Quarta, 16 Dezembro 2020 15:42

 

Na reunião do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Consepe) que começou na segunda-feira, 14/12 e terminou na terça-feira, 15/12, os conselheiros da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) aprovaram a obrigatoriedade da flexibilização durante a pandemia. A íntegra do texto da resolução será: “Deverão ser ofertadas pelos Colegiados de Curso as disciplinas/componentes curriculares obrigatórios contidos no PPC [Projeto Político Pedagógico] remotamente por meio de TICs [Tecnologias de Informação e Comunicação], observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais e os indicativos da Comissão Covid UFMT”.

 

Contraditoriamente, a reunião que aprovou a obrigatoriedade do ensino remoto, desconsiderando diversas questões humanas e tecnológicas que envolvem a comunicação à distância, foi bastante marcada pelas manifestações de diversos conselheiros que, a todo momento, demonstraram dificuldade de compreender o debate ou votar. Ao não conseguirem votar, acabaram justificando seus votos. A íntegra da reunião está disponível no site da instituição.    

 

Apesar de todos os apelos de estudantes e docentes, reafirmando que muitos discentes, não terão condições de acompanhar as aulas, passou a defesa de que a universidade deve aderir ao “novo normal”, como se nada estivesse acontecendo – isto é, como se houvesse qualquer normalidade numa pandemia.

 

Entre outros argumentos, o representante discente Wesley da Mata alertou que a obrigatoriedade de ofertarem as disciplinas, que aparentemente seria aos docentes, obrigará também a participação de estudantes bolsistas, que poderão perder o benefício caso não consigam acompanhar as aulas. Não adiantou.

 

Diante da leitura da Carta Aberta da Adufmat-Ssind ao Consepe, alguns conselheiros e o reitor se mostraram irritados, dizendo que o sindicato não poderia interferir nas discussões do Consepe. “O sindicato tem um papel importante na defesa do trabalhador, quem vai defender o trabalhador não é o governo, não é o Consepe, não é a universidade, é o sindicato. Mas não é papel do sindicato gerir a universidade. É muito fácil não estar na gestão e pedir para fazer fala toda hora”, reclamou Evandro Soares.  

 

O sindicato, no entanto, mantém sua postura de participar ativamente de todas as discussões que interessam à categoria, à comunidade acadêmica e aos trabalhadores, independente de burocracias e espaços institucionais. Foi assim que, nas últimas semanas, o sindicato conseguiu adiar a discussão sobre a Resolução 158/10, fundamental para os professores, e que exige amplo debate na base, para abril de 2021; foi assim que o direito à progressão não acabou se tornando uma dívida para a categoria; e é assim que a Adufmat-Ssind segue questionando:

 

1. Qual suporte a universidade dará a professores, técnicos e discentes em temos de equipamentos (computadores, acesso à internet, conta de energia, etc.)? Ou o entendimento é o de que professores, técnicos e estudantes terão que arcar de seus bolsos com esta estrutura mesmo num contexto de arrocho salarial?


2. O que a universidade fará com os professores, técnicos e estudantes que não possuírem condições de trabalho ou estudos?

3. Qual será o investimento em equipes de profissionais de informática e comunicação para ofertar suporte na gravação de aulas, bem como disponibilização destas em meio virtual?

4. Qual investimento a universidade está fazendo em sistemas informacionais para que o AVA e demais sistemas suportem o fluxo de informações de todo ensino sendo feito de forma remota?

5. Como serão feitas as disciplinas que demandam atividades presenciais num contexto em que o mundo entra em segunda onda da pandemia?

6. A universidade possui um plano para a oferta de EPIs aos profissionais e estudantes?

7. Qual o plano de reformas estruturais (como instalação de janelas e meios de ventilação de ar) que a Universidade tem para viabilizar atividades presenciais com segurança sanitária?

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

 

Sexta, 13 Julho 2018 11:01

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Vinicius M Pereira dos Santos*
  

Acordo bem cedo para tomar um café reforçado: café preto ralo e dois pães adormecidos com margarina. Tomo um banho, correndo, a água tava muito fria. Melhor roupa e tênis, pronto. Pego a garrafa d’água reciclada na geladeira, já posso ir.

Depois de hora de caminhada no meio das tortuosas quebradas, só quem mora aqui a muito tempo não se perde, chego no ponto do busão. Passa o primeiro, lotado, nem fez que ia parar.

Depois de mais um lotado pego o terceiro, não menos lotado, afinal ninguém quer chegar atrasado ao nosso encontro de domingo, o bem-dito ENEM.

Durante a viagem tento espantar a ansiedade, o nervosismo o medo de mais uma tentativa. A pontuação tem que dar para um curso, qualquer curso, numa universidade pública, pagar mensalidade nem pensar. Já basta a passagem e a alimentação.

Hora e meia de viagem, depois de uma baldeação e rezando para não quebrarem, chegamos. Entro, sento e enxugo o suor que escorre pelo rosto.

Depois de todo blá, blá, blá, pego o caderno e começo a folhear e lá estavam elas, as belezuras das questões de matemática.

A primeira começa assim:

“Uma família resolveu comprar um imóvel num bairro cujas ruas estão representadas na figura. As ruas com nomes de letras são paralelas entre si e perpendiculares às ruas identificadas com números. Todos os quarteirões são quadrados, com as mesmas medidas, e todas as ruas têm a mesma largura, permitindo caminhar somente nas direções vertical e horizontal. Desconsidere a largura das ruas”.

Depois desse belo texto explicativo vem uma figura, um quadriculado representando as ruas horizontais e verticais, pronto para um jogo de damas.

Continuando a questão:

“A família pretende que esse imóvel tenha a mesma distância de percurso até o local de trabalho da mãe, localizado na rua 6 com a rua E, o consultório do pai, na rua 2 com a rua E, e a escola das crianças, na rua 4 com a rua A.

Com base nesses dados, o imóvel que atende as pretensões da família deverá ser localizado no encontro das ruas”.

Depois disso vem as opções de a a f. Claro que escolhi a c, tava bem no meio! Não era isso que queriam?!?

Mas que cidade é essa onde os quarteirões são perfeitos quadrados e o mapa tão bem quadriculado, Só pode ser aquelas “cidades” rabiscada no papel quadriculado que usamos para jogar batalha naval. Mas aí é jogo né, vale tudo.

Queria ver encontrar o barraco que está a mesma distância do córrego do Gambá, a boca de fumo e a entrada da favela, local das batidas da polícia! Porque clínica, escola e muito menos local de trabalho é que não existem lá.

Como se não bastasse a próxima questão é mais provocativa:

“Um senhor, pai de dois filhos, deseja comprar dois terrenos, com áreas de mesma medida, um para cada filho. Um dos terrenos visitados já está demarcado e, embora não tenha um formato convencional (como se observa na Figura B), agradou ao filho mais velho e, por isso, foi comprado. O filho mais novo possui um projeto arquitetônico de uma casa que quer construir, mas, para isso, precisa de um terreno na forma retangular (como mostrado na Figura A) cujo comprimento seja 7 m maior do que a largura”.

Até aqui já temos muito pano pra manga, como diz minha mãe, já que pai nunca vi.

Imagina, ter um pai! Além disso, ele cheio da mufunfa pra gasta comigo e meus irmãos?!? Isso que seria ganhar na mega sena, um pai com dinheiro!!!

Olha, dos meus sete irmãos nenhum conhece um arquiteto, mas sabem que existem porque em muitas das obras onde trabalharam como servente tinham lido na placa Projeto Arquitetônico de fulano de tal. Até teve um que sonhava com o irmão mais novo, eu, fazendo arquitetura para desenhar umas plantas menos complicadas pra construir.

Como seria ter um arquiteto em cada ocupação de uma nova favela? Será que os barracos seriam mais bonitos? Mais espaçosos? Com cômodos para todos não precisarem estender todas as noites suas camas no chão? Como seria bom ter um arquiteto nessas horas.

Puxa vida, eu aqui sonhando e o tempo correndo entre ruas e barracos. Paro por aqui, o resto é resto, como resto de conta matemática, ou troco quando se vai comprar um único pão com moeda de um Real.
 

*Vinicius M Pereira dos Santos
Departamento de Matemática

Quarta, 31 Janeiro 2018 08:59

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. em Jornalismo pela USP/Professor da UFMT

Em meio a um agitado período político, a última semana de janeiro foi aberta com a informação de que o MEC divulgaria – como, de fato, o fez – a lista dos aprovados, em 2018, no SISU (Sistema Integrado de Seleção Unificada).

Conforme matéria da Folhapress (29/01), estavam sob disputa 239.716 vagas distribuídas em 130 instituições de ensino superior público, incluindo os institutos federais. Para participar da seleção de vagas, os candidatos tiveram de prestar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2017 e não ter zerado a redação.

Na mesma matéria, é dito que “As inscrições ocorreram entre os dias 23 e 26 de janeiro no site do Sisu. Na página do MEC, o estudante consultou as vagas disponíveis, as instituições participantes e os seus respectivos cursos. Ao longo das inscrições, o sistema também divulgou a nota de corte de cada curso como uma referência para os candidatos optarem por cursos aos quais tinham mais chance de aprovação”.

A parte final do parágrafo acima tem sido naturalizada, mas não poderia ser. Nenhum candidato ao ensino superior deveria optar por cursos aos quais tivessem chances de aprovação advindas de mera pontuação num sistema. Isso equivale àquela escolha abominável do tipo em que “a mensalidade cabe no bolso”. O SISU é relativamente novo entre nós. Também por isso, mas não somente, o problema ainda não tem sido percebido da forma como deveria.

O SISU, e eu já registrei isso em outros momentos, está no mesmo conjunto das desobrigações de decisões mais responsáveis por parte das novas gerações. A responsabilidade disso, obviamente, é dos mais antigos, que não se opuseram com a devida força às imposições governamentais sobre os rumos da educação. As gerações mais novas, em geral, acabam sendo vítimas disso.

Explicando: escolher um curso superior não poderia se parecer com a escolha de quais alimentos quero para o meu prato, quando estou em restaurante fast food. Tampouco esse momento poderia se parecer com algo que lembrasse jogos de azar.

O SISU, como sistema integrado, desobriga o jovem a escolher seu futuro curso superior pelo motivo que deveria ser óbvio: afinidade acadêmica. A maioria acaba “escolhendo” o que tinha para hoje; ou seja, o que os pontos do sistema davam para aquele momento. Problemas à vista.

Por isso, não raro, um aluno que gostaria de cursar, p. ex., Direito, para não perder a vaga em uma federal, pode “escolher” Biologia, Matemática, Física etc. Em muitos casos, os pontos disponíveis de determinado candidato não são suficientes sequer para opções a curso de área afim.

Resultado: em geral, esse tipo de “escolha” é o caminho do fracasso acadêmico e do desperdício do dinheiro público. A falta de afinidade pode trazer problemas de várias ordens. A mais comum é o desânimo de vencer dificuldades que podem aparecer. Como consequência, problemas psicológicos podem ser desencadeados facilmente; e são. Antes dele, no âmbito público, a evasão é outro registro recorrente, mas as universidades estão fingindo que nada está acontecendo; e está.

Enfim, mais do que nunca, as universidades vivem dias complexos. Com a perda gradativa da autonomia para a realização dos antigos vestibulares e com a consequente presença do ENEM e Sisu, aliás, duas das imposições dos governos petistas, os cursos de licenciatura, principalmente, mas não apenas eles, passam por visível momento de desestímulo e esvaziamento.

Pergunto: até quando continuaremos a fingir que o ENEM e o SISU não são problemas graves para as universidades brasileiras?

Quarta, 02 Agosto 2017 16:30

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) arguições de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra leis municipais que visam vedar políticas e ações de educação com informações sobre gênero e diversidade sexual. 

Para Janot, a competência dos municípios na legislação da educação é suplementar e deve ser realizada em consonância com as diretrizes fixadas pela União. Além disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional inclui, nos princípios do ensino nacional, o respeito à liberdade, o apreço à tolerância e o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas.
 
As arguições foram feitas a partir de representação da procuradora federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), Deborah Duprat. Elas pedem para que sejam declaradas inconstitucionais normas dos municípios de Cascavel (PR), Paranaguá (PR), Blumenau (SC), Palmas (TO), Tubarão (SC) e Ipatinga (MG). Em 22 de maio, o PGR já havia apresentado ao STF a ADPF 457, que questiona dispositivo parecido em Novo Gama (GO). 

Segundo o procurador-geral da República, além da usurpação de competência da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional, essas leis adotam, como fundamento, conceitos discutíveis, os quais ferem o princípio constitucional de igualdade de gênero. “Ao vedar que qualquer dimensão do ensino trate de temas de gênero, reforça o paradigma heteronormativo e rejeita a diversidade sexual”, afirma Janot. 

Seguindo a argumentação, o PGR pontua que a abordagem de conteúdos ligados ao gênero e orientação sexual não significa contraposição com o papel da família e o de outras comunidades. “Os valores e concepções que crianças e adolescentes possam haurir nesses espaços de convivência complementarão o processo pedagógico do ambiente escolar e os auxiliarão a formar suas convicções”, argumenta. 

Cautelares
Em todas essas ações, o procurador-geral da República requer concessão de medidas cautelares (liminares) para suspender a eficácia das normas. Ele entende que princípios constitucionais como a laicidade e o pacto federativo são afetados com a vigência das mesmas. Para Rodrigo Janot, a concessão das liminares é necessária para que o perigo na demora processual não acarrete em danos irreparáveis ao direito à igualdade, ao direito de liberdade de aprender, de pesquisar e de ensinar e ao pluralismo de ideias. 

“A lei, ademais, ao sonegar dos estudantes discussão sobre temas concernentes a sexualidade e a gênero, contribui para perpetuar a cultura de violência, tanto psicológica quanto física, contra vastas parcelas da população LGBT do País, com o que se distancia do objetivo constitucional de “construir uma sociedade livre, justa e solidária (artigo 3º, inciso I)”, conclui.

Decisão inédita
Em decisão inédita, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu à solicitação da procuradoria-geral da República no mês passado e suspendeu, em caráter liminar, a lei do município de Paranaguá (PR), que proíbe o ensino e menção sobre gênero e orientação sexual nas escolas do município. Para o juiz Barroso, proibir o ensino desses temas significa impedir a superação da exclusão social. A decisão se refere à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 461). 
 
Por uma escola sem mordaça
O ANDES-SN integra, desde o ano passado, a Frente Nacional Escola Sem Mordaça, que tem por objetivo combater projetos de lei, em especial os baseados no programa “Escola sem Partido”, e demais medidas que visem cercear o direito de livre pensamento nas escolas brasileiras.  O Sindicato Nacioanl é crítico a qualquer lei que queira impedir o debate de temas importantes na educação, e também é contrário a qualquer tentativa de amordaçar docentes e ferir a autonomia de cátedra. 



Fonte: ANDES-SN (com informações da PGR)

Terça, 23 Fevereiro 2016 14:19

Em debate sobre novas perspectivas da educação brasileira, educadores debatem fechamentos, privatização e analfabetismo.

32.512 escolas foram fechadas nos últimos 10 anos. Em áreas rurais, o número de escolas fechadas foi de 4.084 somente em 2014. As informações são de Cristina Vargas, do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“No campo brasileiro a educação é pensada a partir da necessidade de não existir gente no campo”, disse a educadora durante o debate “Por mais escolas de qualidade: contra o fechamento de escolas e a privatização do ensino”, organizado pela Associação de Amigos da Escola Florestan Fernandes (Aaenff)

Vargas, comentando uma campanha lançada pelo setor de educação do MST chamada “Fechar escola é crime”, é enfática ao falar sobre o tema: “nós temos que trabalhar com o que a sociedade entende por crime, e fechar escola é um crime contra o projeto de país que queremos”.

O termo “crime” utilizado no nome da campanha foi usado para pensar quais são os efeitos que a ausência de uma educação de qualidade e o fechamento de podem acarretar para a sociedade.

“É importante você trabalhar com o que causa as desigualdades. Ao invés de reivindicar para o estado um aumento de policiais, que se resolva a causa do problema. O que está causando isso? Esse é o esforço que temos que fazer”, disse Vargas.

Ela lembra das ocupações que ocorreram em São Paulo e avalia a importância de se ampliar o debate. “A brava luta dos estudantes aqui de São Paulo, tem motivado todo o país a pensar a educação, é importante a gente politizar esse debate em nossa nação”.

Ao lado dela, o doutor e pedagogo da Universidade de Campinas (Unicamp), Dermeval Saviani, analisou a história da educação e os efeitos da privatização do ensino no Brasil. “Desde a colônia, os professores recebem esmolas”, brinca ao avaliar a trajetória dos docentes no país.

Privatização

Saviani explica que a privatização da educação superior se intensificou a partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O pedagogo conta que ampliar o número de universidades privadas não foi o único meio de privatização.

“Há prefeituras que descartam o material didático entregado gratuitamente pelo MEC, selecionados a partir de critérios acadêmicos, e compram pacotes dessas empresas conhecidas por formar alunos para vestibular”, conta o professor. “O argumento dessas prefeituras é que com esses pacotes elas vão conseguir melhorar o nível de avaliação da escola”.

Para ele, este modelo de educação, ditado por empresas afeta a qualidade do ensino, “porque desvia as escolas e educação de seu objetivo de esclarecimento, do nível de conhecimento e de consciência popular e a subordina aos interesses comerciais e empresariais”. Ele também diz que esta forma de educar se limita a aprender a se adequar à ordem e não busca mudanças sociais profundas.

Agronegócio

 
Foto Crédito: Victor Tineo  

Cristina Vargas comenta que o mesmo modelo é aplicado no campo, mas acaba sendo intensificado pela presença das multinacionais do agronegócio e mineração na construção da educação: “quem tem determinado o conteúdo das aulas são as grandes multinacionais. No caso do campo a gente pode dizer que é a Monsanto, a Syngenta, a própria Vale”.

Ela conta que essas empresas têm participado junto às prefeituras da produção do material escolar. “Em várias prefeituras que nós temos consultado, essas empresas estão fazendo consultorias, quem tem feito a elaboração do material escolar são essas empresas”.

“Isso atinge a cidade porque a concepção que tem nesse material é que o veneno não é algo prejudicial à saúde se aplicado da forma correta. E isso naturaliza a morte”, criticou Cristina.

Ela diz que estes materiais disponibilizados pelas empresas passam a concepção de que um alimento bonito é mais importante que um alimento saudável, valorizando a sua aparência e não a forma como é produzido.

“A luta por escola pública deve discutir que o conteúdo dessa educação seja pública. A gente do campo tem percebido a privatização por dentro do Estado do que o trabalhador e trabalhadora irá estudar“ discursa a educadora.

Alfabetização

Outro tema abordado por ambos debatedores foi a alfabetização. “O fato de termos 14 milhões de analfabetos deveria incomodar a sociedade” afirma Vargas. Para ela, é necessário que todos avaliem esta questão: “é um problema não do analfabeto, mas sim da sociedade, por não ter ninguém que olha para essas pessoas”.

Ela jconta que não são apenas os trabalhadores braçais e rurais que não aprenderam a ler, mas que trabalhadoras e trabalhadores da periferia e jovens são grande parte desse número.

“É errado a gente pensar que o analfabeto não quer aprender a ler, todos querem, mas essas pessoas são invisibilizadas, não esta escrito na testa de ninguém que a pessoa sabe ou não ler”, explica ela.

Saviani alertou que é necessário que o processo de alfabetização se inicie desde os primeiros anos de colégio. Outro ponto levantado por ele é que o único fator que vem acabando com a analfabetização entre os mais velhos é a morte, já que nao há políticas públicas voltadas para esse público.

Ele defende que é necessário reduzir drasticamente este número de forma urgente: “a gente pode entrar no século 22 com problemas que outros países resolveram no século 19”.