Terça, 21 Novembro 2017 14:59

 

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*

Em edição deste domingo, 12 de novembro de 2017, o Jornal Diário de Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, estampou a notícia de que após mais de dez anos, finalmente, por decisão da Juíza Selma Arruda, da Sétima Vara Criminal da Capital do Estado, condenou  o ex-deputado estadual e, posteriormente, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, afastado há alguns anos e aposentado, a 18 anos e 4 meses de prisão, em  regime fechado, mas que o mesmo poderá recorrer da sentença em liberdade.

Este é apenas um de inúmeros casos que demonstram que a morosidade do Sistema judiciário contribui de forma clara para a impunidade, principalmente quando se trata de crimes de colarinho branco ou outros tipos de crime cometidos por pessoas que tem cursos superiores ou pertencem às classes alta ou media alta, diferente de quem pertence à classe trabalhadora ou baixa.

A morosidade e os eternos recursos de nosso sistema judiciário representam uma vergonha e estão na contramão das expectativas da população e da cidadania. Para ser condenado em primeira instância o processo demorou mais de dez anos.

Imagine quantas décadas mais vai demorar para ser julgado nas demais instâncias do poder judiciário, que são: Tribunal de Justiça de MT, depois o STJ Superior Tribunal de Justiça e, finalmente, o STF Supremo Tribunal Federal. Por baixo, o chamado "transitado em julgado", quando não resta nenhum recurso mais, com certeza vai demorar mais uns 50 anos.

Esta realidade de nosso  Sistema judiciário é que acaba ajudando a impunidade, principalmente quando se trata de crimes de colarinho branco, cometidos por gente importante que, em algum momento de suas carreiras criminosas, tem também o manto protetor do famigerado FORO PRIVILEGIADO ou por "prerrogativa de função".

Veja o caso do ex-governador, ex-prefeito e atualmente deputado federal Paulo Maluf, para crimes de colarinho branco cometidos há mais de trinta anos, até hoje ainda não foi pra cadeia, da qual tem se livrado graças a todos esses "expedientes" do Sistema judiciário, UMA VERGONHA.

Conforme relatório recente sobre Sistema penitenciário brasileiro, onde estão trancafiados mais de 650 mil presos, dos quais 40,1% são presos provisórios, ou seja, não foram sequer condenados em primeira instância, os dados indicam que  61,6% desses presos são negros ou pardos, 75% mal chegaram ao nível do ensino fundamental, mais de 50% são analfabetos ou semialfabetizados, e mais de 90% são de origem pobre ou miserável.

Ao longo de anos, um medico Famoso que trabalhava com reprodução humana em SP, foi condenado a quase duzentos anos por ter cometido quase 40 estupros  contra suas pacientes. Depois de condenado, acabou conseguindo um habeas corpus junto ao STF e,  em Liberdade, acabou fugindo para o Paraguai. Posteriormente foi novamente preso.

Por várias decisões judiciais tem alternado tempos na cadeia e tempos em prisão domiciliar, enquanto as vítimas continuam penalizadas física e psicologicamente pelos estupros sofridos, enquanto o criminoso, continua livre  da cadeia.

Resumo da opera, cadeia no Brasil é lugar para onde são enviados apenas pobres, analfabetos, negros e pardos; políticos, governantes, gestores públicos de alto "gabarito", criminosos de colarinho branco,  empresários, enfim, corruptos, quando muito são afastados de suas funções, mas continuam recebendo seus polpudos salários ou recebem, como “ castigo”, aposentadorias de marajás ou prisões  domiciliares em mansões de luxo.

Além disso, cabe destacar que mais de 500 políticos, gestores públicos de alto escalão, incluindo ministros de Estado ou autoridades assemelhadas, estão sendo processados pelo STF  ou STJ, mas tais processos andam a passos de tartaruga e, nesta toada, tudo leva a crer que jamais serão condenados e presos, principalmente enquanto continuarem sendo eleitos, reeleitos ou nomeados para  cargos que gozam de FORO PRIVILEGIADO, na verdade o direito à impunidade.

Será que uma situação e realidade como o que presenciamos  no Brasil é compatível com o tão decantado e endeusado "estado democrático de direito"? Será que é justo e democrático condenar miseráveis  e premiar bandidos de colarinho branco? Será que é verdadeiro o ditame constitucional de que “todos são iguais perante a Lei”?

Tudo isso merece uma profunda reflexão se desejamos construir  um pais justo e desenvolvido, do qual a população possa, realmente, se orgulhar!

*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado, UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blogwww.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

 
 
 
Quarta, 18 Outubro 2017 09:26
 
 
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JUACY DA SILVA*

Há poucos dias li um artigo em que o autor tecia elogios  rasgados `a democracia brasileira e ao mesmo tempo condenava de forma clara a ditadura,  representada pelos governos militares que, durante duas décadas esteveram presente em nosso país.

Em um outro artigo, um outro autor falava da falta de planejamento tanto a nível nacional quanto em Mato Grosso e mencionava o impacto positivo que o programa POLOCENTRO, implementado durante os governos militares havia mudado os rumos do desenvolvimento de nosso Estado, da mesma forma que o Estado de Rondônia.

Ambos os autores sempre que podem não  se cansam de destacar os aspectos repressivos dos governos militares, pouco dizendo sobre os avanços em termos de desenvolvimento que ocorreram durante aquelas duas décadas, cujos impactos possibilitaram ao Brasil dar alguns saltos qualitativos em  termos de crescimento do PIB  e modernização da infraestrutura e outros setores, inclusive os avanços em direção ao Centro-Oeste e Amazônia.

Com  certeza, em sã consciência ninguém pode  deixar de destacar a importância da democracia para a vida de um país e de um povo. Todavia, também  em sã  consciência não podemos deixar de registrar que vivemos em uma democracia de fachada, uma democracia marcada pela demagogia de uma classe política corrupta e ávida por favores que emanam do poder e suas entranhas, uma democracia do compadresco, do fisiologismo, do oportunismo, dos privilégios para uma minoria em detrimento da imensa maioria do povo brasileiro que continua sendo espoliado, enganado e manipulado pelos donos do poder, incluindo os  grandes grupos empresariais,  no meio dos quais vicejam a corrupção e as negociatas  quando se trata das relações público x privado.

Por  esta razão ainda vemos inúmeros políticos e empresários  que outrora  se beneficiaram e apoiaram os governos militares, cujo símbolo maior são o ex-presidente Sarney  que foi por muitos anos o presidente do PDS, partido  que apoiava  e dizia  amém para tudo o  que os militares faziam ou deixavam de fazer.  Outro politico também símbolo daquela época é o ex-governador de SP, Paulo Maluf, que por pouco não chegou a presidência da República. Um terceiro que também  merece referência é Delfim Neto, ministro por duas vezes dos governos militares e responsável pela política econômica e também dos arrochos na classe trabalhadora.

Esses políticos e outros mais espalhados por diversos estados, inclusive MT, cujas histórias e estórias todos bem conhecem, passaram  de apoiadores da ditadura ou dos governos militares para democratas de carteirinha e apoiaram  os governos Lula, Dilma e atualmente o governo Temer e são ou foram expoentes da vida política nacional e caciques de vários partidos que atualmente tem dezenas de dirigentes  investigados, condenados ou presos por corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outros crimes de colarinho branco.

A corrupção e a impunidade estão  vencendo a ética,  o respeito pelos direitos do povo, a transparência e a eficiência institucional. Prova  disso tem sido as prisões de vários  ex-governadores, exemplo de MT  e Rio de Janeiro, diversos secretários  e ex-secretários de estados, ex-parlamentares estaduais e federais, afastamento de quase todos os integrantes dos Tribunais de Contas do Rio de Janeiro e de MT, diversos grandes empresários, inúmeros gestores públicos, prefeitos.  De forma semelhante causa espanto quando parlamentares, govenadores são filmados recebendo dinheiro vivo  na forma de propina, outros escondendo fortunas em barras de ouro, em malas e caixas, como aconteceu recentemente com Gedel, ex-ministrro e amigo do peito de Temer e cacique do PMDB.

Para rematar, como podemos defender  uma democracia em que ex-presidentes ainda hoje são investigados por corrupção e o atual, juntamente com diversos de seus ministros são alvos de investigação e só não são presos porque se escondem sob   o manto do famigerado instituto do foro privilegiado, uma verdadeira excrecência jurídica que ajuda a proteger autoridades corruptas ou pelo espírito de corpo e muitos favores de parlamentares  federais, que deverão impedir que a Justiça  investigue o presidente pela segunda vez, por organização criminosa e obstrução da justiça?

Para muitos os parlamentos representam um grande bastião e  símbolo da democracia. Será que o Congresso Nacional, onde estão presentes tantos senadores e deputados federais que são investigados ou suspeitos de corrupção, representa a verdadeira democracia no Brasil?

Será  que esta é a democracia com a qual sonha  o povo brasileiro? Com  certeza não. Todavia,  como são os donos do poder, principalmente o Congresso Nacional que fazem as Leis, a impunidade e a corrupção estão ganhando esta batalha pela ética na política e na gestão pública brasileira.

Precisamos combater de forma mais efetiva e direta a corrupção, a impunidade e os privilégios e mutretas dos donos do poder, para que a democracia seja algo defensável perante os olhos do povo, caso contrário as vozes que defendem uma intervenção militar irão crescer muito em um futuro próximo.

*JUACY DA SILVA,  professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Twitter@profjuacy EmailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com
 

Quarta, 11 Outubro 2017 15:55

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Outubro chegou. Com ele, duas comemorações só no dia 12.

 

No plano religioso, o país celebra sua padroeira, aparecida das profundezas de um rio – no formato de estátua – a alguns pescadores. De sua parte, o comércio ri de graça com as graças feitas às crianças, muitas atiradas à sorte neste “mundão de Deus”. Muitas dessas crianças só serão encontradas por pescadores de homens e mulheres, mas para o tráfico. Muitas permanecerão submersas em trágicas cenas de nossa já desumanizada realidade.

 

Logo depois vem o dia 15, que homenageia (?) o professor, um profissional que vai perdendo seu papel nas águas turvas de um país sem projeto para o futuro das novas gerações.

 

Neste outubro, em nada cor de rosa, essas duas datas surgem antecedidas de tragédias que nos comoveram; tragédias que, no centro, tiveram professores e crianças.

 

Na badalada Floripa, um professor que era reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, denunciado por se omitir em possíveis corrupções naquela instituição, suicidou-se em um shopping.

 

Na pacata Janaúba-MG, uma professora morreu tentando salvar seus alunos (de 2 a 6 anos de idade) de um incêndio criminoso em uma creche, provocado por um desses seres que ninguém – tampouco a natureza que o criou – responde por seus erros. Logo, o (mal) feito fica por isso mesmo. Consequências: quem crê nas “alturas”, chora e reza. Quem não crê, não reza, mas chora igualmente, e encontra motivos para só aumentar sua descrença nos desatentos lá do “alto” para com os desprotegidos cá debaixo.

 

 Da tragédia de Janaúba, ainda que correndo o risco da má interpretação, penso que, mesmo se as instalações do prédio daquela creche estivessem dentro dos padrões, ninguém estaria a salvo do premeditado crime de um ser perturbado. Sua crueldade não seria contida por nada. Isso não deve isentar ninguém de cumprir normas de segurança nas construções prediais.

 

Mas se as vítimas de Janaúba estiveram nas mãos de um desequilibrado, o que dizer do infortúnio daquele garoto de 12 anos, no Piauí, deixado por seu próprio pai – ex-presidiário por pedofilia – em uma cela com oito homens, dentre os quais um também responde por pedofilia?

 

Já do suicídio do ex-reitor da UFSC só tenho a lamentar. Não o conhecia; logo, nada tenho a dizer de seu comportamento ético. Todavia, verdade seja dita: a maioria das universidades, acompanhando o ritmo de corrupção no país, se deterioraram muito nas duas últimas décadas.

 

É nesse clima de perdas da ética, e até mesmo da moral cristã, para os que não dão conta de transitar pelas linhas da razão, que os processos de escolhas para as reitorias das universidades e institutos federais estão ocorrendo. Resguardando possíveis exceções, o fato é que tem sido difícil a qualquer um que pleiteie as reitorias dessas instituições não fazer indesejados pactos ou, pelo menos, não optar pelo silêncio em muitos momentos.

 

Diante dessa degradação, lamento pelo processo de espetacularização da prisão e morte do ex-reitor, mas lamento, ainda mais, que sua morte – em si, também espetacularizada na forma – tenha caído como luva a políticos atolados em corrupção. Os agentes da mais recente “seita” de que se sabe foram os mais afoitos no ataque à ação da Polícia Federal, do Ministério Público...

 

Por fim, vale recordar: a sociedade, por muito tempo, cobrou justiça contra os poderosos. Bem ou mal, estamos vivendo este momento. Ele é inusitado; por isso, os erros de encaminhamento devem ser aprimorados, mas o percurso, jamais abandonado.

 

Segunda, 18 Setembro 2017 09:20

 

 

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JUACY DA SILVA*

Praticamente todos os dias, todas as semanas e todos os meses, ao longo das últimas três ou quatro décadas, desde o fim dos governos militares, com o advento da tão sonhada, acalentada e louvada  democracia, como alguns costumam dizer, democracia vilipendiada e maculada, a opinião pública brasileira acordo com notícias de prisões  ou operações “caça corruptos”.

Com  toda a certeza estamos vivendo novos tempos, onde alguns figurões, poucos na verdade, tem passado pelo constrangimento de serem presos, conduzidos coercitivamente ou terem suas casas, escritórios  e mansões vasculhados pela Polícia Federal  ou  outros agentes da repressão aos crimes de colarinho branco.

Até alguns anos ou em décadas passados, costumava-se dizer que prisão era apenas o destino das classes subalternas, pobres, negros, prostitutas  e outros grupos excluídos de nossa sociedade. Gente fina, granfinos, autoridades, doutores, grandes empresários só eram notícia em colunas sociais, participando de banquetes e festas badaladas, regadas  com muitas iguarias e bebidas caríssimas, enquanto os pobres passavam e continuam passando fome.

Muitos empresários fizeram fortuna do dia para a noite e eram tratados como grandes empreendedores.  Políticos  e gestores públicos que se  eternizavam e ainda se eternizam no poder, entravam  pobres na ou para a política e administração pública e acabavam ficando ou ainda ficam milionários ou até bilionários. A origem dessas fortunas pouca gente sabia, pois  este enriquecimento era e continua sendo fruto da corrupção e de esquemas tramados nos porões, não da ditadura, mas da democracia, nos  porões dos governos federal, estaduais e municipais. Ai  eram realizados e “montados”  os grandes  esquemas, muito semelhantes aos que existem nas quadrilhas dos bandidos comuns, os traficantes de drogas, de armas , enfim, a bandidagem comum, esta que amedronta a população com sua forma violenta de agir, onde os sequestros, os roubos `a mão armada, o que as vezes é chamado de “novo cangaço”, aterroriza o povo.

Não menos violentos são os crimes de colarinho branco, os praticados por políticos, governantes  e  empresários corruptos, a arma é o cinismo, a dissimulação,  o superfaturamento, as obras  e contratos fictícios, os aditivos generosos que triplicam ou quadruplicam o  valor dos contratos, das obras e dos serviços, tudo devidamente “fiscalizados”  e aprovados pelos órgãos de controle interno e externo, os tribunais de contas, as auditorias,  as controladorias, os poderes legislativos federal, estaduais e municipais, além  das famosas CPIs  e CPMIs, verdadeiros circos da democracia, que quase sempre acabam em pizza.

A arma utilizada pelos corruptos  ou criminosos de colarinho branco, além da ostentação, da cara de pau quando pegos com a boca na botija, colocando dinheiro público nas cuecas, nas bolsas, mochilas, malas, caixas de papelão  ou descobertas quando feitas  na forma de transferência eletrônica,  ou transformadas em barras de ouro, obras de arte, imóveis, apartamentos, sítios  ou fazendas,  são os recursos que fazem falta para a saúde que continua  um caos cada vez maior, matando brasileiros inocentes pela falta de atendimento; fazendo falta nas  áreas  da segurança pública, no saneamento, na educação e tantos outros setores da administração pública.

Alguém recentemente perguntou a um cidadão que caminhava por uma rua toda esburacada, com esgoto correndo a céu aberto, de quem tinha mais medo, se de bandido comum que assalta ,rouba, estupra  ou de políticos e empresários corruptos que fazem tudo isso sem arma, usando apenas caneta, o poder e a influência de seus cargos e mandatos.  De pronto o cidadão disse que dos políticos e empresário corruptos, principalmente dos que gozam do chamado foro privilegiado, pois esses jamais  ou quase nunca, com raríssimas exceções vão parar na cadeia. Isto  acontece apenas, quando acontece, só quando não tem mais a cobertura desta excrecência brasileira que é o foro privilegiado.

Considerando a quantidades de denúncias contra políticos, autoridades com mandato ou cargos  que garantem foro privilegiado  e a demora  que tais processos exigem  para serem concluídos a impunidade  vai continuar reinando por muitos séculos em nosso país.

Apenas para recordar, temos  alguns ex-presidentes que foram  cassados por corrupção  e  o atual que já  é alvo de investigações por ser  considerado, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, como chefes de organizações  criminosas, das quais participaram e participam alguns  de seus ministros e diversos parlamentares  e ex-parlamentares, incluindo um que voltou para a Papuda porque foi pego com a bagatela  de R$ 51 milhões  de reais.

Cenas como esta e a de deputados em Mato Grosso recebendo propina paga  pelo ex-chefe de Gabinete do então Governador do Estado são deprimentes e “monstruosas”, na linguagem do Ministro Fux, do STF.

Até  quando vamos ser governados por bandidos, criminosos de colarinho branco travestidos de autoridades? Será que isto é Estado democrático de direito? Uma democracia?

*JUACY DA SILVA, professor universitário,  titular e aposentado UFMT,  mestre  em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs  e outros veículos de comunicação.  Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com  Twitter@profjuacy

 

Sexta, 15 Setembro 2017 11:06

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Em 1975, Paulinho da Viola lançou “Pecado Capital”, música em que trata da relação de seres humanos – ricos e/ou pobres – com o dinheiro. Ao fazer isso, como poucos, “fotografa” o comportamento psicossocial da maioria das pessoas que vivem em sociedades capitalistas.

Em termos estruturais, quatro são as estrofes que compõem “Pecado Capital”. Como as duas últimas são repetições das duas primeiras, o texto apresenta dois movimentos apenas; e que não se opõem na essência, como normalmente ocorre em textos poéticos, mas que se complementam na oposição de dois distintos extratos sociais.

No primeiro movimento, o texto musicado alude a um “sonhador” que busca, sem limites, uma “grandeza” material, traduzida pela posse do dinheiro: representação, por excelência, dos seres bem-sucedidos em sociedades capitalistas.

No outro movimento, não há mais referência a um sonhador deslumbrado pelo acúmulo de capital, que não mede consequências para ver seu sonho realizado, mas daquele ser que, driblando adversidades do cotidiano, precisa lutar pela mera sobrevivência dentro da própria espécie. Darwiniamamente falando, se “viver não é brincadeira não,// Quando o jeito é se virar// cada qual trata de si// Irmão desconhece irmão”.

Mas por que, hoje, lanço mão de “Pecado Capital”?

Porque a imagem de 51 milhões encontrados no apartamento em Salvador não me sai do pensamento. Daquela chocante imagem, outras lembranças se sucedem. E saber que Geddel não usava tornozeleira porque a “Triste Bahia”, agora lembrando Gregório de Matos e Caetano, não dispunha de recursos para esse e outros “investimentos”.

Agora os têm. E muito!

Paradoxalmente, diante desse “muito”, o texto de Paulinho acaba não dando conta. Nem essa grande música parece alcançar a dimensão do desvario de um Geddel, que parece disputar com a ganância de um Sérgio Cabral, que parece querer superar a avareza de um Maluf, de um Lula, de um Aécio, de um Temer... A lista não é pequena, só alma desse tipo de gente é...

Em meio à sovinice dos que buscam o topo dos mais corruptos, a impressão que nos dá é a de haver alguém sempre querendo superar outrem nas ações do subterrâneo nesta terra arrasada chamada Brasil.

Agora, na contraposição de “Pecado Capital”, resgato a composição musical “Casa no Campo”, de Tavito e Zé Rodrix. Nesta, o eu-poético – à lá árcades setecentistas – deseja apenas “...uma casa no campo// Do tamanho ideal, pau a pique e sapê”, onde se possa plantar amigos, discos, livros e nada mais.

Mas esse querer tão genuíno e elevador interno do humano (alma?) é para poucos. Muitos dos querem, hoje, uma casa no campo estão longe de se contentar com algo “do tamanho ideal”; tampouco construído de forma básica.

Ao que tudo indica, muita gente já entendeu que uma casa no campo – e se for em Atibaia e reformada com dinheiro de propina, melhor – também tem lá seu valor mais concreto do que qualquer simbologia próxima de descanso e sossego, desejados pelos antigos que almejavam apenas um locus amoenus, no qual pudesse usufruir do que de melhor a vida nos dá: livros, discos e amigos.  

É, pois, nesse clima desolador de tanta corrupção, que assistimos, há alguns dias, à delação de um companheiro contra outro; de um irmão desconhecendo irmão da mesma legenda, ou do mesmo saco.

E assim, de delação em delação, as construções, mesmo as de mais alto padrão – em atibaias ou em quaisquer praias – vão se desmoronando; ao mesmo tempo, vão corroendo nossas energias, que não podem se esgotar.

 

Sexta, 15 Setembro 2017 11:04

 

 
 
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JUACY DA SILVA*

 

Há pouco poucos meses o Brasil inteiro viu as cenas ridículas de um deputado, na verdade suplente  de deputado federal e ex-assessor de Temer, sobre  quem o Presidente  referiu-se em gravação  realizada por um empresário corrupto, que foi recebido pelo  presidente da República, na calada da noite, como sendo de sua inteira confiança; este senhor foi flagrado  e filmado pela Polícia Federal  saindo correndo de uma pizzaria em São Paulo, com uma mala com R$ 500  mil reais, que, conforme denúncia do Procurador Geral da República, seriam destinados ao atual Presidente.

Mesmo tendo o STF aceito a denúncia  contra o Presidente por corrupção passiva e outros crimes, a Câmara Federal, onde mais de uma centena de deputados também são investigados por corrupção,  acabou salvo pela sua base de apoio na Câmara.

Além de dezenas de deputados federais que o apoiam e estão sendo investigados por corrupção, o Governo Temer tem dez ministros que também estão sendo investigados por corrupção  e outros crimes de colarinho branco.

O ex-governador do Rio de Janeiro, também do PMDB, que  está preso há um bom tempo,  já  foi indiciado em diversos processos e tudo leva a crer  que deverá ser condenado  a muitas décadas de prisão, pelos muitos milhões  de reais que ele e sua quadrilha roubaram  dos cofres públicos, deixando o estado na quase falência  e nas costas dos servidores públicos os resultados desta pilhagem.

Em Mato Grosso,  também  o ex-governador Silval Barbosa que já esteve preso por quase dois anos e só conseguiu ser solto  mediante delação premiada, entregou ao Ministério Público Federal vídeos e gravações  onde diversos deputados  aparecem de forma cínica e criminosa recebendo pacotes de dinheiro, colocando tais pacotes  nos bolsos, como o atual Prefeito de Cuiabá,  em mochila como o outrora presidente do PT e procurador do Estado  e outros deputados/a colocando dinheiro sujo em sacolas, bolsas e caixas de papelão.

Esta delação foi considerada  pelo Ministro Fux, do Supremo Tribunal Federal  como monstruosa e um acinte conta a democracia e o povo de Mato Grosso, tamanha o cinismo e  a desfaçatez  como governantes roubam os cofres públicos.

Há  poucos dias em outra operação da Policia Federal,  foi feita mais  uma devassa, desta vez no Comitê Olímpico brasileiro, onde inclusive seu eterno presidente  e alguns empresários corruptos  “compraram” votos para que o Rio de Janeiro fosse  escolhida como cidade sede  das olimpíadas de 2016, tudo dentro do esquema de roubalheira do ex-governador Sérgio Cabral.

Agora, o último escândalo que abala o Brasil e “choca”  a opinião pública  foi a  descoberta e apreensão de oito malas, dessas de viagem bem grandes e mais diversas caixas de papelão enormes, todas recheadas com notas de cem e cinquenta reais, totalizando a apreensão de nada menos do que 51 milhões de reais, que devem ou deveriam pertencer ao ex-ministro, preso há algum tempo por práticas de tráfico de influência e corrupção, em prisão domiciliar, em seu apartamento luxuoso de Salvador, sem tornozeleira, isto é uma vergonha para o pais e para o povo.

Estamos às vésperas do SETE DE SETEMBRO, nossa data magna em que comemoramos nossa independência, quando o Brasil se livrou do jugo de Portugal, mas que, passados 195 anos, quase dois séculos, ainda não conseguimos nos livrar do jugo da corrupção.

Estamos sendo governados, em todos os níveis de poder, em todas as regiões, abrangendo todos os poderes, a união, os estados e municípios, por políticos, governantes e gestores corruptos, associados com também empresários venais, cínicos e corruptos, verdadeiras quadrilhas que estão destruindo nossas instituições e a esperança do povo.

Talvez a única solução para acabar com a corrupção no Brasil seja a adoção do modelo chines, onde todos os criminosos, inclusive os corruptos, principalmente os governantes e dirigentes do PCC, Partido comunista chines, são fuzilados.

Não podemos permitir que os corruptos dominem o Brasil, espoliem o povo e destruam nossas instituições. Precisamos  ter leis mais severas  para punir esses crimes e criminosos. Deixar  bandidos de colarinho branco, como aconteceu com os irmãos batista  da JBS, que sequer foram presos e receberam  total imunidade para seus crimes tanto por parte do MPF  quanto do STF  é  um tapa na cada do povo, da mesma forma que aposentar compulsoriamente juízes  e conselheiros de tribunais de contas por prática de corrupção,  com aposentadorias de marajás  não é punição, mas sim um incentivo, demonstrando que crimes de colarinho branco é  um “negócio da china”, país onde, aliás, os corruptos recebem  prisões por longas décadas, prisão perpétua com trabalho forçado ou até mesmo a pena de morte.

Algo mais severo tem que ser aplicado aos corruptos brasileiros, o povo e os contribuintes não podem continuar pagando a conta da corrupção.

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado  UFMT, mestre  em sociologia, articulista  e colaborador de jornais, sites e outros veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Quinta, 31 Agosto 2017 14:37
 
 
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JUACY DA SILVA *
 

Será  que alguém viu pela televisão, ouviu pelo rádio ou leu nos jornais, revistas, sites e blogs como tem sido a roubalheira de políticos em Mato Grosso recebendo pacotes de $$$ entregues pelo chefe de Gabinete do ex-governador Silval Barbosa, entregues pelo próprio ex-governador em sua delação premiada ou “colaboração” com a justiça e homologado pelo Ministro do STF Luiz Fux? Enquanto outros investigados e presos por corrupção no Rio de Janeiro foram  soltos por determinação judicial do STF?


É revoltante ver essas cenas de roubo explícito e  o cinismo desses criminosos de colarinho branco, travestidos de autoridades e representantes do povo ou empresários.

Antes era o Rio de Janeiro que foi governado por uma quadrilha de criminosos de colarinho branco, agora surge Mato Grosso para fazer companhia ao Rio Grande do Norte, Minas Gerais e outros estados.


A corrupção é a chaga, o câncer que está destruindo o Brasil, o povo paga tantos impostos, cada dia a carga tributária é maior, mas a corrupção e a incompetência de nossos governantes e gestores públicos estão estrangulando os serviços públicos, onde o caos impera abertamente.


Além de pagar uma carga tributária exorbitante, quem precisa de saúde de qualidade tem que pagar planos de saúde; quem quer educação de qualidade para seus filhos tem que pagar escola particular; quem quer segurança tem que colocar cercas eletrificadas e pagar segurança particular, enquanto isso os serviços básicos como saneamento, infra estrutura, justiça e outros serviços públicos estão cada dia piores.


Será que um Congresso cheio deste tipo de políticos tem moral e legitimidade para propor reformas que vão penalizar ainda mais o povo, enquanto os privilégios, mordomias e benesses continuam favorecendo esta casta de privilegiados?


Será que é justo um país que paga um salário mínimo de fome aos trabalhadores que dão o duro enquanto alguns marajás da República recebem dos cofres públicos,  dos impostos pagos por  uma população que sofre, verdadeiras fortunas, mais de um milhão de reais por ano?

Pense nisso e imagine o que podemos e devemos fazer para nos livrar desta corja de salteadores dos cofres públicos e seus apaniguados.
 

 
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Terça, 29 Agosto 2017 10:33

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT

 

Contrariando Antônio Vieira, que pedia ao orador do séc. 17 que desenvolvesse apenas um tema por ocasião, neste artigo, tratarei de dois.

O primeiro se refere a uma recente nota inserida no site da UFMT, reforçada em entrevista coletiva de sua reitora sobre a crise financeira da Instituição, ora empreendida pelo governo Temer/PMDB.

Na essência, sem contraposições; ao contrário, até exalto a atitude da magnífica. Falar publicamente de crise nas universidades é ato político legítimo e corajoso; é para poucos. Todavia, respeitosamente, aponto alguns itens que foram esquecidos.

Embora seja dito na nota que, “De 2014 para cá, perdemos 50% dos recursos de capital e 20% de custeio, sem contar a inflação...”, nada é exposto sobre o comportamento político dos governos e reitorias anteriores.

Tais comportamentos – compreendidos e denunciados pelo Sindicato Nacional da categoria (ANDES-SN) – não isentaram ninguém (de Collor a Dilma, e Temer poderá ser o da vez) de enfrentar greves das universidades. Nem Lula/PT – para quem reitores serviram de tapete político – escapou.

Aliás, de Lula – sempre desdenhoso para com os servidores federais e sedento para se perpetuar no poder – se chamou a atenção para a expansão irresponsável que seu governo se nos impunha, subtraindo-nos a autonomia. Seu Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades (ReUNI) e o ENEM são exemplos cabais.

Lula, ao injetar recursos para construção de prédios nas universidades – em geral, mal feitos, muito mais para contemplar interesses de empreiteiras – mandou e desmandou nas federais. Servimos de moeda de troca. Simples assim.  

Pergunto: o que os reitorados e os reitoráveis da época fizeram para cuidar do futuro das instituições? O que fizeram para preservar a Autonomia Universitária, consoante o Art. 207 da Constituição?

Como “o futuro” já é, relembro: a maioria, além de apoiar aquele governo, golpeou/cooptou os conselhos superiores para a imposição dessas expansões.

Na UFMT, vários dos novos cursos e o campus (aliás, sem o vergonhoso acento circunflexo em um termo da Língua Latina) de Várzea Grande, vizinho da capital, mas não só, são exemplos de expansão irresponsável. Aqui, chegou-se ao cúmulo de votar coisas do gênero fora do campus (de novo, sem o circunflexo, pois está no singular). Lembram-se da votação na OAB?

Mais: o que fizeram os magníficos quando Lula e Dilma – de novo, o PT pensando na perpetuação da espécie no poder – canalizaram recursos públicos aos cofres das privadas, por meio do ProUNI, FIES etc.?

Em casos tais, o requinte de maldade desses mandatários foi estupendo, pois todos sabemos que as instituições particulares, com raríssimas exceções, não trabalham com acadêmicos, mas com clientes. Isso diz tudo: diplomas sem lastro e povo iludido, quando não endividado.

Mas sob o manto da inclusão, mesmo que falsa ou capenga, só “ouvimos o silêncio” dos magníficos, que agora precisarão gritar; e gritarão, afinal, Lula não está lá para ouvir.

Nem Dilma, para quem vários magníficos até posaram para foto de sua reeleição. Deu no que deu.

Portanto, apontemos legitimamente a crise. Democraticamente, condenemos Temer, de quem se deve mesmo temer sempre, mas não nos esqueçamos das outras farinhas, pois são todas do mesmo saco. Aliás, bem juntinhos, subiram a mesma rampa. Alguns já rolaram. Outros rolarão.

O segundo tópico é sobre as impactantes imagens das notas de maços de dinheiro em caixas, paletós e mochilas, recebidas por políticos mato-grossenses – e ao que tudo indica, corruptos – durante o governo Silval Barbosa, o delator do cerrado.

De seus delatados, há um que – além de ex-deputado e procurador do Estado – é docente de Direito na UFMT, pelo menos é o que constava na “Apresentação” de sua página virtual em 28/08/2017.  

Da parte da PGE, em nota, já foi admitida a gravidade das cenas, sinalizando com a abertura de Processo Administrativo Disciplinar contra aquele seu procurador.

No Rio, o professor que, nas redes sociais, incitou a violência, empunhando arma para comemorar a vitória de seu time, já recebeu as devidas e necessárias punições, e receberá outras, tão devidas quanto necessárias.

E a UFMT? Continuará no silêncio, fazendo-se passar por quem nada tem a ver com o problema tornado público em todas as mídias?

Nosso silêncio não poderia parecer um tipo de atestado de conivência institucional com a possível corrupção de um professor do seu quadro de efetivos?

Só para lembrar: esse colega foi liberado de suas funções acadêmicas para nos representar na Assembleia Legislativa, após sua eleição a deputado estadual.

Mas sua representação era como as imagens mostraram? Se for, fica por isso mesmo?

Outra lembrança: a despeito de eventual subtração de recursos públicos, que podem ser traduzidos pelos maços enfiados em sua mochila, sua própria liberação já impusera – isso com certeza – custos adicionais à sociedade, uma vez que alguém deve ter lhe substituído em seu Departamento.

Enfim, não estou, aqui, pedindo a condenação pública do colega previamente e sem julgamento, mesmo diante da nitidez das imagens, que constrangem. Estou solicitando que a UFMT se pronuncie, publicamente, no sentido de dar apoio irrestrito às investigações que o caso requer. Se houver condenação, que a Instituição tome as devidas providências no futuro.

De uma coisa, tenho certeza: o silêncio não nos fará bem.

 

Sexta, 25 Agosto 2017 11:24
 
 
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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

Mais de cem milhões  de habitantes no Brasil não tem acesso ao Sistema de coleta de esgoto, isto representa 49,7% da população em 2016, que estão lançando esgoto nas ruas, vielas, rios, córregos, lagoas, manguezais e no mar, transformando nosso país  em um verdadeiro esgoto a céu aberto.


Dos esgotos tratados, apenas 42,7% são tratados. Todavia  esses índices variam muito de uma região para outra. Na região Norte apenas 14,6% são tratados, passando para 32,1%  no Nordeste; 47,4% no Sudeste, 41,4% no Sul e 50,2% no Centro Oeste.  Para universalizar o acesso da população brasileira aos serviços de coleta e tratamento de esgoto serão necessários mais de 500 bilhões de reais entre 2017 até 2033, investimento anual em torno de R$40 bilhões.


Este é um dos retratos de nosso país, onde governantes , gestores públicos e empresários corruptos  deixam de dedicar seus esforços, tempo e recursos para o atendimento da população que sofre o caos e descaso nos serviços públicos, para se dedicarem a montar esquemas  sofisticados de como roubar os cofres públicos.


Nossa Constituição, a tão falada democracia e o endeusado “estado democrático de direito”, que já completaram três décadas, não tem conseguido nem realizar as obras físicas de saneamento básico e muito menos tratar o maior esgoto a céu aberto do país ou talvez do planeta, que é o esgoto politico a céu aberto, este sim, que transforma nosso país, a política, a gestão pública e as atividades empresariais em um lamaçal ético,  uma realidade fétida.


Ano após  ano nessas  três décadas  parece  que a roubalheira, o descobrimento de verdadeiras quadrilhas de colarinho branco enquistadas na  estrutura do poder, estão dilacerando nossas instituições e desacreditando as nossas autoridades.


O ex-presidente Lula, cujo governo foi um covil de salteadores, recentemente condenado em primeira instância por corrupção, deixou uma frase que sintetiza bem a situação, ao dizer que no Congresso  Nacional teriam assento nada menos do que 300 picaretas, sem mencionar qual o percentual de corruptos e picaretas estariam nos  demais poderes da República.  O que se sabe é várias centenas  de deputados federais, senadores, deputados estaduais,   ministros, governadores, secretários, prefeitos e vereadores , conselheiros de tribunais de contas, membros do poder judiciário, empresários tem sido denunciados  e uns poucos investigados e um número insignificante condenados por crimes de corrupção, formação de quadrilha, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e outros crimes de colarinho branco.


Por ironia do destino, coube a Câmara Federal  iniciar o processo de impeachment da ex-presidente Dilma, possibilitando que seu companheiro de chapa Temer chegasse a Presidência da República, dando continuidade aos mesmos esquemas e mecanismos de corrupção que durante mais de 15 anos vigoraram nos governos Lula/Dilma, em uma aliança entre PT, PMDB e outros partidos menores. 


Essa mesma Câmara, cujo ex todo poderoso presidente Eduardo Cunha encontra-se  preso pela Operação Lava Jata, com o votos de centenas de deputados federais investigados por corrupção e com o uso de recursos públicos e outros expedientes nada éticos, acabou livrando Temer,  pego em  gravações comprometedoras e escandalosas, de ser investigado, processado, condenado e preso por corrupção.


Todos os dias, ao longo dos últimos anos, desde o caso dos anões do orçamento no Congresso Nacional, com destaque para o Mensalão  e a LAVA JATO, diversas operações policiais são realizadas, em uma verdadeira caçada aos corruptos,  quando autoridades , gestores públicos e empresários são presos por praticarem corrupção envolvendo recursos públicos.


Com o advento da delação premiada ou colaboração com a justiça, a opinião pública  tem assistido de forma cínica e despudorada as confissões desses figurões da política e da administração pública de como e quanto roubaram  e  que ao serem presos ou investigados, para livrarem a própria pele, acabam confessando seus roubos, na certeza de que assim fazendo, poderão perder os anéis e preservarem os dedos.

 

Com toda certeza, se a falta de saneamento revela o lodo  e outros excrementos que correm a céu aberto pelas nossas cidades, o que se passa na política e gestão pública brasileira é mais fétida  e  nosso país pode ser considerado um ou talvez o maior esgoto politico a céu aberto do planeta.

Será que alguém acredita que um Congresso Nacional, um Governo e partidos integrados por este tipo de gente tem dignidade, tem moral e ética para nos   governar e ainda aprovar reformas e outras medidas que vão afetar negativamente a vida de milhões de brasileiros atuais e das próximas gerações?


*JUACY DA SILVA,  professor  universitário,  titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, articulista de jornais, sites e  blogs. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blogwww.professorjuacy.blogspot.com

Quinta, 17 Agosto 2017 15:38

 

Dizem os livros que Cezar, ao chegar de uma campanha vitoriosa (e dos braços de Cleópatra), desfez seu casamento, devido ao boato que corria em Roma de vários encontros de sua esposa com um homem na sua ausência. Ainda que alegasse ser honesta, pois o homem em questão era um notório homossexual, que eram encontros entre amigos, Cezar não titubeou, e disse: “Para ser a mulher de Cezar, não basta ser honesta, é preciso parecer honesta!”, e o encontro dela gerava suspeitas e comentários, motivo mais do que suficiente para se desfazer um casamento, pelo menos para um Imperador.


Desse evento Maquiavel tirou a máxima, que para o político, não basta que ele seja honesto, é preciso, antes de ser, parecer honesto. A política vive no mundo das aparências, pois é julgada por todos, e são poucos os que estão atentos às ações políticas, e a grande maioria julga os eventos pelos resultados. Por estar o político exposto aos holofotes públicos suas ações estão sendo vistas e julgadas constantemente, e se perde a imagem de honesto, se há suspeitas a respeito de suas ações, ele é obrigado a abandonar seu posto e provar a sociedade civil sua honestidade, para, comprovada sua idoneidade, possa ser reconduzido ao seu cargo. Não há para ele o benefício da dúvida, que pertence a sociedade, que tendo milhões de cidadãos sem suspeitas, não precisa manter um sobre o qual recaia acusações graves.


Na parte do mundo onde a política é razoavelmente decente, qualquer político suspeito é imediatamente retirado do seu cargo. Na maior parte das vezes por iniciativa própria, senão o partido o expulsa, senão o congresso o cassa, eis porque prefere se retirar da vida pública antes que seja penalizado em outras instâncias. Já aqui as coisas são bem mais indecentes. Os políticos acreditam que enquanto não se prova a sua culpa eles são inocentes, que se podem ter suspeitos em cargos eletivos, que na dúvida não podem ser condenados pelos pares ou pela sociedade, o que significa, entre outras coisas, o mais completo desrespeito à opinião pública, uma zombaria da sociedade civil.


Ou seja, o político quer fugir das suas responsabilidades com a sociedade civil e abusar da imunidade parlamentar, que na verdade tem sido invariavelmente sinônimo de impunidade. O político não é um cidadão comum, ele não tem direitos civis apenas, como a grande maioria das pessoas, tem privilégios e regalias do cargo que o obrigam a ter uma conduta exemplar, pois não são apenas ocupantes de cargos públicos, mas exemplos a serem seguidos pela sociedade. Eis porque no mundo decente eles são retirados da vida pública quando recai alguma suspeita, não estão dando bons exemplos a serem seguidos. O benefício da dúvida pertence a sociedade; se a sociedade tem suspeitas sobre o político, na dúvida é melhor escolher outro representante entre tantos bons cidadãos que existem.


Mas, se a nossa sociedade civil quiser, pode fazer justiça com os nossos políticos, e nem é preciso grande esforço e sacrifício, basta não reeleger os políticos atuais, todos eles ocupados apenas em como manter seus postos e suas regalias. De Temer ao mais baixo deputado, estão todos ocupados apenas em sobreviver politicamente, usando e abusando de suas prerrogativas de fazerem leis, que só beneficiam eles próprios. Eis uma forma se fazer a justiça com as próprias mãos, sem violência e sem desrespeitar as leis.


 
Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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