EDUCAÇÃO AMBIENTAL LIBERTADORA - Juacy da Silva
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
Há mais de meio século, quando da primeira Conferência, sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, promovida e coordenada pela ONU, em 1972, em Estocolmo, na Suécia, nasciam e eram reafirmadas as precoupações com o futuro do planeta e a idéia de que a educação, no caso a educação ambiental, deveria cumprir um papel fundamental na mudança dos estilos de vida, dos hábitos e padrões de consumo e nos sistemas de produção, um caminho para, não apenas mitigar os males e degradação que já tinham ocorrido ao longo de séculos, mas, fundamental, servir de base para que novos paradígmas pudessem ser estabelecidos no que concerne `as relações da humanidade com a natureza.
Assim surgia o DIA NACIONAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL, que a meu ver deveria inserir também a dimensão LIBERTADORA, que tem sido comemorado em 03 de Junho, dois dias antes do DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENE, ao longo deste tempo e cujo tema este ano é bastante emblematico: REAVIVAR OS SONHOS DA SUSTENTABILIDADE.
A Educação Ambiental LIBERTADORA faz parte da CONVERSãO ECOLÓGICA e da CIDADANIA ECOLÓGICA, passo fundamental para que, DE FATO, para que possamos implementar e fortalecer a PASTORAL DA ECOLOGIA INTEGRAL.
Assim, estaremos demonstrando que a Igreja, que não é sinônimo apenas templos, de uma hierarquia milenar, mas, fundamentalmente, constituida pelos fiéis, leigas e leigos, comprometidos com uma Igreja em saida, samaritana, sinodal e profética, que, corajosamente tem feito e faz a OPÇÃO PREFERENCIAL, mas não exclusiva, pelos pobres e pelos excluidos, pelos injustiças e que está, também, REALMENTE, engajada em melhor cuidarmos da CASA COMUM.
Neste sentido, a Educação Ambiental Libertadora, além de uma dimensao SINODAL, tanto enfatizada pelo Papa Francisco, também tem uma dimensão PROFÉTICA, de denúncia dos crimes ambientais, que nada mais são do que PECADOS ECOLÓGICOS na perspectiva da Doutrina da Igreja, mas também ANUNCIAR, como os profetas faziam no passado, que um mundo novo é possivel e que a fé, a caridade e a esperança são nossas bússulas e o Espírito Santo, a energia que nos move como cristãs e cristãos.
Vale a pena refletirmos não apenas hoje, DIA NACIONAL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL, que para mim, só tem sentido se for também LIBERTADORA e não alienadora, descompromissada com as mudanças e transformações radicais, substituindo velhos paradígmas que ingoram os danos e degradação ambiental que os atuais modelos econômicos e financeiros tem produzido, cujo Deus é apenas o dinheiro, o lucro a qualquer preço, por um novo paradígma que é a ECOLOGIA INTEGRAL, calcada em uma economia solidária, que possa ser realmada, que cuide melhor da natureza, das pessoas, das atuais e futuras gerações.
É por isso que o Papa Francisco nos exorta diuturnamente, como o fez quando da Publicação da Encíclica Laudato Si, que há poucos dias celebramos seu OITAVO aniversário e que ainda continua pouco conhecida até mesmo entre cristãos em geral e entre católicos em particular, quando diz “ Para que apareçam novos modelos de progresso precisamos “converter o modelo de desenvolvimento global”, e isto implica refletir responsavelmente “sobre o sentido da economia e dos seus objetivos, para corrigir as suas disfunções. Não é suficiente, conciliar, a meio termos, o cuidado da natureza com o ganho financeiro ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso”. (Laudato Si, 194)
Continua o Papa Francisco...”Trata-se simplesmente de redefinir o progresso (para quem e para que, imagino Eu). Um desenvolvimento tecnológico e econômico, que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar progresso” (Laudato Si, 194).
Uma Educação ambiental libertadora deve voltar-se não apenas para combater o CONSUMISMO, o DESPERDÍCIO e uma ECONOMIA DO DESCARTE, mas também, estar voltada para converter o sistema produtivo, o empresariado quanto `a responsabilidade dos mesmos em relação `a produção responsável e sustentável, com menos ganância e com mais respeito tanto em relação aos direitos dos trabalhadores, quanto aos direitos dos consumidores, inclusive `a saúde coletiva e, claro, que tenham limites quanto `a heranca que será deixada `as próximas gerações.
De igual forma, uma EDUCAÇÃO AMBIENTAL LIBERTADORA precisa também atingir os organismos públicos, os governantes , enfim, os responsávels pela definição e implementação de políticas públicas que realmente tenham as questões e os desafios socioambientais como um parâmetro fundamental no processo de desenvolvimento, seja local, regional, nacional ou internacional, tendo a SUSTENTABILIDADE plena como seu morco norteador temporal e territorial.
Cabe a nós, cristãos, catolicos, evangelicos e adeptos, fieis de outras religioes, aceitarmos este desafio de LUTARMOS por uma ECOLOGIA INTEGRAL, por uma nova economia, que seja realmada, que seja solidaria e respeite tanto os direitos dos trabalhadores, os direitos dos consumidores, os direitos da natureza, do Planeta Terra, da mãe natureza ,e, principalmente, o DIREITO INTERGERACIONAL.
Esta é a missão, o objetivo central e a mística de uma EDUCAÇÃO AMBIENTAL LIBERTADORA, que devemos celebrar não apenas hoje, 03 de Junho de 2023, mas ao longo do ano , de todos os anos e por décadas e décadas.
Afinal, o que já foi e continua sendo feito em termos de degradação ambiental, de desmatamento, de queimadas, de desertificação, de poluição dos solos, das águas e do ar, de destruição da biodiversidade, da produção de resíduos sólidos (lixo), tem contribuido sobremaneira para o aquecimento global e para a crise climática que estamos presenciando e sofrendo com as suas consequências.
Precisamos refletir de forma mais crítica e criadora sobre tudo isso, e, neste sentido a Educação Ambiental Libertora é o caminho!
*Juacy da Silva, professor aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
JUNHO VERDE 2023 - Juacy da Silva e Aline Grasielli Monçale
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva* e Aline Grasielli Monçale**
Estamos iniciando o mês de junho e nesse mês contamos com inúmeras datas significativas para o meio ambiente e ecologia integral, tais assuntos de suma importância estarão sendo relembrados em diversos eventos especiais e celebrações em inúmeros países e continentes.
Entre 01 e 08 deste mês de junho, estará sendo comemorada a SEMANA DO MEIO AMBIENTE, com destaque para o Dia Nacional da Educação Ambiental em 03/06; o Dia do Meio Ambiente, da Ecologia e Dia Nacional da Reciclagem em 05/06; Dia Mundial da Segurança dos Alimentos e Segurança Alimentar em 07/06 e, em 08/06, o Dia Mundial dos Oceanos, que estão em risco permanente decorrente da degradação por toda sorte de resíduos sólidos, principalmente pelo lixo plástico, o que motivou um discurso por parte do Secretário Geral da ONU enfatizando que nos oceanos e tantos outros cursos d’água existem mais plásticos do que peixes.
Ainda no decorrer deste mês, o JUNHO VERDE 2023 será celebrado, como forma de despertar a consciência planetária, o Dia Mundial de combate à desertificação e à seca, uma das formas de degradação dos solos, em todos os biomas e ecossistemas mundiais, especialmente no dia 17/06, mesmo dia em que será comemorado o Dia do Gestor Ambiental.
Da mesma forma que acontece em junho, em todos os demais meses do ano existem dias especiais voltados para o despertar da consciência individual e coletiva, inclusive e principalmente dos governantes, quanto ao processo acelerado de destruição da biodiversidade animal e vegetal, do aumento contínuo em ritmo mais acelerado do que o aumento demográfico em geral ou da população urbana, provocando aumento na emissão de gases de efeito estufa que estão na origem e na base do aquecimento global e das mudanças, enfim, da Crise Climática que, se não for reduzida, poderá aumentar a destruição de todos os biomas e ecossistemas, em meio a uma vivência social utilitarista e imediatista parece distante pensar sobre consequências a longo prazo, mas tudo começa a fazer sentido quando nos damos conta que a própria humanidade está destruindo o único planeta que temos, afinal, não existe ainda ao nosso alcance um plano B, ou “um planeta B”, para onde os seres humanos poderão migrar quando a Terra não mais oferecer condições de vida, vegetal e animal, inclusive para a vida humana; e antes disso, estamos por diminuir consideravelmente a qualidade de vida de nossa própria casa.
Há mais de 70 anos, na primeira Conferência Mundial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, em 1972, realizada em Estocolmo, na Suécia, sob os auspícios e a coordenação da ONU, foram feitos diversos alertas quanto à responsabilidade de todos, governantes, setor empresarial e a população em geral sobre a necessidade de mudarmos os paradigmas das relações dos seres humanos, dos sistemas e modelos econômicos, do estilo de vida e hábitos de consumo, como única forma de evitarmos o agravamento da degradação ambiental.
Exatamente com este objetivo de despertar a humanidade, governantes, empresários, igrejas e a população quanto à urgente necessidade de mudança de rumo em relação ás nossas práticas ambientais, foi aprovada a instituição do DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE, a ser comemorado, a partir de 1973, anualmente, no dia 05 de junho.
E assim tem sido feito, mas que, lamentavelmente, parece que não passa de belos discursos, algumas comemorações bem singelas enquanto a destruição dos biomas, o desmatamento, as queimadas urbanas e rurais, a contaminação dos cursos d’água e dos mananciais, a poluição do ar, do solo e dos lagos, mares e oceanos, o uso abusivo dos agrotóxicos continuam contaminando os alimentos e a saúde da população, os desastres ambientais, a maioria provocados pela ação humana que degrada a natureza, enfim, apesar de tantas celebrações ao longo do ano, parece que continuamos na mesma corrida irracional rumo a mais destruição ambiental.
A cada ano, em todos esses eventos ecológicos-ambientais são selecionados alguns temas para servirem de base para as reflexões. Neste ano, no DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE, o tema escolhido foi “Vamos combater a poluição por plásticos”, o mesmo tema que também foi “celebrado” no Dia Mundial do Meio Ambiente em 2018.
O País anfitrião para as celebrações oficiais por parte da ONU será a Costa do Marfim, em parceira com a Holanda. E a ênfase será: Como incrementar as ações ecológicas/ambientais nos diversos países e promover a transição dos atuais modelos que promovem a degradação ambiental para que o mundo consiga estabelecer as bases de uma nova economia, que seria a Economia Circular.
Na base deste desafio estariam as ações de combate ao uso dos plásticos, que hoje e no futuro é um ou talvez o maior desafio quando se fala em economia verde, economia de baixo carbono, em economia circular e, também, para o que o Papa Francisco tanto tem insistido quando destaca o papel da Economia de Francisco e Clara, como novo paradigma, capaz de “realmar esta nova economia”, ou seja, que nesta nova economia o setor produtivo deve respeitar tanto os direitos dos trabalhadores, quanto dos consumidores, quanto os direitos da natureza e os limites dos biomas e do planeta Terra e, também, o direito das próximas gerações de poderem viver em um mundo social e economicamente justo e ambientalmente sustentável.
Segundo dados estatísticos da ONU e de diversas instituições de estudos e pesquisas ao redor do mundo, em 2022, no mundo foram produzidas 430 milhões de toneladas de “lixo” plástico e tais estudos tem demonstrado que a produção do “lixo” plástico tem aumentado em ritmo muito superior tanto em relação ao crescimento populacional em geral quanto da população urbana em particular.
Esta explosão quanto à produção de plásticos e do “lixo” plástico passa de 1,5 milhões de toneladas por ano, quando a população urbana mundial era de “apenas” 751 milhões de habitantes, ou seja, “apenas” 30% da população total.
Tendo em vista que mais de 90% da produção de lixo plástico é de origem urbana, podemos concluir inicialmente que entre 1950 e 2022, o crescimento da população total foi de 320%; a população urbana cresceu em 692% e a produção de “lixo” plastico urbano aumentou em 3.844%, ou seja, passou de 1,8kg per capita anual para 69,2 kg per capita anual.
As estimativas e projeções indicam que em 2030 a população mundial será se 8,5 bilhões de pessoas, a população urbana de 5,2 bilhões de habitantes ou seja, 61,2% da população total e a produção de lixo plástico será de 470,0 milhões de toneladas. Convenhamos, a produção de lixo plástico, se nada for feito para mudar este panorama radicalmente, será no mínimo catastrófico.
Por isso, alguns países, em graus diferentes estão “encarando” com muita seriedade a questão da poluição por plástico e diversos desses estão tomando medidas legais, para proibir ou reduzir radicalmente o uso de plásticos em todos os setores da economia, principalmente nas embalagens e na fabricação de outros produtos.
O que é mais preocupante é que a tendência ou projeções indicam que, se nada for feito para combater esta forma de degradação ambiental em 2050, o aumento da produção de lixo plástico será mais de 300%, ou seja, dentro de menos de tres décadas, a população total do planeta será de 9,8 bilhões de pessoas, a população urbana será de 6,7 bilhões de pessoas, e a produção anual de lixo plástico será de 1.050 trilhão de toneladas ou seja, 156,7 kg per capita anualmente.
A reciclagem é uma saída, mitigada, pois se não forem tomadas medidas radicais para que o plástico seja eliminado das cadeias produtivas, a reciclagem, que no momento não chega sequer a 10% em nível mundial, não irá resolver este desafio.
Conforme matéria publicada recentemente pelo Jornal Folha de São Paulo, tendo por base relatório de 2021, da União Européia (OCDE) "Apenas 9% dos resíduos plásticos foram reciclados, enquanto 19% foram incinerados e cerca de 50% acabaram em aterros controlados. Os 22% restantes foram deixados em aterros ilegais, queimados ou abandonados no meio da natureza"
Em relação ao Brasil, apenas 4% do lixo reciclável é reciclado, sendo quando se fala em reciclagem de lixo plástico este percentual fica entre 1% e 2%. De acordo com matéria divulgada pela ONG internacional WWF, em 2019, Brasil é o 4º país que mais produz lixo no mundo, só está atrás dos Estados Unidos, China e Índia”.
Em 2019 o Brasil produziu 11,4 milhões de toneladas de lixo plástico, mesmo tendo caído para a 13ª posição no ranking global das maiores economias do mundo, o que demonstra que, proporcionalmente, o Brasil produz muito mais lixo plástico per capita ano do que a China e a Índia e até mesmo os EUA, razão pela qual nossos governantes e o setor empresarial precisam implementar tanto políticas públicas quando modelos e sistemas de produção que promovam tanto a transição energética, com a substituição urgente e radical dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) por combustíveis renováveis, principalmente a energia solar e eólica, a bio energia e o hidrogênio verde.
Da mesma forma, o Brasil precisa reduzir e eliminar ao máximo possível tanto a produção quanto o uso do plástico, reduzindo e eliminando também a produção de lixo plástico.
De pouco adianta campanhas educativas, visando alterar os hábitos e costumes da população em relação ao uso de embalagens e outros materiais, inclusive utilidades domésticas oriundas ou fabricadas com plásticos, se o setor produtivo, o empresariado continuar a utilizar plásticos em suas atividades econômicas.
Tendo em vista esses aspectos, podemos utilizar tanto o Dia Mundial do Meio Ambiente, quanto a Semana Mundial do Meio Ambiente e o Junho Verde, para aprofundarmos nossas reflexões.
Oxalá, possamos combater a poluição decorrente do lixo plástico de uma forma mais efetiva, racional e com urgência, antes que nosso planeta seja destruído pelas ações humanas que não respeitam as Obras da Criação, os limites da natureza e do Planeta Terra.
*Juacy da Silva, professor aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral, Região Centro Oeste. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
**Aline Grasielli Monçale é Médica Dermatologista SBD, Mestre em Saúde Coletiva UFMT, Miss Beleza Baixada Cuiabana/MT, comunicadora, palestrante e fundadora do projeto social Dermatroller. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @alinemoncale_dermato