Segunda, 04 Janeiro 2016 12:00

 

Desde a mais remota antiguidade o coração é tido por muitos como a casa da alma, da razão, do pensamento e da emoção.
Até hoje, mesmo com o avanço da medicina, esse conceito permanece.
Sabemos que é meramente simbólico, sem nenhum fundamento científico, ainda mais sendo o coração o órgão mais investigado tecnologicamente.
Com as pesquisas recentes, ficou claro que o cérebro, este sim, passou a ser o grande receptáculo de todas as emoções, sendo o coração apenas um dos órgãos mais afetados durante esse processo.
As demonstrações de afeto, carinho, amor, são sempre direcionadas para a bomba muscular responsável pela distribuição de sangue para nutrir as células do corpo humano.
Em jogos de futebol é comum observarmos jogadores apontando as mãos para o coração, transmitindo com esse gesto toda a emoção sentida no gol feito.
Erroneamente, na crença popular, ficará ainda por muitos anos o coração como um centro maravilhoso de emoções.
Sabemos que todos esses fenômenos atribuídos ao coração são fabricados por esse órgão misterioso e tão pouco conhecidos dos cientistas, que é o cérebro.
As nossas emoções são resultados de bilhões de conexões de neurônios que, com perfeição, atingem todos os órgãos do nosso organismo, principalmente o coração.
Devido ao estímulo recebido do sistema nervoso autônomo, o coração pode ser afetado pelas emoções, não só nos momentos de felicidade ou atos de amor, porém, também, em sensações de tristezas ou perigo.
Mesmo com o cérebro indecifrável e responsável por tudo que nos acomete, é o coração que continua como o centro das atenções das pessoas e autoridades de saúde de todo o mundo.
Basta verificar que todos nós morremos de parada cardíaca, que significa a interrupção do funcionamento da máquina que irriga o nosso organismo de oxigênio.
O motivo é a falência múltipla dos órgãos, todos comandados pelo cérebro, que morre antes da ausência dos batimentos cardíacos, muitas vezes mantidos por medicamentos.
A verdade é que a emoção interfere no coração, e as doenças cardíacas ocupam o primeiro lugar como a causa de morte no mundo.
O professor Elias Knob El, do Hospital Albert Einstein, lançou um livro, com vários colaboradores, tentando explicar a influência das emoções sobre o coração.
“Coração... É emoção”

Gabriel Novis Neves
19-11-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:00

 

Tenho um amigo jornalista do qual sou grande admirador. 
Certa ocasião, em conversa informal, revelou-me que só publicava em seu blog notícias que não estão na mídia, pois estas já foram lidas e relidas, vistas e ouvidas à exaustão.  
Preenchia o seu espaço com notícias culturais e informações úteis, ou então, com artigos e crônicas não pasteurizadas. 
Concordei com o competente mestre. Estamos intoxicados de assuntos repetitivos, com anorexia para a leitura dos jornais e noticiário de televisão. 
Com essa turbulência política, até canais pagos trocam suas excelentes programações e dedicam o seu tempo transmitindo as sessões do Congresso Nacional. 
Posteriormente, os seus jornais repetem as notícias fartamente divulgadas durante todo o dia. 
Ficamos sem alternativa para usufruir de bons programas de lazer e aprimoramento cultural. 
Dezembro deveria ser um mês de festas e confraternizações. 
Foi transformado em um terrorismo de más notícias políticas, econômicas, sociais, em um planeta de intolerância de todas as ordens.  
Infelizmente, são essas notícias que são consumidas pela maioria da nossa população. 
Até os chineses querem saber o que acontece na terra de Pedro Álvares Cabral! 
Enquanto isso, países detentores de moeda forte, como o dólar e o euro, estão comprando tudo que é bom por aqui a preço de banana. 
Estamos pagando um preço altíssimo por esse modelo político que democraticamente escolhemos, e que agora se fala em destituí-lo constitucionalmente por intermédio de um dispositivo legal que é o impeachment. 
Espera-se um grande debate jurídico, já que a decisão é essencialmente política e não encontra solução por si mesma. 
Que o sábio que nasceu na manjedoura ilumine os nossos caminhos, tão obscuros nesse momento. 
Queremos escrever sobre assuntos que não são notícias sensacionalistas, impossível neste momento de turbulência política. 
Que a lucidez prevaleça entre os responsáveis por esta nação!

Gabriel Novis Neves
11-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:58

 

A mímica do Ministro da Fazenda brasileiro, após 347 dias em que tentou implantar um ajuste fiscal para a economia brasileira, era de quem estava levitando.  
Sim, Joaquim Levy deixou, finalmente, o governo petista sem conseguir os seus objetivos, porém, cônscio de tudo ter tentado. 
Se continuasse no governo teria sucumbido às exigências de uma política econômica expansionista com a qual não concordava. 
O remédio que propunha era amargo para uma economia cambaleante. Não teve êxito nas suas propostas e, elegantemente, saiu de cena com a mesma classe com que entrou. 
O novo antigo Ministro da Fazenda empossado, já no governo na área do planejamento, adepto da chamada política monetarista, desenvolvimentista, é totalmente afinado com os desejos da Presidência da República que, no fundo, insiste em não delegar maiores poderes aos seus subordinados, principalmente na área econômica. 
Segundo os mais influentes economistas internacionais, voltamos a pisar num terreno escorregadio, com poucas ou nulas possibilidades de êxito, ainda que num curto período inicial de tempo haja uma perspectiva de algum alívio para o mercado. 
Concluem ainda que a médio e longo prazo correremos o risco de entrar em absoluto caos econômico, tal como os ocorridos na Grécia e na Argentina que adotaram políticas semelhantes. 
Resta-nos contar com o espírito patriótico de toda essa nossa classe dirigente e torcer para que esse país, o mais surreal do planeta, consiga sair desse enorme imbróglio em que se meteu no mais rápido espaço de tempo possível. 
Sua população, ordeira, apática e submissa, muito em função de seu baixo nível educacional, não merece passar outros Natais como esse, desesperançosa de dias melhores.

Gabriel Novis Neves 
21-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:57

 

Fiquei fascinado com a entrevista de um dos mais consagrados intelectuais do Ocidente, prestes a completar 90 anos, o Dr. Zygmunt Bauman que, com a sua inteligência e brilhantismo, a todos encantou em sua recente passagem pelo Brasil. 
Nascido na Polônia foi vítima dos efeitos do estalinismo e do antissemitismo.  Morou na União Soviética e vivenciou os horrores da Segunda Guerra Mundial até que, com seus mais de cinquenta livros publicados, ser considerado uma das mentes mais brilhantes da nossa época. 
Seu tema mais discutido no momento é “A Fluidez do Mundo Líquido”. 
Ele nomeia de interregno “essa fase difícil pela qual passa a humanidade, em que os valores arcaicos do século passado foram todos superados sem que novas práticas de condutas político partidárias, econômicas, educacionais, sociais e até mesmo interpessoais tenham se estabelecido na sociedade”. 
Resumindo, uma nova ordem mundial, ainda engatinhando, deverá substituir outra, antiga, já obsoleta. Isso é o que tanto diferencia o século XX do atual século XXI. 
O Dr. Bauman, com a sua lucidez e discernimento, é um exemplo de que a sociedade nem sempre condena os mais idosos ao abandono e à indiferença. 
Trata-se de uma velhice premiada!  Aconselho a todas as mentes mais aguçadas a se interessarem pela bela entrevista do Dr. Bauman feita pelo jornalista Marcelo Lins através do programa Milênio, do canal Globo News.

Gabriel Novis Neves
10-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:52

 

Conceito vago, cheio de definições, todos questionáveis e, principalmente, subjetivas.
Até porque, vários são os tipos de amor, e todos muito diferentes de pessoa para pessoa.
Amamos numa dimensão muito própria, raramente compreendida pelo “outro”, que seria a finalidade em si.
A capacidade de doação é específica em cada ser humano e está sujeita a modificações, que dependem da época e dos costumes.
Somos todos imperfeitamente formados por uma mistura de sentimentos, tais como amor, ódio, vingança, raiva, ciúme, vaidade, egoísmo, altruísmo, enfim, a matriz humana não é lá das melhores.
Em alguns de nós predomina os sentimentos positivos, enquanto em outros, dados os seus condicionamentos, os sentimentos negativos.
Excluídos os fatores genéticos, com certeza de real importância, chegamos todos mais ou menos “puros” ao mundo.
As circunstâncias e o meio em que somos criados vão, progressivamente, moldando o nosso caráter e fazendo com que sejamos tão diferentes uns dos outros.
Com relação ao amor como ele se apresenta nos dias atuais, o chamado amor romântico, só passou a existir a partir do século XIX.
Antes disso, as pessoas se uniam através das escolhas familiares, sempre voltadas para possíveis benefícios financeiros.
Não que isso tenha mudado muito, mas já existe uma espécie de escolha do ser amado, ao menos aparentemente.
Começam a ser aceitas escolhas independentemente de raça, religião, cor ou gênero, coisas até então inadmissíveis nos diferentes sistemas sociais.
Quantos sofrimentos a humanidade carregou em função de suas escolhas consideradas inadequadas e, nem por isso, menos intensas?
A história está aí para confirmar os inúmeros casos de pessoas do mais alto nível intelectual vítimas de preconceitos que lesaram irreversivelmente as suas vidas.
Dentre as definições de amor, a que mais consegue me tocar, ainda que sem saber da autoria, é a que diz que: “o amor é o encontro das peles e a troca das fantasias”.
Parece-me perfeita, vendo o lado químico da relação.
Todos os outros tipos de amor são circunstanciais e obedecem a regras rígidas de convivência, com as quais nem sempre concordamos, mas somos obrigados a aceitar pelas normas sociais.
Tenho, por exemplo, amigos que se vangloriam de terem curado suas carências afetivas escolhendo famílias para serem suas - não necessariamente vinculadas a laços sanguíneos.
Fácil ver isso nos inúmeros grupos familiares que, quando reunidos, o que menos conta é o afeto entre eles.
Permanecem juntos, apesar de suas idiossincrasias, apenas para fortalecer aquele clã, num resquício tribal, em que aglomerados são sempre mais fortes que indivíduos isolados.
Depois da revolução industrial, estabeleceram-se leis e princípios para que se mantivesse unido e crescente o patrimônio.
Tomou força as leis de herança, a condenação do adultério, o celibato em algumas religiões, tudo em função de preservar os bens adquiridos por determinado clã durante a vida.
A organização social é basicamente econômica, e não, amorosa, como querem pintar os mais românticos.
Até o século X era permitido o casamento aos padres, quando, a partir de então, a igreja, para proteger o patrimônio por eles deixado, estabeleceu o celibato.
O mesmo com relação ao adultério feminino, demonizado pela possibilidade de transmitir bens de herança a outras proles que não à do clã economicamente organizado.
Tanto que o adultério masculino nunca foi muito levado em conta, a não ser agora, com o aparecimento dos testes de paternidade.
Enfim, tudo que nos gere é a ordem econômica, sendo ela apenas travestida de algum romantismo para que se torne mais fantasiosa.
Quem sabe um dia, talvez em outra galáxia, poderemos nos amar um pouco mais uns aos outros, independentemente das gulas financeiras e da selvageria das competições?
Mais uma utopia... Infelizmente, sem ela, a humanidade não caminha. 

Gabriel Novis Neves
14-10-2015

Terça, 22 Dezembro 2015 13:20

Fim?

Publicado em Espaço Aberto

 

É voz geral que o Brasil chegou ao fundo do poço e, encontra-se em dificuldades para de lá sair. 
Alegam os desiludidos que a saída é a porta do aeroporto.
Os otimistas acham que o pior já passou, com a prisão dos que infringiram a ética e moral administrativa.
Na verdade, o Estado foi ocupado por uma quadrilha que está sendo eliminada especialmente pela operação Lava Jato do Juiz Sérgio Moro. Esse fato é um sinal de recomeço para uma democracia republicana. 
Pagamos um preço alto pelo difícil momento em que vivemos, com a Petrobras desvalorizada, a economia destruída, as empresas lesionadas pela corrupção, e a violência e o desemprego aumentando nas cidades.
O partido do governo que pregava a ética, deixa um enorme grupo de decepcionados entre pessoas decentes que confiaram nele e foram ludibriadas.
Apesar de tudo, o Brasil ainda possui material humano que resista a essa catástrofe moral e econômica, em condições de voltar a acreditar em si mesmo e em  suas instituições.
O sistema de corrupção estruturado para a perpetuação do poder está sendo destruído.
Neste momento o Supremo Tribunal Federal (STF) é uma segurança contra a vontade do dinheiro e do poder.
A imprensa é investigativa e livre deixando a sociedade brasileira muito bem informada.
É indiscutível que nosso país possui uma população honesta e trabalhadora, consciente de  que a corrupção que desaparece com  os recursos da saúde e da educação, é que alimenta a violência e o desemprego nas cidades.
Queremos virar esta página da nossa história que tanto nos indigna e revolta.
Um país que apesar dessa história desafiadora tem tudo para sair democraticamente dentro do Estado de direito, para a reconstrução.

Gabriel Novis Neves
08-12-2015

Segunda, 21 Dezembro 2015 15:40

 

Participei de uma solenidade na UFMT em comemoração aos 40 anos da fundação do Curso de Geologia. Naquela época eu era reitor.  
Durante as festividades pude entender o famoso verso de Fernando Pessoa - “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. 
O Curso de Geologia foi criado quando a nossa universidade tinha apenas três anos de implantação. Enfrentou todas as dificuldades que um curso de sua complexidade apresentava para sobreviver. 
Aos 40 anos possuiu um excelente corpo docente composto de doutores e mestres concluintes de doutorado. 
Com a participação da mulher em todas as áreas já se nota o encanto feminino em um curso outrora de perfil masculino. 
Impressionou-me a participação ativa do seu Centro Acadêmico (comandado por uma mulher), assim como de toda a alta direção do curso, dos professores e da sua matéria prima - os alunos. 
Foi realmente uma bela manhã de confraternização acadêmica, sem saudosismos, porém, com a certeza que possuímos um dos melhores cursos de Geologia do país e um motor de desenvolvimento deste Estado. 
Ao retornar para minha casa fui acompanhado pelo porteiro do edifício em que moro até o elevador. 
Muito ansioso, ele queria me contar uma história. Solicitou-me que escrevesse um artigo sobre o assunto para alertar as nossas autoridades de saúde pública. 
Relatou-me que a sua filha de 9 anos, portadora de grande mal asmático, precisava com urgência de atendimento médico. 
Estava prostrada, com muita falta de ar, desidratada, com chiado no peito audível, inapetente. Em casa tinha utilizado a medicação de sempre sem sucesso, e o caso estava grave. 
Procurou a única UPA em funcionamento na cidade do VLT e, após longa demora, foi aconselhado a procurar uma policlínica próxima (Bairro do Planalto), pois a unidade de pronto atendimento não possuía médico para o atendimento. 
A mesma resposta lhe foi dada na Policlínica procurada. Atravessou a cidade e encontrou um especialista em bronquite asmática em crianças na Policlínica do Verdão.  
Foi examinada com desdém, segundo o pai, e receitado um xarope e inalação, obtendo alta. 
Ele, desesperado, procurou uma Clínica Privada. Lá a criança foi minuciosamente examinada e avaliada. No local, três tipos de medicação injetável lhe foram administradas e, após melhora, obteve alta com novas medicações. 
Dois dias foram suficientes para a sua total recuperação. 
O pedido do porteiro foi feito no sentido de informar nossas autoridades responsáveis, blindadas por eficientes serviçais, sobre a realidade da saúde pública ofertada à maioria da nossa população (SUS). 
Não podemos ter uma saúde para ricos e outra para 75% da nossa população composta de pobres. 
Fica o alerta da nossa triste realidade, contrastando com os anúncios das mídias.

Gabriel Novis Neves—20-11-2015

Segunda, 21 Dezembro 2015 15:39

 

Livros de autoestima nos doutrinam a valorizar pequenas coisas do nosso cotidiano para sermos felizes. 
Histórias da humanidade são citadas em abundância para nos convencer que devemos ampliar as minúsculas preciosidades do nosso dia a dia e que elas terminam em conforto para acalmar as turbulências pela qual passamos. 
Valorizar cada vez mais um gesto de carinho ou o riso de uma criança. A gratidão de um idoso ou a generosidade de um jovem. 
A natureza com as suas inúmeras surpresas, cheias de beleza estética é uma dessas pequenas coisas que nos são proporcionadas e que, obnubilados pelos grandes projetos consumistas, nos passam quase despercebidas. 
Os mangueirais arqueados pelo peso dos seus frutos, as roseiras com as mais variadas combinações de cores, a vegetação rasteira cheia de graça e vitalidade, são exemplos desses pequenos presentes que diariamente recebemos como brindes. 
Os pássaros sempre alegres nos encantando com os seus trinados. 
Os rios produzindo com o seu caminhar uma das maravilhas deste planeta - pela disciplina dos seus movimentos e ruídos das suas águas. 
O céu azul com as estrelas a nos provocar durante a noite contrastando com o sol causticante do dia. 
Essa coletânea de aparentes pequenas coisas poderá ser aumentada pelo milagre de acordamos com saúde, e deveriam ser comemorados como grandes conquistas e com muita emoção. 
Mas, estão no grupo das coisas pequenas! Não nos lembramos da sua importância e grandiosidade, a não ser quando as perdemos. 
Prova disso é a imensa tristeza que está acometendo, não só os nascidos no Estado do Espírito Santo, mas todos os brasileiros, com a possível morte do Rio Doce, atingido pelos rejeitos tóxicos resultantes do rompimento da barragem de Mariana. 
Que crimes ambientais dessa grandeza não voltem a ocorrer, uma vez que, matando a natureza, tornamo-nos todos inviáveis. 
Vamos ser felizes pelo que temos e somos, e não, pelo que poderíamos ser ou ter! 

Gabriel Novis Neves
20-11-2015

Segunda, 21 Dezembro 2015 15:39

 

Nada mais complexo que tentar entender o mecanismo desencadeante das emoções. 
Funcionamos num turbilhão de ambivalências, medos reais e imaginários, ódios e idiossincrasias desmedidos, tumultos internos de tamanha intensidade, que nem as mentes mais inquisitivas conseguem explicar reações tão diversificadas. 
Algumas vezes invejo os alienados, estes sim, distantes e alheios a todas às suas contradições, sem mesmo se darem conta da existência das mesmas. 
Vivem num mundo quase ameboide, como se os fatos e, principalmente, “os outros”, dele não fizessem parte. 
Eles não precisam de trocas emocionais, uma vez que elas não fazem parte do seu universo. 
Contentam-se com o trivial das coisas, o óbvio, sem maiores cogitações, a imagem refletida nos próprios espelhos - que para eles é sempre a verdade inquestionável. 
São acomodados e a vida lhes parece previamente programada, sem dúvidas, sem questionamentos. 
A era digital é perfeita para essas pessoas que apenas se reúnem para melhor compartilhar a sua solidão. 
Famílias inteiras ou grupo de amigos, e até mesmo casais de namorados, passam a maior parte de seu tempo ensimesmadas num mundo virtual, que nada a ver tem com o seu. 
O não pensar, minimizando, portanto, ao máximo o mecanismo das emoções, tem sido a tônica desse mundo atual em que a realidade cada vez menos consegue nos tocar. 
Entretanto, as poucas pessoas com um HD um pouco mais complexo, inquisidor, estão sempre dando defeito, tais como os computadores de última geração. 
São portadores de emoções hipertrofiadas, carências sempre crescentes, contestadores crônicos, atividade cerebral, enfim, próxima ao botão de alerta. 
A neurociência, apesar de toda a recente tecnologia, ainda está longe de detectar a complexidade de todo esse sistema tão diverso de pessoa para pessoa. 
Enquanto isso não acontece, a dificuldade de relacionamentos por parte da humanidade mostra-se cada vez mais difícil. 
Somos seres que não conseguem se conectar verdadeiramente uns com os outros, sem sentimentos de vaidade ou de poder, acreditando ser possível sobreviver nesse mundo de solidão. 
Quem sabe estaremos ainda numa remota fase evolutiva, havendo necessidade de alguns milhões de anos para que nos tornemos verdadeiros seres humanos. 
Prefiro acreditar nisso.

Gabriel Novis Neves

Sexta, 18 Dezembro 2015 09:25

 

Infelizmente, depois de alguns anos com perspectivas progressistas, estamos observando pelo mundo afora o aprofundamento da caretice com a volta forte de um conservadorismo que já nos parecia distante.
Como tudo atualmente tem tendência a ser rotulado, passamos a considerar tudo o que está acontecendo como um movimento de direita generalizado.
Pessoalmente, acho que direita e retrocesso nada têm em comum, assim como esquerda e progresso não significam a mesma coisa.
Penso que ideologias surgem em função do caldo cultural de cada época, em cada país.
Ao contrário, tudo está muito mais em cima do poder econômico e a injustiça social no mundo tomou dimensões insuportáveis.
O “deus dinheiro” é o grande ídolo do nosso século e graças a ele, e em função dele, tudo acontece.
Somos esmagados por ricas lavagens cerebrais subliminares e já não distinguimos bem conceitos entre certo e errado.
Tudo é submetido a programas de massificação sofisticadamente elaborados por alta tecnologia.
A intolerância se apossou de todos e o bom senso parece bater em retirada.
Conheço pessoas brilhantes nas mais diversas ideologias.
Rotulá-las de conservadoras ou progressistas parece-me fruto de um mesmo pacote de intolerância.
Até porque, as ideias, como tudo na vida, estão em constante mutação, e isso costuma pautar a vida de pessoas mais interessantes intelectualmente.
Aqui no Brasil, após as manifestações de junho de 2015, todos nós fomos afetados por uma espécie de ufanismo, na esperança de vermos todo um país lutando pacificamente em busca de melhores dias.
O sonho acabou rapidamente e, em linha contrária, percebemos que havia sido eleito um dos Congressos mais retrógados da nossa história.
Na sua maioria ele é composto por indivíduos pertencentes às forças poderosas do grande capital, por um maior número de representantes da indústria armamentista ligados aos sistemas de segurança, por um grande número de homofóbicos e xenófobos, por grandes representantes do agronegócio e das religiões fundamentalistas.
Isso sem falar que muitos desses nossos “representantes” apresentam ligações estreitas com o esquema de corrupção que assola o país.
Enfim, tudo que não víamos há muito em tamanha quantidade. 
Diante de todo esse quadro, fácil seria perceber o retrocesso a que iria ser submetida a sociedade civil no momento em que a perda de confiança nos seus representantes legais resultasse num descompasso desastroso entre ela e os poderes constituídos.
Freud, em seu último livro, questiona os regimes democráticos, apregoando que os povos gostam mesmo é dos regimes totalitários, em que uma única figura paterna seja responsável por todos os seus males ou suas benesses.
Numa visão freudiana, ou não, percebemos que o mundo está num processo de caretice progressiva.
Religiões fundamentalistas crescendo, preconceitos étnicos e sexuais aumentando, feminicídio em alta, direitos da mulher pouco respeitados, xenofobia crescente. Uma volta assustadora a tudo o que parecia já estar sendo enterrado nos tempos modernos.
Enfim, este é o perfil do mundo que nos aguarda e, queiramos ou não, a ele estamos sendo adaptados pela mais perigosa das opções, a apatia.

Gabriel Novis Neves
01-12-2015