Sexta, 24 Julho 2015 08:19

RECADOS DE MINIONS

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Desde de 2012, além de ministrar uma das disciplinas da literatura brasileira, aceitei mais um desafio: trabalhar também com a literatura destinada especialmente ao público infanto-juvenil.

De lá para cá, busco me atualizar acerca desse universo cultural, quase sempre mais próximo dos interesses comerciais de editoras e produtoras de filmes do que daquilo que chamamos, mais convencionalmente, de arte.

Por conta do exposto, no final de semana, fui assistir ao filme “Minions”, recém lançado no Brasil.

Antes, é bom saber: “Minions” é um filme estadunidense de animação computadorizada. Na verdade, trata-se de um spin-off (obra derivada de uma ou mais obras já existentes) da animação “Meu Malvado Favorito”, de 2010.

Os minions são pequeníssimos e encantadores seres amarelos; são unicelulares e milenares. Desde a morte de um antigo chefe, eles procuram um novo mestre a quem servir.

Três deles (Stuart, Kevin e Bob, interpretados por Pierre Coffin, que também é um dos diretores do filme), vão até uma convenção de vilões; lá se encantam com Scarlet Overkill (dublada por Sandra Bullock), que sonha em ser a primeira mulher a dominar o mundo.

Na versão brasileira, foram mantidas palavras e expressões do inglês, francês, italiano e japonês. Uma riqueza! Nada se perde com isso.

Da longa ficha técnica do filme, ressalto o belo trabalho do compositor brasileiro Heitor Pereira, que assina as faixas originais do empreendimento. Além delas, o músico nos brinda com clássicos do rock mundial, oriundos dos anos 60.

Dessa forma, Aerosmith, The Doors, Smashing Pumpkins, Jimi Hendrix, The Who estão entre os artistas escolhidos para ajudar a contar a história dos minions em busca de um chefão, ou do "malvado favorito".

A partir dessa busca, os recados são dados. O primeiro é a inversão de princípios consolidados nas sociedades cristianizadas, além de cristalizadas pelos contos tradicionais de fada, nos quais o bem sempre vence o mal. Para os minions, o chefe não poderia ser “do bem”.

Com base nessa inversão, a obra perpassa pontualidades do que podemos chamar de processo civilizatório, sempre ridicularizado. O início era nada. Desse nada, surgem os minions em priscas eras.

Desse primórdio, o filme salta à Idade Antiga, representada pelos egípcios. Ali, os mínions fazem cair sobre a cabeça de um faraó uma das sete pirâmides. No filme, é a primeira vez que um poderoso começa a ser destronado. Daí para frente, isso ocorrerá sempre.

A Idade Média, vista como tempo da escuridão/ignorância, é representada por fantasminhas de bruxas esqueléticas.

Rapidamente, os minions atingem a Idade Moderna e voam para a contemporaneidade. De início, os EUA (New York) são escolhidos para essa representação. O ano de 1968 é um marco no filme. Naquele ano, em Orlando, local do mundo encantado da Disney, realiza-se o festival de violões, já referido.

No festival, os minions se encantam com a perversidade de Scarlet, que deseja obter a coroa da rainha da Inglaterra para realizar seu sonho. A visão idealizada do gênero feminino se esvai. Scarlet, cheia de superpoderes advindos de um vestido vermelho (é claro), supera maldades masculinas. No fundo, ela “esmurra” também o “politicamente correto”. 

Por tudo isso, o filme, que se estrutura em inteligentes intertextos, é uma refinada crítica, não só de nobrezas, mas de qualquer tipo de poder.

Saí do cinema feliz com a obra. Ela, corajosa, poética e “humanamente”, destitui o instituído em sociedades hipócritas, que pregam o bem, mas cultivam o mal; sempre.

Ler 3166 vezes Última modificação em Sexta, 24 Julho 2015 08:20