Sexta, 21 Fevereiro 2020 09:56

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Leonardo Santos

Prof. do Dpto. de Serviço Social da UFMT

Militante da Corrente Sindical Unidade Classista

 

A corrente econômica e filosófica conhecida como Liberalismo nasce junto com as revoluções burguesas e junto com essa classe passa de revolucionária à classe dominante, desde então - em diferentes momentos históricos e países do globo - o liberalismo alia-se com o conservadorismo na defesa do status quo. Pense-se nos teóricos e políticos liberais clássicos que coadunavam com a escravidão; os que se aliaram com a Santa Aliança contra os movimentos operários no século XIX; os liberais oriundos de estratos de classes oligarcas coloniais que formaram a nascente burguesia brasileira; os que no início do século XX saudaram o fascismo contra a ameaça comunista na Europa; os que compuseram a pasta econômica do governo ditatorial de Pinochet no Chile;  os que nos anos 1970 formaram uma longa parceria com o Partido Republicano e os fundamentalistas religiosos nos EUA, etc.

Atualmente, o contexto de crises vivido no Brasil coloca o país na linha das classes dominantes e do imperialismo internacional de promover um novo momento de neoliberalismo acirrado, um “ultraliberalismo”, que não só atuará contra gastos sociais e espaços democráticos, mas não aceitará sequer a existência desses, mesmo que fragilizados e extremamente limitados. Há dois objetivos centrais nessa investida “ultraliberal”, quais sejam: radicalizar o ideário de “Estado mínimo” e operacionalizar um ataque à espaços de participação democrática e popular. (SANTOS, 2018)

A escalada da extrema-direita cumpre uma função importante no projeto “ultraliberal”, já que possibilita um ataque direto a democracia, não só no Brasil, já que tem sido um movimento mundial. Assim, o apoio das elites à extrema-direita aliada a grupos militantes “ultraliberais”, significa que, para a classe dominante brasileira, a saída para a crise só pode se dar fortalecendo ainda mais o capitalismo imperialista com hegemonia do capital financeiro, aderindo à já crescente onda de desindustrialização nacional e apoiando-se no mercado de commodities e na exploração acirrada da força de trabalho dos brasileiros para manter as taxas de lucros de seus negócios a partir do subdesenvolvimento e da dependência (FERNANDES, 2005).

É importante que se diga que a unidade - entre esses grupos “ultraliberais” e o reacionarismo com características fascistas de Bolsonaro - é possível pois não há antagonismo entre eles, visto que para os “ultraliberais” as pautas de liberdade (mesmo que individuais) podem ser facilmente abandonadas por necessidades táticas da conjuntura. Já para os conservadores e fascistas é plenamente viável, e muitas vezes desejável, uma linha econômica aos moldes defendidos pelos Escola Austríaca de Economia. “Cabe notar,[...] que os partidos de ultradireita na Europa hoje advogam políticas pró-mercado [...], isto é, advogam, ‘Mais Mises’.” (AUGUSTO, 2014, p. 420-421).

Esse antidemocratismo atualmente se apresenta em um projeto de relativizar as formas de organização do famigerado Estado Democrático de Direito para melhor cumprir as necessidades de uma sociedade onde o mercado é sacralizado. Além disso, o antidemocratismo serve como ferramenta para a implementação de contrarreformas que visam intensificar as características do Estado neoliberal.       

A radicalidade das contrarreformas e a capacidade de mobilização desses grupos de extrema-direita é o que possibilitou, de fato, o apoio das classes dominantes brasileiras. Estas, apesar de sempre terem os mantido como aliados e os financiando, até a atual conjuntura nunca os havia alçado a espaços de maior destaque na política. Atualmente o Movimento Brasil Livre – MBL, por exemplo, já tem vereadores e deputados em vários Estados e foi base de apoio importante da candidatura à presidência de Bolsonaro. Não conseguiram lançar um “ultraliberal”, mas se satisfizeram com Paulo Guedes como braço direito do Presidente.

Essa unificação da extrema-direita ganhou espaço na sociedade brasileira apresentando respostas à crise do PT como gestor do Estado. Essa militância “ultraliberal” não nasceu da atual crise, mas foi nela que encontrou o caminho necessário para crescer e aparecer. É com essa flexibilidade de princípios e focando nas pautas que agradam as elites econômicas que a extrema-direita emergiu e foi um dos grupos centrais para a inauguração do novo ciclo da direita brasileira. Não vai ser na direita que encontraremos o contraponto necessário, seja ao crescente fascismo, seja ao ultraliberalismo.

 

REFERÊNCIAS

 

 

AUGUSTO, André Guimarães. O que está em jogo no “Mais Mises, Menos Marx”. Revista Marx e o Marxismo, v.2, n.3, ago/dez 2014. Não paginado. Disponível em: <http://bit.ly/1VQdFnv>. Acesso em: 13 fev. 2017.

 

FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 5 ed. São Paulo: Globo, 2005.

 

SANTOS, L. M. dos. Ludwig Von Mises como arma política da extrema direita brasileira; 2018; Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Quinta, 20 Fevereiro 2020 12:35

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Em antigos carnavais, podíamos fazer o que quiséssemos, até mesmo ficar “à toa na vida”, vendo “a banda passar”. Em tempos tais, sempre procurei algo dessa festa para escrever meus artigos. Este ano a marcha é outra, principalmente para as universidades federais e o universo cultural do país.

Fazendo parte da insana luta ideológica que o governo Bolsonaro empreende contra inimigos reais e imaginários, as federais têm sido constantemente atacadas. Há pouco, soubemos que “agente secreto do governo trabalha disfarçado de vigilante na UnB” (Carta Capital: 13/02/20).

Pois bem. O lead da revista citada – não fosse o registro de sua publicação – poderia ser identificado como uma das ações da ditadura de 64. Mas não! É notícia da hora. A informação veio a público por conta “de investigação no Tribunal de Contas da União sobre um processo seletivo realizado pelo Ministério da Economia em 2019”.

Embora chocante, essa informação não deveria surpreender, menos ainda a quem vivencia o cotidiano das federais. Ainda em 2019, com menos de um ano de governo, as intervenções de Bolsonaro nas eleições de reitores em algumas unidades da federação já deveriam ser suficientes para que soubéssemos do real significado de várias coisas que já estão sendo impostas nos meios acadêmicos, científicos e culturais. Tais espaços/setores são sempre os primeiros a provar o gosto daquela “bebida amarga” de que Chico e Gil referenciam em “Cálice”... ou “cale-se”.

Isso posto, penso que o governo nem precisaria gastar com espiões contratados. Nas universidades, por mais absurdo que possa parecer, há agentes que já fazem esse papel desde janeiro de 2019.

Dito isso, longe de sugerir qualquer ideia de saudosismo do nosso recente passado político, sistematicamente refutado por mim em meus artigos, mas o fato é que defender e/ou contribuir com o bolsonarismo é algo semelhante a tocar o lodo de um chão absolutamente sujo. Não dá.

Não dá para aceitar a homenagem que o presidente – à época, um inexpressivo deputado – fez ao torturador Ustra. Não concordar com o petismo, algo realmente lastimável, não poderia ser suficiente para admitir aquele discurso.

Não dá para não se indignar com Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente, fazendo apologia ao Ato Institucional n. 5, o mais tenebroso da ditadura.

Não dá para não sentir nojo do discurso nazista de Alvim, ex-presidente da Secretaria de Cultura, hoje, ocupada por Regina Duarte, que já fez seu primeiro deboche ao oferecer um “Oscar” àqueles que torciam para que o documentário Democracia em Vertigem recebesse a premiação de Hollywood.

Não dá para não se espantar com a afirmação de Sérgio Camargo, indicado para comandar a Fundação Palmares: “a escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes afro”.

Não dá para não cobrar apuração rigorosa sobre a morte de um ex-miliciano carioca que tinha ligação íntima com a família Bolsonaro e, até onde apontam as investigações, participação no assassinado (também) de Mariele Franco.

Não dá para não se indignar com o discurso sobre os “parasitas”, pronunciado por Paulo Guedes.

Não dá para engolir calado a ingerência do governo na autonomia e, consequentemente, na democracia interna das universidades federais, que poderão ser aniquiladas...

Enfim, a lista do “não dá para” é longa. Mesmo assim, há criaturas de dentro das universidades que se prestam a contribuir com esse conjunto de aberrações. Seria gambá cheirando gambá?

Triste, mas eles existem; e agem! 

Quarta, 19 Fevereiro 2020 09:17

 

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Por Roberto de Barros Freire*

 

Todos os dias assistimos abismados, do presidente aos seus ministros, nossos governantes destilarem ofensas para todos os lados. É ministros ofendendo funcionários públicos ou esculachando com as empregadas domésticas. Outro ofendendo afamados cientistas nacionais, pessoas sem formação na área. Não apenas ofensas, mas difamação, todos os dias mentindo, e buscando antes destruir seus supostos inimigos, do que buscar a convivência com suas diferenças. Se depender do presidente, ele confinaria ambientalistas nas florestas, mataria ladrão, enfim, eliminaria todos os seus adversários, que são muitos.


Cotidianamente a presidência e seus ministros tentam destruir a autoridade de pessoas e instituições, querendo reduzir a ciência a uma reles ideologia, e fazendo ideologia para eliminar as questões científicas e a realidade, negada como se fosse fantasias das mentes ou resultado de um efeito de discurso, e não resultados de estudos e pesquisas.


A Presidência está contaminada da mais profunda ignorância entranhada, do machismo mais abjeto, do espírito de facção trazidos pelo seu ocupante temporário. Há um espírito de milícia nos nossos governantes,e Bolsonaro comporta-se como chefe de bando. Seus jagunços avançam contra a reputação de quem se anteponha à aventura autoritária. Presidentes da Câmara e do Senado, ministros do Supremo Tribunal Federal, governadores de estado, repórteres e organizações da mídia, universidades tornaram-se vítimas constantes de insultos e ameaças. Ninguém está a salvo de suas ofensas, mesmo seus aliados, podem, num repente, caírem em desgraça e serem “exterminados” da convivência.


O presidente Bolsonaro, que já foi condenado por atacar a dignidade sexual de uma parlamentar mulher, incorre em nova difamação e assédio moral e sexual, a declaração absolutamente desrespeitosa e incompatível com a postura de um presidente da República sobre uma repórter da Folha de São Paulo.
É preciso que a sociedade perceba e tome consciência que a imunidade para o exercício da política não foi pensada para que mandatários possam difamar, injuriar e caluniar cidadãos desprovidos de poder, como está ocorrendo. Dignidade, honra e decoro são requisitos legais para a função pública. O presidente que os desrespeita comete crime de responsabilidade.


Não é possível o presidente e seus ministros continuarem numa rota de colisão contra a civilização, o debate racional da realidade, querendo impor sua posição e destruir qualquer outra possibilidade de visão. Não se pode continuar a ter um governante sem educação, raso, rasteiro, bruto, que apenas satisfaz seu eleitorado, enquanto tenta destruir qualquer outra posição política. Fundamentalmente, não podemos continuar a ter vergonha desse governante, que não pode ser levado a sério pelas outras nações, que mais sábias que a nossa, não ri da brutalidade, mas antes repudia alguém que ofende e estigmatiza os demais, seus desafetos.


O mundo mais educado que o brasileiro não ri quando um presidente faz piadas sexistas, racistas, ou comentários sobre as partes íntimas de seus desafetos, envergonha-se. As demais nações simplesmente dariam um impedimento para que ele parasse de governar os homens. Uma pessoa incapaz de governar sua língua, de conter seus comentários, de não perceber que como presidente ele não pode fazer comentários de botecos, não pode governar os homens, além de ser um péssimo exemplo para as crianças e jovens, que aprenderão antes a ser um bruto, do que um homem. A piada sobre o furo da repórter não é inapropriada pra menores de idade? Como deixaram passar nos jornais do horário nobre, com mais audiência? Muito do que o presidente diz é impróprio para qualquer idade.


 
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Segunda, 17 Fevereiro 2020 10:21

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

“AO POVO DE DEUS E A TODAS AS PESSOAS DE BOA VONTADE, A AMAZÔNIA QUERIDA apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério. Deus concedeu-nos a graça de a termos presente de modo especial no Sínodo que se realizou em Roma de 6 a 27 de outubro de 2019, concluindo com o Documento Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral.”

“Sonhos para a Amazônia. A Amazônia é um todo plurinacional interligado, um grande bioma partilhado por nove países: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. Todavia dirijo esta Exortação ao mundo inteiro. Faço-o, por um lado, para ajudar a despertar a estima e solicitude por esta terra, que também é « nossa », convidando-o a admirá-la e reconhecê-la como um mistério sagrado; e, por outro, porque a atenção da Igreja às problemáticas deste território obriga-nos a retomar brevemente algumas questões que não devemos esquecer e que podem servir de inspiração para outras regiões da terra enfrentarem os seus próprios desafios.”

Esses dois parágrafos fazem parte da introdução da Exortação Apostólica do Papa Francisco, uma reflexão sobre o Documento Final do Sínodo dos Bispos para a Pan Amazônica, realizado no final de 2019 e que deverá servir como uma bússola para as ações da Igreja nesta parte da América do Sul, uma realidade multifacetada que abrange nove países, inclusive o Brasil, cujos territórios tem a Amazônia como área em comum e especial.

A cada dia que passa o Papa Francisco deixa a marca de seu pontificado através de seus pronunciamentos, de suas exortações apostólicas e de suas Encíclicas. O chamada “Papa do fim do mundo”, por ser o primeiro chefe da Igreja oriundo da América Latina, onde as injustiças, as desigualdades sociais, a opressão e a exclusão social sempre lhe motivaram posturas inovadoras e corajosas em favor dos pobres e oprimidos.

Com certeza, como tantos outros Papas, deixará suas marcas na história e na caminhada da Igreja, mesmo que alguns setores mais conservadores dentro e fora da Igreja não gostem. Desde o inicio de seu papado Francisco não deixa dúvida quanto ao seu compromisso integral com o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja, quando afirmou e assim tem feito ao longo desses anos, que deseja uma Igreja Pobre, sem opulência, sem subserviência aos donos do poder temporal, mas uma Igreja pobre e voltada para os pobres, uma igreja missionária, em saída, uma igreja fraterna e servidora, solidária com os que sofrem e, em minha opinião, uma Igreja profética, que não se cale e nem se omita ante as injustiças, a violência, as desigualdades, a discriminação, o xenofobismo e os preconceitos.

Em várias de suas manifestações, Francisco tem procurando resgatar não apenas ideias e conceitos, mas o espirito do Concílio Vaticano II e todas as mudanças que o mesmo proporcionou `a caminhada da Igreja neste pouco mais de meio século de sua história.

Em 1959 o Papa João XXIII deixa claro que pretendia convocar um Concílio e no Natal de 1961, através bula papal Humanae salutis formaliza sua convocação. Foram anos de intensos debates dentro e fora da Igreja, sendo finalmente encerrado em 08/12/1965, bem após a morte de João XXIII ocorrida em 03/06/1963, já no Papado de Paulo VI, hoje São Paulo VI, eleito Papa em 21/06/1963.

Como afirmam artigos, alguns mais antigos e outros mais recentes veiculados no site  https://www.a12.com “O pontificado de João XXIII foi breve, mas intenso. Ele teve a coragem de convocar o Concílio Vaticano II, colocando a Igreja no coração do povo. Depois, as teses reformistas do Concílio foram aprofundadas por seu sucessor, Paulo VI.

O Concílio foi tão revolucionário que até hoje precisa ser compreendido. O Papa Francisco diz que as reformas do Concílio ainda não foram totalmente assimiladas. Já Bento XVI afirma que existe um concílio virtual, que ficou famoso na mídia, e o concílio real, que ainda precisa ser aplicado”.

Pouco lido, mesmo entre católicos e muito criticado por setores conservadores da Igreja, o Concílio Vaticano II foi convocado e concluído, sob as lideranças e orientações de dois papas que acabaram sendo canonizados, São João XXIII e São Paulo VI por suas ações e trabalho de evangelização e, inclusive, na influência que exerceram ao longo dos trabalhos do Concílio.

Uma das grandes controvérsias que até a atualidade ainda existe em relação ao Concílio Vaticano II, diz respeito `a Teologia da Libertação, que, segundo muitos teólogos e estudiosos da doutrina católica e da doutrina social da Igreja, reflete a forma de ser Igreja na América Latina.

Em diversos trechos , de forma direta ou indireta, tanto no Documento Final do Sínodo dos Bispos intitulado “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para a Ecologia Integral” quanto na Exortação Apostólica do Papa Francisco “Minha Querida Amazônia”, vemos diversas referências ao Concílio Vaticano II, aos documentos de Medelín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida e, também, sobre a Encíclica LAUDADO SI, a chamada Encíclica Verde.

Isto, em minha opinião, demonstra a continuidade que deve existir na caminhada da Igreja, principalmente na América Latina e, em particular, na Amazônia, onde cada Papa, ao longo de décadas ou até mesmo séculos, tem exortado para que a Igreja não esteja, nunca, de costas para os pobres e excluídos e abraçada com os poderosos e também reforçando a ideia e o princípio bíblico e evangélico de que “Do Senhor é a terra e toda a sua plenitude”, ou seja, temos, como cristãos uma responsabilidade muito maior em preservar e não destruir e degradar o meio ambiente, que também é uma obra criada por Deus. Isto é o que consta do cerne do conceito e paradigma de que tanto fala Francisco, a ECOLOGIA INTEGRA e também o conceito de pecado ecológico e conversão ecológica.

Pois bem, é neste contexto da caminhada da Igreja, principalmente na Amazônia, que devemos ler, interpretar tanto o documento final do Sínodo dos Bispos para a Pan Amazônia quanto a Exortação Apostólica “Minha Querida Amazônia” e nos guiar, como Igreja em um território tão vasto, tão enigmático, tão rico e que desperta tantos debates, incompreensões e diferentes visões de mundo.

Por diversas vezes o Papa Francisco afirma claramente que deseja uma Igreja com a cara dos pobres e dos oprimidos; com a cara indígena, com a cara amazônica e, para tanto esta Igreja precisa ter uma abertura ecumênica, trans ou intercultural, identificada com os habitantes do território Amazônico, ouvir os gemidos dos que sofrem e estar ao lado dos mesmos quando de suas lutas por terra, trabalho, teto, dignidade e justiça. Uma Igreja missionária, em saída, evangelizadora, servidora e profética.

Para entender bem as mensagens de Francisco é preciso, às vezes voltar um pouco no tempo e refletir sobre  o significado de todas as mensagens do mesmo, os desdobramentos e desafios que ainda hoje a Igreja enfrenta ao redor do mundo e, principalmente na Amazônia, bem como toda a caminhada preparatória do Sínodo, incluindo os trabalhos da REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica, tecendo redes em defesa de nossa Casa Comum, bem como o que e como aconteceu o Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia e suas conclusões, expressas no documento final aprovado e que agora recebe a Exortação Apostólica, intitulado “Minha querida Amazônia”.

Logo no inicio, o PAPA assim se dirige aos fiéis: “3. Ao mesmo tempo, quero apresentar de maneira oficial o citado Documento, que nos oferece as conclusões do Sínodo e no qual colaboraram muitas pessoas que conhecem melhor do que eu e do que a Cúria Romana a problemática da Amazônia, porque vivem lá, por ela sofrem e a amam apaixonadamente. Nesta Exortação, preferi não citar o Documento, convidando a lê-lo integralmente.

Isto significa que Francisco nos estimula a ler o documento final do Sínodo e a refletir sobre o mesmo, quando diz textualmente “4. Deus queira que toda a Igreja se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho, que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis-leigos da Amazônia se empenhem na sua aplicação e que, de alguma forma, possa inspirar todas as pessoas de boa vontade.”

Feitas essas duas recomendações, o Papa Francisco fala de seus sonhos e da esperança quanto ao futuro da Igreja na Amazônia e seu compromisso tanto com a defesa da região quanto de sua população: indígenas, ribeirinhos, pequenos agricultores, migrantes e moradores das cidades, principalmente os que vivem nas periferias sociais, econômicas, politicas e existenciais.

A seguir podemos destacar, resumidamente os doze sonhos de Francisco, contidos em sua Exortação Apostólica: Querida Amazônia:

1. SONHO COM UMA IGREJA QUE ESTEJA AO LADO DOS OPRIMIDOS
2. Que a voz dos pobres seja forte na Amazônia
3. Sonho do poliedro amazônico, sem colonização
4. O sonho de apreciar a sabedoria dos indígenas
5. O sonho do cuidado do meio ambiente e das pessoas (O sonho da ecologia integral)
6. O sonho de escutar o grito do Amazonas
7. O sonho de uma Igreja com rosto amazônico
8. O sonho de que os sacramentos cheguem a todos
9. O sonho de mais missionários na Amazônia
10. O sonho de mais leigos comprometidos com a Amazônia
11. O sonho de mais mulheres protagonistas na Amazônia
12. Que os cristãos defendam os pobres da Amazônia
Para muitos que imaginam que o Papa Francisco esteja rompendo com alguma tradição da Igreja ou de alguns de seus antecessores, o Santo Padre, ao longo de sua Exortação Apostólica, recorre a algumas mensagens, inclusive do Papa Bento XVI quando afirma “Já o meu antecessor, Bento XVI, denunciava « a devastação ambiental da Amazônia e as ameaças à dignidade humana das suas populações ».

Na esteira da Encíclica LAUDATO SI e de sua recente Exortação apostólica e no momento, tanto para a Igreja no Brasil, não apenas as Arquidioceses, Dioceses, Paróquias e Comunidades nos Estados Amazônicos, quanto nos demais países que integram a Pan Amazônia, o Papa apresenta linhas de pensamento e de ação evangelizadora, com ênfase nas pastorais sociais e no espirito de solidariedade e fraternidade que deve existir por parte da Igreja com as populações indígenas e demais que estão em processo de exclusão social, miséria e sem perspectivas ou esperança.

O Documento Final do Sínodo apresenta também a ideia de “criar um Observatório sócio pastoral da Amazônia, fortalecendo a luta em defesa da vida. Realizar um diagnóstico do território e de seus conflitos socioambientais em cada Igreja local e regional, a fim de assumir sua posição, tomar decisões e defender os direitos dos mais vulneráveis. O Observatório trabalhará em parceira com o CELAM, a CLAR, a CARITAS, a REPAM, os Episcopados nacionais, as Igrejas locais, as Universidades Católicas, a CIDH, além de outros atores não eclesiais no continente e representantes dos povos indígenas”.

Não podemos esquecer também o trabalho de outros movimentos e organizações como CIMI, CPT, CEBs e tantos outros que lutam pela defesa dos direitos humanos da população que vive nesta vasta região que é a Amazônia.

Imagino, que outras iniciativas como a organização de PASTORAIS DE ECOLOGIA INTEGRAL, possam contribuir sobremaneira para tornar real as decisões do Sínodo e também os Sonhos de Francisco, contidos em sua Exortação Apostólica.

Ao final de sua Exortação Apostólica, Francisco assim se expressa “Depois de partilhar alguns sonhos, exorto todos a avançar por caminhos concretos que permitam transformar a realidade da Amazónia e libertá-la dos males que a afligem”

Oxalá, a Igreja, não apenas em suas estruturas eclesiásticas, mas com e através do trabalho do laicato, abrasada pelo Espírito Santo e pelos sonhos de Francisco, para que a Amazônia e seus habitantes, principalmente os que jazem, à semelhança do assaltado no caminho de Emaus, e, assim, assemelhar-se cada vez mais ao Bom Samaritano, sem perder suas demais dimensões, inclusive de uma Igreja profética, possa ser um refúgio para reduzir o sofrimento dos pobres e excluídos que habitam a Amazônia.

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

 

Quinta, 13 Fevereiro 2020 17:34

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Para escrever meu artigo desta semana, tive de optar entre duas aberrações: uma veio da Secretaria de Educação de Rondônia, que tentou censurar livros de nossa literatura; a outra, de um discurso de Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro. Optei por esta, mesmo sendo professor de Literatura. 

Dentre os falantes da língua portuguesa, poucos termos podem ser mais ofensivos, quando dirigido a alguém, do que “parasita”, pois nos causa repugnância já a partir de sua denotação.

Biologicamente falando, “parasita” diz respeito ao “organismo que vive de e em outro organismo, dele obtendo alimento e não raro causando-lhe dano”. Em contextos metafóricos, dir-se-á do “indivíduo que vive à custa alheia por pura exploração ou preguiça”.

Pois, creiam! Sem o menor respeito, Guedes, em palestra na Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV EPGE), disse que o funcionário público brasileiro é parasita que está matando o hospedeiro, no caso, o erário. Pior: foi aplaudido; claro, a plateia era narcísica.

Diante de tamanha agressão, fui ao Wikipédia verificar a biografia de Guedes. Do que vi, destaco sua atuação como docente, em tempo integral, na Universidade do Chile (Alguma parasitagem, ali?), quando ela esteve sob intervenção da ditadura militar de Pinochet, um dos maiores assassinos da América Latina; sobre isso, que o diga o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, localizado em Santiago. O Chile tem memória. O Brasil precisa consolidá-la.

Também destaco de sua biografia o seu doutorado em Chicago, onde aprendeu as lições falidas de Economia que os Chicago boys promoveram no Chile. Das lições aprendidas em terras do Tio Sam, Guedes quis nos impor o regime de capitalização na recente reforma da Previdência.

Detalhe: a capitalização que Guedes tentou nos impor ajudou a deteriorar a economia chilena, uma das melhores da América Latina. Também por isso, o Chile foi às ruas ano passado, e de forma violenta: fruto da miséria plantada na ditadura de Pinochet, que, repito, teve auxílio do brasileiro Guedes. Aqueles erros de três décadas passadas estão explodindo agora no território chileno.

Pois bem. Assim que Guedes classificou os servidores públicos brasileiros como parasitas, as reações foram imediatas e contundentes. Há entidades que já disseram que vão questionar o ministro juridicamente. O Ministério Público também deverá ser acionado, pois Guedes, além de promover agressões verbais, disse inverdades.

No mesmo sentido, a Associação Nacional dos Delegados da PF afirma repudiar "a estratégia sistemática de apontar os servidores públicos como culpados dos problemas nacionais, silenciando sobre as causas verdadeiras, bem como a de difundir notícias inverídicas a respeito... Guedes parece nutrir ódio crescente pelos agentes públicos".

Em matéria do Estadão, de 09/02, destaco a que segue: “Representante de diplomatas diz que fala de Guedes sobre servidores é insulto”.

Na verdade, Guedes superou os adjetivos que nós, servidores públicos, já recebemos ao longo do tempo: marajás, preguiçosos, incompetentes, elites, corporativistas, sangues-azuis. Isso sem contar os vagabundos, dirigidos especialmente aos aposentados.

Quanto desrespeito!

Mas a despeito disso tudo, continuaremos a servir nosso país, e não aos governantes de plantão; aliás, excetuando os beija-mãos, o ódio dos agentes bolsonaristas contra o servidor público é não nos ter em suas mãos.

PS.: depois das repercussões, Guedes pediu desculpas, mas isso é pouco diante do tamanho da ofensa.

 

Quarta, 12 Fevereiro 2020 15:23

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Em dezembro de 1983, o Secretário Geral da ONU encarregou Gro Harlem Brundtland de organizar e presidir uma Comissão de Alto Nível para atender ao que havia sido aprovado pela, então, última Assembleia Geral da ONU, para propor “Uma agenda global para a mudança” do mundo.

Dentre as diretrizes daquela decisão podemos inferir os objetivos que iriam nortear, por 900 dias, os trabalhos da Comissão, incluindo: a) propor estratégias ambientais de longo prazo, para obter um desenvolvimento sustentável, por volta do ano 2000, inicio de um novo milênio; b) recomendar medidas para que as, então, já crescentes preocupações com a degradação ambiental, pudessem se traduzir em cooperação entre países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social; c) despertar a consciência da população e dos governantes quanto à gravidade da degradação ambiental e urgência em combate-la de verdade; d) considerar e definir mecanismos mais eficientes e eficazes para lidar com as questões ambientais.

Em outubro de 1984 a Comissão se reuniu pela primeira vez e em abril de 1987 apresentou seu relatório, intitulado “NOSSO FUTURO COMUM”, cujos resultados e propostas representam um marco histórico na luta ambiental ao redor do mundo, antecedendo em cinco anos `a realização da ECO-92, no Rio de Janeiro, quando a questão ambiental aflorou com toda a sua gravidade.

Conforme descrito na apresentação do Relatório, em diversas línguas, “uma das ideias centrais do Nosso Futuro Comum afirma e comprova que um desenvolvimento econômico ideal torna imperiosa a conservação dos meios naturais” (biodiversidade do planeta). Sem mecanismos e medidas que assegurem a conquista deste macro objetivo, a humanidade colocará em risco  a sua própria sobrevivência.

No corpo do citado Relatório foram apresentadas diversas advertências que, passados 33 anos ainda permanecem de uma atualidade gritante, só não vê quem não ou não deseja ver. Dentre tais advertências destacamos a realidade observada e constatada naquela época quando afirma que a cada ano, mais de seis milhões de hectares de terras produtivas se transformam em desertos inúteis.

Neste particular, a ONU acabou de declarar o período de 2021 até 2030 , como a DÉCADA DA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, tendo como objetivos a recuperação de nada menos que 350 milhões de hectares de áreas degradadas ao redor do mundo, inclusive algumas no Brasil e que pode gerar US$ 9 trilhões em serviços ecossistêmicos e remover de 13 a 26 gigatons adicionais de gases do efeito estufa da atmosfera.

Outra forma de degradação ambiental constatada então e que ao longo dessas três décadas aumentou e se tornou mais grave é a questão do desmatamento, principalmente das florestas tropicais, onde a Pan Amazônia já era percebida não apenas como o “pulmão” do mundo, mas o papel que as florestas desempenham no regime de chuvas no mundo todo.

Dizia o relatório, “anualmente são destruídos mais de 11 milhões de hectares de florestas”, atualmente só na Amazônia brasileira entre 1988 e 2019 já foram desmatados 421.904 km2 ou seja, 42,2 milhões de ha.

Se considerarmos o desmatamento na Amazônia sob a soberania dos demais países, podemos afirmar sem sombra de dúvida que o tamanho da área desmata na Pan Amazônia deve ultrapassar de 70 milhões de hectares.

O desmatamento, no caso do Brasil, por exemplo, tem sido feito também no Cerrado, na Caatinga, do Pantanal e na Mata Atlântico, onde a destruição de todos os ecossistemas ocorre em ritmo acelerado, principalmente na região denominada de MATOPIBA – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, outra área onde ocorre a expansão da fronteira agrícola de forma extremamente acelerada, deixando suas pegadas ecológicas.

De forma semelhante, se considerarmos que também em diversos países da África, Oceania e Ásia o desmatamento ocorre de forma acelerada, com certeza estamos diante de uma devastação e desmatamento sem precedentes na história da humanidade.

O desmatamento e as queimadas contribuem sobremaneira para a emissão de gases que provocam o efeito estufa, contribuindo para o aumento das mudanças climáticas, cujos efeitos deletérios já estão sendo sentidos em todos os países, inclusive no Brasil, apesar do ceticismo e omissão de diversos governantes, cuja visão distorcida quanto às ameaças e gravidade da degradação ambiental, revelam o descaso em relação à questão ambiental.

Tais governantes ignoram inclusive diversos alertas emitidos por estudiosos das questões ambientais e por milhares de cientistas que demonstram que o ritmo de degradação ambiental e das mudanças climáticas exigem esforços conjuntos de todos os países, conforme estabelecidos no tratado de Kyoto, na Agenda 21, nos Objetivos para o desenvolvimento sustentável, no Acordo de Paris e em todas as conferências da ONU sobre o clima.

Além da degradação dos solos, da desertificação e do desmatamento acelerado das florestas tropicais, outras aspectos também devem ser encarados com seriedade e urgência.  Dentre esses destacamos: a questão da precariedade do saneamento básico que polui todos os cursos d’água; a produção de resíduos sólidos (lixo) de uma forma crescente, principalmente do lixo plástico; a poluição do ar principalmente pela emissão de gases tóxicos das fábricas, da exploração agropecuária, da frota de veículos movidos a combustível fóssil (petróleo, gás natural), a existência de uma matriz energética suja e altamente poluente, ainda muito dependente de combustíveis fósseis, inclusive o carvão.

Na questão da produção de resíduos sólidos (lixo), com dados alarmantes, cujo incremento é muito superior tanto às taxas de crescimento populacional quanto crescimento urbano e a cada dia coloca em risco a sobrevivência do planeta e a saúde das pessoas e da fauna marinha e da água doce (oceanos, rios, lagos, manguezais, baias).

Por ano morrem no mundo mais de 7 milhões de pessoas com doenças respiratórias, causadas pela poluição do ar, além de milhões por doenças de massa, decorrentes da falta de condições de moradia, sujeitas `as doenças relacionados com esgotos escorrendo a céu aberto e destino inadequado do lixo.

Com exceção de alguns poucos, a grande maioria dos países não atingem sequer 10% quando se trata da reciclagem do lixo gerado. Além disso não podemos deixar de mencionar a questão do desperdício em todos os setores: água, alimentos, energia, construção civil, produção agropecuária, transporte e o impacto econômico e ambiental que este desperdício, em torno de um terço de tudo o que é produzido no mundo, inclusive no Brasil, acaba no lixo. Isto significa o uso predatório de recursos naturais, baixa produtividade econômica e a geração de um passivo ambiental, praticamente impagável, deixando para as futuras gerações um planeta doente, cujos custos de reparação recairão sobre os ombros das gerações que irão nos suceder.

Da mesma forma que estamos pagando na atualidade os custos de um desenvolvimento predatório, imediatista de nossos antepassados que nunca tiveram uma visão de futuro, a nossa geração, principalmente nossos atuais governantes parece que só pensam no lucro imediato e no seu próprio bem estar e acumulação de renda e riqueza.

É por isso que o Papa Francisco estará se reunindo com jovens e estudiosos das questões econômicas, sociais, ambientais, culturais e sociais para discutir o que ele denomina de A NOVA ECONOMIA ou a ECONOMIA DE FRANCISCO.

A principal tônica em suas exortações se alinham no que tem denominado do paradigma da ECOLOGIA INTEGRAL e que este novo Sistema econômico, a Nova Economia, precisa estar embasado/embasada em alguns pilares como: respeito e parcimônia no uso dos recursos naturais; empregabilidade e salários justos, única forma de reduzir a pobreza e a desigualdade social e econômica; um maior equilíbrio entre as nações evitando todas as formas de hegemonia e exploração dos países mais pobres, subdesenvolvidos ou de baixa renda.

Enfim, diante de tantas e claras evidências da degradação ambiental que estão em curso no mundo, não podemos perder tempo em seu enfrentamento, afinal, a crise ambiental exige urgência e comprometimento de todos os países e, internamente em cada país, de todos os segmentos sociais, econômicos, religiosos, políticos e culturais.

Este pode ser considerado o nosso maior desafios na atualidade. Pense, reflita e veja o que você pode fazer para salvar o planeta e melhorar a qualidade de vida em sua localidade, seu município, seu Estado e nosso pais. O desafios é de todos e todas!

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
 

Quarta, 12 Fevereiro 2020 09:03

 

Profa. Dra. Alair Silveira

Depto. Sociologia e Ciência Política – SOCIP/ICHS/UFMT

 

 

          No período de 04 a 08 de Fevereiro/2020, na Capital de São Paulo, foi realizado o 39º Congresso do ANDES/SN. Considerado o maior Congresso dos últimos tempos, a USP recebeu 460 delegados, 178 observadores e 14 convidados, além de 34 diretores do Sindicato. Nesses tempos que mesclam, cotidianamente, crueldades, sobressaltos e absurdos palacianos, reunir tantos docentes dispostos a discutir e deliberar sobre os rumos da categoria é, realmente, um grande alento.

          Convocado sob a insígnia “Por Liberdades Democráticas, Autonomia Universitária e em Defesa da Educação Pública e Gratuita”, o Congresso foi marcado pelo consenso quanto à gravidade da conjuntura, que sob várias categorizações políticas, converge quanto ao reconhecimento de um Executivo declarada e decididamente anti-serviço público e anti-direitos trabalhistas e sociais. Além de marcadamente anti-organização coletiva de qualquer natureza no campo popular, social e sindical. Houve consenso, também, quanto à urgência da unidade de classe para enfrentar os inúmeros e abrangentes ataques que alcançam todas as categorias. Coerentemente, aprovou, por unanimidade, greve da categoria, apostando na construção de greve geral, por tempo indeterminado.

          O dia 18 de março será o Dia de Greve Geral pela Educação, como parte do “esquenta” para a Greve da Categoria e, quiçá, da Greve Geral.

          No processo de construção da greve da categoria foi aprovado um calendário de atividades preparatórias que inclui, entre o período de 10 de fevereiro a 13 de março/2020, uma rodada de assembleias de maneira a contemplar os diferentes calendários acadêmicos das IES. E, nos dias 14 e 15 de março/2020, Reunião do Setor das Federais, em Brasília/DF.

          As assembleias devem contemplar a seguinte pauta: a) Avaliação da construção da Greve do Setor da Educação [18/03/20] e a possibilidade de realização da Greve do Ensino Superior; b) Indicação para os setores dos eixos de reivindicação, incluindo a luta pela recomposição salarial, arquivamento da PEC n. 186/2019 [PEC Emergencial], a devolução da MP 914/2019 [Escolha de Reitores], rejeição ao Future-se e recomposição dos recursos orçamentários.

          De acordo com o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (FONASEFE), a defasagem salarial no período de Julho/2010 a Dezembro/2019 alcança 33,9% (isso considerada a reposição de 5,5% em Agosto/2016 e Janeiro/2017); e de 15,9% para aqueles setores que assinaram acordos de reposição em quatro parcelas: 5,5% em Agosto/2016; 6,98% em Janeiro/2017; 6,64% em Janeiro/2018 e 6,31% em Janeiro/2019.

          Na enorme relação de Projetos de Emenda Constitucional que tramitam no Congresso (e que se somam a outros Projetos de Lei e Leis já aprovadas) dedicados a retirar direitos dos trabalhadores em geral e dos servidores públicos em particular, cabe destaque aos conteúdos das PEC’s 186 (PEC Emergencial), 187 (PEC dos Fundos), 188 (PEC do Pacto Federativo), os quais integram o chamado “Plano Brasil Mais”, assim como da PEC 196, dedicada à Reforma Sindical.

          Além da urgência da construção da Greve, imprescindível para o conjunto do funcionalismo público (atacado de todos os lados e formas), também os ataques à autonomia universitária (nomeação de reitores, restrições à participação em eventos científicos, perseguição à liberdade de cátedra, implementação do Programa Future-se [nos CEFETs, a versão atende pelo nome “Novos Caminhos”] etc), assim como aos cortes de recursos e contingenciamentos, foram amplamente discutidos e denunciados. Contra eles foram aprovadas formas de combate e resistência.

O Congresso, ao possibilitar o encontro de professores de IFES, IMES e IEES, assim como de CEFETs, permite não apenas dimensionar a combinação de ataques para destruir a educação pública em todos os níveis, mas, também, para identificar qual educação se pretende colocar em seu lugar. Além da privatização da educação pública, quer o Governo (com a conivência dos demais Poderes e esferas públicas), ocupar os espaços educacionais públicos sobreviventes com militares da reserva ou da ativa. Evidencia-se que o processo de militarização da educação tem assumido forma progressiva, inclusive com recursos bem superiores àqueles das escolas públicas civis. Nas escolas de ensino fundamental e médio através do Modelo “Cívico Militar”, nas universidades, por meio da ocupação de cargos diretivos.

Dentre as muitas denúncias e encaminhamentos de resistência estão a demanda pela recomposição orçamentária das fundações e agências públicas de fomento; a manutenção da Dedicação Exclusiva, a realização de concursos públicos; assim como a luta pela constituição de ouvidorias e comissões para enfrentar casos de assédio moral e sexual. 

          Devido às mudanças regimentais aprovada no 64º CONAD, que deliberou pelo encolhimento do período integral, um conjunto de Textos de Resolução (TR) não foram apreciados pela Plenária, em que pese o esforço para agilização das discussões, o que, inevitavelmente, acabou por comprometer a qualidade das intervenções no último dia do Congresso, assim como a serenidade necessária para muitas votações.

          Propostas de atualização das lutas relativas a adoecimento docente; capacitismo; Previdência Social; Carreira; Democracia; Comunicação; Política de Ciência e Tecnologia; Política Agrária e Ambiental etc. foram apreciadas somente nos Grupos de Trabalho (GT’s), pois não houve tempo suficiente para análise e discussão pela Plenária. Em virtude disso, as propostas aprovadas integralmente nos GTs serão incorporadas. As demais serão encaminhadas para 65º CONAD, a ser realizado no mês de Junho/2020.

          Por fim, resta registrar que uma das polêmicas que ocupou parcela importante do Congresso foi a apresentação de TRs propondo a desfiliação imediata ou em período próximo da CSP-Conlutas. Sem apresentar elementos concretos do ponto de vista dos princípios e da macropolítica, muitos TRs construíram seus argumentos a partir de seis eixos: 1) – CSP não cresceu nesse período e é muito pequena quando comparada à CUT; 2) – Congressos da CSP têm metodologia inadequada; 3) – A CSP está dominada por um partido hegemônico; 4) CSP é isolacionista; 5) – A CSP vive um “esgotamento”; e, 6) O Congresso da CSP aprovou políticas equivocadas.

          A fragilidade desses argumentos é evidente. Primeiramente porque a relevância de uma Central não decorre de um exercício matemático, a partir do qual “mede-se” a qualidade e o compromisso de classe. Se assim fosse, certamente a CUT seria uma Central comprometida e combativa. Mais do que isso, muitos dos críticos da CSP nunca se dispuseram a, efetivamente, enraizar a CSP nos estados; nem tampouco reconhecem que o esvaziamento das entidades sindicais não é uma condição particular da CSP, mas do movimento sindical nacional e internacional. Em segundo lugar, problemas de método, nas organizações de trabalhadores, se resolve pela disputa interna e não promovendo políticas divisionistas. Em terceiro lugar, chega a ser irônico que as forças políticas que encabeçam os movimentos para desfiliação da CSP reclamem de “hegemonismo” quando são, eles mesmos, hegemonizados por suas respectivas forças políticas. Em quarto lugar, a CSP historicamente tem priorizado – e implementado – movimentos no sentido de construir unidade, constituindo-se em uma política recorrente da Central. Em quinto lugar, o referido “esgotamento” prescinde de qualquer fundamentação objetiva, aproximando-se mais de uma afirmação retórica que mais parece indicar uma percepção de “prazo de validade” do que uma avaliação programática. Por fim, cabe relembrar que as deliberações congressuais foram tomadas pelos delegados e não pela direção da Central. Porém, ainda mais relevante: é preciso que os defensores da desfiliação não se valham de inverdades para tentar convencer incautos quanto ao conteúdo do que foi aprovado. Muitos desses defensores desvirtuaram o que foi aprovado para fazer agitação contra a CSP e tentar garantir a desfiliação. Alguns para voltar para os braços da CUT, outros para fortalecer o Fórum Sindical, Popular e de Juventude, outros para ir para lugar algum. Paradoxalmente, todos falam em nome da unidade e concordam quanto à urgência de enfrentar a grave conjuntura!

          Mas, em que pese o esforço somado desses grupos, os delegados presentes no 39º Congresso do ANDES/SN aprovaram a permanência do Sindicato à CSP-Conlutas. Foram 255 votos pela permanência, 142 pela saída e 15 abstenções. Apesar desse resultado, o Congresso também aprovou a realização de um CONAD Extraordinário, no segundo semestre 2020, para fazer uma avaliação da CSP, isto é, retomar a discussão sobre uma possível desfiliação.

          Importa registrar que o 40º Congresso do ANDES/SN será realizado em Porto Alegre/RS, e será sediado pela ADUFRGS. Este será um Congresso importante, na medida em que será comemorado o 40º aniversário do ANDES/SN.

          Por fim, resta anotar a participação qualificada da delegação da ADUFMAT (delegados e observadores) ao longo do Congresso.

          Agora, colegas da UFMT, nenhum motivo para acomodar-se. Todos os motivos para lutar!

          Greve Geral da Educação dia 18 de Março/2020!

        Construção da Greve da Categoria!!!

Quinta, 06 Fevereiro 2020 11:52

 


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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind. 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Depois de muitas cenas e capítulos absurdos (também) na Secretaria Nacional de Cultura, Regina Duarte – atriz e fazendeira – foi escolhida para dirigir a cultura do país.

Assim que seu nome foi anunciado, lembrei-me de O Salvador da Pátria, uma das mais importantes telenovelas exibidas pela Globo, já na redemocratização do país, mais exatamente entre 9 de janeiro e 12 de agosto de 1989.

Só para lembrar, o último capítulo daquela telenovela se deu pouco antes das eleições presidenciais de 89, polarizadas, no segundo turno, por Lula e Collor. À época, a direita entendia o enredo da novela como sendo enaltecedor de Lula, aludido pela personagem Sassá Mutema. A esquerda compreendia o oposto, uma vez que Sassá, excetuando no epílogo, apresentava-se como político manipulável, logo, corruptível.

Fosse como fosse, Regina, ao contrário da maioria dos artistas brasileiros, dizendo temer uma vitória de Lula, declarou voto em Collor, que representava as elites nacionais, incluindo a mídia, e o capital estrangeiro. Lula significava a esperança de um governo popular, concebido a partir de pontos socialmente significativos da Carta de 88.

Pois bem. Antes de outras considerações, adianto: Regina não fez parte do elenco de O Salvador da Pátria. Dentre tantas outras personagens, ela literalmente foi a Rainha da Sucata, exibida entre 02 de abril e 27 de outubro de 1990, ou seja, logo após a posse de Collor, ocorrida em 15 de março do mesmo ano.

Em rápidas palavras, a Rainha da Sucata tentava consolidar a ideia de que a vitória de Collor fora acertada; por isso, os mais pobres – incluindo os trabalhadores com sucatas, ou seja, algo de que nos livramos na lógica do descarte – tinham mais chances na vida.

Verdade seja dita, essa tarefa da Globo, mesmo ancorada em Regina no papel principal, não era fácil, pois, dentre outros pontos, no primeiro plano econômico daquele novo governo (o Plano Collor I), houve um retumbante confisco: 80% dos depósitos do overnight, das contas correntes ou das cadernetas de poupança que excedessem a NCz$ 50mil (cruzado novo) foram congelados por 18 meses. Por conta desse golpe econômico, muitos brasileiros cometeram suicídio.

Agora, Regina encontra-se como a salvadora de uma área sucateada até onde não se podia mais: o antigo Ministério da Cultura foi reduzido a uma Secretaria; como tal, seu orçamento desceu a ladeira. Portanto, a falta de um orçamento à altura das necessidades, por si, já seria um grande problema a ser enfrentado por Regina, mas seus entraves serão maiores.

Ao aceitar o convite, a atriz sabe, de antemão, que suas ações/decisões deverão estar inscritas nos limites da família convencional, da preservação da propriedade e do culto às tradições. Assim, ela passa a ser exaltada pelos conservadores e menosprezada pelos oponentes dessa visão de mundo.

Enfim, o aceite de Regina para fazer parte da equipe do governo Bolsonaro, por si, parece ser mais um elemento na divisão experimentada por nossa sociedade, mas mais em especial no meio cultural.

De minha parte, leio esse aceite como mais um reforço àquele comentário de Roberto Alvim – há pouco exonerado por ser identificado como nazista – chamando Fernanda Montenegro de sórdida. Como ninguém do governo condenou aquilo, todos, inclusive o presidente, consentiram.

É nesse ninho, portanto, que Regina entra, tentando ser, agora, não mais a Rainha da Sucata, mas a salvadora de uma área sucateada dentro de uma sociedade cada vez mais dividida.

Terça, 04 Fevereiro 2020 13:59

 


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Texto enviado pelo Prof. Breno Ricardo Guimarães Santos 
 
ELEIÇÕES CONSEPE
 
Link para votação: https://sistemas.ufmt.br/ufmt.eleicao.colegiado/Account/LogOn
 

Data: 04 e 05 de fevereiro
 
Prezados/as colegas, me chamo Breno Ricardo Guimarães Santos, sou professor do Departamento de Filosofia da UFMT/Campus Cuiabá, e Coordenador do Mestrado Acadêmico em Filosofia. Sou candidato a Conselheiro no CONSEPE, representando docentes da Classe A. Gostaria, com esse texto breve, de apresentar minha candidatura e contar com o apoio de vocês neste processo.
 
A atual conjuntura é de desmonte completo da universidade pública e gratuita. Na UFMT, temos visto os efeitos desse ataque diariamente, com o fim de serviços básicos e importantíssimos para o pleno funcionamento de uma universidade com ensino, pesquisa, extensão e socialmente referenciada.
 
Dentre todos os ataques, nossa carreira docente tem sido um dos direitos mais visados.
 
Diante desse quadro, a nossa atuação crítica se faz necessária. Acredito que a presença docente nos espaços democráticos da UFMT é de grande importância para garantir que a Universidade continue pública e atenda as demandas da sociedade.
 
Por esses motivos, coloco meu nome à disposição para a eleição de representante docente no CONSEPE, que ocorre nos dias 04 e 05 de fevereiro, no site da UFMT.

Segunda, 03 Fevereiro 2020 13:00

 


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JUACY DA SILVA*

Logo no inicio da Bíblia, no capitulo  primeiro de do Livro de Gênesis, versículo primeiro está escrito de forma clara e objetiva: “No princípio Deus criou os Céus e a terra” e nos seguintes são detalhadas as etapas da criação, incluindo a criação do primeiro homem e da primeira mulher, Adão e Eva.

Diz também a Bíblia, livro considerado sagrado para todos os cristãos, católicos e evangélicos, que este primeiro casal foi colocado no Jardim do Éden e que tudo era perfeito, ou seja, havia um equilíbrio entre todas as obras criadas por Deus.

No Livro dos Salmos, capitulo 24, versículos 1 e 2, podemos ler outra assertiva a respeito das obras de criação de Deus, que é dito “ Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem; pois foi Ele (Deus , o Senhor) que a fundou (criou a terra) sobre os mares e as águas”.

Esta mesma ideia é novamente repetida na primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, capitulo 10:26 quando diz “ Porque do Senhor é a terra e toda a sua plenitude”, ou seja, todas as formas de vida animal e vegetal, enfim, os ecossistemas e toda a biodiversidade.

Podemos notar ainda esta preocupação em reforçar o princípio divino relacionado com o meio ambiente no Livro dos Atos dos Apóstolos 17:24  quando diz “ O Deus que criou o universo e tudo o que nele existe é o Senhor dos céus e da terra”.

Há praticamente cinco anos quando do lançamento da Encíclica Laudato Si, a chamada Encíclica Verde, o Papa Francisco tem insistido para a responsabilidade dos cristãos e também não cristãos no que concerne a preservação, conservação, enfim, nos cuidados que devemos ter em relação `a Casa Comum, a mãe terra, o Planeta em que vivemos.

Esta responsabilidade é muito maior para os cristãos tendo em vista que os mesmos tem o dever de colocar em prática os cuidados para evitar a degradação ambiental, evitar e combater os crimes ambientais, pois quem destrói o meio ambiente, que contribui para o aumento da poluição, que provoca as mudanças climáticas está atentando contra as obras da criação de Deus e isto não deixa de ser um pecado, o chamada “pecado ecológico”.

Este aspecto tem sido muito discutido pelo Papa Francisco e o mesmo, tanto antes quanto durante e agora após o Sínodo dos Bispos para a Pan Amazônia, vem exortando para o que tem denominado de “pecado ecológico”, “conversão ecológica”  e tem dito que esses dois conceitos podem, em breve fazer parte da catequese, podendo mudar inclusive parte da doutrina da igreja.

Se formos mais a fundo neste tema, vamos encontrar estudos e debates bíblicos e teológicos entre diversas igrejas evangélicas e até mesmo entre os mulçumanos, com exortações do Profeta Maomé, sobre a importância de se respeitar o meio ambiente.

Os cristãos representavam em 2015 em torno de 31,2% da população mundial, contando com 2,3 bilhões de habitantes, com expressiva maioria tanto na Europa quanto nas Américas; seguidos dos mulçumanos com 1,8 bilhões (24,1%); vindo depois os hindus com 1,1 bilhão de pessoas ou 15,1% da população mundial.

Em decorrência desses números percebemos que os cristãos também foram os maiores poluidores do planeta por séculos, pois a revolução industrial, o surgimento e desenvolvimento do capitalismo teve como base a Europa, a América do Norte e também parte na América Latina.

Outro país que também promoveu a revolução industrial e o capitalismo, fora da órbita do cristianismo foi o Japão e só tardiamente, a partir de meados do século passado é que a China e a Índia passaram a ter uma economia pujante e em crescimento acelerado, países de minorias cristã.

Os 20 países que mais poluem o planeta, principalmente quando se refere à emissão de gases de efeito estufa, oriundos dos setores industriais, residências, sistema de transporte e desmatamento, são responsáveis por mais de 82% do total da poluição mundial e que estão provocando as mudanças climáticas que tantos males vem causando e causarão `a vida na terra.

Desses 20 países, 13 tem a grande maioria de sua população que se define como cristãos, ou seja, são e estão conscientes de que seu estilo de vida e suas ações estão destruindo as obras da criação divina e não estão respeitando os princípios bíblicos.

Isto se deve, talvez  pela contradição profunda que existe entre uma fé de fachada, alienadora  e por práticas definidas  pelo materialismo, pelo consumismo, pelo desperdício dos recursos naturais, pela ganância em associação com a busca do lucro econômico e financeiro, o que pode ser chamada de “deus dinheiro”, pouco se importando com o passivo ambiental e com a precarização das condições de vida de seus semelhantes, principalmente as camadas mais excluídas da sociedade que, com certeza, também c são filhos e filhas de Deus, segundo a fé cristã.

É neste contexto que devemos entender as exortações e reflexões do Papa Francisco, líder do maior grupo religioso entre os cristãos, que são os católicos nada menos do que 1,3 bilhões de fiéis mundo afora, a quem, tais exortações devem ser analisadas para perceber a responsabilidade que tanto cristãos em geral quanto católicos em particular precisam assumir no combate `a degradação ambiental.

Este combate deve ser feito em cada localidade, em cada paroquia, comunidade, em cada igreja, templo, escola de confissão católica ou evangélica, através de projetos e ações concretas, arregimentando desde crianças, adolescentes, jovens , população adulta e também idosos, ou seja, se os cristãos se irmanassem em um verdadeiro mutirão permanente na defesa do meio ambiente, com a visão do que o Papa Francisco denomina da Ecologia Integral, com certeza podemos mudar o mundo, restaurar, se não o Jardim do Éden, como descrito em Gênesis, mas pelo menos em localidades mais aprazíveis e menos poluídas para vivermos.

No Brasil, por exemplo, existem mais de 11 mil paroquias e mais de 120 mil comunidades paroquiais, da Igreja Católica e mais de 50 mil templos evangélicos, todas essas localidades congregam centenas e as vezes milhares de pessoas, quase que diariamente.

Ora, se os cristãos devotassem um pouco mais de atenção e ações articuladas, independente de filiação a esta ou aquela igreja, com certeza, seriam milhões de pessoas em condições de atuarem efetivamente na defesa do meio ambiente, desde projetos de educação ambiental, reciclagem de lixo, arborização, reflorestamento, agricultura familiar, agricultura urbana, hortas domésticas, comunitárias, escolares, limpeza, etc. além de uma maior participação no que concerne `a definição de politicas publicas, planos e programas ambientais em todos os níveis.

Finalizando, apenas um lembrete e sugestão para a leitura da passagem contida no Livro de Apocalipse 11:18, onde é descrito que é chegado “o tempo de destruíres os que destroem a terra”, esta será a penalidade para quem não respeita as obras da criação divina, aqueles que destroem impiedosamente o meio ambiente.  É neste sentido que para o Papa Francisco quem destrói a natureza, o meio ambiente e não respeita a criação de Deus está cometendo um pecado.

Vamos refletir um pouco mais neste binômio: fé e meio ambiente; qual o papel dos cristãos nos cuidados com a natureza/meio ambiente e a nossa responsabilidade ética, como cristãos , em relação `as futuras gerações?

Esses temas deveriam fazer parte dos sermões, das homilias, das ações pastorais, dos debates teológicos da Igreja Católica e também das Igrejas Evangélicas.

Concluindo, gostaria de deixar uma exortação contida também na Bíblia Sagrada, no Livro de Tiago 2:17 onde é dito de forma clara: “ Assim também, a fé, se não tiver as obras, é, em si mesma morta”. Não basta discursos, debates, estudos sobre a destruição do meio ambiente, orações pedindo a Deus para fazer chover ou parar de chover, precisamos agir, enquanto o grande desastre ambiental não chegue e possa representa rem sentido figurado, o que no Livro do Apocalipse é definido como o “Armagedom”,  e também a restauração do que é denominado de “um novo céu e uma nova terra”.

Diversos cientistas através de seus estudos estão nos alertando, bem como governantes de todos os países, sobre a iminência, os riscos e consequências do que tem sido considerado “o dia seguinte”, ou seja, as catástrofes naturais, provocadas pelas ações humanas, longe de serem um castigo divino, decorrem das ações humanas que continuam destruindo o meio ambiente e colocando em risco o equilíbrio dos ecossistemas.

Todos temos responsabilidades diante dessas ameaças, principalmente os cristãos que professam uma fé que atesta que o planeta terra e, enfim , todo o universo são obras divinas e foram criadas por Deus. Mas parece que existe um grande fosso entre esta fé e as ações e omissões desses que se dizem cristãos.

Pense nisso caro leitor, reflita sobre este tema de forma mais profunda, com uma mentalidade crítica e criadora. Não se omita ante a destruição do meio ambiente e do planeta terra. Aqui é a nossa “casa comum”, onde vivemos! A omissão também  é um pecado!

JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.,br" target="_blank" rel="noopener noreferrer" data-auth="NotApplicable">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.,br Twitter@profjuacy Blogwww.professorjuacy.blogspot.com