Segunda, 30 Março 2020 18:59

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Roberto de Barros Freire*


Não estamos em época de excessos, de supérfluos, de luxo, ou mesmo de ostentação, não vemos nem somos vistos, se estamos cumprindo com o isolamento sanitário. Estamos numa época de contenção, mesmo para aqueles que têm muito, temos que buscar o essencial, o fundamental, o parcimonioso, o mínimo necessário, pois temos que economizar aqui para poder ajudar ali. Estamos num período de esforço coletivo, para que todos sobrevivam com o mínimo de perdas humanas ou econômicas.


Mas, bem mais do que isso e da fatalidade do vírus, é um período de mostrarmos civismo, maturidade, compromisso com o bem comum, engajamento no movimento sanitário nacional, num humanismo nacional e globalizado. Atitudes como de Bolsonaro e dos bolsonaristas são posições não apenas antipolíticas e predatórias contra a população pobre, a grande maioria que não pode andar de carro como os empresários, os ricos, mas principalmente são ações contra a ciência, contra as evidências dos fatos, contra a política e contra a população.


Bolsonaristas querem que façamos o mesmo erro cometido pela Itália e a Espanha, que em nome do turismo e da economia se continue trabalhando. Hoje arrependidos italianos e espanhóis aconselham a prática do isolamento social para mitigar a pandemia. O fato é que para não prejudicar o turismo, acabaram prejudicando todos, e o turismo está parado. Solicitar que todos fiquem em quarentena para evitar o crescimento exponencial da doença, é tão somente um ato de racionalidade social. Ser contrário a isso é ser ignorante e desumano. Pior ainda, são péssimos patriotas; não querem salvar a pátria, mas seus negócios, mesmo que sacrificando a pátria. É uma ação contra a sociedade.


Esses maus patriotas que só pensam nos seus negócios, que andam de carro, mas quer obrigar seus empregados a utilizarem o transporte púbico lotado e propício à propagação da doença, para trazerem lucros ao patrão, mais que emprego aos empregados, são desonestos e mal intencionados.

Ignorantes e seguindo um ignorante, os bolsonaristas pensam que podemos decidir o que é certo pelo voto ou pressão política, quando não estamos em condições de deliberar sobre nossa vontade ou mesmo ambições, ou sobre o que podemos ou não fazer (e o mal é capaz de qualquer coisa), mas entendermos e cumprirmos com nossos deveres. O que está em questão é o que devemos fazer e como fazer, e não se podemos escolher qualquer coisa.


É a ciência que nos mostra como agir politicamente, e não como o aloprado presidente e seu séquito querem, a política estabelecendo o que só a ciência pode determinar. A questão não é se queremos ou não ficar em quarentena, se a economia vai sofrer ou não, mas que devemos agir assim para evitar uma pane social, com os serviços de saúde entrando em colapso. A sociedade precisa sobreviver ao pane econômico, mas antes precisa sobreviver à doença.


Devemos dar uma resposta contundente a esses ignorantes que pregam contra a razão, o bom senso, a lógica e até mesmo contra a religião, para continuar ganhando dinheiro. Os ricos nunca querem dar sua cota de sacrifício e esperam apenas as tetas do Estado para se salvarem.


Ricos tolos, maus brasileiros, péssimos cidadãos, egoístas e mesquinhos, querem que soframos o mesmo que a Itália e a Espanha estão sofrendo, querendo repetir os mesmos erros deles. O que está em jogo não é apenas um problema econômico, mas humanitário, civilizatório, patriótico e político. Ou nos unimos para nos potencializarmos ou continuaremos a desperdiçar energia, uns combatendo os outros como faz Bolsonaro, jogando uns contra outros, população contra autoridades. Esses que lutam contra a imensa maioria da população, mais do que não ajudar, o que já é bem sério, atrapalham, prejudicam a todos.


Insensatos e desumanos, não percebem que o dinheiro lhe tirou muito da sensibilidade, tanto que não conseguem ver ou agir para acabar com a pobreza. A campanha de volta ao trabalho, que vem sendo preparada nos porões palacianos, além de racista e degradante, apenas contribuirá para aumentar o número de mortos entre os mais pobres. Não deixemos esses maus empresários propagarem suas ignorâncias!
 

*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Sexta, 27 Março 2020 12:47

 

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Por Lélica Lacerda*

 

É nos momentos de maior fragilidade humana que as contradições nas quais vivemos se apresentam. Historicamente, a morte é um tema que comove, nos faz pensar. As principais mudanças políticas e sociais do mundo, em qualquer país, envolveram algum tipo de ataque à vida – seja pela disseminação de doenças, assassinatos, etc. Não é a toa, portanto, que dialeticamente, o direito mais fundamental da humanidade atualmente é o direito à vida.  

 

Diante de uma nova pandemia – dessa vez o Coronavírus – voltamos a mesma reflexão. Para assegurar o direito à vida, a Organização Mundial da Saúde (OMS) orientou o isolamento social até que a transmissão do vírus não represente mais um perigo de extermínio em massa. Os patrões, porém, respondem imediatamente, enfurecidos, que não se pode parar, pois seus negócios serão afetados. A quarentena escancara, assim, uma das contradições mais verdadeiras que o sistema capitalista tenta esconder: vivemos numa sociedade na qual uma classe trabalha e a outra explora quem trabalha. Em outras palavras, o capital depende do trabalho; sem o trabalhador, o patrão é reduzido a nada.

 

Embora nos pareça evidente que a vida importa mais do que o lucro, na prática, tentam nos empurrar a todo custo que a economia – leia-se o lucro de meia dúzia de gente – é o que sustenta a existência humana. Mas a verdade é justamente o contrário. É o trabalho que sustenta uma sociedade pautada no lucro, e é a riqueza produzida pelos trabalhadores que pode garantir, nesse momento, que todos se recolham para defender suas próprias vidas.

Finalmente não se pode negar a importância que cada um de nós tem para o coletivo. É tempo de entender de uma vez que, se vivemos em sociedade, a saída tem de ser coletiva; a saúde só pode ser coletiva!

No Reino Unido e na Alemanha, por exemplo, os Estados vão complementar o pagamento dos salários para garantir as condições mínimas para as pessoas ficarem em casa o tempo necessário. E isso não é exclusividade da Europa. Aqui ao lado, o governo venezuelano também construiu um plano para complementar os salários de trabalhadores da iniciativa privada por seis meses, além de suspender a cobrança de aluguéis pelo mesmo período e proibir demissões até dezembro de 2020.

Aqui no Brasil, na contramão, Bolsonaro e Guedes defendem a economia em detrimento das vidas dos trabalhadores. Descontentes porque a Medida Provisória que permitia a suspensão de contratos e o pagamento de salários por quatro meses foi, obviamente, rechaçada, o presidente iniciou agora uma campanha irresponsável de boicote às orientações internacionais de isolamento social.

Visivelmente orientado pela lógica patronal, Bolsonaro reproduz as ideias de empresários como Luciano Hang (Lojas Havan), Roberto Justus (Grupo Newcomm) e Junior Durski (restaurantes Madero e Jeronimo Burger), que não se envergonham de dizer abertamente que o setor privado deve cortar salários, e que as consequências econômicas da quarentena serão piores do que perder algumas unidades de milhar de vidas. Traduzindo as palavras de Justus, que é comunicólogo e sabe muito bem que palavras usar para suavizar afirmações nefastas, “homens de números e estatísticas” pouco se importam com famílias que não sejam as deles.

O Estado brasileiro se nega a transferir a renda gerada pelos trabalhadores aos próprios trabalhadores, em especial aos mais empobrecidos, porque quem está à frente dele também ganha favorecendo o setor privado. Quase metade dos recursos arrecadados pela União por meio de impostos (cerca de R$ 1 trilhão) serve, apenas, para enriquecer ainda mais meia dúvida de banqueiros já trilhardários, por meio da duvidosa dívida pública.

Diante disso, cabe questionar qual a dificuldade do governo Bolsonaro em suspender o pagamento dessa dívida para garantir condições de vida aos brasileiros num momento de real de tensão mundial? Por que milhares de pessoas precisam arriscar suas vidas para que alguns ricaços não percam alguns milhões a mais?

Cabe a nós, trabalhadores, conscientes da importância das nossas vidas, impor que a quarentena se estenda até que a pandemia seja controlada. Cabe a nós impor que o Estado brasileiro não atente contra o nosso direito fundamental e inviolável à vida, garantindo condições a todos os trabalhadores, sobretudo os mais pobres, moradores das periferias, indígenas, quilombolas, população LGBT.

Se o Estado negar, paremos nós os nossos trabalhos! Vamos nos negar a trabalhar e pressionar, primeiro, o Estado a assumir a responsabilidade com a população, em especial os trabalhadores mais precarizados; segundo, os patrões a assumirem nossa importância fundamental para o andamento negócios. A saída da pandemia só pode ser pela solidariedade entre os que trabalham! Se os patrões e o Estado - a serviço dos patrões - só se preocupam com lucros, lutemos nós por nossas vidas!

 

*Lélica Lacerda é assistente social e diretora da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind)

 

Sexta, 27 Março 2020 12:27

 

 

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JUACY DA SILVA*

 

Apoio aos que estão em dificuldades em tempos de coronavírus e outras calamidades.


Belo Exemplo que vem do Estado do Rio de Janeiro. Iniciativa do Deputado Estadual Waldeck Carneiro, a partir de mobilização do Movimento de Economia Solidária, a Assembleia Legislativa aprovou e o Governador Wilson Witzel sancionou esta Lei, que abrirá caminho para evitar que dezenas de milhares de pessoas e famílias fiquem sem renda, em decorrência, por exemplo, do isolamento social provocado pela pandemia do coronavírus, outros desastres naturais ou calamidades.


É, em momentos como este, que cabe ao Estado, sejam unidades federativas, a União e também os municípios não voltarem as costas a quem mais sofre. O Estado, vale dizer os poderes públicos, não podem socorrer apenas, como sempre tem acontecido no Brasil, os grandes grupos econômicos, as grandes empresas, principalmente o sistema financeiro-bancário, quando os bancos oficiais se transformam em verdadeiros prontos socorros empresariais.


Cabe aos Poderes Públicos voltarem sua atenção e apoio de fato a milhões de trabalhadores autônomos, trabalhadores que foram empurrados para o trabalho informal em decorrência de reformas draconianas na legislação trabalhista e previdenciária, aos desempregados, subempregados, aos microempreendedores individuais, enfim, a mais de 45 milhões de trabalhadores que não conseguem enxergar um amanhã melhor, com dignidade e justiça social.


Todas as grandes crises, catástrofes e calamidades e assim está acontecendo e vai acontecer com a pandemia do coronavírus em todos os países, em alguns de forma mais branda e em outras de forma mais cruel e profunda, a economia mundial e dos países irá passar por uma profunda recessão, contribuindo sobremaneira para o aumento do desemprego, que no Brasil há vários anos tem estado sempre acima dos 11%, a falta de emprego e de renda, com toda a certeza vai aumentar a exclusão social, a pobreza, a fome, a miséria, o desespero, a desesperança e, com alta probabilidade, o acirramento dos conflitos sociais e a desobediência civil.


Todavia, o remédio não pode ser ignorar os riscos e a disseminação do coronavírus, com o aumento do sofrimento e mortes numerosas, como já vem ocorrendo em diversos países, principalmente da população mais idosa, que, segundo o Presidente Bolsonaro, deve ser confinada e jogada na amargura, pois na opinião do Presidente, não cabe ao Estado socorrer milhões de idosos, que deverão ser “cuidados” por seus familiares, que também já estão na rua da amargura!


Ora, sabemos que no Brasil existe uma grande concentração de renda, riquezas e oportunidades em poucas mãos, em pequenos grupos, os 1% ou 5% mais abastados, do andar de cima, onde Bolsonaro, seus ministros estão incluídos, que recebem toda sorte de benesses por parte do Estado, que os ajudam a acumularem renda , riqueza e patrimônio.


Para Bolsonaro, ajudar grandes empresas, como as gigantes do setor aéreo, os grandes bancos, os barões da indústria, do comércio e do agronegócio, saírem do sufoco em tempos de crise econômica e financeira é papel do Estado, do Governo; mas para socorrer milhões de famílias que já vivem na exclusão social e miséria e mais milhões de trabalhadores que sofrerão as consequências econômicas e financeiras do coronavírus cabe à sociedade, através da caridade pública e aos familiares, que também já estão a margem da sociedade.


Mais de 70% dos idosos, da mesma forma que dos trabalhadores formais ou informais, ganham no máximo um salário mínimo e  durante as crises e calamidades sempre ficam sem renda, sobrevivendo, graças `a solidariedade alheia, como atualmente esta acontecendo.

Oxalá iniciativas como esta, da Assembleia e Governo do Rio de Janeiro, possam também ser tomadas por outras Assembleias Legislativas, Governadores, prefeitos e Câmaras municipais nos demais Estados.


Em momentos de crises, calamidades públicas, desastres naturais cabe aos poderes públicos proverem o mínimo de subsistência aos excluídos e oprimidos para que a fome, a miséria, a angústia, o sofrimento de milhões de pais e mães de família não empurrem essas pessoas para o desespero decorrente da fome, falta de perspectivas e de esperança.


Justiça social, assistência social, promoção humana, solidariedade e fraternidade precisam ser traduzidas em ações concretas por parte dos governantes, dos organismos públicos e não apenas através de discursos demagógicos e provocações ideológicas que não enchem a barriga de ninguém e jamais trazem esperança de verdade!
 

 
Lei Nº 8772 DE 23/03/2020 ESTADO DO RIO DE JANEIRO
 
Publicada no DOE (Diário Oficial do Estado) RJ em 23 mar 2020

Autoriza o Governo do Estado do Rio de Janeiro a prover renda mínima emergencial a empreendedores solidários, em casos de emergência ou calamidade, na forma que menciona.

 
O Governador do Estado do Rio de Janeiro

Faço saber que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a prover renda mínima emergencial a empreendedores da economia popular solidária e da cultura, radicados no Estado do Rio de Janeiro, cujos empreendimentos estejam registrados, respectivamente, no Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários e Comércio Justo (CADSOL) e na Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, em casos de emergência ou calamidade oficialmente decretados.

§ 1º Para os efeitos desta Lei, são considerados como empreendimentos de economia popular solidária aqueles definidos nos artigos 5º e 6º da Lei nº 8351 , de 01 de abril de 2019.

§ 2º A renda mínima emergencial de que trata o caput será de 50% (cinquenta por cento) do valor do salário mínimo vigente à época, devendo ser assegurada aos beneficiários, com periodicidade mensal, enquanto perdurarem as consequências do estado de emergência ou calamidade oficialmente decretado.

§ 3º Os empreendedores da cultura, que farão jus ao benefício previsto nesta Lei, são aqueles mapeados pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, nos termos do art. 46 e inciso I, da Lei nº 7.035 , de 07 de julho de 2015.

Art. 2º As despesas decorrentes desta Lei correrão à conta da dotação orçamentária do Fundo Estadual de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais, conforme disposto no inciso VI do artigo 3º da Lei nº 4056 , de 30 de dezembro de 2002.

Art. 3º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei.

Art. 4º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Rio de Janeiro, 23 de março de 2020

WILSON WITZEL
 

Governador
 

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

Quinta, 26 Março 2020 16:03

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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               “De repente, não mais do que de repente”, um mundo doente. Um mundo “malade”. Um mundo “malato”. Um mundo “pocho”. Um mundo “sick”. Um mundo “krank”. Um mundo “Болен” (bolen). Um mundo “病気です”(Byōkidesu)... um mundo “病人” (bìng rén).

               No princípio, em Wuhan, embora invisível, um ser bem vivo fez-se presente. E na terra de meu deus, e também na de Yu Huang Shang-ti, como tudo tem de ter nome, os humanos, mesmo atônitos, batizaram-no de COVID-19.

               Não olvidando a existência de seus virulentos ancestrais, o recém-nascido “19”, que já poderia ser incorporado às demais “Pragas do Egito”, só é novo porque é 19; porque surgiu no ano da graça (ou nem tanta...) de 2019.

               O nascimento desse ser invisível tem servido para muitas coisas, inclusive para desnudar a arrogância dos seres – por excelência – da aparência, que se sentem sempre superiores aos demais víveres do Planeta.

               Chegando até aqui, registro que poucas vezes tive tanta dificuldade de escrever um texto. Motivo: nunca tive tanto tempo para apreciar uma avalanche de criatividade em torno de um tema (o COVID-19) e de um momento específico (a quarentena). Muitas vezes, rio; em outras, me emociono.

               Dito isto, longe de pretender ser inédito, resgato a música “O mundo”, de André Abujamra, que até o momento, pelo menos em meu celular, ainda não chegou como algo que pudesse servir a reflexões.

               “O mundo” coube no álbum “Vagabundo”, gravado em 2004 por Ney Matogrosso e Pedro Luís e A Parede. Desde que o conheci, tive a certeza de que se tratava de um daqueles textos que sabem dialogar com o seu tempo: um tempo difícil de ser compreendido e vivido.

               A você, leitor, “O mundo”:

               “O mundo é pequeno pra caramba/ Tem alemão, italiano, italiana/ O mundo filé milanesa/ Tem coreano, japonês, japonesa// O mundo é uma salada russa/ Tem nego da Pérsia/ Tem nego da Prússia// O mundo é uma esfiha de carne/ Tem nego do Zâmbia,/ Tem nego do Zaire/ O mundo é azul lá de cima// O mundo é vermelho na China/ O mundo tá muito gripado/ O açúcar é doce/ O sal é salgado// O mundo caquinho de vidro// Tá cego do olho/, tá surdo do ouvido// O mundo tá muito doente/ O homem que mata/ O homem que mente// Por que você me trata mal

se eu te trato bem?/ Por que você me faz o mal

se eu só te faço o bem?// O mundo é pequeno pra caramba.../ Todos somos filhos de deus/ Só não falamos a mesma língua”.

               Deste poema-musicado, destaco, primeiro, o acaso da junção poética de dois versos: “O mundo é vermelho na China/ O mundo tá muito gripado”.

               Paradoxalmente, que (in)feliz coincidência! Em termos poéticos, essa construção é um daqueles achados estonteantes.

               Por fim, depois da certeza de que “o mundo tá muito doente”, destaco a obviedade de que “O mundo é pequeno pra caramba”. Por isso, a debacle poderá ser tão generalizada quanto abrangente. Se for, pior do que a ação do COVID-19 poderá ser algo próximo do que canta Paulinho da Viola, em “Pecado capital”: “...quando o jeito é se virar// Cada um trata de si// Irmão desconhece irmão...”

               PS.: Depois do pronunciamento do presidente Bolsonaro (24/03), registro que ele já iniciou a sentença da música “Pecado Capital”: ignorou o valor da vida humana em prol da saúde, mas da saúde econômica do país, pois, já pensando em reeleição, e com medo de sua popularidade despencar ainda mais, incitou o povo a não respeitar o isolamento social.

               A partir dessa postura, que opta pela ignorância em vez da ciência, uma frase que li em um cartaz – “O Brasil não elegeu um mito; elegeu uma lenda: a mula sem cabeça” – parece ganhar muito sentido.

 

Quarta, 25 Março 2020 13:51

 

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Por Roberto de Barros Freire*


  

A fala presidencial desse 24/03/2020 foi histórica. Não por bons motivos. Novamente o presidente chama uma cadeia nacional, e sem querer bem direcionar os cidadãos dessa nação ou se juntar a comunidade política e social, no seu esforço e sacrifício para mitigar os males que o vírus, ridicularizado pelo presidente, causa, mas tão somente aparece para expressar sandices de seus achismos, de sua ignorância, de sua burrice e de sua estupidez. É preciso que se diga, esse presidente é estúpido, e não é uma ofensa, é um termo descritivo. Sem empatia com a população que está pagando um alto preço pelo confinamento, destila mentiras e falsidades, e zomba de todos.


Quase infantil, se porta mais como um adolescente arrogante e presunçoso, que precisa ser tirado de cena, pois fica destilando ofensas para todo lado, desafiando a todos, nunca uma pessoa madura que exerce um cargo que exige responsabilidade, ser magnânimo, ter maturidade e visão alargada. Inseguro, vê em tudo ameaça ao seu governo, ou desafio a sua autoridade ou poder, que na realidade não tem. Tem apenas a força do Estado que usa com violência, visto ser um bruto. Apenas debocha de todos nós, a grande maioria que não votou nele.


Todos nós estamos empenhados em tentar impedir que o sistema de saúde entre em colapso. Cada um de nós está dando sua cota de sacrifício, deixando liberdades elementares, como o direito de ir e vir, para em conjunto com todos demais cumprirmos regras elementares, que a ciência e a matemática em particular mostram que se descuidarmos as coisas podem escapar do controle e muitos morrerão, e a suposta crise econômica que sofreremos por praticarmos contenções sanitárias será infinitamente inferior ao caos econômico que ocorrerá com multidões de doentes morrendo por todo lado, como na Itália, que deixaram o vírus correr solto no começo. A falta de visão do presidente não percebe que as perdas econômicas serão infinitamente maiores se deixarmos a doença progredir. E, diga-se de passagem, a economia é a única coisa que preocupa o Bolsonaro.


Contra todos nós, a imensa maioria da população sã, que sabe o preço e já está pagando essa conta de ter que ficar em casa, sem poder trabalhar e muitas vezes sem ter renda alguma, de estar recluso cuidando de si e de muitos outros, em particular crianças e idosos, vem o desaforado e fala que tudo que fazemos é bobagem, que ele é o único ser certo nesse mundo, que pela primeira vez interrompe uma olimpíada, como se fosse apenas um alarmismo da imprensa? E as ciências, e todos os cientistas do mundo, e todos os demais estadistas, com exceção do Mexicano, outro desvairado, aloprado como Bolsonaro, estão loucos? Até Trump se rendeu as evidências da ciência. O presidente está zombando de todos nós, nos chamando de idiotas, nos ofendendo. Ora, se não quer ajudar, tudo bem, mas atrapalhar o esforço nacional é algo insuportável. É imoral. É inconstitucional. Ele ir contra as próprias diretivas do ministério de saúde é um absurdo total, é um desperdício de energia, dinheiro, racionalidade. O ministro, se tivesse dignidade, pediria renúncia.


O fato é que cada vez mais se mostra que tem menos a apresentar, que não sabe se portar diante dos desafios que deve enfrentar um governante, que não tem noção dos problemas reais que temos que ultrapassar para passar essa fase da existência, que não está altura do cargo que ocupa, está apenas preocupado com sua popularidade, e quer encontrar algum culpado para o crescimento pífio que teremos em termos econômicos. Um governo precisa apresentar algum resultado, pois as críticas aos governos passados culpando por tudo que acontece, acaba revelando que o governo não sabe o que fazer para mudar essa herança depois de algum tempo. Esse tempo já chegou. Já se passou mais de um ano desde a posse. Não queremos mais críticas ao passado, mas propostas para construir um futuro melhor. Não queremos ouvir o que os governos passados não fizeram, mas o que esse governo fará!


O que está posto claramente é que o presidente é empecilho ao desenvolvimento, e se algum progresso houver, será apesar do presidente, e não através de suas políticas.


Um presidente imaturo, incapaz de perceber a gravidade do momento, incapaz de liderar a nação, incapaz de ultrapassar seu umbigo, incapaz de empatia, cercado de aduladores não pode perceber o momento político, e que é preciso unir os homens e não jogá-los uns contra os outros como é tão ao gosto do presidente, que quer antes destruir opositores e não busca uma convivência. Não quer o diálogo, mas o monólogo. Quer tão somente a submissão de todos aos seus arroubos de poder, não a crítica construtiva; cerca-se de aduladores, mas não tem com quem se aconselhar.


A classe política tem o dever de livrar a nação desse indivíduo que joga contra a população, que pensa mais em si do que no país. Eles foram eleitos para fiscalizar o governante, e caso ele não se mostre à altura da sua função, deve destitui-lo. Pior do que está com certeza não ficará.


 

*Roberto de Barros Freire

Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Segunda, 23 Março 2020 19:03

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Muita gente tenta descobrir as origens do coronavírus e como o mesmo se transformou em uma pandemia, quando a epidemia atinge centenas de países em todos os continentes, como já há algumas semanas foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Alguns tentam identificar suas origens em dimensões transcendentais, como o Bispo Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que disse que tudo isto é obra do diabo, de satanás; outros usam a teoria da conspiração e dizem que a origem é militar e geopolítica e está associada à produção de armas biológicas, que todas as potências militares possuem e continuam fabricando e citam até o evento dos jogos militares mundiais que foram realizados há pouco tempo (2019) na mesma cidade (Wuhan) na China, local considerado o epicentro desta pandemia que está estrangulando a economia mundial e provocando um verdadeiro pânico ou cataclisma entre as pessoas e governantes.

Outros também tentam ligar o surgimento deste novo vírus, como ocorreu com o EBOLA, com a destruição das florestas e a migração de animais silvestres para as áreas urbanas e também certos vírus que antes estavam presentes apenas nesses animais e com esta nova convivência acaba infectando seres humanos.

Existem pessoas que associam o surgimento do coronavírus à hábitos alimentares, principalmente com o consumo de carnes de animais silvestres, hábitos muito presentes na China e diversos outros países asiáticos, africanos e de outros continentes.

E, finalmente, muitos com inspiração na Bíblia, no Apocalipse, não titubeiam em dizer que tudo isto está escrito através das visões de São João, na Ilha de Patmos sobre o que passou a ser denominado de fim do mundo ou fim dos tempos. Por isso, o livro de Apocalipse está quase sempre associado a pragas, ruina e destruição.

O certo, todavia, é que ninguém sabe de fato a verdade sobre as origens do coronavírus e todos correm contra o tempo para descobrir alguma vacina ou medicação para dominar definitivamente esta pandemia.

Apesar da onda do CORONAVIRUS que está, quer queiramos ou não, aterrorizando e levando o pânico ao redor  do mundo, parecendo que nada mais existe do que esta pandemia que tem ceifado preciosas vidas ao redor do planeta, não podemos deixar que o pânico e nem a manipulação das massas pelos governantes, muitos de índole altamente totalitária e também quase que um terrorismo virtual promovido pelos meios de comunicação, não podemos esquecer que o CORONAVIRUS, como todas as ondas, vai passar ou até mesmo nem ter esta dimensão aterradora que em alguns países.

De repente o coronavírus virou o epicentro da politica, da economia, das igrejas e religiões, dos hábitos das pessoas com amplitude mundial e suas consequências já estão sendo sentidas e serão, com certeza, ante este pânico e o que virá após a crise passar, muito piores do que imaginamos. Ai podemos incluir aumento do desemprego, recessão mundial, aumento dos índices de pobreza, miséria e fome.

Todavia, devemos parar e refletir mais profundamente e nos indagar, quem está perdendo e quem esta ganhando com esta onda de pandemia? Quais os países que sairão destruídos e quais sairão fortalecidos ao final desta onda terrível?

Se a gente aproveitar este tempo de reclusão, de isolamento social, como dizem nossas autoridades, enfim, de prisão domiciliar, para ler, buscar um aprofundamento em outros temas, ouvirmos palestras através de vídeos disponíveis na internet, com certeza vamos perceber que o mundo continua girando, a realidade que nos cerca não passou por transformações profundas só por causa da onda do coronavírus, a história não vai acabar e nem parar.

Por exemplo, a degradação ambiental, mesmo que tenha havido uma certa trégua em decorrência da redução drástica das atividades econômicas no mundo todo, incluindo a poluição na China, nos EUA, na Europa , no Brasil, enfim, no mundo todo, isto não significa que conseguimos frear o desmatamento, a poluição, as emissões de gases de efeito estufa, do aquecimento global e das mudanças climáticas.

De forma semelhante, mesmo que nossa atenção esteja voltada, no mundo inteiro e, claro no Brasil em particular, para o avanço dos casos e das mortes pelo coronavírus, isto não significa que a probabilidade de desastres decorrentes de chuvas torrenciais tenham desaparecido, pelo contrário, como no Brasil onde mais de 60 milhões de pessoas residem em encostas de morros, favelas e habitações sub-humanas, sujeitos a tais catástrofes, como aconteceu recentemente na Baixada Santista, em Minas Gerais, no Espirito Santo, no Rio de Janeiro, estarão `a mercê de alagamentos e deslizamentos de morros.

A violência em geral, em todos os países, talvez pela reclusão das pessoas, possa estar se arrefecendo por uns tempos e assim todas as demais mazelas, mas isto apenas temporariamente.

Todavia, e isto é o que eu penso com meus botões, passada a onda do coronavírus o mundo voltará ao  seu “normal”, com a mesma realidade cruel, talvez até mais cruel ainda, principalmente nos aspectos sociais, econômicos e políticos, inclusive com um aumento do autoritarismo por parte de diferentes governos.

Abrindo apenas um parênteses nesta reflexão, sabemos que o contágio pelo coronavírus é rápido e de amplitude enorme, mas, mesmo ante este alarmismo todo, precisamos colocar esta pandemia no contexto dos indicadores demográficos e de saúde, incluindo taxas de mortalidade decorrentes de outras doenças.

Parece que no fundo, o que apavora as pessoas é o medo de ficarem doentes e também o medo da morte. Quem estuda um pouco o tema da demografia sabe que existem taxas que indicam nascimentos, crescimento ou declínio da população, mobilidade e também as taxas de mortalidade.

Precisamos nos convencer de que o coronavírus não é a primeira e nem  será a última grande epidemia/pandemia mundial. Para os adeptos do “apocalipse” outras piores ainda virão. Apenas para relembrar vamos citar algumas dessas grandes epidemias que dizimaram milhões de pessoas ao redor do mundo ao longo da história.

A PESTE NEGRA, entre 1.333 até 1.351 varreu parte da Europa e da Ásia e matou mais de 50 milhões de pessoas; a CÓLERA entre 1817 e 1824, matou centenas de milhões de pessoas; a TUBERCULOSE, que ainda hoje está presente em vários países, inclusive no Brasil, é responsável por mais de UM BILHÃO de mortes; a VARÍOLA/BEXIGA, entre 1896 e 1980 foi responsável por mais de 300 milhões de mortes; a GRIPE ESPANHOLA entre 1918 e 1922, logo após o término da primeira grande Guerra, dizimou 20 milhões de pessoas; o TIFO entre 1918 e 1922 foi responsável por mais de 3 milhões de mortes na Rússia e na Europa Oriental; a FEBRE AMARELA só na Etiópia, entre 1960 e 1962 foi responsável por 30 mil mortes; o SARAMPO, que está ressurgindo no Brasil, até 1963 foi responsável por 6 milhões de mortes no mundo; a MALÁRIA, ainda presente em diversos países, inclusive no Brasil mata a cada ano nada menos do que 3 milhões de pessoas, sem falar nos diversos tipos de câncer que ainda mata todos os anos 7,6 milhões de pessoas, com o destaque de que, por falta de cuidados e deficiências nas estruturas de saúde pública ao redor do mundo, nada menos do que 1,5 milhões de mortes poderiam ser perfeitamente evitadas.

Além disso cabe ressaltar que a gripe/influenza mata a cada ano em torno de 650 mil pessoas, apesar de que desde 1938, há quase um século, já existe vacina contra a mesma.

A pneumonia que também é uma doença respiratória grave foi responsável por 2,56 milhões de mortes em 2019, apesar de que, como a gripe, desde 1977 já existe vacina disponível nos diversos países.

Portanto, o coronavírus, pelo menos até o momento  e diante das projeções, além dos cuidados que a população está tendo com certeza não terá um poder de destruição tão catastrófico como tantas outras pandemias e doenças que ainda continuam matando milhões de pessoas a cada ano, ao redor do mundo.

Historicamente as taxas de mortalidade tem se transformado de forma quase que radical. As causas de morte tem mudado, antes as principais eram as doenças infecto contagiosas e transmissíveis. Com o desenvolvimento econômico e da ciência e tecnologia, essas cederam lugar às doenças crônicas, degenerativas, enfim, as não comunicáveis. Todos os países, alguns já o fizeram e outros estão realizando e muitos outros ainda não chegarem sequer ao que é denominado de transição demográfica.

Em um primeiro estágio os países apresentam altos índices de natalidade e também altos índices de mortalidade, portanto, baixos índices de crescimento populacional. Em dado momento da história dos países e da humanidade, houve um grande e cada vez mais de forma super rápida, avanço da ciência, da tecnologia e da produção industrial e também nas áreas da medicina e da indústria farmacêutica e da biotecnologia, combatendo significativamente diversas causas de morte, com destaque para as vacinas e os antibióticos.

O Resultado foi uma queda significativa dos índices/taxas de mortalidade em geral, principalmente da mortalidade infantil, um aumento acelerado da longevidade e da expectativa de vida ao nascer, praticamente em todos os países. Isto resultou em um crescimento acelerado da população mundial.

Todavia, praticamente poucas décadas após esta explosão demográfica, quando diversos governantes e grupos sociais começaram a desenterrar as ideias malthusianas, também começaram a ocorrer mudanças no comportamento sexual, a revolução feminina, o surgimento e uso de métodos anticoncepcionais e de controle da natalidade e, ai passou a ocorrer a transição demográfica, ou o chamada “bônus demográfico”, quando tanto os índices de natalidade quanto de mortalidade são reduzidos drasticamente em alguns países e continentes, resultando em baixos índices de crescimento populacional, mas, em termos mundiais, ainda longe de uma estabilização do crescimento populacional, o crescimento zero ou até mesmo o “crescimento” negativo, quando os países passam a ter mais mortes do que nascimento e a população total entra em declínio.

Voltando à questão do coronavírus. Antes de seu surgimento e mesmo durante esta onda e depois que tudo isto for superado, todos os países apresentam índices de mortalidade, alguns ainda elevados e outros menores. De forma semelhante, os índices de mortalidade são diferentes tanto entre países quanto dentro dos países e também em razão das faixas etárias. Essas variáveis determinam o total de mortes que deve ocorrer em cada país anualmente.

Os índices de mortalidade infantil, por exemplo, apesar de uma queda significativa nos últimos 50 anos, ainda são elevados na maioria dos países, principalmente nos países mais pobres, subdesenvolvidos ou de baixa renda, em alguns casos mais do que o dobro de mortes por 1.000 habitantes ou por numero de nascimentos vivos, em relação aos países do primeiro mundo.

Mesmo que todos os países estejam fazendo um grande esforço para reduzir os índices de mortalidade infantil, em 2016, no mundo ocorreram 5,6 milhões de mortes de crianças com menos de cinco anos. E esta triste e cruel realidade não abalou a economia mundial, os fundamentos da economia, as bolsas de valores, o câmbio e nem mobilizou a atenção e as ações de governantes e nem apavorou bilhões de habitantes do planeta terra como atualmente está acontecendo em relação ao coronavírus.

No outro espectro, na faixa da população acima de 60 anos, a taxa/índice de mortalidade é muito alta e essas taxas aumentam significativamente à medida que as pessoas envelhecem, ou seja, os índices de mortalidade na faixa de 60 a 69 anos é praticamente metade das taxas de mortalidade da população entre 80 e 90 e esta  taxa é muitíssimo maior na faixa acima de 90 anos. Razão pela qual, as pessoas à medida que envelhecem tem uma probabilidade maior de morrerem.

Em 2019, em termos mundiais a taxa global de mortalidade foi de 7,6 mortes para cada grupo de 1.000 habitantes, a taxa de mortalidade infantil foi de 28,0 e de pessoas com mais de 65 anos foi de 57,0 e de pessoas acima de 90 anos praticamente dobra.

Em decorrência desses padrões demográficos, todos os países que possuem uma parcela maior de idosos/idosas, acima de 70, 80 ou 90 anos, terão índices maiores de mortalidade não apenas nesta faixa, mas na população em geral, independente da presença de pandemias.

Diversas doenças, principalmente as crônicas, respiratórias ou não e as degenerativas estão muito mais presentes nas faixas acima de 60 anos e, em consequência, mais mortes deverão ocorrer nessas faixas etárias. Este é o caso dos países Europeus, do Japão, da Rússia, EUA e outros mais, onde o contingente de idosos é maior e os índices de mortalidade também são maiores, independente da presença ou ausência de qualquer pandemia ou outras causas de mortes.

No caso do coronavírus o grau de risco e morbidade entre idosos é muito alto, razão pela qual na Itália e em todos os demais países, inclusive no Brasil e Estados Unidos, o número de mortos por esta pandemia entre idosos está assustando/aterrorizado o mundo.

Em 2017, segundo dados da OMS o numero total de mortes foi de 56 milhões de pessoas, nada menos do que 48% , ou seja, 26,88 milhões de mortes foram de pessoas com 70 anos e mais.

Em 2020, volto a enfatizar, independente da onda do coronavírus, no mundo mais de 63 milhões de pessoas irão morrer, sendo que 31,8% ( 17,81 milhões) por doenças cardiovasculares; seguidas de vitimas dos diversos tipos de câncer, de doenças respiratórias e outras mais.

Entre 01 de janeiro deste ano até o dia 20 de março, segundo modelo matemático desenvolvido por diversas instituições, utilizando de dados populacionais da ONU, morreram 13,12 milhões de pessoas no mundo, o que significa uma media de 135.480 mortes por dia. Convenhamos, uma realidade muitíssimo mais graves do que todas as mortes decorrentes do coronavírus.

No Brasil, o Quadro também não é diferente, em 2019 ocorreram 1,377 milhões de mortes, tendo em vista que o índice de mortalidade geral/total é de 6,5 mortes por 1.000 habitantes. Na China no ano passado ocorreram 10,441 milhões de mortes, antes que o coronavírus tivesse surgido naquele país.

Na Índia foram 9,926 milhões de morte em 2019; nos EUA 2,909 milhões; na Nigéria 2,441 milhões, na Rússia 1,848 milhões e na Itália que está sendo sacudida pela onda do CORONAVIRUS, em 2019 ocorreram 642,2 mil mortes.

No Brasil, as autoridades e a população estão entrando em pânico, por que já temos 1021 casos de casos da pandemia e 18 mortes em três estados, além de 18 integrantes da Comitiva do Presidente da República que foi aos Estados Unidos, estão infectados pelo coronavírus.

Todavia, segundo este modelo matemático, do inicio de janeiro até 20 de março no Brasil deste ano, já morreram  284.529 pessoas em decorrência das mais variadas causas, que são praticamente as mesmas há mais de 10 anos, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias (gripe, pneumonia, tuberculose, asma etc.); diversos tipos de câncer, incluindo câncer do pulmão, acidentes de trânsito, assassinatos, doenças crônicas degenerativas, diabetes, suicídio, poluição, fome e outras mais.

A cada dia morrem no Brasil em torno de 3.738 pessoas, independente do coronavírus e esta realidade não vai ser alterada radicalmente após o término da onda desta pandemia. Nosso Sistema de saúde pública (SUS) vai continuar sucateado, a pobreza, a miséria, a fome, o desemprego, o subemprego, a concentração de renda que geram doenças, sofrimento e morte vão continuar presentes e bem visível em nossa sociedade e no cotidiano das camadas excluídas e oprimidas. Porém, nada disso comove nossas autoridades, nem os marajás da República e muito menos o baronato da economia, do agronegócio, enfim, os donos do poder.

Portanto, não podemos ter a visão e a consciência embotadas por esta grave onda, passageira, da pandemia do coronavírus. A única certeza que temos é que outras ondas, piores do que o CORONAVÍRUS, decorrentes da degradação ambiental, das mudanças climáticas, da exclusão social, econômica e da pobreza surgirão e irão aos poucos tornando a vida no planeta cada vez pior, isto sim, pode ser considerado o apocalipse, o fim do mundo para quem morre à mingua e vive em condições indignas de um ser humano.

Por deliberação da ONU 21 de Março, é o DIA DAS FLORESTAS, o DIA internacional contra a discriminação e o Dia Internacional da Síndrome de Down e  neste domingo, 22 de março é o DIA MUNDIAL DA ÁGUA. Que tal a gente dar uma pausa em nossas ansiedades, no pânico que nos rodeia devido a esta pandemia e refletirmos um pouco mais sobre estes três assuntos e colocarmos também o coronavírus em um Quadro mais abrangente de analise?

O tema deste ano para ser refletido no DIA INTERNACIONAL DAS FLORESTAS é a BIODIVERSIDADE, destacando a ênfase que com a destruição das florestas, o desmatamento legal ou ilegal, estão sendo destruídos o solo, poluídas as águas, matando as cabeceiras, alterando o regime de chuvas no planeta e nas grandes regiões e, também, matando/destruindo uma riquíssima biodiversidade vegetal, aquática e animal.

Já, em relação ao DIA MUNDIAL DA ÁGUA, o tema procura relacionar a conservação da água e as mudanças climáticas e como tudo isto influencia positiva ou negativamente a questão da saúde da população.

A grande ênfase das autoridades sanitárias, mundo afora, é no sentido de que as pessoas precisam lavar as mãos diversas vezes por dia; para que isto seja possível é necessário que haja disponibilidade de água e também que não ocorra desperdício deste precioso liquido.

Como vemos, mesmo em meio a uma pandemia que assusta o mundo todo, não podemos perder de vista que sempre haverá um amanhã, quando esta pandemia será superada e teremos que nos confrontar com os graves desafios econômicos, políticos, sociais e culturais que temos diante de nós.

Não basta a gente concentrar todas as nossas energias para vencermos o coronavírus, é importante também que esta mesma energia e este mesmo empenho das autoridades e instituições públicas e privadas sejam direcionados na construção de um mundo melhor, com justiça e solidariedade, incluindo o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e todas as suas metas.

A Agenda 2030 ainda continua sendo nosso farol, nossa bússola na busca de sociedades mais justas, mais humanas e mais inclusivas, com mais dignidade e bem estar para todos e não apenas para as camadas do andar de cima.

Caro leitor ou leitora, não se esqueça que mesmo que a noite seja muito escura, ao amanhecer haverá um sol brilhando, aquecendo nossas esperanças. Por isso, acredito que mesmo com o coronavírus, o mundo não vai acabar!

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular, aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
 

Sexta, 20 Março 2020 13:54

 

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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Em algum dia de 97, quando, além das atividades acadêmicas, eu participava intensamente da vida sindical, voltando de Brasília, viajei ao lado de um então reitor da UFMT. Ele retornava de um encontro da ANDIFES (Associação Nacional de Dirigentes das Federais); eu, de uma reunião do Sindicato Nacional dos Docentes das Universidades.

Naquele período, sob a presidência de Fernando Henrique, as universidades passavam por maus bocados; por isso, eu disse ao colega reitor que não compreendia o porquê da fragilidade política da ANDIFES, uma vez que ali aglutinavam-se os reitores das federais, todos eleitos.

Na verdade, eu lhe fizera uma provocação, pois os reitores, mesmo sendo eleitos, só eram nomeados diante de uma lista tríplice enviada ao MEC. A lista era a coleira legal a que os reitores estavam presos, e contra a qual eles não se opunham. Ato contínuo, depois de nomeados, com raras exceções, todos deixavam de ser reitores, de fato, e passavam a ser meros gestores governamentais.

A artimanha da lista, criada por FHC e mantida pelos petistas, ainda vigora. Assim, todos os governos subjugaram as federais. Todos, inclusive os petistas, impuseram-nos seus projetos, em geral, populistas, que certamente levariam as universidades ao estrangulamento financeiro. Todavia, até que chegasse Bolsonaro, as coleiras não eram tão perceptíveis. Agora, tudo se escancarou por meio de cruéis cortes orçamentários.

Com isso, as pró-reitorias de planejamentos/administrativas passaram a determinar como o orçamento deveria ser realizado. A própria democracia interna para deliberações acerca da pauta orçamentária está comprometida nas federais.

Com esse enfoque, as pró-reitorias das atividades fins (ensino, pesquisa e extensão) vivem sob humilhações; não conseguem o básico para tapar o sol com a peneira. Para piorar, o governo proibiu novas contratações, de concursados ou de substitutos.

Uma vez rebaixadas a esse patamar, só restariam às universidades a força da ANDIFES e a luta contundente dos sindicatos diretamente envolvidos. Contudo, não consigo ver nem uma coisa, nem outra. Mas posso (e quero) estar errado.

Não vendo isso, que seria positivo no cenário, assisto a cenas lamentáveis. Dias atrás, na UFMT, antes da explosão do coronavirus, houve a demanda da utilização do TU (Teatro Universitário) por parte da Orquestra de Câmara da UFMT (OCAM) e da ADUFMAT (Sindicato dos Professores da UFMT), que pretendia, no dia 31, realizar o ato-show “Nem cálice e nem cale-se”, contra a censura que já vem sendo experimentada no Brasil.

Como os eventos dar-se-iam em março, mês não contemplado por um perverso e mal escrito edital de utilização do TU, depois de muita pressão, a reitoria permitiu que a OCAM fizesse sua apresentação no TU. Todavia, os mesmos peso e medida não foram utilizados para a ADUFMAT, que se prontificava, inclusive, a pagar a diária àquele espaço.

Diante de uma proposta de evento artístico/político, que serviria como aula de cidadania, por meio de despacho gerencial, e não político, como deveria ser, o reitor, ou melhor, o gestor mor da UFMT – pretendendo ser candidato à reeleição e posteriormente ser nomeado por Bolsonaro – indeferiu o uso do TU. Para não demonstrar desdém completo, sugeriu – embora soubesse, de antemão, que seria recusada – a utilização do Centro Cultural, espaço sem estrutura àquela atividade.

Enfim, neste momento em que as federais estão sendo trituradas pelo governo, reitores politicamente fortes seriam bem-vindos. Gestores subjugados são desnecessários.

Sexta, 20 Março 2020 13:51

 

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Por Roberto de Barros Freire*

  

Bolsonaro supõe um apoio popular unânime a seu projeto que não é aferido em pesquisas de opinião. Pressupõe falar em nome de uma maioria inexistente; da grande maioria daqueles que nele votaram, que não é a maioria da população. E entre muitos dos seus eleitores, alguns concordam com algumas coisas, nem com todas, e nem com as maiorias, pois boa parte dos votos bolsonaristas, foram ante PT, mais do que pró Bolsonaro.


Com problemas na saúde pública e impactos no bolso, a população brasileira não vê em Bolsonaro um chefe de Estado à altura do cargo. O governo faz baderna política, inclusive convocando marchas infecciosas contra o Congresso e o Judiciário, pelo golpe militar, querendo chantagear os outros poderes.
Com declarações nas quais busca minimizar os impactos da pandemia e trata como exageradas algumas medidas que estão sendo tomadas no exterior e por governadores de estado no país, mesmo pelo seu ministro da saúde. Afirma sandices como o vírus está superdimensionado, é muito mais fantasia do que realidade, outras gripes mataram mais, as pessoas estão entrando em neurose ou histeria, não é tudo isso que dizem, querem o pior do país, principalmente a imprensa. Mentiras, ofensas, sandices, irresponsabilidade, hipocrisia de Bolsonaro.


O presidente que já carregava um cardápio pesado de problemas antes do coranavirus (por ofensas e mentiras que dissemina), diante da crise sanitária, comprova com nitidez inédita ser um inepto e um estorvo, para o país. Se dúvida ainda restava sobre a incurável incapacidade de Bolsonaro de exercer a função, foi enterrada com a sua aparição diante dos manifestantes, depois de desaconselhar anteriormente.


Num momento parece um adulto compenetrado no problema, em outro é um adolescente (aborrecente) petulante que faz o que quer contra tudo e todos. Que brade que se pegar a doença o problema é dele, mas inconsciente e perigosamente ignorante diante do fato, que ele é um possível transmissor da doença. Não pensa nos outros apenas em si e no seu sucesso medíocre nas redes sociais. Seus 15 minutos de fama vão acabar e será devidamente esquecido como um profundo e nefasto equívoco. O país está ficando cada vez pior, do ponto de vista social, político, econômico e moral. Só cresce o ódio e o ressentimento.


No último domingo, milhões de brasileiros estavam preocupados com as consequências do coronavírus para suas vidas: onde deixar os filhos pequenos e como alimentá-los, agora que as escolas começam a fechar; como proteger os idosos da família; como evitar o contágio no aperto do transporte coletivo; o que vai acontecer com o meu emprego, o meu bico, o meu pequeno negócio ou com a minha empresa quando a economia parar. Como conviver vários indivíduos em espaços reduzidos dos barracos e cortiços.


Mas o atual governante e seus seguidores só têm a oferecer ódio, despreparo e ignorância, combatendo a democracia e a civilidade, querendo derrubar a constituição.


Não temos alguém que seja capaz de orientar as pessoas. Bolsonaro está preocupado com a sua imagem, está preocupado com os seus panelaços, com as suas manifestações, está preocupado em se autodenominar mito. Ele nos faz perder tempo com suas idiotices e mesquinharias.


O país precisa tomar uma posição rapidamente; não podemos deixar mais um presidente que muitos consideram que deveria perder o poder só por insanidade, como Miguel Reale e Merval Pereira se manifestaram nessa semana, desvirtua dos problemas reais para encampar suas lutas tolas e atrasadas. O país está retrocedendo em todos os níveis, econômico, político, cultural, social, moral, ecológico, civilizatório e humano.


Um governante louco e ignorante que nos levará a uma catástrofe social, destruindo as instituições democráticas, atacando a honestidade de todas, como fez recentemente colocando em dúvida a justiça eleitoral. Lança maldades no ar, e espera que os fanáticos criem uma história conspiratória, para não verem o mais elementar; precisamos de um presidente que nos governe, não que nos jogue uns contra os outros.
 

*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Terça, 17 Março 2020 18:28

 

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A pedido do professor Vinicius Machado P. dos Santos, publicamos o texto abaixo, de autoria de José Roberto Torero*
 
 

Eu não sou louco, talkei?

Só porque eu encostei em 272 pessoas na manifestação de domingo e posso ter contaminado todas elas, já estão querendo dizer que eu sou louco.
Mas eu não sou! Não sou! Não sou!
Aquele tal de Miguel Reale, que pediu o impitimam da Dilma, até sugeriu que façam exame em mim. Mas já vou avisando: se vier algum psicólogo com gracinha, eu mordo!
A Janaína Pascoal é que é louca. Já viram aquele vídeo dela girando uma roupa que nem roqueira? Louca de pedra! Tanto que agora tá dizendo que se arrependeu de votar em mim. Pô, vai me dizer que não me conhecia? Eu continuo igualzinho. Ela é que tem dupla personalidade. E dupla personalidade é loucura, talkei?
Querem me tirar da presidência dizendo que eu sou lelé. Até um haitiano me disse isso ontem à noite.
Só que, se eu fosse louco, eu não ia saber que esse negócio de coronavírus foi inventado pela China. Mas eu sei! Pode reparar, Diário, sempre que eles têm problema econômico, criam um vírus e saem ganhando com isso. Foi assim com a febre suína e com a gripe aviária. Tá na cara que eles fazem isso de propósito. Um louco ia pensar isso? Não ia. Eu sou é gênio!
Eu posso parecer louco porque eu sou o Messias, o escolhido, aquele que tem uma missão. E quem não aceita isso não me entende. Mas eu e meus seguidores sabemos que nós somos melhores que o ser humano comum. Pode olhar no Facebook dos meus fãs. São sempre são cheios de selfies. E não é porque nós somos vaidosos. É porque nós somos autoconfiantes e sabemos que somos melhores que o resto. A gente vê o que os outros não conseguem. A escola acaba com a visão natural das pessoas.
Me diz, Diário, se eu fosse louco, eu ia propor o fim da cadeirinha de criança nos carros?
Se eu fosse louco, ia ter ministros como a Damares, o Weintraub e o Ricardo Salles?
Se eu fosse louco, eu ia postar vídeo de caras se mijando?
Se eu fosse louco, ia brigar com meu próprio partido?
Se eu fosse louco, ia ter os filhos que eu tenho?
Se eu fosse louco, ia ter tanto ódio de radar?
Se eu fosse louco, ia ser fã do Ustra?
E me diz, Diário: se eu fosse louco, eu ia ter um guru como o Olavo de Carvalho? Hein? Hein?

*José Roberto Torero é escritor e jornalista. 

 

Fonte: @diariodobolso; https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Humor/Diario-do-Bolso-17-de-marco-de-2020/9/46810

 

Segunda, 16 Março 2020 08:54

 

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Roberto de Barros Freire*

 

O novo coronavírus - Covid-19 – é uma prova concreta que essas coisas de fronteiras e barreiras nacionais são ideias e artefatos arcaicos no mundo atual. O mundo está definitivamente globalizado, não há volta, não há como impedir o trânsito e o tráfego de ideias, bens, pessoas e doenças. O muro que Trump quer construir nada impede ou impedirá, nem pessoas, nem drogas, muito menos doenças de adentrar nos Estados Unidos. Dificulta apenas a vida dos pobres, pois que ricos entram de primeira classe em qualquer país.


Como ninguém vive isolado e o contato humano é inevitável, tudo que se pode fazer é aprender a conviver com as intempéries da vida, algo que se inicia sem culpados e que se tem que agir para não virar ou causar vítimas. O contato humano potencializou a todos, desfrutando as conquistas humanas, luz, máquinas, medicina e muitas outras coisas, mas trouxe e traz também algumas doenças que podem causar muitas perdas humanas.


No final o vírus causará poucas perdas, mas a degustação daqueles que lucram com a desgraça, promoverá perdas bem maiores. No mercado, sempre covarde, fugindo rapidamente de ter que arcar com os custos do convívio, e ainda querendo lucrar com eles, liquefaz o patrimônio de muitos, para se salvar da doença. Todos querendo ter dinheiro na mão, ao fim, ele pouco valerá, pois de que adianta o dinheiro num carro no meio da enchente? Quanto vale o ouro no meio de um deserto seco e sem água? E de que vale ter estudado em colégios caros e saber a fórmula da água sendo arrastado pelas águas turbulentas de um rio?


O fato é que temos de nos adequar mutuamente, aceitar nossas diferenças, aprender a extrair o melhor da convivência e a evitar o pior do contato, ofensas e violência, e algumas doenças. Também o ódio deve ser evitado e combatido. Nosso destino é coletivo e não há salvamento individual, ainda que possa haver prejuízo para todos, coletivos, globais.


Naturalmente, ainda que haja problemas e dificuldades, devemos continuar a traçar nosso destino e buscar o melhor para si, sem prejudicar os demais. Não ter nem manter inimigos. A vida comum é algo que nos envolve e potencializa a todos, e o seu futuro próspero depende de nossas ações atuais. Plantamos e colhemos o semeado. Escolher a semente certa, preparar adequadamente o solo onde se enraizará a planta, e depois desfrutar com os demais sua sombra e sua fruta, é algo que fomos conquistando desde a pré-história. Ao invés de combater supostos inimigos, conviver com o diferente, aceitando a multiplicidade e sem querer eliminá-la.


O que permite nos dedicarmos a nós mesmos é haver pessoas que estão trabalhando para desfrutarmos o lazer. Depois trabalharemos para que os demais possam também desfrutar um ócio merecido, pois todos precisamos de um tempo para nos dedicarmos ao nosso aperfeiçoamento e um tempo para nos dedicarmos ao bem de todos. É algo que advém de nosso esforço para o benefício mútuo.


Das crises pode-se retirar lições ou ressentimentos. Ressentidos são aqueles que não percebem que não há culpados para além de nossas escolhas para a nossa situação. E só se tira lições quando se adquire a sabedoria de perceber que os erros ao menos ensinam o que evitar.


Doenças novas assustam a todos. De uma forma geral, as pessoas temem novidades. Quase tudo que se lança no mundo, num primeiro momento assusta, depois se entende e logo depois já não se pode viver sem. Essa nova doença em breve terá uma vacina, novos remédios, novos protocolos de atendimento médico e sanitário. É com essas pragas que aprendemos higiene; é com esse vírus que descobrimos novos medicamentos.


Não é bom que essas coisas aconteçam, mas uma vez que é inevitável e sempre estaremos suscetíveis a novas patologias, devemos tentar entender e estudar formas de evitar e mitigar os males. A história mostra que não devemos nos desesperar, pois sempre se acha a cura. O importante é ficar atento e tentar evitar a desinformação, daqueles que gostam de lançar a cizânia e mentiras para confundir o público. Nosso maior problema hoje não são as notícias falsas, mas sim as mentirosas. A falsa vem da ignorância, mas a mentira vem da má fé.


 
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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