*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e articulista de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
A ARTE DA NEGOCIAÇÃO - Maria Aparecida Morgado
Maria Aparecida Morgado
Dra. em Psicologia Social
Declaro meu voto na Chapa 1 pela coerência que existe entre o slogan “ADUFMAT DE LUTA: AUTÔNOMA E DEMOCRÁTICA!” e a prática político-sindical de seus integrantes.
Acabo de me aposentar com quase 35 anos de trabalho e tenho acompanhado as diretorias do Sindicato desde o início da carreira. E, para dizer a verdade, ver os colegas da Chapa 1 em ação me deu esperanças para resistir ao inexorável, parafraseando Chico Buarque.
Tivemos momentos de grande combatividade de diretorias e momentos de pouca combatividade. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso o sindicalismo, em geral, e o ANDES-SN, em particular, veio apresentando certa distensão entre a condução de decisões políticas do Sindicato Nacional e as bases docentes.
Evidentemente, naquele momento FHC o chamado Neoliberalismo que vinha sendo implantado no mundo chegou ao Brasil. As consequências desse modelo político-econômico para o sindicalismo brasileiro foi desastrosa, pois tirou dos trabalhadores o poder de barganha nas reivindicações salariais dentre outras.
Nossas condições de trabalho docente, assim como nossos salários vieram se depauperando desde então, com melhoras pontuais, tímidas e insuficientes. O nosso salário base foi assimilado a uma colcha de penduricalhos e gratificações disso e daquilo, que podem nos ser subtraídas a qualquer instante.
Estamos em um momento político vital para a sociedade brasileira. Foram congelados por muitos anos os investimentos em saúde e educação e os efeitos desse congelamento já se fazem sentir na UFMT e em outras universidades federais e instituições de ensino técnico.
Estive na Assembléia do ano passado em que votamos pela paralisação ou não de nossas atividades no primeiro e segundo dia de votação da PEC pelo Senado. A Assembléia estava muito tensa, as posições políticas estavam muito polarizadas. Pude testemunhar a clareza política e paciência com que o professor Reginaldo Araújo e demais integrantes da mesa conduziram a Assembléia. Nesses momentos luta e embate é que o caráter das pessoas se revela.
Outros da Chapa 1 presentes na Assembléia divergiram do não à paralisação com clareza, sem perder a paciência e o respeito com os colegas da posição contrária e majoritária. Perdi no voto, mas fiquei feliz em viver aquele momento de maturidade sindical. Eu, que já estava desistindo da luta, recuperei meu fôlego.
Militarei no Movimento Sindical como aposentada doravante. Poderemos concordar ou divergir em nossas posições, mas o rumo dado à condução dos debates e embates de nosso interesse está sedimentado. Por um sindicalismo vigoroso na luta, hábil na prática democrática e sempre autônomo! Pela realização da política como arte da negociação! Pela eleição da Chapa 1!
CAMPANHA DA FRATERNIDADE AUDIÊNCIA PÚBLICA - Juacy da Silva
JUACY DA SILVA*
Se você mora em Cuiabá, Várzea Grande ou municípios da Baixada Cuiabana ou do que atualmente é denominado de VALE DO RIO CUIABÁ, em Mato Grosso, fique atento e participe da AUDIÊNCIA PÚBLICA que será realizada HOJE, dia 03 de abril de 2017, na ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DE MATTO GROSSO, às 14:00 horas.
O assunto desta audiência pública é o tema da CAMPANHA DA FRATERNIDADE deste ano intitulado “BIOMAS BRASILEIROS E A DEFESA DA VIDA”. Este é um chamamento tanto para católicos quanto não católicos para a situação do meio ambiente em nosso país, em nosso Estado e nossa Capital, que em breve estará comemorando 300 anos e ainda não conta com uma adequada rede de coleta e tratamento de esgotos. Em decorrência o Rio Cuiabá recebe milhões de metros cúbicos de esgoto sem tratamento e está se transformando no maior esgoto a céu aberto da Região Centro Oeste.
O Estado de Mato Grosso possui em seu território parte de três biomas que tem sido objeto de uma destruição e degradação acelerada, graças ao modelo atual da expansão das fronteiras agrícolas, mineração clandestina, desmatamento, uso abusivo de agrotóxicos, contaminação dos cursos d'água, que estão transformando nossos rios e córregos, principalmente o Rio Cuiabá e seus afluentes em verdadeiros esgotos a céu aberto. Esses três biomas são a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO/ONU.
É imperioso que a população e as autoridades federais, estaduais e municipais tomem consciência desses crimes ambientais e definam políticas públicas, inclusive políticas de saneamento básico e de controle do uso do solo e das águas antes que esses biomas, principalmente o Pantanal, o Cerrado e a Amazônia sejam destruídos de forma irreparável, afetando negativamente a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável da região.
Se você puder, COMPARTILHE ESTA MENSAGEM e PARTICIPE DESTA AUDIÊNCIA PÚBLICA. A omissão é uma forma de conivência, passiva, com a destruição da natureza e a degradação ambiental.
ELEIÇÕES NA ADUFMAT: entre docentes da luta e aventureiros de plantão - Roberto Boaventura
“Vai, meu irmão
Pega esse avião
Você tem razão de correr assim
Desse frio, mas beija
O meu Rio de Janeiro
Antes que um aventureiro
Lance mão”
(Toquinho, Vinícius e Chico)
Da epígrafe acima, sugiro que ao lê-la seja feita a troca do Rio de Janeiro, lá referido, pelo nosso espaço sindical, ou seja, a ADUFMAT-Seção Sindical do ANDES-SN, que se encontra em campanha eleitoral para o biênio 2017-19.
Duas chapas estão na disputa. A Chapa 1 (“ADUFMAT DE LUTA: AUTÔNOMA E DEMOCRÁTICA!”) é (re)conhecida por ser, de fato, de constante luta em nossa entidade. A Chapa 2 (“Inovação e Inclusão em Foco”) parece mais ser uma junção de colegas que – de uma hora para outra – resolveram se aventurar no espaço sindical.
De antemão, alerto: em tempo de tantas dificuldades, não podemos errar nosso voto nessas eleições. Os sindicatos combativos são importantíssimos em momentos tais. No caso em pauta, fragilizar neste momento a ADUFMAT é jogar a categoria que representa em espaço ainda mais enfraquecido.
Mas como acertar o nosso voto?
Primeiro, procurando informações do histórico dos componentes das duas chapas no cotidiano de nossa entidade, bem como na atuação profissional de cada um em seus departamentos. Nessas horas, toda informação que se tiver é fundamental. Depois, comparando o material de campanha. A diferença é brutal. Ela se explícita em atos concretos dos candidatos; por consequência lógica, essa abissal diferença das práticas sindicais de cada um se reflete em toda linha do material de campanha de ambos os agrupamentos.
De minha parte, como tive o privilégio de conhecer ao longo de três décadas praticamente todos os componentes de ambas as chapas, declaro publicamente, com muita tranquilidade, meu voto na CHAPA 1.
Feita a declaração de meu voto, passo a expor alguns dos motivos concretos dessa opção:
Começo trazendo à tona a coerência do título da Chapa 1: “ADUFMAT DE LUTA, AUTÔNOMA E DEMOCRÁTICA”.
Desse registro, tomo um capítulo bem recente de uma longa novela que começou em uma Assembleia Geral (AG) da Adufmat, lá pelos idos 1993 ou 94, quando eu tive a honra de ter presidido nossa entidade sindical: a ação dos 28,86%.
Na mais recente tentativa de atrapalharem judicialmente o recebimento desse direito já adquirido, o atual presidente da Adufmat, professor Reginaldo Araújo, candidato à reeleição pela CHAPA 1, junto com docentes combativos que sempre estão lhe dando apoio, foi para o enfrentamento concreto com a reitoria da UFMT, demonstrando força na LUTA e plena AUTONOMIA de seus atos junto à Administração Superior. LUTA E AUTONOMIA respaldadas pelas decisões DEMOCRÁTICAS de nossas AG, das quais raramente me ausento.
Nesse sentido, reforço que o Professor Reginaldo Araújo tem se demonstrado ser um docente que exercita a democracia na UFMT. Logo, continuou a lutar pela extensão dos 28,86% PARA TODOS, e não apenas para os mais antigos das listas, como queria um grupo, por medo de que todos perdessem a ação, caso os professores contratados mais recentemente fossem incorporados à ação. Nunca os candidatos da CHAPA 1 e seus apoiadores cederam a essas pressões, que não foram poucas. Assim agindo, todos estamos recebendo esse direito conquistado. É uma vitória da Adufmat, capitaneada, repito, pelo professor Reginaldo.
Portanto, não têm faltado ações concretas por parte do candidato Reginaldo Araújo – conhecido por mim há mais de vinte anos, desde quando fora vibrante discente do curso de História – para a manutenção desse importantíssimo direito adquirido. No contracheque de março, estão garantidos, pois, os nossos 28,86%.
A sua característica de presidir a Adufmat em parceria harmônica com outros docentes com visível prática democrática fê-lo legar ao ANDES-SN, em janeiro deste ano, um dos congressos nacionais melhores organizados por nossa entidade nacional. Participei ativamente na organização desse evento. De docentes do Brasil inteiro, só ouvimos considerações positivas.
Mas além do professor Reginaldo Araújo, a CHAPA 1 nos brinda com nomes de tirar o chapéu, política e academicamente. Não me lembro de nenhuma composição de chapa tão coesa e tão forte para a luta diária da Adufmat. De nenhum dos componentes há da CHAPA 1 há algo que possa desabonar eventual atuação sindical. Cada qual a seu modo tem demonstrado presença no cotidiano da Adufmat, seja no campus de Cuiabá/Várzea Grande, seja nos campi de Sinop e Pontal do Araguaia.
Na composição da CHAPA 1, há importante mescla entre docentes mais antigos e mais recentes na Instituição. Mais: há a presença de docentes que atuam no interior do Estado: Sinop e Pontal do Araguaia. Sindicalmente, isso é muito relevante. Pela mescla, há a garantia do diálogo respeitoso entre diferentes gerações. Pela presença das professoras Onice Dall’Oglio (de Sinop) e Adriana Queiros (de Pontal do Araguaia), aprovadas nos últimos concursos da Instituição, mantém-se a ponte necessária entre o conjunto dos professores. Quando temos representantes do interior, o diálogo é sempre mais rápido e qualificado.
Dos demais componentes (professores Maelison Neves, Alair Silveira, José Ricardo e Maria Adenir) só respeito e muita admiração. Com a maioria desses, tenho tido a oportunidade de aprender sempre por meio dos qualificados debates que todos ajudam a estabelecer no cotidiano da Adufmat. A maioria, invariavelmente, está sempre à frente da organização das mais variadas atividades em nosso sindicato. Está sempre voltada para a verdadeira valorização de nossa categoria.
Nesse sentido, durante a última greve, esse valioso conjunto de colegas da Adufmat foi protagonista dos melhores debates que nossa entidade já realizou sobre as seguintes contrarreformas: da Previdência; Política; Trabalhista e Sindical; Tributária; Universitária e do Estado.
Enfim, resumidamente, votarei na CHAPA 1 por ter a certeza de que:
- poderei continuar tendo um sindicato AUTÔNOMO, DEMOCRÁTICO E COMBATIVO;
- continuarei a ter um sindicato preocupado com o fortalecimento das relações entre os campi da UFMT;
- terei a certeza de poder ajudar os componentes da CHAPA 1 a continuar lutando pela “Universidade pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada;
- terei diretores empenhados diuturnamente na LUTA pela DEMOCRACIA interna na UFMT; por consequência, terei a certeza de que não faltará empenho para a qualificação de nossas relações de trabalho, como a necessária e incisiva luta para defender a Resolução Alternativa à Resolução 158 no CONSEPE;
- no plano da gestão sindical, não terei nenhuma dúvida de que os componentes da CHAPA 1 garantirão a transparência política, administrativa e financeira da ADUFMAT, como já é feita na atual gestão de Reginaldo Araújo. Qualquer coisa que for dita em sentido contrário, durante esta campanha, faz parte das maledicências costumeiras de alguns colegas, cuja reputação é no mínimo duvidosa;
- os colegas já aposentados, dentre outras, terão a intransigente defesa de isonomia salarial com os docentes que ainda não se aposentaram;
- a importante solidariedade classista permanecerá em nosso meio, destacando para isso, ações conjuntas com outras entidades sindicais.
Mas se esses são alguns dos motivos pelos quais votarei na CHAPA 1, passarei agora a dizer alguns dos porquês não votaria na Chapa 2.
Começo também pelo estranho título dessa chapa: “Inovação e Inclusão em Foco”. Digo “estranho” para não dizer “perigoso”. Esse título aponta indícios de riscos à vista. Seja como for, indago: inovar em quê?
Seria essa inovação alguma intenção de transformar a Adufmat em um tipo de banco que pretendesse salvar as finanças de alguns sindicalizados com dificuldades econômicas, como parece sugerir o item 10, do “Programa” dessa chapa: “Buscar novas alternativas de apoio e crédito aos docentes”?
Se for isso, e caso uma chapa desse tipo à lá associação de cooperados vencesse as eleições, quem fecharia as portas por asfixia financeira, em pouco tempo, seria a própria ADUFMAT.
Mesmo compreendendo a situação de quem se encontra em dificuldades econômicas, digo: nossa entidade não é banco; nossos diretores não podem fazer papel de agentes do sistema. Sequer podem – ou mesmo têm condições concretas – servir de ponte para isso. No mais, o Regimento da ADUFMAT e o Estatuto do ANDES-SN, do qual somos filiados, impedem e continuarão a impedir quaisquer movimentos nesse sentido. Portanto, não se iludam. Isso é propaganda enganosa e sindicalmente irresponsável.
Seguindo, continuo a indagar: de que tipo de inclusão a Chapa 2 se refere?
Até onde sei, não participa das AG da Adufmat o professor que deliberadamente não quer, como p, ex., a ampla maioria dos componentes da Chapa 2. Raramente um ou outro é visto em AG de nosso Sindicato. A candidata à Vice-Presidente, p. ex., em mais de três décadas de UFMT, não participou mais do que três ou quatro AG; se tanto. Tenho cá pra mim que estou sendo até generoso nessa conta.
Logo, quando lá está, só não usa a voz a que tem direito o sindicalizado que não quer se envolver mais diretamente nos debates, que, aliás, são o que sustentam um sindicato. Aqui é bom lembrar: a Adufmat deixou de ser associação para ser um sindicato logo após a promulgação da atual Constituição.
Infelizmente, não há na UFMT nenhum outro espaço mais democrático do que as AG da Adufmat. Ali, discutimos tudo e com todos; e, claro, com muita vibração política. Agora, a vida democrática tem regras e exige preparo político. Quem não estuda e nem é democrático não se envolve e nem se reconhece nesse riquíssimo universo, que é de todos e para todos nós. Eu nunca abri mão desse espaço. Desde que me tornei professor da UFMT, sem nunca fragilizar ou comprometer meu rigor acadêmico, sempre me reconheci na militância, aprendendo com colegas mais experientes e livros pertinentes. Por isso, aprendi a saber quem é quem no cotidiano da Adufmat.
Portanto, pergunto: quem essa chapa pretende incluir?
Todos os que querem, repito, já estão incluídos. Nesse sentido, as AG de greves são exemplos cabais disso. As diferentes posições políticas e visões sindicais se confrontam sempre em tais momentos. Do forte confronto político, todos os sindicalizados presentes têm definido tudo no voto. Por questões óbvias e por conta de decisão judicial, os não-sindicalizados não votam. Mas isso é opção do docente. No mais, a qualquer momento, todo professor da UFMT, inclusive os substitutos, podem se sindicalizar e ajudar no fortalecimento da Adufmat. Na essência, o título da Chapa 2 mostra, com clareza, a limitação política e o abandono por parte de seus componentes do espaço mais democrático da UFMT: as AG da ADUFMAT.
Ao explicitar essa limitação e esse distanciamento da vida democrática de nossa Instituição e de nossa Entidade Sindical, a Chapa 2 se torna um risco para o cotidiano da ADUFMAT, e justamente quando mais precisamos de sindicato combativo e não de colegas sem o menor preparo – político e emocional – para essa luta.
Se até aqui falei do título e do distanciamento político-sindical que a maioria dos componentes da Chapa 2 apresenta, agora, passo a falar da carta “Como vai professor?”, que esse grupo distribuiu aos eleitores.
De modo geral, digo que alguns enunciados constantes nessa Carta da Chapa 2 são absolutamente vazios de conteúdo, quando não faltam com a verdade. Nesse sentido, destaco já na abertura do texto a afirmação de que “A Adufmat-SSind constitui-se como uma instituição (sic., pois se trata de uma entidade de classe e não de instituição) autônoma, democrática e de luta docente...”.
Pergunto: luta de quem?
Pelo histórico que acabo de apresentar, JAMAIS dos colegas da Chapa 2. Os docentes que de fato estabelecem a luta no cotidiano da ADUFMAT estão indiscutivelmente na CHAPA 1. Portanto, os colegas da Chapa 2, com exceção de dois dos componentes, não têm lastro algum para falar de luta. E olhem que a “luta” desses dois não é classista: é focalizada; por isso, no plano político, é invariavelmente equivocada. A maioria dos componentes da Chapa 2 mal deve saber onde fica a sede de nosso sindicato.
No segundo parágrafo desse mesmo texto empolado, lemos sobre a importância da defesa da educação, vista como o “...maior patrimônio da humanidade”.
Pergunto novamente: como pode essa chapa dizer isso, tendo como membros colegas que desrespeitaram suas atividades acadêmicas durante todo o tempo de vida ativa em seus departamentos?
Indago isso porque sou do departamento (Letras/IL) de um dos componentes dessa chapa. A referida candidata pela Chapa 2 sequer foi aceita para ser professora voluntária em nosso espaço de trabalho. Sua solicitação para trabalhar voluntariamente em Letras, assim que sua aposentadoria foi deferida, não obteve um voto sequer dos presentes em uma concorrida reunião de departamento; e olhem que estávamos precisando de docentes em sua área! Será por quê?
Mais: um outro componente da Chapa 2 também não tem pavimento para falar de qualidade no ensino. Motivo: na condição de um estudante do Curso de Ciências Sociais na UFMT, ao invés de aproveitar as leituras acadêmicas que lhes eram solicitadas, resolveu processar uma de suas docentes, reconhecida e respeitada exatamente por sua seriedade e pelo seu rigor acadêmico. Por contingências, essa professora que sofrera processo é a candidata à Diretoria Tesoureira pela CHAPA 1. Pela proximidade que tenho com essa professora processada, afirmo se tratar de uma das colegas mais dignas que a educação poderia ter em nosso Estado. Portanto, esse discurso da Chapa 2 é absolutamente estéril. Não tem lastro algum.
Outro destaque da Carta da Chapa 2 que faço está no 5° par., 3ª linha, onde é dito que “(...) A revolução começará no nosso lar sindical!”
Aqui, confesso ter levado um susto. Embora eu tenha uma militância de mais de 30 anos, e tenha sido inclusive um dos presidentes da Adufmat, nunca vi o espaço sindical como meu lar. Sempre o vi e vivi como a arena política democrática dos melhores debates dos quais já pude participar. Assim, tenho aprendido muito com vários colegas. Alguns deles estão na CHAPA 1, obviamente.
Em minha opinião, quando tomamos uma entidade como se fosse o “nosso lar”, podemos dar espaço para pessoas usarem como quiser o nosso sindicato. Aliás, nesse sentido, repito, pelo menos uma candidata da Chapa 2 tem larga experiência: ela usou, por décadas, as dependências de Letras e do IL como se fossem espaços privados seus, dando ali aulas particulares para vestibulandos e/ou “concurseiros” vários. As provas e testemunhas humanas dessa afirmação são tão abundantes quanto explícitas. Aliás, essa prática foi só um dos motivos pelos quais os docentes de Letras não quiseram mais tê-la nem mesmo como professora voluntária. Esse tipo de colega serve para a Adufmat?
O último destaque desse texto está no meio do parágrafo seguinte: “...Medidas para a oxigenação e construção de uma democracia virtuosa no sindicato serão implementadas (...)”.
O conceito de “democracia virtuosa” está intimamente ligado à noção de moral, que se cola à lógica de certas religiões. Assim, necessária e paradoxalmente, não se aproxima da ética no campo político. Infelizmente, como a prática da democracia não é hábito de todos, a Chapa 2 resolveu inovar nisso. Espero que tal inovação não obtenha apoio, pois isso não nos qualifica para a árdua luta que temos pela frente.
Termino, pois, conclamando o voto de todos à CHAPA 1, que realmente é de LUTA, AUTÔNOMA E DEMOCRÁTICA. Não temos tempo para aventuras. Não podemos dar guarida a aventureiros sindicais.
Saudações!
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciência da Comunicação/USP
Professor de Letras e Diretor do IL/UFMT
FEBRE AMARELA NO BRASIL 2017 - Juacy da Silva
JUACY DA SILVA*
Mais um surto de doenças está alarmando a população brasileira. Depois de décadas de sufoco da DENGUE, vieram a chikungunya e a ZICA. Agora é a vez da FEBRE AMARELA que está apavorando a população de MINAS GERAIS, ESPÍRITO SANTO, RIO DE JANEIRO E nesses últimos dias a Bahia.
O alerta foi acionado quando dois macacos, que são considerados os “sentinelas naturais” para esta praga foram encontrados em alguns bairros de Salvador, Bahia. Segundo as autoridades sanitárias deverão ser vacinas mais de 1,2 milhões de pessoas, para evitar que um novo surto, igual ao que aconteceu em MINAS GERAIS, onde já morreram 137 pessoas em menos de três meses, venha a acontecer em uma área metropolitana, densamente povoada e com condições de saneamento básico extremamente precárias.
Todas essas doenças são transmitidas pelo mesmo mosquito, o AEDES AEGIPT. Está havendo um grande esforço por parte das autoridades sanitárias para conseguir vacinar a população desses estados e dos municípios onde foram constatados casos confirmados ou suspeitos de FEBRE AMARELA.
Aliás, em se tratando de saneamento básico, o Brasil é uma vergonha, mais de 70% da população urbana brasileiro não possui esgotos coletados e tratados, córregos, rios, lagoas e até o mar e as nossas baias são verdadeiros depósitos de lixo e esgoto a céu aberto. Diante desta situação vergonhosa não é novidade que doenças de massa estejam proliferando e atormentando a população, principalmente, as camadas mais pobres que vivem ou sobrevivem nessas áreas, enquanto nossos políticos, empresários e governantes continuam assaltando os cofres públicos e roubando dinheiro público que faz falta para o saneamento básico e a saúde pública.
Se você reside ou pretende viajar para os Estados de Minas Gerais, Bahia, Rio de janeiro ou Espírito Santo, é recomendável que se previna muito bem, veja se consegue se vacinar e procure outras orientações para se proteger e proteger sua família.
Antes os alertas, principalmente dos países da Europa, Estados Unidos e outros desenvolvidos, aos turistas que pretendiam vir ao Brasil eram em relação à violência , agora, além das precauções contra a bandidagem também as pessoas devem ter cuidado com essas doenças.
Lembre-se: Dengue, chikungunya, zika, febre amarela e corrupção matam, todo cuidado e pouco!
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação.
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“PROFESSOR” TITE E AS UNIVERSIDADES - Roberto Boaventura
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Anteontem, como muitos brasileiros, mesmo sem paixões por futebol, assisti à oitava bela vitória consecutiva da Seleção Brasileira de Futebol (SBF).
Depois do fracasso na Copa/2014, que culminou com a goleada histórica imposta pela Alemanha à SBF, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) premiou um dos mais medíocres treinadores do futebol nacional. O arrogante e despreparado Dunga fora chamado para tirar a SBF do vexame imposto sob o comando do internacionalíssimo Felipão. Sua atuação foi tão desastrosa quanto a deste. Com Dunga, a Rússia seria apenas um sonho que teria passado na mente do país do futebol.
Para assumir o comando da SBF, foi convidado o treinador Tite, chamado por todos os atletas – e não sem motivos – de “Professor”. A mesma competência que já havia demonstrado em times pelos quais passara, Tite vem apresentando na seleção. Das oitos partidas, oito convincentes vitórias. Já conseguiu garantir a participação do futebol brasileiro na Rússia, em 2018, algo que era dado como missão impossível.
Mas mais do que transformar sonho em realidade, sem endeusar nenhuma figura, mas o fato é que, neste momento, o “Professor” Tite poderia servir ao pais de exemplo. Sua competência técnica e seu equilíbrio emocional foram determinantes para o sucesso obtido até aqui. Sem o casamento dessas duas qualidades, o “Professor” seria mais um a compor a lista dos estúpidos.
Agora, de um país inteiro que necessita respeitar e valorizar a competência técnica, afirmo que, de pelo menos duas décadas para cá, nunca este país desconsiderou tanto a competência, mormente na esfera do ensino superior. Nunca o mérito acadêmico foi tão atirado ao lixo. Aliás, em muitos espaços do meio acadêmico, falar em mérito soa como o provocar um tipo de bullying social. Felizmente, pertenço ao pequeno grupo que ainda têm a coragem de dizer que mérito acadêmico é algo indispensável à vida de uma universidade. Que pelo mérito, uma sociedade sempre corre menos riscos de formar idiotas em série industrial.
Nesse sentido, o ápice da desconsideração do mérito acadêmico parece estar embutido em políticas focalizadas, e por isso paliativas, de inclusão. As cotas raciais são o carro-chefe desse desastre. Hoje, já temos cotas até para o ingresso na pós-graduação e em concursos públicos. Até quando o mérito falou mais alto, isso era impensável.
Mas as políticas de cotas e congêneres são, como disse acima, só o carro-chefe. Em meio a isso, uma complexa teia de ações e induções à vida acadêmica vai surgindo a cada dia. Em geral, tudo amparado por algum tipo de política que interfere diretamente nas atividades de um professor.
Essa constante intervenção política, além de roubar a autonomia das universidades, assim como faz com outros setores da vida nacional, atira a educação superior no limbo. O resultado disso, vamos colhendo em anúncios de pesquisas que vão sendo realizadas. Até mesmo os cursos de Medicina já padecem da perda da qualidade, advinda da ausência do rigor/mérito acadêmico.
Essa perda é rapidamente repassada ao conjunto da sociedade: cada vez mais vamos formando acadêmicos distantes do mínimo necessário para a atuação profissional responsável.
Dessa forma, vamos tomando uma goleada a cada dia. O acúmulo de derrotas já é incontável. Se não revertemos o cenário com urgência, será o caos. Para a reversão precisamos, acima de tudo, valorizar o professor. Esse profissional precisa voltar a ser respeitosa e carinhosamente chamado de “Professor”, com “P” maiúsculo.
Moção de Repúdio - GTPFS e Diretoria da Adufmat-Ssind
O Grupo de Trabalho de Formação Sindical (GTPFS/ADUFMAT) e a diretoria da ADUFMAT vêm por meio desta repudiar o ato de racismo praticado pelo professor Herbet Monteiro da Silva, de 62 anos, que leciona no curso de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Ao dia 6 de março de 2017, segunda-feira, o professor foi preso em flagrante em um condomínio de classe média alta, em Cuiabá, após chamar o porteiro de “preto vagabundo e safado”. O fato aconteceu quando o médico solicitou a abertura da garagem do prédio, se recusando a seguir uma norma do próprio Condomínio.
O professor declarou que o síndico do prédio foi irresponsável ao acionar a polícia, afirmando não ser um caso de racismo, mas apenas um mal entendido. Como observava Abdias do Nascimento (...), “O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica”. A negativa da prática do racismo e a posição de superioridade do professor (que não teve dificuldades em pagar fiança) servem para manter impunes e naturalizadas as práticas racistas que contrariam o projeto de sociedade que nutre nossa luta sindical.
Ainda que o ato não tenha sido praticado no âmbito da Universidade, sabemos que os sujeitos carregam seus valores e os transmitem em suas atitudes cotidianas e são elas que interferem na construção da sociedade. Por primarmos por uma sociedade justa e igualitária, e sendo o professor membro da nossa base sindical, sentimos a necessidade de publicamente afirmarmos o óbvio: este ato concretiza uma situação racista e discriminatória que precisa ser veementemente combatida. Apenas com o enfrentamento aos comportamentos discriminatórios dos sujeitos é que se faz possível a desnaturalização das suas práticas, podendo abrir caminhos para a necessária autocrítica.
Assim, declaramos nosso repúdio a este ato de racismo, bem como a todo e qualquer ato discriminatório e opressivo, seja ele referente às relações de classe, sexo ou raça/etnia. Quando afirmamos que racistas, machistas e fascistas não passarão, isto não é apenas uma retórica, mas uma posição política que se expressa nas ações cotidianas do nosso sindicato.
EM DEFESA DA VIDA E DOS BIOMAS - Juacy da Silva
Juacy da Silva
Todos os anos a Igreja Católica, através da CNBB realiza a Campanha da Fraternidade, um chamamento e um alerta a todos os cristãos e não cristãos de nosso país para alguns dos mais sérios e graves desafios que o Brasil enfrenta.
Ao longo dos últimos anos diversos temas relacionados com o meio ambiente foram objeto da Campanha da Fraternidade e novamente, em 2017 o tema escolhido foi “Fraternidade: biomas brasileiros e a defesa da vida”. O desenvolvimento da Campanha da Fraternidade ocorre durante a quaresma, considerado um momento importante na vida dos cristãos, pois representa uma oportunidade para uma análise mais profunda de nossa fé em um contexto histórico definido e ao mesmo tempo um chamamento para uma nova conversão.
A Campanha da Fraternidade está embasada nos ensinamentos da Igreja Católica, principalmente em sua Doutrina Social e nas diversas Encíclicas e exortações dos papas, considerados autoridades máximas da Igreja. Nesta campanha existe um chamamento especial para a Encíclica Verde, a Laudato Si, escrita pelo Papa Francisco em 24 de maio de 2015, considerado um novo marco no pensamento ecológico da Igreja ; cabendo aos católicos e também não católicos, principalmente aquelas pessoas que abraçam a bandeira do meio ambiente e da “conversão ecológica global”, no dizer de São João Paulo II, em 2001quando abordou a questão da degradação ambiental que estamos presenciando de forma acelerada em todos os países, inclusive no Brasil.
O Brasil é o quinto país em área, com 8,5 milhões de km2, detendo a maior reserva de água doce do planeta, de florestas, de biodiversidade e com seis biomas, objeto da Campanha da Fraternidade deste anos. Em termos de população nosso país também se destaca como o quinto país com 207,3 milhões de habitantes.
Lamentavelmente nosso país tem estado relacionado com a degradação ambiental como falta de saneamento básico, a transformação de rios, córregos e o mar como grandes depósitos de lixo e esgotos sem tratamento, com um desmatamento desenfreado, com poluição urbana, com destruição da biodiversidade, com o uso incontrolado e abusivo de pesticidas, agrotóxicos que contaminam o solo, o subsolo e os cursos d’água, afetando negativamente a qualidade de vida da população.
Mato Grosso, por exemplo, é o único Estado que tem em seu território parte de três biomas brasileiros, a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal. Esses três biomas tem sofrido uma degradação em decorrência do modelo de desenvolvimento representado pela expansão das fronteiras agrícolas que não tem poupado nem a Amazônia, nem o Cerrado e há alguns anos vem ameaçando o Pantanal.
Além desses aspectos, cabe destacar que a urbanização acelerada dos Estados do Centro Oeste, principalmente nas últimas três ou quadro décadas, sem planejamento, com ocupações desordenadas e um alto índice de especulação imobiliária estão destruindo bacias hidrográficas, transformando Rios e córregos em verdadeiros esgotos a céu aberto, como acontece com o Rio Cuiabá e seus afluentes, conforme constatado pelo Ministério Público em estudos recentes que embasam o projeto “águas para o futuro”.
Este é o momento mais do que oportuno para que a Igreja Católica, através de suas Arquidioceses, Dioceses, Paróquias e Comunidades, enfim, cristãos, outras denominações e também os não cristãos façam uma reflexão sobre as ações públicas e privadas que devem ser tomadas com urgência, antes que nossos Biomas estejam completamente destruídos e com eles, a destruição da biodiversidade, afetando profundamente a qualidade de vida, colocando em risco a própria sobrevivência da espécie humana!
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e articulista de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
A SERVIDÃO COMO CAMINHO - GTPFS e Diretoria da Adufmat-Ssind
Em 1944, o livro “O caminho da Servidão”, de Friedrich von Hayek, não obteve a ressonância social desejada por aquele considerado o pai do novo liberalismo. Com a crise do início da década de 1970 e a ascensão de governos conservadores nos países capitalistas centrais (como Thatcher e Reagan, em 1979 e 1981, respectivamente), o Neoliberalismo deixou os livros para assumir forma real, transformando-se em projeto societário hegemônico mundo a fora.
Na essencialidade do projeto neoliberal, as crises do capital são de responsabilidade das organizações coletivas dos trabalhadores, especialmente dos sindicatos. Afinal, como dizem os neoliberais, quando os sindicatos, através da organização e mobilização dos trabalhadores, avançam na conquista de direitos (como por exemplo, piso salarial por categoria profissional), eles retiram do âmbito das relações de mercado (a chamada “lei da oferta e da procura”), a exclusividade pela remuneração da força de trabalho (salário). Para o Neoliberalismo, portanto, é o “excesso” de demandas da sociedade civil e, particularmente, dos trabalhadores, que torna o Estado hipertrofiado e deficitário.
Além do “gigantismo” do Estado, afirmam os novos liberais que a ação dos sindicatos e outras organizações dos trabalhadores desestimulam os empresários a investir produtivamente, na medida em que lhes é mais lucrativo investir em especulação financeira. Não por acaso, junto à criminalização das lutas coletivas, há a recorrente “denúncia” quanto aos “excessos” e/ou impropriedade da legislação trabalhista.
Consequentemente, para o projeto societário Neoliberal, há um conjunto de medidas imprescindíveis e inadiáveis que precisa ser efetivado: 1) “Quebrar a espinha dorsal” dos sindicatos e demais organizações coletivas dos trabalhadores, de maneira a quebrar qualquer instrumento coletivo de resistência e luta; 2) Privatizar de forma generalizada para “reduzir” o tamanho do Estado, caracterizado como “ineficiente, incompetente e corrupto”; 3) Atacar, ininterruptamente, o funcionalismo público, associado ao privilégio, à burocracia e à ineficiência; 4) Mercantilizar todas as relações societárias, a partir das quais a “mão invisível” do mercado atua para equilibrar as disputas entre indivíduos e grupos; 5) Reformar o Estado, inclusive com a transformação de direitos constitucionais em “serviços”, cujo acesso depende das possibilidades de pagamento dos cidadãos (vide o desmanche da Saúde e da Educação Pública e da Previdência Social); 6) Substituir políticas sociais universalistas pela instituição de políticas focalizadas e exclusivas aos segmentos sociais em situação de vulnerabilidade (dentre as quais, no Brasil, o Bolsa Família é o Programa mais conhecido); 7) Mudar a legislação, de maneira a assegurar as reformas necessárias à liberalização irrestrita das relações societárias, especialmente no que concerne à retirada de garantias constitucionais socialmente protetivas; 8) Qualificar como “privilégio” direitos sociais e trabalhistas arduamente conquistados; 9) Criminalizar movimentos sociais e lutas coletivas; e, por fim, como coroamento de todas essas iniciativas, 10) Apelar, incansavelmente, pelo Ajuste Fiscal, pela Responsabilidade Fiscal e pelo combate ao Déficit Público.
Na implementação desse Projeto, a crítica ao chamado “caminho da servidão” transformou a “servidão como caminho” de via exclusiva para os trabalhadores. Afinal, na concepção, análise e proposituras do Neoliberalismo não há espaço para a crítica às organizações de classe do capital. Coerentes com esses interesses, os novos liberais nada dizem quanto à renúncia fiscal que privatiza dinheiro público, aos juros subsidiados para o capital e à sonegação de grandes empresas; silenciam quanto à dívida pública e à política tributária progressiva.
Esse é, em síntese, o ideário que norteia a entrevista de um jovem advogado e professor, responsável pela promoção de um Instituto Liberal em Mato Grosso, que recentemente concedeu entrevista ao MídiaNews. De acordo com ele, o funcionalismo público é uma “casta abençoada e privilegiada” e os sindicatos não passam de espaços formados por sindicalistas que invejam o capitalista, “porque vive[m] de quem produz”. Sentencia que se os sindicatos quisessem lutar por direitos, iriam reivindicar “eficiência [...] diminuição da carga tributária [...] diminuição do Estado”. Ele, porém, não define qual tipo de eficiência está prescrevendo, nem tampouco para quem o Estado deve ser reduzido ou qual política tributária defende.
Como se conhece qual a lógica e os interesses que movem os novos liberais, não é preciso muito esforço para entender que o que o entrevistado promove é a eficiência associada à iniciativa privada em contraposição à proclamada ineficiência estatal; a redução de carga tributária para o capital, cujo eixo está, justamente, na redução de “encargos trabalhistas” e pagamento de impostos (isto é, manutenção e aprofundamento da lógica tributária regressiva: quem tem mais paga menos; quem tem menos, paga mais).
Consequentemente, a diminuição do Estado não é para o capital - que dele se serve desavergonhadamente, embora se autoproclame liberal -, mas para as políticas públicas sociais. Por isso tanto empenho em satanizar o Estado, atacar as organizações coletivas dos trabalhadores, reclamar do “excesso” de democracia e do “poder” dos sindicatos. Afinal, como exortou o advogado quando questionado sobre o RGA, o governo Taques “não deveria ter concedido nada”, pois apesar de reconhecer que é uma garantia legal, “também está na lei que não se pode descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal”. Portanto, segundo ele, “faltou tenacidade ao Governo.”
De forma coerente com seu universo ideológico e seu compromisso de classe, entre uma lei que define limites para os gastos públicos (sem considerar, por exemplo, os impactos da Lei Kandir nas receitas do Estado) e a lei que obriga o pagamento de direitos aos trabalhadores, aquela deve se sobrepor a essa. Simples assim. Afinal, para quem declara que o servidor deveria ingressar no Serviço Público por “vocação”, seria conveniente que os servidores simplesmente avalizassem a política de preservação dos interesses do capital, sem reclamar. Não é coincidência, portanto, que Margareth Thatcher seja reverenciada porque “peitou as greves”. Trata-se de uma maneira interessante de explicar a história e, principalmente, ignorar os retrocessos sociais, caracterizados por alguns estudiosos como “austericídio”. Registre-se que para o entrevistado, a “sensibilidade” social do pensamento liberal conservador está demonstrada pela posição contrária ao aborto.
A observância da Lei, nesses termos, não é principalista, mas seletiva. Entre os direitos fundamentais que devem ser assegurados a todos (nos quais se incluem liberdade, trabalho, dignidade e outros) e os interesses do capital, há que submeter aqueles a esses. Entre os direitos coletivos e os ganhos do capital, há que garantir a prevalência desses, mesmo que ao custo social daqueles. Como decreta o entrevistado: “É preciso cortar todos os benefícios”, inclusive reajustes salariais de servidores.
Não por acaso, o jovem professor advoga contra o “câncer que se espalha” e que tem “empestado” as universidades (inclusive a UFMT) com “um pensamento totalitário, arbitrário, autocrata e alheio à realidade”. Vivendo em um “mundo paralelo”, as universidades, segundo ele, “estão tolhendo o livre pensamento, a liberdade de ideias, a liberdade das pessoas”. Qual o responsável por esse câncer que está “empesteando” as universidades? O marxismo. Qual a solução para extirpar o câncer, segundo o professor? A Escola Sem Partido. Isto é: façamos das escolas e universidades o espaço das mordaças, onde o conhecimento e a crítica são criminalizados em nome de uma falsa neutralidade!
Afinal, como revela o clássico “O nome da Rosa”, conhecimento é poder. Socializá-lo é um atentado àqueles que detêm o poder e, em seu interesse, atuam e amordaçam. Mas, é óbvio, tudo em nome da “liberdade”... De alguns.
Ante o reconhecimento das dificuldades para convencer jovens a aderir ao pensamento liberal conservador, o professor atribui à imaturidade, à inexperiência e à falta de leitura dos jovens as condições que permitem “à esquerda” vender ilusões e oferecer “um paraíso terreno”. Para resolver isso recupera Nelson Rodrigues, e dá um conselho: “Jovens, envelheçam”.
Ao final, só resta um questionamento incômodo: O que será que quis dizer o jovem advogado e professor, quando declarou: “Basta ver porque as boas cabeças preferem ir para o funcionalismo público ao invés da iniciativa privada”?
Grupos de Trabalho de Política de Formação Sindical (GTPFS) e Diretoria da Adufmat-Ssind
Cuiabá, 23 de março de 2017.
CARNE FRACA E PODRE - Juacy da Silva
JUACY DA SILVA*
Em um país em que ex-ministros, ex-parlamentares municipais, estaduais e federais, ex-governadores, grandes empresários, até mesmo alguns integrantes do poder judiciário e inúmeros gestores públicos, inclusive da maior estatal brasileira foram acusados de corrupção, investigados com ordem da Justiça, presos e condenados, por terem roubado bilhões dos cofres públicos, a prisão de alguns fiscais sanitários do MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não deveria causar tanto espanto e nem mobilizar tantas energias, tempo e explicações por parte das mais altas autoridades da República.
Quando estouraram as denúncias do então deputado federal Roberto Jefferson, durante as investigações da corrupção e roubalheira nos Correios e vieram as denúncias de que havia um grande esquema de corrupção, cujo chefe seria o então homem forte do Governo Lula, o então ministro chefe da casa civil José Dirceu, que tinha gabinete no Palácio do Planalto, o presidente Lula dizia que nada de errado estava acontecendo e que tudo não passava de uma grande trama da oposição, alimentada por uma “imprensa golpista”.
Os resultados vieram a público e a população passou a ter conhecimento de que nosso país poderia estar sendo governado por criminosos de colarinho branco. As penas aos condenados no Mensalão foram extremamente brandas e a maioria desses criminosos enquistados no poder acabaram recebendo indulto por parte da presidente Dilma. Entre as denúncias iniciais e o indulto foram mais de uma década e as penas quase nunca passaram de dois anos.
Muita gente ainda teima em dizer que toda a corrupção nos e dos governos Lula e Dilma eram exclusivamente do PT, esquecendo-se de que o partido de Lula para se manter no poder por longos 13 anos teve que aliar-se ao PMDB, PDT, PTB, PR, PP, PCdoB e outros mais, com os quais dividia cargos importantes tanto no poder legislativo quanto no poder executivo, neste ultimo caso na Administração Federal, cuja estrutura de poder continua sendo negociada e barganhada em um verdadeiro balcão de negócios, no que se costuma dizer “toma lá , dá cá” ou no dizer de alguns políticos importantes, parafraseando, de uma forma malévola, o pensamento de São Francisco de Assis de que “é dando que se recebe”. Todas essas negociatas que acabam em corrupção e muita roubalheira aos cofres públicos são feitas em nome da “governabilidade”, um novo nome para o que poderia ser dito como um assalto ao poder!
Nesses três anos de operação LAVA JATO, principalmente as investigações, condenações e prisões conduzidas pela Força Tarefa instalada em Curitiba, sob a batuta do Juiz Sérgio Mouro, que não tem titubeado em mandar para a prisão políticos e altos gestores e grandes empresários, vem demonstrando que a corrupção é muito maior do que podemos imaginar. Pena que o mesmo não aconteça com políticos, gestores e governantes que gozam de foro privilegiado, uma excrecência que precisa acabar para que o Brasil fique livre de ladrões de colarinho branco enquistados em altas posições da política e da administração pública nacional, estaduais e municipais.
Pois bem, este fato de terem sido presos, temporária ou preventivamente alguns fiscais do MAPA e alguns Executivos de frigoríficos e de empresas exportadoras de carnes bovina, suína e frangos do Brasil, cujo Mercado foi conquistador ao longo dos últimos dez ou vinte anos e que envolveu uma verdadeira peregrinação de missões comerciais de alto nível, incluindo governadores, ministros e até presidentes da República , não chega a ser novidade e nem surpresa para a maioria da população que já vem sendo sacudida por sucessivos e inúmeros escândalos de corrupção, por CPIs do Congresso Nacional que tem revelado boa parte deste esquema sórdido envolvendo gente importante da política e da economia de nosso país.
Em um primeiro momento o Governo Temer, que também possui alguns ministros e parlamentares dos diversos partidos que o apoiam no Congresso integrando as duas Listas do Janot e em delações premiadas por parte de executivos da Odebrecht, incluindo a própria Chapa Dilma/Temer que levou o atual presidente ao poder, com o impeachment da ex-presidente petista, tenta por todas as formas desviar a atenção da opinião pública nacional e abrandar as reações da maioria dos países importadores de carnes e derivados do Brasil, que suspenderam as importações da carne brasileira.
Para variar busca-se sempre um culpado, um bode expiatório para jogar a culpa do mal feito em alguns, esquecendo—se de que o Brasil vem sendo envolvido em grandes esquemas de corrupção há mais de três décadas, desde o Governo Sarney, passando pelo impeachment de Collor, de Dilma e nas revelações da Odebrecht. No momento parece que a culpa deste prejuízo bilionário tem sido imputada à Polícia Federal e não à forma como os postos de comando da administração pública são preenchidos, no leilão que os partidos conduzem no balcão de negócios, uma porta aberta ou escancarada para a prática da corrupção.
Os mecanismos de fiscalização e a eficiência do SIPE Sistema de Inspeção Federal, não resta a menor dúvida, são reconhecidamente eficientes, mas as engrenagens que definem quem e quais partidos vão ocupar os postos de comando dos ministérios continuam sendo fisiológicos, de acordos espúrios entre partidos, enfim, uma porta aberta e um convite para que todos os setores estejam a mercê da corrupção e de políticos corruptos que continuam mandando nos partidos e na política brasileira.
Seria bom o Governo Temer e seus ministros baixarem um pouco a bola e aguardarem as investigações da Polícia Federal, cuja eficiência e independência tem sido motivo de apoio por parte da população, principalmente quando se trata dessas operações “caça corruptos”.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação.
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A (IN)UTILIDADE DA POESIA - Roberto Boaventura
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
No último dia 21, comemoramos o Dia Mundial da Poesia. Em 1999, a data foi criada pela 30ª Conferência Geral daOrganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). O objetivo da criação era incentivar o hábito da leitura, o desenvolvimento e a manifestação das subjetividades, expressas em registros estéticos inovadores; era incentivar o próprio ensino da literatura.
Infelizmente, o Brasil caminha na contramão do que sugere a UNESCO. A prova disso está na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), parida a fórceps por meio de uma medida provisória, transformada em lei na surdina. Há pouco, no plano dos bens simbólicos, esse tipo de crime lesa-pátria foi sancionado pelo presidente Michel Temer. Agora, a bem da desconfortável verdade, a concepção e a “sofisticação” maligna dessa mesma “Base” não isentam os governantes anteriores.
A BNCC, dentre outras aberrações contra a formação intelectual de nossas novas gerações, dilui o ensino da literatura durante as aulas de língua portuguesa, em geral, já trabalhada de forma precária, sufocando o texto literário. Dificulta a prática de um ensino mais aprofundado do texto poético, minimizando a possibilidade de sua real fruição. Consolida a ideia já antiga de que a literatura faz parte das coisas inúteis da criação humana.
A BNCC, ao assim tratar o ensino da literatura, mais do que dizer que pretende preparar os estudantes para o mercado de trabalho, chancela a lógica utilitarista e o culto da posse, que esvaziam o espírito das pessoas. E isso, como aponta o filósofo italiano Nuccio Ordine, em seu belíssimo trabalho “A utilidade do inútil: um manifesto”, põe em perigo não só a cultura, a criatividade e as instituições de ensino, mas valores fundamentais, como a dignidade humana, o amor e a busca pela verdade.
Nesse contexto, as crianças e os jovens brasileiros vão sendo condenados a um esvaziamento de repertório cultural tão estarrecedor que poderia até fazer Paulo Freire repensar sobre o muito que escreveu.
Mas pior do que constatar isso, que já está escancarado até mesmo nos círculos universitários, é saber que essa barreira vai dificultar o acesso aos poemas, bens imateriais por excelência que poderiam amenizar tantas agruras existenciais. Não tenho dúvidas de que a prática de leitura de bons livros poéticos poderia até contribuir para diminuir tanta depressão em um mundo que busca, na competição infernal do cotidiano, atingir o inatingível, de tão alto que é.
Na oposição dessa corrida desenfreada pelas coisas “grandes” da vida, e prestando minha homenagem aos poetas, finalizo com o texto “O apanhador de desperdícios” do poeta cuiabano Manoel de Barros; poema de tirar o fôlego, mas de que quem ainda tem algum para isso:
“Uso a palavra para compor meus silêncios.// Não gosto das palavras// fatigadas de informar.// Dou mais respeito// às que vivem de barriga no chão// tipo água pedra sapo.// Entendo bem o sotaque das águas// Dou respeito às coisas desimportantes// e aos seres desimportantes.// Prezo insetos mais que aviões.// Prezo a velocidade// das tartarugas mais que a dos mísseis.// Tenho em mim um atraso de nascença.// Eu fui aparelhado// para gostar de passarinhos.// Tenho abundância de ser feliz por isso.// Meu quintal é maior do que o mundo.// Sou um apanhador de desperdícios:// amo os restos como as boas moscas// Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.// Porque eu não sou da informática:// eu sou da invencionática.// Só uso a palavra para compor meus silêncios”.