Vídeos mostram condução autoritária da reunião que aprovou eleição-intervenção na UFMT
Estudantes, técnicos administrativos e professores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) estão empenhados em demonstrar a total ausência de legitimidade do processo eleitoral para escolha de reitor, aprovado na instituição no dia 17/06/20. Um dos motivos é a ausência de diálogo e o autoritarismo na condução do que deveria ter sido um debate, mas lamentavelmente se tornou um show de cerceamento a falas de conselheiros, recusas a direitos regimentais como a justificativa de voto, e até arena de bate-bocas protagonizados pelo presidente da reunião.
Depois de quase 40 anos realizando a consulta democrática para a Reitoria da universidade, as entidades foram praticamente expulsas do processo eleitoral de 2020, e até agredidas verbalmente pelo condutor da reunião, Luiz Scaloppe, como demonstram os vídeos. Vale destacar que foram as próprias entidades – Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos (Sintuf/MT), Diretório Central dos Estudantes (DCE) e Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind) – que conquistaram, no início da década de 1982, o direito ao voto paritário e universal nas Instituições Federais de Ensino Superior.
As entidades já liberaram dois trechos da fatídica reunião (veja abaixo), mas confirmaram a divulgação de novos cortes que demonstram as inúmeras intervenções autoritárias e desrespeitosas da reunião do dia 17/06. A comunidade acadêmica reivindica prorrogação do mandato do atual reitor, Evandro Soares, e realização do processo nos moldes tradicionais assim que as atividades presenciais sejam possíveis.
Confira os vídeos:
VÍDEO: presidente da mesa atropela conselheiros em reunião que estabeleceu colégio eleitoral para escolha de reitor na UFMT
A reunião conjunta de conselhos realizada no dia 17/06 na Universidade Federal de Mato Grosso foi um verdadeiro show de autoritarismo. Neste vídeo, mais um trecho que representa como a reunião foi conduzida desde o início: conselheiros reclamam de estarem sendo cerceados, e nem mesmo o direito regimental de declarar voto é respeitado.
Adufmat-Ssind, Sintu-MT e DCE solicitam a imediata dissolução do colégio eleitoral estabelecido e a nulidade da reunião do dia 17/06.
VÍDEO: Reunião conjunta silencia entidades na UFMT
Este vídeo demonstra como as entidades que realizam a consulta para reitoria na UFMT há 38 anos foram tratadas na reunião conjunta de conselhos realizada no dia 17/06/2020. O total desrespeito, pressionando o encerramento da intervenção da representante do Sintuf/MT, Marilin Castro, contrastou com a imensa compreensão dispensada às intervenções favoráveis à instalação da Comissão Eleitoral.
Pela autonomia universitária, a UFMT não aceitará imposições sobre a escolha para a Reitoria.
Intervenção não é Eleição! Em defesa da autonomia universitária.
SAIBA MAIS:
O último podcast da Adufmat-Ssind também aborda os problemas na condução da reunião que pode, pela primeira vez, culminar num processo virtual e não paritário para escolha dos dirigentes da UFMT.
Clique aqui para ouvir o podcast.
LEIA MAIS:
ENTIDADES DENUNCIAM: O QUE FOI APROVADO NA UFMT NÃO É ELEIÇÃO, É UMA INTERVENÇÃO POLÍTICA
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
PARA REITOR DA UFMT: VOTE MINHOCÃO DO PARI - José Domingues de Godoi Filho
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Publicamos a pedido do professor José Domingues de Godoi Filho
O Minhocão do Pari, PhD em Confusão no Rio, é a melhor opção para representar o processo eleitoral aprovado na UFMT. "As diabruras do gigantesco bicho, como emborcar canoas para comer pescadores ou provocar rebuliço das águas dos profundos poços nos quais habitava em seus momentos de fúria noturna" retrata perfeitamente o futuro da universidade nas mãos de qualquer um dos candidatos, entreguistas, privatistas e futuros capachos do MEC.
Oposição ferrenha, desde já, em defesa de uma UFMT pública, gratuita, democrática, laica e socialmente referenciada ou ela será vilipendiada e transformada em um laboratório do receituário ultraliberal. Nada de Parceria Público Privada, compliance, métodos de gestão/esculhambação, patentes.
Há 231 anos, no dia 14 de julho, ocorreu a tomada da Bastilha. Vamos iniciar a tomada da "nossa" Bastilha e trazer de "volta o cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar"
Para quem não conhece a lenda cuiabana do Minhocão do Pari, segue o texto do jornalista Nelson Severino.
Minhocão do Pari, uma lenda de mais de 100 anos que continua viva na memória
Por Nelson Severino
As temidas diabruras do gigantesco bicho foram imortalizadas como samba enredo e carro alegórico da Escola de Samba Mocidade Independente
Faz 133 anos que o padre Ernesto Barreto comprou, no distante 1880, uma comprida faixa de terras a montante do rio Cuiabá, na área que passou a ser chamada de Barra do Pari e que deu origem a uma das mais conhecidas lendas de Mato Grosso, a do Minhocão do Pari.
Passado mais de um século, a lenda do Minhocão do Pari continua viva na memória dos moradores mais antigos do local e que para preservá-la vão passando o que sabem sobre o bicho de geração para geração.
As temidas diabruras do gigantesco bicho, como emborcar canoas para comer pescadores ou provocar rebuliço das águas dos profundos poços nos quais habitava em seus momentos de fúria noturna, acabaram sendo imortalizadas como samba enredo e carro alegórico da Escola de Samba Mocidade Independente, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que levou para a avenida Mato Grosso em 85 ou 86 o tema “Lendas e crendices da minha terra natal” e cujo samba foi composto e musicado por Neguinho da Beija-Flor de Nilópolis-RJ.
Os moradores mais antigos da faixa de terras que fica nos fundos dos jardins Santa Amália e Araçá, emoldurada por um grande morro no primeiro bairro e uma bela ilha nas imediações do local onde deságua o Rio Pari, do lado do rio em Várzea Grande, e que chamam de “nosso pedaço de paraíso”, não só conhecem a lenda do Minhocão do Pari.
Como outras crendices que povoam o imaginário popular da região, como uma enorme sucuri que vivia numa lagoa dali e o negrinho que aparecia numa pedra do rio Cuiabá na área da Barra do Pari e, atrevidamente, às vezes até sentava na proa das canoas para deixar os pescadores de cabelos arrepiados.
Quem melhor conhecia a lenda do Minhocão do Pari era Benedito Oscarino Barreto, o Ditão, que construiu a primeira casa da Barra do Pari. Ditão era neto do padre Ernesto Barreto, que tinha oito filhos, e faleceu com 92 anos em 2004.
INÍCIO DA COMUNIDADE
Herdeiro do avô Ernesto Barreto, Ditão, que nasceu e morreu na Barra do Pari, foi comprando áreas que pertenciam a seus irmãos e acabou formando uma pequena comunidade no local, com a construção de umas 20 casas, algumas de alto padrão. Como seu avô sacerdote, Ditão era devoto de São Benedito e inclusive construiu em 1952 uma capelinha na comunidade para homenagear o santo.
Aos 70 anos, dona Josefina Viana, a dona Fiota, sobrinha de Ditão, e em cuja casa vive até hoje, afirma que ele era muito procurado por curiosos para contar histórias envolvendo o horroroso bicho que vivia nas águas profundas de dois poços que existem nas imediações do Restaurante Varandão.
Já Edisseia Barreto, 47 anos, herdeira junto com um irmão, dos bens que Ditão deixou, lembra-se vagamente e de poucas coisas que seu pai contava para a família e visitantes sobre o lendário Minhocão do Pari.
O que se sabe hoje das histórias que foram sendo passadas pelos mais velhos aos seus descendentes que o Minhocão do Pari desapareceu da Barra do Pai com a grande enchente de 1974.
A explicação que alguns moradores da comunidade têm para o sumiço é que a enchente destruiu uma antiga casa onde o Minhocão do Pari enganchava seu rabo, protegido pela vegetação, para reinar soberano nos dois poços de grande profundidade naquela área do Rio Cuiabá. Essa versão é confirmada inclusive por dona Fiota, com base no que ouvia da boca do tio Ditão.
Moradora há 30 anos da comunidade, a comerciante Edith Lúcia da Silva, 68 anos, afirma que nunca viu o lendário Minhocão do Pari, mas que algumas vezes ouviu o barulho provocado pelo levantamento de folhas do fundo do rio, agitação das águas e canoas de pescadores amarradas na vegetação da beira do Cuiabá batendo umas nas outras por causa do violento movimento das águas.
Edith garante que nunca ouviu falar que, pelo menos ali, algum pescador tenha sido comido pelo Minhocão do Pari...
COMPARAÇÕES
Tem gente da Barra do Pari que acha que o Minhocão do Pari na realidade era uma sucuri de tamanho descomunal que vivia numa lagoa das imediações da localidade. A lagoa acabou sendo “sangrada” para aumentar o volume de água do rio Cuiabá, quando começou a construção da barragem de Manso e a sucuri desapareceu.
Sobre essa gigantesca sucuri conta-se que certa vez um pescador precisou atravessá-la para chegar do outro lado para cortar capim para os seus animais. E caminhou um longo trecho sobre o que parecia ser uma árvore.
No outro dia, quando o pescador voltou para buscar mais capim para seus animais, não encontrou mais a travessia na superfície da água. Foi aí que ele entendeu que havia caminhado sobre a sucuri. História de pescador...
"O que estão querendo fazer com essas histórias como a dessa sucuri é desmistificar a lenda do Minhocão do Pari. Mas não vão conseguir. Essa lenda não vai desaparecer nunca", reage um velho pescador que nasceu e vai morrer na Barra do Pari. “Não tem quem me tira daqui”, garante o morador, defensor das tradições da Barra do Pari.
Já falecidos, dois pescadores da comunidade – Libano Zacarias de Souza, o Pituca, e seu Xisto – falavam muito de um negrinho que aparecia com freqüência na Barra do Pari, pregando sustos em quem singrava as águas do Rio Cuiabá naquele trecho. Diziam eles que o lugar preferido da estranha e lendária figura aparecer era numa pedrinha do leito do Cuiabá rio acima, depois do Varandão. Ou então ele emergia do fundo do rio e se sentava na proa das canoas, de onde ficava só olhando para os pescadores, muitos dos quais saíam das águas em disparada e se benzendo...
A comerciante Edith ouviu seu Xisto dizer muitas vezes que quando ele entrava no rio ou já estava pescando e o negrinho aparecia, juntava as tralhas de pesca e ia caindo fora ligeirinho. Não por medo do negrinho, que não falava com ninguém e muito menos fazia algum mal aos pescadores. Ou fazia, sim. Com a sua presença perto ou dentro da canoa, ninguém pegava nada...
O RISCO NÃO É FACILITAR A INTERVENÇÃO NA UFMT; É PERMANECER NELA! - Edson Luiz Spenthof
Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Edson Luiz Spenthof*
ACOMPANHE AGORA A LIVE "Intervenção não é Eleição: em defesa da autonomia universitária"
Nesta segunda-feira, 13/07, as entidades representativas da UFMT conversam com a comunidade acadêmica sobre os motivos que deslegitimam a reunião do dia 17/06, que iniciou a farsa eleitoral para indicar um interventor na universidade.
Sob o tema “Intervenção não é Eleição: em Defesa da Autonomia Universitária”, Diretório Central dos Estudantes (DCE), Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos (Sintuf/MT) e Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind) fazem a exposição dos pontos que comprometeram o processo, explicando porque solicitam a dissolução imediata do colégio eleitoral e adiamento da consulta, para que seja realizada nos moldes democráticos.
A conversa será exibida nas páginas oficiais do Sintuf/MT e Adufmat-Ssind na segunda-feira, 13/07, às 19h. Participe!
Link direto para a Página da Adufmat-Ssind: https://www.facebook.com/ADUFMAT-SSIND-211669182221828
Link direto para a Página do Sintuf/MT: https://www.facebook.com/SintufMT
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Entidades denunciam: o que foi aprovado na UFMT não é eleição, é uma intervenção política
A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) é reconhecida nacionalmente como uma das primeiras do país – se não a primeira - a ter suas consultas para Reitoria com voto universal e paritário respeitada pelos governos. Essa foi uma conquista histórica das entidades representativas de docentes, técnicos e estudantes das universidades federais que sinalizava, já em 1982, a derrocada de 20 anos de ditadura militar e a reabertura democrática.
Trinta e oito anos depois, não haverá eleição na UFMT. Numa reunião conjunta de conselhos universitários realizada no dia 17/06, algumas pessoas, inclusive sem relação direta com o cotidiano da instituição, se sentiram autorizadas a atropelar a história da universidade. Na ânsia de atender o governo federal - que já deixou muito claro sua intenção de indicar para as Reitorias aqueles que se alinham politicamente, e não os escolhidos pelas comunidades acadêmicas -, os presentes formaram um colégio eleitoral para iniciar o que chamaram de processo eleitoral. Mas não é.
A reunião que atropelou a realidade da pandemia e a importância do debate sobre a condução da universidade pelos próximos quatro anos – que certamente serão muito difíceis -, também ignorou a relevância da vontade da comunidade acadêmica e das entidades representativas que conquistaram e garantiram a realização das consultas para a Reitoria por mais de 30 anos. Descrita por docentes como um “lamentável show de horror”, além de cerceamento, as entidades também relataram agressões verbais.
“Nós temos a compreensão de que esse processo está sendo forjado por vias autoritárias, no intuito de se constituir um processo eleitoral viciado que possa legitimar, com uma pseudo aparência democrática, a presença do interventor. Primeiro pela forma autoritária, desrespeitando a histórica conquista da UFMT, que em pleno regime militar realizou a consulta com a votação paritária. Segundo, no meio de uma pandemia na qual a preocupação é salvar vidas, e para isso estamos prorrogando data de eleição para vereadores, shows, olimpíadas, diversos eventos e processos eleitorais, a UFMT decide, de forma autocrática, instituir o colégio eleitoral por meio de uma reunião que não respeitou a tradição democrática de inscrições e debates, totalmente alheia às entidades representativas. Período de pandemia não é período de eleição. A universidade tem autonomia para postergar o mandato do atual reitor e, só após a pandemia, realizar as eleições conforme a tradição democrática conquistada, construída e defendida pela UFMT. Nós não precisamos que alguém de fora venha impor uma falsa solução”, afirmou a diretora da Adufmat-Ssind, Lélica Lacerda.
A diretora ressalta que autonomia universitária é muito mais do que o simples ato de votar. A votação, sem debate e sem exposição do contraditório, serve apenas para dar legalidade a algo. Legalidade, inclusive, citada pelo condutor da reunião do dia 17/06 como se não houvesse a prerrogativa constitucional de autonomia das universidades.
Além disso, a Adufmat-Ssind desconfia dos meios que a universidade dispõe para realizar o “processo eleitoral”. “Nós não confiamos nas ferramentas da universidade. Não temos segurança de que os resultados seriam fiéis. E mesmo se tivéssemos, como confiar em algum processo imposto de forma autoritária? Esse autoritarismo, essa agressão, recai sobre professores, técnicos e estudantes. Como acreditar nisso?”, questionou a professora.
Alguns pré-candidatos à Reitoria, que há meses dialogavam sobre suas propostas com a comunidade acadêmica, também retiraram as candidaturas, justamente porque desconfiam da forma como foi imposta a constituição do colégio eleitoral e da metodologia antidemocrática adotada para a escolha – não paritária, via conselho e online. No entanto, após a abertura do processo de candidatura nos moldes questionados pela comunidade acadêmica, curiosamente, surgiram dois candidatos que fazem parte do grupo flagrado num vídeo em que Abraham Weintraub, então ministro da Educação, garante que bastaria qualquer um deles estar na lista tríplice, independente da colocação, para ser nomeado. A visita do ex-ministro à Cuiabá foi em setembro de 2019.
Quase 70 mil mortos... mas e daí?
Essa semana, o Brasil superou a triste marca de 67 mil mortes causadas pela Covid-19. Mais de 1,6 milhão de pessoas passam pela ansiedade de estar com a doença. No estado de Mato Grosso, mais de 20 mil casos confirmados e mais de 800 mortos, incluindo estudantes e uma docente aposentada da UFMT, a professora Marília Beatriz de Figueiredo Leite. Quem precisa se arriscar na rua já sabe: se precisar de UTI, não tem.
A universidade até contribui com a sociedade nesse momento, realizando estudos, produzindo informações, atendimentos psicológicos, álcool em gel, máscaras, mas por meio de iniciativas isoladas de alguns institutos e faculdades. O que as entidades defendem, no entanto, é que a administração da UFMT interrompa oficialmente qualquer outra atividade para empenhar todos os seus esforços nessa luta para salvar vidas. Levar adiante a farsa eleitoral neste cenário faz com que a UFMT reproduza o “e daí” de Bolsonaro, diante de milhares de mortos.
Apesar dos fortes argumentos da comunidade acadêmica e da proposta de realizar a eleição depois da pandemia, já com data definida, e de forma democrática, pela primeira vez na história, a UFMT corre o risco ter uma consulta feita pelo colégio eleitoral, online, sem paridade.
O sindicato docente já declarou que não legitimará o processo e, em nota, afirmou que a quebra institucional do rito democrático estabelecido pelas entidades da UFMT é digna apenas de repúdio. Assim, insiste na dissolução imediata do colégio eleitoral estabelecido, bem como na nulidade da reunião do dia 17/06, propondo a prorrogação do mandato do atual reitor até a retomada das aulas presenciais, quando o processo eleitoral democrático poderá ser realizado. “A conjuntura não pode ser utilizada para que o comandante do conselho reproduza pensamentos de instituições pretensamente antidemocráticas que se estabelecem em nosso país”, afirmou a entidade em nota.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Nota de Pesar
O falecimento ocorreu no início da tarde desta sexta-feira, 03/07/20, em decorrência da Covid-19.
Além da enorme contribuição teórica e prática à cultura de sua terra, Cuiabá, a professora Marília Beatriz também foi grande incentivadora da Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind). Fazia questão de compartilhar com os colegas sindicalizados suas inúmeras atividades, e participava sempre que possível dos eventos do sindicato.
Adufmat-Ssind reivindica autonomia universitária e conclama comunidade a boicotar as eleições para Reitoria da UFMT
A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso - Seção Sindical do ANDES - Sindicato Nacional (Adufmat-Ssind) não legitimará qualquer eleição para a Reitoria da instituição feita de maneira antidemocrática. Reivindicando a prerrogativa constitucional de autonomia universitária, o sindicato está conclamando a comunidade acadêmica a não participar do processo via conselhos, e apontando diversos motivos para um boicote.
O primeiro deles é o contexto social, político e econômico. Para o sindicato, a universidade não pode fingir que nada está acontecendo e, simplesmente, tocar o barco. Há uma pandemia que atinge o mundo, já matou quase 60 mil brasileiros em apenas três meses. Como a Organização Mundial de Saúde afirmou que a América Latina ainda não atingiu o pico da doença, as mortes em decorrência da Covid-19 não devem parar tão cedo. Por isso, o sindicato defende que a UFMT não pode ficar indiferente, devendo suspender a eleição, prorrogar o mandato do atual reitor e concentrar sua atuação no combate ao coronavírus.
O segundo motivo para o boicote é a tentativa de impor um processo rechaçado por boa parte da comunidade, fingindo a realização de um debate que não houve, e um consenso que não existe. A reunião que instalou o Colégio Eleitoral para realização do pleito via conselhos não cumpriu diversos protocolos regimentais, o que servirá de base, inclusive para eventual ação judicial com o objetivo de anular a sessão. As entidades que representam professores, estudantes e técnicos-administrativos reclamam que, além de não haver espaço para contribuições ao debate, tiveram de ouvir ataques do condutor da reunião, que tentou desqualificar a representação das mesmas.
“Infelizmente, não é a primeira vez que presenciamos ações autoritárias como a que instalou o Colégio Eleitoral em 17/06. Isso tem se repetido na gestão universitária e já foi denunciado várias vezes. Nós entendemos que a universidade tem respaldo legal para debater e decidir sobre o seu próprio rumo. É preciso ter a compreensão de que nós não temos que abrir mão de uma conquista histórica tão importante, que é a autonomia universitária, para cumprir à risca o que determina o MEC. Nesse sentido, se as eleições que ocorreriam esse ano para o Senado foram suspensas, as eleições para prefeitos e vereadores estão em processo de adiamento, o ENEM foi adiado, então, nós podemos suspender também a eleição para a Reitoria da Universidade e aguardar para decidir, de forma democrática, com a participação de todos, quem administrará a universidade pelos próximos quatro anos”, afirma o diretor da Adufmat-Ssind, Aldi Nestor de Souza.
A quebra da paridade, isto é, igualdade de peso dos votos de docentes, técnicos administrativos e estudantes - ⅓ para cada categoria) é um dos principais problemas indicados pela entidade. Embora a legislação ainda verse sobre pesos diferentes, o reconhecimento do modelo paritário foi conquistado pelas universidades ainda na década de 1980, no processo de derrocada da ditadura militar. “A reivindicação era da antiga "ANDES". A UFMT foi uma das primeiras que realizou a eleição paritária e direta para reitor, e ganhou politicamente junto à comunidade e ao colégio eleitoral. Na primeira eleição, em 1982, o eleito foi o professor Benedito Pedro Dorileo, que concorreu com o professor Alexandre Tavoloni”, lembra o professor da Faculdade de Geologia, José Domingues de Godoi Filho.
O modelo proporcional, que será utilizado caso haja eleição via conselhos, terá peso diferenciado - docentes 70%, estudantes e técnicos 15%, cada. A crítica é que não há justificativas para que docentes tenham peso maior na decisão, a não ser a reprodução de uma cultura hierárquica de relações sociais, comparada ao histórico modo senhorial enraizado num país marcado pela colonização.
Nesse sentido, o sindicato é enfático: não reconhece a reunião do dia 17/06, não reconhece a Comissão Eleitoral formada na ocasião e, portanto, não reconhecerá qualquer resultado deles derivados. O início da campanha de não reconhecimento desse processo foi marcado pela nota publicada pelo sindicato na última quinta-feira(25/06), disponível na íntegra abaixo:
Carta aberta à Comunidade Acadêmica da Universidade Federal de Mato Grosso e aos seus Conselheiros
A última reunião dos Conselhos da UFMT, realizada no dia 17 de junho de 2020, feriu os princípios da tradição democrática em nossa universidade. Ignorando o princípio da autonomia universitária inscrito na Constituição Federal, a reunião foi conduzida de forma autoritária e estabeleceu um Colégio Eleitoral para realizar uma consulta que quebrará a paridade, reduzindo drasticamente o peso do voto de discentes e trabalhadores técnico-administrativo, realizando algo realmente inédito e digno de repúdio: a quebra institucional do rito democrático estabelecido pelas entidades da UFMT desde 1982.
A insensibilidade do Presidente do Conselho diante do cenário que nos é apresentado, no qual até mesmo as eleições municipais estão em processo de prorrogação (a eleição para o Senado Federal de Mato Grosso já foi prorrogada), nos faz pensar: a interesse de quem o Colégio Eleitoral foi estabelecido? Não foi em favor da Comunidade Acadêmica.
Cuiabá está hoje entrando em lockdown, os hospitais estão lotados; e a consulta eletrônica que inviabiliza inclusive a igualdade das candidaturas, parece ser uma covardia para com a comunidade acadêmica, tal qual a acusação de omissão das entidades no processo eleição (vide nota anterior https://bityli.com/KelBa ).
A sociedade passa por um momento delicado, onde estão morrendo mais de mil pessoas por dia, e essa conjuntura não pode ser utilizada para que o comandante do Conselho reproduza pensamentos de instituições pretensamente antidemocráticas que se estabelecem em nosso país, recuperando normas redigidas em plena Ditadura Militar, como a ausência de paridade entre docentes, discentes e técnicos, que a tempos foram superadas.
A Diretoria da Adufmat-Ssind vem reiterar a sua postura em favor das liberdades democráticas e sua luta pela igualdade, se solidarizando com os técnicos e estudantes que foram diminuídos em favor de uma consulta caracterizada pelo autoritarismo e pela desigualdade.
Em flagrante desrespeito à decisão democrática, a ADufmat-Ssind solicita a dissolução do Colégio Eleitoral estabelecido, bem como a nulidade da reunião do dia 17 de junho de 2020, e ainda, se coloca favorável a prorrogação do mandato do atual Reitor Evandro Soares da Silva até a volta das aulas presenciais, quando será possível fazer a consulta de forma presencial.
O autoritarismo não irá nos intimidar!
Cuiabá, 25 de junho de 2020
Diretoria da Adufmat-Ssind
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Grupo de professores e técnicos administrativos começa a discutir TERCEIRIZAÇÃO e PRECARIZAÇÃO do trabalho na UFMT - Aldi Nestor de Souza
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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A intenção do grupo é encarar esses temas como um problema de toda a comunidade acadêmica, e não apenas da administração, promover um amplo debate, estudar com profundidade a questão e propor diretrizes gerais a serem apresentadas no âmbito dos órgãos colegiados responsáveis.
A motivação para a formação desse grupo veio da evidente transformação por que passa o mundo do trabalho na atualidade e também devido a diversos movimentos que alguns dos integrantes do grupo mantem ou mantiveram, há algum tempo, com os\as trabalhadoras terceirizados\as da instituição, como por exemplo:
- curso de alfabetização para terceirizadas da limpeza em 2019;
- os constantes atrasos de pagamento aos trabalhadores e às trabalhadoras terceirizadas;
- episódio do fechamento das guaritas da ufmt em 2019 e paralização dos trabalhos no campus por falta de salários pros\as terceirizados\as;
- as demissões de vários trabalhadores da limpeza em plena pandemia;
- A constitucionalidade da lei da terceirização(que expande a terceirização para todas as atividades , inclusive as atividades fim) que foi estabelecida pelo STF em 16\06\2020.
- O trabalho em geral na instituição UFMT diante da e após a pandemia, frente às modalidades, já em voga no momento, tais como a virtualização do trabalho;
- Os direitos dos trabalhadores numa realidade de individualização imposta pela virtualização do trabalho.
Pela internet, às 14 horas da última quinta feira, a reunião contou com a presença das seguintes pessoas:
Aldi Nestor de Souza-professor dep. matemática UFMT- Cuiabá
Djeison Beneti-professor dep matemática UFMT-Cuiabá
Dorival Gonçalves -professor dep engenharia elétrica UFMT-Cuiabá
Elvis Lira- coordenador do curso de graduação em Física- UFMT-Cuiabá
Gerdine Sanson- professora do Instituto de Ciências da Saúde UFMT-SINOP
Graziela Borges – professora do curso de química- ICET-Araguaia
Evando Carlos Moreira - diretor Faculdade de Educação Física- UFMT- Cuiabá
Luzia Melo - Técnica administrativa-Faculdade de Medicina-UFMT- Cuiabá
Marilin Castro – Técnica administrativa HOVET-UFMT-CUIABÀ
Reinaldo de Marchi- chefe do departamento de Matemática UFMT- Cuiabá
Rosa lúcia Rocha- professora Faculdade de enfermagem UFMT-CUIABá
Vinícius Santos - professor dep matemática Cuiabá
O grupo é aberto, pretende se reunir toda quinta feira, às 14:00h, a princípio , enquanto presencialmente não for possível, pelo google meet.
Encaminhamentos da última reunião:
1- olhar os contratos de trabalho terceirizado vigentes na UFMT, um a um, e ver suas particularidades;
2- conhecer os instrumentos legais que amparam o trabalho terceirizado;
3- ampliar o debate, chamar mais gente pra discutir, estudar e compreender melhor o problema; convocar estudantes;
4- aprofundar o debate sobre contratos via fundação UNISELVA;
5- pressionar para que o CONSUNI assuma a responsabilidade de pautar, discutir e assumir esse problema da terceirização.
Toda a comunidade acadêmica está convidada a fazer parte do grupo, contribuir no debate e para participar basta uma mensagem pro emeio O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ou pro telefone celular.
Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Profa. Depto. Sociologia e Ciência Política –SOCIP/ICHS/UFMT
Mais triste do que a regência truculenta dos desapegados aos procedimentos democráticos, é tentar responsabilizar àqueles que se mantêm inarredáveis dos caminhos das flores que a todos incluem, para tentar invisibilizar as pedras que não só matam as flores, mas refletem indiferenças e silêncios.
NOTA DE REPÚDIO À REUNIÃO DOS CONSELHOS SUPERIORES DA UFMT OCORRIDA NA QUARTA-FEIRA - 17\06\2020
Estamos nos aproximando de 50 mil mortos pela Covid-19 e quase um milhão de infectados no Brasil. O país já ocupa a segunda posição no número de óbitos. Em quase todos os estados, a situação dos hospitais caminha para o colapso e a dos profissionais de saúde é dramática. A necessidade de lockdown é real. Vários estudantes e professores da UFMT encontram-se doentes e alguns estudantes já foram a óbito.
Nesse cenário, a Adufmat-Ssind concentrou toda sua força na defesa da vida das pessoas e junto com dezenas de outras entidades criou a Frente em Defesa dos Serviços Públicos e de Solidariedade no Enfrentamento à Covid-19 e está semanalmente nos bairros da cidade distribuindo EPI’s, cestas básicas e ajudando os trabalhadores, especialmente os mais fragilizados, a salvarem suas vidas.
Para a Adufmat-Ssind, a luta em defesa da vida é a coisa mais importante a se fazer nesse momento. E foi nesse sentido que ela pautou, junto ao conselho universitário da UFMT, um plano estratégico de enfrentamento à Covid-19, que destinasse toda a estrutura da universidade - pesquisa, extensão, laboratórios, pesquisadores, estudantes, professores, de forma voluntária - a uma força tarefa de combate à doença.
No cenário nacional, foram adiadas as eleições para prefeito, vereadores, e senador, o ENEM, o ingresso via Sisu pois evidentemente a sociedade encontra-se fragilizada e sem condições de participar de eleição ou concurso. Mesmo assim, a Reitoria da UFMT chamou um Colégio Eleitoral para esse dia 17\06 com intento de deflagrar o processo sucessório na instituição, denotando insensibilidade ao que ocorre no país e no mundo.
Sobre esse processo, a Adufmat-Ssind se manifestou diversas vezes e de diversos modos, propondo, em nome da autonomia universitária, a prorrogação do mandato do atual reitor até que haja segurança sanitária para uma eleição e que, nesse momento, como citado acima, a universidade paute e encare o que é urgente, isto é, salvar vidas, enfrentar a COVID-19.
Ignorando tudo isso, foi instalado o Colégio Eleitoral e uma Comissão Eleitoral foi criada para dar cabo do processo, mutilando uma luta histórica da instituição, qual seja, a paridade entre as três categorias, e com o estarrecedor e covarde ataque do presidente da reunião, que não se furtou de atacar as entidades, alegando que estas não fizeram o processo por que não quiseram.
Sobre esse ataque, cabe destacar:
Em 13 de dezembro de 2019, portanto faltando dez meses pro fim do mandato da atual administração superior da UFMT, reunida em assembleia geral, a Adufmat-Ssind decidiu realizar, junto com as demais entidades representativas da UFMT, como historicamente o faz, a consulta eleitoral pra reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso. Nessa mesma semana de dezembro, em respectivas assembleias, SINTUF e DCE tomaram decisão semelhante. Inclusive foi marcada uma assembleia conjunta no retorno das aulas, em fevereiro de 2020, para criação da comissão e do regimento eleitoral e deflagração do processo de consulta à comunidade acadêmica.
Em 24 de dezembro de 2019, véspera do dia de Natal, o presidente da república lançou a Medida provisória 914, que estabelecia, dentre outras coisas, a exclusão de aposentados do processo de consulta acadêmica, dava a reitores a prerrogativa de escolher diretores de unidades sem necessidade consulta, numa declarada afronta à autonomia universitária. Sob a égide dessa MP, as entidades representativas se reuniram e decidiram que não conduziriam o processo, dadas as condições autoritárias e antidemocráticas que ensejam a MP e se comprometeram a fazer o processo de consulta logo que a MP caducasse, fato esse que ocorreu em 02\06 , portanto há 15 dias.
Diante da pandemia, e dos fatos acima elencados, a Adufmat-Ssind mantém sua posição de pedir a prorrogação do mandato do reitor e repudia com toda a veemência:
- a tentativa da UFMT de ignorar a realidade que estamos vivendo, submetendo sua comunidade acadêmica já em parte adoecida, A UM PROCESSO DE ELEIÇÃO QUE OBVIAMENTE NÃO VALE MAIS QUE A VIDA DAS PESSOAS;
- a forma ditatorial de impor uma consulta negando o processo histórico e democrático de paridade entre as categorias que compõem a comunidade acadêmica;
- a postura autoritária do presidente na condução da reunião dos conselhos, bem como de culpar a Adufmat-Ssind por não ter feito a consulta, sabendo que isso é humanamente uma afronta aos princípios éticos que a entidade defende;
Por fim, a Adufmat-Ssind convoca toda a comunidade acadêmica a lutar contra esse ataque à tradição democrática e autonomia universitária.
Cuiabá, 19 de junho de 2020
Diretoria da Adufmat-Ssind