Quarta, 09 Março 2022 08:31

UM DEPUTADO SAFADO - Roberto de Barros Freire

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Roberto de Barros Freire*

 

Conhecido como Mamãe Falei, o deputado Arthur do Val viajou à Ucrânia, na última segunda-feira (28) sob a justificativa de acompanhar o conflito da guerra e ajudar o povo ucraniano após a invasão da Rússia. Que ajuda pode realizar alguém que pensa mais nas mulheres como objetos sexuais e não vê crianças, idosos e o povo sofrido? Pelo menos, nada mencionou a esse respeito. O que de fato realizou? Que recursos públicos utilizou para a sua viagem? Visto que aflorou coisas absolutamente horríveis e deploráveis, não deve o deputado devolver os recursos utilizados da Assembleia, pois mais do que uma causa humanitária, estava em jogo seu interesse sexual? Devemos financiar o turismo sexual dos deputados?

Contrariamente ao que afirma o deplorável deputado, que ele não é uma pessoa que admira ou fala o tipo de bobagem que repercutiu pela imprensa e pela internet, ele é exatamente esse tipo de pessoa: machista, misógino, que realiza turismo sexual, que vê as mulheres como carne a ser devorada. A verdade aflora quando o indivíduo se sente protegido e acobertado por outros que compartilham da mesma mentalidade retrógrada; é o que faz no privado que revela sua essência, pois em público todos escondem seus defeitos e tentam revelar apenas qualidades. O ocorrido serviu para demonstrar o verdadeiro caráter do ofensor, que se revela pelas palavras ditas de forma livre quando não sob olhar público. Ou seja, quando a sensação de impunidade se estabelece, o machismo, o elitismo e o oportunismo surgem na sua forma mais repulsiva, revelando a sua intimidade escondida.
Não dá paraseparar as ações das palavras, como quer o ignóbil deputado, mesmo porque a palavra não deixa de ser um tipo de ação. Ou seja, ele deve ser julgado pelo que falou e pelo que fez, o que é difícil saber o que é pior: usar de uma causa justa, para praticar coisas desumanas.Entre as estratégias, a mais risível possivelmente é a vitimização: "arrisquei minha vida e estou sendo acusado de fazer turismo sexual". Isso é discurso de um canalha.

Ver Arthur do Val assumir o discurso de vítima, alguém que se opõe à política tradicional fingindo não ser parte indissociável dela, quando se utiliza de verbas públicas para realizar turismo sexual, dizendo que está arrependido, ou como todos, que o que diz não deve ser levado a sério e ser encarado como “molecagem”, é no mínimo mais uma safadeza. Ele é o carrasco, ele é o que de mais antigo tem na política, o uso da coisa pública para benefício privado, aquele que utiliza do poder para promoção própria, fingindo ser o que nunca foi, nem pode ser, pois é um mentiroso e enganador, que em público é um e na privacidade tem uma vida clandestina, coisa bem pouco republicana: há umaausência completa de valores civilizatórios e, portanto, da incompreensão de seu lugar na sociedade e mesmo na humanidade.

Ele representa a farsa, a fraude do cidadão de bem,demonstrando que o mesmo não foi com a missão de ser a voz dos mais fracos em uma guerra, mas de fazer turismo sexual à custa do sofrimento e desespero das pessoas (homens, mulheres, crianças,idosos) que buscam uma tábua de salvação, uma saída para terem uma vida digna fora da barbárie.Viu apenas mulheres bonitas e que pretende voltar para devorá-las, foi o que afirmou. Desvelou-se uma discrepante distância entre aquela figura teatralizada perante o público e o partido, e um perfil hediondo de sua personalidade que agora se revela.

O falso é que fala e faz em público, o verdadeiro é o que faz e diz nas suas redes privadas. E mesmo que tente se justificar que o que disse foi para um público privado, isso continua errado e hediondo, e o que é pior, compartilhado entre canalhas, se o grupo não o repreendeu.
Para provar que não tem compromisso com o equívoco, precisa renunciar ao mandato de deputado estadual; não deve esperar ser expulso do partido e da assembleia, deve renunciar ao cargo, pelo uso não republicano que fez e faz do cargo. Para provar que defende o justo e o certo, que é contrário a velha política, deve agir como um homem, e não como um rato, esperando não ser ceifado pela corporação dos deputados, que dificilmente agem com justiça quando se trata de defender seus interesses próprios.Se não puniram aquele deputado que apalpou a deputada na frente das câmaras e que todo país assistiu abismado, não devemos esperar nenhuma grande punição desse descalabro praticado por mais um safado que ocupa um cargo público.

*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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