Quarta, 24 Maio 2017 10:21



Pra não dizer que não falei das flores!

 

Qelli Rocha*


Aludindo à música de Geraldo Vandré, e com toda licença poética que nos é permitida, necessitamos falar um pouco sobre o processo em que nós mulheres temos passado ao nos inserirmos na luta sindical e na luta classista, objetivando a superação da sociabilidade patriarcal burguesa capitalista.


Mesmo antes do 36º congresso do Andes sediado pelo Adufmat, nós mulheres sindicalizadas, participantes dos movimentos sociais e estudantil de Cuiabá, já denunciávamos o quão agressivo, abusivo e muitas vezes violento é o processo de inserção na “Luta por dentro da Luta”.



A máxima da compreensão de que a categoria classe abarcaria como uma totalidade não contraditória e antagônica o combate às opressões, fez com que, por muito tempo, a inscrição das singularidades dos sujeitos constituintes de uma determinada classe social não tivessem suas identidades unitárias reconhecidas. Assim, mesmo sendo a classe uma totalidade parcial, ficamos (e de certa forma, ainda estamos) escamoteadas/os a uma ínfima parte no processo de construção de uma nova sociabilidade.



O agravamento da Questão Social, evidenciado pelo desenfreado crescimento do desemprego estrutural; os cortes salariais; a violação dos direitos outrora assegurados e conquistados pelos trabalhadores e o desmonte das políticas públicas de cunho universalista expressam esta conjuntura. Entretanto, nos espaços de luta há certo desdouro sobre a compreensão de que a classe trabalhadora tenha “dois sexos” e, neste sentido, é exigido do sexo feminino, denotadamente, sua nulidade.



Destarte, mesmo que no plano real as contrarreformas ora em curso se materializem demasiadamente sobre nós mulheres, gays e negros¹, uma vez que incidirá sobre as condições de precarização de postos de trabalho hoje por nós já ocupados hegemonicamente; em relação ao trabalho doméstico constituímos a categoria que executa contínua jornada de trabalho, posto o aumento da tendência de crescimento das famílias monoparentais, especialmente as formadas por mãe+filhos, que resulta no aumento de horas de trabalho doméstico.

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Elaboração: Dieese10

Economicamente somos a população com menores rendimentos médios; ocupando os postos rotativos, permanecemos por menor tempo cerca em média 37
meses no mesmo trabalho, período inferior ao dos homens, que é de 41,7 meses (RAIS 2014). Encontramos dificuldades quanto ao acesso a bens e serviços públicos relacionados, como creches e instituições para cuidados com idosos e enfermos.



Se alcançamos a idade de 82 anos em termos de expectativa de vida, não é graças às condições objetivas e materiais, pois a população masculina constitui cerca de 8% a mais da população abarcada e protegida pela aposentadoria. De acordo com Batista (2016), em 2014, dos 90 milhões de pessoas ocupadas no Brasil entre 16 e 59 anos, 65,3 milhões estavam protegidas socialmente. Para o total de idosos, enquanto a proteção dos homens atinge 86,1% (10 milhões), a das mulheres é estimada em 78,5%, (11,5 milhões). Desse total de idosas protegidas, 7 milhões (61%) são aposentadas, 2,3 milhões (20%) pensionistas e 1,7 milhão são aposentadas e pensionistas. Essa diferença de proteção reflete a forma de inserção das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas, em condições mais precárias e sujeitas a maior grau de vulnerabilidade, evidenciando não só o crescimento da população idosa, como também
a “feminização” da velhice.


No plano de luta, nas organizações sindicais e classistas, nossa singularidade continua a ser diminuída. Em nome de certa ordenação e manutenção de uma classe homogênea, negam-se a compreender que o quadro apresentado é de uma heterogeneidade, fragmentação e complexificação dos trabalhadores (ANTUNES, 2007).


Entretanto, com a constituição do Grupo de Trabalho de Política de Classe para as Questões Étnico-raciais, de Gênero e Diversidade Sexual – GTPCEGDS da seção ADUFMAT- Andes, compreendendo que se torna imprescindível situar tais discussões no cenário regulado pelo capital, cujo sistema tem tido inúmeras ressonâncias e provocado diversos significados para a compreensão da realidade social; apontamos que, na atualidade, ao se abordar a categoria trabalho é necessário abordagem das relações sociais de gênero, sendo necessário compreendê-las e apreendê-las como manifestações da Questão Social.


Neste sentido, deste nossa implementação, logo após o 36º Congresso do Andes, constituindo politicamente o GT nacionalmente, temos atuado no planejamento estratégico: participamos em duas reuniões do GT em Brasília ( nos dias 18,19 e 20 de Março e agora entre os dias 19 e 21 de Maio), contribuindo com pautas políticas e estabelecendo interlocução com o movimento social de mulheres da UFMT e de Cuiabá, bem como com o movimento estudantil. Participamos da construção coletiva da greve internacional do 8º de Março por meio de nossa atuação na Frente Mulheres em Luta!. Estamos construindo o Seminário de Combate às Opressões, previsto para ocorrer em Agosto do ano corrente. Atuamos na revisão e ampliação da cartilha de combate as opressões que será reeditada e lançada no próximo CONAD. Contribuirmos com Curso nacional de formação política e Sindical Movimentos sociais, exploração, opressão e revolução _ Facilitando a discussão sobre: Mulheres, opressão pelo viés de classe na perspectiva revolucionária, realizado em Fortaleza-CE. Fomos para as ruas denunciar as violações aos nossos direitos dia 28 de Abril. Contribuiremos com a Marcha contra as opressões da UFMT que ocorrerá dia 06 de Junho. Sediaremos, em conjunto com o campus de Sinop, a apresentação da Cartilha de Combate às Opressões do Andes (entre os dias 05 e 06 de junho do ano corrente), momento em que também ocorrerá a mesa: “Lugar de Mulher é Onde ela quiser: A participação da Mulher no Espaço Sindical – Desafios e Possibilidades!”. Denunciamos as situações de assédio moral e sexual nos campis por meio do fortalecimento dos sujeitos sociais e coletivos inscritos na UFMT e fora dela.


Desta forma, enfrentando o machismo, homofobia, racismos e todas as formas de opressão avisamos: o GTPCEGDS veio pra ficar e convidamos todas(os) para dele participar! Para não dizer que não falamos em flores, advertimos que nossa construção identitária classista nega o binarismo dicotomizador que estabelece e ratifica o lugar de privilégio do macho usurpador!

¹O que chamarei aqui, de populações mais subalternizadas, pois é próprio e estratégico do patriarcado capitalista burguês tornar parte da classe da trabalhadora assim!

*Qelli Rocha é professora do Departamento de Serviço Social – ICHS Cuiabá. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a organização da mulher e relações de gênero (NUEPOM) Membro do GTPCEGDS .

 

Quinta, 26 Janeiro 2017 19:33

 

Na primeira plenária temática do 36º Congresso do ANDES-SN “Movimento Docente, Conjuntura e Centralidade da luta”, os mais de 460 participantes do Congresso debateram as lutas travadas no último período, os desdobramentos do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o recrudescimento do conservadorismo e a intensificação da retirada de direitos, a partir do governo de Michel Temer.

 

Em comum nas diversas análises apresentadas pelas falas dos autores dos textos de apoio apresentados no Caderno do 36º Congresso, a necessidade da construção de uma ampla unidade com os diversos segmentos da classe trabalhadora para barrar os retrocessos dos direitos sociais, pelo Fora Temer e rumo à construção da greve geral.

 

Durante os debates e propostas de alteração do texto aprovado, alguns dos participantes apontaram a necessidade de identificar as entidades com as quais o ANDES-SN irá construir a luta, o que foi rejeitado, no sentido de ampliar as possibilidades de articulação da unidade. 

 

Após debates, foi aprovada como centralidade da luta do Sindicato Nacional para 2017: “Defesa dos serviços públicos e do projeto de educação do ANDES-SN, referenciado no Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira, lutando pela autonomia e valorização do trabalho docente, construindo ações na luta contra a intensificação da retirada de direitos, contra a apropriação do fundo publico pelo capital, e a criminalização dos movimentos sociais e todas as formas de opressão. Intensificação do trabalho de base, em unidade com a CSP-Conlutas, as entidades da educação e demais organizações do campo classista, na perspectiva da reorganização da classe trabalhadora, pelo Fora Temer e da construção da greve geral”.

 

Para a presidente do ANDES-SN, Eblin Farage, a centralidade da luta aprovada mostra o caminho que o sindicato já está trilhando que é o de combater toda e qualquer retirada de direitos, identificando que neste governo houve uma intensificação dos ataques aos trabalhadores, e que, nesse sentido, é necessária uma ampla articulação entre os diferentes segmentos da classe trabalhadora. “É muito importante que tenhamos aprovado uma centralidade da luta em que conste que nós temos que nos articular com as entidades da educação e do campo classista na perspectiva do Fora Temer e da construção da greve geral. É uma centralidade da luta que nos permite continuar construindo a unidade, lutando contra a retirada de direitos e buscando avançar na reorganização da classe trabalhadora, em defesa da educação pública”, avaliou.

 

Números do 36º Congresso


Ao todo, 467 docentes de 73 seções sindicais participam do 36º Congresso do ANDES-SN, que acontece até sábado, na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, sendo 356 delegados, 70 observadores, 4 convidados e 37 diretores nacionais. 


Fonte: ANDES-SN