*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
Ninguém, em sã consciência, pode negar a importância dos avanços da ciência e da tecnologia para a melhoria da qualidade de vida e do bem estar das pessoas, em todas as faixas etárias e em todas as áreas das atividades humanas, tanto é verdade que, graças à este processo, inúmeras doenças que encurtavam a vida das pessoas, principalmente inúmeras doenças de massa, foram e continuam sendo enfrentadas, combatidas, debeladas e curadas através das vacinas, diagnósticos precoces que passaram a ser realizados com mais precisão, o tratamento e a cura tornaram-se quase universais, apesar de amplas camadas de pobres e excluídos mundo afora continuarem por fora desses benefícios, inclusive no Brasil que não tem acesso aos benefícios dessas inovações tecnológicas, razões pelas quais a expectativa de vida ao nascer e em todas as faixas etárias tem aumentado muito e continua aumentando, prova disso é a quantidade e percentual de pessoas com mais de 80, 90, 100 anos ou mais, o que era uma raridade há seis décadas ou há um século.
Da mesma forma que esses avanços tecnológicos estão presentes em todas as atividades como agricultura, pecuária, produção industrial de outros bens e serviços, facilitando a vida humana, ampliando e aprimorando o conhecimento humano sobre aspectos totalmente desconhecidos não apenas há séculos, mas nas até mesmo últimas décadas e na atualidade.
Esta ampliação e aprimoramento do conhecimento, transformado em novas tecnologias e formas de gestão podem ser observadas, por exemplo, na engenharia genética, na reprodução humana, animal e vegetal, em tantas invenções, cujos impactos são altamente significativos nas comunicações, na descoberta de novos medicamentos ou no uso mais eficiente e científicos das plantas medicinais, no ensino, no lazer, na gestão pública, privada e, inclusive, nas igrejas, ONGs e outras entidades representativas da sociedade civil.
Todavia, dia após dia estamos vivendo em uma sociedade e um mundo digital, virtual, que também distancia as pessoas, afetam os sistemas de relações humanas, de trabalho e de produção e o estilo de vida, com impactos positivos e também extremamente negativos em nossas vidas.
A virtualidade, a era digital, apesar de aparentemente conectar as pessoas, na verdade estão se transformando em uma fuga em relação ao contato verdadeiro, aquele que a gente olha nos olhos da outra pessoa, estende a mão, oferece e recebe um abraço caloroso, físico, dialoga, onde as palavras são ditas e ouvidas direta e pessoalmente, mas mesmo assim esta “realidade abstrata” avança, da vez mais, nas relações humanas, distanciando, física e emocionalmente as pessoas.
Existe uma corrida tresloucada para compartilhar fotos, figurinhas, “emojes”, mensagens enlatadas que substituem as palavras, o objetivo é termos milhares, centenas de milhares ou até milhões de seguidores, “amigos e amigas virtuais”, em uma demonstração fictícia de que a pessoa é popular, tem a capacidade ou a “expertise” de influenciar pessoas, daí surgem os e as “influencers”, muitos que conseguem ganhar algum dinheiro ou até mesmo ficarem ricos, vendendo ilusões, compartilhando mentiras (fake news), discursos de ódio, ficções, enfim, ideias que, as vezes, não servem para nada.
E esta febre de trocar o mundo real pelo mundo virtual, está tomando conta de todas as camadas populacionais, tanto no Brasil quanto no mundo inteiro, está se tornando um vício, uma adição, causando uma dependência, não apenas tecnológica, mas fundamentalmente psicológica, distorcendo a cultura, como “modo de pensar, sentir e agir”, tornando-se um problema complicado e sério.
A cada dia mais crianças, bem pequenas, algumas com menos de 4, 5 ou 6 anos já acordam grudas em celulares, tabletes e outras parafernálias eletrônicas, essas crianças não sabem mais sequer operações aritméticas simples, afinal para que? O mesmo acontece com as pessoas idosas que também se tornam adictas a essas parafernálias eletrônicas. Ninguém gosta mais de ler, de refletir sobre os contornos da realidade, tudo se resume em um novo vocabulário, reduzido em palavras e maximizado em símbolos e figurinhas. A leitura e a reflexão crítica sobre a realidade perderam e estão perdendo espaço para a alienação e um mundo vazio.
Os celulares, símbolo maior deste avanço tecnológico e objeto de desejo de todas as classes, grupos sociais e faixas etárias, tem múltiplas funções, como simples operações aritméticas, como somar dois mais ou dividir dez por dois, além de terem substituído as máquinas fotográficas, os gravadores, as filmadoras, enfim, fazem tudo ou quase tudo na vida das pessoas e, com a chegada a inteligência artificial, assunto extremamente complexo e controvertido, as perspectivas são de que a chamada “alienação tecnológica” poderá transformar e até mesmo “desconfigurar” nossas mentes (da humanidade) afetando, profundamente, as verdadeiras relações humanas, podendo representar uma nova forma de escravidão humana pelas máquinas e por quem as programam e utilizam, inclusive os donos do poder, as elites dominantes, governantes e também o crime organizado nacional e transnacional.
Neste contexto, não podemos deixar de mencionar ou de ignorar a propagação de mentiras, as famosas “fake news”, os crimes cibernéticos, onde até pessoas com altos níveis educacionais e importantes na sociedade, como foi o caso recente de uma desembargadora em Mato Grosso, que caiu no chamado “golpe do pix” ou coisa semelhante.
Além disso, a virtualidade ou o chamado mundo digital traz consigo também a invasão da privacidade, o uso indevido e as vezes criminoso da imagem pessoa, provocando sérios prejuízos, até mesmo psicológico, chegando, em alguns casos provocar o suicídio da vítima.
Parece que estamos vivendo uma realidade contida no Livro de George Orwell publicado em 08 de Junho 1949, ou seja há 70 anos, intitulado “1984”, onde ele preconiza o que seria o Estado Totalitário Comunista, onde todas as pessoas seriam vigiadas pelo “Grande irmão”, abrindo caminho para a desfiguração das relações em sociedade representado pelo totalitarismo, por todos os tipos de tortura, inclusive a tortura psicológica, que hoje já é uma realidade em todos os países, independente das ideologias dos respectivos governantes.
O livro 1984 serviu de roteiro para a produção de um filme de ficção, em 1956, que retrata na tela o que seria este estado totalitário. Eu assisti este filme em 1974, nos EUA, as imagens são tão impactantes que até hoje as guardo em minha mente. É um retrato bem real do que está ocorrendo na atualidade, onde a tecnologia une-se à ideologia e passa a ser instrumento de perseguição a todas as pessoas que se opõem aos desígnios totalitários.
Outra distorção deste mundo virtual é provocar o distanciamento mental, psicológico e social como no caso de famílias que ao estarem em uma mesa de refeição, onde antigamente eram momentos e espaços para o diálogo, para os conflitos ou enfim, momento felizes, hoje encontramos famílias e mais famílias em silêncio, cada pessoa com os celulares ou tabletes nas mãos e os olhos fixos na “telinha”, dirigindo-se `as demais apenas por monossílabos ou apenas com pequenos acenos de mãos ou de cabeça, estão se tornando pessoas cegas, surdas e mudas e, na maior parte das vezes, não falam, não ouvem e não veem o que existe em seu redor, pois estão absortas em seu mundinho virtual.
É comum em ambientes que requer silêncio ou atenção como em cinemas (cada vez menos presentes), teatros, igrejas ou em salas de aula, as pessoas esquecerem-se de que esses tipos de ambiente exigem determinadas condutas, silêncio, atenção e, quando menos se espera um celular toca alto, as vezes com músicas estridentes e as pessoas, sem o mínimo de respeito e consideração com as demais, simplesmente começam a falar alto, quase gritando, promovendo um verdadeiro distúrbio entre os presentes.
A realidade do mundo virtual é bem diferente do mundo real e pode provocar distorções na formação da personalidade, principalmente em crianças e adolescentes e também pessoas idosas, grupos considerados os mais vulneráveis, razões pelas quais, alguns países já estão implementando legislação proibindo a propriedade e o uso dessas parafernálias eletrônicas para essas faixas populacionais, da mesma forma que proíbem a venda e o uso de drogas, lícitas ou ilícitas, como tabaco, bebidas alcoólicas, jogos que criam dependência etc.
A dependência tecnológica já está sendo considerada uma doença que exige tratamento mental, psicológico ou até mesmo psiquiátrico.
É interessante um pensamento, atribuído a um personagem, “chamado” de Mike Lonely (Mike solitário) ou algum autor anônimo, em que são retratados esses dois mundos, quando diz que tantas almas atravessam batalhas silenciosas, tristes, mas continuam sorrindo para o mundo, como tantas pessoas que usam e abusam das tecnologias digitais para aparentarem felicidade, riqueza e estarem de bem com a vida, mas na verdade escondem a realidade verdadeira e continuam “sorrindo” para o mundo, vivem na solidão, tendo como companheira ou companheiro a angústia, a insônia, a ansiedade, a depressão, a solidão, o isolamento social, enfim, vivem em um mundo fictício e quando descobrem isso entram em desespero e constatam que esqueceram de viver e conviver com as pessoas que estão próximas, seja na família, na escola, no ambiente do trabalho, na comunidade e nas Igrejas. ou em qualquer outro local.
Precisamos repensar como estamos “lidando” com essas parafernálias digitais e virtuais, não podemos, como seres humanos, ser transformados em máquinas, em robôs, manipulados e teleguiados por essas plataformas digitais e pela complexa e controvertida inteligência artificial, ainda pouco conhecida quanto aos verdadeiros impactos, POSITIVOS e NEGATIVOS, que terão sobre toda a humanidade!
Precisamos ser SUJEITOS, jamais OBJETOS, criadores e não apenas usuários passivos, atores e não apenas expectadores das transformações sociais, econômicas, políticas, culturais, religiosas e, claro, científicas e tecnológicas.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular, aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
MAIS UM JUNHO VERDE 2024 - Juacy da Silva
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
Campanhas para motivar a opinião pública e educação ambiental são importantes e necessárias, mas não resolvem todos os problemas socioambientais, precisamos ir mais além, incluir esses problemas e desafios no bojo das políticas públicas, federal, estaduais e municipais, com recursos orçamentários que demonstrem o grau ou nível de prioridade que nossos governantes, principalmente dos poderes Executivos e Legislativos.
“Tudo está interligado, nesta Casa Comum” Papa Francisco, Laudato Si, 2025.
A destruição de biomas como Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, da mesma forma que a Mata Atlântica, os Pampas e a Caatinga já perderam a maior parte da biodiversidade, afetam o regime de chuvas, a fertilidade do solo, acabam com espécies animais e vegetais, como, por exemplo, as plantas medicinais, tudo isto afeta, não apenas o Brasil, mas o resto do mundo.
Estamos diante de uma verdadeira emergência climática. Não é por falta de Leis, acordos internacionais, conferências mundiais sobre meio ambiente, o clima, a destruição da natureza, bem como milhares de estudos sobre os problemas e desafios socioambientais e tantos desastres “naturais”, ambientais, em cujas origens estão as ações irracionais dos humanos, consideradas crimes ambientais pela legislação ou pecado ecológico sob a ótica da Igreja (Católica e Evangélicas), que a consciência ambiental continua adormecida, tanto por parte da população quanto do empresariado, de líderes religiosos e também pelos governantes do mundo todo, inclusive no Brasil.
Há mais de 50 anos foi realizada a primeira conferência mundial/internacional para discutir, tratar e debater sobre um certo “conflito” entre desenvolvimento, crescimento econômico e seus impactos na natureza (meio ambiente).
Desde então a chamada “questão ambiental” passou a fazer parte das agendas mundial, através da ONU e de sua agência especializada em questões ambientais que é a UNEP, bem como de inúmeras outras organizações internacionais como UNICEF, FAO, União Europeia, Banco Mundial (BIRD), FMI, do Banco Interamericano de Desenvolvimento BID), o Fórum Econômico Mundial e inúmeras instituições de pesquisas, de renome internacional.
Foram realizadas conferências memoráveis como a ECO 92, no Rio de Janeiro, que reuniu mais de 180 chefes de Governo e de Estado, elaborada a Carta da Terra, a Agenda 21; o Protocolo de Kyoto, o Acordo de Paris.
A ONU, na antevéspera do início do Terceiro milênio, em memorável Assembleia Geral aprovou o estabelecimento de uma pauta mínima, no que concerne ao meio ambiente, com apenas OITO grandes objetivos, para balizar as políticas de desenvolvimento nacional dos países membros, inclusive o Brasil, a vigorar por 15 anos, ou seja, do ano 2.000 até o ano de 2015.
Em 2015, ano bem emblemático para o rumo das discussões socioambientais, o Papa Francisco publicou a Encíclica Laudato Si, que passou a incorporar a preocupação e as ações da Igreja Católica, de forma inovadora e até um tanto revolucionária, no corpo da Doutrina Social da IGREJA/DSI.
No mesmo ano também a ONU, através de aprovação da Assembleia Geral instituiu os OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, em substituição aos objetivos do milênio, em que, através de 17 objetivos e 169 metas, estabeleceu como horizonte para o cumprimento desses objetivos e metas o ano de 2030, criando o que passou a ser denominada de AGENDA 2030.
Outro marco significativo no ano de 2015 foi a aprovação do Acordo de Paris que, lamentavelmente, os grandes poluidores do planeta ainda se recusam a cumprir a maioria de suas cláusulas, incluindo o fim do uso dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), que e a maior fonte da poluição no mundo.
Desde 1972, portanto há mais de meio século, ocorreram muitas reuniões, “debates”, discursos, compromissos formais e legais, mas que pouco resultado produziram, ficaram, praticamente, no papel, em boas intenções e discursos vazios e demagógicos, como sempre tem acontecido.
Enquanto isso, a degradação do planeta, a destruição da natureza, dos biomas e ecossistemas continuavam, como ainda continuam avançando. As florestas, principalmente as florestas tropicais foram e continuam desaparecendo que, juntamente com as queimadas, afetam a fertilidade dos solos, contaminam e destroem os cursos d’água, poluem o ar.
A grande maioria dos países inseriram as questões ambientais em suas legislações e até mesmo em suas Constituições nacionais, como foi o caso do Brasil que, em 1988, ao aprovar a Constituição Federal, a chamada Constituição Cidadã, atualmente bastante desfigurada por tantas emendas que aos poucos vai se distanciando da vontade expressa pela Assembleia Nacional Constituinte que, pôs fim formal `a Constituição outorgado pelo regime militar.
Sempre é bom lembrar que, na Constituição Federal de nosso país está expresso de forma clara e objetiva que “Art. 225. Todos têm o direito ao meio ambiente, ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial `a sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Apesar deste mandamento constitucional e de toda uma legislação infra constitucional, a destruição de biomas como o Pantanal, o Cerrado, a Amazônia, enfim, todos os biomas continua sob o olhar passivo tanto de governantes quanto de uma população alienada e pouco preocupada com o futuro do planeta, só despertando e se comovendo quando milhares, dezenas de milhares ou milhões de pessoas choram por terem perdido seus lares, milhares de vidas humanas e muito sofrimento, como atualmente acontece no Rio Grande do Sul, como já aconteceu em práticamente todos os estados e, tudo leva a crer, que outros e mais temíveis e terríveis desastres, nada naturais, pois são catástrofes anunciadas, deverão ocorrer.
Apesar da constitucionalização do direito ambiental como um bem coletivo das presentes e futuras gerações, o assunto tem merecido debates que chegam até ao Supremo Tribunal Federal.Sobre este assunto do Controle Concentrado de Constitucionalidade, em julgamento recente alguns ministros se expressaram, como podemos observar de seus votos “Não há estado de coisas inconstitucional na política de proteção ambiental da Amazônia e do Pantanal. Contudo, para o efetivo cumprimento do direito constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e do respectivo dever do Poder Público em defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (CF/1988, art. 225), é necessária a adoção de algumas providências. Em que pese o processo de reconstitucionalização, decorrente de avanços e melhorias na política de combate às queimadas e desmatamento nos referidos biomas, ainda persistem algumas falhas estruturais que justificam a atuação desta Corte, a fim de que as medidas necessárias não só sejam adotadas, mas funcionem adequadamente.[ADPF 743, ADPF 746 e ADPF 857, rel. min. André Mendonça, red. do ac. min. Flávio Dino, j. 20.3.2024”
Neste mesmo julgamento é interessante também observarmos que em outro voto, da então Ministra Rosa Weber, ficou claro o entendimento do tema “Ao conferir à coletividade o direito-dever de tutelar e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225), a Constituição Federal está a exigir a participação popular na administração desse bem de uso comum e de interesse de toda a sociedade. E assim o faz tomando em conta duas razões normativas: a dimensão objetiva do direito fundamental ao meio ambiente e o projeto constitucional de democracia participativa na governança ambiental. Análise da validade constitucional do Decreto n. 9.806/2019 a partir das premissas jurídicas fixadas: ( i) perfil institucional normativo-deliberativo do CONAMA, (ii) quadro de regras, instituições e procedimentos formais e informais da democracia constitucional brasileira, (iii) igualdade política na organização-procedimental, e (iv ) direitos ambientais procedimentais e de participação na governança ambiental. O desmantelamento das estruturas orgânicas que viabilizam a participação democrática de grupos sociais heterogêneos nos processos decisórios do Conama tem como efeito a implementação de um sistema decisório hegemônico, concentrado e não responsivo, incompatível com a arquitetura constitucional democrática das instituições públicas e suas exigentes condicionantes. A discricionariedade decisória do Chefe do Executivo na reestruturação administrativa não é prerrogativa isenta de limites, ainda mais no campo dos Conselhos com perfis deliberativos. A moldura normativa a ser respeitada na organização procedimental dos Conselhos é antes uma garantia de contenção do poder do Estado frente à participação popular, missão civilizatória que o constitucionalismo se propõe a cumprir. O espaço decisório do Executivo não permite intervenção ou regulação desproporcional. A Constituição Federal não negocia retrocessos, sob a justificativa de liberdade de conformação decisória administrativa. A eficiência e a racionalidade são vetores constitucionais que orientam o Poder Executivo na atividade administrativa, com o objetivo de assegurar efetividade na prestação dos serviços públicos, respeitados limites mínimos razoáveis, sob pena de retrocessos qualitativos em nome de incrementos quantitativos. Inconstitucionalidade do Decreto n. 9.806/2019.
[ADPF 623, rel. min. Rosa Weber, j. 22-5-2023, P, DJE de 18-7-2023”.
Durante o mês de junho existem diversos “dias especiais”, relacionados às questões socioambientais, que deveriam estimular a reflexão, o debate e também algumas ações, mesmo que sejam apenas pontuais e ou simbólicas, mas que podem contribuir para o despertar da consciência ecológica.
Assim é que entre os dias 01 e 07 de Junho “comemora-se” a Semana do Meio Ambiente, se bem que em relação ao meio ambiente, tanto no mundo quanto no Brasil temos pouco ou nada para realmente celebrar, em 03 é a vez do Dia mundial da Educação ambiental, em 05 é o Dia da Ecologia e o Dia mundial do Meio Ambiente, cujo tema este ano é a prevenção das secas e da desertificação, com o lema “ Nossa terra, nosso futuro”, destacando que em 17 de Junho é o Dia mundial de combate `a desertificação e à seca.
Em 07 de junho o assunto é Segurança alimentar, tendo como foco o combate ao uso indiscriminado, abusivo e criminoso de agrotóxicos que contaminam o meio ambiente, poluindo os solos, as águas, o ar, e, quando presentes nos alimentam destroem a saúde e a vida humana.
Em 08 de Junho é a vez de voltarmos nossos olhares para o que a humanidade está fazendo com os oceanos, o lixo que é produzido em áreas remotas, longe do mar, como em Cuiabá ou qualquer outra cidade do interior do Brasil, quando não devidamente tratado, acaba sendo levado, poluindo córregos, rios até chegar aos mares e oceanos. A degradação dos oceanos promove o aquecimento de suas águas e provocam as mudanças climáticas.
O 11 de Junho é dedicado à reflexão sobre o papel e a importância do Educador Sanitário, como alguém que promove um melhor cuidado com o meio ambiente, complementado pelas ações de outro profissional importante nesta área que é o Gestor Ambiental, que tem também o seu dia celebrado em 17 de Junho.
Em 18 de junho é celebrado o Dia da gastronomia sustentável, que está umbilicalmente vinculada `a produção orgânica e à agroecologia, práticas agrícolas também sustentáveis.
E, finalmente, no último dia de Junho (30), é o Dia Nacional do Fiscal Agropecuário, que, juntamente com tantos outros profissionais tenta zelar pelo cumprimento da legislação para que nossos alimentos, de origem animal, tenham a qualidade necessária em respeito `a saúde humana e normas sanitárias.
Assim, apesar de tantas discussões, normas, regulamentos, leis, decretos e até mesmo a Constituição, a destruição da natureza continua acelerada. Foi pensando neste processo que o Senador Jaques Wagner (PT/BA), apresentou o projeto de Lei 1070/2021, aprovado pelas duas casas legislativas (Senado e Câmara Federal), modificando a Lei 9.795 de 1999, a Lei que define a Política Nacional de Educação Ambiental, sancionada pelo Presidente da República como Lei 14.393, de 2022, estabelecendo o Junho Verde, com o objetivo de educar e despertar a consciência ecológica no país e deve ser conduzida, na forma de Campanha, pelos governos federal, estaduais e municipais.
Tal campanha deve promover o diálogo, a reflexão e o debate sobre questões socioambientais entre governantes, empresariado, lideranças civis, nas igrejas, sindicatos, movimento comunitário, na imprensa, ONGs etc, visando transformar atitudes, hábitos e estilos de vida que estão contribuindo para a degradação ambiental e a destruição dos biomas e ecossistemas com as consequências trágicas que bem conhecemos e assistindo cada vez com maior frequência e comoção pública.
Despertar a consciência coletiva é importante, todavia, o que precisamos realmente é o estabelecimento de uma política ambiental, no contexto das políticas públicas nacional, estaduais e municipais, bem como o fortalecimento dos organismos de fiscalização e controle, incluindo legislação mais rigorosa que, realmente, represente punição aos criminosos ambientais, cujas penas possam realmente demove-los a praticar tais crimes.
Finalmente, não basta despertar a consciência ecológica através de campanhas, como o Junho Verde ou outras mais, é fundamental que sejam criados mecanismos e canais efetivos de participação popular e não fique apenas a cargo dos donos do poder e das elites a condução das políticas públicas, principalmente, das políticas ambientais. Este deve ser o cerne do diálogo, das reflexões e dos debates socioambientais.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular, aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
A Constituição Federal, de 1988, no artigo 225, estabelece, de forma clara e objetiva que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Ao longo do tempo, principalmente a partir da publicação da Encíclica “Rerum Novarum”, em 15 de Maio de 1891, pelo Papa Leão XIII, até a atualidade com o Papa Francisco, ao publicar a Encíclica Laudato Si, em 24 de Maio de 2015; a Igreja Católica e as Igrejas Evangélicas vem sendo presença ativa no enfrentamento dos problemas e desafios que afetam a humanidade, principalmente as camadas marginalizadas, excluídas vem enfrentando, daí a razão da chamada “opção preferencial pelos pobres”.
Para poder agir de uma forma efetiva e sociotransformadora é necessária uma metodologia que ofereça condições e conhecimento para compreender bem a realidade, permitir que sejam feitas opções e desdobrar as ações no tempo e no espaço, estabelecendo prioridades neste agir.
Neste processo em busca de um conhecimento mais profundo da realidade, que sirva de base para agir na dimensão sociotransformadora, é fundamental que sigamos a máxima de “pensar globalmente e agir localmente”, razões mais do que suficientes para delimitarmos nosso campo de ação tanto em termos de espaço (território) quanto de tempo (estabelecer cronologia e prioridades), tendo em vista a complexidade dos desafios em todas as áreas, inclusive nas questões relativas `a ECOLOGIA INTEGRAL, considerando os diversos aspectos que fazem parte das exortações, observações e sugestões quanto a esta caminhada, apontadas tanto nas Encíclicas Laudato Si e Fratelli Tutti quanto nas Exortações Apostólicas Querida Amazônia e Laudate Deum e outros documentos das Igrejas e também o conhecimento resultante de estudos e pesquisas por cientistas, pesquisadores e instituições universitárias e até mesmo vinculadas a outros setores da sociedade.
A origem desta metodologia já está prestes a completar um século, como podemos ver nesta referência bibliográfica “O método ver-julgar-agir da JOC, assumido pela Ação Católica especializada no mundo inteiro desde a década de 1930, demorou, mas foi assumido pelo magistério pontifício, primeiro por João XXIII, depois pela Gaudium et Spes, por encíclicas sociais e documentos de Dicastérios da Cúria Romana (BRIGHENTI, 2015, p. 612)”
O Curso para a formação de Agentes da Pastoral da Ecologia Integral que estamos realizando na Arquidiocese de Cuiabá, em três módulos de apenas 5 horas cada um, tanto quanto possível estamos seguindo o método da Igreja: VER, JULGAR E AGIR.
Na Bíblia Sagrada existe uma passagem que, direta ou indiretamente, nos remete `a questão da metodologia no agir da Igreja Católica e das Igrejas Evangélicas também, quando no Evangelho de São João 8:32 está escrito “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Ai está na verdade a origem desta metodologia: Conhecimento – Verdade – Libertação.
Assim, buscamos ampliar nosso conhecimento sobre diversos documentos da Igreja e dos vários “ramos”, aspectos das ciências, incluindo um “panorama’ dos principais desafios e problemas socioambientais do Brasil, de Mato Grosso e do território onde está inserida a Arquidiocese de Cuiabá (a chamada Baixada Cuiabana).
Caberá a seguir, aos participantes do Curso, futuros agentes da Pastoral da Ecologia Integral realizarem um exercício, em princípio didático, mas com vistas a ações concretas no futuro, de preferência em um futuro não muito longínquo, nos territórios das várias paróquias representadas no referido curso através dos referidos participantes do curso.
Para tanto devemos seguir alguns passos, que, na verdade são as etapas do Método mencionado e, neste exercício, devemos trabalhar em conjunto, ou seja, propiciar a troca de experiências e a “mirada” que cada pessoa possa ter da realidade e também as sugestões para a ação, sempre enfatizando que somente as ações, de preferência coletivas, em grupo é que tem o poder e a energia para promover ou provocar transformações sociais, econômicas, políticas, culturais ou até mesmo religiosas.
Aqui cabe uma observação, é importante que saibamos e aprendamos a “trabalhar em conjunto”, em grupo, em equipe, para valorizar esta dinâmica coletiva, sempre respeitando as pessoas, aceitando opiniões diferentes e até divergentes, sempre em através de um diálogo honesto, franco, aberto, reconhecendo nossas diferenças, nossas fragilidades e nossa dignidade como pessoas humanas, todos e todas, filhos e filhas de Deus. Esta é a essência da Amizade social, que sempre nos exorta o Papa Francisco e foi objeto da Campanha da Fraternidade deste ano de 2024.
Para atendermos ao desafio da etapa VER, não precisamos “inventar a roda”, contratar “experts”, consultorias especializadas e geralmente que custam muitos recursos, precisamos buscar e valorizar o conhecimento das pessoas que vivem, convivem, sobrevivem e sofrem com a realidade que as cerca e que, cremos nós, desejam mudanças e transformações que melhorem suas condições de vida.
Para vermos a realidade, além de nossas observações pessoais, podemos solicitar a várias pessoas, em diferentes partes do território, de diferentes estratos/camadas sociais e perguntarmos, por exemplo: Quais são os três, quatro ou cinco principais problemas ou desafios ambientais ou socioambientais que o senhor ou a senhora, ou os/as jovens identificam naquele território?
Com certeza se dialogarmos com diversas pessoas teremos diversas respostas, algumas que devem coincidir e outras diferentes e, assim, poderemos chegar a mais de cinco ou dez problemas/desafios.
A Etapa seguinte do Método, o JULGAR, cabe `a Equipe da Pastoral que será formada pelos participantes do Curso e mais algumas pessoas que sejam convidadas para “engrossar’, fortalecer a Equipe, que darão vida ao que temos denominado de Núcleo Ecológico Paroquial (Local) e que pode ser também no nível das comunidades, de uma escola, de uma empresa. A denominação pouco importa, o mais importante é a constituição das equipes que irão articular, coordenar, despertar a consciência ecológica/ambiental, inclusive fomentando o processo da EDUCAÇÃO ECOLÓGICA LIBERTADORA, para que as ações e as transformações socioambientais possam ocorrer e a realidade seja mudada, transformada.
Nesta fase do JULGAR, caberá então à Equipe local/paroquial analisar os problemas e desafios apresentados pelas pessoas, tendo como parâmetros deste JULGAR o seguinte: a gravidade, a urgência e a complexidade dos problemas e desafios que surgiram deste diálogo coletivo e, estabelecer uma lista de prioridades, tendo em vista também o que é possível realizar a curto, médio e longo prazos.
Finalmente, o AGIR, deve ser realizado, não de uma forma voluntarista e improvisada, mas sim, dentro de uma ótica de racionalidade, para que as ações sejam realmente realizadas e sejam também duradouras e possam provocar mudanças, seja de hábitos, de comportamentos, atitudes e novos estilos de vida, tanto no plano individual, familiar quanto, coletivamente, seja a partir da paróquia, da comunidade, da escola, da empresa ou enfim, qualquer que seja o lugar/território onde as pessoas vivem, convivem e sobrevivem.
Neste AGIR, precisamos também promover nossas ações guiadas por projetos, que tenham “começo, meio e fim”, definindo quem, como, quando, onde e a que custos, ou seja, por que, para que, com quem e para quem vamos realizar nossas ações, incluindo parcerias, custos dos projetos e fontes de financiamento.
Em ocasião oportuna, no futuro, como Pastoral devemos promover também um aprofundamento do nível de conhecimento das Equipes, tanto no que concerne `a elaboração de projetos sociais, identificação de fontes de financiamento públicas e privadas, nacionais e internacionais, bem como um maior nível de conhecimento dos vários setores que fazem parte do que denominamos de Ecologia Integral.
Exemplo, se uma comunidade, paróquia definem que irão trabalhar com reciclagem, é necessário entender melhor sobre esta temática; da mesma forma se o projeto é relacionado com arborização, plantas medicinais, hortas domésticas, escolares ou comunitárias, ou os chamados “quintais ecológicos”, é fundamental que os participantes conheçam bem as referidas áreas e assim por diante.
Se decidirmos, por exemplo, realizar uma Campanha ampla para combater o consumismo, o desperdício, que geram cada vez um maior volume de resíduos sólidos/lixo, combater o uso de plásticos que emitem gases de efeito estufa e provocam o aquecimento global e as temíveis mudanças climáticas etc, etc precisamos ter conhecimento das técnicas de propaganda, marketing e como se formam ou se alteram os hábitos de consumo, atingindo o objetivo e metas de “produção e consumo responsável e sustentável”, como estabelece a ONU no ODS de número 12.
O curso para a Formação de Agentes da Pastoral da Ecologia Integral é apenas um passo inicial de um processo mais longo para que as ações que vierem a ser implementadas, realizadas possam ser duradouras, efetivas e estejam articuladas com as ações das demais pastorais, movimentos e organismos da Igreja e também em parcerias com outras organizações públicas e privadas que atuem nesta área e contribuam para ajudarmos em um MELHOR CUIDADO COM A CASA COMUM, a partir de nossa realidade concreta, local em nossos territórios.
O processo de transformação da realidade, principalmente da realidade em que vivem e sobrevivem os pobres e excluídos é longo, cheio de obstáculos e interesses as vezes ocultos, demanda conhecimento e uma conscientização ecológica, social e política mais profunda por parte dos mesmos, para que as mudanças ocorram e essas mudanças devem ocorrer com a participação dessas camadas que devem ser sujeitas e sujeitos de seus próprios destinos e jamais objeto de manipulação por parte de quem gera e se beneficia de estruturas que representam dominação, manipulação e exclusão.
Não podemos alimentar o assistencialismo, o paternalismo que apenas são formas de manipulação por parte dos poderosos e dos donos do poder, mas sim, ajudarmos a despertar a consciência ecológica, sociotransformadora dessas camadas que sofrem com a degradação ambiental e destruição do planeta, tudo isso no contexto da Doutrina Social da Igreja e dos Direitos Humanos e Constitucionais.
*Juacy da Silva, professor fundador e titular da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
Em minhas longas caminhadas pelas ruas de Cuiabá, que as vezes chegam ou ultrapassam 10km diariamente, deparo-me com uma cidade, capital do Estado de Mato Grosso, com mais de 651 mil habitantes, que deveria ser uma referência estadual e regional em termos de sustentabilidade, vejo, todavia, em diversas esquinas, nas ruas, avenidas sem árvores, sem calçadas, ou com calçadas atravancadas por todas as formas de obstáculos incluindo caros, matagal, um sem número de máscaras “de covid” como dizem, garrafas plásticas, galhos de arvores, esgoto correndo a céu aberto, onde o asfalto, quando existe, já perdeu a cor escura e está verde de lodo, e, inúmeros lixinhos que acabam se transformando em “lixões”, em plenas vias públicas. Já fiz centenas de fotos e, de vez em quando, envio para alguns veículos de comunicação, na ilusão de que alguma reportagem possa “constranger” nossos governantes e impulsioná-los a melhor cuidarem de nossa outrora cidade verde. Tudo isso, sem falar no Centro histórico em decadência, esvaziado econômica e comercialmente, abandonado, sujo, com centenas de imóveis caindo aos pedaços, abrigo de também centenas de pessoas excluídas, marginalizadas, tomadas e dominadas pelas drogas lícitas e ilícitas, o berço da cultura cuiabana e mato-grossense que envergonha nossos antepassados.
A mesma situação está presente também no maior aglomerado Urbano do Estado, representado por Cuiabá e Várzea Grande, a segunda maior cidade do Estado, com 203 mil habitantes, aglomerado urbano que representa 854 mil habitantes ou 23,3% da população total e, em torno de um terço (33%) da população de Mato Grosso.
Um dos problemas mais sérios que contribuem para a degradação do planeta, a destruição dos biomas e dos ecossistemas, a contaminação das águas, principalmente de Rios, como o Cuiabá e seus afluentes e inclusive dos mares e oceanos, do solo e do ar é o lixo, tecnicamente denominado de resíduos sólidos.
Este desafio está presente no mundo inteiro, só que no Brasil é uma vergonha que decorre da incompetência, da incúria e descaso por parte de nossas autoridades e esta negligência afeta muito mais os pobres e excluídos, que vivem nas periferias onde a situação é muito mais precária e danosa.
Diversos sã os tipos de lixo, incluindo o lixo plástico que tem crescido a uma velocidade muito maior do que o crescimento populacional, do que o crescimento urbano e até mesmo do aumento da renda média per capita em todos os países.
Existem outros tipos de resíduos sólidos como o lixo decorrente da construção civil, o lixo eletrônico, lixo hospitalar, lixo doméstico, lixo industrial em geral, lixo têxtil, boa parte desses tipos contém produtos químicos, nucleares, componentes corrosivos, enfim, uma complexidade que tem sido objeto de estudos, pesquisas, trabalhos acadêmicos, até teses de mestrado e doutorado. Ou seja, a questão já está sobejamente conhecida, diagnosticada, falta apenas ação que resolva o problema, e isto tem que partir tanto dos governantes quanto dos empresários e também por parte da população em geral.
É um tema, um problema altamente complexo e, também, por ter dimensão econômica, política e não apenas social, o equacionamento deste desafio também se reveste de uma complexidade imensa. Existem muitos interesses em jogo, incluindo de quem vive, sobrevive ou se enriquece com o lixo.
Alguns estudos e reportagens tem demonstrado que a questão do lixo também está envolta em vários casos de corrupção, como em diversos outros setores incluindo transporte coletivo, reformas de imóveis públicos construção e reformas de praças e outras obras de infraestrutura, conduzidas por organismos públicos, o que torna a solução do problema difícil de ser encontrada. A primazia na condução e busca da solução precisa partir dos organismos públicos, sem isso, todos os demais esforços não passam de ações mitigatórias e passageiras.
Há décadas, em diversos países, como tem sido demonstrado por dados e informações por parte de organismos nacionais e internacionais que tem no lixo um de seus focos de atuação, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o Banco Mundial (BIRD), o lixo passou a ser considerado um setor econômico importante e, neste sentido, a reciclagem, dentro do conceito da Economia Circular, passou a ter também um interesse por gerar oportunidades de emprego e renda para milhares e milhões de pessoas, ao redor do mundo, principalmente nos países do chamado terceiro mundo de renda baixa ou apenas média, onde o Brasil ainda está incluído, por estar entre os quatro países que mais lixo plástico produz no mundo.
Costuma-se dizer que o valor do lixo, do ponto de vista da reciclagem e da economia circular, vale mais de do que a produção de diversos outros setores dos diversos sistemas econômicos. Existe também a questão dos custos para solucionar problemas decorrentes do lixo, incluindo as doenças que afetam milhões de pessoas, as consequências ambientais como poluição do ar, a emissão de gases de efeito estufa, que causam mudanças climáticas, das águas e do solo.
De acordo com dados do último relatório da UNEP – Agência da ONU para o Meio Ambiente, publicado em 27 de fevereiro último (2024), a geração de lixo municipal no mundo, onde não está incluído o lixo agropecuário , do setor de construção civil e de alguns outros setores, em 2023 foi de 2,1 bilhões de toneladas e poderá chegar a 3,8 bilhões de toneladas em 2050 li.
O valor desta montanha de lixo em 2020 era de US$ 361 bilhões de dólares e deverá atingir, em 2050, a importância de US$640,3 bilhões, valores muito superiores ao PIB de diversos países, tanto em 2020 quanto em 2050.
Outra questão que se coloca neste contexto das reflexões sobre o lixo é que em sua origem estão aspectos como o aumento também acelerado do consumismo, do desperdício e da obsolescência prematura dos bens produzidos pelo setor empresarial, aliado a um “marketing” e propaganda agressivos que manipulam os consumidores, estimulando-os a consumirem e a desperdiçarem cada vez mais, gerando mais lixo e também mais lucros e mais acumulação de capital, renda e riqueza para diversos setores empresariais.
Diante desta dinâmica, tanto a reciclagem quanto as tentativas de “emplacar” a economia circular, a continuarem os atuais paradigmas que embasam os atuais sistemas econômicos e produtivos, não terão o sucesso a que se propõem, serão apenas formas mitigatórias para reduzir os impactos negativos e as consequências da geração e falta de uma destinação correta para este desafio, que é o lixo.
Na Encíclica Laudato Si o Papa Francisco nos exorta sobre esta questão ao dizer “o mundo está se tornando uma grande lixeira planetária” e nesta mesma “linha” de reflexão, o Secretário Geral da ONU, Antônio Guterrez, nas celebrações sobre o Dia Mundial do Lixo Zero, em 2023, enfatizou que “o planeta está sendo tratado “como uma lixeira”. Para o líder da ONU, a humanidade está “estragando sua única casa”. Ele alertou sobre os impactos da produção de lixo e da poluição no meio ambiente, nas economias e na saúde humana.
Segundo Guterres, 10% de todas as emissões globais de gases de efeito estufa vêm do cultivo, armazenamento e transporte de alimentos “que nunca são usados”. Ele considerou esse dado “revoltante”, uma vez que, em nível global, 800 milhões de pessoas, por ano, passam fome.
Ele foi mais além enfatizando que é preciso “declarar guerra ao lixo”. E que os consumidores precisam agir de forma mais consciente. Ele também falou de empresas que devem contribuir para uma “economia circular e sem desperdício”.
Finalmente, não podemos deixar de mencionar a urgente necessidade das prefeituras incluírem em seus editais de concorrência para a seleção das empresas que coletam o lixo urbano, repito, incluir nesses editais a obrigatoriedade da coleta seletiva e a obrigatoriedade de que a população separe o lixo reciclável do não reciclável, além de uma ampla campanha de conscientização contra o consumismo, o desperdício, estimulando a reciclagem em toda a sua dimensão, já bem conhecida como os 4, 5 ou 6 “Rs”: Repensar, Refletir, Recusar, Reusar, Reciclar e, Realmar a Economia, substituir os paradigmas de uma economia da morte por paradigmas de uma Economia da vida!
Nesta “guerra” contra o consumismo, contra o desperdício, contra a geração de mais lixo, todos tem um lugar, tanto as entidades governamentais, quanto os empresários, as entidades da sociedade civil, as ONGs, as Igrejas, as Pastorais, enfim, a população como um todo. Esta é também uma forma efetiva de enfrentarmos este enorme e grave desafio.
Pare um pouco e observe como está a questão do lixo, da limpeza pública em sua rua, na frente de sua casa, em seu quintal, em seu bairro, em sua cidade, enfim, nos Estados e no Brasil.
Estamos às vésperas das eleições municipais, questione os candidatos a prefeitos, prefeitas, vereadoras, vereadores, procure saber se os mesmos, as mesmas tem alguma proposta para enfrentar este problema e desafio.
Procure saber se em sua cidade existe política efetiva, eficiente e eficaz em relação a todas as questões, problemas e desafios ambientais, ecológicos, particularmente as questões do lixo, do saneamento básico, da arborização urbana, da água, do transporte público.
Por isso, devemos lutar contra todas as formas de degradação dos biomas e ecossistemas, tendo como objetivo máximo o desenvolvimento sustentável integral, onde estejam incluídos novos modelos econômicos e de relações de trabalho, de produção e novos padrões de consumo responsáveis e sustentáveis, como defende a ONU, através dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a Agenda 2030.
Ou mudamos nossos hábitos de consumo e nossos sistemas produtivos ou estaremos cada vez mais enfrentando e sofrendo as consequências dessas tragédias socioambientais que se multiplicam ano após ano!
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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Juacy da Silva*
“A humanidade precisa sair do déficit ecológico e voltar ao superávit ambiental, resgatando as reservas naturais, para o bem de todos os seres vivos da Terra, pois o ecocídio significará também um suicídio para a humanidade” José Eustáquio Diniz Alves, Ecodebate, 10/07/2017.
Desde 1994, portanto há 30 anos, inicialmente em apenas alguns países e, atualmente, em, praticamente, todos os países, a questão da RECICLAGEM passou a fazer parte da AGENDA AMBIENTAL ou ECOLÓGICA.
Assim, no dia 17 de Maio de cada ano, “celebramos” o DIA MUNDIAL DA RECICLAGEM, cabendo ressaltar que, mesmo já sendo comemorado amplamente, só em 2005 a UNESCO, agência especializada da ONU para a Ciência, a Educação e a Cultura definiu oficialmente a criação desta importante data, incluindo-a no calendário oficial da mesma e também da própria ONU, para ampliar seu significado.
A reciclagem é na verdade apenas uma forma mitigatória para enfrentar a irracionalidade humana que, baseada em um consumismo e desperdício crescentes, aumenta a cada ano o volume total e também a produção per capita de resíduos sólidos, o que popularmente denominamos de lixo, gerando uma série de problemas graves, tanto para a natureza, para o planeta quanto para a saúde humana e também para a economia.
Estamos, no Brasil, mais uma vez, inseridos em uma enorme tragédia socioambiental, talvez a maior até o momento, mas com certeza esta não será nem a maior e nem a pior tragédia ecológica que nosso país e outros, ao redor do mundo irão se defrontar proximamente. O planeta terra está na UTI, só os negacionistas ecológicos ainda não perceberam.
Milhares de cientistas, estudiosos das questões socioambientais, institutos de pesquisas e universidades tem produzido um enorme acervo de informações e, também, alertado governantes, empresários, instituições públicas e privadas, enfim, a população em geral que o planeta terra está doente, em crise e risco de degradação acelerada.
Existem diversas causas, inclusive geológicas e “naturais”, para o furor da natureza; mas, a maior parte da causas dessas tragédias são as ações humanas, irracionais, perdulárias, gananciosas, insensatas que simplesmente ignoram que o planeta tem seus limites, além dos quais, atingimos o chamado “ponto do não retorno”, seja pelos custos das reparações, seja pela negligência, seja pelo negacionismo climático e ecológico que ainda existem nas esferas governamentais, no empresariado e, claro, também nos hábitos e estilos de vida consumista, que geram desperdício, lixo e grandes impactos na natureza, fonte última de todos os insumos/matérias-primas para a produção dos bens que consumimos.
Existem três grandes e complexos desafios que a humanidade precisa enfrentar enquanto é tempo. Esses desafios são os seguintes: a) aquecimento global/mudanças climáticas/crise climática; b) destruição da biodiversidade animal e vegetal, que altera profundamente o equilíbrio dos biomas e ecossistemas, afetando todas as formas de vida, inclusive a vida humana; c) Degradação acelerada dos biomas, representada pela poluição, erosão, desertificação, poluição, uso abusivo de agrotóxicos, afetando profundamente o solo, o ar e as águas. No caso das águas não apenas córregos e rios, mas também todos os aquíferos, mares e oceanos que estão sendo degradados rapidamente.
É neste contexto que surge a questão da produção e destinação dos resíduos sólidos, inclusive do que chamamos de lixo, que a cada dia aumenta em volume, tipos e suas consequências para a natureza e para os seres humanos, inclusive a saúde coletiva e não apenas individual.
Esta é, portanto, a matriz geradora de todas as catástrofes socioambientais que estamos assistindo, cada vez com mais frequência e com consequências mais desastrosas, tanto em perdas materiais quanto sofrimento humano e mortes, que podem ser consideradas mortes evitáveis.
Ao longo do ano existem vários dias em que somos chamados a uma reflexão sobre aspectos importantes que fazem parte do que poderíamos denominar de CALENDÁRIO ECOLÓGICO, quando deveríamos parar uns momentos e refletirmos sobre cada um desses aspectos que “celebrar” e também refletirmos sobre a importância de melhor cuidar de “nossa Casa Comum”, como o Papa Francisco tem enfatizado referindo-se à degradação de destruição do Planeta Terra.
Desde o início deste ano até este 17 de Maio quando é considerado o DIA MUNDIAL DA RECICLAGEM, o Calendário Ecológico contemplou alguns aspectos importantes nesta luta em defesa da Casa comum, tais como: 11 de Janeiro, Dia do Controle dos Agrotóxicos; 02 de Fevereiro Dia Mundial de proteção das zonas úmidas; 16 de Março, Dia mundial da conscientização sobre as mudanças climáticas; 22 de marco Dia Mundial da água; 30 de Março, Dia Mundial do LIXO ZERO, 15 de Abril, Dia Nacional da Conservação do solo; 22 de Abril Dia da Terra, cujo temas este ano foi “PLÁSTICOS X PLANETA”.
E, ao longo dos demais meses, diversos outros dias que constam do CALENDÁRIO ECOLÓGICO, deveriam nos induzir à reflexões mais profundas sobre diversos aspectos da realidade socioambiental e que acabam sendo as principais causas da degradação ambiental e dessas tragédias que já estão se tornando o chamado “novo normal”, sob o qual viveremos e sofreremos mais ainda nas próximas décadas, a menos que governantes, empresários e a população em geral mudem seus estilos de vida, sistemas produtivos, de gestão pública e as relações que mantemos com a natureza e na sociedade em geral.
Voltando à questão da produção de resíduos sólidos, cabe ressaltar que além do consumismo e do desperdício, o aumento, crescimento da população mundial é também um dos fatores do aumento da produção total de lixo, pois à medida que aumenta a população mundial isto impulsiona o consumo irresponsável, que é o consumismo e o desperdício, que também é uma forma distorcida e irracional de nos relacionarmos com a natureza e a economia.
Apenas para refletirmos e imaginarmos como o crescimento populacional global impacta da produção/geração de lixo, cabe mencionar que a população mundial atingiu dois bilhões em 1927, em 1950 a população mundial passou para 2,5 bilhões de pessoas e apenas meio século, no ano 2000 o planeta já tinha 6,1 bilhões de habitantes. Em 2024 atingimos 8,0 bilhões, sendo que as projeções indicam que em 2027, dentro de três anos apenas a população mundial será de 8,3 bilhões de habitantes, ou seja, em um século, de 1927 a 2027, o crescimento populacional do mundo foi de 6,3 bilhões de pessoas, ou seja, 215%.
Todavia, não é apenas o crescimento total da população que impacta a geração de resíduos sólidos/lixo, existem outros fatores, como por exemplo, o crescimento das cidades, a urbanização que aumentou e continua aumentando em ritmo muito maior do que o crescimento geral da população.
Em 1927, a população urbana mundial era de aproximadamente 10% da população, ou seja, em torno de 200 milhões de pessoas vivendo nas cidades; passando para 38% em 1976, atingindo 1,6 bilhão de habitantes nas cidades; dando um salto em 2016 para 55% da população total nas cidades, chegando a 4,0 bilhões de habitantes.
As projeções demográficas indicam que em 2027, em um século, a população urbana terá aumentado de 200 milhões, para 4,7 bilhões de pessoas e em 2050 a urbanização mundial será de 68% da população total, atingindo 6,6 bilhões de pessoas, consumidores que irão gerar um volume de lixo imenso.
Dois outros fatores que também impactam o consumo, o consumismo e o desperdício, enfim, a produção de resíduos sólidos tem sido o crescimento da renda per capita mundial, principalmente nos países anteriormente considerados de renda baixa e média, o que significa mais renda pessoal/familiar e aumento acelerado do consumo de bens e serviços.
Finalmente, cabe ressaltar que até meados da década de 1960, a grande maioria dos países estavam em um patamar de desenvolvimento muito menor do que os países europeus, os EUA, Canadá e o Japão. Desde então países populosos, principalmente a China, a Índia, o Brasil, a Indonésia, Nigéria, Bangladesh e também quase uma centena de países romperam e estão tentando romper com as amarras do subdesenvolvimento e promovendo uma melhor qualidade de vida e isto representa uma elevação nos e dos padrões de consumo desses países, que, como consequência implica um aumento super acelerado na produção de resíduos sólidos em nível mundial.
Diversos analistas das questões ambientais ressaltam o fato de que se os países da Ásia, da África e da América Latina, que até o final do século passado estavam, praticamente, à margem da chamada “sociedade de consumo”, atualmente estão seguindo o mesmo modelo dos países mais desenvolvidos que alimentam uma economia perdulária e destruidora dos recursos naturais, o planeta não terá condições suficientes para garantir tal volume de consumo e de lixo.
Afinal, os chamados insumos que são retirados da natureza para a produção desses bens, são esgotáveis e vários deles contribuem para piorar a situação ambiental do planeta, como no caso dos combustíveis fósseis (PETRÓLEO, GÁS NATURAL e CARVÃO), que são responsáveis, direta ou indiretamente, pelo maior volume de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global e a crise/emergência climática, exigindo o compromisso dos países pelo fim do uso dessas fontes sujas de energia.
Finalmente, precisamos refletir que em pouco mais de seis décadas a produção de lixo em geral, principalmente o lixo plástico, tem crescido em ritmo muito maior do que o crescimento mundial da população, tanto geral quanto população urbana e também muito mais rápida do que o crescimento da renda per capita mundial.
Como exemplo, podemos mencionar a questão do lixo plástico, que em 1950 era de apenas 2 milhões de toneladas ano, passando para 70 milhões de toneladas em 1980, dando um salto enorme chegando a 310 milhões de toneladas em 2010, aumentando em 54,8% em apenas uma década, chegando a 480 milhões de toneladas em 2020 e as previsões, que podem parecer catastróficas, mas que é uma realidade possível de visualizar em um curto horizonte, em 2030 o lixo plástico atingirá 1,050 bilhão de toneladas e em 2050 mais de 3,4 bilhões de toneladas e será responsável por 45% de todo o lixo que será produzido no planeta.
O índice de reciclagem geral no mundo em 2023, foi de apenas 19%, sendo que na Ásia, onde estão concentrados mais de 60% da população mundial este índice é de apenas 6% e no Brasil de apenas 4%, cabendo um destaque que o Brasil já é o quarto maior gerador de lixo plástico do planeta, atrás da China, EUA e Índia, apesar de ser apenas o sexto país mais populoso do mundo.
Reciclar é preciso, pois reaproveita materiais que serão descartados e irão contribuir para a degradação do solo, das águas e do ar. Reciclar contribui também para reduzir a busca por mais insumos e recursos da natureza, estimulando a chamada economia circular, dando uma vida mais longa para esses bens.
A reciclagem está assentada sobre alguns “Rs”, que representam a sustentabilidade, meta última para que possamos salvar o planeta de tanta degradação e destruição. Existem os chamados cinco “Rs” que são: Repensar (pensar antes de comprar e não consumir por impulso); Recusar (evitar de comprar e usar produtos que ajudam a destruir o planeta, como os plásticos e outros mais); Reduzir (adquirir apenas o que seja realmente necessário, evitar o desperdício); Reutilizar (sempre que possível, procurar descobrir novas funções para os bens que podem acabar no lixo) e, Reciclar (separar os tipos de lixo, dando nova destinação ao lixo que pode voltar ao sistema produtivo).
Mais de dois terços das cidades no Brasil não tem sequer coleta de lixo e praticamente menos de 10% das que tem coleta regular de lixo praticam a reciclagem. Neste sentido precisamos de duas medidas: estimular via educação ecológica para que a população tenha um melhor cuidado com o lixo, inclusive, separando os tipos de lixo, facilitando a reciclagem e, segundo, mobilizarmos para pressionar que todas as prefeituras coletem o lixo urbano e que implemente a coleta seletiva, tornando-a obrigatória, definida em lei municipal.
O índice de geração de lixo per capita/dia no mundo é de 0,74kg enquanto no Brasil já é de 1,10 kg per capita/dia, e em alguns países do chamado primeiro mundo, este índice chega até a mais de 2,0kg per capita/dia. Se em todos os países este índice chegar ao que existe nos países do primeiro mundo, nosso planeta não terá condições de existir, viveremos em meio à crise/emergência climática, mais tragédias ambientais e inseridos em uma grande lixeira planetária.
Finalmente, para finalizar esta reflexão, gostaria de mencionar mais um “R”, que também deveria fazer parte deste processo que é o REALMAR A ECONOMIA, enfatizado pelo Papa Francisco, ou seja, a mudança radical dos paradigmas que alimentam os atuais sistemas econômicos, principalmente o sistema capitalista que faz parte da chamada ECONOMIA DA MORTE, substituindo-os por novos paradigmas, mudança de hábitos de consumo, estilo de vida que é chamada de ECONOMIA DA VIDA.
O Papa Francisco tem enfatizado que precisamos voltar a um estilo de vida mais frugal, menos consumista, menos perdulário e que os empresários não devem orientar suas atividades apenas por uma corrida tresloucada buscando o lucro imediato, alimentado por um marketing/propaganda que estimula o consumismo e todas as distorções que geram um volume imenso de lixo, quase que impossível de dar-lhe uma destinação correta. “Podemos ser felizes, com menos”, diz o Bispo de Roma.
A ONU também estabeleceu em 2015, mesmo ano em que o Papa Francisco publicou a Encíclica Laudato Si e foi aprovado também o Acordo de Paris, como forma de se combater as mudanças climáticas, o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável de número 12 “Consumo e produção sustentável e responsável”, que ao lado dos demais 16 objetivos representam um marco significativo para que os países orientassem o desenvolvimento nacional, tendo 2030 como horizonte para essa caminhada, a chamada AGENDA 2030.
Assim, neste DIA MUNDIAL DA RECICLAGEM, precisamos refletir sobre esta questão, não de forma isolada, mas em um contexto global, como ressalta a Encíclica Laudato Si e a Exortação Apostólica Laudate Deum “Tudo está interligado, nesta Casa Comum”.
É muito melhor agirmos hoje, do que chorarmos ou lamentarmos quando tragédias como a que estamos assistindo no momento no Rio Grande do Sul, servem como um alerta.
“Hoje, não podemos deixar de reconhecer que uma verdadeira abordagem ecológica, sempre se torna uma abordagem social (e econômicos), que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra quando o clamor dos pobres” Laudato Si, 49.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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Juacy da Silva*
Recebi um convite de uma Jornalista do Rio de Janeiro, que tem um canal de web TV - no youtube para uma entrevista/LIVE, compartilho com voces o convite: “Olá, prof. Juacy. Está se aproximando a semana Laudato Si, proposta pelo Movimento Laudato Si que reúne católicos do mundo inteiro. Por isso, o tema da gravação que gostaria de fazer com você é "Laudato Si e as tragédias socioambientais. Podemos gravar em algum dia por volta das 18h. Sugiro sexta, dia 17”.
Ja aceitei e estou coletando informações para me preparar adequadamente para a Entrevista, estou com a ideia de escrever um artigo com o mesmo título, para ser publicado também.
Dia 24 de Maio, sexta feira, será o DIA da publicação da Laudato Si, feita em 2015, ou seja, estaremos celebrando nove anos da existencia desta importante e revolucionária Encíclica, quem sabe poderiamos solicitar que a missa das 18:30h na Catedral Senhor Bom Jesus de Cuiabá tenha algo especial relativo a esta data? O que vocês acham?
Além deste dia, na verdade o Movimento Mundial Laudato Si, estará celebrando, entre 19 e 26 de Maio próximos, a SEMANA LAUDATO SI, com um tema/assunto cada dia, conforme consta: Dia 19/05 – Dia de Pentecostes, tema: Conversão ecológica; 20/05 – Transporte sustentável; 21/05 – Alimentação e sustentabilidade; 22/05 – Energia sustentável; 23/05 – Lixo, resíduos sólidos; 24/05 – Questão da água; 25/05 – Catequese e ecologia integral e, no último dia , 26/05 – Por um melhor cuidado com a Casa Comum.
Poderiamos também sugerir ao Pe. Deusdedit, nosso Oreintador Espiritual e Vigário Geral e Dom Mário, nosso Arcebispo, que tem apoiado de forma decisiva a caminhada da Pastoral da Ecologia integral da Arquidiocese de Cuiabá, para que seja feita uma recomendação aos párocos, padres, vigários, religosos, religiosas, escolas católicas que, cada qual em seu "quadrado" (como dizem os jovens) faça algo especial, pelo menos uma referência à Laudato Si.
Se a humanidade, as pessoas, a população em geral, os governantes em todos os níveis e dimensões, o empresariado não despertarem para a gravidade do que está acontecendo com o Planeta, com toda a certeza vamos ver, conviver e viver com uma freequência muito maior, com desastres como o que já ocorreram nesses últimos 12 ou 24 meses com queimadas, secas, ondas de calor e chuvas torrenciais e inundações terríveis.
A natureza está em fúria quanto à forma como a humanidade a está tratando, ignorando seus limites. Estamos “matando a galinha dos ovos de ouro”, e diante disso precisamos mudar os paradigmas que regem os sistemas econômicos que praticam uma verdadeira rapinagem contra os biomas e ecossistemas.
Creio que todas as Dioceses do Regional Oeste 2 (CNBB/RO2) também poderiam dar um destaque nesta data e Semana Laudato Si, antecipando o esforço que será feito pela CF/2025 cujo tema será “FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL”.
Diante de tantas calamidades, desastres e tragédias ecológicas/socioambientais que estão acontecendo com mais frequência, com maior intensidade, maior número de vítimas e maiores perdas econômicas e sociais, a Igreja tanto sua estrutura eclesiástica quanto seus fiéis, não podem ficar alheia e alheios em sua missão no que concerne à MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, em defesa da Casa Comum, da Mãe Terra.
Esta é a exortação que faz o Papa Francisco quando diz/escreve “O clima é um bem comum de todos para todos... Há um consenso científico, muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático... A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam...e suas consequências”. Laudato Si, 23.
Há menos de um ano, por ocasião da 28ª COP, a mensagem do Papa Francisco àquela Conferência do Clima, revestiu-se, novamente, de um alerta e também uma exortação quanto à gravidade deste processo de degradação planetária.
“É possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativa a probabilidade de fenômenos extremos mais frequentes e mais intensos. Isso porque, sempre que a temperatura global aumenta em 0,5 grau centígrado, sabe-se que aumentam também a intensidade e a frequência de fortes temporais e inundações em algumas áreas, de graves secas em outras, de calor extremo em algumas regiões, e, ainda fortes nevascas em outras” Laudate Deum, 5 (04/10/2023).
Só assim podemos entender o “recado” da natureza, da mãe terra como resposta aos danos que a mesma tem sofrido. É neste contexto que precisamos refletir sobre esta calamidade, que não será nem a maior, nem a pior, que está acontecendo no Rio Grande do Sul e tanta comoção tem causado na opinião pública e sofrimento para nossos irmãos e irmãs daquele estado.
Muitos outros desastres e muitas outras calamidades ecológicas ou socioambientais deverão ocorrer nos próximos anos, este será o “novo normal” em que viveremos, a menos que novos paradígmas substituam os atuais paradigmas da ganância, do consumismo, do desperdício, da busca do lucro a qualquer preço, da economia da morte, continuarem a balizar nossas relações humanas/sociais e também nossas relações com a natureza!
Se não cuidarmos da natureza, se não zelarmos pela nossa Casa Comum, pagaremos um preço muito elevado para apenas mitigar os efeitos desta destruição do planeta e tanto sofrimento humano que estamos assistindo no momento!
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador (voluntário) da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
EQUIPES DA PASTORAL DA ECOLOGIA INTEGRAL VISITAM AS PARÓQUIAS - Juacy da Silva
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
Com o objetivo de estimular fiéis das diversas paróquias da Arquidiocese de Cuiabá, a participarem do Curso de Formação de Agentes de Pastoral, diversas Equipes, integrantes da Coordenação da Pastoral da Ecologia Integral estão visitando as paróquias, principalmente de Cuiabá e de Várzea Grande e, em futuros eventos as Paróquias das demais cidades que fazem parte do território desta Arquidiocese.
A Arquidiocese de Cuiabá tem 31 Paróquias e 310 comunidades em oito municípios da Baixada Cuiabá, onde estão concentrados quase 30% da população do Estado e também onde está a maior concentração urbana de Mato Grosso, constituida pelo Aglomerado Urbano Cuiabá/Várzea Grande, núcleo principal da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.
Essas visitas decorrem de uma carta convite do Arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio, do Vigário Geral e Orientador Espiritual da citada pastoral, Padre Deusdédit e da Coordenadora da Pastoral, Olindina Bezerra, para que cada paróquia selecione de duas a três pessoas, que, após participarem do referido curso, constituirão as Equipes locais nas Paróquias e deverão atuar na forma de projetos visando o enfrentamento e a superação dos desafios socioambientais existentes nos territórios das diversas paróqias.
Tanto o curso quanto as ações futuras seguem a metodologia da Igreja: VER, JULGAR E AGIR e têm como fundamentos a Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, que no dia 24 deste mês de Maio estará completando nove anos, além das exortações apostólicas Laudate Deu, Querida Amazônia e a Doutrina Social da Igreja.
Vale destacar que a Campanha da Fraternidade de 2025, coordenada pela CNBB, terá como Tema: FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL, além de dois outros eventos importantes, para a Caminhada da Igreja, que serão as comemorações do décimo aniversário da Encíclica Laudato Si e a realização da COP 30, a ter lugar em Belém, no Estado do Pará, quando as atenções do mundo inteiro estarão voltadas para o nosso país.
Como bem sabemos o território da Arquidiocese de Cuiabá, comprende, praticamente a maior parte da “area da Baixada Cuiabana ou da Bacia do Rio Cuiabá e está em conexão direta com o Pantanal, bioma que passa por um processo intenso de degradação e destruição e que enfrenta inúmeros problemas e desafios socioambietais, com destaque para a degradação do Rio Cuiabá e todos os seus afluentes, a maior parte dos quais já desapareceram, sendo que o seu principal afluente, o Rio Coxipó também está se transformando em um grande esgoto a céu aberto; além de outros graves problemas ambientais urbanos e rurais, como falta de saneamento básico, lixo urbano, falta de arborização, desmatamento, queimadas, ondas de calor, ocupação das margens dos cursos d’água uso abusivo de agrotóxicos, mineração, poluição urbana, problemas quanto ao uso e ocupação do solo, principalmente nas áreas periféricas urbanas, incidência elevada de pobreza, fome, miséria e outros mais.
Diante das exortações do Papa Francisco, quanto ao papel dos cristãos, tanto católicos quanto evangélicos, é fundamental que as Igrejas, suas lideranças e seus fiéis estejam sempre comprometidos com a defesa da Ecologia Integral, ou seja, da chamada Casa Comum.
SEMENTES DE ESPERANÇA - Juacy da Silva
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Juacy da Silva*
Por pior e extremamente caótica que seja a realidade, sempre existe um “fio” de esperança para que mudanças ocorram e novos rumos, novas saídas sejam vislubradas, desde que novos paradigmas sejam construidos em substituição aos paradigmas que alimentam a má política e a econômica da morte, que geram pobreza, violência, fome, exclusão e, também, degradação e destruição ambiental.
“Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos pensando que éramos (somos) proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos serres vivos”. Papa Francisco, Encíclica Laudato Si, 2 (2015).
“Devemos considerar, também, a poluição produzidos, incluindo os perigosos presentes em variados ambientes. Produzem-se anualmente centenas de milhões de toneladas de resíduos, muitos deles não biodegradáveis: resíduos domésticos e comerciais, detritos de demolições, resíduos clínicos, eletrônicos e industriais, resíduos altamente tóxicos e radioativos. A terra, nossa Casa (Comum), parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo” Laudato Si, 21 (2015).
Dentro de poucos dias estaremos comemorando NOVE anos da publicação de uma das mais emblemáticas e “revolucionárias” Encíclicas que um Papa já publicou ao longo de séculos. Nesta Encíclica, o mesmo consegue unificar o pensamento da Igreja sobre as questões e os desafios socioambientais e qual o papel que os Cristãos (Católicos e Evangélicos) e também os adeptos de todas as demais religiões devem desempenhar no enfrentamento desses desafios, inserindo-a no contexto também da Doutrina Social da Igreja.
O Dia da Celebração da Laudato Si é 24 de Maio, mas desde 2016 essas celebrações passaram abranger uma semana toda, a chamada SEMANA LAUDADO SI, possibilitando refletirmos sobre diversos temas que fazem parte dos debates e da realidade socioambiental, inclusive o maior desafio que é a CRISE CLIMÁTICA e o cumprimento do Acordo de Paris, principalmente no que concerne às ações que todos os países há 9 anos firmaram visando evitar que a temperatura média do planeta exceda 1,5º Graus centigrados ou no máximo 2º acima do que era a temperatura média da terra no período pré-industrial.
A crise climática decorre de diversos fatores, todos ligados à ganância humana que não respeita os limites da natureza e nem o direito que as próximas gerações tem em viver em condições que garantam todas as formas de vida, inclusive a vida humana, ameaçadas pelo intenso processo de degradação ambiental, destruição da biodiversidade, poluição do ar, a transformação de todos os cursos d’água, inclusive os mares e oceanos em uma verdadeira lixeira planetária, a destruição de todas as florestas e tantos outros males que a busca incessante e irracional por lucros imediatos colocam em risco o futuro do planeta.
Assim, entre 19 e 26 de Maio corrente estaremos “celebrando” a SEMANA LAUDATO SI, 2024, cujo lema é “Sementes de Esperança”, como certeza de que, apesar da irracionalidade humana que fundamenta modelos econômicos predatórios da natureza e também a exploração dos trabalhadores, ainda nos resta uma “réstea” de esperança de que podemos despertar a população e também governantes e o setor empresarial de que podemos alterar esta trajetória de uma corrida rumo a um precipício.
É importante que em nossas reflexões sobre os desafios socioambientais tenhamos presentes alguns aspectos que embasam a Encíclica Laudato Si, incluindo, a ideia e o conceito de Ecologia Integral, e neste processo de integralidade precisamos considerar o ser humano como parte da natureza e que “tudo está interligado”, ou seja, o Planeta Terra, que na Encíclica também é denominado de “Casa Comum”, e “obras da criação”.
Diante disso, espera-se que a humanidade, cada um de nós, independente do gênero, classe social, cor da pele, religião, ocupação e nível socioeconômico ou classe social, somos responsáveis tanto pelo que fazemos e que está destruindo esta Casa Comum, quanto pelas ações e, principalmente estilo de vida, que possam representar uma “luz no fim do túnel”, ou seja, nós também temos capacidade de restaurar e recuperar os danos que temos feito contra a mãe terra.
É significativo quando Francisco escreve na Laudato Si, por exemplo, “O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para administrá-la em benefício de todos”, esta exortação vem ao encontro do que há década o então Papa João Paulo II (São João Paulo II) afirmou que “sobre toda propriedade privado pesa uma hipoteca social”.
Outro aspecto também enfatizado na Laudato Si é a de que na origem de todo o processo de degradação e destruição da natureza estão as ações humanas e que este processo afeta de uma forma mais direta os pobres e isto fica claro quando Francisco diz que “o gemido da terra é também o gemido dos pobres”.
Voltando a SEMANA LAUTADO SI 2024, os temas a serem utilizados para as reflexões durante os oito dias (de 19 a 26 de Maio), são aspectos e problemas bem concretos e que tantos males tem feito tanto à natureza quanto às pessoas, principalmente as grandes massas excluídas, empobrecidas e violentadas ao redor do mundo, inclusive em nosso país.
No primeiro dia, 19 de Maio, que também é o DIA DE PENTECOSTES, o tema objeto de reflexão será CONVERSÃO ECOLÓGICA, no contexto da Espiritualidade ecológica e libertadora; no segundo dia, 20 de Maio o tema será TRANSPORTE SUSTENTÁVEL, uma reflexão sobre os impactos que os atuais sistemas de transporte, baseados fundamentalmente em combustíveis fósseis contribuem para o aumento da emissão de gases de efeito estufa, o aquecimento global e as terríveis mudanças climáticas.
No terceiro dia, 21 de Maio, o Tema será ALIMENTAÇÃO E SUSTENTABILIDADE, envolvendo a questão da fome, da insegurança alimentar, o uso abusivo dos agrotóxicos, a degradação dos solos, apontando como saída a agroecologia e a produção de alimentos orgânicos.
No quarto dia, 22 de Maio, o Tema para reflexão será ENERGIA SUSTENTÁVEL, destacando os malefícios para o meio ambiente e para a saúde humana que os combustíveis fósseis produzem e enfatizando a necessidade da eliminação dessas fontes sujas de energia, substiuindo-as por fontes renováveis de energia como solar, eólica, biomasa, hidrogênio verde. Também faz parte desta reflexão a substituição de veículos movidas a combustíveis fósseis por veículos elétricos, que sejam também alimentados por fontes renováveis de energia, isto inclui também uma reflexão sobre eficiência energética e combate ao desperdício nesta área.
No quinto dia, 23 de Maio, a reflexão deve girar sobre a questão do lixo, resíduos sólidos, principalmente os desafios do lixo eletrônico e o lixo plástico, altamente poluentes para o solo, as águas e o ar, como alternativas devemos repensar nossos sistemas produtivos e de consumo, incluindo o consumismo , o desperdício, o descarte e a obsolescência prematura de bens produzidos pelos sistemas econômicos.
No Sexto dia, 24 de Maio, a reflexão será sobre a questão da água, tanto em termos de qualidade quanto de quantidade, tendo em vista que diversas regiões do planeta, inclusive em nosso país, passam ou enfrentam o desafio da escassez da água, tanto para consumo humano, quanto para as atividades econômicas, incluindo a produção agropecuária. Fazem parte também dessas reflexões a questão da degradação de todas as fontes, nascentes, córregos, rios e também os mares e oceanos. Lembrando sempre que sem água de qualidade e em quantidade não há vida.
No Sétimo dia a reflexão deverá girar sobre Catequese (iniciação a vida cristã ou processo semelhante em outras religiões) e Ecologia Integral. O que se propõe é refletir mais profudamente sobre como podemos incluir nocões de ecologia integral junto às crianças, adolescentes e jovens, para que despertem a consciência de que “quando os seres humanos comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática, desnudando-as das suas florestas naturais ou destruindo as suas zonas húmidas, quando os seres humanos contaminam as águas, o solo, o ar... tudo isso é pecado. Porque um crime contra a natureza é um crime contra nós (todos) mesmos e um pecado contra Deus”. Para as Leis dos homens a destruição e degradação ambiental é um crime, mas para a Igreja é um PECADO ECOLÓGICO, que exige uma CONVERSÃO ECOLÓGICA.
Finalmente, no oitavo e último dia da SEMANA LAUDATO SI de 2024, a reflexão deverá girar em torno a urgente necessidade de UM MELHOR CUIDADO COM A CASA COMUM, antes que este processo de destruição e degradação ambiental atinja o chamado “ponto do não retorno”, ou seja, a possibilidade de restauração ou até mesmo de mitigação tornam-se altamente onerosos ou técnicamente impossíveis.
Oxalá a SEMANA LAUDATO SI, possa ser objeto de muitas reflexões por parte de todas as Igrejas Cristãos e também das demais religiões ao redor do Mundo, mas, principalmente, em nosso país, como um passo importante para o que deverá acontecer em 2025.
Se 2015 foi um ano de muito significativo para o despertar de uma consciência da importância de colocarmos as questões das preocupações socioambientais na ordem dia dia, ou das agendas públicas e privadas em todos os países, tendo como base a Laudato Si; o estabelecimento dos OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL pela ONU e o ACORDO DE PARIS; 2025 será também um marco signficativo para o Brasil, quando a CNBB terá a Campanha da Fraternidade abordando o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, no contexto das Comemorações dos 10 anos da Laudato Si; em Belém será realizada a COP 30, quando o Brasil estará sob os holofotes internacionais e no âmbito municipal teremos o início de novas gestões, quando prefeitos e vereadores estarão iniciando seus mandatos, esperando que as questões ambientais passem a fazer parte dos planos de governos e de políticas públicas.
Finalizando, transcrevo um trecho da mensagem do Papa Francisco aos participantes da COP 28, na Exortação Apostólica Laudate Deum, quando afirma “Não há mudanças duradouras sem mudanças culturais, sem maturação do modo de viver e das convicções da sociedade; não há mudanças culturais sem mudanças nas pessoas...O simples fato de mudar os hábitos pessoais, familiares e comunitários alimenta a preocupação com as responabilidades não cumpridas (pelos governantes), pelos setores públicos e a indignação contra o desinteresse dos poderosos”.
*Juacy da Silva, professor fundador, tiular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram Juacy @profjuacy
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Juacy da Silva*
A Pastoral da Ecologia Integral da Arquidiocese de Cuiabá vai promover mais um Curso para a formação de Agentes, multiplicadores, a ser realizado nos dias 26 de Maio, 02 e 16 de Junho, no Auditório da Livraria Paulinas, no Centro de Cuiabá.
O objetivo deste curso é preparar pessoas com os fundamentos, valores, princípios da espiritualidade ecológica e da conversão ecológica para poderem atuar como equipes nas diversas paróquias e comunidades da Arquidiocese de Cuiabá a desenvolverem ações socioambientais.
O Movimento mundial Laudato Si, tem enfatizado que as ações em defesa do meio ambiente e um melhor cuidado com a Casa Comum e com a ecologia integral, devem estar fundadas, ancoradas em três pilares: Espiritualidade ecológica - Oração; Ações de sustentabilidade sociotransformadoras e Mobilização profética e que as Igrejas Cristãs, Católica e Evangélicas tem uma grande responsabilidade no enfrentamento das questões e problemas socioambientais.
O conteúdo a ser ministrado é objeto de diálogo entre os participantes inclui sínteses das principais Encíclicas do Papa Francisco, principalmente da Laudato Si, Laudate Deum, Fratelli Tutti, Espiritualidade Ecológica, Conversão Ecológica, metodologia e principais ações socioambientais de natureza transformadoras e uma síntese dos principais problemas e desafios socioambientais do Brasil, de Mato Grosso e da Baixada Cuiabana, proporcionando aos participantes conhecimento e uma mística do cuidado com a natureza e também com todas as pessoas, principalmente os pobres e excluídos, em favor dos quais a Igreja faz uma opção preferencial, por serem vítimas das estruturas que geram pobreza, miséria, fome, violência e a degradação ambiental.
O Território da Arquidiocese de Cuiabá, que tem 31 Paróquias e 410 Comunidades em diversos municípios da Baixada Cuiabana, incluindo Nobres, Rosário Oeste, Acorizal, Jangada, Cuiabá, Várzea Grande, Santo Antônio do Leverger e Barão de Melgaço, onde existem inúmeros problemas e desafios socioambientais, incluindo degradação de córregos, nascentes e o seu maior curso d’água que é o Rio Cuiabá extremamente degradado, incluindo também seu principal afluente que é o Rio Coxipó, lixo urbano, poluição, falta de arborização urbana, falta de saneamento básico, ocupação irregular do solo urbano e rural, desmatamento, queimadas, uso abusivo de agrotóxicos, mineração e garimpo irregular, precariedade de infraestrutura urbana, municípios e uma grande percentagem de população vivendo na pobreza, um dos maiores bolsões de pobreza do Estado, insegurança alimentar e muitos outros.
Dentre os Objetivos da Pastoral da Ecologia Integral podemos destacar: estimular o exercício da espiritualidade, a conversão ecológica visando um melhor cuidado com o meio ambiente, a Casa Comum, estimular mudança de hábitos, estilos de vida sustentáveis, combatendo o consumismo, o desperdício e a chamada economia do descarte; fomentar a economia solidária, a agroecologia, hortas domésticas, escolares e comunitárias, arborização urbana, a reciclagem, a economia circular, motivação para o uso de energias de fontes alternativas, como a energia solar e outros mais.
Um dos objetivos de maior relevância que está na mira da Pastoral é o desenvolvimento de um projeto de EDUCAÇÃO AMBIENTAL, chamado também de EDUCAÇÃO ECOLÓGICA, visando atingir crianças, adolescentes e jovens, tanto na Igreja quanto e, principalmente, nas Escolas Católicas, outras Escolas confessionais, de outras Igrejas e também Escolas públicas, visando despertar a consciência ecológica nesta população, que serão as maiores vítimas da degradação ambiental generalizada que está destruindo o Planeta, a crise climática, a destruição da biodiversidade, o uso abusivo de agrotóxico e tantos outros problemas que afetarão as próximas gerações e que estão presente nesta parte do nosso Estado que é a Baixada Cuiabana e também nos territórios das demais Dioceses de Mato Grosso, onde também espera-se que em breve possam ser organizadas pastorais ecológicas.
Para enfrentar esses problemas e desafios é fundamental que as ações da Igreja sejam pautadas por Leigos e Leigas preparados e preparadas, conscientes da responsabilidade dos cristãos com o meio ambiente, com uma base sólida tanto na Doutrina Social da Igreja quanto nos principais documentos e exortações do Papa Francisco voltados `as questões socioambientais e isto só acontece se eventos como este forem realizados de forma continuada e permanente.
De acordo com a Coordenação da referida Pastoral espera-se que cada Paróquia possa indicar duas ou três pessoas para participarem deste Curso de Formação de Agentes, Multiplicadores que, após o Curso formarão as Equipes Paroquiais para atuarem nessas localidades, seguindo a metodologia da Igreja: VER, JULGAR E AGIR, fazendo um diagnóstico da realidade socioambiental do território das paróquias, identificando os principais problemas e desafios socioambientais e definirem projetos de ação, em parceria com organismos públicos e também ONGs e outras organizações que já realizam algum tipo de ação ambiental.
Para estimular a participação neste Curso a Coordenadora da Pastoral da Ecologia, Olindina Bezerra, o Vigário Geral e orientador espiritual da referida pastoral, Pe. Deusdedit Monge de Almeida e o Arcebispo Matropolitano da Arquidiocese de Cuiabá, Dom Mário Antônio, estão mantendo contatos com padres, vigários, párocos, dirigentes de escolas católicas, religiosos, religiosas, coordenadores de outras pastorais, movimentos e organismos da Igreja para que divulguem este evento de forma ampla.
Os fundamentos que dão rumo às ações da Pastoral são as Encíclicas Laudato Si, que no dia 24 de Maio estará completando 09 Anos de publicação, Laudate Deum, Fratelli Tutti, a Exortação Apostólica Querida Amazônia, todas que fazem parte do Magistério do Papa Francisco, que tem sido um apóstolo, verdadeiro profeta ecológico/ambientalista, impulsionando e exortando a Igreja Católica, tanto Leigos, Leigas quanto sua hierarquia eclesiástica para que também despertem para a responsabilidade de cuidarmos melhor das obras da criação, da natureza.
Este curso insere-se também no planejamento das ações não apenas da Pastoral da Ecologia da Arquidiocese de Cuiabá, com vistas ao restante deste ano de 2024 e, fundamentalmente, mirando o ano de 2025, quando alguns marcos ecológicos significativos estarão ocorrendo no Brasil, como a Campanha da Fraternidade cujo tema será “Fraternidade e Ecologia Integral”, as comemorações do décimo aniversario da publicação da Encíclica Lautado Si e a realização da COP 30, em Belém, no Estado do Pará.
Com certeza a Igreja Católica e as demais Igrejas cristãs, principalmente, começam a se preparar para participarem de forma ativa e efetiva nesses eventos, verdadeiros marcos ecológicos na história, não apenas do Brasil, mas principalmente na caminhada dos cristãos no cumprimento de suas responsabilidades no que concerne a um melhor cuidado com a Casa Comum, no processo de combate `a degradação ambiental e suas consequências, inclusive à crise/mudança climática.
O importante é “pensar globalmente e agir localmente”, de forma sociotransformadora, com coragem, comprometimento na defesa da Mãe Terra e do Bem Comum!
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
MAIS UM DIA DA TERRA 2024 - Juacy da Silva
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JUACY DA SILVA*
Hoje, 22 de Abril, estamos “celebrando” , mais um DIA DA TERRA. Na verdade não temos nada a celebrar, mas sim, um dia, um momento para pararmos e refletirmos como as ações humanas, irracionais, pautadas pela ganância, pelo espírito do lucro a qualquer preço que estão destruindo a natureza e, ao mesmo tempo, vilipendiando as relações de trabalho, desrespeitando as mínimas condições que possam garantir a dignidade humana.
Desde que surgiu o DIA DA TERRA, em 1970, inúmeros eventos importantes já ocorreram tentando estabelecer parâmetros, paradigmas mais racionais no que concerne às relações dos seres humanos com a natureza, principalmente quanto aos sistemas produtivos.
Vale a pena recordar alguns desses eventos ou marcos significativos da LUTA AMBIENTALISTA MUNDIAL tais como: 1972 – Primeira Conferência Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Estocolmo, Suécia; 2011 – Assembleia Geral da ONU, que aprovou a Resolução 65/161, declarando a Década das Nações Unidas para a Biodiversidade, a vigorar entre 2011 e 2020, com uma série de objetivos e metas, que, para variar, como em tantos acordos e tratados internacionais e um “sem número de leis nacionais”, não saem do papel, ficam apenas no que é considerado “para inglês ver”’ e 1992, com a ECO 92, no Rio de Janeiro.
Em 2012 aconteceu outra conferência internacional a “Rio mais 20”, também no Rio de Janeiro, quando foi aprovada a CARTA DA TERRA, com inúmeros alertas e rumos a seguir se de fato desejássemos cuidar melhor do planeta; 2022 – COP 15, realizada na China e no Canadá, quando foi estabelecido o Marco Global da Biodiversidade pós 2020.
Desde 1988 quando foi realizada a primeira Conferência do Clima até atualmente, quando será realizada a 29ª COP, em novembro em Baku, no Azerbaijão, com certeza, no próximo ano quando será realizada a 30ª COP, em Belém do Pará, em pleno coração da Amazônia, um bioma em risco permanente de destruição, degradação e extinção, como já aconteceu com outro bioma que foi totalmente destruído, que é a Mata Atlântica; tem havido um “consenso”, pelo menos nas análises da realidade socioambiental global de que as emissões de gases de efeito estufa deveriam ser “neutralizadas”, consideravelmente.
Diante dessas constatações é que surgiu o Painel Intergovernamental das mudanças climáticas, articulado, criado e coordenado pela ONU, para produzir conhecimento científico sobre a realidade climática e orientar, estimular os governos nacionais, regionais e locais a agirem de forma integrada, se quisermos, de fato mudar radicalmente o rumo da historia humana no planeta terra.
Tudo isso nos leva `a necessidade de uma reflexão mais critica e profunda sobre o que estamos fazendo e que tem contribuído para esta tragédia anunciada. Se pararmos uns minutos e refletirmos podemos perceber que estamos destruindo as florestas, que, com as queimadas estão também destruindo a biodiversidade animal e vegetal; estamos destruindo os solos, contribuindo para o processo acelerado de desertificação; estamos poluindo as águas, com lixo urbano, lixo hospitalar, lixo doméstico, lixo industrial, lixo tecnológico e, pior do que tudo isso, o lixo plástico que tem transformado nossos córregos, nossos rios, nossos lagos, lagoas e, pasmem, até os mares e oceanos, em uma GRANDE LIXEIRA PLANETÁRIA.
O uso dos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) como fonte SUJA de energia, inclusive para alimentar uma imensa frota de veículos, tem contribuindo para aumentar a cada dia a poluição do ar, acarretando inúmeras doenças respiratórias, tornando o ar irrespirável, principalmente nas grandes cidades, nas megalópoles, imensas áreas metropolitanas.
Nossas cidades estão cada vez mais poluídas, desnudadas, sem arborização urbana, contribuindo também para o surgimento de ondas de calor, uma das consequências mais terríveis que podem se abater sobre o planeta que é a MUDANÇA CLIMÁTICA, fruto do aquecimento global e aumento da temperatura média da terra.
O “recente” Acordo de Paris, firmado e homologado por mais de 190 países e territórios, traz um alerta de que precisamos, de maneira urgente, cuidar melhor do PLANETA TERRA, nossa CASA COMUM e, neste cuidado precisamos limitar o aumento da temperatura média da terra, tendo como referência o período pré-industrial a 1,5º graus centígrados, “podendo” chegar a no máximo a 2,0o graus centígrados em 2050.
Todavia, as previsões de milhares de cientistas convocados pela ONU para acompanhar este processo de aquecimento global e crise climática, cujo trabalho vem sendo disponibilizado amplamente, o chamado PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS – IPCC está nos alertando que já estamos no limitar de romper esses limites muito antes do prazo estabelecido, anos de 2030 e de 2050.
O último relatório do IPCC, de 23 de Março de 2023, além de uma profusão de dados e informações alarmantes, destaca que “ O tempo (para agirmos) é curto, mas há um caminho a seguir para que as temperaturas médias sejam mantidas em 1,5 graus Celsius (centígrados) acima dos níveis pré-industriais (Meta do Acordo de Paris, homologada por todos os países, inclusive o Brasil), serão necessárias reduções profundas, rápidas e sustentadas das emissões de gases de efeito estufa em todos os setores (da economia e da sociedade), no decorrer desta década, para tanto, as emissões precisam cair IMEDIATAMENTE e ser cortadas quase pela metade até o ano de 2030, data limite da AGENDA DA ONU, quando foram estabelecidos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”.
O Relatório traz ainda um alerta em relação ao que JÁ ESTÁ ACONTECENDO, os danos já constatados para a saúde do planeta, que está cada ano mais doente, afetando tudo que nele existe, a biodiversidade e todas as formas de vida, inclusive a vida humana, quando “traz a tona as perdas e danos que vem sendo causados pela mudança global do clima/ CRISE CLIMÁTICA e quais tendências devem continuar no futuro. O IPCC alerta que os desastres naturais relacionados ao clima vem atingindo especialmente as pessoas mais vulneráveis e os ecossistemas mais frágeis, como manguezais, áreas costeiras e semidesérticas e (também as florestas e os oceanos, cuja temperatura da água dos mesmos também tem aumentado rapidamente), provocando inúmeros desastres naturais”
Neste mesmo sentido o Papa Francisco faz inúmeros alertas tanto nas Encíclicas Laudato Si, Laudate Deum e também na Exortação Apostólica Querida Amazônia, esta última publicada após o encerramento do Sínodo dos Bispos para a Pan Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, em que mais de 60% está em território brasileiro, também maior bacia hidrográfica do planeta cujos rios caudalosos já estão experimentando secas, que está sendo ocupada de forma desordenada, criminosa e destruída impiedosamente, seja pelo desmatamento e pelas queimadas, mas também por atividades mineradoras e de garimpo ilegal, onde o mercúrio tem sido utilizado, contaminando as águas e afetando a saúde e a vida da população em geral e os povos indígenas em particular.
Além de tudo isso, outra fonte de degradação e fator de destruição do planeta tem sido a questão dos plásticos, chegando a tal ponto que a ONU, além de dedicar o DIA DA TERRA DE 2024 à questão dos plásticos, cujo tema sintetiza de forma clara esta preocupação quando estabelece PLANETA X PLÁSTICOS e desde 2022 vem enfatizando que o mundo, os países precisam entrar em um acordo para acabar com o uso de plásticos, um sub produto do petróleo, um combustível fóssil sujo e que tanto degrada o meio ambiente.
Diversos temas já foram objeto de reflexões no DIA DA TERRA, tais como: poluição do ar, dos solos, dá água; mudanças climáticas, biodiversidade, florestas, oceanos, água, desertificação e seca, aquecimento global e camada de ozônio, resíduos sólidos, destacando o aumento da produção dos vários tipos de “lixo”: doméstico, urbano, industrial, hospitalar, tecnológico e outros mais.
Neste ano de 2024 o tema é também um tipo de lixo que está contribuindo para a degradação do planeta, que é o lixo plástico. Assim, o tema do DIA DA TERRA em 2024 é “PLANETA X PLÁSTICOS” e também uma reflexão e acompanhamento das discussões que a ONU vem coordenando visando a aprovação em 2025 de um TRATADO INTERNACIONAL para acabar com a poluição, fruto da produção e do uso de todos os tipos de plásticos.
Em 2022, na Assembleia da ONU sobre meio ambiente, realizada em Nairóbi, Quênia, o debate sobre a crise global dos plásticos conseguiu aprovar uma resolução, em que 175 países, inclusive o Brasil, um FATO HISTÓRICO SIGNIFICATIVO na luta ambientalista mundial e nacionais em todos os países, uma Resolução para acelerar o andamento das discussões para a aprovação de um Tratado Internacional/global que possa ser aprovado no máximo até o ano de 2025.
Foi criada uma Comissão intergovernamental que está concluindo o conteúdo até dezembro deste ano (2024), em tempo de ser incluído o assunto na pauta da Assembleia Geral da ONU no próximo ano.
A meta aprovada tanto pela Assembleia do Meio Ambiente em Nairóbi, quando “trabalhada” pela comissão é conseguir reduzir em 60% a produção e o uso de plásticos no mundo até 2040.
A produção e uso de plásticos no mundo tem aumentado de forma drástica, alarmante e preocupante em relação `as suas consequências para o planeta, para a saúde humana e demais aninais, para o aumento da degradação e poluição do ar, das águas e dos solos e, também, pela contribuição para o aquecimento global e mudanças/crise climática.
Dados estatísticos de organismos nacionais e internacionais demonstram esta volúpia por plásticos que está contagiando todos os países e todos os segmentos da economia, tanto na produção quanto no consumo.
Em 1950, início da chamada “civilização dos plásticos”, o mundo produziu 2 milhões de toneladas; em 2017 este volume atingiu 348 milhões de toneladas, em 2023 chegou a 462 milhões de toneladas. As previsões indicam, se nada for feito para acabar com a produção e uso de plásticos, em 2030 serão produzidas 512 milhões de toneladas e em 2040, mais de 600 milhões de toneladas.
O problema é que 90% dos plásticos produzidos e utilizados não são reciclados e vão acabar em lixões, abandonados nas vias publicas, nos córregos, rios, lagos e acabam chegando também nos oceanos.
A situação e tão critica que recentemente o Secretario Geral da ONU, António Guterres alertou que atualmente, em algumas regiões, existem mais plásticos nos oceanos do que peixes, isto é algo extremamente preocupante e que tem merecido a atenção e alimentado a luta do movimento ambientalista mundial, no sentido tanto de um tratado internacional quanto de legislação nacional proibindo a produção e uso de plásticos, dentro de um horizonte de no máximo duas ou três décadas, antes que este problema se torne insolúvel e contribua para a destruição do planeta.
Os maiores produtores, usuários e poluidores por resíduos/lixo plástico no mundo são: China responsável por 32%; Estados Unidos por 17%; Europa 14%; África 9%. O Brasil, como país já é o quarto maior produtor e gerador de lixo plástico no mundo, portanto somos parte do problema e que precisamos agir para ser também sermos parte da solução. Este é um dos nossos grandes desafios socioambientais no momento que não pode ser ignorado. Quem sabe pode ser pauta para as discussões nessas eleições municipais e em 2026 nas eleições gerais em nosso país.
A meta de reduzir ate 2040 em torno de 60% da produção e uso de plásticos passa tanto por parte das ações governamentais no sentido de uma legislação que proíba a produção, quanto de um amplo programa de educação ambiental para que a população deixe de usar bens plásticos e, claro, também por parte do setor produtivo para buscar soluções tecnológicas que substituam os produtos plásticos por outros que não causem tantos problemas e consequências para a população e para o planeta.
Sem esta conjugação de esforços nacionais e um tratado internacional que coloque um limite na produção e uso de plásticos, da mesma forma que outras medidas já acordadas nas Conferências do Clima e outros tratados e acordos internacionais, inclusive o abandono do uso de combustíveis fósseis, do desmatamento e degradação do uso do solo e das águas, dificilmente, o planeta vai estar em condições de manter a vida, tanto vegetal quanto animal, principalmente a vida humana a partir da década de 2050 ou 2010.
Precisamos pensar que as próximas gerações tem o direito de viverem em um planeta saudável e sustentável e perceber que a ganância humana, principalmente do setor produtivo não podem continuar com este modelo predador e destruidor como atualmente está acontecendo.
Por isso, volto a repetir a exortação do Papa Francisco, precisamos “realmar” a economia, substituir a atual economia da morte por uma economia da vida, mais solidária, com menos concentração de renda, riqueza e propriedades, que em vez de gerar pobreza, fome, miséria, exclusão gere bem estar, inclusão e uma justa distribuição dos frutos do desenvolvimento nacional e mundial. Este é o significado quando o Papa Francisco, líder máximo da Igreja Católica no mundo diz que “os gemidos da terra são também os gemidos dos pobres”.
Neste dia da Terra, em 2024 e nos demais dias do ano inteiro, precisamos refletir com mais profundidade e seriedade sobre os desafios socioambientais que já estamos enfrentando e que, se não forem encarados como compromisso em defesa da vida, tanto por parte da população quanto dos governantes, a tendência é piorarem e tornarem insolúveis!
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy