Comunicação

Debate, arte e cultura marcam o Dia Nacional do Aposentado e da Previdência Social na UFMT (confira as fotos)


Os docentes aposentados da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) iniciaram 2016 com pique total. Para marcar o Dia Nacional do Aposentado e da Previdência Social (comemorado em 24/01), o GT de Aposentados da Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind) realizou, nessa quinta-feira, 21/01, um Colóquio sobre Previdência Social e Dívida Pública, encerrado com um sarau cultural animadíssimo, regado à música e poesia.     

O debate, obviamente, interessa a todos. Afinal, o governo federal anunciou, desde os primeiros dias do ano, que seu foco, em meio a “crise econômica”, será a Previdência Social, que está completando 93 anos (24/01/1923 – Lei Elói Chaves). Depois dos últimos ataques ao setor, os trabalhadores permanecem alerta. Além disso, a presidente Dilma Rousseff acaba de vetar a realização da auditoria da Dívida Pública, protelando mais uma vez uma importante determinação da Constituição Federal de 1988. 

Parte da pauta de discussão da categoria docente em âmbito nacional, os dois temas, além de muito importantes, são praticamente inseparáveis. “Os recursos destinados à dívida pública são recursos que deixam de ser investidos em políticas sociais, ameaçando a educação pública, a saúde pública, a segurança pública, a previdência social”, explicou o professor convidado para o Colóquio, Dr. José Menezes Gomes, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). 

Antes dele, José Airton de Paula, membro do GT Aposentados da Adufmat-Ssind, já havia falado das perdas que os trabalhadores têm quando se aposentam: adicional de insalubridade, e auxílios alimentação, creche, saúde, entre outros. Na mesa de abertura, junto ao presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo, e a professora Maria Clara Weiss (também membro do GT Aposentados), de Paula lembrou, ainda, que a própria Constituição não permite que os recursos destinados ao pagamento da dívida (quase 50% do orçamento da União, atualmente) sejam revertidos para os serviços públicos.      

De acordo com a exposição do professor da UFAL, José Menezes Gomes, provavelmente a auditoria da dívida no Brasil apontaria justamente para essa necessidade, de reverter recursos da dívida para os setores públicos. “A auditoria da dívida pública no Equador, por exemplo, acabou redefinindo os investimentos nos gastos sociais”, disse Menezes, apontando para o gráfico crescente dos investimentos nas políticas sociais do país, que passou de menos de U$$ 1 milhão para mais de U$$ 6 milhões entre os anos 2000 (quando a auditoria foi realizada) e 2011. 

O docente destacou, ainda, que as dívidas públicas não foram feitas para beneficiar a população, mas sim setores produtivos, como os de usineiros, em Alagoas, e de latifundiários, em Mato Grosso. “A dívida é pública, mas os benefícios foram privados”, afirmou. E continuam sendo, já que o pagamento da dívida é feito a grandes grupos financeiros. Dívida, aliás, que se multiplica com o passar dos anos, devido aos contratos com taxas de juros flutuantes, e variações do dólar. “Tudo indica que isso tudo pode ser um tipo de corrupção institucionalizada. É dinheiro público utilizado para sanar dívidas privadas, para bancos [...] Quem se lembra que nos Estados Unidos, quando quebrou a Bolsa de NY, o governo liberou imediatamente U$$ 750 milhões para salvar os bancos? Depois, quando quiseram ampliar o acesso à saúde para a população, que custaria cerca de U$$ 40 milhões, acharam um absurdo!”, comentou Menezes.      

O docente fez questão de marcar, do início ao fim da sua fala, a sua relação e a importância de preservação e ampliação dos direitos sociais, com qualidade. “Se não existisse educação pública eu não estaria aqui, mas provavelmente ainda na difícil condição social em que nasci, em Poxoréu [257 Km de Cuiabá-MT]. Por isso, agradeço à professora que me alfabetizou e a todos os outros”, disse. 

Assalto! 

Foi um susto, mas em poucos minutos os participantes do Colóquio já riam, relaxados. Se bem que o texto divertido do ator Milton Petrella, do grupo Assalto, exigiu atenção pelo conteúdo crítico e pela rapidez com que foi dito. A apresentação foi rápida, mas muito divertida. Petrella explicou, ao fim, que o projeto surgiu há mais de 20 anos, quando ainda era estudante da Universidade de São Paulo (USP). Viajando por todo o Brasil, entrando nas salas de aula e eventos quando convidados, a intenção é, somente, assaltar o público com poesia e alegria. 

Homenagens 

Foi a professora Marília Beatriz, aposentada da UFMT e presidente da Academia Mato-grossense de Letras, que apresentou os livros lançados na noite. O primeiro, uma homenagem póstuma do professor Roberto Boaventura ao Pe. Pimentel ou Avoante do Cariri. “Você dialoga brilhantemente com o Avoante do Cariri, de maneira carinhosa, como se ele estivesse na sua frente”, comentou a presidente.    

O Avoante do Cariri foi, também, professor da UFMT, e morreu em 2007, dois dias depois de entregar o conjunto de sua obra ao professor Roberto Boaventura. “Eu estava prestes a agradecer o presente que o professor Pimentel deixou na minha mesa, mas eu demorei demais. Demorei dois dias”, lamentou Boaventura. 

De acordo com o professor, o Avoante ainda não tem o reconhecimento merecido no estado, diante da sua contribuição intelectual. “Ele precisa ser respeitado, não só como colega, ex padre, mas como poeta. Com dois mestrados na área de Linguagens na UFMT, não é possível que ele permaneça no esquecimento. Ele tinha um olhar social, crítico, enxergava os mais pobres, criticou a ditadura militar”, afirmou. 

Com essa expectativa, no dia 03/02, uma cerimônia no Foyer do Teatro da UFMT marcará nova homenagem ao poeta, quando Boaventura falará mais sobre os livros que resultaram dessa breve história: “Desovas em Trovas” (seleção de poemas de Avoante do Cariri) e “Abrangência dos voos poéticos de Avoante do Cariri” (de autoria do prof. Roberto Boaventura). 

Também foi especial a apresentação do livro “América e os Guardiões das Culturas Autóctones”, da professora Therezinha Arruda. “A Therezinha não é apenas uma historiadora. Ela é uma pessoa apaixonada pela América Latina”, afirmou Marília Beatriz. 

Emocionada, a autora do livro contou que obra surgiu de um projeto para o qual foi convidada, com o objetivo de contar histórias, mas também a partir do incentivo de seu companheiro cubano, já falecido. “Eu pensei, que histórias eu vou contar? Vou falar sobre as experiências na América Latina. Nunca quis viajar para outros países da Europa ou para os Estados Unidos”, afirmou. 

Em nome do Departamento de História da UFMT, a professora Maria Adenir Peraro agradeceu publicamente a professora Therezinha Arruda, pela importante contribuição como uma das precursoras nos estudos sobre a América Latina na universidade. 

O professor José Menezes Gomes também apresentou um livro, que reúne, dentre outros artigos, um de sua autoria. Com o título a “A crise do capital, lutas sociais e políticas públicas”, a obra reúne artigos que tratam do processo de estabelecimento da dívida pública, seu avanço e a maneira como interfere nas políticas sociais.

Sarau   

As atividades do dia foram encerradas ainda com muita energia. Ao som de Sônia Moraes e convidados como Beto Boaventura, os docentes cantaram, dançaram e declamaram poesias. O professor Zacarias também deu uma palhinha ao lado dos artistas Maurício Ricardo, Bia Corrêa e sua filha Maria Clara. Também contribuíram com o importante momento de troca cultural as professoras Maria Otília e Aurelina Carmo (UFMT), e Sueli (Unemat).  

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Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind