*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
“Chorai com os que choram e regozijai-vos com os que se alegram” Romanos 12:15.
Olá, amigas e amigos, como cristãos formamos uma grande comunidade de fiéis ao redor do mundo: mais de 2,64 bilhões de pessoas, das quais 1,4 bilhão de católicos e católicas, tendo como elemento que nos identifica e nos une como irmãos e irmãs, além de nossa fé, também nossa caminhada unida por uma Igreja Sinodal, Samaritana e profética.
Como cristãos, somos chamados, vocacionados e predestinados a curar as dores do mundo, e isto envolve diferentes formas de praticarmos nossa fé em Cristo Ressuscitado, tanto pelas nossas orações quanto por nossas ações sociotransformadoras e de mobilização profética, através das ações pastorais.
Da mesma forma que, na Igreja primitiva, São Paulo, na Carta aos Romanos, exorta os cristãos daquela época, e que viviam em um território determinado, a serem solidários entre si, apoiando uns aos outros tanto na alegria quanto no sofrimento; também hoje, no mundo todo e em nossas Igrejas locais, precisamos cultivar a fraternidade, a solidariedade, o amor verdadeiro ao nosso próximo, o profetismo e a esperança.
Por isso, a evangelização, inclusive através das ações das diversas pastorais, é importante como nossa característica identitária em todas as dimensões da vida, presentes em todas as obras da Criação, cujo Tempo da Criação estamos celebrando até o próximo dia 04 de outubro, Dia de São Francisco de Assis, o Padroeiro da Ecologia Integral.
Como irmãos e irmãs, unidos e unidas em uma Igreja que também coloca o Cuidado com a Ecologia Integral, chamando-nos à responsabilidade em relação à necessidade de uma conversão ecológica individual e também comunitária, em que a Pastoral da Ecologia Integral cumpre ou deve cumprir um papel fundamental que demonstre nossa responsabilidade como cristãos católicos.
Há aproximadamente dois meses e meio, nos dias 22 e 23 de junho último (2025), quatro pessoas, integrantes da PEI da Arquidiocese de Cuiabá (Olindina Bezerra, a nossa Coordenadora da Pastoral da Ecologia Integral; o Luiz Eduardo; a Mônica Oliveira, Agentes da PEI; e eu – Juacy, Articulador e Assessor), estivemos, a convite do Pe. Divino, Coordenador de Pastorais Sociais da Diocese de Primavera do Leste/Paranatinga, assessorando uma formação para capacitar agentes que pudessem organizar e coordenar a Pastoral da Ecologia Integral naquela diocese.
Há alguns dias, o Pe. Divino solicitou-me informações e modelos de logomarca para a PEI; percebi que algo maravilhoso estava para acontecer e, realmente, aconteceu.
Hoje (04 de setembro), em mensagem, o Pe. Divino informou-me o seguinte: “Já tivemos 2 reuniões para alinhar nossas atividades e marcar o dia oficial da criação da pastoral na paróquia para dia 3 de outubro, na abertura da novena de Nossa Senhora Aparecida, e dia 4 assumirmos, juntos com as pastorais sociais, a novena no dia de São Francisco”.
Seguindo o conselho de São Paulo em sua Carta aos Romanos, estamos realmente felizes com os irmãos e irmãs da Diocese de Primavera do Leste/Paranatinga por esta notícia tão auspiciosa.
Mais uma Pastoral da Ecologia Integral está surgindo no território do Regional Oeste 2 da CNBB (MT), graças às “Sementes de Paz e de Esperança” que temos semeado ao longo dos últimos cinco ou seis anos, como o Papa Francisco escolheu para ser o tema do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação e do Tempo da Criação deste ano de 2025, e que coube ao Papa Leão XIV elaborar sua mensagem para essas celebrações voltadas à ecologia integral, exortando-nos a continuar como semeadores de paz no mundo: paz com a natureza e paz com a humanidade e entre os povos, ou seja, substituirmos todas as formas de violência pela cultura da paz e, ao mesmo tempo, plantarmos também as sementes da esperança de um mundo mais humano, mais solidário, justo, inclusivo e sustentável.
Isto nos conforta e nos anima muito, principalmente por sabermos que, mesmo a “messe sendo grande e os trabalhadores poucos”, com certeza o “Senhor da messe, o Criador” nos fortalece sempre, até mesmo nos momentos de tristeza, sofrimento e desânimo, para continuarmos a nossa caminhada sempre confiantes, mesmo diante de tantos obstáculos, do negacionismo ecológico, às vezes presente até mesmo dentro da Igreja Católica ou das Igrejas Evangélicas e outras religiões. Sabemos que cada semente de paz, de esperança e de libertação que plantarmos, se caírem “em solo fértil”, se conseguirmos despertar a consciência ecológica individual e comunitária, com certeza dentro de algum tempo a PEI estará presente em muitas ou talvez na maioria esmagadora das Arquidioceses, Dioceses, Prelazias, Paróquias e Comunidades Eclesiais deste nosso imenso Brasil, que continua enfrentando tantas agressões à ecologia integral, incluindo a natureza e os seres humanos.
Com certeza a Igreja (composta pela hierarquia eclesiástica e pelos fiéis, leigos e leigas engajadas/engajados, ou seja, o Corpo de Cristo) estará na linha de frente, cumprindo o seu papel, sendo “Sal da terra e Luz do mundo” nesta cruzada em prol da Casa Comum, da Ecologia Integral, da saúde do planeta e da Justiça Social.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia integral. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram@profjuacy
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Juacy da Silva*
“Queridos irmãos e irmãs! O tema para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano, escolhido pelo nosso amado Papa Francisco, é “Sementes de Paz e de Esperança”. No décimo aniversário da instituição deste Dia de Oração, que coincidiu com a publicação da Encíclica Laudato Si, encontramo-nos em pleno Jubileu, “peregrinos de Esperança”. E é precisamente neste contexto que o tema adquire todo o seu significado.” Papa Leão XIV – Mensagem, Vaticano News, 30 de junho de 2025.
Essas serão as primeiras celebrações alusivas ao Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação e do Tempo da Criação que o Papa Leão XIV deverá participar e poder transmitir aos mais de 1,4 bilhão de fiéis católicos romanos espalhados pelos quatro cantos da Terra, além de mais de 300 milhões de católicos ortodoxos, além de 800 milhões de evangélicos, bem como 1,9 bilhão de fiéis não cristãos, sua mensagem alusiva a essas duas celebrações voltadas para um melhor cuidado com a natureza e com as pessoas, principalmente os pobres, oprimidos, injustiçados e excluídos tanto pelos problemas climáticos/ecológicos quanto pela ganância de uns poucos que tentam se apropriar de tudo o que é produzido pelos sistemas econômicos extremamente concentradores de renda, riqueza e propriedade.
Conforme o Movimento Laudato Si, “O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação acontece no dia 1º de setembro. Ele celebra o Deus Criador e o grande mistério da criação do cosmos, ao mesmo tempo que nos incentiva a curar nossa relação com a criação. É um dia que nos ajuda a refletir sobre o próprio ato da criação, mistério fundacional da nossa fé. Inspirado em ricas tradições, este dia também é conhecido como Dia da Criação ou Festa da Criação, e foi adotado pela Igreja Ortodoxa em 1989, o Conselho Mundial de Igrejas em 2008, a Comunhão Anglicana e a Igreja Católica em 2015. Este dia de oração alimenta o TEMPO DA CRIAÇÃO mais abrangente, que flui a partir dele e vai de 1º de setembro a 4 de outubro, festa de São Francisco.”
Coube ao Papa Francisco, na esteira de seu Magistério voltado para a Ecologia Integral, quando sempre enfatizou que “tudo está interligado, nesta Casa Comum”, incluir oficialmente no calendário da Igreja, em 2015, não apenas este dia especial, mas estendendo essas celebrações e reflexões sobre a saúde do planeta (a nossa Casa Comum), como oportunidade para as Igrejas locais, de uma forma ecumênica e inter-religiosa, não apenas refletirmos sobre o sentido e o significado dessas celebrações, mas também encontrarmos caminhos comuns que nos levem às ações sociotransformadoras e de mobilização profética para a restauração do que já foi destruído e, também, caminhos que representem mudanças profundas em nossos hábitos e práticas degradadoras do meio ambiente, respeitando, inclusive, o direito que as próximas gerações têm em relação a um mundo ambientalmente sustentável e com mais inclusão, equidade e dignidade humana.
Antes de ter sido internado e falecer, o Papa Francisco, no início deste ano, já havia definido o tema e os objetivos para orientar essas duas celebrações, principalmente o Tempo da Criação que vai de 1º de setembro até 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis, o Patrono da Ecologia Integral e dos animais, de quem Jorge Mario Bergoglio, ao ser eleito Papa, tomou o nome (Papa Francisco).
Assim, coube ao Papa Leão manter as decisões e grande parte das preocupações de Francisco, como os aspectos básicos de sua mensagem de 30 de junho último, dirigida inicialmente à Igreja Católica Romana, da qual Ele é o Pastor, e também às demais Igrejas e Religiões, para que, unidas, as diversas religiões possam ser uma força transformadora de resgate, restauração dos biomas e ecossistemas que já foram e ainda estão sendo destruídos, mas também inserir essas preocupações e exortações nos contextos da Justiça Social, da Doutrina Social da Igreja e da Justiça Climática, dimensões fundamentais para que mudanças profundas possam também acontecer em nossos sistemas econômicos, de relações de trabalho e de produção, e a garantia dos direitos humanos, único caminho para uma paz verdadeira, que o Papa Leão denomina de PAZ DESARMADA.
Assim, a mensagem do Papa Leão XIV para o Tempo da Criação de 2025, com o tema "Sementes de Paz e Esperança", é bem clara e não deixa dúvidas quanto à responsabilidade dos cristãos em geral e dos católicos romanos em particular, sendo, pois, um apelo claro e direto à ação contra a destruição ambiental e a injustiça social, convidando os fiéis a serem sementes de transformação e a defenderem a justiça ambiental e a solidariedade para construirmos um futuro sustentável, especialmente no contexto do Jubileu de 2025 (Peregrinos de Esperança).
Nesta mensagem, Leão XIV insere exortações, deixando ver tanto a importância da Justiça Climática em meio às consequências que a destruição dos biomas, dos ecossistemas, enfim, da biodiversidade, das águas, dos solos, das florestas, do ar impõe sofrimento e morte, principalmente aos pobres e excluídos, que são os mais afetados.
Para sarar, curar o nosso planeta, nossa Casa Comum, são necessárias ações concretas e não apenas orações — importantíssimas, claro —, mas fazendo ver que as transformações ocorrem a partir das ações concretas e da mobilização profética.
Vejamos um trecho desta mensagem de Leão XIV: “A justiça ambiental — implicitamente anunciada pelos profetas — já não pode ser considerada um conceito abstrato ou um objetivo distante. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera proteção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, econômica e antropológica. Para os que creem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade.”
Em outro trecho da mensagem, seu apelo e exortação são bem claros e não deixam dúvida de que cuidar da natureza, respeitar os limites da natureza e também mudar os sistemas econômicos e relações de trabalho é um imperativo para os cristãos em geral e para os católicos em particular. Diante disso, a OMISSÃO perante os pecados ecológicos, ou seja, os crimes ambientais e práticas que promovem a degradação ambiental e a exclusão social, a exploração dos trabalhadores, além de injustiça social, é também injustiça climática.
Esta exortação é bem clara ao enfatizar que: “Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas. «Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã» (ibid., 217). Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança. Por vezes, são precisos anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus.”
Neste TEMPO DA CRIAÇÃO de 2025 que se avizinha, imagino que caberia à Igreja local no Brasil, presente em todo o território nacional, diante de tantos desafios socioambientais e diante de eventos importantes que ainda estão para acontecer, como a COP30, em que a Igreja estará presente “levando” sua mensagem e abrindo espaço de diálogo com organismos públicos e também inúmeras organizações da sociedade civil que também se preocupam e lutam por Justiça Ambiental e mudanças nos paradigmas desta ECONOMIA DE MORTE, como tanto nos dizia o Papa Francisco, com a visão posta em novos paradigmas que embasem uma ECONOMIA DA VIDA e da Esperança, é fundamental que também esta mesma Igreja “faça o seu dever de casa”, que fiéis e a hierarquia eclesiástica passem por um processo concreto e real de conversão ecológica, individual e, principalmente, comunitário, demonstrando adesão a práticas e ações concretas sociotransformadoras e muita MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, visando agir junto aos poderes constituídos para a definição e implementação de políticas públicas voltadas para um melhor cuidado com a Casa Comum, neste território chamado Brasil, a partir de cada território eclesiástico.
A parte final da Mensagem do Papa Leão XIV não deixa dúvida quanto a um dos fundamentos de nossas ações sociotransformadoras e de mobilização profética ao mencionar que: “A Encíclica Laudato Si acompanha a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade desde há dez anos: que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem “guardadas e cultivadas” com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado. Em seu nome, envio a todos vós a minha bênção.”
Além da mensagem do Papa Leão XIV para orientar a Igreja em suas celebrações globais e também locais (relembrando o “mantra” da importância de “pensarmos globalmente, mas agirmos localmente”), temos também o Calendário Ecológico que nos indica diversos momentos/dias também importantes para a realidade socioambiental em nosso país.
Durante os 40 dias do TEMPO DA CRIAÇÃO teremos diversos momentos especiais em que as Igrejas locais podem e devem refletir sobre a realidade socioambiental/ecológica em seus territórios, conforme podemos observar:
SETEMBRO
1º de setembro a 4 de outubro: Tempo da Criação
01 - Festa da Criação e momento de abertura do Tempo da Criação
01 - Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação
03 - Dia do Biólogo
05 - Dia da Amazônia
07 - Dia da Independência do Brasil
07 - Dia Mundial do Ar Limpo (Combate à poluição do ar)
11 - Dia Nacional do Cerrado
16 - Dia Internacional de Luta para a Preservação da Camada de Ozônio
19 - Dia Mundial de Luta pela Limpeza das Águas (ver também 22 de março)
21 - Dia da Árvore (ver também 21 de março e 17 de julho)
22 - Dia Nacional em Defesa da Fauna
25 - Dia da Bandeira dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
29 - Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos (Dia Internacional do Desperdício Zero). Ver também 30 de março
29 - Dia Mundial dos Rios
OUTUBRO
01 - Dia do Vegetarianismo
03 - Dia Nacional da Agroecologia
04 - Dia de São Francisco de Assis
04 - Encerramento do Tempo da Criação
04 - Dia da Natureza
Como podemos perceber, temos muitos momentos relacionados à necessidade de aprofundarmos tanto as nossas reflexões quanto as nossas práticas, através de ações das diferentes pastorais, movimentos e organismos da Igreja, com destaque para a importância de que, em todos os territórios eclesiásticos (Arquidioceses, Dioceses e Comunidades Eclesiais de Base), a Pastoral da Ecologia Integral, que é uma pastoral de conjunto, uma pastoral transversal, possa estar devidamente presente, estruturada e promovendo essas ações sociotransformadoras, mobilização profética e também fortalecida pela espiritualidade ecológica tão enfatizada pelos Papas Francisco e, agora, Leão XIV.
Antes de concluir esta reflexão, gostaria de destacar parte da mensagem bem recente e ao mesmo tempo uma exortação de Leão XIV dirigida ao cardeal Pedro Ricardo Barreto Jimeno, presidente da CEAM - Conferência Eclesial da Amazônia, uma organização que reúne, além do episcopado, também leigos, agentes pastorais, mulheres e indígenas, bem como a todos os que recentemente estiveram reunidos em Bogotá, Colômbia, em que fica clara a responsabilidade da Igreja, não apenas no território amazônico, mas em todos os territórios do Brasil em que a mesma esteja presente: “Leão XIV convida todos os participantes do encontro que estão em Bogotá a refletirem sobre três dimensões que estão interconectadas na ação pastoral dessa região: a missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todos os homens, o tratamento justo aos povos que ali habitam e o cuidado da Casa Comum.”
Oxalá tais “sementes” de esperança e de transformações profundas em nossos hábitos consumistas, de desperdício e de egoísmo possam ser transformadas profundamente, e nós, como cristãos, católicos, evangélicos e não cristãos, possamos parar um pouco e constatarmos que os desafios socioambientais, principalmente a crise climática e suas consequências, precisam ser enfrentados de forma efetiva e não apenas com palavras, belos discursos ou documentos que acabam apenas enfeitando arquivos.
Este é o único caminho que nos resta. O chamado “ponto do não retorno” já está presente neste momento; só não percebe quem não quer ver ou quem faz do negacionismo ecológico/ambiental sua “filosofia de vida” — e de morte!
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy
PRESENÇA DA PASTORAL DA ECOLOGIA INTEGRAL (PEI) NA IGREJA - Juacy da Silva
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JUACY DA SILVA*
“A justiça ambiental – implicitamente anunciada pelos profetas – já não pode ser considerada um conceito abstrato ou um objetivo distante. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera proteção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, econômica e antropológica. Para os que creem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade. Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas, vivendo a vocação de guardiões da obra de Deus para que as sementes de justiça possam germinar, “contribuindo para a paz e a esperança”. Papa Leão XIV.
Para a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) “pastoral é uma ação ou conjunto de atividades que a Igreja Católica realiza para cumprir sua missão de continuar a obra de Jesus Cristo, abrangendo diferentes grupos e realidades. Ela envolve a evangelização e o anúncio do Evangelho por meio de serviço, diálogo e testemunho.
Neste sentido, as pastorais são formas concretas de evangelização (através de ações sociotransformadoras e de mobilização profética), adaptadas às diversas realidades e necessidades da sociedade e, assim, as pastorais sociais, inseridas na dimensão sociotransformadora, em particular, buscam promover a justiça social, a caridade e a paz, atuando em áreas como a defesa dos direitos humanos, a assistência aos mais vulneráveis, a promoção da dignidade humana, combatendo as desigualdades, os preconceitos, o racismo e, também, a defesa da ecologia integral.
A ação pastoral busca o diálogo com a sociedade procurando construir pontos e parcerias tanto internamente na Igreja quanto com movimentos e organizações populares e organismos públicos, para responder aos desafios contemporâneos, incluindo os desafios socioambientais, entre os quais não podemos esquecer de destacar a grave crise climática que estamos vivenciando nos últimos anos e décadas e construir um mundo mais justo, fraterno, inclusivo, de paz e sustentável, com mais equidade e menos desigualdade social e violência.
O mundo todo, inclusive o Brasil, enfrenta inúmeros desafios socioambientais, como a destruição da biodiversidade, a poluição dos solos, das águas, do ar, o desmatamento, a destruição de nascentes e outros mais que culminam com a crise climática e suas terríveis consequências tanto em relação à natureza quanto em relação às pessoas e sistemas produtivos; mudanças essas que, se não forem interrompidas ou mitigadas a tempo, podem colocar em risco a própria sobrevivência de todos os tipos de vida no planeta, inclusive a vida humana.
Diante disso, não foi por acaso que o Papa Francisco, em 24 de maio de 2015, publicou a Encíclica Laudato Si (sobre a Ecologia Integral e o cuidado com a Casa Comum), mesmo ano em que a ONU estabeleceu os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e, durante a realização da COP 21, foi firmado o Acordo de Paris, ano considerado emblemático diante da gravidade da crise socioambiental planetária.
Novamente, em 12 de outubro de 2023, o Papa Francisco escreveu a Exortação Apostólica Laudate Deum, endereçada não apenas aos participantes da COP 28, que foi realizada naquele ano, mas também a todos os cristãos (católicos e evangélicos) e não cristãos, enfatizando que, apesar de naquele ano já terem se completado oito anos da publicação da Laudato Si, pouco havia sido feito, em termos concretos, diante de vários indicadores estabelecidos na Agenda 2030, para enfrentar de forma efetiva a mudança/crise climática e seus efeitos deletérios.
Neste ano de 2025, novamente a Igreja particular, no caso a Igreja do Brasil, escolheu o tema da Ecologia Integral para ser o lema da Campanha da Fraternidade, dando sequência a outras oito campanhas anteriores que também dialogaram com temas ecológicos.
Todavia, quando nos debruçamos sobre a situação socioambiental do Brasil e do planeta, na etapa do método da Igreja – VER – constatamos que poucos avanços têm sido feitos e a degradação dos biomas, dos ecossistemas continua a todo vapor, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, razão pela qual a Igreja, enquanto um todo no país, não pode se omitir diante desses desafios.
Sempre é bom lembrar que, para a Igreja Católica, omissão é pecado e, no caso da omissão diante da destruição das obras da criação e do agravamento da crise socioambiental, é um pecado ecológico, que para a sociedade civil são crimes ambientais.
Assim, cremos que uma das formas, ou a melhor forma, de a Igreja se posicionar de forma efetiva, permanente, com ações sociotransformadoras e mobilização profética, buscando tanto a conversão ecológica – individual e comunitária – bem como a mudança de paradigmas de uma economia da morte por outros e novos paradigmas que possibilitem o florescimento da economia da vida, como nos exortava o Papa Francisco ao falar e propor a “Economia de Francisco e Clara”, como um novo modelo de economia, poderia ser realizada através das ações e atividades da Pastoral da Ecologia Integral, devidamente apoiada e articulada nacionalmente pela CNBB; o que, atualmente ainda, inexplicavelmente, não existe.
Todavia, apesar desses dez anos de Laudato Si e dois anos de Laudate Deum, a presença da Pastoral da Ecologia Integral na Igreja no Brasil ainda é bastante insignificante, considerando que no Brasil existem 48 arquidioceses; 217 dioceses; 7 prelazias; mais de 12 mil paróquias; mais de 180 mil comunidades eclesiais (de base); mais de 320 bispos e arcebispos; aproximadamente 30 mil padres (sacerdotes, vigários e párocos); além de aproximadamente mais de 30 mil freiras de vida consagrada e em torno de 120 milhões de pessoas que se consideram católicas, ou seja, 56,7% da população total do Brasil, conforme o último Censo Demográfico do IBGE em 2022.
Convenhamos, a Igreja Católica tem ou poderia ter um peso considerável em todas as dimensões da vida nacional e, em relação ao que poderia estar fazendo no combate à degradação dos biomas, dos ecossistemas e por um melhor cuidado com as obras da criação, poderia ser algo extremamente grandioso.
Mas, para tal, é fundamental que, além de palavras e exortações, passemos às ações sociotransformadoras e muita mobilização profética, e tudo isso pode ser realizado pela Pastoral da Ecologia Integral, desde que a mesma esteja presente em todos os territórios eclesiásticos mencionados e também conte com o apoio e orientação (espiritualidade ecológica) da hierarquia eclesiástica e também a participação de dezenas de milhares de leigos e leigas engajados e engajadas na vida e caminhada pastoral, em defesa da Ecologia Integral.
No dia 19 de agosto de 2025, ocorreu, de forma virtual, uma reunião entre a Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, três bispos diocesanos referenciais da PEI – Regionais da CNBB Leste 1, Sul 1 e Sul 2 – e quatro integrantes da Coordenação Geral da Pastoral da Ecologia Integral do Brasil (APEIBR).
O objetivo da reunião foi a promoção de um diálogo tendo em vista situar a PEI no contexto das ações pastorais sociotransformadoras e de mobilização profética da Igreja, no maior número de arquidioceses, dioceses, paróquias e comunidades eclesiais no Brasil como um todo.
Constata-se que a organização da PEI tem sido muito mais resultado do esforço de um grupo cada vez maior de leigos e leigas engajados, que têm abraçado a luta em defesa da Casa Comum, da Ecologia Integral, a partir da realidade socioambiental de cada território eclesiástico considerado.
Constata-se que, apesar desse esforço enorme, a Igreja, no caso a CNBB Nacional, ainda não abraçou totalmente a referida pastoral, não apenas a nível nacional, mas na grande maioria dos Regionais da CNBB não existe bispo ou sacerdote como referenciais, nem uma comissão regional para contribuir para um trabalho mais articulado, duradouro e profundo.
A estruturação, organização e implantação da PEI ainda encontram certa resistência ou desinteresse tanto por parte de leigos e leigas quanto de integrantes do clero e das organizações de religiosos e religiosas na maior parte dos territórios eclesiais.
Constata-se ainda a falta de uma consciência em relação à gravidade da crise socioambiental, principalmente da crise climática e de todas as formas de degradação dos biomas e ecossistemas, razão pela qual um, ou talvez o maior desafio, seja a conversão ecológica dentro da própria Igreja, tanto na dimensão individual quanto comunitária, como tanto nos exortava o Papa Francisco, além do negacionismo ecológico de amplos setores da sociedade brasileira, principalmente dos que ainda lucram com esta destruição da natureza.
Diante disso, conforme pode-se perceber da memória daquela reunião, existem inúmeros desafios que precisamos refletir em torno dos mesmos para que a Igreja, como um todo no Brasil inteiro, possa realizar um trabalho de forma mais orgânica e institucional e não apenas através de um esforço quase que marginal às ações planejadas de cada arquidiocese, diocese, paróquia ou comunidade, como vem acontecendo.
A leitura da memória desta reunião – a segunda propriamente dita, tendo em vista que há pouco mais de um ano foi realizada a primeira reunião presencial em 2024, em Brasília, entre nove representantes regionais da APEIB, Dom Vicente (bispo presidente da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB) e o padre Dário, ocasião em que a maior parte das preocupações e assuntos abordados na reunião, objeto desta memória que integra esta reflexão, também foram objeto de reflexão.
Naquela reunião presencial, foi pontuada a importância do tema da Campanha da Fraternidade de 2025 (Fraternidade e Ecologia Integral), das celebrações dos dez anos da publicação da Encíclica Laudato Si, dos 800 anos das celebrações do Cântico das Criaturas e da realização da COP 30, em Belém, no final deste ano de 2025.
Todos esses eventos e celebrações foram considerados momentos significativos para a expansão dos trabalhos da PEI e a possibilidade de organização/estruturação da mesma em um maior número de territórios eclesiásticos, o que, lamentavelmente, não tem ocorrido como esperado, razão pela qual os integrantes do Conselho Nacional e da Comissão Executiva da Articulação Nacional da PEI do Brasil voltaram a buscar um diálogo mais formal, desta vez incluindo os três bispos referenciais já mencionados.
Oxalá a Igreja no Brasil possa “avançar para águas mais profundas” e abraçar de vez, e com determinação, o desafio de realmente defender, através de ações sociotransformadoras e de mobilização profética, a causa da Ecologia Integral e possamos promover mudanças de hábitos, costumes e de estruturas produtivas, seguindo os ensinamentos dos Papas Francisco e Leão XIV.
É neste contexto que esperamos que a Pastoral da Ecologia Integral possa inserir-se, de fato, no esforço da CNBB de sermos “o sal da terra e a luz do mundo” quando se fala em defesa da Ecologia Integral.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..r" target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy
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JUACY DA SILVA*
“Hoje vivemos em imensas cidades que se mostram modernas, orgulhosas e até vaidosas. Cidades – orgulhosas de sua revolução tecnológica e digital – que oferecem inumeráveis prazeres e bem-estar para uma minoria feliz..., porém negam o teto a milhares de vizinhos e irmãos nossos, inclusive crianças, e se lhes chama, elegantemente, 'pessoas em situação de rua'... Um sistema político-econômico, para seu desenvolvimento saudável, necessita garantir que a democracia não seja somente nominal, mas sim que possa se ver moldada em ações concretas que velam pela dignidade de todos os seus habitantes sob a lógica do bem comum, em um chamado à solidariedade e uma opção preferencial pelos pobres... Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade.” — Papa Francisco, pronunciamento na Cúpula Pan-Americana de Juízes, em 04-06-2019, promovida pela Pontifícia Academia de Ciências Sociais, no Vaticano, em Roma.
Estamos, no Brasil inteiro, sob os holofotes da realização da 6ª Conferência Nacional das Cidades, que tem como tema central "Construindo a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano: caminhos para cidades inclusivas, democráticas, sustentáveis e com justiça social". O escopo da conferência abrange a discussão e o desenvolvimento de políticas públicas para o desenvolvimento urbano, com foco em áreas como habitação, mobilidade, saneamento, gestão estratégica e financiamento, além de questões relacionadas à diversidade ambiental e climática.
Esta Conferência das Cidades está sendo realizada em três etapas: as conferências municipais que já foram, estão ou serão realizadas até o final de julho; as conferências estaduais (nas capitais) até o final de setembro e, finalmente, a Conferência Nacional, em Brasília, no final de outubro próximo.
Há mais de 70 anos, a questão do desenvolvimento urbano vem sendo discutida no Brasil, principalmente a partir da década de 1960, quando o Brasil deixa de ser um país demograficamente rural para se transformar em um país urbano e industrial.
Ao longo dessas sete décadas, o crescimento rápido das cidades brasileiras ocorreu de uma maneira totalmente caótica, sem planejamento, sem investimentos em infraestrutura urbana compatível com os índices de concentração e crescimento populacional.
O resultado são as cidades que temos, na verdade duas ou três cidades em territórios compartimentados: uma, a cidade das periferias, onde moram as famílias pobres, excluídas e injustiçadas, sem infraestrutura, com baixa qualidade de vida; outra, a cidade para a chamada classe média, com alguns tipos de infraestrutura; e, finalmente, a cidade dos ricos, das camadas mais abastadas, dos donos do poder e dos barões da economia — verdadeiros “apartheids”, quase à semelhança das cidades da Idade Média, condomínios fechados, com muros altos, cercas elétricas, com vigilância eletrônica ou com guardas particulares armados, demonstrando que essas camadas privilegiadas temem as ameaças das chamadas “classes perigosas” que vivem nas favelas, nos cortiços, nas palafitas, dominadas também pela violência do crime organizado ou das milícias.
Diante do processo caótico do crescimento das cidades, ainda na década de 1960, ou seja, há sete décadas, surgiu um grande movimento de lutas sociais, no contexto das chamadas reformas de base, denominado de Movimento de e pela Reforma Urbana.
Este foi um movimento que visava transformar as cidades, promovendo o acesso de todos os cidadãos aos seus benefícios, como habitação, infraestrutura e serviços. Este movimento, impulsionado por segmentos progressistas da sociedade, propôs mudanças estruturais na questão fundiária e no uso e ocupação do solo, com o objetivo de democratizar o acesso à cidade e garantir direitos urbanos fundamentais para quem vive ou meramente sobrevive nas cidades.
No dia 01 de janeiro de 2003, início da primeira gestão de Lula, foi criado o Ministério das Cidades, com os objetivos de combater as desigualdades sociais, transformar as cidades em espaços mais humanizados e ampliar o acesso da população à moradia, saneamento, mobilidade urbana, incluindo transporte de massa moderno e decente.
Antes da chegada de Lula à Presidência, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o Congresso Nacional aprovou, quase que por unanimidade, e FHC sancionou o Estatuto da Cidade em 10 de julho de 2001, através da Lei Federal nº 10.257. Essa lei regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelecendo diretrizes gerais para a política urbana no Brasil.
Essa lei passou a ser um marco fundamental e importante na definição e implementação da política nacional e, por extensão, das políticas estaduais e municipais de desenvolvimento urbano, com dimensões de sustentabilidade, modernidade, justiça social, justiça climática, inclusão social e econômica e segurança.
Além dessas dimensões, o Estatuto das Cidades criou diversos instrumentos jurídicos e urbanísticos para que as cidades pudessem — ou possam — ser espaços democráticos e participativos, envolvendo todos os atores e não apenas as elites na definição das cidades que queremos e merecemos, ou seja, CIDADES PARA TODOS E TODAS e não apenas para uma minoria, enquanto as grandes massas permanecem excluídas dos “benefícios” que uma cidade deve promover à sua população. Exemplos são o IPTU progressivo no tempo e a possibilidade de desapropriação de imóvel urbano pelas prefeituras com pagamento de títulos da dívida pública municipal, aprovados pelo Senado, e outras normas e regras para o bem viver no espaço urbano.
O desenvolvimento tanto urbano quanto rural, econômico e social no Brasil não prima pelo planejamento de curto, médio e, muito menos, de longo prazo. Uma das características desse processo, principalmente do “crescimento” populacional e físico (perímetro urbano e periurbano) das cidades, como já mencionado, ocorre à revelia dos governantes, principalmente integrantes dos poderes Executivo e Legislativo, que se mostram avessos à ideia e prática do planejamento, eternos improvisadores quando se trata das ações governamentais.
Isso é demonstrado através da crise fundiária urbana, que gera muita violência e conflitos; da falta de saneamento básico; das deficiências do sistema de transporte coletivo, frotas e sistemas totalmente obsoletos e de baixa qualidade; do estrangulamento da mobilidade urbana; da inexistência ou precariedade de calçadas, que limitam o deslocamento de pedestres, colocando vidas em risco; da falta ou precariedade de arborização urbana e periurbana, afetando o microclima urbano, principalmente nas áreas centrais; e da deterioração dos centros históricos, com perda da memória das cidades, como ocorre em Cuiabá e tantas outras cidades históricas no Brasil.
Todas essas dimensões, desafios e problemas deveriam ser equacionados no contexto dos Planos Diretores de Desenvolvimento Estratégico, tanto das cidades (dimensão urbana propriamente dita) quanto das áreas periurbanas e rurais dos municípios, principalmente das cidades com mais de 20 mil habitantes, onde os planos diretores, democráticos e participativos, são obrigatórios e deveriam balizar as ações das administrações municipais.
Lamentavelmente, tais planos, quando existem, como em Cuiabá, acabam sendo apenas documentos para enfeitar prateleiras de gabinetes, longe das realidades urbanas, principalmente das periferias urbanas.
Em todos os setores, e não apenas nas questões urbanas, existem dois problemas, desafios quase insuperáveis diante das práticas políticas clientelistas e corruptas existentes. O primeiro é a falta de continuidade de políticas, programas e ações governamentais; cada administração que assume, seja nos municípios, nos estados ou no governo federal, abandona quase tudo o que vinha sendo realizado e a prática é inventar novas obras, novos programas e novas ações, contribuindo para o desperdício, mau uso ou corrupção, em prejuízo dos interesses e necessidades do povo, principalmente dos pobres e excluídos.
Os exemplos são milhares e milhares de obras federais, estaduais e municipais paralisadas, praticamente em todos os municípios e cidades brasileiras, como o famoso Hospital Central de Cuiabá, paralisado por quase ou mais de 40 anos, o que não deixa de ser uma vergonha e um desperdício de recursos públicos diante das necessidades da população.
Outro problema é a falta de articulação das políticas públicas, inclusive da política de desenvolvimento urbano, entre as três esferas do poder público (governos federal, estaduais e municipais), a começar pela falta de coincidência de mandatos.
Presidente da República, Congresso Nacional, governadores de estado e DF e Assembleias Legislativas são eleitos 2 anos antes que prefeitos e vereadores. Assim, os instrumentos de planejamento como PPA – Plano Plurianual de Investimentos – e LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias – não coincidem.
Um terceiro problema que contribui para esse processo caótico de gestão pública é o desrespeito à autonomia dos municípios, tanto por parte dos governos estaduais quanto federal.
Finalmente, temos mais um problema, que é a gestão das regiões metropolitanas e das conurbações urbanas, que, em princípio, devem ter também seu planejamento integrado e harmônico, em setores vitais como mobilidade/transporte intermunicipal; questões de saneamento, principalmente a questão dos resíduos sólidos, esgotamento sanitário, os desafios da moradia popular e da regularização fundiária.
Neste aspecto, o problema se agrava, porquanto, na gestão metropolitana, além da autonomia de cada município da mesma, ainda existe a figura da presença de entes dos governos estaduais e, com frequência, também do governo federal.
Um exemplo concreto dessa balbúrdia política, administrativa e de gestão pública pode ser mencionado nas famosas obras da Copa de 2014, cujas obras — algumas delas como o VLT de Cuiabá e Várzea Grande — iniciadas em 2012, nunca concluídas, consumiram quase um bilhão de reais, pela má gestão e corrupção, e que até hoje, depois de trocarem de modal do VLT para BRT, representam uma grande cicatriz na paisagem do maior aglomerado urbano de Mato Grosso e da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.
Neste mesmo diapasão, em 01 de janeiro de 2019, início do governo Bolsonaro, os Ministérios das Cidades e da Integração Nacional foram extintos, dando lugar ao surgimento/criação do Ministério do Desenvolvimento Regional, e o Conselho Nacional das Cidades praticamente extinto e esvaziado.
Com a posse de Lula para mais um período governamental, o Ministério das Cidades foi recriado em 01 de janeiro de 2023 e o Conselho das Cidades recuperou suas atribuições, e as Conferências das Cidades e outras conferências setoriais, como mecanismo de participação popular e de outros segmentos, voltaram a acontecer.
É importante destacar que as Conferências das Cidades são um espaço de diálogo e participação de todos os segmentos que vivem e constroem as cidades — momento para que a população participe dos esforços de construção de cidades que ofereçam condições e qualidade de vida para todas as pessoas que nelas vivem, trabalham e sonham com um futuro melhor, digno e com justiça social.
Finalizando, é importante ressaltar que as Conferências das Cidades buscam incentivar a participação social e popular; um espaço de diálogo e debate dos principais problemas e desafios urbanos; debater e propor subsídios para a formulação e reformulação da política e do sistema nacional de desenvolvimento urbano, tanto na dimensão local quanto metropolitana, estadual e nacional.
Os principais problemas e desafios que não podem ficar de fora das Conferências das Cidades são: mobilidade urbana; habitação, principalmente moradias populares; regularização fundiária; sustentabilidade climática; arborização urbana (Planos Diretores de Arborização Urbana: municipais e metropolitanos, florestas urbanas e periurbanas); saneamento básico, principalmente as questões dos resíduos sólidos/lixo e esgotamento sanitário.
Além disso, é fundamental que, nas Conferências das Cidades, sejam também debatidas as questões da modernização da “máquina” administrativa, da gestão estratégica, da visão de médio e longo prazo e das fontes de financiamento, orçamentos; a questão da segurança pública, principalmente nos territórios periféricos, atualmente objeto do domínio do crime organizado, verdadeiro poder paralelo em inúmeras cidades e estados no Brasil.
Finalmente, é fundamental que as discussões levem em consideração a questão dos bolsões de pobreza, principalmente nas áreas/territórios periféricos, buscando construir mecanismos nas políticas públicas que promovam a inclusão social e econômica e a justiça social, ou seja, o bem comum.
Só assim estaremos construindo cidades como espaço em que todos tenham qualidade de vida e dignidade humana.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, ex-secretário de Planejamento e Gestão, ex-ouvidor Geral/Ombudsman e ex-diretor Executivo do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de Cuiaba. Atualmente, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
A Constituição Federal, de 1988, no artigo 225, estabelece, de forma clara e objetiva que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Ao longo do tempo, principalmente a partir da publicação da Encíclica “Rerum Novarum”, em 15 de Maio de 1891, pelo Papa Leão XIII, até a atualidade com o Papa Francisco, ao publicar a Encíclica Laudato Si, em 24 de Maio de 2015; a Igreja Católica e as Igrejas Evangélicas vem sendo presença ativa no enfrentamento dos problemas e desafios que afetam a humanidade, principalmente as camadas marginalizadas, excluídas vem enfrentando, daí a razão da chamada “opção preferencial pelos pobres”.
Para poder agir de uma forma efetiva e sociotransformadora é necessária uma metodologia que ofereça condições e conhecimento para compreender bem a realidade, permitir que sejam feitas opções e desdobrar as ações no tempo e no espaço, estabelecendo prioridades neste agir.
Neste processo em busca de um conhecimento mais profundo da realidade, que sirva de base para agir na dimensão sociotransformadora, é fundamental que sigamos a máxima de “pensar globalmente e agir localmente”, razões mais do que suficientes para delimitarmos nosso campo de ação tanto em termos de espaço (território) quanto de tempo (estabelecer cronologia e prioridades), tendo em vista a complexidade dos desafios em todas as áreas, inclusive nas questões relativas `a ECOLOGIA INTEGRAL, considerando os diversos aspectos que fazem parte das exortações, observações e sugestões quanto a esta caminhada, apontadas tanto nas Encíclicas Laudato Si e Fratelli Tutti quanto nas Exortações Apostólicas Querida Amazônia e Laudate Deum e outros documentos das Igrejas e também o conhecimento resultante de estudos e pesquisas por cientistas, pesquisadores e instituições universitárias e até mesmo vinculadas a outros setores da sociedade.
A origem desta metodologia já está prestes a completar um século, como podemos ver nesta referência bibliográfica “O método ver-julgar-agir da JOC, assumido pela Ação Católica especializada no mundo inteiro desde a década de 1930, demorou, mas foi assumido pelo magistério pontifício, primeiro por João XXIII, depois pela Gaudium et Spes, por encíclicas sociais e documentos de Dicastérios da Cúria Romana (BRIGHENTI, 2015, p. 612)”
O Curso para a formação de Agentes da Pastoral da Ecologia Integral que estamos realizando na Arquidiocese de Cuiabá, em três módulos de apenas 5 horas cada um, tanto quanto possível estamos seguindo o método da Igreja: VER, JULGAR E AGIR.
Na Bíblia Sagrada existe uma passagem que, direta ou indiretamente, nos remete `a questão da metodologia no agir da Igreja Católica e das Igrejas Evangélicas também, quando no Evangelho de São João 8:32 está escrito “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Ai está na verdade a origem desta metodologia: Conhecimento – Verdade – Libertação.
Assim, buscamos ampliar nosso conhecimento sobre diversos documentos da Igreja e dos vários “ramos”, aspectos das ciências, incluindo um “panorama’ dos principais desafios e problemas socioambientais do Brasil, de Mato Grosso e do território onde está inserida a Arquidiocese de Cuiabá (a chamada Baixada Cuiabana).
Caberá a seguir, aos participantes do Curso, futuros agentes da Pastoral da Ecologia Integral realizarem um exercício, em princípio didático, mas com vistas a ações concretas no futuro, de preferência em um futuro não muito longínquo, nos territórios das várias paróquias representadas no referido curso através dos referidos participantes do curso.
Para tanto devemos seguir alguns passos, que, na verdade são as etapas do Método mencionado e, neste exercício, devemos trabalhar em conjunto, ou seja, propiciar a troca de experiências e a “mirada” que cada pessoa possa ter da realidade e também as sugestões para a ação, sempre enfatizando que somente as ações, de preferência coletivas, em grupo é que tem o poder e a energia para promover ou provocar transformações sociais, econômicas, políticas, culturais ou até mesmo religiosas.
Aqui cabe uma observação, é importante que saibamos e aprendamos a “trabalhar em conjunto”, em grupo, em equipe, para valorizar esta dinâmica coletiva, sempre respeitando as pessoas, aceitando opiniões diferentes e até divergentes, sempre em através de um diálogo honesto, franco, aberto, reconhecendo nossas diferenças, nossas fragilidades e nossa dignidade como pessoas humanas, todos e todas, filhos e filhas de Deus. Esta é a essência da Amizade social, que sempre nos exorta o Papa Francisco e foi objeto da Campanha da Fraternidade deste ano de 2024.
Para atendermos ao desafio da etapa VER, não precisamos “inventar a roda”, contratar “experts”, consultorias especializadas e geralmente que custam muitos recursos, precisamos buscar e valorizar o conhecimento das pessoas que vivem, convivem, sobrevivem e sofrem com a realidade que as cerca e que, cremos nós, desejam mudanças e transformações que melhorem suas condições de vida.
Para vermos a realidade, além de nossas observações pessoais, podemos solicitar a várias pessoas, em diferentes partes do território, de diferentes estratos/camadas sociais e perguntarmos, por exemplo: Quais são os três, quatro ou cinco principais problemas ou desafios ambientais ou socioambientais que o senhor ou a senhora, ou os/as jovens identificam naquele território?
Com certeza se dialogarmos com diversas pessoas teremos diversas respostas, algumas que devem coincidir e outras diferentes e, assim, poderemos chegar a mais de cinco ou dez problemas/desafios.
A Etapa seguinte do Método, o JULGAR, cabe `a Equipe da Pastoral que será formada pelos participantes do Curso e mais algumas pessoas que sejam convidadas para “engrossar’, fortalecer a Equipe, que darão vida ao que temos denominado de Núcleo Ecológico Paroquial (Local) e que pode ser também no nível das comunidades, de uma escola, de uma empresa. A denominação pouco importa, o mais importante é a constituição das equipes que irão articular, coordenar, despertar a consciência ecológica/ambiental, inclusive fomentando o processo da EDUCAÇÃO ECOLÓGICA LIBERTADORA, para que as ações e as transformações socioambientais possam ocorrer e a realidade seja mudada, transformada.
Nesta fase do JULGAR, caberá então à Equipe local/paroquial analisar os problemas e desafios apresentados pelas pessoas, tendo como parâmetros deste JULGAR o seguinte: a gravidade, a urgência e a complexidade dos problemas e desafios que surgiram deste diálogo coletivo e, estabelecer uma lista de prioridades, tendo em vista também o que é possível realizar a curto, médio e longo prazos.
Finalmente, o AGIR, deve ser realizado, não de uma forma voluntarista e improvisada, mas sim, dentro de uma ótica de racionalidade, para que as ações sejam realmente realizadas e sejam também duradouras e possam provocar mudanças, seja de hábitos, de comportamentos, atitudes e novos estilos de vida, tanto no plano individual, familiar quanto, coletivamente, seja a partir da paróquia, da comunidade, da escola, da empresa ou enfim, qualquer que seja o lugar/território onde as pessoas vivem, convivem e sobrevivem.
Neste AGIR, precisamos também promover nossas ações guiadas por projetos, que tenham “começo, meio e fim”, definindo quem, como, quando, onde e a que custos, ou seja, por que, para que, com quem e para quem vamos realizar nossas ações, incluindo parcerias, custos dos projetos e fontes de financiamento.
Em ocasião oportuna, no futuro, como Pastoral devemos promover também um aprofundamento do nível de conhecimento das Equipes, tanto no que concerne `a elaboração de projetos sociais, identificação de fontes de financiamento públicas e privadas, nacionais e internacionais, bem como um maior nível de conhecimento dos vários setores que fazem parte do que denominamos de Ecologia Integral.
Exemplo, se uma comunidade, paróquia definem que irão trabalhar com reciclagem, é necessário entender melhor sobre esta temática; da mesma forma se o projeto é relacionado com arborização, plantas medicinais, hortas domésticas, escolares ou comunitárias, ou os chamados “quintais ecológicos”, é fundamental que os participantes conheçam bem as referidas áreas e assim por diante.
Se decidirmos, por exemplo, realizar uma Campanha ampla para combater o consumismo, o desperdício, que geram cada vez um maior volume de resíduos sólidos/lixo, combater o uso de plásticos que emitem gases de efeito estufa e provocam o aquecimento global e as temíveis mudanças climáticas etc, etc precisamos ter conhecimento das técnicas de propaganda, marketing e como se formam ou se alteram os hábitos de consumo, atingindo o objetivo e metas de “produção e consumo responsável e sustentável”, como estabelece a ONU no ODS de número 12.
O curso para a Formação de Agentes da Pastoral da Ecologia Integral é apenas um passo inicial de um processo mais longo para que as ações que vierem a ser implementadas, realizadas possam ser duradouras, efetivas e estejam articuladas com as ações das demais pastorais, movimentos e organismos da Igreja e também em parcerias com outras organizações públicas e privadas que atuem nesta área e contribuam para ajudarmos em um MELHOR CUIDADO COM A CASA COMUM, a partir de nossa realidade concreta, local em nossos territórios.
O processo de transformação da realidade, principalmente da realidade em que vivem e sobrevivem os pobres e excluídos é longo, cheio de obstáculos e interesses as vezes ocultos, demanda conhecimento e uma conscientização ecológica, social e política mais profunda por parte dos mesmos, para que as mudanças ocorram e essas mudanças devem ocorrer com a participação dessas camadas que devem ser sujeitas e sujeitos de seus próprios destinos e jamais objeto de manipulação por parte de quem gera e se beneficia de estruturas que representam dominação, manipulação e exclusão.
Não podemos alimentar o assistencialismo, o paternalismo que apenas são formas de manipulação por parte dos poderosos e dos donos do poder, mas sim, ajudarmos a despertar a consciência ecológica, sociotransformadora dessas camadas que sofrem com a degradação ambiental e destruição do planeta, tudo isso no contexto da Doutrina Social da Igreja e dos Direitos Humanos e Constitucionais.
*Juacy da Silva, professor fundador e titular da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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Juacy da Silva*
Recebi um convite de uma Jornalista do Rio de Janeiro, que tem um canal de web TV - no youtube para uma entrevista/LIVE, compartilho com voces o convite: “Olá, prof. Juacy. Está se aproximando a semana Laudato Si, proposta pelo Movimento Laudato Si que reúne católicos do mundo inteiro. Por isso, o tema da gravação que gostaria de fazer com você é "Laudato Si e as tragédias socioambientais. Podemos gravar em algum dia por volta das 18h. Sugiro sexta, dia 17”.
Ja aceitei e estou coletando informações para me preparar adequadamente para a Entrevista, estou com a ideia de escrever um artigo com o mesmo título, para ser publicado também.
Dia 24 de Maio, sexta feira, será o DIA da publicação da Laudato Si, feita em 2015, ou seja, estaremos celebrando nove anos da existencia desta importante e revolucionária Encíclica, quem sabe poderiamos solicitar que a missa das 18:30h na Catedral Senhor Bom Jesus de Cuiabá tenha algo especial relativo a esta data? O que vocês acham?
Além deste dia, na verdade o Movimento Mundial Laudato Si, estará celebrando, entre 19 e 26 de Maio próximos, a SEMANA LAUDATO SI, com um tema/assunto cada dia, conforme consta: Dia 19/05 – Dia de Pentecostes, tema: Conversão ecológica; 20/05 – Transporte sustentável; 21/05 – Alimentação e sustentabilidade; 22/05 – Energia sustentável; 23/05 – Lixo, resíduos sólidos; 24/05 – Questão da água; 25/05 – Catequese e ecologia integral e, no último dia , 26/05 – Por um melhor cuidado com a Casa Comum.
Poderiamos também sugerir ao Pe. Deusdedit, nosso Oreintador Espiritual e Vigário Geral e Dom Mário, nosso Arcebispo, que tem apoiado de forma decisiva a caminhada da Pastoral da Ecologia integral da Arquidiocese de Cuiabá, para que seja feita uma recomendação aos párocos, padres, vigários, religosos, religiosas, escolas católicas que, cada qual em seu "quadrado" (como dizem os jovens) faça algo especial, pelo menos uma referência à Laudato Si.
Se a humanidade, as pessoas, a população em geral, os governantes em todos os níveis e dimensões, o empresariado não despertarem para a gravidade do que está acontecendo com o Planeta, com toda a certeza vamos ver, conviver e viver com uma freequência muito maior, com desastres como o que já ocorreram nesses últimos 12 ou 24 meses com queimadas, secas, ondas de calor e chuvas torrenciais e inundações terríveis.
A natureza está em fúria quanto à forma como a humanidade a está tratando, ignorando seus limites. Estamos “matando a galinha dos ovos de ouro”, e diante disso precisamos mudar os paradigmas que regem os sistemas econômicos que praticam uma verdadeira rapinagem contra os biomas e ecossistemas.
Creio que todas as Dioceses do Regional Oeste 2 (CNBB/RO2) também poderiam dar um destaque nesta data e Semana Laudato Si, antecipando o esforço que será feito pela CF/2025 cujo tema será “FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL”.
Diante de tantas calamidades, desastres e tragédias ecológicas/socioambientais que estão acontecendo com mais frequência, com maior intensidade, maior número de vítimas e maiores perdas econômicas e sociais, a Igreja tanto sua estrutura eclesiástica quanto seus fiéis, não podem ficar alheia e alheios em sua missão no que concerne à MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, em defesa da Casa Comum, da Mãe Terra.
Esta é a exortação que faz o Papa Francisco quando diz/escreve “O clima é um bem comum de todos para todos... Há um consenso científico, muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático... A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam...e suas consequências”. Laudato Si, 23.
Há menos de um ano, por ocasião da 28ª COP, a mensagem do Papa Francisco àquela Conferência do Clima, revestiu-se, novamente, de um alerta e também uma exortação quanto à gravidade deste processo de degradação planetária.
“É possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativa a probabilidade de fenômenos extremos mais frequentes e mais intensos. Isso porque, sempre que a temperatura global aumenta em 0,5 grau centígrado, sabe-se que aumentam também a intensidade e a frequência de fortes temporais e inundações em algumas áreas, de graves secas em outras, de calor extremo em algumas regiões, e, ainda fortes nevascas em outras” Laudate Deum, 5 (04/10/2023).
Só assim podemos entender o “recado” da natureza, da mãe terra como resposta aos danos que a mesma tem sofrido. É neste contexto que precisamos refletir sobre esta calamidade, que não será nem a maior, nem a pior, que está acontecendo no Rio Grande do Sul e tanta comoção tem causado na opinião pública e sofrimento para nossos irmãos e irmãs daquele estado.
Muitos outros desastres e muitas outras calamidades ecológicas ou socioambientais deverão ocorrer nos próximos anos, este será o “novo normal” em que viveremos, a menos que novos paradígmas substituam os atuais paradigmas da ganância, do consumismo, do desperdício, da busca do lucro a qualquer preço, da economia da morte, continuarem a balizar nossas relações humanas/sociais e também nossas relações com a natureza!
Se não cuidarmos da natureza, se não zelarmos pela nossa Casa Comum, pagaremos um preço muito elevado para apenas mitigar os efeitos desta destruição do planeta e tanto sofrimento humano que estamos assistindo no momento!
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador (voluntário) da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
EQUIPES DA PASTORAL DA ECOLOGIA INTEGRAL VISITAM AS PARÓQUIAS - Juacy da Silva
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Juacy da Silva*
Com o objetivo de estimular fiéis das diversas paróquias da Arquidiocese de Cuiabá, a participarem do Curso de Formação de Agentes de Pastoral, diversas Equipes, integrantes da Coordenação da Pastoral da Ecologia Integral estão visitando as paróquias, principalmente de Cuiabá e de Várzea Grande e, em futuros eventos as Paróquias das demais cidades que fazem parte do território desta Arquidiocese.
A Arquidiocese de Cuiabá tem 31 Paróquias e 310 comunidades em oito municípios da Baixada Cuiabá, onde estão concentrados quase 30% da população do Estado e também onde está a maior concentração urbana de Mato Grosso, constituida pelo Aglomerado Urbano Cuiabá/Várzea Grande, núcleo principal da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.
Essas visitas decorrem de uma carta convite do Arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio, do Vigário Geral e Orientador Espiritual da citada pastoral, Padre Deusdédit e da Coordenadora da Pastoral, Olindina Bezerra, para que cada paróquia selecione de duas a três pessoas, que, após participarem do referido curso, constituirão as Equipes locais nas Paróquias e deverão atuar na forma de projetos visando o enfrentamento e a superação dos desafios socioambientais existentes nos territórios das diversas paróqias.
Tanto o curso quanto as ações futuras seguem a metodologia da Igreja: VER, JULGAR E AGIR e têm como fundamentos a Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, que no dia 24 deste mês de Maio estará completando nove anos, além das exortações apostólicas Laudate Deu, Querida Amazônia e a Doutrina Social da Igreja.
Vale destacar que a Campanha da Fraternidade de 2025, coordenada pela CNBB, terá como Tema: FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL, além de dois outros eventos importantes, para a Caminhada da Igreja, que serão as comemorações do décimo aniversário da Encíclica Laudato Si e a realização da COP 30, a ter lugar em Belém, no Estado do Pará, quando as atenções do mundo inteiro estarão voltadas para o nosso país.
Como bem sabemos o território da Arquidiocese de Cuiabá, comprende, praticamente a maior parte da “area da Baixada Cuiabana ou da Bacia do Rio Cuiabá e está em conexão direta com o Pantanal, bioma que passa por um processo intenso de degradação e destruição e que enfrenta inúmeros problemas e desafios socioambietais, com destaque para a degradação do Rio Cuiabá e todos os seus afluentes, a maior parte dos quais já desapareceram, sendo que o seu principal afluente, o Rio Coxipó também está se transformando em um grande esgoto a céu aberto; além de outros graves problemas ambientais urbanos e rurais, como falta de saneamento básico, lixo urbano, falta de arborização, desmatamento, queimadas, ondas de calor, ocupação das margens dos cursos d’água uso abusivo de agrotóxicos, mineração, poluição urbana, problemas quanto ao uso e ocupação do solo, principalmente nas áreas periféricas urbanas, incidência elevada de pobreza, fome, miséria e outros mais.
Diante das exortações do Papa Francisco, quanto ao papel dos cristãos, tanto católicos quanto evangélicos, é fundamental que as Igrejas, suas lideranças e seus fiéis estejam sempre comprometidos com a defesa da Ecologia Integral, ou seja, da chamada Casa Comum.
SEMENTES DE ESPERANÇA - Juacy da Silva
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Juacy da Silva*
Por pior e extremamente caótica que seja a realidade, sempre existe um “fio” de esperança para que mudanças ocorram e novos rumos, novas saídas sejam vislubradas, desde que novos paradigmas sejam construidos em substituição aos paradigmas que alimentam a má política e a econômica da morte, que geram pobreza, violência, fome, exclusão e, também, degradação e destruição ambiental.
“Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos pensando que éramos (somos) proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos serres vivos”. Papa Francisco, Encíclica Laudato Si, 2 (2015).
“Devemos considerar, também, a poluição produzidos, incluindo os perigosos presentes em variados ambientes. Produzem-se anualmente centenas de milhões de toneladas de resíduos, muitos deles não biodegradáveis: resíduos domésticos e comerciais, detritos de demolições, resíduos clínicos, eletrônicos e industriais, resíduos altamente tóxicos e radioativos. A terra, nossa Casa (Comum), parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo” Laudato Si, 21 (2015).
Dentro de poucos dias estaremos comemorando NOVE anos da publicação de uma das mais emblemáticas e “revolucionárias” Encíclicas que um Papa já publicou ao longo de séculos. Nesta Encíclica, o mesmo consegue unificar o pensamento da Igreja sobre as questões e os desafios socioambientais e qual o papel que os Cristãos (Católicos e Evangélicos) e também os adeptos de todas as demais religiões devem desempenhar no enfrentamento desses desafios, inserindo-a no contexto também da Doutrina Social da Igreja.
O Dia da Celebração da Laudato Si é 24 de Maio, mas desde 2016 essas celebrações passaram abranger uma semana toda, a chamada SEMANA LAUDADO SI, possibilitando refletirmos sobre diversos temas que fazem parte dos debates e da realidade socioambiental, inclusive o maior desafio que é a CRISE CLIMÁTICA e o cumprimento do Acordo de Paris, principalmente no que concerne às ações que todos os países há 9 anos firmaram visando evitar que a temperatura média do planeta exceda 1,5º Graus centigrados ou no máximo 2º acima do que era a temperatura média da terra no período pré-industrial.
A crise climática decorre de diversos fatores, todos ligados à ganância humana que não respeita os limites da natureza e nem o direito que as próximas gerações tem em viver em condições que garantam todas as formas de vida, inclusive a vida humana, ameaçadas pelo intenso processo de degradação ambiental, destruição da biodiversidade, poluição do ar, a transformação de todos os cursos d’água, inclusive os mares e oceanos em uma verdadeira lixeira planetária, a destruição de todas as florestas e tantos outros males que a busca incessante e irracional por lucros imediatos colocam em risco o futuro do planeta.
Assim, entre 19 e 26 de Maio corrente estaremos “celebrando” a SEMANA LAUDATO SI, 2024, cujo lema é “Sementes de Esperança”, como certeza de que, apesar da irracionalidade humana que fundamenta modelos econômicos predatórios da natureza e também a exploração dos trabalhadores, ainda nos resta uma “réstea” de esperança de que podemos despertar a população e também governantes e o setor empresarial de que podemos alterar esta trajetória de uma corrida rumo a um precipício.
É importante que em nossas reflexões sobre os desafios socioambientais tenhamos presentes alguns aspectos que embasam a Encíclica Laudato Si, incluindo, a ideia e o conceito de Ecologia Integral, e neste processo de integralidade precisamos considerar o ser humano como parte da natureza e que “tudo está interligado”, ou seja, o Planeta Terra, que na Encíclica também é denominado de “Casa Comum”, e “obras da criação”.
Diante disso, espera-se que a humanidade, cada um de nós, independente do gênero, classe social, cor da pele, religião, ocupação e nível socioeconômico ou classe social, somos responsáveis tanto pelo que fazemos e que está destruindo esta Casa Comum, quanto pelas ações e, principalmente estilo de vida, que possam representar uma “luz no fim do túnel”, ou seja, nós também temos capacidade de restaurar e recuperar os danos que temos feito contra a mãe terra.
É significativo quando Francisco escreve na Laudato Si, por exemplo, “O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para administrá-la em benefício de todos”, esta exortação vem ao encontro do que há década o então Papa João Paulo II (São João Paulo II) afirmou que “sobre toda propriedade privado pesa uma hipoteca social”.
Outro aspecto também enfatizado na Laudato Si é a de que na origem de todo o processo de degradação e destruição da natureza estão as ações humanas e que este processo afeta de uma forma mais direta os pobres e isto fica claro quando Francisco diz que “o gemido da terra é também o gemido dos pobres”.
Voltando a SEMANA LAUTADO SI 2024, os temas a serem utilizados para as reflexões durante os oito dias (de 19 a 26 de Maio), são aspectos e problemas bem concretos e que tantos males tem feito tanto à natureza quanto às pessoas, principalmente as grandes massas excluídas, empobrecidas e violentadas ao redor do mundo, inclusive em nosso país.
No primeiro dia, 19 de Maio, que também é o DIA DE PENTECOSTES, o tema objeto de reflexão será CONVERSÃO ECOLÓGICA, no contexto da Espiritualidade ecológica e libertadora; no segundo dia, 20 de Maio o tema será TRANSPORTE SUSTENTÁVEL, uma reflexão sobre os impactos que os atuais sistemas de transporte, baseados fundamentalmente em combustíveis fósseis contribuem para o aumento da emissão de gases de efeito estufa, o aquecimento global e as terríveis mudanças climáticas.
No terceiro dia, 21 de Maio, o Tema será ALIMENTAÇÃO E SUSTENTABILIDADE, envolvendo a questão da fome, da insegurança alimentar, o uso abusivo dos agrotóxicos, a degradação dos solos, apontando como saída a agroecologia e a produção de alimentos orgânicos.
No quarto dia, 22 de Maio, o Tema para reflexão será ENERGIA SUSTENTÁVEL, destacando os malefícios para o meio ambiente e para a saúde humana que os combustíveis fósseis produzem e enfatizando a necessidade da eliminação dessas fontes sujas de energia, substiuindo-as por fontes renováveis de energia como solar, eólica, biomasa, hidrogênio verde. Também faz parte desta reflexão a substituição de veículos movidas a combustíveis fósseis por veículos elétricos, que sejam também alimentados por fontes renováveis de energia, isto inclui também uma reflexão sobre eficiência energética e combate ao desperdício nesta área.
No quinto dia, 23 de Maio, a reflexão deve girar sobre a questão do lixo, resíduos sólidos, principalmente os desafios do lixo eletrônico e o lixo plástico, altamente poluentes para o solo, as águas e o ar, como alternativas devemos repensar nossos sistemas produtivos e de consumo, incluindo o consumismo , o desperdício, o descarte e a obsolescência prematura de bens produzidos pelos sistemas econômicos.
No Sexto dia, 24 de Maio, a reflexão será sobre a questão da água, tanto em termos de qualidade quanto de quantidade, tendo em vista que diversas regiões do planeta, inclusive em nosso país, passam ou enfrentam o desafio da escassez da água, tanto para consumo humano, quanto para as atividades econômicas, incluindo a produção agropecuária. Fazem parte também dessas reflexões a questão da degradação de todas as fontes, nascentes, córregos, rios e também os mares e oceanos. Lembrando sempre que sem água de qualidade e em quantidade não há vida.
No Sétimo dia a reflexão deverá girar sobre Catequese (iniciação a vida cristã ou processo semelhante em outras religiões) e Ecologia Integral. O que se propõe é refletir mais profudamente sobre como podemos incluir nocões de ecologia integral junto às crianças, adolescentes e jovens, para que despertem a consciência de que “quando os seres humanos comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática, desnudando-as das suas florestas naturais ou destruindo as suas zonas húmidas, quando os seres humanos contaminam as águas, o solo, o ar... tudo isso é pecado. Porque um crime contra a natureza é um crime contra nós (todos) mesmos e um pecado contra Deus”. Para as Leis dos homens a destruição e degradação ambiental é um crime, mas para a Igreja é um PECADO ECOLÓGICO, que exige uma CONVERSÃO ECOLÓGICA.
Finalmente, no oitavo e último dia da SEMANA LAUDATO SI de 2024, a reflexão deverá girar em torno a urgente necessidade de UM MELHOR CUIDADO COM A CASA COMUM, antes que este processo de destruição e degradação ambiental atinja o chamado “ponto do não retorno”, ou seja, a possibilidade de restauração ou até mesmo de mitigação tornam-se altamente onerosos ou técnicamente impossíveis.
Oxalá a SEMANA LAUDATO SI, possa ser objeto de muitas reflexões por parte de todas as Igrejas Cristãos e também das demais religiões ao redor do Mundo, mas, principalmente, em nosso país, como um passo importante para o que deverá acontecer em 2025.
Se 2015 foi um ano de muito significativo para o despertar de uma consciência da importância de colocarmos as questões das preocupações socioambientais na ordem dia dia, ou das agendas públicas e privadas em todos os países, tendo como base a Laudato Si; o estabelecimento dos OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL pela ONU e o ACORDO DE PARIS; 2025 será também um marco signficativo para o Brasil, quando a CNBB terá a Campanha da Fraternidade abordando o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, no contexto das Comemorações dos 10 anos da Laudato Si; em Belém será realizada a COP 30, quando o Brasil estará sob os holofotes internacionais e no âmbito municipal teremos o início de novas gestões, quando prefeitos e vereadores estarão iniciando seus mandatos, esperando que as questões ambientais passem a fazer parte dos planos de governos e de políticas públicas.
Finalizando, transcrevo um trecho da mensagem do Papa Francisco aos participantes da COP 28, na Exortação Apostólica Laudate Deum, quando afirma “Não há mudanças duradouras sem mudanças culturais, sem maturação do modo de viver e das convicções da sociedade; não há mudanças culturais sem mudanças nas pessoas...O simples fato de mudar os hábitos pessoais, familiares e comunitários alimenta a preocupação com as responabilidades não cumpridas (pelos governantes), pelos setores públicos e a indignação contra o desinteresse dos poderosos”.
*Juacy da Silva, professor fundador, tiular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram Juacy @profjuacy
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
“O Sínodo nos chama a nos tornarmos uma Igreja que caminha com alegria, humildade e criatividade neste nosso tempo, ciente de que somos todos vulneráveis e precisamos uns dos outros. E acrescento: caminhar buscando gerar vida, multiplicar a alegria, não apagar os fogos que o Espírito acende nos corações. Esta foi a veemente exortação de Francisco ao receber em audiência na manhã desta quinta-feira (25/05) na Sala Paulo VI, no Vaticano, os bispos e delegados do “Caminho sinodal das Igrejas na Itália”, um expressivo grupo de cerca de mil pessoas. Este encontro se insere em meio a um processo sinodal que diz respeito a toda a Igreja e, nela, as Igrejas locais, nas quais os Canteiros sinodais se constituíram como uma bela experiência de escuta do Espírito e de discussão entre as diferentes vozes das comunidades cristãs, observou o Papa”. Fonte: Site Vatican News, 25 Maio 2023.
Ao final da Primeira Sessão do Sínodo dos Bispos, mas que também contou com a presença de Leigos, Leigas, Sacerdotes, religiosas, religiosas e pessoas de outras crenças, religiões, produziu um relatório sobre as conclusões atingidas durante mais de um mês de trabalho, relatório este que deverá ser divulgado oportunamente detalhando cada aspecto debatido e as “conclusões preliminares” e as pistas para a continuidade dos trabalhos durante esses próximos meses até Outubro de 2024, quando, novamente o Sínodo deverá se reunir no Vaticano.
Graças `a coragem e a inspiração do Papa Francisco que com sua fé inabalável, sua pertinácia e, vale dizer, sua CORAGEM, está buscando estimular, sempre o diálogo franco e respeitoso, uma reflexão profunda sobre o CAMINHAR DA IGREJA, reduzindo os espaços de um clericalismo abstrato, alienado e que desvirtua a jornada da mesma, principalmente diante dos grandes desafios que o mundo e a humanidade tem diante de si, a começar pela degradação do Planeta, pela destruição da biodiversidade, pela gravíssima crise climática, que não apenas destrói a natureza, mas também a vida humana, tornando-a impossível de existir e também quanto `a forma que a Igreja é administrada em seu cotidiano.
Alèm da defesa da CASA COMUM, a defesa da ECOLOGIA INTEGRAL, outro desafio imenso que a igreja tem diante de si, neste início de um novo Milênio, é a questão da pobreza e suas consequências como a fome, a miséria, a exclusão, o racismo, a homofobia, a transfobia e todas as demais formas de discriminação e racismo, o que, de fato vai na contramão dos ensinamentos dos Evangelhos e da OPÇÃO PREFERENCIAL que a Igreja tem feito em favor dos POBRES, EXCLUÍDOS E EXCLUIDAS.
Esta opção deve estar concretizada não apenas em formas assistencialistas, paternalistas de enfrentar tal desafio, mas, fundamentalmente por uma CARIDADE Promocional e também por uma CARIDADE LIBERTADORA, que resulte em mudanças profundas das estruturas e práticas que geram tais problemas e desafios que exigem transformações estruturais tanto na economia, quanto na política e nas nossas relações humanas, sociais, culturais e religiosas.
Outro desafio que o Sínodo aponta é a QUESTÃO DA VIOLÊNCIA, não apenas a violência doméstica contra crianças, adolescentes, jovens, mas também a violência contra as mulheres, as pessoas idosas e as portadoras de tantas formas de deficiência, as quais, jamais, devem ser objeto de práticas discriminatórias ou do racismo conjuntural ou racismo estrutural.
As atenções do Sínodo nesta questão da VIOLÊNCIA também voltou-se para este flagelo, esta bestialidade humana que são os conflitos armados, as guerras civis ou guerras entre países e povos que só alimentam o sofrimento, as migrações forçadas e morte de vítimas civis inocentes, principalmente crianças e pessoas idosas. Esta violência só favorece e ajudam os lucros dos fabricantes de armas e outros artefatos de destruição e os mercadores da morte, contra isso a Igreja não pode ter posição dúbia.
Diante de tudo isso, a Igreja não pode continuar com suas estruturas obsoletas, fechada em si mesma, em seus ritos e práticas que acabam se distanciando de seu verdadeiro caminho que é a evangelização de forma solidária e comprometida com a conversão espiritual, mas sempre atenta aos desafios temporais, sob pena, de que se assim não o fizer, estar sendo conivente com práticas desumanas, representado pelo PECADO DA OMISSÃO, pecado da insensibilidade e PECADO ECOLÓGICO.
Para compreendermos melhor o sentido e o significado deste Sínodo, que teve início há mais de dois anos quando da escuta das Igrejas Locais em todos os países e em todos os continentes, quando foram ouvidos os “Clamores da terra e dos pobres”, até esta etapa que se encerra da Primeira Sessão, é fundamental que possamos ler e refletir sobre a CARTA AO POVO DE DEUS, firmada por todos os participantes do Sínodo, inclusive, pelo Papa Francisco, que, com certeza, em tempo oportuno também, como sempre acontece, produzirá mais uma de suas Exortações Apostólicas, sintetizando os ensinamentos, as pistas e os caminhos que a Igreja deve seguir nesta nova Etapa do Sínodo.
Para que a Igreja seja realmente SINODAL, ela precisa ser também uma Igreja ABERTA, SAMARITANA, Misericordiosa, estar sempre ao lado dos pobres, excluídos e oprimidos e, por isso, também uma IGREJA PROFÉTICA e corajosa, enfrentando todos os desafios que afligem o povo de Deus e a Humanidade inteira. Por isso, em nossa caminhada como povo de Deus precisamos de estar sempre de “olhos e ouvidos abertos, corações ardentes e pés a caminho”, que é o Lema da Igreja Sinodal e não apenas do conclave denominado de Sínodo dos Bispos!
Este é o contexto quando se fala em “COMUNHÃO, MISSÃO E PARTICIPAÇÃO”.
A seguir, transcrevo a Carta Publicada no “site” RevistaMissões, da Ordem dos Consolatas, no dia 25 de Outubro de 2023. Vale a pena ser lida e que possamos refletir profundamente sobre este importante passo na vida da Igreja.
"CARTA AO POVO DE DEUS": A SINODALIDADE É O CAMINHO DO TERCEIRO MILÊNIO,
A Carta da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos ao Povo de Deus foi publicada nesta quarta-feira. A leitura do esboço da Carta foi recebida com aplausos pela assembleia na manhã de terça-feira.
Publicada nesta quarta-feira a Carta da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos ao Povo de Deus. Eis a integrada da mesma:
Queridas irmãs e irmãos,
ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVI a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vós, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em profunda comunhão com todos vós. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo conosco as vossas expectativas, os vossos questionamentos, e também os vossos receios. Já passaram dois anos desde que, a pedido do Papa Francisco, iniciámos um longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém, para "caminhar juntos", sob a guia do Espírito Santo, discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo.
A sessão que nos reuniu em Roma desde 30 de setembro foi um passo importante neste processo. Em muitos aspectos, foi uma experiência sem precedentes. Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos. Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutámos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do diálogo no Espírito, partilhámos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentámos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates.
A nossa assembleia decorreu no contexto de um mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que alguns de nós provinham de países onde a guerra deflagra. Rezámos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos aqueles que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz.
A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecuménica de abertura, experimentámos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado. "A cruz é, de facto, a única cátedra d'Aquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que 'todos sejam um' (Jo 17,21)". Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiámos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: "Laudate Deum! ", recordou o Papa Francisco logo no início dos nossos trabalhos.
Dia após dia, sentimos um apelo premente à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si mesma, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, alguns sem-abrigo que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam: "Amor! ". Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa assembleia. É a "confiança" que nos dá a audácia e a liberdade interior que experimentámos, não hesitando em exprimir livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente.
E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra "sínodo". Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, "Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstractos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (...), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um" (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos.
Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Lc 10,21)! Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer. A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória.
A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje. Precisa de acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões. Para progredir no discernimento sinodal, a Igreja tem particular necessidade de recolher ainda mais a palavra e a experiência dos ministros ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis. Deve também deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela vigilante dos apelos do Espírito. Precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade e nos quais o Espírito, que "a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido" (Gaudium et spes 22), também está presente e atua.
"O mundo em que vivemos, e que somos chamados a amar e a servir mesmo nas suas contradições, exige da Igreja o reforço das sinergias em todos os âmbitos da sua missão. É precisamente o caminho da sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milénio" (Papa Francisco, 17 de outubro de 2015). Não tenhamos medo de responder a este apelo. A Virgem Maria, a primeira no caminho, nos acompanha em nossa peregrinação. Nas alegrias e nas fadigas, ela mostra-nos o seu Filho que nos convida à confiança. É Ele, Jesus, a nossa única esperança!
Cidade do Vaticano, 25 de outubro de 2023
*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
SEMANA LAUDATO SI 2023 - Juacy da Silva
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Juacy da Silva*
“A destruição do meio ambiente é um fato muito grave, porque, por um lado Deus confiou o mundo ao ser humano e, por outro, a própria vida humana é um dom que deve ser protegido das várias formas de degradação. Toda pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades”. “O urgente desafio de proteger a nossa Casa Comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável, pois sabemos que as coisas podem mudar” Papa Francisco, Laudato Si, 4 e 13.
O ano de 2015 pode ser considerado como um marco significativo na história das lutas em defesa do Planeta, do meio ambiente e no estabelecimento de uma visão de longo prazo nas ações tanto dos governos nacionais, regionais, estaduais e locais, quanto de todas as organizações não governamentais, religiosas ou laicas e da população em geral.
São três grandes dimensões que se articulam, tendo como horizonte temporal a AGENDA 2030, prazo estabelecido pela ONU na definição dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e de suas 169 metas, como forma de orientar os 196 países e territórios a nortearem suas políticas públicas e planejamento, visando reduzir ou acabar com a pobreza, a fome, a miséria (enfim, com a exclusão social) e também melhor cuidado com a natureza, com os recursos naturais, em busca de sociedades justas e solidárias.
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável foram aprovados pela ONU em Setembro de 2015 e foram ratificados/aceitos/homologados pelos diversos países nos anos seguintes.
Já a segunda dimensão é representada pelo Acordo de Paris, fruto de negociações entre os diversos países, acordo este que veio substituir o Acordo/Protocolo de Kyoto de 1.997, foi aprovado em 12 de Dezembro de 2015 e entrou em vigor em 4 de Novembro de 2016.
A terceira dimensão é representada pela Encíclica Laudato Si, publicada pelo Papa Francisco em 24 de Maio de 2015, portanto, antecedendo os dois outros marcos sócio-político-econômico e ambiental mencionados anteriormente.
Todavia, é necessário enfatizar que enquanto a ONU através dos Objetivos do Desenvolvimento Social e suas Metas e o Acordo de Paris, principalmente pelas Conferências do Clima, realizadas desde então anualmente, com exceção do período da pandemia da COVID-19, mobilizam fundamentalmente os esforços das organizações governamentais, o mundo econômico e paralelamente as ONGs ambientalistas; a Laudato Si, pretende despertar a consciência ecológica, a conversão ecológica entre os fiéis, cristãos (católicos e evangélicos) e não cristãos.
Pesquisas indicam que 80% das ações das pessoas são influenciadas pelas respectivas religiões `as quais estão vinculadas e isto se aplica também aos hábitos alimentares, muitas vezes extremamente consumistas, ao desperdício, geração de resíduos sólidos, enfim, causando impactos sobre os recursos naturais.
No entanto, por iniciativa de diversas lideranças religiosas mundiais, a própria ONU já tem estruturado em suas ações um movimento ambientalista inter-religioso, como forma de juntar esforços e recursos de todas as Instituições mundiais, visando salvar o Planeta de uma destruição inexorável.
É neste contexto que estamos nos aproximando do dia 24 de Maio, que marca o OITAVO ANIVERSÁRIO da publicação da Encíclica Laudato Si, pelo Papa Francisco, um marco muito significativo no pensamento da Igreja em relação à crise socioambiental que se abate sobre o Planeta Terra, chamada de “Nossa Casa Comum” por Francisco.
No Mundo todo, os cristãos, principalmente a Igreja Católica, estão programando diversas ações em celebração a esta efeméride e no Brasil isto não será diferente.
A Igreja, em articulação da CNBB com a REPAM com o Movimento Laudato Si e a PEI – Pastoral da Ecologia Integral, em diversas Arquidioceses, Dioceses e Paróquias também deverão realizar alguns eventos, não apenas para marcar esta data, mas, fundamentalmente, estimulando a CONVERSÃO ECOLÓGICA, começando pela própria Igreja, hierarquia e fiéis, que ainda parece estar um tanto distante do que espera o Papa Francisco em suas exortações apostólicas, principalmente quando menciona e destaca que “O grito/gemido da terra é também o grito/gemido dos pobres e excluídos”.
Assim, a opção preferencial que a Igreja faz em relação aos pobres e excluídos, se não estiver articulada também com a defesa da Casa Comum (do meio ambiente no sentido global, onde estão incluidos o ser humano e a natureza, enfim, todas as obras da criação), deixa de considerar um aspecto fundamental de sua ação evangelizadora. E isto pode ser considerado um pecado ecológico, pecado por omissão.
“A Semana Laudato Si’ 2023 será celebrada de 21 a 28 de maio para marcar o oitavo aniversário da encíclica do Papa Francisco. O filme A Carta será o principal recurso para orientar os eventos da semana”.
Dom Sebastião Lima Duarte, Bispo da Diocese de Caxias, no Maranhão, juntamente com Dom Vicente de Paula Ferreira, então Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, Presidente e Secretário Geral da Comissão de Mineração e Ecologia Integral da CNBB, até recentemente, em documento apresentado ao papa Francisco em 2021, assim se pronunciaram “A obra da criação, precisa estar a serviço de todos e não apenas de alguns grupos. A Igreja, como uma das responsáveis em cuidar dela, tem proposto o debate da conversão ecológica numa semana intensa de reflexão sobre o tema no Brasil porque, celebrar a Laudato si’ significa trazer suas denúncias, sonhos, intuições e propostas para o cotidiano da vida litúrgica e pastoral de nossa Igreja, numa continuidade fluida entre a formação, a ação e a celebração cristã”.
Outro aspecto que está ganhando adesão da Igreja e dos fiéis ao redor do mundo, é a questão dos desinvestimentos em empresas que exploram combustíveis fósseis e que são os maiores causadores da degradação ambiental, principalmente pela poluição e emissão de gases que provocam efeito estufa, aquecimento global, as temíveis e terríveis mudanças climáticas que colocam em risco todas as formas de vida no planeta, inclusive a vida humana.
“Enquanto empresas de combustíveis fósseis buscam novas formas de exploração de petróleo e gás, grupos religiosos anunciam 31 compromissos de desinvestimento, exortando outros a também desinvestir”.
Informações do movimento Laudato Si e outras fontes, inclusive do Vaticano, tem demonstrado que este movimento de desinvestimento em atividades econômicas que agridem o meio ambiente vem ganhando espaço nos últimos anos.
Vale a pena lermos essas informações para avaliarmos os impactos que essas ações estão provocando em relação ao estrangulamento econômico e financeiro desses grupos gananciosos que não respeitam os limites do planeta e nem o meio ambiente.
“Liderado pelo Reino Unido – onde a maioria dos grupos cristãos desinvestiu, incluindo mais da metade de todas as dioceses da Igreja da Inglaterra atualmente – o anúncio de desinvestimento global por 31 instituições religiosas de seis países ocorre enquanto ativistas de base pedem a mais grupos religiosos que parem de financiar combustíveis fósseis
Enquanto as empresas de combustíveis fósseis continuam superaquecendo o planeta, investindo pouco em energias renováveis e explorando novas fontes de petróleo e gás, o que vai contra advertências científicas;, 31 instituições religiosas dos EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá, Itália e França aderiram ao anúncio de desinvestimento global de hoje, declarando não ter fé nos combustíveis fósseis e deixando seus ativos permanentemente fora das mãos das empresas que os exploram.
O Reino Unido mostra o que é possível, com um desinvestimento por parte de quase todas as principais denominações cristãs: mais da metade de todas as dioceses da Igreja da Inglaterra agora assumiram um compromisso de desinvestimento, incluindo a Diocese de Londres – sede do maior centro financeiro da Europa.
Metade de todas as dioceses católicas na Inglaterra e no País de Gales também se comprometeram a excluir permanentemente os investimentos em combustíveis fósseis. Em 2018, os Órgãos Nacionais de Investimento da Igreja da Inglaterra declararam que desinvestiriam de empresas de combustíveis fósseis não alinhadas ao Acordo de Paris até o final de 2023. O número crescente de compromissos de desinvestimento no Reino Unido levou até mesmo o CCLA, que administra fundos para muitas igrejas e dioceses do Reino Unido, a excluir investimentos futuros em combustíveis fósseis da carteira da Igreja da Inglaterra.
As instituições religiosas que aderiram ao anúncio de desinvestimento global de hoje incluem sete dioceses da Igreja da Inglaterra, dentre elas a Diocese de Londres; seis catedrais da Igreja da Inglaterra, inclusive a Catedral da Cantuária; duas dioceses católicas (Northampton, na Inglaterra, e Catania, na Itália); três ordens religiosas católicas, dentre as quais a Ordem Carmelita Internacional; duas igrejas locais no Reino Unido; oito instituições de caridade católicas, incluindo o Movimento Escoteiro Católico na Itália (AGESCI); a Diocese Anglicana de Newcastle, na Austrália; e uma instituição judaica nos Estados Unidos.
Hoje os ativistas religiosos também se comprometeram a redobrar os esforços para fazer com que mais grupos desinvistam seu dinheiro de combustíveis fósseis, chamando as pessoas de fé a ajudar a preencher o mapa do desinvestimento, esclarecendo quais organizações religiosas desinvestiram e quais ainda não o fizeram – algo que os ativistas do Reino Unido identificaram como a chave para seu sucesso.
O anúncio global de desinvestimento feito hoje por instituições religiosas foi organizado pelo Conselho Mundial de Igrejas, Operation Noah, Movimento Laudato Si’, Anglicanos Verdes, Dayenu e GreenFaith, e chega apenas dois dias antes do Dia da Terra 2023, cujo tema é ‘investir no nosso planeta’.
As instituições religiosas administram um total combinado de US$ 3 trilhões em investimentos globalmente e, embora ainda precisem de melhorias significativas, os grupos religiosos desinvestiram dos combustíveis fósseis mais do que qualquer outro setor e pediram que grupos religiosos retirem seu dinheiro de empresas de combustíveis fósseis – que gastam em média apenas 5% do investimento de capital em energia renovável e de baixo carbono – e invistam em soluções climáticas, como energias renováveis e armazenamento de baterias.
Mais de 1.500 instituições de todos os setores, com ativos combinados de mais de US$ 40 trilhões, assumiram algum tipo de compromisso de desinvestimento de combustíveis fósseis a partir de uma quantia inicial de US$ 50 bilhões em 2014.
O desinvestimento não apenas retira a ‘licença social’ tácita da qual as empresas dependem para operar, mas também leva à redução de emissões do mundo real, encarece o financiamento de novos projetos de combustíveis fósseis e elimina bilhões do valor de mercado das empresas petrolíferas.
Centenas de líderes religiosos, cristãos e não cristãos, ao redor do mundo tem exortado seus fiéis quanto `a necessidade tanto de um consumo sustentável quanto e, principalmente, uma produção sustentável.
À medida que a população despertar para a tragédia que as atuais gerações estão provocando, afetando principalmente as futuras gerações, com certeza esta conversão ecológica desembocará em um movimento em defesa da ecologia integral, incluindo deixar de consumir produtos, bens e serviços, de empresas que degradam os ecossistemas e que não respeitem o direito dos trabalhadores e dos consumidores.
Isto tem um nome Educação Ambiental/ecológica Libertadora, única forma de provocarmos uma mudança radical de paradigmas no que concerne as relações de produção, de trabalho e das relações dos sistemas produtivos com a natureza.
Assim, a PEI – Pastoral da Ecologia Integral, que não é uma ONG, nem um empreendimento econômico/financeiro e nem um grupo de consultoria ambiental, mas sim, uma Pastoral Integradora, transversal, é a forma concreta como a Igreja pode e deve atuar na defesa da Casa Comum, razão mais do que suficiente para que haja um despertar em todas as dimensões da atuação da Igreja no Brasil, principalmente nas regiões Centro Oeste, Pantanal e Amazônia, biomas que estão sendo destruídos aceleradamente ante o olhar passivo não apenas dos governantes mas também da população brasileira, que, majoritariamente ainda se diz cristã (Católicos e evangélicos), bem como demais religiões, cujas responsabilidades são decisivas no enfrentamento da crise socioambiental e no combate `a degradação dos ecossistemas.
*Juacy da Silva, professor universitário, aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da PEI – Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy