?A fala do Ministro
Se o objetivo do Ministro da Fazenda era acalmar o trepidante mercado financeiro e, principalmente, a população brasileira, o tiro saiu pela culatra.
Após longa aula de erudição em macroeconomia pública, o nosso competente ministro finalizou seu discurso dizendo que tivemos alguns anos de progresso, agora este ciclo chegou ao seu final.
Precisamos hoje reinventar uma nova economia - cuja fórmula ainda não foi encontrada - para fazer o Brasil voltar a crescer.
As medidas emergenciais tomadas no primeiro semestre do ano, como o ajuste fiscal, arrocho salarial, cortes nas despesas, no orçamento e seu contingenciamento, não surtiram o resultado esperado.
As receitas diminuíram e, em curto prazo, poderemos ter mais desempregos, diminuição da carga horária para os trabalhadores com diminuição dos salários e investimentos mínimos.
Tudo isso para não deixar a situação piorar.
Calcula o competente ministro que a retomada do crescimento com todas essas medidas de austeridade e a diminuição da corrupção, só será possível após quatro ou cinco anos de muito sacrifício para todos.
As castas estão esperneando, negociando mais benefícios para os seus.
Segundo recentes estatísticas nacionais, os que mais padecem com essa criminosa desarrumação das nossas contas públicas, inclusive atropelando a moralizadora Lei da Responsabilidade Fiscal, são os pobres e miseráveis.
A classe média está com os seus gastos emagrecidos para sobreviver à crise econômica e, para complicar, também política.
Pelo menos o Ministro da Fazenda foi transparente e claro na demonstração da real situação do país.
Nada de maquiagem como em outros tempos.
A população revoltada e impaciente com a falta de criatividade dos nossos políticos em apresentar propostas viáveis para minorar nosso sofrimento de falta de expectativa para um futuro promissor, já alertou que vai sair às ruas em protesto contra esse estado de coisas.
As greves estão pipocando em todos os segmentos sociais e as investigações sobre a corrupção produzindo resultados cada vez mais alarmantes.
O quadro é sombrio.
Gabriel Novis Neves
26-07-2015
Papa Francisco
Em sua peregrinação pelo Equador, Bolívia e Paraguai o Papa Francisco mais uma vez surpreendeu o mundo ao discursar no “Encontro dos Movimentos Sociais”.
Com a sua franqueza habitual, sabedoria e muita diplomacia, deixou o seu recado em uma importante reunião de líderes e dirigentes sociais latino-americanos.
A impressionante ressonância mundial foi imediata. Vozes discordantes apareceram advertindo que suas palavras não deviam ser levadas a sério.
Tudo isso porque o Papa disse que “o capitalismo é um sistema esgotado, que já não se sustenta, que os ajustes sempre são feitos à custa dos pobres, que não existe tal coisa como o derrame da riqueza das taças dos ricos, que destrói a casa do comum e condena a Mãe Terra”.
O Papa revolucionário também condenou os monopólios como uma grande desgraça, disse que o capital é o “estrume do dinheiro”, que se deve cuidar do futuro da Pátria Grande e estar em guarda frente às novas formas de colonialismo.
Com suas palavras, Francisco abriu um espaço enorme para avançar no sentido de neutralizar a ideologia dominante, que difunde que o capitalismo é a única forma sensata – e possível – de organização econômica e social.
O histórico discurso do Papa na Bolívia instalou no imaginário público a ideia de que “o capitalismo é um sistema desumano, injusto, predatório, que deve ser superado mediante uma mudança estrutural”.
Graças às suas palavras estamos em melhores condições para vencer a batalha de ideias de forma a convencer todas as classes oprimidas, as principais vítimas do sistema, de que é preciso acabar com o capitalismo, antes que esse infame sistema acabe com a humanidade e com o planeta, no dizer do sociólogo argentino Atílio Boron.
O Papa Francisco tem como prioridade a defesa dos três T: Terra, Teto e Trabalho.
Com relação ao problema grego, ele alerta ao mundo para as novas formas de neocolonialismo que recrudescem no mundo.
Mais do que o representante máximo da religião católica, Francisco vem se tornando um dos maiores símbolos, não de religião, mas de algo muito mais difícil de ser praticada, a religiosidade.
Gabriel Novis Neves
17-07-2015