Segunda, 22 Junho 2020 14:19

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

Ha quase 300 anos, Frederico II, o Grande, Rei da Prússia, dizia "A trapaça, a ma fé, a duplicidade são, infelizmente, o caráter da maioria dos homens que governam as nações".

Parece que ele estaria falando a respeito do maior pais da América do Sul, nos dias  de hoje, ante o despreparo, a incúria, a insensibilidade, a incompetência, o descaso como nossos governantes tem tratado a maior pandemia, o COVID 19, que está se abatendo sobre o mundo todo e em maior grau, neste momento, sobre o Brasil, o segundo em numero de casos e de mortes do mundo.

Nesta mesma linha de pensamento, ouso dizer que governantes incompetentes, corruptos, insensiveis e tiranos se comprazem com a bajulação, com a subserviência, obediência cega e acrítica, a passividade das massas, a falta de coragem do povo para confronta-los e promoverem transformações profundas no “status quo”.

Desde o início, há tres meses, com o surgimento dos primeiros casos, quando o pais tinha todas as condições para se preparar e bem enfrentar, controlar e vencer o coronavirus, inclusive decretar a nível dos Estados e nacionalmente o “LOCKDOWN”, como fizeram diversos outros países, com um número ínfimo de casos e de mortes, como aconteceu na China, a começar pelo Presidente Bolsonaro que dizia o coronavirus seria apenas uma "GRIPEZINHA", um “resfriadinho”, continua causando vitimas, infectando mais de um MILHÃO de pessoas e matando quase 50 mil em nosso pais, com muito sofrimento e dor para milhões de pessoas.

Enquanto isso, nossos governantes, a comecar pelo Presidente da Republica, diversos governadores, prefeitos e inclusive empresários, tentaram criar uma falsa dicotimia entre combate ao coronavirus x economia, desemprego etc, e se opuseram ao ISOLAMENTO SOCIAL, DISTANCIAMENTO SOCIAL, como a única estratégia correta e viável para reduzir os contagion, a expansão do coronavirus pelo território nacional e as mortes, pois só estão preocupados com seus proprios interesses, os lucros empresariais, eleições de 2022; o troca troca de cargos , a roubalheira praticada por bandidos nas compras de equipamentos que deveriam salvar vidas.

Nem mesmo realizar o número de testes necessários para conhecer de fato o tamanho, a extensão e a velocidade da expansão do coronavirus pelo pais todo, nossos governantes conseguiram. O Brasil ocupa a 151a. posição em número de testes por milhão de habitantes entre 191 paises e territorios, situacao pior do que diversas países bem pobres da África, América Central e Ásia. É o caso de se perguntar, porque todos os demais paises conseguiram adquirir e realizar testes de forma massiva e o Brasil não consegue? Há aproximadamente um mes antes de sua saida/demissão o Ministro Mandeta falava o dia todo sobre a testagem em massa que estariam sendo adquiridos 23 milhões de testes, e nada disso foi feito, tudo apenas discursos enganadores em meio `a pandemia.

Em decorrência, existe uma grande subnotificacao tanto de casos de pessoas infectadas quanto de mortes, sendo que em pesquisa, por amostragem de âmbito nacional realizada pela Universidade Federal de Pelotas cuja segunda fase já esta concluida, com apoio do IBOPE quanto a definição do plano de amostragem, chegou `a conclusão de que esta subnotificação é de sete vezes menor, ou seja, existem sete vezes mais casos de pessoas infectadas e de mortes pelo coronavirus do que as estatísticas oficiais indicam, pelo simples fatos de que não estão sendo realizados testes de forma massiva, por pura incompetencia governamental.

Assim, podemos concluir que o número de casos de pessoas infectadas pelo CORONAVIRUS no Brasil seria de no minimo SETE MILHÕES e o de mortes em torno de 336 mil óbitos.

Outro aspecto que se fala pouco, apenas por alto, é o caos em que se encontrava o SUS quando do inicio da pandemia, da chegada do CORONAVIRUS, situaação que já vem de longe e a cada dia mais se deteriora, tanto em termos de leitos hospitalares em geral, quando de leitos de UTI, respiradores e recursos humanos.

O CAOS e a falência do SUS reflete o descaso de nossos governantes em relação a saúde pública, que piorou sobremaneira com a aprovação do TETO DOS GASTOS há alguns anos, no Governo Temer, quando o Congresso foi e continua conivente com este verdadeiro crime que é congelar gastos com educação pública, com saúde pública e outras politicas públicas de interesse direto do povo, principalmente das camadas excluidas, que representam mais de 150 milhões de pessoas, que agora são as maiores vitimas tanto do coronavirus quanto do descaso de nossos governantes.

Hoje 19 de Junho de 2020 é um dia triste, um dia da vergonha nacional, oficialmente mais de UM MILHAO de pessoas infectadas e quase 50 mil mortes pela CONVID 19, em meio a uma grave crise politica-institucional, econômica, moral e sanitária.
 
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT,  sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veiculos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
 
Segunda, 08 Junho 2020 13:40

 

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JUACY DA SILVA*
 

Há 90 anos, ou seja, em 1930 acontecia uma das mudanças mais significativas que ocorreu na história politica, econômica e social do Brasil e que passou a ser um marco na história republicana de nosso país. No bojo da crise econônica e financeira de 1929/1930, que abalou as estruturas do Sistema capitalista mundial, ocorreu o que na época passou a ser chamada de revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, que durante longos 15 anos, incluindo o periodo ditatorial do Estado Novo, se manteve no Poder.

O que se costuma chamar de crise brasileira vem de longe. Ao longo de nossa história Republicana já convivemos com diversas períodos críticos, sendo que em alguns, quase o país chegou `a Guerra civil generalizada, como aconteceu em 1932 com a “revolução constitucionalista” em que houve um embate cívico-militar entre os governos de São Paulo e da União, este liderado por Getúlio Vargas e, depois, novamente, em 1961 quando da renúncia de Jânio Quadros e a tentativa de parte das Forças Armadas, a serviço de grupos conservadores de direita, de impedir a posse do vice João Goular, que só não se efetivou em decorrência do “racha” em suas fileiras com a oposição das tropas aquarteladas no Rio Grande do Sul que se aliaram `as forcas da Brigada Milittar (hoje PM) daquele estado,sob o commando do então governador Leonel Brizola, cunhado de Jango, garantindo o retorno do mesmo que estava na China e a sua posse.

Ao longo desta longa série de crises tivemos alguns embates quando alguns grupos pegaram em armas como aconteceu com a Coluna Prestes, a tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek com as revoltas de Jacareacanga e Aragarças por parte de unidades da Força Aérea Brasileira.

Após o esgotamento do pacto que foi feito para permitir a posse de Jango, através da implantação de um parlamentarismo, a crise continuou. De um lado um presidente eleito democraticamente (naquela época os eleitores votavam no Presidente e separadamente no vice presidente, podendo, como aconteceu com Jânio e Jango, serem de partidos diferentes) mas manietado pelo sistema parlamentarista lhe imposto pelos militares e de outro forças que desejavam o retorno do presidencialismo com o avanço das chamadas reformas de base, entre as quais se incluiam a reforma agrária, a reforma administrativa, a reforma constitucional, a reforma eleitoral, a reforma bancária, a reforma tributária (ou fiscal) e a reforma universitária (ou educacional).

Essas reformas tinham como o grande objetivo estratégico a trasnformação do país e como metas, a redução das desigualdades regionais, setoriais e sociais; a democratização das estruturas econômicas e sociais e um desenvolvimento mais harmônico e justo.

Por serem consideradas de esquerda, tais reformas sofriam constantes ataques por parte das forças conservadoras de direita tanto no Congresso quanto no empresariado e na sociedade, isto tudo, em meio ao clima da guerra fria em que o mundo vivia e era dividido, de um lado o “mundo” capitalista liderado pelos EUA e seus aliados e de outro a União soviética e o que eram chamados, seus satélites.

Rapidamente esses setores conservadores começaram a brandir as armas do anti-comunismo, dizendo que Jango era comunista e pretendia implantar o comunismo no Brasil, ato continuo ocorreu a mobilização de uma grande parte da Igreja Católica, que era dominada amplamente por grupos conservadores, através de protestos contra o comunismo, em defesa dos valores considerados tradicionais e cristãos, culminando com a célebre Marcha da Família, com Deus, pela liberdade e propriedades privada, que no entender dessas forças conservadoras de direita estavam sendo colocados em risco pelo governo Jango que era dominado, segundo essas forcas de direita, por comunistas, socialistas e sindicalistas de esquerda.

Este movimento não demorou a contaminar as Forças Armadas e alguns governos estaduais, principalmente de São Paulo e Minas Gerais e a partir do retorno do sistema presidencialista a conspiração tomou conta do país, culminando com a derrubada de Jango e a implantação de uma ditadura militar, com os generais presidentes, com a duração de 21 longos e tenebrosos anos.

Ao longo do regime militar ocorreram diversas manifestações de massa, contra a ditadura, sempre reprimidas com violência, principalmente a partir do momento em que o Governo Federal passou a considerar as forças militares estaduais (atualmente as polícias militares) como forças de reserva do Exército, incluindo a nomeação de oficiais do Exército como Comandantes das Polícias Militares e instrumentalizando-as, bem como as demais forças policiais estaduais, no combate `a “subversão da ordem”, incluindo e transformando essas forças em appendices não apenas das forcas armadas mas também do tão temido  SNI – Serviço Nacional de Informações e seus aparelhos represssivos como o DOI/CODI, onde os “inimigos internos” eram encarcerados, torturados e alguns mortos.

Ainda durante o regime militar a crise brasileira se tornou muito aguda, incluindo tentativas de luta armada por parte de partidos e grupos de esquerda, como o PCdoB, com escaramuças como as guerrilhas de Caparaó e a mais longa e mais cruel que foi a Guerrilha do Araguaia, cujas narrativas ainda estão bem presentes na memoria histórica nacional, com algumas cicratizes ainda não curadas.

Houve também, durante o Governo Geisel que sucedeu ao periodo mais duro do regime militar comandado pelo General Médice, um recrudescimento quando o mesmo fechou literalmente o Congresso Nacional e cassou diversas parlamentares de esquerda e colocou uma grande pressão sobre o Sistema judiciário, principalmente os tribunais superiores, tudo sob o manto protetor do AI-5 e da Lei de Segurança Nacional.

O retorno do país `a democracia ocorreu em meio a grandes manifestações de massa que demandavam por eleiçoes diretas para Presidente da República, Governadores e Prefeitos de Capitais e municipios considerados de interesse da seguranca nacional.

Aos poucos, mesmo em meio `as eleições extremamente controladas, graças aos diversas expedientes, como o bipartidarismo , que castravam a plenitude democrática, incluindo um controle rígido sobre o sistema politico partidário, com a presença dos senadores biônicos, que visavam garantir ao governo militar maioria no Senado e o controle rígido da censura do movimento sindical, da mídia e de outros movimentos sociais, digo, aos poucos as forças de centro e de esquerda conseguiram vencer tais barreiras e ganharam as ruas, apressando o fim da ditadura militar.

O fim do regime militar se deu em meio a um pacto das elites politicas, econômicas e militares, ou seja, foi um processo gradual e controlado, conforme dizia o presidente General Geisel “uma abertura lenta, gradual e segura”, tanto para a eleição do successor do último General Presidente (João Figueiredo) quanto da eleição e trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte.

Tanto isto é verdade que o vice presidente na chapa que venceu a eleiçãao indireta  no Congresso era José Sarney, que durante todo o periodo do regime militar foi um fiel escudeiro dos governos comandados pelos Generais presidentes. Quando de sua eleição na Chapa Tancredo/Sarney, era simplesmente o presidente do PDS, successor da ARENA, tendo se desfiliado pouco antes da convenção que homolgou a chapa official (do PDS) partido do Governo que esmagava a oposição consentida dentro do MDB.

Quis a ironia do destino que Tancredo Neves presidente eleito, que havia sido Primeiro Ministro de Jango nos anos sessenta, viesse a falecer antes de sua posse como presidente. Assim, a presidência caiu como uma luva no colo de Sarney, que de apoiador da ditadura virou da noite para o dia em democraca de carteirinha, filiando-se, inclusive, ao MDB e bandeuou-se para o centro com afagos `a esquerda. Entre seus ministros estava nada menos do que Dante de Oliveira, o estopim das diretas-já, quando deputado federal e sabidamente antes filiado ao MR-8, movimento de base ideológica comunista e que advogava a luta armada para derrubar a ditadura.

A Constituinte e seu fruto que é a Constituição Cidadã, como a denominava o seu Presidentente e o Comandante maior das manifestações de massa pelas Diretas-Já, Ulysses Guimarães, representou diversos avanços em termos de direitos sociais, individuais e abria perspectivas para mudancas mais profundas e , supostamente duradouras, na ordem politica, social, econômica, ambiental e diversas outros setores.

Todavia, ao longo de seus quase 32 anos, a completer em 05 de Outubro próximo, a nossa Carta Magna até 07 de Maio último (2020) ja foi emendada nada menos do que 106 vezes. Quando comparada com o texto original promulgado em 1988 não podemos ignorar que o atual texto está totalmente desfigurado, principalmente no que concerne aos direitos e conquistas sociais ocorridas ao longo das últimas seis ou sete decadas, razão pela qual o Brasil ainda continua ssendo marcado pelas injustiças, exclusão social, enorme concentração de renda e de oportunidades, enorme nível de discriminiação racial e social, fome, miséria e toda sorte de violência de um lado e um grupo, a quem denominados dos donos do poder e marajás da República, extremamente minoritário, nas maos de quem estão concentradas mais de 80% da renda nacional, inúmeros privilégios e benesses

Nesses mais de 30 anos, a crise brasileira continuou acontecendo, ora latente ora abertamente, com conflitos sociais e politicos, com violência generalizada, incluindo violência institucional e repressão, sempre que manifestações de massa questionam politicas públicas levadas a cabo pelos governantes de plantão, os donos do poder, politicas essas que geram ou contribuem para a preservação do “status quo” e dos privilégios das camadas dominantes. O Brasil está entre os dez paises com maior concentração de renda, riqueza e propriedades no mundo.

Um dos momentos agudos desta crise foi o impeachment do então Presidente Collor, quando, novamente grandes massas, principalmente a juventude, os “caras pintadas”, foram `as ruas exigindo o fim de um governo corrupto e ineficiente.

Posteriormente, ocorreu novamente um periodo de relativa “calmaria” durante o periodo de transição do Governo Itamar Franco que conseguiu vencer o grande inimingo que durante décadas rondou o Brasil que era a inflação, em alguns momentos “galopante”, se aproximando de mil por cento em alguns anos.

Com o Plano Real e a transformação da moeda nacional mais uma vez e diversas Leis que tentaram dar mais transparência e eficiência aos gastos governamentais e gestão publica, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, houve uma certa trégua no cenário nacional.

O fato que alterou muito o quadro politico foi a Emenda Constitucional que permitiu a re-eleição de FHC que, mesmo sendo considerado um dos pais do Real, acabou realizando um governo, em seu segundo mandato, muito mais mediocre do que o primeiro mandato.

Com a crise politica, social e econômica dando sinais de acirramento e ante indicadores negativos como aumento do desemprego, aumento do endividamento público e aumento da inflação, não foi dificil para que o PT e os partidos de oposição, ou as chamadas forças de esquerda chegarem ao poder através da quarta tentativa de eleger Lula.

Entre a eleição de Lula e sua posse, setores conservadores iniciaram uma tentativa de desmoralizar o que seria seu governo, veiculando mentiras e estimulando o pânico cambial e financeiro, que acabou exigindo que Lula tentasse acalmar os ânimos atraves da famosa “carta ao povo brasileiro” em que garantia aos setores econômicos (sempre conservadores e mais alinhados com as forças da direita) de que não iria “virar a mesa” e nem promover mudancas radicais como temiam esses setores conservadores.

Durante o governo Lula, o Brasil retomou o caminho da recuperação econômica, com o crescimento do PIB, a geração de empregos formais, a queda da inflação, o combate `a fome e diversas politicas públicas que estimularam a participação popular e combate `as desigualdades.

Mesmo diante de denúncias de corrupção envolvendo figuras centrais do PT e de alguns partidos aliados, boa parte dos que sempre estiveram com todos os governos, inclusive atualmente com Bolsonaro, aglutinados no Centrão; repito, mesmo diante de denúncias de corrupção inicialmente com o MENSALÃO que atingiu em cheio o homem forte do Governo Lula que era o Deputado/minsitro da Casa Civil José Dirceu e depois, com a OPERAÇÃO LAVA JATO, a crise brasileira estava, digamos, hibernada sem grandes manifestações de massa.

Só em 2013 quando as passeatas e manifestações de rua contra a CORRUPÇÃO e o Governo Dilma, ainda em seu primeiro mandato é que a crise comeca a se tornar mais aguda e bem visível, com as massas ocupando as ruas de inúmeras cidades.

Mesmo assim, Dilma, através de uma grande aliança do PT com diversas partidos de esquerda e de centro, tendo o PMDB como aliado majoritário, o mesmo PMDB que durante os oito anos de FHC também esteve participando do Governo Tucano, conseguiu se reeleger contra o candidato Tucano, em aliança com setores da direita, tendo como candidato Aécio Neves, que nos últimos tempos também passou a ser investigando por corrupção nas operações da LAVA JATO, cujo Juiz Sérgio MORO, que ganhou transparência e prestígio popular graças `a constante exposição na mídia, como afirmam setores e partidos de esquerda, sempre teve réus de esquerda, principalmente Lula e outros quadros “ilusttres” do PT, como seus alvos preferidos, acabou sendo nomeado ministro de Bolsonaro.

As manifestações de massa contra o Governo Dilma ganharam corpo e em um determinado momento até seu vice-presidente, Michel Temer, conspirava abertamente pela sua queda, o que aconteceu com o Impeachment, tendo as “pedaladas” fiscais e orçamentárias como o motivo principal.

Como o avanço das operações da LAVA JATO, um verdadeiro terror se abateu sobre a classe politica, culminando em um momento com a cassação e prisão do então presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha, do Governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, do Governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, todos do PMDB e também de outros politicos graúdos do PT, do PP e de outros partidos.

Foi neste contexto que aconteceram as eleições presidenciais, de governadores, de dois terços do Senado, da Câmara Federal e das Assembléias Legislativas, cujos resultados representaram um avanço enorme, jamais imaginando, de candidatos de extrema direita.

A renovação no Senado foi a maior já vista na história daquela casa, o mesmo acontecendo na Câmara Federal e nos Estados. O PSL, na época o partido que ofereceu sua legenda para o Candidato Bolsonaro, deixou de ser um partido nanico, com apenas alguns deputados federais e pouca expressão nos estados, para surgir como a segunda legenda mais votada na Câmara Federal e com alguns de seus deputados conseguindo expressivas votações, com milhões de votos como foram os casos da Deputada Joyce Hasselman, que de líder do Governo Bolsonaro no Congresso hoje é uma de suas críticas mais mordazes; o Deputado Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente e da Deputada Estadual Janaina Paschoal, que consegui uma visibilidade nacional graças ao papel de principal acusadora de Dilma no processo de impeachment, também que deixou a base de apoio de Bolsonaro.

A eleição de Bolsonaro representou o algutinamento das forças de direita, apoiadas por partidos e candidatos de centro que abandonaram os tucanos e o PMDB, incluindo diversas parlamentares das bancadas da Bala, da Bíblia (evangélicos), do Boi (agronegócio), observando-se o crescimento de candidaturas e eleitos oriundos das forcas armadas, das polícias militares e civis dos estados, da policia federal, policia rodoviária federal, a grande maioria senão a totalidade politicos de extrema direita, acomodados em diversas partidos deste espectro.

Todavia, aos poucos boa parte dos parlamentares federais e alguns goveernandores como os de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Goiás que se elegeram por partidos diferentes, mas que estiveram umbilicalmente grudados em Bolsonaro, abandonaram o barco ou foram abandonados por Bolsonaro que preferiu, em um primeiro momento abraçar mais ainda a chamada “ala ideológica”, onde se abrigam os militantes da extrema direita, inclusive os grupos que atualmente se opõe abertamente contra as instituições como o Congresso Nacional e o Poder Judiciário, personalizado na figura do STF e vociferam slogans anti-democrático e de cunho nazi-facistas.

É preciso entendermos que a chegada de Bolsonaro ao centro do poder nacional inaugurau uma nova fase na politica brasileira. Diferente de governantes conservadores que chegarem ao poder através de um golpes de estado ou de auto-golpes (como no caso de Getúlio Vargas com o Estado Novo), Bolsonaro foi eleito dentro das regras democráticas ou o que se chama “as regras do jogo” e sagrou-se vencedor no segundo turmo e, portando, legitimado no poder, ou seja, representa a vontade de mais de 57 milhões de eleitores. Isto é um fato.

Todavia, esta legitimidade não lhe  garante o poder absoluto, precisa entender que existe um ordenamento jurídico e constitucional que ele próprio jurou cumprir e fazer cumprir, ou seja, nem o Congresso Nacional, nem o Poder Judiciário, nem a sua mais alta instância que é o STF, nem os governadores e muito menos as organizações da sociedade civil e os movimentos sociais lhe devem obediência como acontece nas ditaduras e monarquias. São instâncias independentes tanto do Estado quando da sociedade, tem vida autônoma e que devem agir em harmonia pelo bem comum da sociedade brasileira.

Parece, no entanto que o Presidente Bolsonaro  não entende isto e desde antes de ser eleito sente uma necessidade imensa de criar as figuras de inimigos, como corolário de seu pensamento autoritário, talvez criado e alimentado desde os tempos de caserna.

Por isso, Bolsonaro tenta agir de forma totalitária, autoritária `a semelhança de tantos ditadores como Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Stalin, Stroesner, Pinochet e todos os generais presidentes. Ditadores não aceitam o diálogo, a controvérsia, a divergência, o pluralismo político e ideológico, a matriz do pensamento autoritário é baseada no uso da força, do arbítrio, da tortura, das ameaças, das prisões e até na eliminação fisica de todos/todas que se lhes  opõe.

Para todas as pessoas que pertencem ou atuam orientados pelos aparelhos ideológicos ou de repressão do estado, é fundamental a figura do inimigo, inclusive adoram criar os inimigos internos, contra os quais não titubeiam em usar da violência institucionalizada do Estado, atraves de seus organismos de repressão, voltados quase sempre contra a população.

Durante a Guerra fria e ainda na cabeça de muitos grupos e pessoas conservadoras,  de direita, o mundo é divido entre o bem e o mal; e o bem está sempre do lado de quem tem `a sua disposição a possibilidade de usar a violência como instrumento de ação politica.

Para conservadores e adeptos do pensamento de direita, o perigo vem do comunismo, do socialismo, do anarquismo e é contra esses grupos ou seus aliados é que procuram dirigir seu ódio, suas ameaças e suas formas de violência.

Entre as formas de violências, na atualidade, as “fake news”, criadas e dirigidas/comandadas pelas MILÍCIAS VIRTUAIS, são as armas mais ponderosas tanto para denegrir, difamar e ameaçar quanto tentar manipular a opinião pública através das redes sociais, como aconteceu nas últimas eleições presidenciais e que esãoa sendo investigandas pelo Poder Judiciário.

Além das fake news surgem também as ameaças veladas ou abertas contra quem esses adeptos da extrema direita escolhem como inimigos. Há bastante tempo Bolsonaro, seus aliados e seguidores elegeram o STF e por extensão  o Poder Judiciário, como seu inimigo número um; em alguns momentos o inimigo pode ser o Congresso Nacional, a “velha politica”; mas após perceber que vai precisar de ter uma base sólida para escapar de qualquer processo de impeachment, Bolsonaro contradizendo todo o seu discurso de campanha e durante esses primeiros meses de mandato, não titubeou a instalar novamente no Palácio do Planalto o BALCÃO DE NEGÓCIOS, para acertar o “toma lá, dá cá”, oferecendo cargos e mais cargos e outros favores a parlamentares, dirigentes do Centrão e seus indicados.

Enquanto domestica a maioria do Congresso com essas benesses, fortalece seu poder de fogo ao inimigo que não lhe dá tréguas que é o Poder Judiciário/STF, a quem tem cabido e continuará cabendo estabelecer os limites para que o Presidente e seus ministros respeitem a Constituição e o ordenamento jurídico brasileiro, sob pena de incorrerem em  crimes de responsabilidade e outros mais e serem responsabilizados, politica, civil e criminalmente por tais crimes.

Neste ról de inquéritos estão os que investigam as MILICIAS DIGITAIS/FAKE NEWS, o que investiga as acusações sobre sua interferência politica na Polícia Federal, apresentadas por Moro, seu, outrora, homem forte no combate `a corrupcao e crime organizado e que ao cair/sair do Ministério da Jusitça saiu atirando; outro que investiga quem articula, cria e financia as manifestações anti-democráticas das quais tem participado o Presidente da República, como as que pedem o fechamento do Congresso, do STF, a intervenção militar com Bolsonaro no poder (auto-golpe); e as denúncias em relação `as ameaças aos membros do STF, feitas por diversas bolsonaristas com ou sem mandato, inclusive ministros como da Educação.

Algumas ações recentes determinadas por alguns ministros do STF (Alexandre de Moraes e Celso de Melo) tem dado margem ao histerismo, verborragia e violência verbal ou simbólica tanto por parte de Bolsonaro, seus filhos e também diversas aliados no Congresso e seguidores, esses últimos que integtram uma verdadeira tropa de choque virtual ou física, como as SA Nazistas, "Tropas de Assalto" ou "Secções de Assalto", que foi a milícia paramilitar durante o período em que o Nazismo surgiu e depois exercia o poder na Alemanha; ou os CAMISAS NEGRAS de MUSSOLINI, que formavam “um grupo paramilitar da Itália fascista que mais tarde passou a ser uma organização militar. Devido a cor de seu uniforme, seus membros ficaram conhecidos como camisas negras. Foram também uma violenta ferramenta militar do movimento político, eles eram muito violentos a medida que o poder de Mussolini aumentava, e usavam da violência, intimidação e assassinatos contra opositores políticos e sociais”.

Essas formas de ação politica e paramilitar já fazem parte dos adeptos de Bolsonaro, inclusive, já foram identificados grupos de treinamento que eles chamam de “auto-defesa”. O próprio Bolsonaro, em um dos trechos de sua fala na malfadada reunião ministerial falou claramente “eu quero armar a população” para que possa defender-se contra os inimigos, sem mencionar quais são esses inimigos, mas que aos poucos a opinião publica identifica. Como complemento surgiu a modificação de uma portaria do Exército que permitia a venda de 200 cartuchos passando 600 cartuchos a que um portador de arma tem dreito.

Notícia/reportagem da BBC Brasil de 19 de maio último, há duas semanas, informa que “O novo decreto sobre armas do governo de Jair Bolsonaro (PSL) autoriza a compra de pelo menos 2,1 bilhões de munições, a partir deste ano, por brasileiros que já possuem registro de arma de fogo. Essa quantidade é suficiente para que 5,7 milhões disparos sejam efetuados por dia no país.

Atualmente, há 350 mil armas registradas para defesa pessoal no Brasil e mais 350 mil para caçadores, atiradores e colecionadores, segundo dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação pelo Instituto Sou da Paz. No caso das armas para defesa pessoal liberadas pelas regras anteriores, o decreto nº 9.797/19 aumentou de 50 para 5.000 o limite de projéteis que podem ser adquiridos por ano.

Já no caso de armas de caçadores, atiradores e colecionadores, que têm um registro especial, o teto cresceu de 500 para 1.000 balas por arma - dependendo do calibre, o limite também pode chegar a 5.000.

Dessa forma, os novos limites permitem que pelo menos 2,1 bilhões de projéteis sejam comprados por quem já tem autorização para ter armas. Sob as regras anteriores, a quantidade máxima de munições autorizada seria de 193 milhões - menos de 10% do total liberado pela nova norma”.

Se a populacao inteira for armada como deseja Bolsonaro, estamos, na verdade preparando uma Guerra civil sem precedents em nosso país, vamos transformar o Brasil no que já acontece em alguns paises da América Central e da África, onde grupos rivais armados estão há décadas em conflito aberto, fazendo dezenas ou centenas de milhares de mortes todos os anos.

As ameaças aos membros do STF é o fato mais grave desta crise politica e institucional, grupos bolsonaristas já ameaçaram, até mesmo fisicamente, além de moralmente, os ministros em geral ou alguns de forma particular.

Depois das investigações determinadas tanto pelo Ministro Alexandre de Moreas, incluindo busca e apreensão envolvendo parlamentares e outros ativistas e o Ministro Celso de Melo encaminhar `a PGR uma notícia crime apresentada por um partido politico, para se pronunciar sobre a busca e apreensão do Celular do Presidente da República, essas ações incentivaram manifestações agressivas e fora de propósito por parte do Ministro-Chefe da Segurança Institucional da Presidência da República , no que foi apoiado até mesmo por diversas militares da reserva e também pelo ministro da defesa.

Quanto ao Ministro Celso de Melo, uma Deputada do PSL do DF o chamou de “juiz de merda” há poucos dias, em um video que ainda circula pela internet. Uma ativista bolsonarista o tempo todo continua desafiando e denegrindo a imagem do Ministro Alexandre de Moraes.

O próprio Presidente confrontou publicamente com palavras despropisitadas tanto o Ministro Celso de Melo quando o mesmo levantou o sigilo da gravação da reunião ministerial quanto o Ministro Alexandre de Moraes quando atraves de liminar impediu a posse do nomeado por Bolsonaro para Diretor Geral da  Polícia Federa;l e recentemente no bojo das investigações de fake news e ameaças aos membros do STF determinou busca e apreensão em gabintes parlamentares e também em imóveis de aliados de Bolsonaro.

Há poucos dias militantes bolsonaristas, carregando tochas incendiárias, alguns mascarados, `a semelhança dos membros do grupo racista americano KU KLUX KLAN (KKK), fizeram uma manifestação noturna em frente ao STF, o que não deixa de ser uma ameaça grave e extremamente perigosa. Parece que queriam mandar uma mensagem ameaçadora aos integrantes da Suprema Corte.

Mas essas ameaças e esta escalada começaram um pouco antes do segundo turno das eleições presidenciais de 2018, quando o deputado Eduardo Bolsonaro afirnou em uma palestra em um cursinho no Paraná que para fechar o STF bastava um cabo e um soldado e mais recentemente disse em uma transmissão em suas redes sociais de que a questão não é “se”, mas “quando”  haverá uma ruptura institucional (ou seja, um auto-golpe) e quando isto ocorrer vão chamar seu pai (presidente Bolsonaro) de ditador.

Na mesma palestra no  citado cursinho, afirmou ainda “se voce prender um ministro do STF, voce acha que vai ter manifestação em favor do ministro do STF”? Ai fala tambem “o STF vai ter que pagar para ver, será ele contra nós”.

Faz parte deste contexto da agudização da crise brasileira as palavras do ministro da educação, que de educação tem pouco, quando afirma, em tom raivoso, apontando das janelas do Palácio do Planalto, onde transcorria a referida reuniao ministerial, em direção `a praça dos tres poderes, onde ficam o STF e Congresso “eu por mim prendia todos esses vagabundos. A começar pelo STF”.

Mesmo diante de tantas ofensas gratuitas, em uma reunião ministerial em que, conforme relato de organismos de imprensa, foram proferidos mais de 35 palavrões, palavras chulas que saem da boca de pessoas a quem a população imagina a cordialidade, os interesses coletivos e as necessidades do povo, principalmente neste periodo de coronavirus, quando estão sendo infectadas mais de 20 mil pessoas e  mais de mil estão morrendo diariamente, nada foi dito para coibir esses exageros e ofensas verbais `a honra de autoridades da mais alta corte de justiça do país.

A perssistir este clima, ante o surgimento e recrudescimento de manifestações de massa nas ruas, temos certeza que o Brasil está para explodir em uma grande onda de violência politica.

Para que isto ocorra, está faltando apenas um cadáver, para que tudo seja encoberto por fogo, chamas e mais violência como está acontecendo nos EUA. Tudo, parafraseando o Deputado Bolsonaro, não é se vai acontecer, mas quando vai acontecer.

O estopim está aceso e a espoleta está prestes a ser destravada, Talvez isto aconteça com o andamento das investigações que envolvem Bolsonaro, seus filhos, seus seguidores, as milicias digitais e sua interferência politica na policia federal. As consequências serão as mais nefastas que jamais imaginamos!



*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo e mestre em sociologia. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

 

Segunda, 01 Junho 2020 14:40

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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 JUACY DA SILVA*

Em carta/manifesto assinado ontem, 26 de Maio de 2020, endereçada a todos os líderes dos países do G20, as 20 maiores economias do mundo, que detinha em conjunto em 2028 nada menos do que 73,55% do PIB mundial, estando projetado que este percentual chegue a 74,02 em 2024, assim se expressaram: “Pela nossa saúde, devemos recomeçar pela saúde do planeta. Isso é o que escrevem e falam, em alto em bom som, 40 milhões entre médicos e profissionais de saúde de todo o mundo, de 90 países. Em uma declaração conjunta lançada nesta terça-feira, 26-05-2020, com a hashtag #HealthyRecovery, os profissionais de saúde pediram aos líderes dos países do G20 que se engajassem concretamente na batalha contra a crise climática, por um mundo menos poluído e mais verde, com uma pegada sustentável de forma a tentar evitar futuras pandemias”.

Enquanto esses 40 milhões de médicos e outros profissionais de saúde do mundo inteiro acabam de enviar uma carta aos lideres dos paises do G20, entre os quais o Brasil está presente, o ministro do meio ambiente de nosso pais, de forma cínica e oportunista, na malfadada reunião ministerial, em cujo video  fala em modificar decretos, normas que não dependam de aprovação do Congresso Nacional, etc, para facilitar a degradação ambiental (na surdina, enquanto a imprensa está mais voltada para as noticias do coronavirus) e possibilitar "passar a boiada", "dar de baciada", ou seja, sucatear ainda mais os organismos de fiscalização ambientais, demonstra a falta de compromisso com a agenda contida inclusive nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e no Protocolo de Paris, ambos tratados em que o Brasil é signatário.

Não foi por acaso que o desmatamento, legal e, principalmente, ilegal aumentou assustadoramente na Amazônia e no Centro Oeste e as queimadas voltam com toda a forca nesses dois biomas entre outubro e abril deste ano. É mais do que sabido que o Govenro Bolsonaro e seus ministros tudo fazem para implantar o Estado minimo, isto é, um Estado/poder público/governo federal omissos e conivente com práticas ambientais criminosas que destroem os ecossistemas e burlam todas os regulamentos ambientais, incluindo o sucateamento de todos os organismos de fiscalização, no que tambem tem sido seguido por diversas governadores e prefeitos bolsonaristas.

Nesta carta esses 40 milhões de signatários enfatizam e “pedem aos governos que priorizem os investimentos em saúde pública, em ar e água limpa, em investimentos capazes de reduzir as emissões que provocam mudanças climáticas. O objetivo é convidar os líderes mundiais a pensar em uma retomada pós-Covid-19 que coloque no centro a saúde humana, começando com o que podemos fazer para criar maior resiliência para as futuras pandemias. E, portanto, os profissionais pedem investimentos para a redução da poluição atmosférica que mata milhões de pessoas no mundo e enfraquece os nossos corpos, por exemplo, em nível pulmonar, como observado durante a emergência do coronavírus. Mas também investir em agricultura sustentável, para dar um adeus aos combustíveis fósseis em favor de fontes renováveis, por uma mobilidade com baixas emissões de carbono”.

Está muito claro em diversas estudos e discussões internacionais que a recuperação da economia, no mundo todo, terá que ser feita com um respeito maior ainda ao meio ambiente, para reduzir a poluição em suas diversas manifestações, como das águas (rios, ribeirões, córregos, baias, lagoas, lagos e o mar),  poluição do ar com o aumento das emissões de gases que produzem o efeito estufa, poluição do meio urbano; tudo isso que acaba provocando um aumento das mudancças climáticas, a degradação do solo, o uso abusivo e criminoso dos agrotóxicos, o uso nefasto dos combustiveis fósseis, tanto no Sistema produtivo/fábricas e atividades rurais, e, principalmente no Sistema de transportes ou seja, a agenda economica no pós COVID-19 deverá ser uma AGENDA baseada na ECOLOGIA INTEGRAL e no respeito ao meio ambiente.

Diversos paises ja apontam neste sentido, como a maioria da Uniao Européia que ja está se comprometendo a aportar varios bilhoes de euros para a substituicao de suas matrizes energeticas, sistemas de transporte, muito mais baseadas e baseados em energia limpa e renovavel. O Governo Macron, da França, por exemplo, vai incentivar tanto a producao quanto `a aquição massiva de carros elétricos, como forma de reduzir o uso de combustíveis fósseis. Outros países estao incentivando, atraves dos respectivos tesouros, o transporte público e outras medidas neste sentido.

 Nesses países quem vai bancar a maior parte, a maior fatia dos programas de recuperação econômica, inclusive com o objetivos de gerar empregos e distribuir renda será o Estado, os Governos e não apenas deixar tudo a cargo da iniciativa privada ou o “deus mercado”, a quem os liberais como Paulo Guedes e seus seguidores imaginam que conseguirá dar o salto qualitative na implementação de sua agenda liberal.

Outro aspecto na agenda de recuperação econômica naqueles países é com a garantia dos direitos dos trabalhadores, diferente do que acontece com países que estão aproveitando a pandemia do coronavirus para retirar direitos e tornar a legislação trabalhista mais tênue, que acabará, como aconteceu no pós crise de 2008/2009 em que foi constatada uma maior concentração de renda e aumento da desigualdade do que antes da crise.

Quanto aos ganhos econômicos globais, caso os governos realmente percebam que é urgente a mudanca de paradígma tanto na questao energética quanto de outros aspectos do desenvolvimento, a Carta afirma ainda  que "Se os governos fizessem grandes reformas nos atuais subsídios aos combustíveis fósseis, deslocando a maioria deles para a produção de energia renovável e limpa, nosso ar seria mais saudável e as emissões que afetam o clima seriam drasticamente reduzidas, alimentando uma retomada econômica que, de hoje até 2050, daria estímulos aos ganhos globais do PIB em quase 100 trilhões de dólares".

Voltando a carta dos 40 milhões de médicos e demais profissionais da saúde e estudos em diversos países tem apontado que a degradação ambiental, inclusive a falta de saneamento básico, principalmente no urbano, tem contribuido e irá contribuir sobremaneira para o surgimento e propagação de epidemias como as que ocorreram em anos recentes como o EBOLA, a SARS e outras mais, em diversos paises e  agora,  como está acontecendo com o CORONAVIRUS, que está estrangulando de forma profunda todos os países e seus sistemas econômicos.

Por isso que na carta tambem é destacada a importancia dos sistemas de saúde, com o mesmo status e importancia dos demais setores, para os missivistas não tem sentido a polêmica do que é mais prioritário se a saúde ou a economia, quando diz “Os enormes investimentos que seus governos farão nos próximos meses em setores-chave como assistência médicatransporteenergia e agricultura devem ter a proteção e promoção da saúde incorporadas em seu núcleo”

Isto pode ser constatado quando afirmam textualmente “Uma recuperação verdadeiramente saudável não permitirá que a poluição continue a deteriorar o ar que respiramos e a água que bebemos. Não permitirá que as mudanças climáticas e desmatamento continuem avançando, potencialmente desencadeando novas ameaças à saúde de populações vulneráveis”.

Além deste manifesto diversos outros organismos internacionais como FAO, OIT, CEPAL, UNICEF, FMI, Bancos Internacionais de desenvolvimento, como BID e Bando Muncial e centros universitários tem apresentado estudos e indicativos dos aspectos fundamentais que devem constar desta nova fase do desenvolvimento mundial.

Muitos afirmam  que o mundo e os países não serão os mesmos no pós CORONAVIRUS, destacando exatamente as questões da pobreza, fome, exclusão social, violencia,  concentração/distribuição de renda, trabalho, emprego, novas formas do trabalho, o avanço da tecnologia, a robotização, a inteligencia artificial e, claro, no centro de tudo isto a questão ambiental.

O Papa Francisco, como outros líderes religiosos mundiais também tem chamado a atenção quanto `a importância de criarmos uma nova economia, um novo sistema econômico baseado na solidariedade, na equidade e que reduza tanto as desigualdades entre as nações, os países quanto também leve mem consideração a redução das desigualdades politicas, sociais e econômicas dentro dos países, pois o modelo atual esta mais do que falido, além de ser extremamente injusto e predatório.

Na convocação de um Encontro que deveria ser realizado em Roma no final de março último, para discutir a chamada “nova economia” ou “a economia de Fransico”,  o Papa Francisco assim se expressa: “Na ‘Carta Encíclica Laudato si’” enfatizei como hoje, mais do que nunca, tudo está intimamente conectado e a salvaguarda do ambiente não pode ser separada da justiça para com os pobres e da solução dos problemas estruturais da economia mundial. É necessário, portanto, corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das futuras gerações”.

Creio que esta carta/manifesto dos 40 milhões de medicos e demais profissionais da saúde se insere, perfeitamente, nas preocupações constantes dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, quando, em 2015, foram estabelecidas mais de 160 metas que deveriam servir de bússula para a definição de politicas públicas, programas e projetos nos diversas países, inclusive no Brasil, que é um dos signatários dos ODS com vistas a um novo patamar de desenvolvimento e bem estar social para a populacao, sem as mazelas dos atuais modelos de desenvolvimento, tendo como horizonte o ano de 2030.

Talvez este seja o momento de revivermos e colocar esses objetivos e suas metas na agenda do desenvolvimento nacional do Brasil neste momento em que já estamos nos preocupando com o pós coronavirus, sem perder de vista que pesa sobre nossas cabeças algo mais tenebroso e mais terrivel que a COVID-19, que é o DESASTRE AMBIENTAL, a ser desencadeado pelas mudanças climáticas, desastre este que os criminosos e destruidores do meio ambiente e seus protetores nas estruturas públicas fingem ignorar.

Vale a pena aprofundarmos essas discussões, não podemos deixar que as elites econômicas e seus aliados nas estruturas de governo, os donos do poder definam sozinhos as bases para a recuperação do Brasil no pós coronavirus. A questão ambiental, a ECOLOGIA INTEGRAL não podem ficar ausentes desses debates e das propostas a serem implementadas proximamente.

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

Quinta, 21 Maio 2020 13:18

 

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JUACY DA SILVA*
 

Existem milhares de pessoas pelo Brasil afora, sentados em corredores de unidades de saúde, no chão, em leitos improvisados ou "devolvidos para casa" por falta de vagas, ou desesperadamente em busca de socorro nas UPAs,  outras unidades de Saude e em leitos de enfermarias de hospitais, públicos ou privados, aguardando uma vaga de UTI e um respirador. As UTIs, principalmente onde pacientes do SUS deveriam ser atendidos com dignidade e de forma humanizada, estão super lotadas, praticamente ocupadas com suas capacidades máximas, algumas próximas de 100%  e não existem respiradores suficientes para atender essas pessoas que estão nas filas da morte. Um Quadro tétrico conforme diversas relatos `a imprensa por profissionais da saúde, esgotados e angustiados por serem testemuhnas de tanto sofrimento e morte.

No hospital das clinicas da Universidade de São Paulo, segundo o noticiário dos últimos dias, indicam que 80% das pessoas internadas em UTIs necessitam de respiradores para continuarem sobrevivendo e lutando pela vida, o que nem sempre conseguem.

Os relatos de médicos/médicas, enfermeiras/enfermeiros ou familiares dessas vitimas indefesas, a quem é negado o principal e maior direito que é a VIDA, são dramáticos, tristes, horrorosos, como o de um senhor que morreu, tendo ficado todo roxo, sufocado, bem na frente desses profissionais de saude, sem que os mesmos pudessem salvar aquela vida.

Quando somadas as pessoas que estão nas FILAS DA MORTE, chegam a milhares  aguardando  tanto um leito de UTI quanto um respirador, sentadas em cadeiras simples (não elétricas como acontece em alguns países que adotam a pena de morte), em macas, no chão, para praticamente zero de possibilidades. Resultado, as FILAS DA  MORTE, constituidas por pessoas que aguardam que algum paciente se recupere ou morra para abrir uma nova vaga crescem muito mais rápido do que a disponibilidade de leitos de UTIs e de respiradores, mesmo com a construção de hospitais de campanha ou aquisição de leitos de UTIs disponíveis no Sistema privado de saúde, tudo, é claro, a preços oxorbitantes e as vezes superfaturados.

Mesmo diante da subnotificação vergonhosa que existe no Brasil, principalmente em decorrência da baixa capacidade de realizar testes em massa e diagnosticar a verdadeira situação, o número exato de quantas pessoas estão infectadas pelo Coronavirus no país e sendo transmissores para outras pessoas, a cada dia milhares de pessoas são diagnosticadas com CORONAVIRUS, como aconteceu no último dia 19 deste mes de maio (última terça feira, ontem) quando o número de novos casos chegou a 17.628 um record tanto no Brasil quanto na maior parte dos países e o número de novas mortes em 24 horas também bateu mais um record e chegou a 1.179 praticamente igual a de diversas países europeus no auge da pandemia há poucas semanas.

A subnofiticação, conforme estudo recente informa que o número real de casos e de mortes por coronavirus pode ser de 3; 4; 5 ou de até 16 vezes maior do que os dados informados pelas autoridades sanitárias (Ministério da Saude e secretarias estaduais e municipais de saúde), outros estudos indicam números menores, mas que somente uma testagem em massa, como feito pelos EUA, Rússia e outros países pode realmente determinar o tamanho do problema.

Enquanto isto em um mes dois ministros da saúde deixaram o cargo por discordarem das posicoes exdrúxulas do Presidente Bolsonaro nesta questão e o atual ministro, um general, que também já nomeou mais de 20 militares no Ministério da Saúde, não consegue adquirir e nem promover esta testagem em massa e, por isso, não dispõe de um diagnóstico verdadeiro da situação.

Devido ao descaso e conflitos em torno das estratégicas de como enfrentar o problema de forma racional, tanto por parte de inúmeras autoridades, empresários e da população em geral, que não sabe a quem seguir, se o Presidente da República que passou a ser um entusiasta propagandista da cloroquina, mesmo não sendo médico e a combater o isolamento/distanciamento social, apesar de tal estratégia ser a recomendada pela OMS e pelas comunidades médica e científica,  o país defronta-se com o  avanço acelerado do CORONAVIRUS  tanto o número de novos casos quanto o de mortes, muito mais do que a capacidade dos  governantes em providenciarem leitos de enfermarias (apesar da construção de hospitais de campanhas em algumas cidades) e tambem leitos de UTI, respiradores, equipamentos de proteção individual para o pessoal da saúde, que são os guerreiros na linha de frente, que também estão sendo contaminados e varios dos quais acabam perdendo a vida, morrendo, desnecessariamente, enquanto os politicos estao preocupados com cargos, o toma lá dá cá e as eleicoes municipais ou as de Presidente, esta que só deve ocorrer em 2020.

Devido ao conjunto de todos esses fatores, médicos, cientistas, gestores de saúde, alguns governadores e prefeitos, há semanas e meses vem alertando que o PICO tanto de casos quanto de mortes ainda nem chegou no Brasil e que isto talvez só ocorra entre final de junho e inicio de julho, ou seja, durante mais de um mes ainda vamos assistir diariamente esta tragédia em tempo real.

A possibilidade do Brasil, principalmente em alguns estados e regiões metropolitanas, que possuem milhões de pessoas vivendo em favelas ou habitações sub-humanas,  sem saneamento básico, sem água potável, sem trabalho e sem renda, defrontar-se com o COLAPSO TOTAL dos sistemas de saúde público e privado é muito alto e aí, estaremos em situação muito pior do que a que ocorreu na Italia, na Espanha e nos EUA, na Inglaterra e outros países, cujos sistemas de saúde e funerárias são muito superiores aos do Brasil e que não possuem a quantidade de pessoas vivendo em verdadeiros amontoados humanos como nas favelas, corticos, casas de cômodo, palafitas ou até mesmo em conjuntos habitacionais que não passam de novas favelas, onde a proximidade das "casas" e a quantidade de pessoas vivendo em pequenos espaços é enorme, onde o contagio também é enorme e rápido. Se aqueles países com condições muito melhores e uma economia muito mais forte do que o Brasil entraram em colapso, imaginemos qual o cenário que se projeta em nosso país, com todas as mazelas mencionadas.

Por essas razões, em poucas semanas, mesmo com a subnotificação que ocorre, o Brasil passou da 10a. posição em número de casos de pessoas infectadas para o terceiro lugar e, para desgraça da população, dentro de mais alguns dias seremos o segundo país com um maior número de infectados e talvez até o final da pandemia também passaremos a atingir a triste marca de segundo ou terceiro país com mais mortes, Talvez mais de 30 ou 35 mil mortes, conforme algumas projeções.

A questão da subnotificação também está associada aos baixos indices de testes que são realizados no Brasil. Nosso pais ocupa da 101a. posição em número de testes realizados por um milhão de habitantes. Em termos de total de testes realizados, no mundo até no último sábado haviam sido realizados pouco mais de 59 milhoes de testes e no Brasil, em torno de 800 mil apenas, ou seja, nada mais do que 1,4% do total mundial, apesar do Brasil ter a sexta maior população do planeta.

Ontem, dia 19 de maio de 2020, foi um dia histórico, não no sentido de termos alguma coisa positiva para comemorar, mas sim, porque nesta data o Brasil registrou tanto o maior número de novos casos de pessoas diagnosticadas psositivamente, ou seja, estão infectadas com o coronavirus e na medida em que a maioria da população não esta praticando o isolamento social,  milhões estão saindo `as ruas, se aglomerando, sem uso de máscaras e sem os cuidados necessários o numero de pessoas infectadas vai aumentar rapidamente.

Neste dia foram registrados 17.628 mil novos casos de coronavirus e também fomos testemunhas mudas de mais 1.179 mortes, repito, desnecessárias, muitas precoces e muitas em uma situação de negiglência e falta de atendimento, pelas razões já apontadas, totalizando,271.628 casos e 17.071 mortes.

Mantida esta tendência, com toda certeza, dentro de poucos dias o Brasil deverá ultrapassar a Rússia em número de casos positivos/pessoas infectadas com o CORONAVIRUS e como existe uma relação entre quantidade de pessoas infectadas x número de mortes, que no caso do Brasil este índice é de 6,6%; quanto maior o número de pessoas infectadas, aliados ao fato da falta de UTIs e respiradores, que contribuem para a formação das FILAS DA MORTE, com toda a certeza o Brasil será o país com maior progressão dos casos positivos e também de mortes, só perdendo para os EUA.

Segundo notícias, matérias, relatórios e estudos de diversas organismos brasileiros, como universidades, Fundação Oswaldo Cruz e outros mais, desde fevereiro deste ano até dados mais recentes, tem demonstrado que apenas 536 ou apenas  9,6%  dos 5.570 municipios brasileiros possuem unidades de saúde com UTIs e menos ainda com respiradores, condições necessárias e imprescindíveis para atenderem e tratarem os doentes infectados com CORONAVIRUS e também de tantas outras doenças que já fazem parte dos quadros epidemiológico e de mortalidade no Brasil.

Nos municípios que não possuem nenhuma estrutura compatível com o enfrentamento do coronavirus, reside mais de 48 milhões de pessoas (22,7% do total da população brasileira) e com o avanço do coronavirus para o interior e também para áreas indigenas e favelas/comunidades, para pequenas e médias cidades, as pessoas infectadas acabam sendo transferidas (quando conseguem) para outras cidades maiores, cidades polos e, principalmente, para as capitais e regiões metropolitanas onde concentram mais de 85% das UTIs do país.

Outro problema sério que já vem de longe é a disparidade entre os sistemas público e privado de saúde. O SUS já vem em processo de falência, de sucateamento há anos, com cortes de recursos orçamentários, financeiros, falta de pessoal/recursos humanos e equipamentos, redução do número de leitos em geral e de UTIs em particular, tendo como resultado uma enorme fila da morte (fisica ou virtual). Inúmeras reportagens em anos recentes tem demonstrado a precariedade e o caos que ja existia na saúde publica do país, que é responsável pelo atendimento a mais de 159 milhões de pessoas, que pela precariedade de renda, só tem o SUS como recurso para tratamento da saúde.

De acordo com o cadastro nacional dos estabelecimento de saúde do Ministério da Saúde, em 2010 o SUS tinha 336.842 leitos hospitalares e em 2018 tinha apenas 302.524, ou seja, em oito anos perdeu 34.318 leitos, 10% do total e neste mesmo periodo a população brasileira passou de 195,7 milhões de habitantes para 209,5 milhões, um crescimento de 7,1%.

Considerando que 75% da população brasileira tem o SUS como único recurso para seus cuidados com a saúde, isto significa que em 2010 esta clientele era representada por 146,8 milhões de pessoas e em 2018 passou para 157,1 milhões de pessoas, um aumento de 10,3 milhões e em 2020 são 159 milhões de pessoas.

Se em 2010 o atendimento do SUS já era precário, imaginemos como estariam sendo em 2018 com um aumento de 10,3 milhões de pessoas e uma redução de 34.318 leitos e como esta sendo nos dias de hoje.

É neste contexto que a crise deste momento em que o CORONAVIRUS ataca de forma acelerada, que o Sistema público de saúde brasileiro está se exaurindo,  entrando em colapso total, prejudicando, inclusive, milhões de pessoas que todos os anos, todos os dias precisam de atendimento médico, hospitalar, desde as UPAs ou PSF até hospitais e centros cirúrgicos por serem portadoras de diversas outra doenças como problemas cardíacos, respiratórios, diabetes, hipertesão, acidentes diversos, diversas tipos de câncer, doencas crônicas degenerativas e outras mais, incluindo doencas de massa transmissíveis como dengue, zica, chicungunha, pneumonia, malaria, tuberculose, problemas visuais etc.

A essas pessoas, milhões de pessoas, está também sendo negado o direito `a saúde, pois o Sistema publico de saúde está praticamente voltado,  única e exclusivamente, para suspeitos de ou doentes com coronavirus, negligenciando os demais casos. Além disso, as pessoas que não tem coronavirus mas precisam de atendimento do SUS ou mesmo da rede privada estão temerosas de irem a uma unidade de saúde e acabarem sendo infeectadas. Este é o outro lado das FILAS DA MORTE, pois esses pacientes também fazem parte desta fila macabra.

A situação entre 2018 e 2020, quando o coronavirus chegou ao Brasil , já estava muito pior e, a catástrofe que estamos vendo não deveria causar espanto nem para as autoridades, a grande maioria que pouco se importa com a sorte e o destino do povo; nem para a imprensa que cobre diariamente o sucateamento e caos na saúde pública e muito menos para a população em geral e em particular das pessoas que são humilhadas e tratadas com descaso ante o quadro lastimável em que se encontra a saúde dos pobres, como costumo chamar a saúde publica no Brasil.

Portanto, a chegada do CORONAVIRUS apenas retirou a cortina, o manto que aos olhos dos governantes, encobria o estado lamentável, caótico e as vezes criminoso em que se encontrava e se encontra a saúde pública no Brasil.

Com uma alta probabilidade de acerto podemos dizer que passada esta onda do coronavirus, milhares de leitos desses hospitais de campanha inprovisados, serão desativados, quando o caos e sucateamento do SUS será maior ainda e tudo voltará ao “normal”, pessoas em filas virtuais ou físicas, abandono, descaso, falta de leitos, equipamentos, recursos humanos, orçamentários e financeiros.

O total de UTIs pouco antes do CORONAVIRUS iniciar a sua devastação no Brasil, conforme Estudo que mapeou leitos de UTI, respiradores e as necessidades do SUS para enfrentar a COVID-19, realizado por uma equipe de pesquisadores do  Instituto  de Estudos para Politicas Públicas (IEPES)  divulgado inicialmente pela FGV em  23 de março último, indicam que das 436 regiões de saúde do Ministério da Saúde, 279 (63,3% tinham menos de 10 leitos de UTIs, para cada grupo de 100 mil habitantes). Em relacao ao SUS 316 (72%) estavam abaixo do minimo necessário, onde estão 56% da populacao brasileira (119 milhões de habitantes).

Em 142 das regiões de saúde, no que concerne a leitos de UTIs para uso do SUS não tinham sequer um leito de UTI, para atender 31,7 milhões de habitantes que sempre estiveram totalmente desasistidos quando necessitam de um leito de UTI, ou mesmo um leito hospitalar comum ou até mesmo exames de rotina, com destaque de que essas áreas estão concentradas mais na Amazônia Legal e no Nordeste.

Todavia, mesmo nas demais regiões (Sudeste, Sul e Centro-Oeste) 40% da população depende única e exclusivamente do SUS para suas demandas de saúde, principalmente as que integram as camadas excluidos, de baixa renda, subempregados, desempregados. Mas nada disso chamava a atenção de governantes que agora dizem estar super preocupados com os pobres, desasistidos, desempregados e sem renda.  

No Brasil 25% da população (53 milhões de habitantes) tem planos de saúde ou condições financeiras para custearem seus cuidados com saúde , entre os quais os marajás da República em Brasília e nos Estados, que além de terem altos salários ainda tem planos especiais ou ajuda de custo, para custearem suas despesas com saúde; enquanto 75% da populacao (159 milhões de pessoas) dependem exclusivamente do SUS e nem renda possuem para aquisição de medicamentos.

De acordo com o estudo que mapeou os leitos de UTI e respiradores, verifica-se que no Brasil até a data do estudo, exisitam 40.600 leitos de UTIs e o SUS tinha apenas 44% dos mesmos (17.900 leitos) e o Sistema privado de saúde o restante (22.700). Tendo em vista o número de pessoas que cada Sistema (SUS e o sistema privado)  deve atender, percebe-se uma grande disparidade no que concerne `a possibilidade de atendimento.

Esta é a razão pela qual neste momento faltam leitos e respiradores na saúde pública (SUS) que já entrou em colapso e sobram leitos no Sistema privado que estão sendo “comprados” pelos poderes públicos, o que representa de certa forma um mercado da morte, a preços de ouro, além de outros deslizes na aquisição e até mesmo certo nível de corrupção na área da saúde, mesmo em um momento tão sofrido e doloroso para milhões de brasileiros.

Enquanto o SUS dispõe de 11,3 leitos para cada 100 mil habitantes/clientes; no Sistema privado de saúde são 42,8 leitos para cada 100 mil habitantes/clientes. Se este referencial fosse aplicado ao SUS, com toda a certeza o número de mortes não seria tão elevado e o tamanho das FILAS DA MORTE seriam bem menores no Brasil, ou seja, o CORONAVIRUS não teria o poder destruidor como vem apresentando em nosso país.

Diversos outros países, muito mais populosos do que o Brasil, como China e Índia, por exemplo, com mais de 1,4 e 1,38 bilhões de habitantes, respectivamente, tiveram ou estão tendo um número ínfimo de casos e de mortes, quando comparados com paises europeus, EUA e o Brasil. Isto demonstra que existem estratégias mais eficientes e sistemas de saúde mais efetivos e eficazes do que no Brasil.

Além da diferença gritante de leitos de UTIs entre o SUS e o Sistema privado de saúde, existe também uma enorme concentração de leitos hospitalares em geral e de UTIs e respiradores, em particular, nas capitais e nas cem cidades com maiores populações, as chamadas cidades polos, presentes em todos os Estados e DF, para onde acorrem, em tempos normais, milhares, milhões de pacientes, transportados em ambulâncias ou outros meios, para essas cidades.

Por muito tempo e isto ainda acontece atualmente no Brasil, a grande politica de saúde pública na maioria ou quase totalidade dos municipios com menos de cem mil habitantes é a “abulancioterapia”, houve, inclusive uma época que precisou ser realizada uma CPI das ambulâncias, tamanha era a corrupção neste setor, fator este que ajuda a explicar o sucateamento, caos e colapso do SUS.

Só para exemplificar este aspecto, em Mato Grosso, existem 141 municípios, cinco deles, incluindo a Capital Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres, Rondonópolis e Tangará da Serra concentram 80,5% do total de leitos de UTIs. Só Cuiabá representa 60,7% do total de UTIs, que no Estado todo são 1.318. Em apenas 15 dos 141 municípios do Estado estao concentrados 94,2% do total de UTIs.

Esta mesma situação se repete praticamente em todos os Estados da Federação, uma das ou talvez a maior razão do colapso do Sistema público de saúde. Esta é a realidade de uma “cronica anunciada”, o coronavirus surgiu apenas para tornar a realidade sanitária brasileira um pouco mais cruel, mas parece que nem esta realidade e muito menos o colapso do SUS comovem nossas autoridades! Lamentável em todos os sentidos.

Com toda a certeza, diante dos impactos econômicos, institucionais e a recessão, queda de arrecadação dos poderes públicos, aumento de desemprego, perda de renda por um enorme contingente populacional, milhões de pessoas que hoje possuem planos de saúde, serão ‘empurradas” para o SUS.

Diante disso, o SUS pós coronavirus deverá precisar, muito mais do que antes, de também ser socorrido por uma UTI e irá precisar de um respirador para não morrer definitivamente!

Podemos afirmar, com um Elevado grau de probabilidade, que dentro de poucos meses o SUS também estará na FILA DA MORTE e com ele dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras, principalmente as camadas excluídas social, econômica e políticamente.

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociológo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veiculos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
 
 
Terça, 19 Maio 2020 12:30

 

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JUACY DA SILVA*
 

A partir deste sábado, 16 de Maio até o domingo da práxima semana, dia 24 de maio de 2020, o mundo católico e também bilhões de fiéis de outras religiões estarão comemorando  mais uma SEMANA DA LAUDATO SI, o quinto aniversário desta, que pode ser considerada a mais importante Encícilica voltada para as questões ambientais ou o que o seu autor, o Papa Fransico, tem enfatizado como ECOLOGIA INTEGRAL.

No dia 24 de Maio de 2015, mesmo ano em que a ONU apresentava ao mundo os OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTLO SUSTENTÁVEL, o PAPA FRANCISCO, divulgou, ofereceu `a Igreja Católica e a todas as pessoas de bem ao redor do mundo,  a “LAUDATO SI” (LOUVADO SEJA”), a chamada ENCÍCLICA VERDE, que dentro de uma semana estará comemorando seu quinto aniversário.

Mesmo que o mundo esteja em meio `a PANDEMIA do CORONAVIRUS, também denominada de CONVID-19, em meio a muito mêdo, as vêzes pânico, um tremendo sofrimento e centenas de milhares de mortes, nem por isso, devemos esquecer que pesa sobre o planeta terra um grande desastre preconizado por cientistas, governantes, estudiosos, já anunciado, tendo como, se é que podemos assim denominar de epicentro, as mudanças climáticas, cujas consequências poderão e com certeza serão muito maiores do que as provocadas pelo CORONAVIRUS.

Logo no inicio da LAUDATO SI, o PAPA FRANCISCO refere-se ao cântico de São Francisco de Assis, o Santo da Ecologia, do Meio Ambiente e de todas as criaturas viventes sobre a terra, quando ele (São Francisco de Assis) assim dizia “Louvado seja, meu Senhor, pela nossa irmã, a MÃE TERRA, que nos sustenta e governa e produz variados frutos, com flores coloridas e verduras”.

A este cântico, o Papa Francisco aduz o inicio de seu pensamento desenvolvido ao longo da Encíclica, quando afirma “Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nos colocou. Crescemos pensando que éramos seus proprietários e DOMINADORES, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano, ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados (o centro das preocupações, das exortações e do pensamento do Papa Francisco), enconta-se a nossa TERRA OPRIMIDA e devastada, que está “gemendo como que em dores de parto”.

A Laudato Si é constituida, além de uma parte introdutória, mais seis capítulos que orientam o leitor a uma viagem, uma caminhada, dentro da metologia utilizada pela Igreja Católica, o VER, OUVIR E AGIR. Isto pode ser observado a partir dos títulos de cada capítulo: I) O que está acontecendo com a nossa CASA COMUM; II) O evangelho da criação; III) A raiz humana da crise ecológica; IV) Uma ECOLOGIA INTEGRAL; V) Algumas linhas de orientação e ação; VI) Educação e espiritualidade ecológicas. Em sua versão impressa, documento 201 da CNBB, da Edições Paulinas, a “Laudato Si” tem 197 páginas e em uma de suas versões online tem 87 páginas e na versão do site do Vaticano tem 197 páginas.

A “Laudato Si” está inserida e contribui para a atualização da Doutrina Social da Igrreja (DSI), inserindo na mesma uma preocupação cristã e católica quanto ao destino de nossa CASA COMUM, que é o Planeta Terra, afinal, como diz o Papa Francisco “Tudo esta interligado”, o mundo é, neste sentido uma “aldeia global” e, como tal, todos somos responsáveis pelo que é de bom ou de ruim; de certo ou errado que fazemos quando nos relacionamos com a natureza.

O ser humano não existe sem a natureza e esta, inserida no contexto da criação divina, só tem sentido se colocar a humanidade de forma integrada, por isso, somos um todo único e o destino da humanidade está diretamente inserida no destino do planeta terra, que, lamentavelmente, está sendo destruido de forma impiedosa, principalmente quando se coloca a exploração irracional dos recursos naturais, na busca e na transformação desses recursos naturais como base para o lucro, para cultuar de forma desmedida o “deus mercado”, que tantos males tem feito ao planeta terra.

Na “Laudato Si” (ítem 13) Francisco afirma de forma enfática “O urgente desafio de proteger nossa casa comum inclui a preocupacão de unir toda a familia humana, na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar” e a seguir ele reafirma o seu apelo dizendo “Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do Planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos  e as suas raizes humanas dizem respeito e tem impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu  um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas  agregações de cidadãos que ajudaram na conscientização”.

Esta exortação e apelo do Papa Francisco não é direcionado apenas aos catolicos, mesmo que este seja um dos maiores grupos religiosos do mjundo, com mais de 1,3 bilhão de adeptos, que, juntamente com os protestantes/evangélicos totalizam, como cristãos, 2,2 bilhões de pessoas; seguindo-se também os demais grupos religiosos, como o islamismo com 1,6 bilhão de pessoas; o hinduismo com 1,0 bilhão de pessoas e o budismo com pouco mais de 900 milhões de pessoas.

Esses grupos religosos representam mais de 70% da população da terra e em seus livros sagrados constam varios ensinamentos e principios doutrinários que exortam seus fiéis a respeitarem o meio ambiente, a natureza, a biodiversidade como criação divina e não algo a ser utilizado de maneira utilitária e predatória, mas respeitando o princípio da sustentabilidade que é fundamental para que as próximas e futuras gerações possam também usufruir dos bens da natureza que estão inseridos na idéia do bem comum e da nossa casa comum.

Na “Laudato Si”  o Papa Francisco destaca que “Espero que esta carta encíclica, que se insere no magistério social da Igreja, nos ajude a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza dos desafios que temos pela frente” e a mensagem da encíclica segue afirmando “ Poderemos assim propor uma ecologia que, nas suas várias dimensões, integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o rodeia”.

As relações tanto sociais, econômicas, culturais quanto politicas devem ter o mesmo peso que nossas relações com a natureza. Fruto dessas relações, quando as mesmas não são guiadas pelos principios da ética, da justica, da sustentabilidade, da equidade e da fraternidade é o surgimento de sociedades opressoras, que geram exclusão, pobreza, miséria, desperdício, lixo em abundância, ganância, prepotência, degradação e crimes ambientais.

Existe um liame perfeito entre os principios de uma “Igreja em saida”, missionária, comunitária, misericordiosa e também profética, que não pode compactuar com o desrespeito aos direitos fundamentais das pessoas, onde estão icluidos o direito `a vida, ao trabalho, `a dignidade, a liberdade, `a busca da felicidade e, também, o direito a um meio ambiente saudável e ecologicamente integrado.

Governos que não dão importância e não respeitem o meio ambiente, cujas politicas públicas estimulam a destruição e degradação ambientaais, a morte da biodiversidade, ao uso indiscriminado de agrotóxicos, `a poluição do ar, das águas, do solo estão na contra-mão dos ensinamentos e das exortações da “Laudato Si” e precisam ser denunciados como coadjuvantes de prática ambientais predatórias e criminosas.

Como exemplo dessas relações, reafirmando que tudo “está inteligado”, a “Laudato Si” reafirma de forma peremptória que “a relação íntima entre pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado  no mundo, a crítica do novo paradígma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender  a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos e a grave responsabilidade  da politica internacional e local, a cultura do descarte (e o desperdício) e a proposta de um novo estilo de vida”.

Enfim, a “Laudato Si”, tanto como uma encíclica em si mesma quanto uma exortação dirigida a todas as pessoas, independente de raça, cultura, credo, classe social, nos vários continentes e países, inclusive no Brasil, nos chama `a responsabilidade em relação ao futuro do planeta, não apenas enquanto exercício intelectual mas, fundamentalmente, como bases e principios para a ação como cidadãos e cidadãs conscientes e que agem coletivamente. Esta é a grande exortação que podemos extrair da Encíclica Verde e dos ensinamentos do Papa Francisco.

Não fosse a pandemia do coronavirus, esta semana seria plena em termos de eventos como ações em defesa do meio ambiente, seminarios, palestras, foruns de debates e discussões do conteúdo desta que é chamada de ENCÍCLICA VERDE.

Mesmo que o COVID-19, que já infectou mais de 4,57 milhões de pessoas, levando a morte 308,3 mil pessoas no mundo e 220,3 mil casos e 15,2 mil mortes no Brasil, esteja limitando, sobremaneira, nossas ações tanto pelo estado de emergência em que vivemos quanto no isolamento/distanciamento social a que estamos sendo submetidos, mas mesmo assim, podemos agir virtualmente, aprofundarmos nossas reflexões, ler e reler esta Encíclica, procurarmos entender as suas propostas de ação, principalmente quando o PAPA FRANCISCO e diversas cientistas, estudiosos das questões ambientais apontam que o caminho para superarmos os desafios mundiais que estão se agravando, principalmente decorrentes das mudanças climáticas e crimes ambientais é a ECOLOGIA INTEGRAL.

Algumas pessoas costumam dizer que for a da ECOLOGIA INTEGRAL não existe salvação para o planeta, tudo o mais são medidas paliativas que apenas vão retardar o grande desastre ambiental ou tentar mitigar seus efeitos.

Esta é apenas uma parte do que devemos levar em consideração quando estamos iniciando esta SEMANA ESPECIAL, dedicada para comemorar o quinto aniversário da “LAUDATO SI”.

Quem desejar se aprofundar mais no conteudo da Encíclica Verde, basta entrar em qualquer site de busca na internet e vai encontrar tanto a “Laudato Si”, em sua integra, quanto diversas estudos sobre a mesma e os temas nela tratados, principalmente o que é a ECOLOGIA INTEGRAL, como o caminho para superarmos esses desafios que tanto nos afligem e a partir dos quais, com toda certeza, se nada for mudado, algo muito pior e mais terrivel do que o COVID-19 e todas as pandemias que já ocorreram no mundo que ceifaram bilhões de vida, deverá ocorrer que será o grande desastre ambiental, um verdadeiro apocalipse, algo que muita gente diz que será o “Armagedon”, que poderá destruir se não totalmente, pelo menos a grande maioria da espécie humana.

Mesmo assim, ainda existem pessoas e governantes totalmente alienados, despreocupados, inclusive no Brasil, com as questões ambientais, que poderão provocar desastres que surgirão quando menos se esperar como aconteceu com o coronavirus, que pegou o mundo todo muito despreparado, apesar de que todos ou a grande maioria dos governantes saberem que existia e continua existindo a probabilidade de uma “Guerra bacteriológica” e mesmo assim, nada  fizeram para prevenir este desastre humano, social e econômico que está sendo e será o CONVID-19.

Já que estamos em isolamento social, muita gente sem ter o que fazer, talvez este seja o momento, durante esta semana especial dedicada ao quinto aniversario da “Laudato Si”, lermos ou relermos esta Encíclica, discurtirmos virtualmente o seu conteúde e nos preparamos para um maior ativismo ambiental a partir da retomada no pós CORONAVIRUS, quando a retomada a economia deverá respeitar ainda mais o meio ambiente e a sustentabilidade.

Gostaria , para finalizar esta reflexão, de enfatizar o que consta do item 137 da “Laudato Si”, que, a meu ver, é o âmago desta Encíclica, quando  o Papa Francisco  destaca que “Visto que tudo esta intimamente relacionado e que os problemas atuais requerem um olhar que tenha em conta todos os aspectos da crise mundial, proponho que nos detenhamos agora a refletir sobre os diferentes elementos de uma ECOLOGIA INTEGRAL, que inclua claramente as dimensões humanas e sociais”.

Assim, mesmo que já tenham se passado cinco anos desde que surgiu esta Encíclica, seus principios, exortações e ensinamentos estão perfeitamente atualizados para os dias de hoje. Nunca o mundo precisou tanto desses ensinamentos como no atual momento crítico de nossa história.

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular, aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veiculos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
 
 

 

Sexta, 08 Maio 2020 14:54

 

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JUACY DA SILVA*
 

O coronavirus e todas as epidemias e pandemias, aparecem apenas para retirar o véu, desnudar as estruturas injustas que estão associadas ao poder e que geram pobreza, miséria, fome, exclusão, dor, sofrimento e morte, tudo o mais é secundário ou  leitura distorcida de uma realidade extremamente cruel que caracteriza a ambição humana por poder, riqueza, apego a bens materiais, entesouramento, prestígio e status.

Em poucos meses, um virus muito pequeno, invisível a olho nu, revelou em imagens o que o mundo todo já sabia há muito tempo, afinal, antes do COVID 19, Novo Coronavirus, inúmeras epidemias e pandemias já assolaram o mundo, matando dezenas, centenas de milhões ou bilhões de pessoas em diversas países.

Como nas pandemias anteriores, também o COVID 19 tem um poder destruidor muito mais do que as tão temíveis armas nucleares ou convencionais que, ao longo da história, quando usadas nas diversas guerras que o mundo tem presenciado tem sacrificado também milhões de vitimas, não apenas os militares que são engajados diretamente nas batalhas, mas principalmente a população civil, com destaque para pessoas totalmente indefesas como crianças, idosos e deficientes.

Durante as guerras, principalmente com o surgimento de avançadas tecnologias que transmitem em tempo real imagens, sons e corpos dilacerados, edifícios, pontes e o outras estruturas totalmente desturidos e destruidas.

Todavia, nesses tempos de coronavirus, não podemos passar o dia todo, todos os dias de quarentena, de isolamento social ouvindo e vendo governantes e os veiculos de comunicação massificando e alienando a população através apenas de estatísticas que nos amedrontam com a contagem de números de pessoas infectadas, do número de mortes em cada ponto do planeta, ou sobre as filas da morte em hospitais que não tem leitos de UTI e respiradores; da crise dos sistemas de saúde, da falência dos sistemas funerários, com cenas tristes, tétricas, horripilantes.

Pouco espaço existe para  refletirmos, discutirmos o que estava acontecendo no mundo, no Brasil, em nossos estados, municipios e em nossas comunidades antes da chegada do coronavirus, quais os impactos que o mesmo irá provocar em nossas vidas futuras. Parece que o mundo vai acabar junto com o coronavirus, falta esperança, falta visão quanto ao futuro, como iremos construir um futuro com mais solidariedade, com menos exclusão social, um mundo melhor, um mundo e paises que tenham estrururas suficientemente fortes e capazes para enfrentar novas pandemias, talvez piores do que o coronavirus, que o mundo deverá enfrentar, a começar com a catástrofe ambiental que se abaterá sobre o planeta com piores consequências do que as advindas do coronavirus com certeza, a menos que mudanças radicais sejam efetuadas nos modelos de desenvolvimento e de crescimento econômico, o que são pouco prováveis, devido `a visão mediocre e tacanha da grande maioria dos governantes e empresários em todos os países, inclusive no Brasil.

Ou seja, precisamos nos preparar hoje, para o que deve acontecer  no dia seguinte, o pós coronavirus, não podemos permitir que governantes e as politicas públicas deixem de considerar as necessidades de sistemas públicos de saúde para que estejam em condições de, realmente, enfrentarem todas e quaisquer epidemias, como os militares realizam em seus estudos de pranchetas ou computadores denominados de “hipóteses de Guerra”, tentando antever quais os fatos portadores de futuro e como controlar os mesmos, antes que uma grande desgraça como a do coronavirus se abata sobre a população.

É ‘interessante” notar como o coronavirus, diferente das guerras, poupa em todos os países as estrururas fisicas das cidades e das áreas rurais,   mas também produz cenas que são impactantes: hospitais com corredores abarrotadas de pessoas que estão sofrendo, muitas das quais irão morrer neste processo; como em diversas países, em milhares de cidades vemos intermináveis filas da morte, se não fisicamente, pelo menos pessoas anônimas que em abrigos de idosos, residências suntuosas ou casebres em favelas ou na porta de unidades de saúde, aguardam o passaporte para a eternidade.

Alguns países para combater este inimigo invisível, que Trump e inúmeras autoridades e pessoas que adotam uma visão de mundo definida pela ideologia, que sempre buscam um bode expiatório, um culpado para a origem do coronavirus e ai, a Guerra ideológica vem com toda a força, embasada nas teorias da conspiração.

Os extremistas de direita, os neo-facistas, os neo-nazistas, os liberais e neo-liberais não titubeiam em afirmar categoricamente, se possivel embasados em mentiras, fake news que eles próprios espalham, não titubeiam em dizer que o coronavirus foi criado em laboratório na cidade de Wuhan, cidade chinesa que foi o primeiro epicentro desta pandemia. Isto seria parte do arsenal de armas biológicas que a China está desenvolvendo, mas que já foram utilizadas pelos japoneses nos anos quarenta do século passado, durante a segunda guerra mundial , quando da ocupação japonesa na China, além dos arsenais de armas biológicas que mais de uma dezena de países possuem e fabricam, como os EUA, Rússia, China, talvez a Coréia do Norte, Iran, países europeus e outros mais.

Como não existem vacinas e nem medicamentos para prevenir ou tratar as pessoas que sejam infectadas ou potencialmente vitimas desta pandemia, a única alternativa ou estratégia tem sido o isolamento social, o distanciamento social, em alguns casos de forma radical como aconteceu na China e na Índia e em alguns outros paises, de forma parcial, para evitar aglomerações e aumento de contágios.

Ao lado dessas medidas de isolamento para impedir ou dificultar que o virus se espalhe  e contamine multidões, causando o colapso dos sistemas públicos e privados de saúde, outras medidas como higienização e o uso de máscaras são adotadas, seja de forma voluntária ou de forma compulsória.

Mesmo com o número de casos e de mortes aumentando de forma exponencial em inúmeros países , ainda existem pessoas, até governantes que simplesmente ignoram a gravidade do problema e o potencial destruidor deste inimigo invisível; alguns, como os presidents Trump e Bolsonaro, outros governantes em alguns países que preferem ignorar a realidade sanitária e se preocupam muito mais com as dimensões econômicas, principalmente com os lucros e capital dos grandes grupos econômicos, apesar de que para o público invocam dimensões de comiseração com os grupos vulneráveis e excluidos nas sociedades.

A pobreza, a miséria, o desemprego, o sub-emprego, a informalidade, o sucateamento dos serviços e sistemas de saúde, a violência, o feminicídio, a corrupção e as mortes já existiam bem antes da chegada do coronavirus e nada disso era realmente preocupação de tais governantes, cujas politicas públicas sempre favoreceram e continuam favorecendo o grande capital, os grandes grupos econômicos em detrimento da grande maioria da população.

No caso do Brasil, a desigualdade de renda, de salários, de riqueza, de patrimônio colocam nosso país no topo da pirâmide, a distância social e econômica entre os 1% mais ricos, que estão no ápice desta pirâmide e os 10%, 20% ou 50% mais pobres, incluindo os miseráveis que agora estão saindo da toca (barracos, casebres, palafitas ou das ruas e praças onde “moram”) em busca de um auxílio, uma migalha de R$600,00 seiscentos reais por dois ou tres meses, se contrapõe com `as bilionárias renúncias fiscais, incentivos fiscais e sonegação consentida e os privilégios dos donos do poder que todos os anos envergonham o Brasil.

Todos os organismos sociais, seja a ONU e suas agências especializadas como OIT, UNICEF, OMS e outras mais, a OCDE, o Banco Mundial, o FMI e inúmeros estudos e pesquisas ao redor do mundo tem demonstrado que o coronavirus é mais letal em relação aos pobres, favelados e outros grupos excluidos, como moradores de rua e outras pessoas com problemas de saúde pré existentes como diabetes, doenças cardíacas, tabagismo, obesidade etc.

Recentes dados divulgados pela ONU, pela OCDE, pela OIT e diversas organizações não governamentais e universidades, tentam discutir quais os impactos do covid-19, coronavirus em dois aspectos fundamentais da economia e da sociedade: o aumento acelerado dos índices de desemprego tanto no mundo quanto nas diversas macro-regiões quanto nos países e o aumento da pobreza e da miséria (pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza), isto tudo, em relação aos índices de crescimento do PIB ou de recessão que deverão ocorrer de forma diferenciada em cada país.

De acordo com esses estudos o coronavirus poderá provocar um aumento de até 190 milhões de desempregados no mundo, aumentando significativamente os índices de desemprego mundial que em 2009 era de 5,6% e em 2019 caiu para 4,9%. Alguns países como o Brasil apresentavam elevados índices de desemprego e de subemprego. Em nosso país o índice de desemprego em dezembro de 2019 foi de 11% quando 11,6 milhões de trabalhadores formais estavam desempregados; em março de 2020, antes do agravamento do coronavirus no Brasil o índice de desemprego formal chegou a 12,2% totalizando 12,9 milhões de desempregados.

No caso do Brasil aos índices de desemprego formal, mesmo antes do coronavirus, somavam-se aos desempregados em torno de mais 35 milhões de subempregados, trabalhadores temporários ou intermitentes, totalizando praticamente 50 milhões de pessoas.

A situação atual, apenas em meio da pandemia do coronavirus, talvez o Quadro seja muito pior ao final da referida pandemia, as inscrições de pessoas que estão desempregados, ou totalmente sem renda, sequer do trabalho informal, que antes eram classificadas como sub-empregadas, somam mais de 85 milhões de pessoas.

O problema é que este “corona voucher”, ajuda emergencial, de R$600,00 seis centos reais é apenas por tempo determinado dois ou tres meses. Os cenários do pós coronavirus indicam que o desemprego pode atingir até 20% da força de trabalho no Brasil e em outros paises , ou seja, o desemprego formal no Brasill, sem contar os subempregados que em março atingiam 12,9 milhões de pessoas, poderá em um futuro bem proximo atingir 21,1 milhões de pessoas em nosso país.

Diante deste quadro social terrivel, perguntamos, o que esses 85 milhões de pessoas que hoje estão nas filas quase que mendigando os R$600,00 irão fazer? De onde irão conseguir recursos para sustentar suas familias, dar de comer aos seus filhos? O governo federal, os governos estaduais e municipais em nome do equilibrio das contas públicas vão ignorar que essas pessoas vão morrer de fome ou se transformar em turbas, massas que agirão com vandalismo, empurradas pela fome famélica, que não pode ser considerado crime? Será que a resposta do governo será o emprego da violência policial ou o uso das forças armadas e de seguranca para a “garantia da lei e da ordem”? ou seja, usar a violência do Estado contra massas famintas e sem emprego? Será isto justo?

Em termos mundiais, a ONU calcula que metade da população mundial ao final da covid-19 estará vivendo na pobreza, ou seja, 3,9 bilhões de pessoas; e que pouco mais de meio bilhão (548 milhões de pessoas )terão sido empurradas para abaixo da linha de pobreza, milhões dessas, tanto pobres quanto miseráveis vivem e estarão vivendo ou tentando, desesperadamente, sobreviverem no Brasil. Este é o resultado da gripezinha que o Presidente Bolsonaro se referiu quando o coronavirus estava apenas chegando ao Brasil, faltou ao mesmo e a sua equipe de governo terem a capacidade de analisarem mais profundamente a realidade e as implicações econômicas e sociais que estavam e com certeza iriam acontecer, como de fato já estão acontecendo. Mas a mediocridade impediu que isto fosse realizado e o que vemos são ações desarticuladas, desesperadas sendo feitas, correndo contra o tempo e ante o avanço acelerado do coronavirus.

No entanto, apesar da gravidade dos fatos e dos cenários pouco animadores quanto ao futuro, pouco se tem falado sobre outros fatores de risco, como por exemplo, mais de cem milhões de pessoas que convivem com esgoto a céu aberto por não terem nem água tratada e muito menos esgoto, seja apenas coletado ou tratado, milhões de pessoas que ainda vivem abaixo da linha de pobreza em nosso país, milhões que para sobreviverem precisam de migalhas que caem da mesa dos poderosos, dos donos do poder, atraves de programas sociais como distribuição de sacolões, cestas básicas, bolsa familia, afora milhões de outras que vivem da caridade pública ou retirando o alimento do dia a dia para si ou para suas familias em lixões, convivendo com animais peçonhentos, ratos, urubus e outros agentes patogênicos.

Milhões que há decadas vivem no desemprego, na informalidade e no sub-emprego, que sempre fizeram parte da paisagem urbana e rural de nosso país e que nunca eram vistos por nossos governantes e que agora estão super “preocupados” com o desemprego e com a sorte e o destino dessas massas de excluidos.

Será que o presidente Bolsonaro , governadores e prefeitos não sabiam da realidade social e econômica do Brasil quando pleitearam ser eleitos, não sabiam que no Brasil como em tantos outros países a cada dia, a cada ano os pobres estão aumentando;  o número de miseráveis e estes (os miseráveis) estão morrendo de fome, de doenças, da falta de atendimento no sistema público de saúde que esta praticamente falido?

O que significa esta conversão de governanrtes que sempre foram insensiveis para esta realidade cruel em que vive nosso país em novos “apóstolos” da solidariedade humana? Será que é uma “conversão’ verdadeira ou apenas estratégia politica de explorar a pobreza para atingirem ou se perpetuarem no poder?
Estudos recentes, tanto alguns baseados na realidade de favelas como Paraisópolis em São Paulo, como Rocinha, Maré, Morro do Alemão no Rio e centenas de outras espalhadas por todos os Estados, principalmente nas regiões metropolitanas, estão demonstrando que a chegada do coronavirus a tais assentamentos sub-humanos terá um impacto muito maior do que a situação atual que tem atingido muito mais as classes alta e média. A chegada do coronavirus nessas áreas empobrecidas onde ao invés de mansões, palacetes são caracterizadas por verdadeiros amontoados humanos, onde em casebres com menos de 30 ou 40 metros quadrados convivem (amontoados) seis, oito ou até dez pessoas.

Como falar em isolamento social, em distanciamento social para milhões de pessoas que vivem nessas condições, até mesmo os espaços públicos nessas áreas são limitados, não existem propriamente ruas ou avenidas, mas becos, vielas, muitas vezes “guardadas”, vigiadas ostensivamente por soldados do crime organizado, do tráfico e também das MILÍCIAS, espécie de marginalidade que, diferente dos trafi cantes, tem um pé na criminalidade e outro pé nas estruturas públicas.

Como falar em higienização se as vezes não existe sequer o fornecimento regular de água potável? Como falar em higineização das mãos, do corpo e das roupas se essas pessoas não tem renda, não dinheiro para sequer a compra de sabão ou sabonete e muito menos alcool em gel, que além de não existir para compra ainda tem seu preco manipulado pelos especuladores?

É singificativo o que falou um professor da USP em relação a esta questão do coronavirus no contexto da realidade brasileira onde o distanciamento é muito mais social e econômico do que físico e isto causa um impacto diferenciado tanto em termos de casos quanto de mortes, quando afirma, “Essa situação de desigualdade não é nova. A doença não nos colocou diante de um quadro novo. O que temos é o vírus expondo claramente essa situação de desigualdade e punindo com a morte os menos favorecidos”, classificou César Simoni, professor do Departamento de Geografia da USP (Universidade de São Paulo) e vinculado ao laboratório de Geografia Urbana da faculdade.

Muita gente imagina que a máscara representa a igualdade, que encobre facialmente as marcas das desigualdades existentes na sociedade, mas isto é um ledo engano, dentro de algum tempo o coronavirus será uma realidade, uma triste realidade do passado, em todos os países, inclusive no Brasil e as mascaras não serão mais usadas, ai as diferenças dos rostos surgirão novamente.

O coronavirus, com ou sem mascaras, irá deixar suas marcas para milhares , dezenas de milhares, centenas de milhares que perderam seus entes queridos e nem sequer puderam despedir-se dos mesmos e nem um funeal digno puderam realizar, milhares não saberão sequer onde foram enterrados seus mortos, milhares em valas comuns. Esta é uma das facetas do pós coronavirus, pessoas que irão conviver com uma dor eterna.

Outras facetas como a pobreza, a miséria, a fome, a concentração de renda, a exclusão social, a falência dos sistemas públicos de saúde, a degradação ambiental, o egoismo, a insesibilidade dos governantes, os privilégios que favorecem a vida dos donos do poder, seus aliados, os marajás da República, a ganância, todas essas facetas que ajudam a construir a realidade concreta que nos cerca estarão presentes e poderão, inclusive , serem agravadas, para azar de quem faz parte desta realidade como excluidos!

Enquanto isto, os adeptos da direita e da extrema direita em diversas países, inclusive no Brasil, continuam contra o afastamento social, continuam promovendo passeatas e outros atos anti democráticos e atos ilegais, pedindo o fechamento do poder Judiciário (STF), do Congresso, a volta do AI-5; intervenção militar (auto-golpe) com Bolsonaro como presidente (ditador), como fez Getúlio Vargas quando implantou a ditadura do Estado Novo.

É triste e lamentavel que, ao lado da pandemia do coronavirus, tenhamos que conviver com uma crise politica, fabricada artificialmente, apenas antecipando debates que deverão ocorrer nas eleicoes de 2020, se antes não houver nenhum atalho anti-democrático, o que difuculta ainda mais os cuidados e o combate ao coronavirus.



*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veiculos de comunicação Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
 

 

Segunda, 04 Maio 2020 12:00

 

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JUACY DA SILVA*
 

A recentissima decisão do STF – Supremo Tribunal Federal, na última sexta feira, 24/04/2020, em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) sobre uma lei Municipal que amordaçava a liberdade de pensamento e expressão em uma escola de Goiás, que, se não fosse constestada poderia ou poderá  virar moda, considerando o nivel de autoritarismo, obscurantismo e preconceito que caracteriza o atual ministro da Educação e vários integrantes do Governo Bolsonaro e seus aliados de extrema direita espalhados pelos estados e municipios, nesta matéria.

Precisamos ficar alertas, vigilantes e não permitir que o retrocesso possa se abater ainda mais sobre a educação brasileira, muito pois o sucateamento da mesma já ocorre a olhos vistos, vilipendiada nos últimos tempos, com o avanço da extrema direita que tenta, desesperadamente, descontruir e abolir todas as vitórias e conquistas alcançadas pela educação brasileira nas últmas decadas!

Esta decisão histórica do STF não pode passar desapercebida para educadores, estudantes, enfim, a sociedade brasileira, pois é uma vitória da liberdade de pensamento, de expressão e do livre debate de idéias nas escolas, contra o arbítrio, o obscutantismo e o autoritarismo dos partidários da extrema direita no Brasil.

A escola só cumpre seu papel se possibilitar os espaços necessários para que a educação seja, realmente, crítica, criadora e liberdadora, como tanto enfatizaram educadores como Anísio Teixeira, Paulo Freire ,Darcy Ribeiro, Rubem Alves e tantos outros que sempre propugnaram e lutaram por uma educação que seja o apanágio da liberdade e dos direitos humanos!

Em lugar da censura, que é um dos piores instrumentos e uma das características mais perversas de todas as ditaduras, civis ou militares, de esquerda ou de direita, viva a Liberdade, vida longa para a democracia, para a pluralidade de idéias e para a separação entre a Igreja, as religiões e o Estado laico que, representa a liberdade de culto e de expressão e se contrapõe ao totalitarismo das Teocracias, não importa qual o grupo religioso hegemônico na sociedade. A hegemonia do pensamento único é o caminho para a tirania, para a prepotência e para os abusos que silenciam, torturam e matam não apenas as pessoas, mas as idéias e a esperança de uma sociedade justa, inclusiva e um mundo melhor.

A laicidade do Estado e o respeito `a diversidade de pensamento são as grandes conquistas do mundo ocidental ao longo de séculos e as únicas garantias do avanço da ciência, a partir da liberdade de pensamento e de investigação nas escolas, em todos os niveis, da mais tenra idade até as universidades.

Sem liberdade de pensamento e de expressão as pessoas se tornam escravas dos donos do poder, das classes dominantes e dos eternos “donos da verdade”.  Liberdade sim, escravidão, Jamais!



*Juacy da Silva, professor universitário, fundador, titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veiculos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

Sexta, 24 Abril 2020 18:56

 

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JUACY DA SILVA*

 

Hoje é sexta feira, mas não e sexta feira 13, todavia está em curso um verdadeiro terremoto politico e institucional em Brasilia. As "placas tectônicas" da politica nacional estão entrando em choques e os "sismógrafos" dos meios de comunicação e dos meios politicos e econômico/financeiros ja estão captando que está em curso um grande terremoto que podera abalar profundamente as estruturas dos poderes e alterar a dinâmica politica e institucional, como aconteceu com o suicidio de Vargas, a renuncia de Jânio Quadros, o golpe militar que derrubou João Goulart, os impeachment de Collor de Melo e de Dilma Roussef.
 
Esses sinais passaram a ser sentidos com o rompimento de Bolsonaro com aliados de primeira hora, o abandono do Presidente em relacao ao seu proprio partido  - PSL e de forma mais explícita, quando do acirramento de opiniões e rumos em relação `as estrategias para conduzir a "guerra" contra a pandemia do coronavirus, culminando, depois de muito bate boca entre o Presidente e seu ministro da saúde, com a demissáo do então ministro Mandeta, que na época tinha um prestigio e avaliacao positiva junto a opinião pública equivalente a mais do que o dobro do auferido pelo Presidente Bolsonaro, que não passa de 35% em todas as pesquisas, enquanto a avaliação negativa é bem maior.
 
Como Bolsonaro não pode viver sem inimigos e sem sua "guerrazinha" particular, mesmo que isto signifique sucessivas derrotas tanto junto a opinião pública, pela avaliação negativa que costumeiramente tem; seja por estar sempre na contra-mão do bom senso, das orientações das comunidades médica e cientifica, além dos poderes legislativo e judiciario e a quase totalidade dos governadores e prefeitos das grandes cidades, principalmente das capitais.
 
Concluida a operação mandeta, Bolsonaro e sua "troupe" precisava de escalar um inimigo de plantão contra o qual suas baterias deveriam ser voltadas.  A escolha foi imediata, os governadores e prefeitos que pregavam e ainda pregam o isolamento e o distanciamento social como a única estratégia eficiente para evitar que o Brasil se transforme no que outros paises passaram ou ainda estão  passando como Europa e Estados Unidos, em relacao `a pandemia do coronavirus.
 
Mas o inimigo mais temido por Bolsonaro continua sendo o presidente da Camara dos Deputados, Rodrigo Maia, também do DEM, que detém o poder de pautar ou engavetar mais de 20 pedidos de impeachment de Bolsonaro, que poderia signficar o afastamento do Presidente do cargo,por seis meses ou até a conclusao do processo.
 
O clima vem azedando rapidamente e tem tudo para explodir e colocar Bolsonaro na defensiva e batida em retirada como fazem os comandantes de tropas quando percebem que a derrota esta bem proxima.
 
Neste contexto, basta a gente relembrar como foi o desenlace no caso do impeachment de Dilma, que ao confrontar e escalar o então Presidente da Camara Eduardo Cunha, que também acabou perdendo o mandato, condenado e preso desde então.É bom relembrar que em 30 de março de 2017, Eduardo Cunha foi condenado, no âmbito da Operação Lava Jato, pelo juiz Sérgio Moro, a 15 anos e 4 meses de reclusão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
 
Neste mesmo contexto, outro sinal de que as “placas tectônicas” politicas e institucionais estão se movendo, antes lentamente, ultimamente de forma mais rápida, o sinal mais recente foi a intervenção do Ministro mais antigo do STF Celso de Mello, que enviou expediente ao presidente da Camara instando-o quanto a um pedido de impeachment de Bolsonaro feito por dois advogados, um dos quais ja foi assessor especial da ministra do STF Rosa Weber.
 
Além desta presença do Ministro Celso de Melo neste terremoto, cabe destacar também os seguintes fatos: a) CPI e investigações sobre a questao das “FAKE NEWS”, que estão se aproximando dos gabinetes dos filhos do Presidente e inclusive do chamada “gabinete do ódio”, com participação de pessoas que estão bem próximas de Bolsonaro e do Palacio do Planalto; essas investigações estao sendo conduzidas pelo Ministro Alexandre de Moraes do STF; b) pedido de abertura de inquérito policial/criminal feito pelo Procurador Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, que foi acatado e tendo sido sorteado o Ministro Alexandre de Moraes para conduzi-lo, para investigar as manifestações anti-democráticas ocorridas em varias cidades do país, onde o fato mais importante foi a participação do Presidente Bolsonaro com seu discurso populista e incendiário.
 
Recorda-se que naquela manifestação apareciam faixas e cartazes pedindo o fechamento do Congresso Nacional, do STF, a volta do AI-5 e a intervenção militar com a permanência de Bolsonaro, como presidente/ditador, ou seja, um golpe de Estado e um atentado contra a Constituição e contra a ordem democrática.
 
Agora, nesta manhã de sexta feira, dia 24 de abril de 2020, o mundo politico e os meios de comunicação e a opinião pública foram surpreendidos com a demissão “a pedido” do Diretor Geral da Policia Federal.
Apesar do ato constar “a pedido” e ter sido “assinado” tanto por Bolsonaro quanto Moro, causou estranheza o fato de que tanto dirigentes de entidades representativas dos Policiais Federais e o próprio ministro Sérgio Moro informaram que foram “pegos de surpresa”.
 
Este capítulo do terremoto esta prestes a ser concluido nesta manhã com a entrevista coletiva do Ministro Sérgio Moro, que poderá informar que vai deixar o cargo ou então contemporizar e desmoralizar-se perante a opinião publica, ao permanecer no governo totalmente desprestigiado e desautorizado.
 
Pois, se ficar como ministro estará sendo “enquadrado” por Bolsonaro que não gosta de ministros que tenham melhor avaliação e “brilhem” mais do ele próprio, não tolera super ministro e faz questão de sempre dizer “quem manda sou eu”, “quem tem a caneta sou eu”,  “médico não abandona pacientes, mas pacientes podem trocar de médico quando bem entender”, “não sou um presidente banana” e, finalmente, a grande paranoia quando disse recentemente “a Constituição sou eu”, insuando que esteja acima da Carta Magna, aprovado democraticamente por uma Assembléia Nacional Constituite, constituicao esta que Bolsonaro jurou publicamente cumprir e faze-la ser cumprida.
 
Terminado o capitulo Moro, com certeza o próximo choque das “placas tectônicas” da politica em Brasilia, será no “enquadramento” do ministro da economia, também até recentemente considerado outro super ministro, ao lado de Sérgio Moro, que com o Plano Pró Brasil, que representa a proposta do Governo Bolsonaro para a saida econômica e social após a pandemia do coronavirus, anunciado em entrevista coletiva no Palácio do Planalto sem a presença do ministro da Economia, pelo , agora sim, ministro todo poderoso, o General Braga Neto, chefe da Casa Civil, mesmo cargo ocupado por outro general durante os governos militares, Golbery, o grande articulador da abertura lenta e gradual realizada por Geisel e continuada pelo último general presidente João Figueiredo, que possibilitou a saida dos militares do governo ou o que muitos estudiosos consideram o fim da ditadura.
 
Este Plano Pró Brasil, isola e retira boa parte do protagonismo do minstro Paulo Guedes, o Famoso “posto ipiranga” de Bolsonaro, que passará a ser apenas um “puxadinho” da Casa Civil, coordenado pelo General Braga Neto, espécie de eminência, não muito parda, ou quase um primeiro ministro.
Enfim, não bastassem o tormento, o medo, a angustia, o sofrimento, a dor e as mortes, as consequências humanas, sociais, econômicas e politicas provocadas pelo coronavirus, o país ainda tem que conviver com um governo que está se deteriorando a olhos vistos e de um presidente que age de forma intempestiva, emocional, miope pelo virus ideológico e que não mede as consequências de seus Atos e pronunciamentos. Prova disso é o que esta acontecendo com o câmbio nos ultimos dois meses.
 
Vamos aguardar os novos capítulos desta novela ou as movimentações dessas placas tectônicas da vida institucional do país, tudo, claro, dependendo dos humores de Bolsonaro e do andamento das investigações da policia federal sobre fake news e atos atentatórios `a democracia e as instituições, ao andamento dos pedidos de impeachment de Bolsonaro que dormem nas gavetas de Rodrigo Maia e do protagonismo do STF em meio a esta crise.
 
Quem viver verá!
 
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veiculos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
 

Segunda, 06 Abril 2020 14:46

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*

 

O mundo todo, praticamente todos os países estão sendo sacudidos, uns em maior e outros em menor grau, por esta onda do coronavirus que teve inicio na China e rapidamente, em pouco mais de um ou dois meses, espalhou-se por todos os continentes e paises.

Para entendermos o que esta acontecendo, apesar de existirem diversas teorias e interpretações tanto para o surgimento desta virose, seu poder de infectar já mais de um milhão de pessoas e provocar a morte em mais de 53 mil pessoas, e, tudo leva a crer, ainda continuará sua caminhada provocando mais sofrimento e mortes mundo afora, inclusive no Brail, a menos que realmente, um esforço coordenado e efetivo ocorra tanto no plano mundial quanto, principalmente dentro dos países.

Assim, primeiro precisamos entender o que é epidemia, depois o que é pandemia e, neste emaranhado de conceitos e realidades distintas, o que é pandemônio, entendendo bem esses e outros conceitos correlatos como gestão dos sistemas de saúde, planejamento governamental, integração de esforços, é que teremos os instrumentos necessários para melhor diagnosticar a realidade, substituindo os achismos e opiniões equivocadas, pelas recomendações das comunidades de cientistas, médicos e pessoas que realmente estão com “a mão na massa”.

Imaginemos o seguinte, se nem a campanha de vacinação contra a gripe/influenza, que já é bem conhecida, tem vacina e formas de tratamento os governos federal, estaduais e municipais não tem competência para fazer corretamente, pois ainda existem milhões de idosos, pais afora, que não estão conseguindo se vacinar. Em todos os Estados e quase todos os municipios idosos fazem filas e em menos de uma ou duas horas as vacinas acabam. Uma vergonha.

Se nem para vacinar a população idosa contra a gripe, maior grupo de  risco de morte para a coronavirus, como vamos acreditar se esta pandemia do coronavirus chegar para valer no país, onde os governos federal , estaduais e municipais, que não se entendem sequer como orientar a população, qual será o tamanho do problema? Talvez igual ou pior do que já está acontecendo na Europa e nos EUA.

Epidemia significa o surgimento e expansão do número de casos de uma doença, considerado grave que pode levar `a morte, muito além do que é esperado pelas autoridades sanitárias e cujo poder de contágio pode atingir em um tempo curto, não apenas uma localidade mas territórios mais amplos, como um estado, um país.

Já a pandemia, é quando uma epidemia, que pode ser conhecida, ter cura, ter vacina ou ser desconhecida, como no caso do coronavirus, e seu poder de contágio pode atingir muitos países  e diversos continentes  ao mesmo tempo, e, quando isto ocorre, não apenas “pega” as autoridades politicas e também as autoridades sanitárias de surpresa, revelando que os sistemas de saúde não estão ou não estavam devidamente preparados para encarar uma situação alarmante e destruidora, de vidas, da economia e das relações sociais.

Fala-se muito em Guerra biológica, bacteriológica e diversos países tem armas deste tipo, bem como também possuem armas e mecanismos de defesa para enfrentar uma Guerra biológica. Este assunto deve ser estudado e trabalhado/planejado pelos governos nacionais, seus ministérios, inclusive de defesa, de ciência e tecnologia. Mas parece que nada disso funcionou nem nos paises centrais, potências econômicas e militares, que dizer de paises como o Brasil, onde a improvisação, o jeitinho, as “gambiarras administrativas e politicas”, a falta de planejamento e a falta visão de futuro são as características de nossa “classe” governante?

A pandemia do coronavirus colocou governantes, gestores de sistemas de saúde em posisões diametralmente opostas e até em conflito. Vejamos dois exemplos, o que aconteceu na China e o que está acontecendo no Brasil.

Na China, um país com 1,4 bilhão de habitantes, tão logo o governo central percebeu a gravidade da situação, juntamente com governo provincial e governo local, identificaram a realidade e prepararam uma estratégia e ações correspondentes.

Ao perceberem que a doença/epidemia era desconhecida, que não havia medicação e nem vacina, perceberam que o contágio era rápido, principalmente de pessoa para pessoa, tendo em vista que, por ser um país super populoso se não contivessem este contágio, milhões, talvez dezenas de milhões de pessoas poderiam contrair a doenca/serem infectados e milhões poderiam morrer.

O falso dilema do que fazer entre salvar empregos (milhões de empregos) e salvar vidas (evitar que milhões pudessem não apenas perderem seus empregos, mas também suas vidas) a decisão foi clara, objetiva e rápida. Primeiro salvar vidas e depois salvar/reconstruir a economia e criar novos empregos.

Tudo na China se apresenta em números grandiosos, tanto a população quanto a economia. Por ano na China morrem mais de 11 milhões de pessoas das mais variadas doenças, ou seja, a morte de dezenas ou até mesmo centenas de milhares de pessoas não seria algo a provocar uma disrupção no pais.

Mas percebendo a gravidade e a urgência que a situação da expansão do coronavirus indicava, o Governo chinês, com apoio decisivo do Partido Comunista Chines, não titubeou em tomar de inicio uma medida radical, determinou o confinamento total de uma província (Hubei) com 58,5 milhões de habitantes e também, principalmente, no epicentro da epidemia, a capital da provincia, cidade de Wuhan, com mais de 11 milhões de habitantes, a quarta maior do país.

Ninguém podia sair de casa, nada podia funcionar, com excessão dos serviços essencias de fato, como áreas de saúde, abastecimento, alimentação; toda a região ficou isolada do restante do país, as fronteiras terrestres e o espaco aéreo foram fechados, ninguém saia e ninguém entrava na região, e o mesmo foi feito para Wuhan.

Wuham é um grande centro industrial na China, onde mais de 300 das 500 maiores empresas do mundo tem negócios, milhares de voos saem e chegam na cidade todos os dias, tanto em relação ao restante do país quanto de e para outros países.

Wuhan tem várias zonas industriais, é, também um grande centro estudantil 52 instituições de ensino superior e mais de 700 mil estudantes.

Só na província de Hubei, com 185 mil km2, com um PIB de 578 bilhões de US$, com uma renda per capita de US$9.326, existiam mais de 20 milhões de trabalhadores, incluindo quase 5 milhões em Wuhan, ou seja, uma economia pujante que cresceu 7,8% no ano passado, até o surgimento do coronavirus.

A província de Hubei corresponde mais ou menos a economia do Estado de São Paulo, com uma população bem maior do que os 41,3 milhões de habitantes que vivem em São Paulo, que é considerado a “locomotiva” do Brasil. Ai surge a indagação, será que o governo de São Paulo teria tido a coragem de colocar o seu estado em  quarententa e isolamento total, já que  esse estado tem o maior foco de casos e o maior número de mortes por coronavirus? Fazer o “look down”, para evitar que o coronavirus possa se propagar para o resto do Brasil?

Todavia, pensando primeiro em preservar vidas e evitar que a epidemia pudesse varrer o país, o Governo Chinês não titubeou em fazer o que é chamado o “look down”/fecha tudo. A estratégia, primeiro salvar vidas e depois, passada a epidemia, retomar as atividades e criar os empregos foi o fator determinante para aquela decisão.

Isto significa que não apenas em Hubei, mas nas demais províncias da China, a economia sofreu um grande baque, mas o governo chines, acostumado a mais de 50 anos a ter um projeto estratégico, sucessivos planos quinquenais aprovados no Congresso Nacional do Partido Comunista Chines e planejamento de suas ações, um  projeto de país, já está em franca recuperação e, tudo leva a crer, que após o fim do coronavirus a China sairá mais fortalecida do que seus demais concorrentes como EUA, G7 e União Européia, com signifcativas consequências geopolíticas e estratégicas e no balanço do poder mundial.

Enquanto isso, aqui no Brasil além da pandemia do coronavirus, assistimos um verdadeiro pandemônio, tanto no sentido estrito quanto figurado do termo, conforme o dicionário da língua portuguesa: “Capital imaginária dos Infernos, reunião de indivíduos para a prática do mal (aqui se encaixa o que o governador João Dória e várias outras pessoas tem dito sobre o “gabinte do mal”) ou promoção de desordens. No sentido figurado também pode ser: assembléia tumultuosa, lugar onde reina a confusão e onde ninguém se entende; balbúrdia”.

Isto é o que está acontecendo em nosso país neste momento de pandemia. Por exemplo, não existe planejamento e articulação entre os governos federal, estaduais e municipais. O presidente da República não aceita o diagnóstico e as ações dos governadores, a quem acusa de verdadeiros crimes contra a economia, como exterminadores de empregos; diversos prefeitos, inclusive de capitais não se entendem com os governadores, como no caso de Cuiabá, do Rio de Janeiro e outros estados.

Todo mundo em todos os países sabe que as consequências econômicas, financeiras, no mercado de trabalho serão enormes, todos os países irão amargar recessão econômica, desemprego, fome, miséria e agitações sociais. Todavia, se no combate do coronavirus existe uma verdadeira balburdia, caneladas, bate cabeças até entre o Presidente da República e alguns de seus ministros, sem falar nas demais instâncias governamentais, incluindo o embate politico eleitoral entre Bolsonaro e o Congresso, além da falta de sintonia entre o poder executivo e o judiciário, como podemos imaginar que esta elite incompetente, carcomida, egoista e autoritária possa sentar em uma mesma mesa e analisar como será e  o que poderá ser feito no dia seguinte, o “day after”, quando a onda do coronavirus acabar?

Qual vai ser o caldo social, politico, ambiental e cultural do pós coronavirus? Com certeza a situação brasileira que já é grave deverá piorar muito mais. A crises econômica, politica e social poderão arrastar o Brasil para uma verdadeira conflagração, ai será um “salve-se quem puder”.

Na quase totalidade dos países os governos centrais tomam a dianteira, lideram as ações, indicam rumos, inclusive na Índia, que também tem mais de 1,3 bilhão de habitantes, facilitando a coordenação dos esforços e ampliando os resultados positivos, aqui no  Brasil vivemos neste pandemônio em meio a uma pandemia.

Dando sequência `a sua mania persecutória, o Presidente Bolsonaro, a cada dia fica mais isolado e furioso, atacando todos em sua volta, inclusive alguns ministros e a imprensa, a quem culpa pela falta de rumo de seu governo.

Ao longo desses 15 meses de governo, o Presidente foi perdendo vários aliados que o ajudaram a ser eleito, diferente do que `as vezes ele afirma que esses ex-aliados o trairam nesses poucos meses de governo.

Além da mania persecutória que também acaba sendo aguçada pelo ciume de não aceitar que ningém ao seu redor possa brilhar mais do que ele e também esses dois aspectos são extremamente influenciados por uma cegueira e fanatismo idológico, incluindo a famosa teoria da conspiração, ambiente em que vive permanentemente inserido, seja pela lorotas do astrólogo, que se diz filósofo, Olavo de Carvalho, que é o guru tanto de Bolsonaro quanto de seus filhos seja pela constatação de que alguns de seus ministros são avaliados de forma melhor do que o Presidente, em pesquisas de opinião pública.

Fruto de sua formação militar, se bem  que saiu das fileiras do Exército no meio da carreira, apenas como capitão, não podendo chegar a general de exército, posto que nas tres forcas é chamada de “quatro estrelas”, em que tais oficiais realizam cursos mais avançados, Bolsonaro enveredou-se para a carreira politica, levando consigo parte da familia, o presidente em sua atuação demonstra uma personalidade extremamente autoritária, voluntarista, dando palpite sobre tudo e todas as situações, falando muito e escutando pouco.

Neste sentido, Bolsonaro imagina que sabe tudo, que é o único dono da verdade, pouco importa os fatos, a realidade e as posições de outras pessoas, algumas com formação em suas áreas específicas.

Talvez seja por isso que a Deputada Janaina Paschoal, que chegou até ser cogitada para ser vice na Chapa de Bolsonaro, eleita com mais de dois milhões de votos em São Paulo tenha dito recentemente, em mais de uma ocasião, ““Esse senhor [Jair Bolsonaro] tem que sair da Presidência da Republica. Deixa o [vice-presidente Hamilton] Mourão, que entende de defesa. O nosso país está entrando em uma guerra contra um inimigo invisível”, ou “‘Me arrependi do meu voto”.

Outra ex-aliada de primeira hora de Bolsonaro, a Deputada Federal, que ocupou inclusive a liderança do Governo no Congrresso Nacional, assim se expressou sobre o Presidente, pelo fato do mesmo estar contra o isolamento social e estar em contato com as pessoas na periferia de Brasilia e interagido com manifestantes em frente ao Palácio do Planalto: “'Bolsonaro foi irresponsável, inconsequente e insensível! O Brasil precisa de um líder com sanidade mental', escreveu a deputada

Este é o Quadro atual da situação da pandemia no mundo e no  Brasil. Mesmo que outros governantes tenham “dormido no ponto” e imaginassem que o coronavirus poderia ser apenas “uma gripezinha” ou um “resfriadinho”, como afirmou recentemente o  Presidente Bolsonaro e, dentro deste entendimento não tenham tomado as providências contidas na recomencação das comunidades médica, científica e da própria OMS – Organização Mundial da Saúde, quando, finalmente a pandemia chegou em tais paises, a realidade foi devastadora.

Nos EUA, onde Trump também ignorava e até dificultava as ações de governadores e prefeitos, como aqui faz Bolsonaro, de repente, não mais do que de repente, foi “surpreendido” com dezenas  de milhares de casos ( no mundo até 02/04/2020 nada menos do que 1.038.166 casos e 53.210 mortes e nos EUA 245.646 casos e mais de seis mil mortes, com projeções aterradoras), de pessoas ifectadas que, ao não terem sido orientadas para se manterem isoladas socialmente, levaram o coronavirus para o país inteiro e as mortes estão aumentando todos os dias.

O mesmo aconteceu na Itália, onde o Prefeito de Milão, chegou até a lançar uma campanha , recentemente copiada por Bolsoaro e pela turma do Palácio do Planalto, que também alguns auxiliares do Prresidente já foram infectados, pois bem, a campanha do prefeito de Milão tinha como slogan “MILÃO NÃO PODE PARAR”.

Recentemente , de forma cínica, o referido prefeito foi as redes de TV pedir desculpas pela sua decisão equivocada que levou milhares de pessoas ao sofrimento e `a morte.

Slogam semelhante foi criado para a campanha que o Palácio do Planalto desejava veicular para estimular a população a deixar o isolamento social e voltar ao  trabalho e outras atividades, mas que foi barrada na Justiça antes de sua oficialização.

Posição semelhante também foi tomada no inicio da chegada da pandemia do coronavirus na Inglaterra pelo primeiro ministro Boris Jonhson, que numa demonstração de que não acreditva na gravidade do coronavirus foi a hospitais e num ato irresponsável, contrário `as recomendações médicas apertou as mãos dos doentes e ainda fez piada dizendo que ia sair `as ruas apeertando as mãos dos eleitores.

Resultado, a pandemia chegou pra valer na Inglaterra e entre os infectados estão o próprio primeiro ministro e até o Principe Herdeiro da Coroa Britânica, Charles; além de diversos outros oficiais mais graduados. Em duas semanas a Inglaterra já conta com 34.173 casos de coronaviruas e 2.921 mortes e as projeções indicam que poderá chegar, como nos EUA e outros paises Europeus mais infectados, com mais de 100 mil casos e mais de 10 mil mortes.

Nos EUA ante a realidade Trump mudou radicalmente de posição admitiu a gravidade da pandemia, recomendou o isolamento social e até cogitou em estabelecder quarentena para os Estados de Nova Iorque, Nova Jersey e Delawere, impedindo que pessoas saiam ou entrem nesses estados, seguindo o modelo da China e da Coréia do Sul, que, antes a disseminação do coronavirus  impuseram severas medidas impedindo que a população se movimentasse.

Os resultados tanto na Coréia do Sul quanto na China, vieram dentro de pouco tempo e a pandemia foi razoavelmente controlada nesses dois países com um número considerado pequeno de casos e de mortes, principalmente na China que tem 1,4 bilhão de habitantes, quase 20 vezes a população da Itália ou da Espanha e menos da metade das mortes em cada um desses países.

Há semanas, praticamente desde o inicio da instalação do coronavirus no  Brasil o Presidente Bolsonaro, imitando  as posições equivocadas desses líderes mundiais, ignorando que os mesmos ante a escalada da pandemia não titubearam em mudar radicalmente de suas posições, volto a enfatizar, no Brasil enquanto o seu ministro da saúde teima em recomendar o isolamento social, da mesma forma que diversas outras instituições como Congresso Nacional (Câmara Federal e Senado da República, cujo presidente também foi infectado pelo coronavirus e ficou em reclusão, isolamento completamente por duas semanas), o Poder Judiciário, praticamente todos os Governadores e prefeitos das capitais e das maiores cidades do Brasil, além de pesquisadores e cientistas, nosso presidente, `a semelhança de Boris Jonhson, continua mantendo contato e se movimento pela periferia de Brasilia.

Situação bem diferente aconteceu com a primeira ministra da Alemanha, Ângela Merkel, que após ter tido contato com um médico e depois saber que o mesmo estava infectado, não titubeou e ficou duas semanas em quarentena e isolamento social.

Todos os dias, o Ministro Mandetta, da Saúde, afirma categoricamente que é importante e fundamental manter o isolamento social, que esta é a orientacao da OMS e das comunidades médica e científica, no que é tangenciado pela Advogada Rosangela Wolff Moro, esposa do Ministro Sérgio Moro em suas redes sociais de ontem “postou” a seguinte mensagem: “"Entre a ciência e achismos eu fico com a ciência. Se você chega doente em um médico, se tem uma doença rara você não quer ouvir um técnico? Henrique Mandetta tem sido o médico de todos nós e minhas saudações são para ele. In Mandetta I trust", escreveu ela, conforme notícia do UOL/SP de 02/04/2020.

Até mesmo o guru da economia do Governo Bolsonaro, Paulo Guedes, quando perguntado sobre a questão do isolamento social, disse que “ como cidadão entendo que é necessário manter-se o isolamento social, é o que estou fazendo”.

Creio que não seria pedir muito para que nossos governantes, tivessem um pouco mais de humildade e responsabilidade neste momento de uma crise grave e em meio a tantos problemas que o país enfrenta há decadas como exclusão social, caos na saúde publica, educação pública em frangalhos, meio ambiente em degradação enorme, violência sem fim, falta de infra-estrutura adequada, milhões de brasileiros sem água potável, sem esgoto, sem renda, desempregados, sub-empregados, desalentados, pudessem pensar mais um pouco no país, nos Estados e nos municipios e menos em seus currais eleitorais, seus projetos de poder, nas próximas eleicoes.

Oxalá, Deus se apiede de nosso país e de sua gente, principalmente quem mais sofre que são os trabalhadores  e nos devolva a esperança de dias melhores! Esta deve ser a nossa prece todos os dias!

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veiculos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

 

Terça, 31 Março 2020 17:29

 

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JUACY DA SILVA*
 

Diante da onda de liberalismo e de neo-liberalismo que estava varrendo o mundo, tendo como matrizes os EUA, principalmente após a eleição de Trump, um negacionista, que nega a ciência quando se trata de mudanças climáticas, ou nega as evidências científicas e da comunidade médica, incluindo as recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde, facilitando a disseminação do coronavirus nos EUA e a mesma toada seguida por Boris Johnson no Reino Unido e em vários outros países com predomínio da extrema direita nos governos, inclusive no Brasil, a palavra de ordem por anos a fio foi “menos estado”, em certo sentido aquém do que se convencionou a ser denominado por esses liberais, como o “estado minimo”.

Para esses tresloucados é fundamental desregular tudo, entregar tudo, de preferência de mão beijada, ao “Deus mercado”, que tem mais agilidade, menos burocracia, custa menos e, por outro lado, ajuda a aumentar os lucros, a acumulação de capital, o enriquecimento de uns poucos, da camada dos 1% do top da pirâmide social e econômica, mas sem reduzir a carga tributária que continua recaindo sobre os ombros e o lombo do povo, via um Sistema tributário regressivo e injusto, que poupa os mais ricos e penaliza os mais pobres.

Com certeza esses liberais querem acabar com o Estado que apoia e assiste os mais pobres e manter o estado que subsidia o capital e abre mão de tributos através da renuncia fiscal que favorece também aos grandes grupos econômicos.

No Brasil, com a eleição de Bolsonaro, que pegou carona na onda da rejeição do PT, no combate `a violencia e `a corrupção, a economia foi entregue a um dos chamados “Chicago’s boy”, que, ele próprio fez parte do grupo de alguns economistas que ajudaram o ditador Pinochet a privatizar tudo e a entregar o patrimônio público daquele país, também de mão beijada, aos barões da economia chilena e seus aliados internacionais. Os resultados já estão surgindo no Chile, aumento de pobreza, miséria e revoltas populares.

Resultado, tanto no Chile quanto já em pouco tempo esta fazendo sentir na sociedade brasileira, aumento da pobreza, da informalidade, no sub-trabalho que aos poucos se aproxima do trabalho escravo e no sucateamento de todos os serviços públicos, principalmente nas áreas de saúde, educação, meio ambiente, habitação e saneamento básico, enfim, aumento da exclusão social que afeta dezenas de milhões de brasileiros.

Justiça seja feita, parte deste desmonte do Estado foi incrementado no governo de Temer, eleito como vice presidente, gracas `a aliança do então PMDB, hoje MDB  não apenas com o PT, mas vários outros partidos de esquerda.

O mundo esta assistindo uma pandemia que esta levando o pânico, a ansiedade e desespero `a população; aos profissionais de saúde e também `a arrogância, o autoritarismo, a prepotência, `a falta de rumo e desespero de governantes como Bolsonaro e seus ministros que estão em um eterno “bate cabeças”, por faltar-lhes competência para enfrentar alguma crise profunda, como esta que está em andamento.

Enquanto o Ministro da saúde diz que segue as orientacoes técnicas da OMS, da ciência e da comunicade medica que recomenda o isolamento social amplo e se inspira em formas de enfrentar o coronavirus em alguns países que conseguiram êxito em tempo record como a China e a Coréia do Sul, orientando e encarecendo que a população tome medidas de higienização e isolamento social e quarentena, com suspensão das atividades econômicas, com excessão das estratégicas , essenciais e necessárias, o Presidente Bolsonaro, `a semelhança de um super homem, chamando a atenção da população de que “não está nem ai para esta gripezinha, este resfriadinho”, o número de infectados, inclusive mais de 23 integrantes de sua comitiva que viajou recentemente aos EUA , só cresce e dentro de poucas semanas esta realidade cruel, como já acontece nos EUA, na Itália, na Espanha e no Reino Unidos, poderá estar batendo com todo o seu poder devastador `as nossas portas.

Como todas as crises, sejam econômicas, financeiras, ambientais, sanitárias ou decorrentes de guerras generalizadas, a pandemia do coronavirus está deixando um rastro de destruição na área da economia, com diversos estudiosos afirmando taxatativamente que, ao final da mesma, haverá uma grande recessão mundial, atingindo todas as economias, tanto de paises pobres, emergentes e também ricos e super  desenvolvidos, tanto os países do G7, do G20, da Uniao Européia e outras regiões.

Todavia, como varias pessoas tem afirmado, a economia, mesmo sendo destruida pode ser recuperado, como diversos exemplos tem acontecido ao longo da história, mas dezenas, centemas de milhares ou milhões de mortes ninguem conseguirá recuperar essas vidas ceifadas. Esta é a diferenca entre quem só pensa na recuperacao da economia e coloca em um segundo lugar o esforço para salvar vidas.

Aqui é que entra a questao do “Deus mercado”, se na concepção desses liberais, ultra liberais ou neo liberais que desejam acabar com o Estado, até o Estado minimo, para entregar tudo para a iniciativa privada, deixando ao mercado a incumbência de tudo regular, tudo resolver, porque estão agora tomando medidas que vão de encontro, contrárias `as suas doutrinas?

Vejam, em todos os países, inclusive no Brasil, nos EUA , na Europa, no Japão, diante da crise, os governantes liberais, hipócritas, estão ampliando os gastos públicos, botando a “maquininha” para rodar e imprimir moeda, aumentando o endividamento público, alterando Leis que regulam o equilíbrio fiscal como acontece no Brasil com as alterações nas Leis de Reponsabilidade Fiscal e das Diretrizes orçamentárias, até mesmo a intervenção direta no sistema produtivo.

Enquanto Bolsonaro vai na contra-mão até das medidas tomadas pelo seu guru e ídolo Trump, que não titubeou em enviar  ao Congresso americano e conseguir um pacote trilionário (em dolares), e também medidas de transferencia de renda e apoio tanto a grandes empresários quanto desempregados e pequenos/microempresários que estão ema puros, aqui no Brasil “o bate cabeças” não é apenas entre Bolsonaro e seu ministro da saúde, mas também não devera ser entre o Capitão e seu guru, todo poderoso ministro da economia, que disse que a população deve ficar em casa enquanto seu chefe passeia livremente, em tempos de coronavirus, tanto no meio de manifestantes que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, quanto moradores humildes da periferia de Brasilia.

Ah, neste domingo Trump, mudando radicalmente de posição, informou que vai prorrogar o prazo de isolamento social que findaria em 07 de Abril, para o dia 30 do mesmo mes. Na Europa todos os governos estão ampliando o periodo de quarentena e isolamento social, única estratégia que de fato tem se mestrado eficiente na redução da proliferação do coronavirus, totalmente diferente da proposta de Bolsonaro que deseja a liberação geral e imediata.

No Brasil também praticamente todos os governadores, com raras excessões como o de Mato Grosso, propugnam pelo isolamento social e a restrição das atividades econômicas, educacionais, religiosas, esportivas, culturais, como forma de evitar aglomerações e aumentar a disseminação do coronavirus.

Se o Governo Federal, os governos estaduais e governos municipais, tivessem o minimo de planejamento integrado, ações articuladas, politicas, estratégias e ações de enfrentamento desta ou de qualquer outra crise de magnitude, com certeza, não seria necessário o Presidente Bolsonaro tomar decisões intempestivas, contraditórias, as vezes quase que tresloucadas e incitando a população a não respeitar decisões de outras instâncias governamentais, inclusive do poder judiciario.

Talvez seja por esta razao que já existem diversas pessoas, inclusive parlamentares e juristas defendendo que o Presidente Bolsonaro seja submetido a testes de sanidade mental.

Cabe aqui um destaque que várias de suas decisões já foram barradas seja no Congresso Nacional ou no Poder Judiciário, por serem ilegais e ou inconstitucionais, mas mesmo assim ele não se emenda e neste final de semana disse de público que “cogita em baixar um decreto para determinar que todos os setores possam voltar ao trabalho e suas atividades”, mantendo o isolamento social e a quarentena apenas para idosos e população de risco. Medida esta que será um desastre no aspecto sanitário, pois vai acelerar a expansão do coronavirus no país, como aconteceu em vários países onde seus governantes não tiveram o discernimento, a lucidez e nem avaliaram as consequências humanas, dessas decisões intempestivas, como aconteceu com o prefeito de Milão que bem no inicio do coronavirus na Itália, lançou uma campanha, agora copiada pela turma do Bolsonaro, lá o slogam era de que “Milão não pode parar” e insistia que a população  continuasse trabalhando e nada de quarentena ou isolamento social como estava sendo proposto pelo Governo Central da Itália.

Hoje a Italia, exatamente na região onde fica Milão conta todos os dias centenas de mortes, e o prefeito de Milão, de forma cínica, foi `a Televisão e redes sociais e demais meios de comunicação pedir desculpas `a população e lamentar sua decisão errada que levou milhares de pessoas `a morte.

Esta é aposta que Bolsonaro está fazendo, levando confusão `a cabeca das pessoas, flertando com a morte e ao mesmo tempo de forma direta ou indireta cultuando o “Deus mercado”, contrariando a área econômica de seu governo, além do ministro da saúde que desejam que o Estado atue de forma efetiva assistindo a população, tanto na questão da saúde pública quanto na parte econômica, através da transferência direta de renda, aumentando o volume de crédito, flexibilizando o regime fiscal e tributário, o que não deixa de ser uma abominação para os liberais.

Bolsonaro, segue firme cultuando o “Deus mercado”, ao dizer recentemente que ele não é o “paizão” dos brasileiros, inclusive dos idosos e que cabe `as familias cuidar de seus dependentes e ontem, fazendo pouco caso de quem esta morrendo ou venha a morrer por coronavirus , ou que já morrem pela falta de estrutura e sucateamento da saúde publica (SUS) nas filas de hospitais e unidades de saúde, dizendo simplesmente “todo mundo vai morrer um dia, inclusive eu” ou entao, duas outras frases que devem ficar como ontológicas de sua forma distorcida de pensar: “pessoas vão morrer, mas é preciso enfrentar o desemprego” e “vamos enfrentar esta doenca como homem e não como moleque”. Finalizando parte de seu discursos contra o isolamento social, sem apontar dados estatísticos que comprovem sua assertiva, disse  que devido ao fato de ficarem em casa “mulheres estão apanhando”.

Esta é a diferenca entre os cultuadores do “Deus mercado” e as pessoas que defendem, como o Papa Francisco, uma economia humana, solidária, justa e baseada na ECOLOGIA INTEGRAL.

A crise do coronavirus, com certeza, vai promover profundas alterações não apenas nas teorias econômicas, mas também na “arte de governar”, pondo fim, com certeza insensibilidade, irresponsabilidade e egoismo que fundamentam o liberalism e neo liberalismo.

Resumindo: “O Deus mercado” está morto e com ele também seus seguidores e adoradores, como aconteceu com o povo hebreu quando resolveram adorar o bezerro de ouro, enquanto Moisés subia a montanha para falar com Deus e receber a Tábua da Lei, com os doze mandamentos.

Uma nova forma de sociedade, um novo mundo e novos padrões de relacionamento  deverão emergir após esta pandemia do coronavirus ser superada, este é o fundamento para quem tem esperança em uma civilização do amor e de uma sociedade do bem viver. Se isto não acontecer, estaremos condenados a outros desastres de maiores proporções, como os decorrentes das mudanças climáticas e do aquecimento global, fruto de uma economia que transgride todos os parâmetros humanos, éticos, científicos e ecológicos.

*JUACY DA SILVA, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy