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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Membro do GTPCEGDS da Adufmat-Ssind é homenageada em Sinop no Dia Internacional das Mulheres
Em um dos municípios mais conservadores do estado, a professora Clarianna Martins da Silva, membro do Grupo de Trabalho Política de Classe para Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) da Adufmat-Ssind, foi uma das homenageadas pela Câmara Municipal no último Dia Internacional das Mulheres como “Mulher de Destaque em Sinop”.
Dentro da Casa de Leis que proibiu por lei, em 2022, qualquer manifestação, divulgação, publicação ou discussão em ambientes públicos e privados sobre gênero, sexualidade e direitos reprodutivos, a professora, que também é membro do Coletivo Sinop Para Elas (que surgiu por meio de ações do GTPCEGDS na UFMT), destacou que a data simboliza, sobretudo, a luta das mulheres e, em vez de parabéns e flores, os parlamentares devem promover ações efetivas que preservem as vidas e os direitos das mulheres. “Nesse dia Internacional das Mulheres, mais do que parabéns, nós precisamos de projetos de Lei, de políticas públicas que nos possibilitem sobreviver em uma cidade mais adequada para as mulheres. Queremos que se coloquem as mulheres como prioridade nos programas de habitação, de reinserção no mercado de trabalho, que sejam criadas políticas públicas de acolhimento à todas as mulheres, que são parte significativa da nossa sociedade, afinal, somos metade da sociedade, a outra metade são nossos filhos”, afirmou.
A Lei 3036/22, que proibiu o que chamam de “manifestações de ideologia de gênero” com o argumento de que essas questões promovem a “desconstrução da família e do casamento tradicional”, foi o “presente” da Casa em 2022, publicada em 09 de Março.
A vereadora Professora Graciele (PT) presidiu a sessão de homenagem às mulheres em Sinop este ano. Única mulher eleita nesta legislatura e parlamentar que indicou a colega de ofício para receber a homenagem, Graciele, que já foi alvo de ataques diversas vezes por parte dos vereadores conservadores, também enfatizou a luta como centralidade da data. “Esta data simboliza a luta por vida digna, por direito humano, pelos direitos das mulheres. É essa luta precisa ser lembrada não só hoje, mas sempre. Enquanto única mulher da Câmara, eu entendo que devemos ampliar muito a participação feminina ainda, a ocupação delas em todos os espaços, aumentar o respeito no trato com as mulheres. Essa sessão é uma forma de dizer da nossa gratidão e do nosso reconhecimento pelo importante trabalho desenvolvido pelas mulheres na nossa cidade e, reforçar o nosso compromisso quanto Legislativo para a promoção de políticas públicas para as mulheres”, concluiu a vereadora.
Menos flores, mais respeito
Contraditoriamente, os vereadores que homenagearam as mulheres de Sinop em 2023 protagonizaram outros inúmeros episódios nada presenteáveis até os dias atuais.
A Câmara Municipal de Sinop aprovou a Lei 3006/21, que proíbe a flexibilização do gênero neutro; foi palco de ataques à população negra no Dia da Consciência, por meio da não aprovação de projeto de lei que visava tornar mais diversa a publicidade produzida no município, incluindo cotas para pessoas negras, cadeirantes, entre outros – além de exigências protocolares aos integrantes do Movimento Negro não exigidas a outras entidades conservadoras; também reprovou o projeto de Lei 048/21, que criaria o Mapa das Violências contra a Mulher no município de Sinop.
Em maio de 2021, o município repercutiu nacionalmente por conta do episódio dos outdoors, derrubados a motosserra, porque faziam críticas ao Governo Bolsonaro, expondo a alta de preços, os altos índices de desemprego e a negligencia do Governo Federal com relação à pandemia. Além disso, em 2019 houve retaliação da Câmara Municipal e da Prefeitura de Sinop à pintura da Greta Thunberg, feita por artista local e vandalizada por bolsonaristas, fato que também ocupou o noticiário nacional. No mesmo ano, a Casa de Leis reprovou o projeto de Lei 87/2019, apresentado pela então vereadora professora Branca (PL), que obrigava bares, restaurantes e casas noturnas a adotarem medidas que auxiliassem mulheres que estivessem se sentindo em situação de risco.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Foto: Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Sinop/vereadora Profa. Graciele
8M: Em Sinop, março começa com campanha de incentivo a denúncias de assédio
“Estamos entrando em março, mês que relembra e fortalece a luta das mulheres pelos direitos trabalhistas, por igualdade econômica, social, direitos políticos e igualdade de gênero. E é neste contexto que nós, da Adunemat, em parceria com a Adufmat, aproveitamos para lançar a campanha Adunemat e Adufmat no combate ao Assédio sexual, violência sofrida, na maioria das vezes, por mulheres.”
Assim começa o manifesto das seções sindicais do Andes - Sindicato Nacional em Sinop, Adunemat-Ssind e Adufmat-Ssind, anunciando que, durante todo o mês de março, realizarão uma campanha de incentivo às mulheres para que denunciem assédio sexual.
Com o slogan “Assédio é Crime: Assédio não é Elogio”, os dois sindicatos vão compartilhar materiais informativos por meio das redes sociais. “Acreditamos que a divulgação de informação é fundamental para a prevenção e combate deste tipo de violência que afeta o cotidiano de trabalhadoras, trabalhadores e estudantes”, afirma o documento, acrescentando que o assédio sexual já é tipificado no código penal brasileiro (Artigo 216-A).
O principal meio de denúncia é o Canal de Atendimento a Mulher, por meio do número de telefone 180.
Confira o texto na íntegra:
Adunemat e Adufmat contra o assédio sexual
Estamos entrando em março, mês que relembra e fortalece a luta das mulheres pelos direitos trabalhistas, por igualdade econômica, social, direitos políticos e igualdade de gênero. E é neste contexto que nós, da Adunemat, em parceria com a Adufmat, aproveitamos para lançar a campanha "Adunemat e Adufmat no combate ao Assédio sexual", violência sofrida, na maioria das vezes, por mulheres.
A proposta da campanha é colaborar com o combate das situações de assédio, encorajando as mulheres a denunciarem seus assediadores, dentro ou fora da universidade. Durante todo mês de março, a Adunemat e a Adufmat- por meio das redes sociais, divulgarão materiais informativos para ampliar o debate sobre este crime já tipificado no código penal.
Acreditamos que a divulgação de informação é fundamental para a prevenção e combate deste tipo de violência que afeta o cotidiano de trabalhadoras, trabalhadores e estudantes.
⚠️ E se você ou alguém que você conhece for vítima de assédio na universidade, na rua, no trabalho, não se cale.: ligue 180. Na universidade, você pode denunciar através dos sites institucionais, por meio da ouvidoria.
➡️ Acesse nossas redes sociais em @adunemat ou @adufmatssind e conheça nossa campanha!
➡️ Essa luta é de todos e todas!
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
As diferenças também somam! Debate em Sinop aborda autismo, TDAH e altas habilidades - dia 23/11
O Grupo de Trabalho Política de Classe para Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) da Adufmat-Ssind convida a categoria e demais interessados para o debate "As diferenças também somam! Vamos falar sobre autismo, TDAH e altas habilidades?", que será realizado na subsede do sindicato em Sinop no dia 23/11 (quarta-feira).
A atividade será desenvolvida presencialmente, no auditório da Adufmat-Ssind em Sinop, em dois períodos: a primeira turma com início às 14h e a segunda com início às 19h.
Os convidados para discorrer sobre o tema são a neuropsicóloga Dra. Adriana Peres, a professora Dra. Chiara Maria Seidel (Unemat), Douglas Santos Antoniassi (dupla excepcionalidade) e a professora Dra. Gisele Facholi Bomfim (UFMT/ICS).
O evento é aberto a participação da comunidade em geral, gratuito e emitirá certificado aos participantes.
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
DIRETORIA DA SUBSEÇÃO DA ADUFMAT EM SINOP TOMA POSSE EM ASSEMBLEIA GERAL
Tomou posse nessa sexta-feira, 30/09, a nova diretoria da Subseção da Adufmat-Ssind em Sinop. A chapa “Adufmat Viva para Resistir” foi eleita na segunda-feira, 26/09 e estará à frente da entidade até 2023.
Durante a Assembleia, a professora Clarianna Silva, representando a Comissão Eleitoral, afirmou que foi uma eleição tranquila, com apenas uma chapa inscrita e sem interposição de qualquer recurso. “Eu gostaria de agradecer à chapa, aos docentes que participaram do processo como um todo e aos funcionários da Adufmat-Ssind. Foi um processo tranquilo, sem recursos, e a chapa foi eleita com 62 votos, nenhum nulo e nenhum em branco”, declarou a docente.
Depois, os membros da nova direção da subseção se apresentaram: a professora Pacífica Pinheiro Lima Neta, coordenadora geral, é docente do curso de Enfermagem, assim como a professora Sônia Vivian de Jezus, coordenadora-tesoureira. A professora Claudia dos Reis, coordenadora-secretária, leciona no Instituto de Ciências Naturais, Humanas e Sociais, e os professores Handrey Borges Araujo, coordenador de Comunicação, e Ricardo da Silveira Carvalho, coordenador de Planejamento, estão lotados no Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais.
Ao parabenizar os colegas, o professor Leonardo dos Santos, diretor geral da Adufmat-Ssind, falou sobre as lutas da categoria e na confiança da construção coletiva histórica do sindicato. “A mobilização da categoria está cada vez mais difícil, a luta coletiva está desacreditada. O desencanto, em vista dos ataques dos últimos anos, nos coloca numa posição defensiva e desesperada. Mas a construção desse futuro só é possível pelas mãos da classe trabalhadora. Eu sei que a Adufmat-Ssind continuará pautando nossos projetos de profissão, universidade e país, que são bastante diferentes do que nós temos hoje. Parabéns aos colegas e contem com a gente para tudo o que for possível”, concluiu.
Nesse sentido, a primeira demanda apresentada pela direção da subseção foi formação política. “Nós estamos aqui com o intuito de ajudar, de colaborar, mas também de aprender. Por isso, nossa primeira demanda é, justamente, o curso de formação sindical da Adufmat-Ssind”, falou a coordenadora geral da subseção, professora Pacífica Pinheiro.
Por se tratar de uma eleição extemporânea, a nova direção local iniciará seu trabalho imediatamente.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Chapa " Adufmat Viva para Resistir " é eleita para direção da subsede da Adufmat-Ssind em Sinop
Com 62 votos, a chapa "Adufmat Viva para Resistir" foi eleita, nessa segunda-feira, 26/09, para dirigir a subsede da Adufmat-Ssind em Sinop até o final da gestão atual, em 2023. Seguindo a comissão eleitoral, todos os votos foram na chapa candidata (nenhum nulo e nenhum em branco), representando 58,4% dos 106 docentes considerados aptos a votar.
O prazo para encaminhamento de eventuais recursos é até as 17h dessa terça-feira, 27/09.
A posse está prevista para o dia 30/09, durante Assembleia Geral convocada para essa finalidade.
Clique aqui para saber mais sobre as Eleições Extemporâneas para escolha da Diretoria da Subseção da Adufmat-Ssind em Sinop (2022-2023).
Abaixo, o relatório das mesas receptoras divulgado ao final do pleito:
ELEIÇÕES PARA ESCOLHA DA DIRETORIA DA SUBSEÇÃO DA ADUFMAT-SSIND EM SINOP: CHAPAS DEFERIDAS
A Adufmat-Ssind traz a público, conforme Regimento Eleitoral, as informações acerca da chapa inscrita para as Eleições Extemporâneas para escolha da Diretoria da Subseção da Adufmat-Ssind em Sinop (2022-2023), deferida pela Comissão Eleitoral:
Nome da Chapa: Adufmat Viva para Resistir
Membros:
Coordenadora Geral de Subseção: Pacífica Pinheiro Lima Neta
Coordenadora-secretária de Subseção: Claudia dos Reis
Coordenadora-tesoureira de Subseção: Sônia Vivian de Jezus
Coordenador de Comunicação: Handrey Borges Araujo
Coordenador de Planejamento: Ricardo da Silveira Carvalho
ELEIÇÕES PARA ESCOLHA DA DIRETORIA DA SUBSEÇÃO DA ADUFMAT-SSIND EM SINOP: LISTA DOS SINDICALIZADOS APTOS A VOTAR
Conforme calendário eleitoral do processo extemporâneo para escolha da Diretoria da Subseção da Adufmat-Ssind em Sinop, tornamos pública a lista de docentes aptos a votar.
Os interessados têm até o dia 12/09 para contestar eventuais inconsistências, por meio do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. .
Clique no arquivo anexo abaixo para acessar a lista.
Eleições para escolha da Diretoria da Subseção da Adufmat-Ssind em Sinop: Regimento, Ficha de Inscrição e Calendário
Conforme aprovado em Assembleia Geral realizada em 05/09/22, a Adufmat-Ssind torna público o Regimento Eleitoral da Adufmat-Seção Sindical do Andes-SN para escolha da Diretoria de sua Subseção em Sinop, bem como a Ficha de Inscrição de Chapa (Anexo I) e o Calendário Eleitoral, disponíveis para download nos arquivos anexos abaixo.
Vereadores e prefeito de Sinop proíbem debates sobre sexualidade, gênero e direitos reprodutivos; docente relata outros ataques
Enquanto o Brasil vê, finalmente, a suspensão da autorização do cônjuge para que a mulher possa fazer procedimentos cirúrgicos para não engravidar, o município de Sinop, localizado a 479,4 km da capital mato-grossense, Cuiabá, caminha para trás. A Câmara Municipal, que tem apenas uma mulher como parlamentar, aprovou, e o prefeito Roberto Dorner (Republicanos) aprovou, na semana passada, uma lei que proíbe qualquer manifestação, divulgação, publicação ou discussão em ambientes públicos e privados sobre gênero, sexualidade e direitos reprodutivos.
O argumento utilizado pelo parlamento que tem se mostrado um dos mais reacionários no país, atualmente, é que o conteúdo citado poderia promover a “desconstrução da família e do casamento tradicional”.
“Nós estamos impossibilitadas de falar, por exemplo, sobre anticoncepcional, camisinha, mudanças do corpo, em nome da família tradicional brasileira. Eu não sei por que eles chamam isso de modelo de família, mas a gente sabe que boa parte dos lares são chefiados por mulheres. Essa lei veio como um ‘presente’, foi sancionada pelo prefeito após o Dia Internacional das Mulheres, exatamente no dia 09 de março. E o prefeito validou uma ação inconstitucional dos vereadores, porque a lei foi aprovada apesar dos impactos serem publicamente conhecidos e, inclusive, com parecer jurídico contrário à aprovação. As duas únicas pessoas que não votaram a favor foram os vereadores professora Graciele (PT) e Mário (PODE) (que costuma votar com os conservadores, mas nessa ocasião, não votou)”, explicou a professora da Universidade Federal de Mato Grosso em Sinop, e membro do Grupo de Trabalho Políticas de Classe para questões de Gênero, Etnia e Diversidade Sexual (GTPCGEDS) da Adufmat-Seção Sindical do ANDES Sindicato Nacional, Clarianna Silva.
Mas o cerceamento às mulheres e a outros grupos sociais não se restringe à Lei 3046/22, já apelidada “Lei Conto de Aia”, em referência a uma série norte americana (The Handmaid's Tale, 2017). A docente lembrou que a Casa de Leis sinopense tem um histórico nesse sentido.
No final do ano passado, a Câmara Municipal aprovou a Lei 3006/21, que proíbe a flexibilização do gênero neutro, também tendo como justificativa a defesa da família tradicional brasileira. Silva sustenta que lei também é inconstitucional, e já foi denunciada ao Ministério Público de Cuiabá. “O Ministério Público de Sinop, aparentemente, tem anuência com o comportamento da Câmara Municipal de Sinop. Ele nunca faz nada. Então nós começamos fazer as denúncias em Cuiabá”, afirmou.
Houve também ataques à população negra. “No Dia da Consciência Negra, representantes de entidades organizadas em defesa da população negra foram chamados pela vereadora Graciele para serem homenageados e também para discutir igualdade racial. Naquela ocasião, seria debatida uma proposta de lei que visava que a publicidade do município fosse mais diversa, que tivesse uma cota para pessoas negras, cadeirantes, entre outros, porque nas propagandas só aparecem pessoas brancas, mas segundo o IBGE, metade de Sinop é constituída por pessoas que se autodeclaram negras ou pardas, embora a narrativa permaneça de que Sinop é praticamente uma cidade do sul do país. O Movimento Negro se fazia presente, mas empurraram a aprovação da lei para a outra semana, justamente para desmobilizar. Na semana seguinte, tinha poucas pessoas do Movimento Negro e alguns professores apoiando a aprovação da lei, que nada impacta ao município, no que se refere a gastos. Mas chamaram a polícia para meia dúzia de pessoas, porque nós, teoricamente, quebramos o protocolo. Isso é, algumas pessoas verbalizaram indignação pela não aprovação da lei, mas ninguém agrediu ninguém”, contou Clarianna Silva.
Em ocasiões similares, citou a docente, representantes do Movimento Conservador foram privilegiados. Na semana que antecedeu o Dia da Consciência Negra, enquanto as mulheres do Movimento Conservador passeavam pelos corredores da Câmara, o presidente do Conselho Estadual da Diversidade Racial, que pretendia solicitar apoio à aprovação da lei de cotas para a publicidade do município, não pode ir aos gabinetes sem prévio agendamento para “cumprir um protocolo” que não foi exigido ao Movimento Conservador.
“O movimento conservador quebra o protocolo de Covide-19, pode bater palma, pode gritar, e ninguém chama a polícia para ele. Nós, professores, meia dúzia de pessoas, saímos de lá indignados, porque historicamente vamos à Câmara e nunca tivemos problemas. Foi um gesto simbólico de racismo”, reclamou.
Durante o debate sobre a Reforma Administrativa, em agosto do ano passado, a professora Lélica Lacerda foi hostilizada e ameaçada após apresentar um debate sobre decolonialidade. “A despeito da docilidade que se espera da mulher, e a voz dela não tinha essa docilidade, que não é um atributo feminino, embora queiram dizer que é, essa professora fez uma fala absolutamente qualificada sobre colonização, o modelo de colonização que nós ocupamos e como isso reflete nas sociedades contemporâneas, sendo sua linha de pesquisa. Desvirtuaram a fala da professora, ela foi ameaçada, disseram para ela nunca mais pisar em Sinop, inclusive por meio da imprensa local. Foram falas absurdas, violentas, descontextualizando absolutamente a intervenção da professora. O próprio vereador presidente da Câmara quis trazer a questão do racismo reverso, também com base na fala da professora”, contou Silva.
Houve também, em maio de 2021, o episódio dos outdoors, que foram derrubados a motosserra porque faziam críticas ao Governo Bolsonaro, expondo a alta de preços, os altos índices de desemprego e a negligencia do Governo Federal com relação à pandemia. “Nesse episódio chamou a atenção o monopólio da mídia, que está nas mãos de particulares que se negam a fazer qualquer coisa que critique o governo. Os outdoors foram vandalizados, destruídos, depredados. Quem assinou os outdoors foi perseguido na cidade de todas as formas possíveis, repreendido, fotografado em ambientes, mapeados por pessoas do Movimento Conservador” afirmou Silva, como que fazendo um pedido de socorro.
O mandato da vereadora Graciele não chegou a assinar os outdoors, mas a vereadora sofreu diversos ataques e violências políticas, especialmente com relação aos projetos de lei apresentados, em sua maioria reprovados pelos colegas. Entre as propostas estava a elaboração de um o mapa da violência contra a mulher e a Lei Maria da Penha municipal - que admitia prioridade para mulheres na reinserção no mercado de trabalho e no programa de habitação, considerando que pensar no fim da violência contra a mulher é, também, garantir condições de sustentarem suas casas.
Silva contou, ainda, que no início da legislatura atual, o Conselho da Mulher foi coagido a retirar as palavras “transversal” e “equidade de gênero” de todo o seu estatuto para conseguir aprovar outras alterações necessárias à época. A coerção teria sido feita dentro da Câmara, mas as vítimas não denunciaram por medo.
Outro fato preocupante foi a retaliação da Câmara Municipal e da Prefeitura de Sinop à pintura da Greta Thunberg, feita entre setembro e outubro de 2019. “Em Sinop, hoje, é proibido pintar qualquer pessoa sem a aprovação dos homens da Câmara. Esses mesmos que fizeram duas menções honrosas à Bolsonaro. Esses homens, inclusive, dão entrevistas e dizem para quem quiser ouvir que são bolsonaristas, todos os 14, só a mulher que não é. É um posicionamento claro deles”, destacou a professora.
Outro ponto foi a polêmica acusação, por parte de alguns vereadores, ao governo da prefeita Rosana Martinelli (2017-2020), porque foi uma gestão de mulheres. Após observações sobre os comentários machistas, os vereadores tentaram dizer que, em suas casas, quem manda são suas esposas, mas não adiantou.
Por fim, a professora destacou outro fato histórico relevante: um esforço conjunto para ignorar a presença de indígenas na região. “No museu de Sinop, quando ele era aberto, só havia homens brancos na história de Sinop a partir da colonização. Mesmo existindo trabalhos dizendo que havia indígenas aqui, que as castanhas teriam sido plantadas por indígenas. Quando da escavação da usina, acharam um sítio arqueológico com vários artefatos de cerâmica que sumiram sem nenhuma explicação à população sinopense. O município não quis ficar com esses artefatos porque teria que assumir que aqui, sim, foi terra de povo indígena, e assumir historicamente o que foi que fizeram com esses indígenas. O impacto prático disso seria assumir as contradições do Agro, desse modelo colonialista e parar de negar, reiteradamente, saúde a esses indígenas, alegando que não há indígenas, tentando minar a Casas de Apoio a Saúde Indígena (CASAI) de Sinop. Há sempre dificuldade de encaminhamento dos indígenas na rede municipal por causa disso. Sinop é o único polo da região que tem média e alta complexidade. O que há mesmo é falta de vontade do município em atender a esses indígenas. Mas nós precisamos que Sinop assuma que aqui é terra de povo Kayabi”, finalizou a docente.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind