Quinta, 21 Dezembro 2023 10:35


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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Texto enviado pelo Prof. Vicente Machado de Avila. 

TRIÁLOGO 51

(SEMEANDO REFLEXÃO PARA COLHER CIVILIZAÇÃO)

I – VATICÍNIO CHATO: No Triálogo 50 vaticinei que o Joe Biden perderá as próximas eleições.

CORREÇÃO: Na realidade ele está correndo o risco de perder o atual mandato. 

II – SÓ CIRURGIA VISUAL: Fazem 7 (sete) décadas que o machismo está em queda/debate. Porém, grande parte dos homens (inclusive jovens) só consegue enxergar a mulher-objeto. Talvez uma cirurgia oftalmológica possa fazer o homem ver na mulher um ser humano digno de respeito e AMOR.   

 III – CORAÇÃO

O que você não deve fazer com o seu coração: deixá-lo num arquivo ressequido/ressentido/esquecido. O que você deve fazer com o seu coração. Mante-lo vivo/ativo/afetivo. 

SEGUNDA PARTE – BESTEIROL

I – A força da violência: cadê seu marido? Sei não, a última vez que eu o vi estava sendo levado por um arrastão.

II – Bombas bombando: Os crimes de estupro e feminicídio estão bomdando nos noticiários. Quem quiser ver noticias de crimes ainda mais hediondos, e só mudar de canal.

FAMÍLIAS Socorro! IGREJAS – Socorro! SOCIEDADE TODA – Socorro!   

III – TRISTEZA POEMA: Haroldo Lobo e Niltinho.

Cantemos com Jair Rodrigues:

Tristeza
Por favor vai embora
A minha alma que chora
Está vendo o meu fim...

Fez do meu coração
A sua moradia
Já é demais o meu penar
Quero voltar aquela
Vida de alegria
Quero de novo cantar... ”

Aquele abraço,

Cuiabá-MT., 20 de dezembro de 2023. 

Professor Vicente Machado Ávila

Professor Aposentado UFMT

Quarta, 20 Dezembro 2023 08:30


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Texto enviado pelo Prof. Danilo de Souza 

A transição energética em curso não é para fontes renováveis
 

Recentemente, realizei uma simples pesquisa. Apliquei a seguinte pergunta a 50 pessoas próximas (diversas do setor de energia): “Existe uma transição energética em andamento, em que as fontes de energia renováveis ​​estão substituindo os combustíveis fósseis?”. Do total de entrevistados, 48 responderam sim a essa pergunta e outros dois afirmaram não saber a resposta. Aparentemente, eles não estão errados, afinal este é o discurso dominante nos meios de comunicação.

É importante observar que, quando falamos em energia, não nos limitamos apenas à matriz energética primária do setor elétrico, englobando também os transportes, processos térmicos industriais, dentre outros.

É um tanto quanto complexo definir o que é uma transição energética, pois a hermenêutica do vocabulário empregado permite compreender que, em uma transição efetiva, seria uma mudança completa da utilização de um recurso para outro. Na verdade, uma transição pode ser lenta, pode ser caracterizada pelo não aumento de um recurso e pela inserção de outro alternativo que com o tempo, passa a ocupar a parcela dominante da totalidade.

No século XIX, o carvão ultrapassou a biomassa no fornecimento da maior parcela do suprimento global de energia e, no século XX, o petróleo superou o carvão, ocupando a parcela principal no fornecimento de energia para manutenção dos Sapiens. Esses dois momentos até poderiam ser caracterizados com alguma racionalidade como adições de energia em vez de transições. Entretanto, essa seria uma visão equivocada, pois desconsidera o crescimento populacional. Essa análise só pode ser realizada em termos relativos (percentual) - em valores absolutos o consumo energético só tem apresentado crescimento – e não é difícil entender, pois éramos um bilhão de sapiens em 1800 e hoje (2023) somos mais de oito bilhões. Dessa forma, se analisarmos rigorosamente, uma transição energética efetiva nunca ocorreu, nem poderia, dado o crescimento vegetativo da população, o aumento da expectativa de vida e, felizmente, os avanços no consumo individual de energia e acesso aos bens. Assim, o que houve foram incrementos energéticos para atender à aceleração do aumento populacional. Agora, dentro do conceito de transições relativas, já passamos por duas e estamos caminhando para a terceira, que não aponta para as renováveis.

A primeira transição pode ser caracterizada pela substituição da lenha (biomassa) como combustível de maior utilização pela humanidade, desde o domínio do fogo. Foi trocada pelo carvão mineral, que se tornou a energia motriz da Segunda Revolução Industrial após o desenvolvimento comercial da máquina térmica no século XVIII, possibilitando assim um ganho extraordinário na capacidade produtiva. Desse modo, pode-se dizer que a primeira transição foi de uma fonte renovável para uma não renovável.

 

A segunda transição energética é concebida pelo processo de entrada do óleo de origem fóssil formado em rochas sedimentares ao longo de milhões de anos. O óleo, ou petróleo,  possui maior poder calorífico do que o carvão, estando em estado líquido, o que facilita o transporte e armazenamento, além de apresentar fluidez.

Ainda durante a Segunda Revolução Industrial, a energia do petróleo começou a ser usada mais intensamente a partir do desenvolvimento dos modelos comerciais do motor de       combustão interna, o qual é utilizado em carros até hoje. E é predominantemente no setor de transporte, onde o petróleo se mantém como recurso energético quase intocável até a atualidade. A mobilidade elétrica até o momento não apresentou uma ameaça tão grave a esse reinado, especialmente no transporte pesado. Nas utilizações não energéticas, o petróleo possui aplicações fantásticas, como nos setores de têxtil, solventes, química fina, agroquímica, polímeros (plásticos), etc.

Finalmente, a transição que estamos presenciando é, na verdade, a entrada mais forte do gás natural na matriz energética mundial, sobretudo a partir da metade do século  XX. O gás natural é composto por uma mistura de hidrocarbonetos leves, como metano, etano, propano e butano. E por esse motivo a queima é menos impactante que a do óleo e do carvão, no que se refere às emissões. Atualmente, o gás natural já representa aproximadamente 25% da matriz energética mundial.

A inserção do gás natural na matriz da geração de energia elétrica representou um importante aumento de eficiência em relação ao óleo e carvão, pois parte das novas plantas operam em ciclo combinado, com eficiência global passando da média de 30% do ciclo simples para valores na faixa de 55 a 60% em ciclos combinados. O gás natural também desempenha papel relevante no aquecimento em países frios e ainda na cocção (cozimento) de alimentos.

Outra característica importante do gás natural é a capacidade de armazenamento, pois é flexível, possibilitando, assim, a complementariedade com as fontes renováveis, que operam nos fluxos, sem a possibilidade de armazenamento direto para despacho nos momentos adequados.

Mas, onde estão as fontes renováveis?

Em 2021, as fontes renováveis, desconsiderando a lenha, foram responsáveis por 5,7% do total de energia primária. Se a lenha (biomassa) for considerada, o total de renovável pode chegar a 12%. Ou seja, podemos afirmar que o que tem ocorrido é a inserção de novos projetos de geração de energia a partir de fontes renováveis, mas isso não representou uma ameaça à supremacia dos combustíveis fósseis. Pelo contrário, eles continuam dominantes na matriz energética mundial.

 

Se as transições energéticas ocorridas até este momento podem ser descritas como adições de novas fontes de energia no mix, sem renunciar às anteriores, as renováveis demorarão algumas dezenas de anos para representarem 50% da matriz energética mundial.

Existem diversos motivos pelos quais as fontes de energia tendem a não competir fortemente umas com as outras. Uma das principais razões está relacionada à estrutura das economias de mercado, que são impulsionadas por uma dinâmica de crescimento em busca de lucros, e não por uma preocupação por conservação. Nesse sentido, na maioria das vezes as novas fontes/tecnologias de conversão não são disruptivas, mas são adicionadas de forma a se acomodarem no colchão global de energia. Assim, historicamente, elas entraram para somar, e não para substituir as antigas.

Para não desanimar os colegas, é absolutamente possível que a transição dos combustíveis fósseis para a energia renovável esteja em seus estágios iniciais, rompendo com o padrão histórico discutido aqui. Afinal, no passado, as nações, indústrias e o público não estavam tentando reduzir o uso de nenhuma fonte de energia em particular, mas simplesmente buscando maneiras de fornecer mais energia. E, nos últimos anos, uma grande parte do mundo reconheceu claramente que a mudança climática global é uma séria ameaça para as sociedades, e que uma redução acentuada no uso de combustíveis fósseis é necessária para minimizar a sua gravidade. Nesse contexto distinto, talvez haja motivos para um tímido otimismo de que veremos em poucos anos uma transição energética no sentido pleno da palavra, em que as fontes renováveis ​​de energia realmente venham a substituir os combustíveis fósseis. Entretanto, neste momento, isso não está ocorrendo.

Danilo de Souza é professor na FAET/UFMT e pesquisador no NIEPE/FE/UFMT e no Instituto de Energia e Ambiente IEE/USP.

Segunda, 18 Dezembro 2023 10:14


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Eleições UFMT/2024: A ‘pós-verdade’ dos pós-modernos 

Professora e pesquisadora do Departamento de Sociologia e Ciência Política (SOCIP) e do Programa de Pós-Graduação em Política Social (PPGPS) da UFMT.
Membro do Núcleo de Pesquisa MERQO/CNPq e do GTPFS/ADUFMAT/ANDES-SN. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. 

           
            Todo processo eleitoral é bastante intenso. Às vezes, tenso. A intensidade e as tensões eleitorais, entretanto, não justificam o jogo do “vale tudo”. Até porque, se tudo vale, efetivamente, de nada vale!

            Desta forma, o jogo eleitoral não representa ausência de regras e de ética eleitoral. Consequentemente, compactuar ou fazer uso de métodos e recursos eleitorais que desrespeitem as bases elementares da disputa não é tolerável, pois os processos eleitorais não desvelam apenas os programas e os compromissos públicos assumidos, mas, também, a forma e o método dos concorrentes; e, por conseguinte, como aqueles que pleiteiam o poder se comportarão no exercício do cargo. Neste sentido, as eleições para a Reitoria da UFMT têm revelado muitas coisas.
            Lamentavelmente, temos assistido a um ex-diretor da ADUFMAT (que, inclusive, explorou essa condição para angariar votos em eleições anteriores), usar de declarações inverídicas contra o Sindicato para justificar suas próprias ações. Assim tem sido a postura do Reitor-candidato no processo eleitoral 2023. Em duas frentes de acusações, atribui à ADUFMAT tanto a paralisação da discussão sobre a Resolução 158/2010 nos Conselhos Superiores quanto o processo eleitoral ilegítimo que o elegeu em 2020.
            O problema dos adeptos da pós-verdade é que as tais ‘narrativas’ acabam tendo que enfrentar os fatos e os registros da história. Por mais que seus promotores continuem a acreditar que uma mentira, diversas vezes repetida, possa converter-se em verdade. Entretanto, apesar do esforço para gerar “narrativas”, os fatos podem ser documentalmente checados.
            Primeiramente, importa registrar que a relação dos trabalhadores com seus respectivos sindicatos (independente da categoria profissional) deve ser, no mínimo, de respeito à entidade sindical. No caso da ADUFMAT, esta construiu uma história de mais de 40 anos que a credencia como um Sindicato comprometido, combativo e dedicado aos interesses da categoria docente.
            Desta maneira, causa tristeza e revolta que um colega (que, circunstancialmente, exerce o cargo de Reitor) faça acusações infundadas ao Sindicato do qual faz parte e, inclusive, atuou como Diretor.
            Assim, não bastassem as tentativas (iniciadas por Maria Lúcia Cavalli e continuadas por todas as Reitorias) de banir as sedes das entidades sindicais(ADUFMAT e SINTUF) dos campi da UFMT, ede promover parlamentares (e promover-se através deles), cuja atuação é dedicada ao desmonte da Universidade que diz defender, o Reitor-candidato tem repetido que a ADUFMAT, judicialmente, impediu a discussão da Resolução 158, causando prejuízo aos professores.
            Ora, a judicializaçãodos encargos docentes foi provocada pela dupla ação das Reitorias que o Reitor-candidato fez parte (seja como Vice, seja como Reitor interino, seja como Reitor empossado): a primeira, na Administração deMiriam Serra/Evandro Silva (2016/2020), quando de forma arbitrária, a discussão foi paralisada dentro do CONSEPE, apesar dos apelos de conselheiros para sua retomada. O que implicou em vários anos na modalidade stand by.
            A segunda, já sob a gestão de Evandro Silva/RosalineLunardi (2020/2024) -e repetindo a arbitrariedade como método -, a apreciação da Resolução foi repassada para outro Conselho (CONSUNI). E, apesar de todas as tentativas de devolver ao CONSEPE a discussão que lhe é de competência, a Reitoria fez ouvidos moucos, insistindo em prosseguir com a discussão no Conselho Administrativo, desrespeitando a própria legislação.Por isto, a ADUFMAT entrou com pedido de liminar. E tanto tinha razão quanto ao Conselho competente para analisar, propor e deliberar sobre os encargos docentes, que a Liminar foi concedida.
            A outra acusação desprovida de qualquer base fática é aquela que atribui às entidades a responsabilidade pelo processo eleitoral de 2020, no qual sagrou-se Reitor. Processo aquele eivado de problemas que, com absoluta certeza, não foram provocados pela ADUFMAT, pelo SINTUF e/ou pelo DCE. Afinal, alguém esqueceu a fatídica Reunião dos Conselhos[1], realizada no dia 17 de junho de 2020, sob a coordenação pouco democrática do Conselheiro-Diretor Luiz Scaloppe? Esta Reunião não foi apenas traumática pela forma e pelo método, mas, fundamentalmente, pelo conteúdo. Nela, a história do voto paritário entre as categorias que compõem o Colégio Eleitoral da UFMT, há anos respeitada, foi colocada no chão. Registre-se, portanto, que a Lei n. 9.192/1995 estava vigente há anos. E, assim como era decisão política o voto paritário entre as categorias, também foi política a decisão de, em nome da Lei, realizar uma eleição em que o voto docente equivale a 70% e os votos de servidores técnicos e estudantes, equivalem a 15% cada categoria. Por isso, as Entidades não organizaram o processo eleitoral e, inclusive, denunciaram o processo eleitoral de 2020 como ilegítimo.
            Para além das ‘narrativas’ pós-verdade tão ao gosto da cultura pós-moderna, em que os fragmentos parecem revelar a totalidade dos fatos, assim, também, a campanha eleitoral do Reitor-candidato tem feito uso de fragmentos de imagens e discursos para tentar justificar suas ações, fazendo uso da difusão ‘narrativas’ nas quais o que efetivamente fez - e   faz- pretende transformar-se no seu contrário; ao mesmo tempo em que tenta promover o apagamento da coerência histórica de seus adversários.
            Concluindo, os debates são momentos excelentes para que as propostas (programa) sejam apresentadas e conhecidas, mas, também, para que a trajetória dos/as candidatos/as seja exposta. Afinal, coerência é uma qualidade fundamental. E a melhor forma de se inferir qual o grau de confiabilidade dos/as candidatos/as é analisando a história que construíram à frente dos cargos que ocuparam.
            Virar as costas ao próprio passado, transformando seu sindicato em adversário, através de narrativas construídas na base da pós-verdade, com certeza, não é uma boa alternativa para quem disputa ou para quem vota.

 

Quinta, 14 Dezembro 2023 14:23

 


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Juacy da Silva*

Finalmente a COP28, mais uma Conferência do Clima terminou, depois de quase duas semanas de muita “pompa e circunstâncias”, debates e articulações entre países, grupos empresariais, militantes ambientalistas, cientistas e, a cada COP em maior número, de “lobistas” de países e companhias que tem na produção de combustíveis fósseis, principalmente do petróleo (a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa), além de mineradores, desmatadores, fabricantes de agrotóxicos e também do agronegócio, as grandes “tradings” que não abrem mão de poderem continuar destruindo o planeta em nome da segurança energética, da segurança alimentar, do desenvolvimento e da soberania nacional, parece que ignorando que vivemos de forma integrada, interligada em um mesmo planeta.

Muita gente imagina que os resultados dessas conferências, dos acordos do clima, dos tratados internacionais como de Kyoto e de Paris e tantos outros, como os que garantem a defesa da biodiversidade, que não devemos poluir e degradar os solos, as águas, o ar; ou que os países e os empresários irão parar com o desmatamento das últimas florestas que ainda restam no planeta, que iremos presenciar uma revolução rápida e imediata nas matrizes energética e elétrica no planeta a partir de uma transição energética que deverá abandonar os combustíveis fósseis, sujos , que apenas em 2022 recebeu como incentivos a bagatela de US$ 7 (SETE) TRILHÕES DE DÓLARES de subsídios no mundo inteiro e, nada menos do que R$80,9 bilhões de subsídios a esses combustíveis altamente poluente no Brasil. Mera ilusão.

Basta olharmos pelo retrovisor e tomarmos como ponto de referência o ano de 1972, quando aconteceu em Estocolmo, Suécia, a 1ª Conferência Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, que pode ser considerado o primeiro e grande alerta mundial, sob os auspícios da ONU, quanto ao “nosso futuro comum”, publicação da Comissão Especial da ONU que examinou a questão ambiental e, indiretamente, as consequências que a falta de cuidado com a ecologia integral, principalmente com o aquecimento global, as mudanças climáticas, na verdade, a CRISE CLIMÁTICA  e o que agora tem enfatizado António Guterrez, Secretário Geral da ONU que tem afirmado com todas as letras e com uma clareza cristalina “estamos, na verdade, diante de uma grave urgência climática, de um desastre sem proporção anunciado”, diante da insensatez humana, tanto de governantes, quanto de empresário, consumidores, trabalhadores, enfim, da população em geral.

Além desses marcos nos discussões e reflexões sobre a grave crise ambiental que está afetando o presente e o futuro do planeta, podemos também mencionar a ECO92, a Rio Mais 20 e todas as 27 Conferências do Clima que antecederam a COP28, além das diversas décadas aprovadas pela ONU e os diversos tratados sobre diferentes aspectos visando maiores cuidados com a natureza e o planeta.

Cabe mencionar de forma bem sintética que nesta caminhada em 1968, um grupo de 30 cientistas e estudiosos, de dez países e de diferentes setores, sob os auspícios do Clube de Roma, durante como economia, geopolítica, indústria, educação, receberam o desafio de analisar a relação entre crescimento da população, crescimento econômico e a capacidade de a natureza prover insumos e matérias primas para manter e melhorar o nível de vida , ou seja, qual o futuro da humanidade.

A conclusão desses estudos gerou muita discussão, porquanto o título do Relatório “OS LIMITES DO CRESCIMENTO”, indicava que o planeta tem um limite além do qual entra em colapso, ou seja, se todos os países e a população mundial cada vez maior conseguir atingir o mesmo nível de consumo, de bem estar e nível de vida como o que vigorava na Europa e nos demais países desenvolvidos de então, o Planeta, a Natureza não teria condições de suprir tais demandas.

Passados 50 anos desses marcos de reflexão sobre o futuro do planeta e a questão socioambiental, nos deparamos com um aquecimento global acelerado, com mudanças climáticas que geram uma crise climática e urgência climática que podem colocar em risco a sobrevivência humana no planeta terra.

Em princípio, seria este o desafio que vem sendo enfrentado pelos países e pelo mundo há meio século, sem muitas perspectivas de mudança de rumo, como tem enfatizado o Papa Francisco quando advoga a mudança radical de paradigmas dos atuais modelos econômicos, fundados no lucro, na exploração irracional dos recursos naturais, no consumismo e no desperdício.

Diante disso, a proposta é por uma nova economia, denominada de Economia de Francisco e Clara que também é considerada como a Economia da Vida em substituição aos atuais modelos que representam a Economia da morte.

Para entendermos a gravidade e a urgência que a crise climática impõe `a humanidade como um todo, basta compararmos alguns aspectos da realidade entre 1972 e 2022, onde diversos fatores pressionam pelo uso cada vez mais intensivo e perdulário dos recursos naturais e a falta de vontade política e econômica em mudar os modelos de “desenvolvimento” ou de crescimento econômico e percebermos que existe um limite, uma capacidade máxima que o planeta pode suportar antes que entre em um grande colapso, cujos prenúncios já estamos sentido em, praticamente, todos os países, inclusive no Brasil.

São eventos gravíssimos que os temos denominado de “desastres naturais”, mas que na verdade são, a quase totalidade dos mesmos, provocados pelas ações humanas, consideradas nada racionais e totalmente insanas. Falta-nos a capacidade e enxergar além de nossos próprios umbigos, abandonarmos uma euforia enganosa, como a que alimenta a sanha destruidora das florestas tropicais , como a Amazônia, ou outros biomas como o Cerrado brasileiro ou os seus homônimos nos continentes africano e asiático, que no afã de “alimentar o mundo”, na verdade estamos destruindo e poluindo tudo: solos, água e o ar, sem refletirmos que após as atuais gerações outras tantos advirão e que deverão herdar um planeta totalmente sucateado. Esta euforia impede-nos de refletirmos sobre a justiça social, sobre a justiça climática e sobre a Justiça intergeracional.

Voltemos à reflexão sobre como o mundo tem mudado ao longo desses últimos 50 anos, ou na verdade, se tomarmos a COP28, nada menos do que 51 anos: de 1972 até 2022 ou já neste limiar de um novo ano (2023 – 2024).

Em 1972 o mundo contava com 3,8 bilhões de pessoas e em 2022 nada menos do que 8,1 bilhões, um aumento populacional de 113,2% no período; a população urbana em 1972 era de “apenas” 1,4 bilhões de habitantes ou 37% da população total, já em 2022 atingimos 4,8 bilhões de pessoas vivendo nas cidades, ou seja, 59% da população total. E essas duas tendências deverão estar presentes pelas próximas décadas, aumentando a gravidade desses desafios.

O PIB (produto interno bruto) nominal, mundial em 1972 era de US$3,9 trilhões de dólares e em 2022 foi de 101,8 trilhões, um crescimento de 242,9% no período e em 2023  a previsão é que o PIB mundial deverá atingir US$112,2 trilhões de dólares.

Quanto à renda per capita é preciso ter um certo cuidado ao ser utilizado, tendo em vista que este indicador mascara a realidade da concentração de renda tanto em termos mundiais, pois sabemos que os 10 ou mesmo os 20 países com as maiores economias do mundo concentram quase 80% da economia e da poluição/degradação do planeta e também a concentração de renda em termos sociais, onde a parcela de 1% ou 2% da população mundial, principalmente os chamados super ricos (bilionários) concentram em torno de até o dobro da renda total dos 50% mais pobres dos habitantes do globo terrestre.

Esses três aspectos ou parâmetros, ou seja: o crescimento total da população mundial, o crescimento ainda mais acelerado da população urbana e o aumento da renda per capita mundial, tem uma implicação muito profunda em relação `a pressão que isto representa para o meio ambiente tendo em vista as necessidades e aspirações da população, principalmente as camadas mais aquinhoadas com renda, quanto ao consumo de bens e serviços, incluindo, alimentação, habitação, transporte, logística, energia, matérias primas e insumos para o setor produtivo, principalmente a indústria.

Apenas um exemplo, em 1972 a produção mundial de veículos automotores era de “apenas” 15 milhões de unidades anualmente e ao longo do tempo foi aumentando tendo atingido 85 milhões de unidades em 2022. Neste perído, de meio século foram produzidos 2,8 bilhões de veículos automotores, o que dá uma boa idéia no nível de poluição do ar e emissões de bilhões de toneladas de gases de efeito estufa e suas consequências. O mesmo acontece com os voos aéreos, também altamente poluidores que tem aumentado mais de 400% no mesmo período.

Calcula-se que atualmente a frota de veículos automotores circulando no mundo seja na ordem de 1,48 bilhões de unidades, sendo que nos EUA, o segundo país que mais polui o planeta, só perdendo para China, existem 280 milhões de veículos, vindo em segundo lugar a Europa e em terceiro a Ásia, com destaque para a participação da China e do Japão que, somados, representam mais de 50% de toda a frota existente na Ásia.

Quando falamos em indústria automobilística não podemos ignorar que todos os demais setores, principalmente a produção de energia é, de longe o maior desafio que a COP28 deveria ter encarado, tendo como dimensão geopolítica a questão da transição energética, deixando para traz os combustíveis fósseis e avançando para o uso, cada vez de forma mais acelerada e para a produção de energia de fontes renováveis, principalmente a energia solar, biomassa e eólica.

Quando comparamos a composição da matriz energética mundial e a participação dos combustíveis fósseis na mesma, em 1972 era de 87,4% e “caiu” apenas 7,4% em meio século, sendo que em 2022 essa participação era ainda de 80%. Ou seja, a média de redução dos combustíveis fósseis na matriz energética anual foi de apenas 0,148% demonstrando que praticamente nada mudou em 50 anos.

Se imaginarmos que esta participação precisa chegar a no máximo 30% do total das fontes energéticas, no ritmo que aconteceu até agora e diante do que consta do documento final da COP 28, onde apenas constou a ideia vaga de que o mundo precisa abandonar os combustíveis fósseis, sem estabelecer metas e prazos concretos, repetindo, no ritmo atual e diante da pressão dos países produtores e grandes consumidores de combustíveis fósseis, seriam necessários 338 anos, para que o mundo fizesse uma real transição energética.

Até lá, com certeza a temperatura média do planeta deverá exceder em muito a meta estabelecida pelo Acordo de Paris e outros acordos posteriores, que seria de 1,5º acima da média do período do início da industrialização, superando também em muito o limite de segurança para vida na terra que seriam 2º ou 2,5º graus centígrados.

Outro aspecto em que a COP28 frustrou o mundo todo foi em relação ao financiamento para que a crise climática e o aquecimento global sejam combatidos, responsabilidade maior dos países que mais poluem, para contribuir com os países que menos ou praticamente pouco emitem em termos de gases de efeito estufa, mas que sofrem as consequências da crise climática tanto em termos econômicos, quanto demográficos, sociais e humanos.

Os países do G20 bem como outros da Europa que, mesmo não participando do G20,  historicamente, por terem experimentado a revolução industrial há mais tempo, também são responsáveis por trilhões de toneladas de gases de efeito estufa que estão “presos” na atmosfera terrestre e que, juntamente, com ainda bilhões de toneladas que são emitidas atualmente todos os anos, são os maiores responsáveis pela catástrofe anunciada, via crise climática e emergência climática. São esses os países que deverão “financiar” o chamado “Fundo Climático de perdas e danos” aprovado na COP 28 e que foi motivo de muita euforia por parte de alguns setores, mas que de fato não passa de uma mera esmola por parte dos maiores poluidores do planeta.

O valor informado deste fundo, destinado a compensar os países pobres pelas perdas e danos climáticos será de US$420 milhões de dólares, importância que não cobre sequer 0,2% das necessidades reais para este enfrentamento.

Ao mesmo tempo os subsídios concedidos aos combustíveis fósseis, tanto a produtores quanto consumidores, em 2022 foi na ordem de US$7 trilhões de dólares, sendo que os EUA, segundo maior poluidor do planeta o valor dos subsídios aos combustíveis fósseis também em 2022 foi de US$ UM TRILHÃO de dólares e o compromisso deste grande poluidor ao fundo será a importância de apenas US$17,5 milhões, o que equivale a 0,00002%, ou seja, praticamente NADA.

Mesmo o Brasil que figura entre os dez maiores poluidores do planeta e o que mais gases de efeito estufa emite oriundos do desmatamento, das queimadas em todos os biomas, da produção agropecuária, além de também ser um grande poluidor principalmente do setor de logística e transporte e também da indústria e que fica o tempo todo de pires na mão junto aos países considerados ricos, principalmente para “proteger” a Amazônia, em 2022 concedeu mais de RS$80,9 bilhões de reais como  subsídios aos combustíveis fósseis  e no período de 50 anos mais de RS$1,5 trilhões de reais para este setor.

No caso do Brasil, nosso país durante o Governo Bolsonaro ficou marcado como um país em que o cuidado com o meio ambiente e os compromissos assumidos, soberanamente nos Acordos de Kyoto e principalmente de Paris não eram honrados e sofremos muitas críticas e pressões internacionais por isso.

Mesmo no atual governo, em que pese um discurso ambientalista, em defesa do meio ambiente, da preservação da Amazônia e na redução da dependência dos combustíveis fósseis que tem sido feito por Lula, principalmente nos fóruns internacionais, parece que este discurso continua ainda bem distante da realidade.

Durante  a COP28, Lula e o Ministro de Minas e Energia anunciaram aos quatro cantos do mundo que o Brasil estaria aderindo ao cartel petroleiro da OPEP, como “observador”. Isto foi motivo de duras críticas não apenas por parte de ambientalistas internacionais mas também aqui em nosso pais.

Outra contradição é a pressão exercida pelo Governo Lula sobre o Ministério do Meio Ambiente e do Clima, no caso sobre o IBAMA em relação `a possibilidade de a Petrobrás fazer prospectivas e explorar petróleo na Foz do Rio Amazonas e no Delta do Parnaíba.

E no momento, ao final da COP 28, novamente o Brasil se posiciona na contra mão do abandono dos combustíveis fósseis, principalmente do petróleo ao extinguir ou reduzir drasticamente as tarifas preferenciais sobre importação de painéis solares, que eram e são um incentivo para o desenvolvimento da energia solar,  enquanto os subsídios tanto aos combustíveis fósseis quanto ao agro continuam mantidos e contribuem para a degradação ambiental, neste último exemplo via desmatamento, queimadas, erosão, destruição de nascentes e também poluição por agrotóxicos.

Enfim, mais uma COP – Conferência do Clima chega ao final, principalmente esta COP28 que teve como país anfitrião os Emirados Árabes, um grande produtor de Petróleo e seu presidente nada menos do que o CEO (dirigente máximo) da Companhia Petrolífera daquele país, o que explica o fato de que esta foi a COP com o maior número de lobista da indústria de petróleo e dos demais combustíveis fósseis, bem como do agronegócio e da indústria de proteína animal e da mineração jamais visto anteriormente, razão pela qual, mesmo em sendo um acordo muito tímido o documento final da COP, tudo leva a crer que não passará de uma miragem em um horizonte muito longínquo, enquanto a crise climática e a urgência climática “corre solta”, para a euforia e lucratividade dos grandes poluidores: países e setores econômicos.

*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Quarta, 13 Dezembro 2023 07:32

Contratos e Tabelas Unimed: 6890-6893, 6900-6903, 6910-6912.

Terça, 12 Dezembro 2023 15:10


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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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O texto, abaixo e em anexo, de autoria da ex-jornalista do Andes-SN e grande defensora dos povos indígenas. É uma homenagem a um dos mais aguerridos defensores dos povos indígenas, que faleceu no dia 07/12/2023 – Oswaldo Cid Nunes da Cunha, o “Oswaldão”. Lamentavelmente, a terra de Rondon ignora um dos mais brilhantes indigenista brasileiro nascido em Mato Grosso. A UFMT também tem que agradecer ao Oswaldão pelo apoio que deu à pesquisa científica e acadêmica, abrindo as portas de sua fazenda em Poconé para estudos sobre o Pantanal. Poucas semanas antes ele concedeu uma entrevista para a Adufmat que também merece ser divulgada. Uma perda irreparável e uma lacuna que dificilmente será preenchida. 

MILITANTE DOS SONHOS

Memélia Moreira     

 Há dias que, mesmo luminosos, são sombrios e mesmo num jardim com flores de colorido diverso, nada brilha porque o coração se recolhe na saudade.

Foi o que aconteceu hoje, Oswaldão. Antes mesmo do café da manhã a notícia da tua morte me jogou num redemoinho de lembranças. Lembranças das lutas, das gargalhadas, do whisky de qualidade duvidosa na beira de estradas que só trafegamos porque sempre apelamos para a licença poética de nossos viveres.

Histórias cruas e verdadeiras num mundo de realidades improváveis que são as terras dessa Amazônia que tanto amamos e que nos forjou e nos fez viver intensamente.

E então, logo depois da notícia, nossa lânguida amiga -preciso dizer de quem falo? - com aquela doce languidez ela me disse que vocês liam Bukowski juntos e, só por essa informação, me atrevi a escrever. Porque escrever sobre tua morte é exercício dificultoso, sofrido. 

 “Você tem de morrer algumas vezes antes que você possa realmente viver.”

 Tu reconheces a frase, Oswaldão. É de Bukowski, Ele escreveu muitas vezes sobre a morte.

Quantas vezes tivestes que morrer para aprender a viver? Tu que cruzastes o mundo na corda bamba dos conflitos impostos pela ambição, que correstes pela Amazônia para salvar nações inteiras, que exercias a Medicina não pela glória, não para ter conta polpuda no banco. Não pela vaidade de pregar no portão de casa uma placa em bronze, em letras esmaltadas, o título de “Dr. Oswaldo Cid da Cunha”. Não. Tu te dedicaste à profissão como se fosses um missionário. Não para salvar almas, mas para salvar vidas e dignidade dos povos com os quais convivestes. E foram muitos. Foram tantos. Tua Amazônia se estendeu bem além das fronteiras do nosso território. Correntes para a Nicarágua para levar socorro porque tu estavas sempre pronto a cumprir tua missão de defesa da soberania dos povos. E foram outros mundos porque teu amor era universal.

E, nesse momento, me lembro de quando nos encontramos no Xingu. O monomotor tinha acabado de pousar, e eu ainda estava tentando superar meu medo de voar quando ouvi gargalhadas em diversas línguas. Estavas rodeado por índios de diferentes nações, contando histórias. Passei devagarinho e sorrindo por aquela roda para não interromper um momento de alegria. Porque tua luta era alegre, sem ranços.

Outras lembranças que me chegam e essas se repetiram muitas vezes é a de quando tu e Xará - só para te lembrar que hoje faz 26 anos da morte dessa pessoa tão imprescindível quanto tu és, meu melhor amigo desde meus 14 anos- chegavam em minha casa, madrugada alta, com algumas latinhas de cerveja na mão perguntando se àquela hora podia sair um talharim ou mesmo um spaghetti. E íamos para a cozinha. Eu só não permitia que tomassem cerveja com qualquer massa. Sem protestos, abríamos uma garrafa de vinho e a conversa entrava pela manhã.

Como sinto falta desses momentos, em que conspirávamos, sonhávamos com a revolução que libertaria os povos e vocês iam dormir.

Ah, Oswaldão, dr. Oswaldo Cid da Cunha, tu fostes um militante dos sonhos. Talvez por isso gostavas de Bukowski que um dia escreveu “o que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam até à morte”.

E a vida que levastes até à morte foi construída em sonhos, em amores universais e em lutas pela emancipação de todos aqueles que cruzaram teu caminho.

Tenho certeza que, a essa hora, teu espírito já cruzou o Atlântico e o Mediterrâneo e estás ajudando teus colegas de profissão numa pequenina faixa de terra chamada Gaza, onde um povo, o povo palestino, precisa de todos nós.

Vai amigo, vai cruzar os mares da eternidade. 

Memélia Moreira, jornalista, jardineira, estudante de húngaro. Brasileira com nacionalidade tibetana. Ex-jornalista do Andes-SN 

Obrigado.

Prof. Domingues.

Terça, 05 Dezembro 2023 16:50

A Diretoria da Adufmat-Ssind, no uso de suas atribuições regimentais, convoca todos os sindicalizados para Assembleia Geral Extraordinária

Segunda, 04 Dezembro 2023 12:28


ESPAÇO ABERTO
Debate de ideias – Informativo da Associação dos Docentes da UFMT - ADUFMAT - nº 97/2023.

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Texto enviado pelo Prof. Danilo de Souza. 

Qual é o transporte mais eficiente energeticamente?

do transporte se torna pauta importante, pois aproximadamente 1/3 dos gases de efeito estufa, que causam o agravamento do aquecimento global, são oriundos deste setor. Diante de diversas possibilidades de escolha de modais de transporte como política pública de mobilidade urbana, ou mesmo deslocamentos internacionais, a eficiência energética
de 2 Mega – Joules (MJ) para percorrer cada quilômetro dentro de uma cidade. Ao serem adicionadas mais duas pessoas no veículo com destinos semelhantes, o resultado é de aproximadamente 0,67 MJ por pessoa para cada quilômetro percorrido. A energia necessária para transportar as pessoas e o veículo é uma medida importante para avaliar a eficiência de um meio de transporte. Esta análise já evidencia que possuir um carro SUV, com grandes dimensões e massa, é uma péssima ideia na perspectiva da eficiência. Os SUVs podem chegar à intensidade energética de 5 MJ por passageiro-quilômetro. Uma questão central para iniciar este debate é a noção de intensidade energética. Quando há uma única pessoa dentro do veículo para o deslocamento, são necessários cerca
Em deslocamentos urbanos de superfícies ou subterrâneos, os trens/metrôs são altamente eficientes. Com operação no pico de passageiros, os mais modernos precisam de menos de 0,4 MJ por passageiro-quilômetro.
uma intensidade energética de cerca de 0,3 MJ por passageiro-quilômetro, ao passo que os mais novos, de aproximadamente 0,2 MJ por passageiro-quilômetro. Esses projetos são comuns na Europa, mas a China nas últimas décadas já alcançou uma malha de aproximadamente 35.000 km, com algumas linhas podendo operar em velocidade máxima de 431 km/h.      Um dos modais de transporte mais eficientes é o dos trens interurbanos de alta velocidade para projetos tradicionalmente entre 70 e 500 km. Os modelos mais antigos tinham

nas condições atuais, seria um modal a se considerar. Há um projeto em discussão sobre o Trem de Alta Velocidade Rio-São Paulo (TAV RJ-SP), que é a principal linha do plano do governo federal de trem de alta velocidade no Brasil com a função de interligar as duas principais metrópoles brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. O projeto está previsto desde 2007, mas até o momento que escrevo este texto, não foi iniciado. Os projetos de trens de alta velocidade se justificam apenas em locais de alta densidade populacional, com rotas bem definidas. Assim, no caso brasileiro, em poucas situações,
Para deslocamentos mais longos, os aviões mais comumente utilizados, operando à turbina, são altamente eficientes, operam a aproximadamente 2 MJ por passageiro para cada quilômetro.
Um dos transportes mais utilizados no Brasil é o veículo à combustão. E os melhores motores à combustão atualmente à venda têm uma eficiência energética máxima de 40%. É como dizer que, a cada R$ 100 que você abastece, apenas R$ 40 se transformam em movimento. Os demais R$ 60 de combustível são perdidos principalmente em forma de calor. E não é difícil encontrar veículos operando com entre 18% e 20% de eficiência. E se você pesa 80 kg e está em um carro de 900 kg, na verdade você representaria algo em torno de 8% do total. O que significa dizer que dos R$ 100 inicialmente investidos, com a eficiência de 20% do veículo à combustão, para deslocar uma pessoa de 80 kg, a eficiência final seria algo entre 1,5 e 3% - absurdo, não? E é neste ponto que o carro elétrico apresenta um dos ganhos, pois o motor elétrico opera com facilidade na região de eficiência entre 80 e 85%.
estufa. No caso brasileiro, a diminuição é brutal, pois a matriz elétrica é pouco carbonizada, diferentemente da matriz elétrica global. Observa-se, então, que caminhar para a eletrificação é uma oportunidade para aumento de eficiência energética, mas também para a redução das emissões de gases de efeito
Essas informações o poder público possui, e pode utilizá-las para modelar políticas no sentido real de minimizar impactos ambientais. Mas quais ações os indivíduos podem implementar para aumentar a sua eficiência no transporte? Eis algumas: 1) optar pela utilização de transporte coletivo; 2) se for necessário comprar veículo, optar por modelos menores e mais eficientes; 3) organizar-se para que um mesmo veículo transporte mais de uma pessoa, incluindo ao utilizar aplicativos de transporte; 4) dentro das cidades, buscar formas alternativas de transporte, como bicicletas e patinetes.


Danilo de Souza é professor na FAET/UFMT e pesquisador no NIEPE/FE/UFMT e no Instituto de Energia e Ambiente IEE/USP.