Quinta, 26 Julho 2018 09:48

CABRESTO NO MEIO ACADÊMICO - Roberto Boaventura

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Jornalismo pela USP/Professor da UFMT

 

Poucas coisas são mais humilhantes do que a afirmação desse título. 

Cabresto é o “arreio de corda ou couro, sem freio ou embocadura, e que serve para prender o animal, geralmente o cavalo, para controlar sua marcha”. No plano metafórico, é algo, ou alguém que controla, que subjuga outrem, reprimindo-o, contendo-o, prendendo-o.

Do sentido figurado, nasceu o asqueroso “voto de cabresto”. No Brasil, isso surgiu no início da República, quando coronéis compravam quem estivesse apto ao voto. Assim, eles sempre elegiam candidatos mantenedores de seus interesses.

Como o voto era aberto, os velhacos asseguravam um “curral eleitoral” composto por pessoas dependentes financeiramente, e que viviam amedrontadas por ameaças objetivas e/ou simbólicas. Os capangas controlavam os votos.

Por “curral eleitoral”, entende-se como sendo uma região onde um político exercia influência. Nesses locais, o coronel oferecia ao eleitor, em troca de seu voto, dinheiro em espécie e/ou objetos, como dentaduras e sapatos baratos; por vezes, atividades laborais.

Hoje, “curral eleitoral” é usado para definir a forte intimidação e pressão a eleitores, em geral, de baixa escolaridade e poder aquisitivo.

Mas por que estou falando de voto de cabresto e curral eleitoral?

Porque foi a isso que se prestaram alguns colegas em duas recentes assembleias do Sindicato dos Docentes da UFMT (Adufmat).

Em um dos momentos, um dos itens da pauta era discutir sobre a possibilidade de o Sindicato judicializar duas reuniões de um dos conselhos superiores da UFMT, pois a presidência daqueles trabalhos desrespeitou questões regimentais, tornando suas decisões ilegais e ilegítimas.

Assim, a reitora jogou a Instituição num tipo de caos nunca antes experimentado na UFMT; aliás, longe do final, mesmo com o término da greve estudantil, que foi o estopim para os desarranjos atuais e poderá ser a muralha para eventual desejo de reeleição em 2020.

Diante do quadro, para não correr o risco de uma possível judicilização, e desmoralizar-se por completo, a magnífica reitora parece ter mobilizado seus pró-reitores e asseclas a comparecem à referida assembleia e votar contrários a isso.

Para que seu batalhão de choque se fizesse presente, o que raramente o faz, embora a isso todos tenham direito, mensagens mentirosas, levianas e chulas lhes foram enviadas. Eis uma prova:

Atenção, colegas, reunião da Adufmat para judicilizar a situação na UFMT, hoje às 14h. Reunião na surdina, pois parece que Reginaldo e Alair pretendem ferrar a reitora e a instituição. A reitora pede que avisemos professores para irem votar, pois a assembleia deve ser aberta”.

A expressão “na surdina” é mentirosa. Não há possibilidade de assembleias da Adufmat serem realizadas nos bastidores.
 
Na sequência, a leviandade do(a) remetente se materializa no verbo “parecer”, bem como na citação dos nomes de dois valorosos docentes, que não agem na surdina, mas que, no plano político, estão por ora questionando ações desastrosas da reitoria.

O lado chulo, que deve ser a cara do(a) remetente, se concretiza por meio do verbo “ferrar”: termo inadequado a um(a) docente, até mesmo em mensagens inescrupulosas, como a que se lê acima.

Mesmo diante de mentiras, leviandades e chulices, algumas criaturas cumpriram a ordem que “veio de cima”. Encabrestados, votaram como mandado. Foram servis. Assim, alguns mantiveram cargos e/ou seus micropoderes. Outros, apenas a fidelidade canina. Só não mantiveram a dignidade. Ela se foi à frente dos colegas e das câmeras.  

 

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