Quinta, 20 Agosto 2020 14:20

 

A culpa é das mulheres? Nessa sexta-feira, 21/08, às 19h, a Adufmat-Ssind recebe quatro mulheres para debater violência patriarcal na pandemia. A quarentena que se impõe já há cinco meses com o objetivo de proteger a população também intensificou as violências domésticas. 

Nesse sentido, as convidadas da Live, Amairi Kaiabi (liderança no Xingu), Madah (promotora popular em Defesa da Mulher), Andressa Mendes (pedagoga e advogada especialista em Direito Público) e Rafaella Felipe (bióloga e coordenadora do projeto Gaia/Sinop) analisam os casos que trazem horror à sociedade desde muito antes da Covid-19, e os mecanismos de denúncia e proteção às mulheres.

Você pode participar fazendo a sua pergunta no chat durante o debate ao vivo, que poderá ser acompanhado pela página oficial da Adufmat-Ssind no Facebook (https://www.facebook.com/ADUFMAT-SSIND-211669182221828) e também pelo Youtube (link será disponibilizado em breve).     

Quarta, 16 Outubro 2019 18:06

 

A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind) vem, por meio desta, manifestar solidariedade à professora Lisanil C. Patrocínio, docente da UNEMAT há 15 anos, que foi brutalmente contida e presa por manifestar sua posição política em uma festa da Igreja Católica de Campos de Júlio.

 

O sindicato manifesta, ainda, repúdio aos populares, policiais e ao pároco da Igreja de Campos de Júlio, conhecido como Frei Sojinha (devido a sua relação preferencial com os grandes produtores de grãos), pela truculência praticada contra a professora.

 

No dia 13 de outubro a docente foi a uma festa da paróquia vestida com uma camiseta em que estava escrito “Lute como uma Garota” e na lateral havia a insígnia “Lula Livre”.

 

A camiseta levou os presentes a hostilizarem a professora.

 

A certa altura da festa, a professora Lisanil subiu ao palco para reivindicar músicas mato-grossenses. Como incomodou os organizadores, Frei Sojinha resolveu chamar a polícia.

 

A partir do chamado do pároco, quase uma dezena de homens apareceu e, com a truculência que é própria dos fascistas, a professora foi arrastada pelo palco, escada abaixo, e levada à delegacia algemada com mãos para trás do corpo. Há vídeos fortes que retratam a terrível e absurda agressão à professora. 

 

Como se debatia muito, revoltada com a situação, Lisanil foi levada ao hospital onde injetaram tranquilizantes que a fizeram ficar sem condições de ser ouvida pela delegada, obrigando-a passar a noite numa cela. Ali, ao lado do fino colchão no qual a professora passou a noite, havia uma fossa séptica aberta.

 

É inaceitável a postura do pároco, dos policiais e populares que cometeram contra a professora a mais absurda violência física e moral, caracterizando violação de direitos humanos, enquanto docente do ensino superior, trabalhadora e mulher. Nada justifica tanta agressividade.

 

Entendemos que tal postura reflete o ódio machista às mulheres, consideradas perigosas por serem autônomas, por terem posição política e a coragem de enfrentar um Estado ainda patriarcal e violento.

 

O episódio lamentável demonstra que, mais uma vez na história, o ódio fascista se alastra com maior facilidade entre aqueles que se dizem religiosos e “pessoas de bem”, já que a violência sofrida pela professora envolve um dirigente da igreja católica e foi testemunhada por uma plateia de fiéis da igreja que gritavam palavras de baixo calão contra a professora e filmavam tudo enquanto se deliciavam aos risos, com o horror da violência física e moral.

 

A Adufmat-Ssind reitera sua posição ao lado dos defensores da democracia e dos direitos humanos e jamais se calará diante do fascismo crescente que avança no Brasil e no mundo!

 

O ódio fascista é a antinomia da Universidade democrática, autônoma e popular que sonhamos construir. Esses fascistas impõem à Universidade a sua destruição, pelo silenciamento, pela tentativa de esfacelar qualquer traço de autonomia através do ódio ao conhecimento e do elogio à ignorância e à brutalidade.

 

O sindicato reitera sua preocupação, pois o ensino superior não pode se transformar num caso de polícia em Mato Grosso. As instituições precisam atuar no sentido de coibirem práticas fascistas que tentam não apenas intimidar como, também, aniquilar os corpos não docilizados dos/as professores/as.

 

O sindicato reitera também a solidariedade da categoria à professora Lisanil. A nossa luta continua em defesa da Universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, além do direito dos professores à liberdade de pensamento, de cátedra e de modos de vida!

 

                                                                      

 A Diretoria da Adufmat-Ssind

 

                                                                                                     

Cuiabá, 16 de outubro de 2019.

Quinta, 22 Agosto 2019 15:05

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Na era da espetacularização de tudo, é possível que o Brasil bata todos os recordes nesse quesito.

Anteontem (20/08), a mídia ganhou mais um dia para a produção de seus espetáculos: às cinco horas da manhã, um ônibus foi sequestrado. Sua trajetória foi interrompida em cima da ponte Rio-Niterói.

Imediatamente, apareceram a Polícia Rodoviária Federal, o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar, ambulâncias e a imprensa; aliás, as televisões talvez tenham sido as primeiras, pois todos os dias elas, com seus olhos de águia, fazem sobrevoar seus helicópteros sempre capturando, de preferência em primeira mão, algum infortúnio social, como os engarrafamentos, as explosões de caixa eletrônico, os incêndios em barracos de uma comunidade, as inundações etc.

Ah, sim! E os curiosos, que parecem brotar do asfalto! Faltavam eles!

Os curiosos, rapidamente, apareceram o mais perto possível do epicentro do sequestro, afinal, conseguir uma imagem inédita, filmada pelos seus modernos celulares, equivale a vencer uma competição posta no ar vinte e quatro horas, todos os dias. É assim que, em questão de segundos, alguém pode virar celebridade, ainda que por tempo efêmero. Mas o que isso importa?

Diante disso, tudo já estava perfeito – cenário e quantidade de personagens direta e indiretamente envolvidas – para garantir audiência durante o resto do dia. Entre lembranças de episódios semelhantes, ocorridos no passado, imagens reais e conjecturas apresentadas por todo tipo de gente, inclusive os tais especialistas em “segurança”, as programações iam se alimentando de mais uma tragédia, que parecia, de fato, poder se concretizar a qualquer momento.

Engano. A tragédia foi bem menor do que o esperado. O ônibus não foi incendiado. Alguma frustração escondida aqui e ali?

Seja como for, dos 40 envolvidos (conto também o sequestrador), apenas e exatamente ele pagou com a vida. Uma rajada de tiros de uma arma potente, disparada por um atirador de elite, pôs fim ao sequestro, executado com uma arma de brinquedo. É claro que a totalidade da ação não parecia ser apenas uma brincadeira, embora, ao que tudo indicava, a intenção de Willian Augusto da Silva não era de matar ninguém; ao que parece, ele queria apenas “entrar para a história”; e entrou, embora tenha saído da vida.

No momento exato de sua saída da vida, surgiram as cenas mais complexas: pessoas comemoram o “sucesso” da operação policial, que não conseguira dissuadir o jovem, aparentemente transtornado, a desistir daquele teatro real.

Até aí, compreendo o alívio de todos, principalmente dos reféns e de seus familiares e amigos. Todavia, comemorar aquele desfecho, como se o time do bem tivesse marcado um gol de pênalti, no último segundo de uma partida de futebol, contra o time do mal, foi constrangedor. Mais: foi desumano.

E as imagens de desumanidade aumentaram a partir do momento em que o governador do Rio desceu do helicóptero. Aos pulos, aquela autoridade, que não se cansa de responsabilizar os defensores dos direitos humanos por todas as tragédias que ocorrem no país, vibrava com aquele desfecho. Mesmo sendo um juiz de formação, o governador não conseguiu ter a circunspecção que o cargo pedia.

Diante daquela tragédia, tivesse o desfecho que tivesse, o silêncio, seguido de muitas reflexões, talvez fosse a melhor maneira de, humanamente, agir. Mas ser realmente humano em nossa sociedade, paradoxalmente tão religiosa, é sempre difícil, ainda mais em momentos que fogem da linha da “normalidade” esperada.

Segunda, 11 Março 2019 10:13

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Nesta sexta feira, 08 de março  de 2019 será “comemorado” o DIA INTERNACIONAL DA MULHER, reconhecido como um dia especial pela ONU desde 1975, para que no mundo inteiro este dia seja um momento de reflexão e de alerta quanto `as condições em que ainda vivem ou sobrevivem bilhões de mulheres, ainda tratadas como pessoas de segunda classe em diversos países, muitos dos quais se consideram ou são considerados estados democráticos de direito, inclusive o nosso Brasil.


A cada ano a ONU cria ou estabelece um tema, em torno do qual as reflexões ou comemorações devem dar maior atenção ou ênfase. Neste ano de 2019, o tema indicado pela ONU é tecnologia e inovação, mas no sentido de como este binômio pode ser “trabalhado” para promover igualdade e equidade de gênero em termos de direitos, de oportunidades e de tratamento.


O DIA INTERNACIONAL DA MULHER pode ser considerado um movimento global de celebração e também de denúncia.  Celebração das conquistas sociais, econômicas, politicas e culturais das mulheres, graças a muitas lutas, sacrifícios, até mesmo de vidas humanas para que a igualdade de gênero seja algo real e palpável. Denúncia das mazelas, como  discriminação, violência, especialmente estupros e feminicídios; desigualdade no mercado de trabalho e de salário e outras tantas formas que impedem que as mulheres sejam tratadas com justiça e a dignidade que merecem.


A condição da mulher como objeto, como mera reprodutora humana, sem direitos fundamentais garantidos a todos os seres humanos vem de longe, por séculos, talvez milênios, este sofrimento faz parte de uma cultura onde o machismo e a violência tem sido práticas comuns e aceitas pelas diversas sociedades, desde a patriarcal até a chamada família “monogâmica” e nuclear dos tempos “modernos” ou atuais.


Em diversos países meninas são “dadas” em casamento ou vendidas em tenra idade, as vezes com 12 ou 13 anos; de forma arbitrária por seus pais; em outros países como a Índia o estupro coletivo é algo bem comum e a impunidade para os algozes acaba as vezes levando a mulher, a jovem ou a adolescente ao suicídio.


Em inúmeros outros países as meninas não tem direito de irem a escola, em outros mulheres não podem votar ou até mesmo dirigir e permanecem praticamente na condição de escravas sexuais ou domésticas.


Aqui no Brasil, apesar de muita propaganda e mentiras oficiais, a condição da mulher ainda está muito longe da tão sonhada igualdade de gênero ou do empoderamento de que tanto a ONU e diversos outros organismos internacionais propalam.


Pesquisa recente, a segunda realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública há poucos dias indica que em 2018 nada menos do que 16 milhões de mulheres, adolescentes e jovens do sexo feminino foram vitimas de algum tipo de violência, isto representa 27,4% da população feminina de 16 anos ou mais, com destaque para o fato de que até mesmo as mulheres idosas, de 60 anos ou mais não escaparam desta violência.


Por faixa etária a violência atingiu 42,6% das mulheres jovens, entre 16 a 24 anos; 33,5% entre as mulheres de 25 a 34 anos; 27,1% na faixa etária de 35 a 44 anos; 17,8% entre as que tem entre 45 a 59 anos e 13,6% entre as idosas com mais de 60 anos. Neste grupo a violência atingiu 2,7 milhões de mulheres, o que não deixa de ser um absurdo abominável.


Segundo o Jornal Folha de São Paulo em 2017 foram registrados mais de 60 mil estupros, considerando que ocorre a subnotificação deste tipo de crime, os registros representam entre 15% e 20% no máximo, podemos concluir que no ano passado ocorreram entre 300 mil e 350 mil estupros no Brasil.

Uma outra pesquisa que merece ser consultada foi realizada recentemente pela ONG ÉNOIS Inteligência jovem, em parceria com o Instituto Vladimir Herzog e o Instituto Patrícia Galvão, intitulado “O que é ser menina no Brasil”, sob a ótica do machismo e da violência contra a mulher.


Esta pesquisa entrevistou 2.285 adolescentes e jovens do sexo feminino, com idades entre 14 e 24 anos, em 370 cidades do Brasil, de famílias com renda de até R$6.000,00. Os resultados confirmam outras pesquisa quanto o quão duro e cruel é o fato de ser “menina” em um país machista, onde a violência contra a mulher “faz parte” da cultura nacional, reforçada pela impunidade dos agressores e conivente com práticas desumanas, abomináveis e uma justiça extremamente morosa, que favorece ou até mesmo estimula a perpetuação desta crueldade, como vemos todos os dias estampada nas manchetes dos meios de comunicação de massa.


Alguns dos resultados desta pesquisa demonstram que neste universo 41% das mulheres/jovens e adolescentes já sofreram violência física, incluindo estupros; 77% já foram vitimas de assédio sexual; 94% ja sofreram assédio sexual verbal e importunação sexual; 90% já deixaram de fazer alguma coisa com medo da violência; 82% já sofreram preconceito/discriminação pelo fato de serem mulheres e 77% afirmam que o machismo afetou negativamente o seu desenvolvimento humano como pessoas.


Enfim, de pouco ou nada adiantam belos discursos, buquês de flores, caixas de bombons ou “mimos” de seus superiores, se no dia-a-dia milhões de mulheres continuam sendo vitimas de práticas machistas, discriminação e violência de toda ordem, chegando a desfigurar fisicamente, destruir psicologicamente ou assassinar mulheres indefesas.


Que este 08 de março de 2019 , DIA INTERNACIONAL DA MULHER, seja um dia marcado por reflexões mais profundas e encontremos os mecanismos, meios e os caminhos para que a igualdade de gênero em sua plenitude seja algo real e verdadeiro em nosso país. De pouco adianta ufanismo, patriotismo, belos discursos enquanto as mulheres que representam mais da metade da população brasileira continuarem sendo discriminadas e vitimas de tanta violência, pelo simples fato de terem nascido MULHERES.


O machismo e a violência contra a mulher devem ser discutidos e “trabalhado” nas famílias, na escola, na comunidade, nas igrejas, no mundo do trabalho e nas instâncias institucionais, sem o que jamais iremos superar esta nódoa que tanto envergonha e mancha indelevelmente nossa sociedade. Pelo fim do machismo, da violência contra a mulher e pela plena igualdade de gênero em nosso país!



*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

Quinta, 24 Janeiro 2019 09:48

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. em Jornalismo pela USP/Professor da UFMT

 

Longe vai o tempo em que – na visão de Mário de Andrade, mais especificamente em Macunaíma – se podia dizer literariamente que “pouca saúde e muita saúva” eram os males do Brasil. Hoje, a lista de nossos dissabores é mais longa e complexa. Nossos males estão também na educação, habitação, saneamento etc.

Em meio a tanta mazela, lembrando a “Canção do Exílio” de Murilo Mendes, que parodia a homônima de Gonçalves Dias, além de continuarmos não podendo “dormir com os oradores e os pernilongos” (proliferados como nunca), ainda convivemos com inúmeras informações, geralmente dignas de investigações policiais, sobre performances de muitos dos membros das famílias tornadas nobres dentre nós, reles mortais.

Como a nossa decadência é geral e abrangente, é claro que, hoje, os “sururus em família” não têm mais “por testemunha a Gioconda”, como podíamos “saber” pelos versos do já citado Murilo.

Se fosse hoje, no lugar da Gioconda, também conhecida como Mona Lisa, talvez o poeta registrasse a grosseira figura do Tio Sam, que recrutava jovens para as forças armadas dos EUA para atuarem na I Guerra Mundial.

Concluído o introito, deliberadamente irônico, o cerne é pensar sobre as consequências que poderemos ter por conta dos problemas que começam a vir à tona, assim como m... em águas poluídas: a contradição entre os discursos e as práticas do ex-deputado federal, e hoje senador, Flávio Bolsonaro, filho de Jair, presidente da República e imperador da moral cristã no Brasil.

Flávio está no centro de uma encrenca daquelas; tudo foi originado por conta de uma investigação do MP e da Polícia Civil/RJ sobre problemas de corrupção na Assembleia Legislativa. Por aí, chegou-se ao nome de um de seus ex-assessores. Por conta de complicações financeiras que envolvem o ex-assessor, Flávio já tem de explicar coisas bem complexas sobre a parte que lhe cabe em seu já encorpado latifúndio.

A contragosto, concedeu “entrevistas” em emissoras amigas de sua família, e a cada dia Flávio emite notas à imprensa (e nas redes, claro), tentando explicar o inexplicável. Por isso, o jovem político, dizendo-se ser vítima de perseguição, já tentou recursos até no STF, pretendendo não ter de dar explicações a ninguém.

Mas errou quem supunha que os problemas de Flávio seriam apenas esses. Há mais. Agora já se sabe que ele sempre atuou politicamente para consolidar milícias no Rio.

Como?

Dentre outras, condecorando milicianos com as principais honrarias do Estado. Houve condecoração até para investigado em chacina, aliás, um possível envolvido no caso das mortes de Marielle e Anderson. 

O que isso significa?

O de pior que possa vir de um político. As milícias – que são um dos tipos de organizações criminosas – são irmãs do tráfico, ou seja, a organização por excelência do crime.

Portanto, grosso modo, já podemos compreender que esse filho do presidente é, por tabela, um dos maiores responsáveis pela violência no Rio.

Lembrando Drummond, pergunto: e, agora, Jair?

Incertezas no ar.

Não basta dizer “se Flávio errou, tem de pagar”, pois sua grande família se ofertou politicamente como exemplo do moralismo cristão para salvar o país das mazelas, incluindo a violência.

Pois bem. Como todo moralismo é falso, a parte da mídia execrada pelos Bolsonaro nos oferecerá, a cada dia, um dado a mais de uma pantanosa novela. Desceremos às profundezas do inferno. Agora, é só o começo.

Pior: no plano ético, ninguém pode sequer sentir saudades de nosso passado político recente, também organizadamente criminoso.

Tragédia completa.

Quarta, 23 Janeiro 2019 14:14

O presidente Jair Bolsonaro assinou decreto no dia 15, flexibilizando o direito à posse de armas no Brasil. O novo decreto especifica o que é a “efetiva necessidade” expressa na lei para permitir a posse de armas, garantindo, na prática, o direito à posse a quase todos os brasileiros.

A decisão aumenta a preocupação em relação aos feminicídios e agressões à mulher. O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). O sistema Datasus, que registra mortes ocorridas em atendimentos no sistema público de saúde, afirma que 2.339 mulheres foram mortas por disparos de armas de fogo no Brasil em 2016 — metade do número de mortes por agressão ocorridas no país. Nos casos em que a mulher foi morta dentro de casa, armas de fogo foram usadas em 40% dos casos.

A posse de armas pelo companheiro ou cônjuge chega a ser considerada agravante em diversos países no momento de determinar medidas protetivas para mulheres. Em entrevista à revista Época, Valéria Scarance, do Grupo de Enfrentamento à Violência Doméstica do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), aponta dados alarmantes. Entre 2011 e 2016, disparos de arma de arma de fogo foram a principal causa da morte de mulheres de até 29 anos de idade.

“Não ter arma de fogo não reduz o risco de violência doméstica. Mas a existência dela dentro de casa, seja a arma legal ou ilegal, agrava o risco de morte para as mulheres e acende a luz vermelha. É um consenso internacional. A existência de arma de fogo dentro de casa é um fator maior de risco. Afinal, em geral os homens que praticam violência contra a mulher e feminicídio são réus primários, têm bons antecedentes e residência fixa (condições que os credenciam a comprar armas)”, afirmou Scarance à Época.

 

 Fonte: ANDES-SN (com informações de Atlas da Violência, The Intercept Brasil, Revista Época, Portal Vermelho e Revista Vice)

 

Quinta, 18 Outubro 2018 10:16

 

Dois militantes foram presos na tarde de terça (16), na cidade de Campinas (SP), por distribuir panfletos em frente ao terminal rodoviário da cidade. No ato da prisão, um guarda municipal disse que “graças a Deus” a ditadura militar havia voltado.

 

Marcela Carbone, recém-formada em artes cênicas pela Universidade de São Paulo (USP), e João Pedro Buzalski, estudante de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foram levados à Polícia Federal (PF) acusados de crime eleitoral e liberados horas depois.

 

“Eu me senti calada. É a dor da contenção. Qualquer pessoa que é contida assim, física ou moralmente, entende o que é isso. O que é ter que se calar. Eu tenho direito à minha voz. Tenho direito a falar o que eu quiser. Ontem, a sensação que eu tive é que não posso falar o que quiser”, afirmou Marcela em entrevista ao ANDES-SN.

  

Ela conta que estava junto com João Pedro, panfletando em frente ao terminal rodoviário, quando foram abordados por um membro da Guarda Municipal. O guarda afirmava que eles estariam dentro do terminal e, portanto, cometendo uma ilegalidade ao distribuir panfletos em uma instituição pública. “Eu questionei o guarda, dizendo que já havia panfletado várias vezes no local. No terminal, o portão dá para uma praça cheia de camelôs e o guarda dizia que eu não podia ficar lá, que só podia panfletar mais longe, na rua. Mas ali há uma demarcação física, com o portão, mostrando o limite do terminal”, explica.

 

O guarda se enfureceu com as respostas dadas e passou a acusar os militantes de desacato à autoridade. Ele aumentou o tom de voz e repetiu diversas vezes para que Marcela se calasse. “Ele dizia que eu não podia aumentar o tom de voz, que só ele podia falar alto e gritar. Eu tentava argumentar, mostrando para ele que eu não queria arrumar confusão”, conta. “Eu questionava porque ele gritava comigo. Que só por estar fardado estava gritando comigo e que isso era abuso de poder”, completa Marcela.

 

Quando o guarda chamou reforços, os militantes se viram cercados. A população também passou a se aglomerar para entender o que estava acontecendo. Os militantes foram impedidos de ir embora porque estariam passando por averiguação. Suas mochilas foram abertas e todos os panfletos apreendidos. “Como eu não podia entregar panfletos, comecei a dialogar com a população, falando das propostas que estavam nos panfletos. O guarda me dizia que eu não podia falar, que ia ser pega por desacato”, afirma.

 

No momento em que foram acusados de crime eleitoral, Marcela ligou para sua advogada. No telefone, comentou que sentia que a ditadura havia voltado. O guarda que estava ao seu lado respondeu: “é isso mesmo, a ditadura voltou, graças a Deus”. A militante conta que se sentiu indignada por perceber que a abordagem dos guardas era política.

 

Os militantes foram levados à PF e depois à 1ª Delegacia Policial de Campinas. Em seguida foram novamente à PF, onde prestaram depoimento. Ambos foram liberados no início da noite e o material de campanha confiscado foi devolvido. Eles ainda não sabem se serão processados.

 

Fica quieta! Você fala muito! Fica quieta!

 

Marcela Carbone ainda está tentando entender o que sentiu ao ser proibida de panfletar e ao ser presa por lutar por seus direitos. “Estou desde ontem tentando entender o que senti. Foi muita adrenalina. Senti todas as emoções possíveis. A palavra que mais ficou na minha cabeça é contenção. O que eu mais ouvia, e que ficou se repetindo na minha cabeça, era o guarda me dizendo para ficar quieta, me dizendo que eu não podia falar. "Fica quieta! Você fala muito! Fica quieta!", ele dizia”, conta a militante.

 

Ela considera que a prisão está relacionada à onda de ataques de ódio vivida nas últimas semanas no Brasil. “O candidato que foi o mais votado do primeiro turno e que tem chances de ganhar as eleições, ou seja, a pessoa que vai dar exemplos para a população é a pessoa que diz que petista tem que ser metralhado, que mulher tem que ser silenciada e receber menos, que gay nem é gente, que negro é comparável a animal. Isso legitima que as pessoas se sintam à vontade para agredir. Porque elas sentem que não vão ser punidas por abusar do poder. Por isso, o guarda falou que a ditadura voltou. Ele quer dizer que “graças a deus” vai poder abusar do poder, sem medo de qualquer discussão sobre direitos humanos”, comenta Marcela.

 

“Apesar de isso impactar, a prisão não vai me derrubar. A gente tem que seguir enfrentando. Não podemos recuar. Esse é o recado que quero deixar: eles não vão conseguir me calar”, conclui.

  

Fonte: ANDES-SN (com imagem de Diário do Centro do Mundo)

 

Quinta, 11 Outubro 2018 11:54

Parede pichada no Instituto de Linguagens da UFMT 

 

O saldo pós primeiro turno das eleições 2018 no Brasil não é positivo, e o receio de novas tensões se agrava na expectativa do segundo turno. O discurso desrespeitoso e de ódio do candidato Jair Bolsonaro tem motivado agressões físicas, emocionais e simbólicas por parte do seu eleitorado a quem manifesta qualquer crítica às ideias do político. Na Bahia, o mestre de capoeira Moa do Katendê foi assassinado a facadas depois de declarar seu voto em Fernando Haddad a amigos, num bar.   

 

A intolerância às divergências e ao contraditório, essenciais ao exercício da democracia, também estão gerando conflitos em Mato Grosso. Essa semana, a Adunemat - Seção Sindical do ANDES na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) denunciou, por meio de nota (leia abaixo), ameaças a docentes e estudantes que declararam apoio à candidatura de Haddad.

 

Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), duas suásticas acompanhadas do número 17 foram pichadas nas paredes do Instituto de Linguagens (IL), na quarta-feira, 10/10, deixando a comunidade acadêmica perplexa. O símbolo nazista assusta e evidencia o que Bolsonaro e seus eleitores tentam negar: o discurso de que as minorias devem se adequar às demandas da maioria, ou simplesmente desaparecer, se aproxima à ideologia nazista de supremacia.  

 

“De imediato nós que estamos aqui, com o papel de formar os estudantes, nos assustamos, porque sabemos o que esse símbolo representou na história da humanidade, quanta dor ele trouxe. Mas isso não está restrito a universidade, é um movimento espalhado em todos os espaços, expondo uma cultura que tem muito a ver com a nossa democracia ainda muito debilitada. Alguns sujeitos que resolveram apoiar determinada candidatura à presidência estão sentindo-se no direito de trazer um pensamento e um comportamento que se assemelha aos movimentos nazi-fascistas que nós vimos nas décadas de 1930-1940 na Europa”, declarou o professor Reginaldo Araújo, presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind).  

 

Para o docente, que é historiador e antropólogo, essas manifestações também podem ser lidas como reações no campo da luta de classes. “Os trabalhadores organizados em sindicatos e em diversos movimentos alcançaram conquistas importantes, fazendo pressão sobre governos. O estado neoliberal tenta, o tempo todo, retirar nossos direitos, mas há resistência a esses ataques, que sempre existiram, mas se aprofundaram nos últimos dois anos. Esse contexto, que apresenta sujeitos com perfil nazi-fascista, agressivos, fechados ao diálogo e sem respeito às opiniões, deve se manter nos próximos anos. Então fica o desafio àqueles que acreditam que a democracia deve ser aperfeiçoada, para tentarmos abrir diálogo e fazer formação política”, concluiu.   

 

Outras universidades também foram pichadas com a suástica. Na Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), o símbolo está acompanhado da frase “fora pretos”. Apologia ao nazismo é crime no Brasil, previsto na Lei 7.716/1989 (Parágrafo 1º, Art. 20), com pena de reclusão de dois a cinco anos para quem “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo”.

 

 Pichação na UERJ

 

O diretor do Instituto de Linguagens da UFMT, Roberto Boaventura, já declarou que solicitará investigação sobre o caso.  

 

As denúncias são tantas, em diversos estados, que até um site foi desenvolvido para das visibilidade aos casos. O Mapa da Violência eleitoral já reúne centenas de relatos de agressão em todas as regiões do país.

 

Militantes independentes e coletivos da UFMT e UNEMAT ligados ao Movimento Negro, LGBT e de Mulheres também estão organizando um Observatório para registrar os casos de violência, além de formar uma rede de apoio às vítimas locais.    

 

Respeito deveria ser o mínimo

 

O que uma sociedade democrática espera de um representante político é, no mínimo, respeito. O líder das pesquisas de intenção de voto, no entanto, aparece em diversos vídeos ofendendo grupos que discordam das suas posições políticas.

 

Em um deles, Bolsonaro oferece capim como alimento aos eleitores do candidato adversário, comparando-os a animais irracionais. Por óbvio, seus eleitores reproduziram a ofensa em manifestações realizadas após o segundo turno, direcionadas principalmente aos eleitores do nordeste do país, região em que o candidato do Partido Social Liberal (PSL) obteve menor desempenho.

 

As manifestações preconceituosas e antidemocráticas com relação à população negra, LGBT, mulheres, indígenas, trabalhadores sem-terra e entidades organizadas de trabalhadores em geral também incentivam ações no mesmo sentido por parte dos seus eleitores.

 

O político, eleito consecutivamente em diversos processos eleitorais há mais de 20 anos, também incita a população a desconfiar do sistema eleitoral, preparando o campo de revolta para o caso de derrota nas urnas.  

 

Confira, abaixo, a nota da Adunemat-Ssind sobre as ameaças a docentes e estudantes da Universidade Estadual de Mato Grosso.

 

Atitudes fascistas no espaço acadêmico da UNEMAT

 
Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas. (Friedrich Nietzsche)

 
A Diretoria da ADUNEMAT vem a público manifestar REPÚDIO aos assédios, ameaças e às atitudes de caráter fascista sofridas por professores e alunos nos campi da UNEMAT. Tais atitudes estão sendo praticadas por pessoas que se assumem como apoiadoras do presidenciável do Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro. Diversas situações são identificadas em todo País, e em especial no Mato Grosso, em que alunos, professores, profissionais técnicos e demais frequentadores do espaço acadêmico, por manifestar sua opção política a Fernando Haddad do Partido dos Trabalhadores (PT), sofrem hostilização, repressão e ameaças.

 
É inadmissível que qualquer profissional, especialmente o professor, bem como o aluno e os profissionais técnicos, seja do Ensino Superior ou da Educação Básica, sinta-se ameaçado, desprotegido ou assediado por manifestar suas ideias e posicionamentos políticos, principalmente na Universidade, espaço em que a liberdade de expressão e de pensamento devem ser garantidos e trabalhados de forma crítica.

 
Os prenúncios desses ataques já se manifestavam desde 2016, e, mais recentemente, quando o ministro da educação perseguiu publicamente os cursos que se propuseram discutir criticamente o Golpe. De lá para cá, o pensamento crítico nos espaços da universidade tem tentado se manter vivo e atuante, resistindo e buscando discutir os modos pelos quais essa onda fascista se instaurou de maneira tão forte. Contudo, não é possível tolerar que haja esse tipo de ameaça a todo e qualquer docente que ousar produzir conhecimento autônomo e crítico no Brasil. Também não é possível que haja intimidação e desrespeito às opções políticas dos professores, alunos e profissionais técnicos. Muito menos tolerável, ainda, é a existência de ameaças físicas dessa natureza a qualquer pessoa no espaço acadêmico.

 
Reiteramos nosso total e amplo apoio a todos os professores, alunos e profissionais técnicos da UNEMAT e defendemos o direito de cada um de expressar livremente suas convicções político-ideológicas.

 
Nos colocamos à disposição.


 
Diretoria da ADUNEMAT

10/10/2018

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Terça, 09 Outubro 2018 09:05

 

Um estudante da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) atirou uma mesa em cima de seu professor, Marcondes Abreu, que abordava o fascismo em uma disciplina do curso de Letras. A agressão ocorreu na quarta-feira (3), em Manaus. O professor apresentou à turma um vídeo do linguista Marcos Bagno, docente da Universidade de Brasília (UnB), sobre o fascismo. Em seguida, pediu que seus estudantes analisassem letras de músicas e as relacionassem ao tema. Nesse momento Marcondes foi agredido por seu aluno.

 

Depois de jogar a mesa em direção ao professor, o estudante ainda tentou continuar as agressões, mas foi impedido por seus colegas. O professor registrou Boletim de Ocorrência (BO) na Polícia Civil do Amazonas. "Eu levei pra turma um vídeo do Marcos Bagno. E numa parte do vídeo, ele fala sobre fascismo, as ditaduras. Falava que a língua é poder. Refleti sobre as letras de músicas. E o aluno começou a vociferar", relatou o professor em seu perfil da rede social. "Ele começou a gritar em sala e eu não revidei. Jogou a mesa na minha direção e fiquei acuado por detrás da mesa. A turma fez barreira pra ele não me alcançar. Com sorte consegui escapar, mas ele foi atrás de mim no corredor. Tenho medo, muito medo", disse Marcondes.

 

A Associação dos Docentes da Ufam (Adua – Seção Sindical do ANDES-SN) divulgou nota de repúdio às agressões. Na nota, a seção sindical lembra que a universidade pública, gratuita e laica é alvo de ataques que ameaçam as condições mínimas para o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão. A Adua-SSind está prestando assessoria jurídica ao docente.

 

“Insatisfação, insegurança e medo tornaram-se sentimentos comuns na vida universitária. Nesse ambiente começam a surgir grupos de indivíduos que dão vazão a suas angústias por meio da violência. Assim é que a agressão física e verbal a estudantes, professores e professoras vem crescendo dentro das universidades”, afirma a Adua-SSind.

 

Confira a nota completa aqui.

 

Fonte: ANDES-SN

 

Quarta, 03 Outubro 2018 15:58

 

A diretoria do ANDES-SN publicou uma nota pública em repúdio a violência praticada contra a docente Gercina Santana Novaes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Gercina foi presa no dia 20 de setembro em uma operação que investiga denúncias de desvio de recursos públicos nos anos de 2014 e 2015. Na época, ela era secretária de educação do município de Uberlândia, no mandato do ex-prefeito Gilmar Machado, que também foi preso.

Um dia após o episódio, o Sindicato Nacional classificou a ação como arbitrária e reafirmou que “o ambiente policialesco instaurado na atual conjuntura não favorece a universidade e nem a sociedade”. O ANDES-SN se mostrou favorável à apuração de qualquer tipo de denúncia, desde que “tais apurações sejam realizadas conforme os trâmites previstos no ordenamento jurídico, respeitando as pessoas e sem uso da violência ou da exposição, que em muitos casos, tenciona à desmoralização, alimentando uma prática perigosa de linchamento virtual e real”.  

A prisão também gerou uma profunda indignação por parte da comunidade acadêmica da UFU, que apontou a decisão judicial como desproporcional. Gercina foi solta na última sexta-feira (26), após habeas corpus .  

Confira aqui a nota na íntegra.

 

Fonte: ANDES-SN