Dia 19 deste mês é dedicada ao que, há décadas, passou a ser considerado o DIA MUNDIAL DO COMBATE AO CÂNCER DE MAMA e no Brasil, também foi criado o DIA NACIONAL DE COMBATE AO CÂNCEER DE MAMA a ser observado no dia 27 de Outubro.


Todavia, além de ser o OUTUBRO ROSA, este mês tem datas importantes que devemos lembrar e procurar entender a realidade de cada dia de forma especial. Gostaria de destacar que  hoje, 01 de Outubro, é comemorando o DIA DO IDOSO, parcela da população que no mundo todo e em especial no Brasil tem crescido muito acima da média da população em geral.


Para, de fato, “comemorarmos” condignamente o DIA DO IDOSO precisamos ir mais a fundo na compreensão do processo de envelhecimento da população, com aspectos como violência contra o idoso, negligência, maus tratos, abandono, pobreza, isolamento, a precariedade da saúde física, mental e emocional desta parcela da população, enfim, qual a realidade em que vivem os idosos no Brasil de hoje e qual a perspectiva para o futuro, principalmente de milhões de idosos/idosas que vivem ou sobrevivem em meio `a pobreza, as vezes pobreza absoluta, miséria e esquecimento e todas as formas de preconceito.


A seguir relacionarei outras datas que devem ser observadas, oportunidade para refletirmos mais profundamente sobre cada uma delas e o significado das mesmas na nossa dinâmica social, politica, econômica ou cultural.


Além do DIA DO IDOSO, o 01 de Outubro também é considerado o DIA DA MÚSICA; 03 Dia do Dentista.


O quatro  de Outubro é dedicado como o Dia da Natureza, muito importante quando, por exemplo, no Brasil o desmatamento, as queimadas, os esgotos correndo a céu aberto, as habitações sem as mínimas condições como nas favelas, palafitas, alagados, encostas de morros, a poluição, o acúmulo de lixo, a falta de esgotamento sanitário, tudo isso leva à destruição da natureza e da biodiversidade, ameaçando a própria vida no planeta. milhões de pessoas vivem nessas condições e localidades, em total desrespeito aos princípios da dignidade humana e dos direitos humanos.


Está mais do que comprovado que a maior parte do desmatamento e das queimadas, por exemplo, acabam em áreas subutilizadas, com baixa produtividade. Se forem adotas práticas mais modernas, com uso de tecnologias tanto na agricultura quanto na pecuária os danos à natureza serão bem menores e pode-se, inclusive, aumentar o volume da produção através do aumento da produtividade.


Para tanto, são necessários maior apoio dos serviços de extensão rural, fomento e maiores investimentos em ciência e tecnologia voltadas a este setor, possibilitando tanto a redução da expansão das fronteiras agrícolas, quando a conservação da biodiversidade, sem perda da dinâmica econômica desta área.


Todos os anos no Brasil e em vários outros países,  milhões de hectares de florestas, cerrado e outras áreas são destruídos pelo desmatamento, legal ou ilegal, e pelas queimadas, gerando não apenas a destruição dos ecossistemas e mais poluição, mas também elevados custos econômicos e financeiros, públicos e privados, com enormes prejuízos para a economia e a sociedade.


O dia 05 de Outubro é a data em que, no Brasil, foi promulgada a Constituição Federal de 1988, considerado por Ulisses Guimarães como a Constituição Cidadã, que, nesses 31 anos foi tremendamente emendada, remendada e desfigurada em diversos aspectos, principalmente no que tange aos direitos fundamentais dos trabalhadores e grupos minoritários e excluídos da sociedade.


Os grupos dominantes, os marajás da República e os donos do poder sempre que podem emendam ou remendam a Carta Magna com o intuito de rasgar o pacto social que foi conseguido na fase da transição entre os governos militares ou ditadura e o que passou a ser considerado como Estado democrático de direito, ainda muito longe de ser concretizado, apesar de sempre ser enaltecido pelos donos do poder e demais mistificadores da realidade.


Dia 11 de Outubro marca a divisão do antigo estado de Mato Grosso e a criação do Estado de Mato Grosso do Sul; véspera do dia 12 de Outubro, dedicado às crianças e à Nossa Senhora de Aparecida, a padroeira do Brasil.


Dia 13 de Outubro é dedicado `as celebrações em homenagem aos profissionais da fisioterapia, profissão que a cada dia ganha mais importância na promoção da saúde das pessoas, ainda pouco representativa no sistema público de saúde.


Dia 15 de Outubro é devotado a homenagear uma categoria que, ao longo dos tempos tem sido vilipendiada, maltratada, incompreendida, violentada em todos os sentidos, desvalorizada por governantes insensíveis quanto à importância da educação que só pode ser feita com profissionais capacitados, bem preparados, bem remunerados e em condições ambientais propícias, com métodos e técnicas pedagógicas atualizadas que consigam despertar nos alunos o senso crítico e estimular a criatividade. Dia 15 de Outubro é o DIA DO PROFESSOR E DA PROFESSORA, que a cada ano tem menos a ser comemorado e muito mais a ser lamentado.


Quando a ONU estabeleceu como um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, um ou mais desses objetivos estão voltados diretamente para o resgate de mais de um bilhão de pessoas que ao redor do mundo passam fome ou são subalimentadas ou desnutridas, além de milhões que padecem com uma doença insidiosa que é a obesidade. Por isso, o 16 de Outubro é dedicado como o DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO, em meio ao desperdício de pouco mais de um terço de todo o alimento que é produzido no mundo, inclusive no Brasil, constiuindo-se em um grande paradoxo, destrói-se a natureza, desmata, queima para possibilitar o avanço das fronteiras agrícolas e ao final, tanta comida, que para ser produzida precisou de solo, água, insumos, tecnologia acaba sendo desperdiçada, aumentando a produção de lixo e mais poluição. Precisamos refletir mais profundamente sobre este desafio.


Neste mesmo dia também o mundo estimula que todos passamos realizar uma reflexão sobre o desenvolvimento do conhecimento, as novas descobertas, as invenções, a revolução que tem sido feita em todas as áreas das atividades humanas. Por isso, dia 16 de Outubro também é voltado para comemorarmos o DIA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Que tal refletirmos sobre este binômio: Alimentação, ciência e tecnologia x agroecologia e o meio ambiente?


Uma reflexão simples que vem à nossa mente é que um país que não investe com seriedade, como é o caso do Brasil ao longo de sucessivos governos, inclusive na atualidade, em educação, ciência e tecnologia está fadado a “perder o bonde da história’ e na divisão internacional do trabalho estará sempre na condição de colônia, ou seja, não terá a devida independência e será um eterno fornecedor de matérias primas naturais, minério, madeira ou animais (“commodities”), com baixo valor agregado e a continuar sendo mero usuário de tecnologias modernas importadas de outros países, em todas as áreas.


Resumindo, independência e soberania nacional não se faz com grandes desfiles civis e militares, tropas perfiladas, discursos inflamados, furiosos contra inimigos externos, no mais das vezes figuras imaginárias como os moinhos de vento Don Quixote, de Sancho Pança; mas sim com os investimentos necessários para que o Brasil possa dar um salto qualitativo como todos os demais países fizeram ao longo de sua história como, por exemplo, a Alemanha, o Japão, a Coréia do Sul, Taiwan; China e tantos outros que estabeleceram como prioridade de verdade a educação , a ciência e tecnologia, por varias décadas e hoje colhem os resultados.


Dia 17 de Outubro é considerado o DIA NACIONAL DA VACINA, aspecto super importante em meio ao sucateamento do SUS como um Sistema de saúde que deveria ser considerado modelo de fato, mas que está sendo cada dia mais sucateado, além de boatos/”fake news” tentando desacreditar as vacinas como fundamentais para a prevenção de inúmeras doenças que, se não vacinadas, podem acarretar morte, paralisia ou deficiências para o resto da vida.


O DIA DO MÉDICO é comemorando em 18 de Outubro, considerada a data do Nascimento de São Lucas, um dos discípulos de Cristo e que escreveu um dos evangelhos, segundo a tradição cristã. Esta também é uma data significativa, mas relembrar o papel deste professional da saúde é ao mesmo tempo refletirmos sobre o juramento do médico, cuja missão principal é salvar vidas e não transformar esta profissão em caminho para a apenas a acumulação de capital e riquezas.


Dia 26 de Outubro é comemorada a criação da CRUZ VERMELHA, instituição centenária, integrada por pessoas voluntárias com o objetivo nobre de atuar em áreas de conflitos, em meio a morte e destruição, em momentos e ambientes de catástrofes naturais, profissionais que trabalham sob pressão e risco da própria vida.


DIA 28 DE OUTUBRO, é dedicada ao resgate de um grupo de pessoas, de trabalhadores, que ultimamente também tem sido desrespeitados, desvalorizados, penalizados, vilipendiados, incompreendidos. Este dia é dedicado ao SERVIDOR PÚBLICO, em todos os âmbitos Federal, Estadual e Municipal.


Com o Congelamento dos gastos públicos até 2030, com a Reforma da Previdência e com a insensibilidade de nossos governantes, que tem como objetivo denegrir a imagem de milhões de pessoas que com denodo, dedicação, com baixos salários, sempre corroídos pela inflação, cujos reajustes sempre tem sido abaixo dos índices anuais do aumento dos preços de bens e serviços, ano após ano, o poder real de compra do salário dos servidores públicos tem sido menor, empobrecendo a grande maioria dos mesmos, além dos atrasos e parcelamento da remuneração, levando `a angústia e sofrimento de quem tem contas a pagar e antes do final do mês percebe que a grana acabou e não tem dinheiro sequer para as necessidades básicas como alimentação, aluguel e medicamentos, por exemplo, tudo isto levando ao endividamento dessas pessoas.
E assim, vai passando o Mês de Outubro até chegar o dia 31 dedicado às bruxas e também à poesia.


Oxalá passamos refletir de forma mais profunda sobre tantos aspectos importantes e significativos durante este mês de Outubro, buscarmos novos caminhos que libertem as pessoas e o país de tantos males, tantas tragédias e tanto sofrimento, enfim, de uma crise que a cada dia se aprofunda, com poucas esperanças de resgatarmos a dignidade e os direitos fundamentais da pessoa humana, centro e fundamento do que podemos considerar como desenvolvimento, equidade, solidariedade,  sustentabilidade e justiça social.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT; sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Twittere@profjuacy  Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com
 

 

Terça, 01 Outubro 2019 11:23

 

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
 

A degradação ambiental está se acelerando a olhos vistos no Brasil. Esta realidade é alimentada pelo sucateamento dos organismos e serviços de fiscalização, incluindo a redução dos recursos humanos, técnicos, orçamentários e financeiros dos mesmos e, ao mesmo tempo uma visão ideológica distorcida que ao invés de investir na fiscalização e ações preventivas, estimula, direta e indiretamente tais práticas criminosas.


Isto é uma forma de estimular práticas ambientais criminosas e passar a mensagem a tais criminosos que podem destruir, podem desmatar legal ou ilegalmente, podem queimar as florestas na Amazônia, no Cerrado, na Caatinga, nos Pampas, na Mata Atlântica e no Pantanal, podem invadir terras indígenas e reservas ambientais, podem matar ambientalistas e defensores dos trabalhadores rurais e dos direitos humanos, que nada vai acontecer, que a impunidade é um prêmio a quem destrói o meio ambiente e assassina seus defensores.


Ao longo dos últimos anos, com maior intensidade no atual governo , mesmo ante a precariedade em que sempre se encontrou o IBAMA, centenas ou talvez milhares de multas foram aplicadas, como, por exemplo, nos casos dos crimes ambientais cometidos pela mineradora Vale, em Mariana e Brumadinho, que até agora não pagou nenhuma multa e tantos outros crimes ambientais que ficam totalmente impunes na totalidade dos estados e municípios brasileiros, mesmo tendo sido autuados e multados pelo IBAMA ou órgãos estaduais e municipais.


Agora surge mais uma denúncia, oriunda do próprio IBAMA, de que as ações de  fiscalização na Amazônia não tem condições de serem feitas, mesmo em meio a tamanha crise, devido `a falta de apoio para tais ações, como noticiado pelos meios de comunicação.


Só falta esta agora, os órgãos públicos que tem o poder de policia afrouxarem a ação e seguirem a politica do Governo Bolsonaro, que pretende a qualquer custo sucatear os órgãos ambientais. O sucateamento da fiscalização ambiental é um incentivo por parte do Governo Bolsonaro e de governos estaduais que defendem, na verdade, não o meio ambiente, mas pela omissão e certa conivência, favorecem as ações de grileiros, garimpeiros, mineradoras, madeireiros e invasores de terras indígenas, quilombolas e reservas florestais/ambientais.


Existe um grande abismo entre os discursos dos políticos, governantes e empresários em defesa da Amazônia, do meio ambiente, da sustentabilidade, da justiça ambiental, dos direitos humanos e o que realmente está acontecendo no Brasil, que é  a omissão, a conivência e indiretamente  estimula a degradação ambiental, destruição dos ecossistemas e da biodiversidade e também a violência relacionada a esses aspectos.


Quem está dizendo ultimamente sobre esta realidade são os próprios  organismos públicos e não apenas ONGs ambientalistas e ativistas que sempre estiveram na luta por um meio ambiente que possa ser sustentável, permitindo  que as futuras gerações não tenham que pagar um pesado ônus pelo descaso dos governantes e práticas predatórias de falsos empresários, que não se importam de, em nome do desenvolvimento e do "progresso", deixarem uma herança maldita de terra arrasada como tem feito as mineradoras, madeireiros, grileiros e latifundiários no Brasil e ao redor do mundo.


Tudo isso tem consequências, tem um preço para as atuais e futuras gerações, a começar pelo impacto direto nas mudanças climáticas, no processo de desertificação,  na poluição do ar e dos cursos d'agua e no aumento dos desastres naturais, que a cada ano estão se tornando mais frequentes e mais destruidores!


É contra este estado de letargia e de alienação de boa parte da população, da falta de ação efetiva por parte dos governantes, tanto no Brasil quanto em outros países que a ativista ambiental, a adolescente GRETA THUNBERG e de outras vozes como do próprio Secretário Geral da ONU, que precisamos estar mais alertas, mais conscientes e também somarmos nossas vozes, nossas ações e indignação, enfim, colocar a questão ambiental em geral e a das mudanças climáticas em particular na ordem do dia, na agenda das discussões nacionais, estaduais e municipais.


Dentro de um ano estarão sendo realizadas eleições municipais, precisamos cobrar, acompanhar e exigir que a questão ambiental esteja no cerne, não apenas dos discursos mas também nos planos de desenvolvimento estratégico de cada município brasileiro. Só assim, teremos a certeza de que os eleitos vão agir tendo em vista a sustentabilidade, a justiça social e o desenvolvimento local integrado e participativo.


Precisamos pressionar para que os governos locais, municipais, estaduais e também o Governo Federal encarem a questão ambiental em geral e não apenas o desmatamento e queimadas na Amazônia e no Centro-Oeste, e que o meio ambiente seja uma  das prioridades na definição de politicas públicas em nosso país.


Precisamos voltar nossa atenção de forma mais aprofundada e mais critica para a Agenda 2030, em que todos os países se comprometeram a cumpri-la em  2015 e, para tanto, a realizarem ações para atingirem as 167 metas que fazem parte dos OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENÁVEL.


O Brasil não pode seguir sem uma politica ambiental clara, objetiva, coerente, com alcance de longo prazo, como parte de um projeto nacional de desenvolvimento. Não podemos continuar com ações imediatistas, orgasmicas, sempre “correndo atrás do prejuízo”, de forma improvisada, paliativa e descontinuada.


Isto demonstra que nossos governantes não tem capacidade para definir e implementar um planejamento estratégico e nem compromisso de longo prazo, pois, ao invés de pensarem nas próximas gerações, só conseguem pensar nas próximas eleições e em seus esquemas de perpetuação no poder, onde o caixa dois, a corrupção, as mutretas, as manobras para continuarem com seus privilégios, a partir de onde continuarão legislando em causa própria e facilitando a vida de grandes grupos econômicos que garantem suas eleições, os favores e benesses que o poder oferece a tais grupos econômicos em detrimento da imensa maioria do povo brasileiro que continua sendo excluído tanto das decisões governamentais quanto da distribuição dos frutos do desenvolvimento, razões maiores para a perpetuação da miséria, da fome, da injustiça e da violência em nossa sociedade.


Com o discurso de que o Estado brasileiro é muito grande, muito pesado, acabam justificando a inércia, a incúria e a falta de fiscalização em todas as áreas, inclusive ou principalmente em relação ao meio ambiente. Esta é a lógica que embasa a politica brasileira na atualidade. Estado mínimo e o máximo de exploração de quem fica à margem da sociedade.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Quinta, 26 Setembro 2019 12:16

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Conforme podemos ler na Bíblia Sagrada, tanto no velho quanto no novo testamento, os profetas tiverem um papel significativo na vida do povo de Deus. Eram eles que denunciavam as injustiças, as iniquidades, a corrupção dos governantes da época, que, lamentavelmente ainda está presente nos dias de hoje no Brasil e em tantos outros países.


Enfim, eram os profetas que abriam a boca e exortavam os donos do poder, os governantes quanto aos seus erros e a importância do respeito que a gente simples, os trabalhadores e excluídos merecem, que só com a verdade e com a equidade poderia ser construído um reino próspero e realmente humano.


A cada momento, principalmente os mais decisivos, os mais angustiantes, ao longo da história surgem os profetas para denunciarem tudo o que esteja errado, seja em um país ou na dimensão planetária. Por esta razão, os profetas e as profetizas falam as verdades que os potentados, os donos do poder, os governantes que se colocam sempre acima das massas, enfim, os poderosos e seus asseclas/aliados não gostam de ouvir.


Muitos profetas foram mortos ao longo da história, na vã ideia de que ao matarem os profetas suas mensagens iriam desaparecer. Mas foi o próprio Cristo quem disse, ao final de uma parábola, que “ Se calarem os profetas, até as pedras falarão”, querendo com isto dizer que ninguém consegue calar a voz da verdade, a voz da justiça, a voz em defesa de quem não tem voz e nem vez.


Sempre é bom lembrar de alguns desses profetas modernos, cada qual com sua voz defendendo causas relacionados com o bem comum, com a liberdade, com os direitos humanos, com a justiça social e contra todas as formas de exploração, preconceitos. Ghandi, o profeta da não violência que conseguiu libertar a Índia do jugo colonialista da Inglaterra; Martin Luter King que lutou contra a discriminação racial nos EUA, com sua celebre frase “Eu tenho um Sonho”, o seu sonho era de que um dia negros e brancos e pessoas de todas as raças e origens deveriam ser tratados igualmente; Chico Mendes que lutou em defesa da Floresta amazônica, que ainda hoje está sendo impiedosamente destruída e consumida pelas chamas; Malala, uma jovem que por sua luta na defesa dos direitos das meninas do Paquistão poderem estudar e agora, esta nova profetiza Greta Thunberg que está levando sua mensagem, que também é a mensagem de bilhões de pessoas preocupados com as mudanças climáticas, com o aquecimento global, com o derretimento das calotas polares e geleiras, com a insensibilidade e incúria da maioria dos governantes mundo afora.


Há dois dias, na última quarta feira, 25 de Setembro de 2019, um dos jornais mais influentes não apenas do Reino Unidos, mas também da Europa, o The Guardian, veiculou uma matéria sobre esta menina sueca, de apenas 16 anos, de estatura baixa, mas com uma voz ponderosa, dizendo que a mesma foi a estrela maior durante os trabalhos da reunião do clima, denominado de Ação Climática, promovida pela ONU, como o mais importante evento que antecedeu a Abertura oficial dos trabalhos da Assembleia Geral da mesma.


Segundo o The Guardian, esta adolescente, que não teve medo de cruzar o Oceano Atlântico da Suécia até Nova York, em um pequeno veleiro movimentada a energia solar, para vir a esta reunião da ONU e falar diante de governantes famosos, estrelas mundiais, poderosos e muitos também extremamente prepotentes, que imaginam saber de tudo, poder fazer tudo, ignorando até mesmo verdades científicas, como as de centenas de cientistas, na forma de alerta para a catástrofe climática que já estamos vivendo.


Foi exatamente nesta reunião, com o apoio decisivo do Secretário Geral da ONU, Antônio Guterres, que Greta Thunberg demonstrou sua coragem, sua determinação, sua capacidade de falar a verdade em qualquer lugar, sua tenacidade em levar a mensagem que ela e bilhões de pessoas acreditam quanto à urgência de que ações sejam tomadas por todos os governos e governantes mundo afora, para reduzir drasticamente os níveis de poluição do ar, o maior responsável pelo aquecimento global, pela emissão dos gases que provocam o efeito estufa, pelo aquecimento dos oceanos e aumento das catástrofes climáticas.


Em sua fala emocionada, que a todos os presentes e aos que a assistiram pelos meios de comunicação, demonstrou firmeza, coragem e preparo em uma área não apenas complexa mas também controvertida. Muitos céticos quanto às mudanças do clima que vivem envoltos no que eu denomino de OBSCURANTISMO AMBIENTAL ou ECOLÓGICO, além de não acreditarem na mensagem que Greta Thunberb está levando aos quatro cantos do mundo, ainda começaram a atacar esta profetiza do meio ambiente.


Já que não podem confrontar com a verdade contida em sua mensagem, tentam desconstruir sua imagem, invocando inclusive, de uma forma nada ética e até mesmo perversa que ela sofre de alguma doença, como o autismo, em uma demonstração de mais um preconceito contra milhões de pessoas que sofrem com esta doença ao redor do mundo.


Greta Thunberg disse na cara dos governantes presentes à reunião do clima da ONU e também através dos meios de comunicação aos que não estiveram presentes ou foram excluídos da reunião por não terem feito o dever de casa, como o Governo brasileiro; que a insensibilidade, a incompetência e o descaso dos mesmos em relação ao meio ambiente em geral e às mudanças climáticas em particular estão roubando a esperança não apenas das atuais, mas sim, das futuras gerações; que os modelos econômicos existentes na maioria dos países só induzem ao lucro imediato  e na acumulação de riquezas em poucas mãos em detrimento da grande maioria da população e do planeta, da biodiversidade, das pessoas; que esta insensibilidade e irresponsabilidade dos governantes estão matando as pessoas e destruindo irreparavelmente o planeta.


Disse que a cada ano, não apenas nas reuniões da ONU mas também em outros fóruns internacionais esses mesmos governantes ou quem os antecederam ou irão sucede-los falam bastante, proferem belos discursos, mas tudo não passa de palavras e as ações que poderiam mudar este roteiro de destruição e sofrimento não surgem e a cada ano as mudanças climáticas e suas consequências são maiores e muito piores, só não vê quem não quer.


Antes de sua presença e discursos na ONU, Greta Thunberg já esteve falando, dizendo as mesmas coisas, levando a mesma mensagem ante o Parlamento Europeu; participou de uma conferência do clima na Austrália; esteve com o Papa Francisco, com o Presidente Macron, da França e outros chefes de Estado e de Governo e tem concedido, talvez, centenas de entrevistas a canais de televisão, rádio ou outros veículos de comunicação, onde e quando não se cansa de levar avante esta sua cruzada que começou como algo despretensioso, uma menina franzina que todas as sextas feiras se recusava a ir a escola para ir protestar, silenciosamente, com um cartaz escrito a mão em uma cartolina ou pedaço de papelão, em frente ao Parlamento Sueco, dizendo “Greve nas escolas pelo clima”.


O resultado em pouco tempo, apenas um ano foram as grandes manifestações, reunindo milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo, mais de 500 cidades, inclusive varias no Brasil e também nos EUA e outros países, como aconteceu na última semana.


Dizem que a verdade incomoda, que a verdade dói, que a verdade provoca calafrios. É com a verdade que Greta Thunberg está alimentando sua mensagem em defesa da vida e do planeta, por isso, já está começando a sofrer ataques, injúrias e difamação por parte de pessoas e grupos ultra conservadores, que imaginam que em nome do progresso e do bem estar de uma minoria, seja nos diversos países ou no planeta como um todo, podemos destruir impiedosamente o meio ambiente, gerando mais pobreza, miséria e sofrimento.


Precisamos de centenas, milhares, milhões de Greta Thunberg neste momento de crise e calamidade ambiental, de destruição das florestas, de poluição do ar, de matrizes energéticas baseadas em combustíveis fósseis, de uso abusivo de agrotóxicos que estão afetando a saúde dos consumidores e matando milhões de pessoas.


Com certeza a voz e a mensagem de Greta Thunberg não vão ser ouvidas por grileiros, madeireiros que invadem terras indigenas, que desmatam as florestas, quem provocam queimadas como as que acontecem no Brasil, na Bolívia e outros países, por mineradoras e garimpeiros que retiram riquezas do sub-solo e deixam crateras e desastres como de Mariana, Brumadinho, Barcarena e outros mais; de latifundiáiros e portentados do agronegócio que se recusam a ver que o meio ambiente não pode ser apenas para uso e em busca de lucros imediatistas e também, esta mensagem não é ouvida por governantes de índole totalitária, que desejam apenas  os votos dos eleitores e depois, ignoram a população quando da definição e implementação das ações governamentais. Por governantes demagogos, que mistificam e destorcem os fatos e usam de mentiras e meias verdades para tentarem enganar a opinião pública.


Em todos os momentos de crise, quando os desafios são enormes que a muitos parecem impossíveis de serem vencidos, são nesses momentos que surgem os profetas e profetizas. Quando os profetas e profetizas são calados por quem quer que seja, principalmente as forças ponderosas dos interesses econômicos, com certeza outros profetas e profetizas irão surgir e ocupar o lugar de quem foi calado ou eliminados fisicamente, mortos, como tem acontecido com diversas lideranças indigenas, de trabalhadores rurais, de ambientalistas, religiosos e de quem tenha abraçado a causa dos direitos humanos como sua missão.


Por tudo isso, podemos ter a certeza, como bem disse Greta Thunberg, citação em ingles ““You are failing us. But the young people are starting to understand your betrayal… We will not let you get away with this… The world is waking up. And change is coming, whether you like it or not. We never forgive you, never” Traduzindo, dizendo na cara de diversos líderes mundiais presentes ao Encontro do clima da ONU, inclusive Trump que deu uma “passadinha”, mesmo antes tendo dito que não atenderia a reunião do clima, “Voces estão falhando. Nós, os jovens, estamos começando a entender a enganação de voces,  não vamos deixar voces escaparem disso…O mundo está acordando e as mudanças estão chegando, quer voces queiram ou não”  e para finalizar completou…”Nós não iremos perdoar voces jamais”.


Acessando o Youtube, podemos ouvir Greta Thunberg em suas diversas manifestações, ela traz uma mensagem forte, verdadeira, urgente, comovente e que chama a todos, crianças, adolescentes e jovens que representam as gerações que viverão em um mundo muito mais ameaçado pelas mudanças climáticas, pela degradação do meio ambiente e por idéias malévolas que são consideradas como OBSCURANTISMO AMBIENTAL.


Sua mensagem também é um apelo para adultos e idosos que já estão sofrendo com as mudanças climáticas e com o aquecimento do planeta, mas nem de longe podem imaginar o que realmente será o futuro, se nada for feito agora, com a urgência que esta questão nos impõe.


A omissão, a irresponsabilidade e descaso em relação ao meio ambiente, tanto por parte de governantes quanto de empresários e também da população, com sistemas de produção poluidores e hábitos de consumo perdulários, estão, na verdade criando um inferno  no planeta terra.


É sobre isto que esta profetiza do século 21 está levando sua mensagem de alerta quanto `a catástrofe ambiental em curso, mas, ao mesmo tempo, esta é uma mensagem de esperança, que, se ações concretas e não  belos discursos, como enfatizou o Secretário Geral da ONU, forem tomadas, de fato agora, ainda existe esperança para reverter este futuro sombrio anunciado.


*Juacy da Silva, professor titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy 

Terça, 24 Setembro 2019 10:19

 

 

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JUACY DA SILVA*

 

No Brasil, a Lei federal 11.133, de 14 de julho de 2005, instituiu o Dia Nacional de LUTA da pessoa portadora de deficiência, a ser observada ou “comemorada” como diz o texto da Lei, se é que os deficientes tem muito a comemorar, no dia 21 de setembro, que é também o Dia da Árvore, inicio da primavera, estação da esperança.


Por isso, o mês de Setembro, no Brasil, além de ser Amarelo, de alerta quanto à prevenção dos suicídios, é também o Setembro Verde, em reconhecimento à luta pelos direitos e a dignidade de mais de 52 milhões de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência ou com alguma limitação funcional. São mais de 6,5 milhões de deficientes visuais e outros milhões de deficientes físicos ou mentais, que, apesar da Constituição de 1988; das decisões das Assembleias Gerais da ONU, das recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde aos diversos países, inclusive o Brasil, destacando a importância do reconhecimento dessas pessoas enquanto seres humanos, tão dignos e tão humanos quanto a maioria da população que não tem nenhum tipo de deficiência.


No mundo , segundo a OMS, existem em torno de um bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência e isto representa 15% da população mundial.

 

Boa parte dessas pessoas nascem com tais deficiências, mas também boa parte deste elevado contingente humano, milhões de pessoas tornam-se deficientes devido à violência urbana, aos conflitos armados, `as guerras civis e guerras entre países ou atos terroristas que acabam dilacerando parcialmente a vida de outros milhões de pessoas, além de acidentes nos sistemas de trânsito e transporte, acidentes de trabalho e até mesmo acidentes domésticos que deixam milhões de pessoas mutiladas ou incapacitadas para o resto da vida, que passam a ser incluídas como pessoas deficientes.


Enquanto no Brasil o DIA DE LUTA em defesa dos direitos e da dignidade das pessoas com deficiência é “comemorando” hoje, 21 de setembro; a ONU, desde 1.992 estabeleceu 03 de Dezembro como o DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.


De forma semelhante a ONU estabeleceu desde 2006 que 03 de dezembro é também o dia da Acessibilidade, enfatizando que as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência também devem ser inseridas no mundo digital e não ficarem à margem dos avanços da ciência e da tecnologia, que cada vez mais está substituindo pessoas por máquinas na era da robótica, da inteligência artificial e da revolução nas comunicações. Se nada ou pouco for feito nesta área as pessoas com deficiência, seja pelas limitações advindas dessas deficiências ou pelas condições de pobreza e precariedade de renda em que vivem a grande maioria das pessoas deficientes, estarão mais excluídas ainda, é o que podemos chamar de exclusão digital e tecnológica.


Conforme  deliberação da Assembleia Geral da ONU de 1982 foi estabelecido  e aprovado o Programa Mundial de Ação a respeito das pessoas com deficiência. A Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência em seu artigo 25  enfatiza que essas pessoas devem ter acesso a saúde de  melhor qualidade, segundo as necessidades de cada tipo de deficiência e não apenas cuidados paliativos ou descontinuados, agravando sobremaneira as condições de saúde e de vida dessas pessoas , sem qualquer tipo de discriminação.


Além dos cuidados com a saúde, como um direito universal aos portadores de deficiência outro direito fundamental, que, lamentavelmente não tem sido cumprido integralmente são as questões da mobilidade e da acessibilidade. Tudo isso é dever do Estado prover e não através da caridade publica, como seu as pessoas com deficiência fossem párias sociais, como ocorria há séculos.


Basta darmos uma olhada em nossos hospitais e demais sistemas e unidades de saúde para constatar que a população pobre em geral e as pessoas deficientes, geralmente também as mais pobres não tem seus direitos e dignidade respeitados, são atendidos com negligência, as vezes com maus tratos, sem segurança, enfim, são discriminadas velada ou abertamente.


O mesmo acontece com a mobilidade e acessibilidade que é praticamente inexistentes na maior parte dos municípios e sistemas de transporte e de transito. As ruas não tem sinalização adequadas/sonoras para surdos ou pisos táteis para cegos, não tem faixas de pedestres, as calçadas são uma vergonha em todas as cidades brasileiras, com lixo, buracos, degraus, obstáculos de toda ordem, incluindo carros e motos estacionadas, material de construção e sacos de lixo amontoados nas referidas calçadas.


Tudo isto impede que as pessoas com deficiência possam ter o direito de ir e vir, direito `a mobilidade e acessibilidade tolhidos e desrespeitados, ante a complacência de governantes, gestores públicos e até mesmo ante o olhar complacente e omissões dos organismos de controle e defesa dos direitos dos cidadãos em geral e dos deficientes em particular como os Ministérios Públicos Federal e Estaduais e as defensorias publicas e conselhos de defesa correspondentes.


Ora, se existem Leis federais, estaduais e municipais, resoluções da ONU, convenções internacionais que o Brasil é signatário, regulamentos e normas como da ABNT, que estabelecem os direitos das pessoas com  deficiência e existem os órgãos de controle, os chamados “fiscais da Lei”, porque tudo é simplesmente ignorado e nada funciona? Porque as Prefeituras, os Estados e a União, como entes públicos também não cumprem as Leis e nem exercem o poder de policia?


Com muita frequência podemos constatar degraus, escadas e outros tipos de obstáculos, falta de rampas, falta de elevadores em edifícios públicos federais, estaduais e municipais,  escolas com obstáculos limitadores `a mobilidade de pessoas com deficiência, sem que nada disso seja corrigido e garantidos os direitos das pessoas com deficiência, como no caso de cegos, deficientes visuais, cadeirantes e outros mais que são discriminados nas escolas publicas ou outros organismos públicos, onde  documentos e livros não estão em braile, como deveria ser ou a falta de interpretes em libras, linguagem  de sinais para os surdos. Nas escolas existe uma ênfase para o aprendizado do português e de línguas estrangeiras, mas interpretes e o ensino da linguagem de libras e livros em braile não existem, isto caracteriza uma forma, dentre tantas outras que discriminam as pessoas deficientes.


Diante de tudo isso, com certeza este 21 de Setembro, e o próprio mês denominado de SETEMBRO VERDE, são e continuam sendo um momento de LUTA na defesa de milhões de brasileiros, que, por serem diferentes, nem melhores e jamais piores do que as demais pessoas, cujos direitos continuam sendo desrespeitados, sendo violados em sua dignidade como seres humanos e como cidadãos.


Esta luta não é para ser travada apenas pelas pessoas deficientes e seus familiares, mas é uma luta geral, que pede e exige o engajamento de todos e todas quanto almejam para nosso país uma sociedade calcada na justiça social, na solidariedade,  no amora o próximo, no respeito, na mobilidade, na acessibilidade e na cidadania plena para todos. Sem tudo isso, falar em estado democrático e de direito, soa como mais uma balela, um engodo!


Por isso, precisamos mobilizar mais a opinião pública, precisamos pressionar mais nossos governantes, gestores públicos e os organismos de controle para que cumpram e façam cumprir as Leis e demais dispositivos do ordenamento jurídico nacional e internacional, nossos governantes precisam governar realmente para todos e não apenas para grupos sociais, políticos e econômicos privilegiados. Não tem sentido os governos federal, estaduais e municipais abrirem mão de centenas de bilhões de reais a titulo de renuncia fiscal e subsídios creditícios a grandes empresas e alegar que não tem recursos ou dotação orçamentária para atender politicas sociais e de assistência social, onde geralmente estão os programas de atendimento `as pessoas com deficiência.


Ser pobre, miserável e deficiente no Brasil não é nada fácil, viver nesta condição é submeter-se a muitas formas de discriminação, humilhação, negligencia, maus tratos e desrespeito à dignidade humana.


Precisamos trazer à tona esta e outras discussões que tratam de fato dos direitos humanos. Alguém precisa dizer aos nossos governantes que direitos humanos não significam defender bandidos e muito menos vagabundos, como com frequência ouvimos de altas autoridades que deveriam zelar para que os direitos das pessoas com deficiência sejam plenamente respeitados, isto também é defender direitos humanos de verdade!


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
 

Segunda, 23 Setembro 2019 10:42

 

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
 

Na véspera do dia da Árvore no Brasil e em alguns outros países, no final de semana que antecede `a reunião de cúpula da ONU para tratar sobre as ações para manter o Acordo de Paris em vigor desde 2015, que antecedem a abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York, milhões e milhões de crianças, adolescentes, jovens e pessoas de todas as idades, conscientes de que estamos em meio a uma enorme tragédia ambiental mundial, gritaram aos quatro cantos do planeta que é preciso dar um basta às mudanças climáticas,  ao desmatamento e destruição não de umas poucas árvores, como os políticos gostam de, simbolicamente, plantar neste dia, mas sim, milhões de hectares de terra, bilhões de árvores centenárias, bilhões animais e plantas de espécies vegetais e animais estão sendo consumidos pelo fogo, não apenas na Amazônia brasileira ou boliviana, mas no cerrado e nos campos brasileiros, africanos, asiáticos e também o fogaréu que tem devastado grandes áreas na Europa e dos Estados Unidos todos os anos.


Os protestos desta sexta feira, dia 20 de Agosto de 2019, devem ficar na história como o início de uma grande onda de indignação das gerações mais jovens que não se conformam com a estupidez, a insensibilidade, a incúria, o descaso e a corrupção como os atuais políticos, empresários, as elites dominantes e diversas camadas populacionais alienadas agem como se o mundo fosse só deles e que podem tudo destruir e deixar para as próximas gerações uma terra arrasada pelo fogo, pelos agrotóxicos, pela poluição que estão envenenando todos os cursos d’água, poluindo os oceanos, destruindo a camada de ozônio e provocando o efeito estufa.


Enfim, quando vemos o Rio Tietê, em São Paulo, em mais de 160 km totalmente morto, a Baia da Guanabara  completamente degradada, quando cientistas e pesquisadores colhem dados e demonstram que as águas dos oceanos estão aquecendo, que as calotas polares e as grandes geleiras estão derretendo e que o clima está mudando, provocando grandes tempestades, grandes secas, enormes ondas de calor, esses lunáticas imaginam que desenvolvimento significa destruir todas as florestas, poluírem todos os rios, matar todos os animais, queimarem toda a biodiversidade e também escorraçarem todos os pequenos agricultores, as populações indígenas para construírem grandes barragens e permitirem que madeireiros, grileiros, latifundiárias, mineradoras e empresários inescrupulosos deixem um passivo ambiental, impagável, para as próximas gerações.


Não basta belos discursos ou o plantio de meia dúzia de árvores em gestos simbólicos de governantes e políticos que usam do obscurantismo ambiental, da demagogia e do cinismo como forma de ação politica.


O próprio Secretário Geral da ONU, Francisco Guterres, afirmou de forma clara que na Cúpula do Clima, chamada de Ação Climática que ocorre nesta segunda feira (23 de setembro de 2019), em Nova York, espera que Chefes de Estado e de Governo deixem em casa, ou seja, em seus países seus belos discursos, belos no sentido de discursos enganadores, mentirosos, mistificadores quanto ao meio ambiente e tragam para a mesa de negociações não apenas os planos em andamento e o que vão realizar no futuro, mas sim, também, relatórios com números concretos e verdadeiros do que cada país tem feito nesses quatro anos desde a assinatura do Acordo de Paris, quando praticamente todos os países se comprometeram a realizar diversas ações para combater, de fato e não de boca, de mentirinha, as mudanças climáticas.


Talvez seja por isso que o Brasil já foi excluídos de se pronunciar oficialmente nesta cúpula do Clima da ONU. No caso de nosso país, que esta literalmente dominado pelas chamas , pelas queimadas que estão poluindo o ar, afetando a saúde da população, causando prejuízos bilionários à economia e enlameando a imagem do país interna e internacionalmente, o Estado brasileiro e não o governo de plantão, se comprometeu ao aderir e assinar o Acordo de Paris, por exemplo, com a meta de “desmatamento zero”, tanto na Amazônia quanto no cerrado e nos demais biomas, mas o que se viu nesses oito ou quase nove meses de governo Bolsonaro  foi uma verdadeira catástrofe ambiental, facilitada pelo sucateamento de todo o aparato de fiscalização ambiental e desorganização dos organismos voltados ao meio ambiente como o IBAMA, FUNAI e quase a extinção do próprio Ministério do Meio Ambiente e um discursos mistificador, tentando enganar a opinião pública quanto aos estragos que este obscurantismo ambiental esta causando e irá causar muito mais em futuro próximo.


O discursos, os gritos de milhões de crianças, adolescentes e jovens e pessoas de todas as idades  nas ruas e praças de centenas de cidades ao redor do mundo como o maior protesto já visto, foi um só: “Os políticos vão ter que ouvir nossas vozes”.  O futuro nos pertence e precisamos defende-lo agora, não podemos deixar que as gerações atuais de governantes, empresários, elites dominantes e população alienada destruam o planeta inviabilizando a vida das gerações futuras. O futuro nos pertence e não a quem o esta destruindo o planeta agora, chega, basta!


Com toda a certeza essas mobilizações, juntamente com a voz e a pressão de alguns governantes conscientes da catástrofe ambiental que estamos vivendo e que se agravará ainda mais no futuro,  já estão sendo ouvidas em alguns países, como na França e na Alemanha, onde o Governo tomou a iniciativa de definir um plano de ação, que, por exemplo, que cria impostos sobre poluição e  incentivos para a substituição rápida dos combustíveis fósseis por energias limpas e renováveis como eólica e solar, penalizando o transporte individual poluidor por transporte publico de qualidade.


Aqui mesmo nos EUA, o Partido Democrata que se opõe às politicas de Trump, que abandonou o Acordo de Paris, tem feito debates entre seus pré-candidatos, inclusive um debate especial só sobre a questão climática. Um dos candidatos, o Senador Bernie Sanders, apresentou o mais consistente plano, com mais de cem paginas, como sua proposta ambiental, caso seja eleito, o custo deste plano seria de 16 trilhões de dólares e mudaria radicalmente a matriz energética, de transporte e de produção industrial e agricultura do país, possibilitando que os EUA possam cumprir integralmente o Acordo de Paris. EUA, China, Índia, Rússia e Brasil são os países que mais poluem e degradam o meio ambiente.


Exemplo bem recente é o do Parlamento Austríaco que vetou o acordo da União Europeia com o Mercosul, tendo como argumento central o desmatamento e queimadas no Brasil e outros países do Bloco; a manifestação de um fundo trilionário em dólares, que alertou grandes companhias e investidores que não irá negociar seus ativos se não mudarem suas ações e transações comerciais com países que estão destruindo o meio ambiente, ou seja, parece que uma tênue réstea de esperança está surgindo, alguma lucidez ainda existe nos atuais donos do poder em diversos países e na economia global.


No caso brasileiro, urge que o Governo Bolsonaro  defina uma politica nacional relativa ao meio ambiente como um todo e não apenas algumas medidas para tampar o sol com a peneira e direcionar a atenção da opinião pública para a Amazônia, mistificando o drama ambiental nacional por slogans que alimentam um falso patriotismo, quando na verdade está com uma enorme gana para entregar as riquezas da Amazônia para mineradoras internacionais, as mesmas que estão destruindo o meio ambiente em Minas Gerais, na Austrália, na África do Sul e tantos outros países, deixando como herança buracos, poluição, destruição e sofrimento humano, como de Mariana, Barcarena e Brumadinho, tudo de forma impune.


Urge que seja articulado um plano nacional com planos estaduais e municipais de meio ambiente, não apenas ações imediatistas, paliativas ou espetaculares, mas sim, planos estratégicos, de longo prazo, planos que tenham continuidade e não sejam interrompidos ou alterados a cada quatro anos por governantes que só pensam nas próximas eleições e jamais nas próximas gerações.


Este é o sentido dos gritos de indignação que ouvimos e vimos nesta semana e ouviremos e veremos muito mais a partir de agora.  Se as crianças, os adolescentes e os jovens se calarem agora, em um future próximo, como adultos, estarão gemendo e sofrendo devido à omissão e as consequências da destruição do planeta que esta ocorrendo a olhos vistos agora. Só não vê, só não sente, só não fica indignados/indignada quem está adormecido/adormecida na alienação e no obscurantismo ambiental.


Aqui cabe um pensamento indígena que li na internet há poucos dias que traduz uma mensagem profunda “Quando o último rio secar, quando o último peixe for pescado, quando os mares se transformarem em grandes lixeiras, quando o ar for irrespirável, quando a última árvore for cortada, quando os animais das florestas forem queimados vivos, só então as pessoas e os governantes vão perceber que não comemos dinheiro e nem bebemos veneno e que no caixão das pessoas humildes e também poderosas não tem lugar para ganância, para cartões de crédito, saldos bilionários em contas bancárias, muitas secretas em paraísos fiscais, privilégios, prepotência e pompas”.


Dentro de poucas semanas será também a ocasião em que ouviremos a voz da Igreja Católica, no Sínodo dos Bispos da Pan Amazônia, convocados pelo Papa Francisco para discutirem o que está acontecendo nesta vasta região e qual devera ser o futuro da Igreja na Amazônia, sob a perspectiva da Encíclica Laudato Si (A Encíclica Verde) e o que o Sumo Pontífice denomina de Ecologia Integral, uma matriz verdadeiramente revolucionária capaz de salvar o planeta, começando pela Amazônia e se expandindo pelo mundo afora.


As questões ambientais em geral e das mudanças climáticas em particular devem permanecer na Agenda mundial por um bom tempo, não adiante governantes omissos nessas questões chiarem, espernearem, a voz do povo será mais forte em todos os países, inclusive no Brasil.


Estamos, no caso do Brasil, na antevéspera das eleições municipais do próximo ano, oxalá a questão ambiental possa estar inserida nas discussões eleitorais e nas propostas dos candidatos a prefeito e vereadores. A oportunidade é agora para colocar, de fato, o meio ambiente como prioridade das politicas públicas e das ações governamentais, mudando, radicalmente o nosso futuro comum.


Vamos acompanhar bem de perto  as discussões da ONU tanto no Fórum Global do Clima, quanto no decorrer da Assembleia Geral e também o SINODO DOS BISPOS DA AMAZÔNIA. Muito chumbo grosso vem por ai, afinal, a MÃE NATUREZA pede Socorro!


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Quinta, 19 Setembro 2019 12:06

 


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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
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JUACY DA SILVA* 

Um jornal de grande circulação nacional, em seu caderno especial sobre a Natureza, nesta última sexta feira, 13 de setembro, trouxe uma reportagem/matéria especial, com fotos, com o titulo “Justiça não condena nenhum desmatador da Amazônia investigado pelo MPF nos últimos cinco anos”, tendo como base informações de autoridade que tem conhecimento de causa e responsabilidade pelo que disse.

Essas informações foram transmitidas ao repórter que elaborou a matéria estampada tanto no jornal impresso quanto veiculado em um noticiário televisivo, com grande audiência no horário nobre, da seguinte maneira “Procurador do Ministério Público Federal da força-tarefa da Amazônia diz que impunidade estimula a prática de crimes na região. Desde 2014 já foram feitas 10 grandes operações, mas ninguém foi preso.” 

Apesar disso, sempre que pode o Presidente Bolsonaro, seus ministros e alguns governadores criticam leis ambientais e a fiscalização dizendo que são práticas xiitas, caça níquel, fonte de corrupção e coisas do gênero e que tais organismos que deveriam fiscalizar estão infiltrados e aparelhados ideologicamente e cheios de pessoas que atrapalham o desenvolvimento, inimigas do agronegócio e outras atividades econômicas.

Diante disso e de tudo o que está acontecendo com o meio ambiente e a gestão pública no Brasil, a única conclusão a que podemos chegar é que está havendo muita impunidade e também grande omissão e conivência por parte de algumas autoridades e organismos públicos criados exatamente para proteger o meio ambiente e garantir a sustentabilidade, como um dos pilares do desenvolvimento nacional.

Essas são as verdadeiras causas e não apenas a falta de chuvas, de tanto desmatamento e queimadas no Brasil afora, que está, literalmente em chamas, não apenas na Amazônia  e no cerrado, os dois maiores biomas do país, mas em todos os demais biomas: Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica (praticamente já extinta) e nos pampas.

Além de uma legislação ser bastante frouxa  e que pouco ou nada punem quando dos crimes ambientais ( vide casos de Cubatão, Mariana, Brumadinho, Barcarena e de tanto desmatamento e queimadas ilegais), o sucateamento dos organismos federais, estaduais e municipais de fiscalização ambiental, a lentidão das providências por parte do sistema judiciário eivado de tantas manobras protelatórias que acabam facilitando a extinção da maioria das ações e multas aplicadas, demonstram aos criminosos ambientais: madeireiros, garimpeiros, mineradoras, grileiros e invasores de terras particulares e públicas, como parques nacionais, terras indígenas e reservas florestais, APAs, nascentes de córregos e rios, e seus parceiros, gestores corruptos nos organismos públicos, que o CRIME AMBIENTAL É COMPENSADOR para seus lucros imediatos.

Mesmo com esta frouxidão e com um tantos desmatamentos e queimadas que estão cada vez mais chamando a atenção do mundo e impondo sacrifício para a população, afetando a saúde pública, degradando o solo, acabando com a biodiversidade, todos os dias assistimos reportagens, noticias ou vemos imagens que chocam qualquer ser humano, enfim, denegrindo a imagem do Brasil interna e internacionalmente.

Repito, mesmo assim, nossos governantes, vem fazendo coro com o OBSCURANTISMO AMBIENTAL de alguns setores, ao redor do mundo, que não acreditam que as MUDANÇAS CLIMÁTICAS estão acontecendo e que o aquecimento global e a destruição dos ecossistemas sejam balelas, que nada disso existe, que são ideias fabricadas e uma guerra ideológica, para prejudicar o “desenvolvimento" de países como o Brasil, EUA e outros mais, alguns chegam até a dizer que tudo isto é uma invenção da China para ampliar sua influência e dominar o mundo.

Antes, a esta teoria conspiratória era baseada no perigo  do movimento comunista internacional, mas com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, o grande perigo mundial para essas pessoas continuam sendo o socialismo e o comunismo, capitaneado  principalmente pela China e seus novos satélites. E, neste contexto a questão ambiental faz parte desta teoria da conspiração contra a civilização cristã e ocidental.

Parece que para essas pessoas desenvolvimento significa destruição da natureza a qualquer preço incluindo a degradação dos solos, o envenenamento dos alimentos com uma carga imensa de agrotóxicos, a poluição do ar, tornando-o irrespirável, a transformação dos cursos d'água como os rios, os córregos, os lagos, as lagoas, o mar e os oceanos como temos presenciado cada vez mais.

Pior do que tudo isso, na visão dessas pessoas os indígenas, a população ribeirinha, os pequenos agricultores, os quilombolas, os ambientalistas, os defensores dos direitos humanos devem ser contidos ou até mesmo eliminados para não atrapalharem o progresso e os lucros dos empresários.

Somente com educação ambiental, com o despertar da consciência social, da cidadania e um freio nas maluquices de governantes insensíveis e descompromissados com a preservação ambiental e com a sustentabilidade teremos condições de salvar o Brasil e o planeta terra desta sanha criminosa e criar as possibilidades para um desenvolvimento verdadeiro que respeite a natureza, seja sinônimo de mudanças tecnológicas, que possibilitam aumento da produtividade sem desmatamento e uma distribuição equitativa dos frutos desse desenvolvimento e não apenas concentrando renda, riquezas e oportunidades nas mãos de minorias privilegiadas, enquanto milhões e milhões pessoas são excluídas e obrigados a viverem na miséria, com fome e excluídas politica, social e economicamente.

Degradação ambiental, destruição da natureza, extinção da biodiversidade, crimes ambientais, desmatamento e queimadas ilegais favorecem apenas apetites econômicos imediatistas e insaciáveis que, de fato estão colocando em risco o equilíbrio e a sustentabilidade do PLANETA TERRA e da MÃE NATUREZA, a começar pelo Brasil.

Um dia, todos e não apenas esses criminosos irão pagar esta conta, na forma de condições precárias do ar, das águas e do solo. Os indícios já estão surgindo nas mudanças climáticas, no aquecimento dos oceanos, no aumento de desastres naturais, na alteração do regime de chuvas, no assoreamento, a morte de rios e outros cursos d'agua; na falta d'agua e racionamento nos centros urbanos, nas represas que estão secando; nos oceanos que estão se transformando em uma grande cloaca e depósito de lixo mundial, nas migrações forçadas devido a desertificação e perda da fertilidade do solo.

Segundo dados da OMS, referentes a 2016,  só a poluição do ar matou em torno de 8 milhões de pessoas por ano no mundo, mais do que todas as guerras civis ou entre países, atos terroristas ou violência urbana juntas, mas parece que nada disso reduz a sanha dos criminosos do meio ambiente.

Volto a insistir, o Brasil, pela sua dimensão continental, pela abundância de recursos naturais não renováveis, pela riqueza de sua biodiversidade não pode se dar ao luxo de destruir, de forma insana o meio ambiente , mesmo que em nome do progresso, da soberania nacional ou do desenvolvimento. Tudo isso e, pior, invocando como justificativas, práticas predatórias de décadas ou séculos que em outros países e também no Brasil, promoveram um "desenvolvimento de terra arrasada", como a expansão desordenada das fronteiras agrícolas, a industrialização e urbanização de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e em diversas outros estados.
Exemplos como da morte dos rios Pinheiros, Tietê, Tamanduateí e todos os seus afluentes em São Paulo que se transformaram em grandes esgotos a céu aberto, que para serem despoluídos seriam necessários vários bilhões de reais ou da Baia da Guanabara e da Baixada fluminense que também são exemplos de destruição ambiental e tantos outros, como a transformação do Rio Cuiabá e seus afluentes  na maior rede esgoto a céu aberto do Centro-Oeste que já está contribuindo para a destruição do Pantanal.

Tudo isso, lamentavelmente, não tem servido de alerta para governantes incompetentes, omissos e coniventes que se sucedem nos postos do poder e que nada ou praticamente nada fazem para resgatar este passivo ambiental que a cada dia se torna maior e praticamente impagável. Esta é a herança que esta sendo deixada para as próximas gerações.

O tempo urge e não bastam ações improvisadas, intempestivas, paliativas e descontinuadas apenas para dar uma satisfação momentânea para a opinião pública nacional e internacional. Isto é o que eu denominado de aplacar temporariamente a fúria das massas, com a maestria que só os políticos e governantes demagogos sabem e conseguem fazer.

Afinal, se o Brasil é signatário da Agenda 2030 (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU e também da CARTA/ACORDO DE PARIS e outros tratados internacionais, significa dizer que o Estado Brasileiro e não o governo de plantão no momento desses acordos e tratados, assumiu pública e soberanamente diversos COMPROMISSOS INTERNACIONAIS indeclináveis, os quais deveriam servir de base para a elaboração de um PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO, que tenha por base a SUSTENTABILIDADE, a inclusão social e a justiça social, para que, de fato,  possamos nos orgulhar do país e dos governantes que temos, mas que ainda estamos muito distantes desta realidade, lamentavelmente!

Em tempo, transcrevo dois dos 17 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL aprovado pela ONU , dos quais o Brasil é signatário e que, diretamente tem, como se diz, tudo a ver com o que esta acontecendo na Amazônia, no Cerrado e demais biomas brasileiros.

Objetivo 13: “Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos”, objetivos 15: “ Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda da biodiversidade”.

Diante das cenas deste fogaréu, de imensas áreas destruídas, de nuvens negras de fumaça que sobem pela atmosfera, impossibilitando a população respirar ar puro ou sequer poder ver o sol ou a lua, animais fugindo ou mortos pelo fogo, podemos perguntar: será que os nossos governantes, passados e atuais, estão realmente fazendo “o dever de casa”?

Só quem está sofrendo, direta ou indiretamente, com esta CALAMIDADE AMBIENTAL, que se agrava ano após ano, pode responder a esta pergunta.

*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de veículos de comunicação. Twitter@profjuacy Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. blog www.professorjuacy.blogspot.com