Docentes debatem Reforma Administrativa e sede da Adufmat-Ssind em plenária do sindicato
Nessa quinta-feira, 10/09, a Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind) realizou mais uma plenária para repassar informes e consultar sua base sobre a conjuntura, a proposta de Reforma Administrativa de Bolsonaro, e a sede do sindicato.
Como a pandemia impede a realização das assembleias, mas os ataques não param, o sindicato tem debatido questões mais urgentes com os sindicalizados por meio das plenárias online.
Com relação à conjuntura, a avaliação é de que o projeto neoliberal de sociedade segue avançando sobre os direitos sociais e trabalhistas. O anúncio de que os salários – mínimo e dos servidores - seguirão congelados e que há mais cortes de recursos a caminho revelam que os efeitos da crise sobre a população podem ser maiores do que os registrados na crise de 1929.
A Reforma Administrativa de Bolsonaro, assim como as de governos anteriores, ameaçam os serviços públicos que viabilizam direitos da população, e não os verdadeiros privilegiados. Novamente, a investida será contra a população, que parece visualizar os serviços públicos à distância – incluindo a universidade -, muito embora alguns estejam ao lado, nos postos de saúde, nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), nas áreas de preservação e lazer implementada em alguns bairros.
Nesse sentido, os docentes pensaram em organizar um evento dentro da UFMT, para comemorar o aniversário da instituição em dezembro, justamente com a população das periferias de Cuiabá. Já há uma comissão para organizar o evento, mas o grupo está aberto para quem mais tiver interesse em ajudar nessa construção.
Também houve um encaminhamento para que o Grupo de Trabalho de Políticas Agrárias, Urbanas e Ambiental (GTPAUA) da Adufmat-Ssind pense e encaminhe ações a respeito do Meio Ambiente e Clima, considerando o estrago que as políticas voltadas para a expansão do ideal do Agronegócio têm causado em Mato Grosso.
Reforma Administrativa
“Mais uma Reforma, mais um desastre”. Essa é a definição, em uma frase, do que representa a Reforma Administrativa do governo Bolsonaro, que visa retirar diretos dos servidores, mas não inclui os militares, parlamentares, juízes e desembargadores - justamente aqueles que recebem os mais altos salários e benefícios dentro do serviço público.
Como todo o argumento utilizado pelo governo para justificar sua proposta é mentiroso, o sindicato encaminhou a realização de uma campanha publicitária demonstrando que não é verdade que o Brasil gasta muito com o funcionalismo, nem que os salários da maioria é muito alto, muito menos que a estabilidade é um privilégio que causa pouca produtividade. Além disso, o sindicato deve produzir uma cartilha, fazer pressão sobre os parlamentares do estado, e denunciar a atuação daqueles que defendem a proposta.
Sede do sindicato
Um ponto de pauta que causou profunda estranheza aos participantes da plenária, e sentimento geral de inadmissibilidade, foi o “comodato da sede do sindicato”. A diretoria informou que foi convidada pela Pró-reitoria de Planejamento da UFMT para uma reunião, no dia 02/09, na qual foi informada de que há irregularidades no documento de comodato assinado pela instituição e a universidade há 29 anos. A sugestão da Pró-reitoria seria elaborar um termo aditivo de contrato, incluindo uma “contrapartida” da Adufmat-Ssind, ou seja, o pagamento de aluguel.
Do contrato entre UFMT e Adufmat-Ssind, com prazo de 49 anos, 29 foram utilizados.
A diretoria informou à base que entende se tratar de uma questão política, e não pretende alterar qualquer termo do contrato, muito menos abrir mão da sede.
Após o debate e muitos questionamentos a respeito da “novidade”, os docentes concordaram com a diretoria, e decidiram verificar com o ANDES-SN essa questão, considerando que a maior parte dos sindicatos docentes de universidades federais está dentro das instituições, e não há notícias similares.
Também no sentido político, os presentes concordaram que, se há algum intruso dentro da universidade, que em vez de ajudar a construí-la tem ajudado a destruí-la, injetando gota a gota a lógica privada dentro da uma instituição pública, é a Fundação Uniselva. Portanto, é a presença dela que deve ser questionada.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
É o fim da mamata? Entenda a proposta de Reforma Administrativa na Live da Adufmat-Ssin dessa sexta-feira, 11/09, às 19h
Desde o governo Collor, a população brasileira é martelada pela ideia de que o Estado brasileiro está inchado, de que o funcionalismo é ineficiente, de que é preciso reduzir os gastos públicos para melhorar. Será? Há realmente um elefante branco sentado no meio da sala? Por que será que depois de tantos esforços dos governantes para retirar recursos da saúde, educação, assistência social, segurança, em vez de melhorar, a situação só piora?
Na Live da Adufmat-Ssind dessa sexta-feira, 11/09, às 19h, você vai entender a proposta de Reforma Administrativa feita pelo governo Bolsonaro, a lógica das reformas neoliberais, e como elas afetam a vida de toda a população brasileira. A Reforma Administrativa é o fim da mamata? Quem realmente mama na teta do governo?
Para debater o tema, as convidadas são as servidoras Eliana Siqueira, membro da Rede de Médicos e Médicas Populares, e Ágatha Justen, professora do Departamento de Administração da Universidade Federal Fluminense.
A Live será exibida a partir das 19h (horário de Cuiabá) nos canais oficiais do sindicato no Facebook e Youtube. Participe enviando perguntas pelo chat!
Link direto para o youtube: https://www.youtube.com/watch?v=0FWiDmkoLeE
Links direto para o Facebook: https://www.facebook.com/ADUFMAT-SSIND-211669182221828
Governo envia Reforma Administrativa que prejudica os serviços públicos
As trabalhadoras e trabalhadores do funcionalismo público têm sido desrespeitados pelo governo de Jair Bolsonaro desde o início de seu mandato. Tiveram direitos tirados, foram chamados de “parasitas”. Agora, dando mais um passo em seu projeto ultraliberal, o governo envia ao Congresso, nesta quinta-feira (3), a proposta de Reforma Administrativa, que facilita a entrega ao setor privado, via Organizações Sociais, de nossas instituições públicas e ataca ainda mais a categoria de servidores e os serviços básicos.
Desmonte do Estado e dos serviços – Em resumo, a Reforma Administrativa tem como objetivo reduzir as despesas com o funcionalismo e o papel do Estado.
Para defender essa iniciativa, o governo até tenta justificar o injustificável. Alega que o funcionalismo onera o Estado e que, em decorrência desses gastos, há pouco investimento público para educação, saúde, moradia.
Mas Adriana Stella, integrante da CSP-Conlutas e dirigente da Fasubra, desconstrói esse argumento falho. “Sob a falsa alegação de falta de recursos em função de queda de investimentos a partir de 2015, a granada no bolso do funcionalismo, anunciada por Guedes naquela marcante reunião ministerial, chegou à versão final. De maneira distorcida, o governo federal apresenta a Reforma Administrativa, que visa o desmonte total e a desestruturação do serviço público, colocando como grandes inimigos os trabalhadores e trabalhadoras do setor. No entanto, o que o governo não apresenta é que quase metade da arrecadação não é destinada aos serviços públicos, e sim aos grandes capitalistas que têm lucros gigantescos com o mecanismo da dívida pública”, aponta a dirigente.
Conforme ressaltado em introdução do livro Reforma Administrativa do Governo Federal: contornos, mitos e alternativas, “a Reforma Administrativa é condicionada pela ideologia do Estado mínimo e pelas políticas de austeridade centradas nos cortes de despesas que dificultam a retomada dos investimentos e do crescimento, desprotegem quem mais precisa dos serviços públicos de saúde, educação e assistência, e desorganizam, ao invés de aperfeiçoar, a administração governamental”. Portanto, defendemos, enquanto Central Sindical e Popular, propostas alternativas que garantam os direitos dos trabalhadores e proponham uma administração pública, democrática e de qualidade, para que os serviços públicos sejam voltados à população e aos mais pobres efetivamente.
Ataque sistemático à classe trabalhadora – Podemos dizer que esta mais nova ofensiva é uma continuidade do plano de aprofundamento do ultraliberalismo, já iniciado com a reforma da previdência, por exemplo, e com outras retiradas de direitos históricos dos trabalhadores, que já afetavam o setor público de alguma maneira.
Um dos pontos da Reforma Administrativa altera o sistema de contratação dos trabalhadores do funcionalismo público. “No entanto, hoje, com a terceirização e com a mudança nas regras de aposentadoria, a maioria dos regimes jurídicos próprios (diferentes em cada estado, município e na esfera federal), já têm a maioria dos direitos rebaixados e similares à CLT”, acrescenta Adriana.
Demissões por mau desempenho – Outra medida que faz parte da proposta de reforma prevê que os servidores podem ser demitidos após um período de experiência ou por mau desempenho, incluindo os atuais.
Embora, como explica Adriana, a legislação já preveja a demissão do servidor caso haja motivo, a estabilidade no serviço público tem dois lados muito importantes e que o governo não considera ou prefere não expor: “um, de dar estabilidade aos serviços públicos para que ele não seja interrompido nem que se desestruture em função das trocas de governos e outro, da perspectiva do trabalhador, que tem o sentido de evitar que decisões arbitrárias ocorram”, pontua.
O problema é que o governo pode criar, com essa medida, um mecanismo que “amplia o conceito” de mau desempenho, além de facilitar no ambiente de trabalho o assédio moral que já é preocupante e causa de adoecimento e mortes entre os da categoria.
Governo a serviço do capitalismo – O objetivo do governo é a destruição dos serviços públicos, fazendo de todos nossos direitos meras mercadorias.
Por este motivo, detalha Adriana, o governo diz que só deseja manter como carreiras públicas as chamadas “típicas de estado” – cargos ligados à estrutura e manutenção do estado, como fiscais, procuradores etc. “Contraditoriamente, são justamente essas as carreiras que têm maior rendimentos e que compõem a minoria dos cargos. Os militares, não são considerados funcionários públicos porque representam os órgãos de repressão. Portanto, o objetivo do governo é justamente manter apenas seus aparatos de repressão e coerção e toda a parte do estado que deveria ser voltada para a população, ao atendimento das necessidades da classe trabalhadora e dos mais pobres, como saúde, educação, habitação, previdência, pesquisa, ciência etc, tudo isso, estaria a serviço do capital. Todas as nossas necessidades seriam mercadorias para dar lucro a um grupo seleto de meia dúzia de bilionários” denuncia a dirigente.
Se quase metade da arrecadação não é destinada ao povo, e sim aos super ricos, o que faz o governo ao reduzir o papel do Estado é aumentar a mamata desses sanguessugas da burguesia. Não falamos aqui do tio da esquina que tem uma quitanda, do pequeno comerciante nem da tia da banca que faz quentinha perto de um local público.
Esse modelo de governo ultraliberal, levado a cabo por Paulo Guedes e que traz péssimos exemplos de resultados econômico e social, como o do governo chileno de Piñera, por exemplo, alimenta ainda mais a revoltante desigualdade social.
“A concentração de renda é tão gritante que a própria mídia tem noticiado e feito simulações. Uma delas que passou na GloboNews dizia que se os dois mil magnatas que existem no mundo pagassem só meio por cento de sua renda por 10 anos, daria para gerar 117 milhões de empregos na área de educação, saúde e cuidados. Ou seja, existe muito dinheiro, existe muita riqueza e não há ‘rombo’ nas contas públicas. O que temos é uma concentração de renda assustadora e esses ricaços e poderosos não pagam nada. O correto é dividir a riqueza, distribuir a riqueza, mas o capitalismo só quer dividir a pobreza”, exemplifica Adriana.
Alternativa e organização da luta – É urgente organizar a classe trabalhadora para enfrentar esses ataques, unificando as categorias em defesa do funcionalismo e dos serviços públicos básicos.
E nesse sentido, a nossa saída tem de ser para uma outra sociedade. Adriana Stella destaca que, “especialmente quando discutimos os serviços públicos, estamos discutindo o Estado, e a conclusão à qual chegamos é a de que não podemos ter um Estado que sirva só a meia dúzia de bilionários, esses magnatas que, no mundo, são pouco mais de dois mil e sozinhos têm renda que equivale a de 4 bilhões de pessoas no planeta”.
“Se somos nós que trabalhamos, nós que produzimos e há riqueza suficiente no mundo, tudo isso precisa ser compartilhado e dividido por quem realmente trabalha. Por isso, nós defendemos o socialismo e a ruptura com o capitalismo, e a CSP-Conlutas assume esse programa para sairmos de fato da crise”, conclui Adriana.
Fonte: CSP-Conlutas
Imagem: El País Brasil
No limite: os sentidos do serviço público para a população e para o servidor público
Estabilidade dos servidores públicos ameaçada, e a “Reforma do Estado/Administrativa” ou “Reforma do Serviço Público” volta à pauta, embora a maioria da população não dê atenção a isso. O esvaziamento político das relações faz justamente com que os fatos sejam percebidos de forma isolada, que as ligações entre eles se esfarelem pelo caminho. A criminalização dos servidores púbicos, por exemplo, é estratégia conhecida para retirar direitos sociais com apoio da população que, ao final, é a mais prejudicada nesse processo.
Mas enquanto os ataques morais e financeiros são desferidos, e apesar de todos os golpes lançados ao longo dos anos, o serviço público se mantém de pé, e se destaca como o melhor nesta sociedade que tudo quer mercantilizar. Em 2019, podemos afirmar: 95% das pesquisas que impulsionam a ciência no Brasil são realizadas nas universidades públicas; 32 das 50 melhores universidades do país são públicas – a primeira particular só aparece na 18ª colocação; o SUS é destacadamente o serviço de saúde mais essencial, completo e amplo para a população, garantindo os serviços de atenção primária, secundária e terciária, apesar das suas dificuldades; a Previdência Social oferece dignidade a milhares de pessoas, para que ao menos descansem após décadas de trabalho árduo e contribuição social; se a energia elétrica é o serviço de maior alcance no país, foi porque o Estado assim o fez; muitas pessoas só têm acesso ao direito fundamental ao contraditório em processos judiciais porque há instituições públicas que oferecem. E esses são alguns dos exemplos de como os serviços públicos se fazem presentes no cotidiano de toda a população.
As alterações nos serviços públicos que vemos atualmente, portanto, são graves e demandam atenção e resistência, mas nada disso é novidade. O mentor da reforma do serviço público foi Luiz Carlos Bresser Pereira, mas a semente da ideia de que o Estado é um “elefante branco sentado na sala” foi plantada logo após a constituinte, no governo de Fernando Collor de Melo e seus “caçadores de marajás”. No entanto, embora o governo Collor se esforçasse para atender aos anseios do projeto neoliberal que se instalava no país naquele momento, ainda não havia um plano que respaldasse o desmonte de um Estado que acabava de ser delineado – já com limitações - por uma nova Constituição Federal, a chamada Constituição Cidadã de 1988.
“Eu me lembro que o ministro do Collor para questões do serviço público era o João Santana, que a gente logo chamou de Joãozinho 30, em alusão ao Joãozinho 30 do carnaval carioca, porque ele parecia obcecado em demitir 30% do serviço público. Mas ele não tinha a estruturação disso. A estrutura foi feita pelo Bresser, durante o governo FHC, mas em todos os governos houve passos nessa mesma direção, com maior ou menor intensidade”, afirmou o professor aposentado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Luiz Henrique Schuch, militante histórico do ANDES – Sindicato Nacional.
Para elaborar reflexões que sustentassem a realização das reformas do Estado em direção ao estado mínimo, Bresser publicou, entre 1997 e 1998, por meio do Ministério que presidia à época - Administração Federal e Reforma do Estado - os famosos cadernos MARE. Em 17 cadernos diferentes, o economista aponta claramente para a diminuição completa do Estado, por meio de reformas que, embora tenham caráter político, são denominadas “administrativas” e/ou “do serviço público”.
“Ele defendia que o Estado deveria funcionar praticamente com o que chamou de carreiras típicas do Estado, que eram, basicamente, as polícias: polícia mesmo [ostensivas] e as polícias econômicas, auditores, etc. Para os demais serviços ele dava conta de que haveria dos outros blocos, como o da privatização, produção para o mercado, por meio de empresa, ou ainda o de atividades que não daria para privatizar essencialmente - onde se situam educação, saúde, ciência, cultura -, que ele chamava de serviços sociais competitivos, mas que também se distanciavam do caráter público, porque a lógica de competição é do mercado. Agora o próprio Bresser se diz escandalizado com o ponto onde os atuais reformadores querem chegar”, disse o professor.
No momento da entrevista, Schuch se referia às críticas de Bresser ao então governo Temer. Mas as manifestações do economista, que se considera “desenvolvimentista” e defensor de “medidas protecionistas” seguiram, a ponto de ter declarado, em abril deste ano, que o “Neoliberalismo defendido pelo ministro da Economia de Bolsonaro” não ajuda o país; que “o Brasil não cresce desde 1990 devido às políticas neoliberais que têm sido implementadas”. Seria uma contradição?
Não à toa, as carreiras que Bresser defendeu como típicas do Estado são as que, de alguma forma, permaneceram valorizadas. As demais encolheram ao longo dos anos, com a desculpa dos governos de que era preciso “resolver o problema fiscal”. “Esse discurso de resolver o problema fiscal para achatar, para não abrir vaga, para privatizar, terceirizar, é um bordão de frente. Porque na essência há uma inflexão programática para retirar essas áreas. E a gente vê isso em sobressaltos. Por exemplo, Lula iniciou o mandato anunciando a Mesa Nacional de Negociações Permanente, mas não sustentou, porque as questões principais eram decisões estratégicas de governo, na direção da privatização, do encolhimento do Estado, da terceirização. Então, a mesa foi extinta e se passou a ter uma tremenda dificuldade de fazer negociações salariais, de vagas, de carreira”, explicou Schuch.
Boa parte do que os governos planejaram nesse sentido, no entanto, não foi executado. As mobilizações dos trabalhadores organizados conseguiram impedir que a precarização dos serviços públicos se desse da forma como tentam impor atualmente. Os ataques intensificados pretendem varrer, de vez, a ideia de Estado para o cidadão, para a população, para os serviços públicos, para a sociedade. E o mais grave é que, agora, parte da população tem aceitado esse discurso.
“Embora nós tenhamos nossas representações sindicais fortes, fazendo o debate político, a luta, a interlocução com o governo, o que se vê é que a gente vai perdendo pedaços ao longo do tempo. Tanto no aspecto material, que é o poder aquisitivo do salário, ou aquela perspectiva de carreira, que hoje são tabelas mudadas ao vento, cada vez que o governo é pressionado. Não se estabelece aquela premissa de que eu faço um concurso público, entro num processo para ser servidor do Estado, para a população, faço disso um projeto de vida, um ciclo profissional, até o momento da minha aposentadoria. Hoje isso está destruído, as carreiras foram destruídas. Mesmo aqueles servidores públicos mais antigos, que tiveram uma experiência de vida e de trabalho compreendendo a função, da maneira como está agora, por força do mercado, por força dessas pressões de reforma do Estado, começam a se questionar - às vezes conscientemente, outras vezes inconscientemente - sobre o sentido do que estão fazendo, e não conseguem encontrar mais sentido. A gente vê isso em professores que já têm 20, 30 anos de universidade, e isso vai jogando para a linha do dano mental, inclusive”, destacou o docente.
A falta de perspectiva também com relação a aposentadoria, que atinge a população em geral, incluindo os servidores, também é um fator de tensão. A Reforma da Previdência aguarda votação em segundo turno no Senado, e setores ligados ao mercado já apontam que o texto é brando, que não corresponde exatamente ao que o mercado esperava.
“De novo o servidor público é chamado a reagir, em diálogo com a sociedade. A sociedade demanda o serviço público, quer saúde, quer educação, quer transporte. E quem executa esses serviços são exatamente os trabalhadores do serviço público, tantas vezes tachados de barnabés, preguiçosos, de forma completamente mentirosa, desviada, equivocada. São os servidores que estão dentro dos serviços, têm o domínio da atividade e a plena consciência do que está acontecendo. Então é justo que saia daí a organização, a denúncia e a provocação ao movimento social forte de restabelecer um Estado que responda para a sociedade, porque a sociedade efetivamente está demandando as atividades que estão sendo feitas na esfera do serviço público. Esse conjunto todo demonstra que nós estamos na berlinda, nós estamos no limite. Mas em outros momentos já estivemos no limite e a organização, as relações com outras categorias e, especialmente, o diálogo com a sociedade, foram capazes de reverter”, concluiu o professor.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind