Quinta, 14 Maio 2015 17:18

LIÇÕES DA PM/PR

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

O artigo de hoje é dedicado a quem têm dito que só contesto ações do governo petista, sempre perverso contra os trabalhadores; que tenho poupado de críticas os partidos de oposição.

Antes de tudo, um registro: não vejo oposição político-ideológica no quadro dos partidos brasileiros do momento. Com pontualidades expressadas pelo PSOL, os demais partidos com representação no Congresso Nacional são farinhas do mesmo saco; todos compactuam com o programa neoliberal.

Isso posto, vamos ao cerne: as lastimáveis lições que a PM do Paraná – sob tutela do governador Beto Richa/PSDB – expôs a todos no último dia 29 de abril.

Mas antes de comentar o significado pontual desse ocorrido, uma lembrança de âmbito geral: os governantes do PSDB, com exceções, também são famosos por não respeitarem a educação; logo, por desrespeitarem, de forma direta, os professores e os estudantes de nosso país, e de forma indireta, a sociedade em geral.

Exemplifico a afirmação, registrando que pelo menos mais três estados governados pelo PSDB estão vendo os professores em greve há mais de meses: Goiás e São Paulo. A truculência das PMs nesses locais, a mando dos governadores, também já nos é conhecida.

Todavia, nada superou, em termos de força policial, o que ocorreu no Paraná. As imagens chocaram nosso país, pois tudo aquilo parecia uma cena de guerra. Por si, elas já disseram bem mais do que qualquer conjunto de palavras ainda possa acrescentar.

Contudo, implicitamente, as imagens “ensinaram”, principalmente aos jovens, lições lastimáveis, se olharmos para a dinâmica do futuro. Dentre elas, que ser professor no Brasil é optar por mais uma profissão de altíssimo risco.

E esse ensinamento não é pouca coisa. Até o dia 29 de abril, o alto risco ficava por conta da violência urbana, liderada, principalmente, por ações de narcotraficantes nas imediações das escolas. É raro a semana que não vemos episódio de violência em alguma unidade escolar brasileira, colocando professores e estudantes sob condição de risco de morte.

Somando a isso e, agora, a truculência policial contra professores em legítimas greves, temos outras ações de violência, mas no campo do simbólico, contra a categoria docente. Do conjunto dessas outras ações, destaco a judicialização presente no cotidiano. Qualquer ação de um professor que venha desagradar um estudante ou a família de um estudante pode se transformar em um processo judicial.

Nesse sentido, ficou emblemático o apelo aos tribunais de um aluno que teve o celular tomado por seu professor.

Para aquele caso, e para a felicidade do colega e da própria educação nacional, o juiz de Direito Eliezer Siqueira de Sousa Junior, da 1ª vara Cível e Criminal de Tobias Barreto/SE, julgou improcedente a ação do aluno.

De qualquer forma, em casos tais, a violência simbólica já estava concretizada, pois o desgaste emocional de um professor para enfrentar tribunais da justiça já se consolidara. No caso pontuado, houve apenas uma reparação de dano.

Enfim, para além do quadro da degradação salarial, do excesso de trabalho de todos os profissionais dessa categoria, da falta de condições materiais na maioria dos espaços da educação formal do país, da judiciliazação da relação professor-aluno, da violência urbana, soma-se agora questão da violência policial contra professores em greve.

Diante desse quadro, fica cada vez mais difícil convencer um jovem a optar por ser professor, uma profissão tão digna quanto indispensável. Fica mais difícil acreditar numa “pátria educadora”.

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