Quinta, 17 Setembro 2020 18:07

UM PAÍS PEGANDO FOGO - Roberto de Barros Freire

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Roberto de Barros Freire*
 

Norte e Centro-Oeste pegando fogo e o governo reclamando do INPE, como se fosse um organismo mentiroso (quando na verdade desfruta de reconhecimento técnico e científico internacional) e não um termômetro que mede os focos de queimada e desmate, ou, pior, o vice-presidente e o ministro do meio ambiente mostrando um filme mentiroso de uma Amazônia inexistente, com mico leão dourado, animal típico da mata atlântica do Rio de Janeiro. Enquanto isso assistimos as cinzas dessa parte do país chegando no Sudeste e no Sul. No Rio Grande do Sul caiu uma chuva negra de cinzas vinda do pantanal e da Amazônia. São Paulo e Curitiba com o céu avermelhado da fumaça de queimadas que estão ocorrendo por toda parte, até mesmo no Sudeste e no Sul. E o filminho governamental dizendo em tom infantil “vocês estão sentindo a fumaça?”; ora, nos estamos cheirando fumaça pelo país inteiro, e não apenas na Amazônia.


Só o governo não percebe a sua ineficiência, a sua omissão, o seu pouco cuidado com nossas matas, nossos cerrados e nosso pantanal, tudo na mão de incompetentes. Só o governo não vê que o desmonte que realizou nos organismos de controle e fiscalização do meio ambiente é o responsável pela vida sem lei que agora ocorre nas regiões interiores, onde as pessoas se sentem liberadas para colocar fogo e derrubar a mata; não há fiscalização nem multas, e todos se sentem à vontade para destruir tudo para fazer pasto e plantação, ou montar um garimpo e extrair madeira.


Um país sem governo, sem lei, sem iniciativa, que corre atrás de resolver problemas que não deveriam ocorrer se tivesse agido como mandam as leis. Mas, o governo enfraquece a legislação ambiental e, cada vez mais, tira verbas e pessoas competentes dos organismos estatais. Recheando-os de militares incompetentes, mas submissos. O governo não quer técnicos e cientistas, mas seres obedientes que cumpram com as ambições de Bolsonaro, de transformar tudo em garimpo, madeireira, agropecuária ou igreja.


Não temos direção alguma nesse país, tudo corre solto e sem lei. O ministério da educação não tem políticas para enfrentar a pandemia, apenas um ministro achando que os livros  (que os alunos não recebem) é que torna nossos alunos reféns de ideias pessimistas, como se eles fossem os responsáveis pelas crianças abandonarem a religião, e não religiosos e pastores que matam, roubam, enganam, que são politiqueiros, que mais se enriquecem que salvam as almas. Flordelis, o pastor e presidiário Everaldo, João de deus, enfim, religiosos safados é o que não falta, mas o ministro culpa os livros.


Não temos um ministério da saúde com qualquer política nacional, que esteja engajado na resolução da pandemia. Quando muito libera recursos que sobram por má vontade governamental; do total destinado a pandemia, nem metade foi entregue. Não temos um ministério da justiça, tão preocupado está em salvar o presidente e seus familiares dos seus engasgos com a justiça, além de ameaçar qualquer opositor ao governo. Não temos nem um ministério da economia que todo dia é contraditado pelas ideias pouco liberais do presidente.


Enfim, o que temos é um presidente que se mete em tudo sem entender de nada. Que está mais preocupado com a sua reeleição do que com país, que se preocupa mais com sua família suspeita de crimes sérios do que com a população, que quer mais agradar seus seguidores do que as pessoas que estão prejudicadas pela pandemia e com uma ajuda fajuta do governo, que queria dar menos a população e as empresas, mas que foi obrigado a aumentar pela pressão do congresso.


Um país acéfalo, submisso aos interesses norte-americanos, que pouco ou nada interfere nas decisões mundiais ou locais, que deixou de ser uma referência em meio ambiente e direitos humanos para o mundo, e que hoje é uma nação que não se conta nem se consulta, pois ou não tem posição ou tem uma posição equivocada ou meramente atrasada. O país está regredindo em todas as áreas, da cultura à educação, da saúde à economia, com exceção do agronegócio que cresce devido ao resto do mundo, que com o seu enriquecimento acaba consumindo mais alimentos.
 

*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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