Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
“Habemus procuradora”!
Raquel Dodge, no dia 18, foi empossada por Temer, passando a substituir Janot, no Ministério Público Federal (MPF).
Por conta da complexidade do momento, essa substituição não é algo menor. Ela chega quando todos estamos assistimos a uma avalanche de informações sobre a corrupção brasileira, que parece não ter limites e nem fim.
Detalhe: o presidente que dá posse à procurada está atolado por denúncias.
Pior: antes mesmo da posse de Dodge, pelo menos dois elementos precisam ser lembrados:
1º) a procuradora não foi a primeira da lista tríplice, originada da votação entre os procuradores. Temer quebrou a prática de nomear o mais votado entre os pares. Amparada por todos as legalidades, ela segue adiante, sem constrangimentos;
2º) a procuradora, assim que soube ter sido a escolhida por Temer, foi procurá-lo na residência oficial, mas em horário fora do expediente e sem agenda pública. Aquelas imagens me fizeram lembrar da necessidade que se impunha à mulher de César, ambos do universo bíblico, muito apreciado Raquel.
Tudo isso à parte, como à parte o fato de ser Dodge a primeira mulher a ocupar esse cargo, de seu frágil discurso, há de se ressaltar o que foi dito, mas também o que não foi.
Não sem invocar seu deus católico, em ato subjetivamente demarcador, do que foi pronunciado, com base no óbvio, Dodge disse que exercerá seu trabalho com “equilíbrio, firmeza e coragem, com fundamento na constituição e nas leis”.
Ressaltou que o MPF deve defender a democracia, zelar “pelo bem comum e pelo meio ambiente”, assegurar a “voz a quem não a tem e garantir que ninguém esteja acima da lei e ninguém esteja abaixo da lei”. Disse saber que “o povo não tolera a corrupção e não só espera, mas também cobra resultados”.
Sobre a corrupção, Dodge citou conceitualmente o Papa Francisco, dizendo:
“A corrupção não é um ato, mas uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver. O corrupto está tão fechado e satisfeito em sua autossuficiência que não se deixa questionar por nada nem por ninguém...”
Em tom conciliatório, Dodge ancorou-se nas construções de antigos discursos – à lá Gilberto Freire e Sérgio Buarque – sobre nossas origens. Por isso, também não se constrangeu em afirmar que “Fomos moldados por diversas línguas e culturas e convivemos bem com as diferenças”.
Disso, fiquei tentando entender de que país a procuradora falava, pois o arcabouço das imposições dos exploradores portugueses, inclusive na subjugação linguística, é praticamente ímpar no planeta.
Sendo assim, pergunto: aonde e quem convive bem com as diferenças por aqui?
Mais: em um país de tanta desigualdade, há condições para que as diferenças sejam respeitadas?
Diante disso, só restavam a Dodge os clichês, recorrentes do prólogo ao epílogo de seu evasivo discurso; tão fugidio que não citara a “Lava Jato”. Para piorar, ainda fez apologia da “harmonia entre as instituições...”
Infelizmente, não é disso de que precisamos. Tudo dentro dos marcos civilizatórios de convivência, do que as instituições brasileiras realmente precisam é autonomia; e sua conquista e consolidação nem sempre possibilitam o ritual do cachimbo da paz.
Assim, se Dodge encerra seu discurso com palavras de efeito da maravilhosa Cora Coralina, desejando "mais esperança nos nossos passos do que tristeza em nossos ombros", encerro com Gonçalves Dias, que em sua “Canção do Tamoio” dirá “que viver é lutar” e que “a vida é combate”.
Que as práticas de Dodge sejam mais fortes do que o seu discurso.
PEDRO PEDROSSIAN - Benedito Pedro Dorileo
Benedito Pedro Dorileo
Atravessamos a Praça Alencastro, frente a frente o velho sobrado da Prefeitura e da Câmara Municipal com o novo Palácio Alencastro, em Cuiabá. Iniciava o ano de 1966. Era a primeira visita de cortesia ao moço governador de Mato Grosso indiviso. Acompanhava o Prefeito Vicente Emílio Vuolo, como presidente da Câmara de Vereadores. Receptividade de renovação e de esperança, foi tudo o quanto me impressionou o primeiro diálogo. Franco e obstinado, de logo sustentou o clarear de nova era, descompromissando-se do ranço dos diretórios políticos do tempo pós-getulista, a rasgar de pronto as costumeiras listas da perseguição ao adversário, na disputa de vaga interina do emprego compensador do voto depositado na urna.
Foi Pedro Pedrossian o último governador eleito para mandato de 5 anos, diretamente pelo povo. Ao depois, tivemos governantes eleitos pelo Poder Legislativo, cujo nome descia do Planalto para, servilmente, ser referendado. Dele, ouvimos o cumprimento da Lei, a instalação do planejamento e a proclamação do mérito através de concursos públicos. Gáudio para nossa geração, quando também realizei dois concursos públicos no Estado, outro na Escola Técnica Federal, escapando de um Fórum sob diretoria de magistrado corrupto e inércia da OAB, seccional nossa. E deixando, ainda, cargo político eletivo, após válida experiência.
Natural que a reação viria, como o foi a tentativa do seu impedimento, não vingando por pouco. Já se acentuou que aquelas organizações partidárias exibiam sinais fugidios de programa filosófico ou social. Estruturavam-se como falanges ciosas do poder conquistado no comando partidário coronelista, com o povo desinformado, adrede, à mingua de pequenos favores, e ao lado dos espertos apossadores de terras devolutas na Capital mato-grossense. Pagava-se o valor de 40 centavos de selo e carimbo, o quanto bastava para os chamados marreteiros de terras da época. Para os mais prestigiados, o Departamento de Terras do Estado abria a porta para conquista da mata virgem pelos latifundiários que nada produziam. O cinzento cenário da época.
Paralelamente avançava o governo militar advindo de 1964, com os civis Carlos Lacerda, Juracy Magalhães, governadores e outros brasileiros, como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A Igreja Católica em quase totalidade apoiava, sob o temor do regime político da URSS, a guerra fria, alta corrupção. E militares foram concitados, dando início ao regime de exceção política que se instalou demoradamente até a Constituição Federal de 1988. O ideal de Montesquieu é restaurado com Democracia plena a conquistar o maior lapso histórico de liberdade; todavia, o Brasil, agora, afunda-se na maior corrupção desmascarada do planeta. Somos, hoje, um povo aturdido, vendo mortes violentas em número que supera ao de quaisquer guerras contemporâneas; ainda, desiludido pela dificuldade de nomes para cargos políticos no País. É de chamar-se o filósofo grego Diógenes que com a lâmpada acesa ao meio-dia procurava um homem.
Tal o sobe-desce da humanidade, e entre nós uma Pátria com apenas 195 anos de independência política, que, naturalmente, poderá superar as vicissitudes, aprimorando a democracia.
Pedrossian previa a inevitável divisão territorial do Estado, o que ocorreu em 11 de outubro de 1977 – decorridos 40 anos – desejo centenário sulista que ganhou força com os estudos militares geopolíticos para fazer concretizar nova unidade federativa, ficando Mato Grosso detentor de três ecossistemas, potência, hoje, na agropecuária, que inaugura indústria de etanol extraído do milho, ao lado do da cana de açúcar. No ensino superior, superou o marasmo e ofereceu ao Governo da República condições acadêmicas com 12 cursos superiores organizados no Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá, já existindo a Faculdade de Direito, e ofertou o Campus em edificação para implantar a UFMT, a maior agência do desenvolvimento. No sul, criou a Universidade de Campo Grande, e mais tarde a da Grande Dourados. Cabe a ele o epíteto de Semeador de Universidades. Governou o Estado íntegro e duas vezes Mato Grosso do Sul, além de passar pelo senado da República.
Vivendo em Campo Grande, com 89 anos completos em 13 de agosto passado, deixou a existência na madrugada do dia 22 desse mês. Somos dois Estados estuantes de desenvolvimento, equidistantes pela reorganização federativa, com a mesma gênese, pranteamos abraçados tão eminente figura de estadista que ingressa na história da República.
Benedito Pedro Dorileo é advogado
e foi reitor da UFMT
JUACY DA SILVA*
Praticamente todos os dias, todas as semanas e todos os meses, ao longo das últimas três ou quatro décadas, desde o fim dos governos militares, com o advento da tão sonhada, acalentada e louvada democracia, como alguns costumam dizer, democracia vilipendiada e maculada, a opinião pública brasileira acordo com notícias de prisões ou operações “caça corruptos”.
Com toda a certeza estamos vivendo novos tempos, onde alguns figurões, poucos na verdade, tem passado pelo constrangimento de serem presos, conduzidos coercitivamente ou terem suas casas, escritórios e mansões vasculhados pela Polícia Federal ou outros agentes da repressão aos crimes de colarinho branco.
Até alguns anos ou em décadas passados, costumava-se dizer que prisão era apenas o destino das classes subalternas, pobres, negros, prostitutas e outros grupos excluídos de nossa sociedade. Gente fina, granfinos, autoridades, doutores, grandes empresários só eram notícia em colunas sociais, participando de banquetes e festas badaladas, regadas com muitas iguarias e bebidas caríssimas, enquanto os pobres passavam e continuam passando fome.
Muitos empresários fizeram fortuna do dia para a noite e eram tratados como grandes empreendedores. Políticos e gestores públicos que se eternizavam e ainda se eternizam no poder, entravam pobres na ou para a política e administração pública e acabavam ficando ou ainda ficam milionários ou até bilionários. A origem dessas fortunas pouca gente sabia, pois este enriquecimento era e continua sendo fruto da corrupção e de esquemas tramados nos porões, não da ditadura, mas da democracia, nos porões dos governos federal, estaduais e municipais. Ai eram realizados e “montados” os grandes esquemas, muito semelhantes aos que existem nas quadrilhas dos bandidos comuns, os traficantes de drogas, de armas , enfim, a bandidagem comum, esta que amedronta a população com sua forma violenta de agir, onde os sequestros, os roubos `a mão armada, o que as vezes é chamado de “novo cangaço”, aterroriza o povo.
Não menos violentos são os crimes de colarinho branco, os praticados por políticos, governantes e empresários corruptos, a arma é o cinismo, a dissimulação, o superfaturamento, as obras e contratos fictícios, os aditivos generosos que triplicam ou quadruplicam o valor dos contratos, das obras e dos serviços, tudo devidamente “fiscalizados” e aprovados pelos órgãos de controle interno e externo, os tribunais de contas, as auditorias, as controladorias, os poderes legislativos federal, estaduais e municipais, além das famosas CPIs e CPMIs, verdadeiros circos da democracia, que quase sempre acabam em pizza.
A arma utilizada pelos corruptos ou criminosos de colarinho branco, além da ostentação, da cara de pau quando pegos com a boca na botija, colocando dinheiro público nas cuecas, nas bolsas, mochilas, malas, caixas de papelão ou descobertas quando feitas na forma de transferência eletrônica, ou transformadas em barras de ouro, obras de arte, imóveis, apartamentos, sítios ou fazendas, são os recursos que fazem falta para a saúde que continua um caos cada vez maior, matando brasileiros inocentes pela falta de atendimento; fazendo falta nas áreas da segurança pública, no saneamento, na educação e tantos outros setores da administração pública.
Alguém recentemente perguntou a um cidadão que caminhava por uma rua toda esburacada, com esgoto correndo a céu aberto, de quem tinha mais medo, se de bandido comum que assalta ,rouba, estupra ou de políticos e empresários corruptos que fazem tudo isso sem arma, usando apenas caneta, o poder e a influência de seus cargos e mandatos. De pronto o cidadão disse que dos políticos e empresário corruptos, principalmente dos que gozam do chamado foro privilegiado, pois esses jamais ou quase nunca, com raríssimas exceções vão parar na cadeia. Isto acontece apenas, quando acontece, só quando não tem mais a cobertura desta excrecência brasileira que é o foro privilegiado.
Considerando a quantidades de denúncias contra políticos, autoridades com mandato ou cargos que garantem foro privilegiado e a demora que tais processos exigem para serem concluídos a impunidade vai continuar reinando por muitos séculos em nosso país.
Apenas para recordar, temos alguns ex-presidentes que foram cassados por corrupção e o atual que já é alvo de investigações por ser considerado, pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, como chefes de organizações criminosas, das quais participaram e participam alguns de seus ministros e diversos parlamentares e ex-parlamentares, incluindo um que voltou para a Papuda porque foi pego com a bagatela de R$ 51 milhões de reais.
Cenas como esta e a de deputados em Mato Grosso recebendo propina paga pelo ex-chefe de Gabinete do então Governador do Estado são deprimentes e “monstruosas”, na linguagem do Ministro Fux, do STF.
Até quando vamos ser governados por bandidos, criminosos de colarinho branco travestidos de autoridades? Será que isto é Estado democrático de direito? Uma democracia?
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Em 1975, Paulinho da Viola lançou “Pecado Capital”, música em que trata da relação de seres humanos – ricos e/ou pobres – com o dinheiro. Ao fazer isso, como poucos, “fotografa” o comportamento psicossocial da maioria das pessoas que vivem em sociedades capitalistas.
Em termos estruturais, quatro são as estrofes que compõem “Pecado Capital”. Como as duas últimas são repetições das duas primeiras, o texto apresenta dois movimentos apenas; e que não se opõem na essência, como normalmente ocorre em textos poéticos, mas que se complementam na oposição de dois distintos extratos sociais.
No primeiro movimento, o texto musicado alude a um “sonhador” que busca, sem limites, uma “grandeza” material, traduzida pela posse do dinheiro: representação, por excelência, dos seres bem-sucedidos em sociedades capitalistas.
No outro movimento, não há mais referência a um sonhador deslumbrado pelo acúmulo de capital, que não mede consequências para ver seu sonho realizado, mas daquele ser que, driblando adversidades do cotidiano, precisa lutar pela mera sobrevivência dentro da própria espécie. Darwiniamamente falando, se “viver não é brincadeira não,// Quando o jeito é se virar// cada qual trata de si// Irmão desconhece irmão”.
Mas por que, hoje, lanço mão de “Pecado Capital”?
Porque a imagem de 51 milhões encontrados no apartamento em Salvador não me sai do pensamento. Daquela chocante imagem, outras lembranças se sucedem. E saber que Geddel não usava tornozeleira porque a “Triste Bahia”, agora lembrando Gregório de Matos e Caetano, não dispunha de recursos para esse e outros “investimentos”.
Agora os têm. E muito!
Paradoxalmente, diante desse “muito”, o texto de Paulinho acaba não dando conta. Nem essa grande música parece alcançar a dimensão do desvario de um Geddel, que parece disputar com a ganância de um Sérgio Cabral, que parece querer superar a avareza de um Maluf, de um Lula, de um Aécio, de um Temer... A lista não é pequena, só alma desse tipo de gente é...
Em meio à sovinice dos que buscam o topo dos mais corruptos, a impressão que nos dá é a de haver alguém sempre querendo superar outrem nas ações do subterrâneo nesta terra arrasada chamada Brasil.
Agora, na contraposição de “Pecado Capital”, resgato a composição musical “Casa no Campo”, de Tavito e Zé Rodrix. Nesta, o eu-poético – à lá árcades setecentistas – deseja apenas “...uma casa no campo// Do tamanho ideal, pau a pique e sapê”, onde se possa plantar amigos, discos, livros e nada mais.
Mas esse querer tão genuíno e elevador interno do humano (alma?) é para poucos. Muitos dos querem, hoje, uma casa no campo estão longe de se contentar com algo “do tamanho ideal”; tampouco construído de forma básica.
Ao que tudo indica, muita gente já entendeu que uma casa no campo – e se for em Atibaia e reformada com dinheiro de propina, melhor – também tem lá seu valor mais concreto do que qualquer simbologia próxima de descanso e sossego, desejados pelos antigos que almejavam apenas um locus amoenus, no qual pudesse usufruir do que de melhor a vida nos dá: livros, discos e amigos.
É, pois, nesse clima desolador de tanta corrupção, que assistimos, há alguns dias, à delação de um companheiro contra outro; de um irmão desconhecendo irmão da mesma legenda, ou do mesmo saco.
E assim, de delação em delação, as construções, mesmo as de mais alto padrão – em atibaias ou em quaisquer praias – vão se desmoronando; ao mesmo tempo, vão corroendo nossas energias, que não podem se esgotar.
JUACY DA SILVA*
Há pouco poucos meses o Brasil inteiro viu as cenas ridículas de um deputado, na verdade suplente de deputado federal e ex-assessor de Temer, sobre quem o Presidente referiu-se em gravação realizada por um empresário corrupto, que foi recebido pelo presidente da República, na calada da noite, como sendo de sua inteira confiança; este senhor foi flagrado e filmado pela Polícia Federal saindo correndo de uma pizzaria em São Paulo, com uma mala com R$ 500 mil reais, que, conforme denúncia do Procurador Geral da República, seriam destinados ao atual Presidente.
Mesmo tendo o STF aceito a denúncia contra o Presidente por corrupção passiva e outros crimes, a Câmara Federal, onde mais de uma centena de deputados também são investigados por corrupção, acabou salvo pela sua base de apoio na Câmara.
Além de dezenas de deputados federais que o apoiam e estão sendo investigados por corrupção, o Governo Temer tem dez ministros que também estão sendo investigados por corrupção e outros crimes de colarinho branco.
O ex-governador do Rio de Janeiro, também do PMDB, que está preso há um bom tempo, já foi indiciado em diversos processos e tudo leva a crer que deverá ser condenado a muitas décadas de prisão, pelos muitos milhões de reais que ele e sua quadrilha roubaram dos cofres públicos, deixando o estado na quase falência e nas costas dos servidores públicos os resultados desta pilhagem.
Em Mato Grosso, também o ex-governador Silval Barbosa que já esteve preso por quase dois anos e só conseguiu ser solto mediante delação premiada, entregou ao Ministério Público Federal vídeos e gravações onde diversos deputados aparecem de forma cínica e criminosa recebendo pacotes de dinheiro, colocando tais pacotes nos bolsos, como o atual Prefeito de Cuiabá, em mochila como o outrora presidente do PT e procurador do Estado e outros deputados/a colocando dinheiro sujo em sacolas, bolsas e caixas de papelão.
Esta delação foi considerada pelo Ministro Fux, do Supremo Tribunal Federal como monstruosa e um acinte conta a democracia e o povo de Mato Grosso, tamanha o cinismo e a desfaçatez como governantes roubam os cofres públicos.
Há poucos dias em outra operação da Policia Federal, foi feita mais uma devassa, desta vez no Comitê Olímpico brasileiro, onde inclusive seu eterno presidente e alguns empresários corruptos “compraram” votos para que o Rio de Janeiro fosse escolhida como cidade sede das olimpíadas de 2016, tudo dentro do esquema de roubalheira do ex-governador Sérgio Cabral.
Agora, o último escândalo que abala o Brasil e “choca” a opinião pública foi a descoberta e apreensão de oito malas, dessas de viagem bem grandes e mais diversas caixas de papelão enormes, todas recheadas com notas de cem e cinquenta reais, totalizando a apreensão de nada menos do que 51 milhões de reais, que devem ou deveriam pertencer ao ex-ministro, preso há algum tempo por práticas de tráfico de influência e corrupção, em prisão domiciliar, em seu apartamento luxuoso de Salvador, sem tornozeleira, isto é uma vergonha para o pais e para o povo.
Estamos às vésperas do SETE DE SETEMBRO, nossa data magna em que comemoramos nossa independência, quando o Brasil se livrou do jugo de Portugal, mas que, passados 195 anos, quase dois séculos, ainda não conseguimos nos livrar do jugo da corrupção.
Estamos sendo governados, em todos os níveis de poder, em todas as regiões, abrangendo todos os poderes, a união, os estados e municípios, por políticos, governantes e gestores corruptos, associados com também empresários venais, cínicos e corruptos, verdadeiras quadrilhas que estão destruindo nossas instituições e a esperança do povo.
Talvez a única solução para acabar com a corrupção no Brasil seja a adoção do modelo chines, onde todos os criminosos, inclusive os corruptos, principalmente os governantes e dirigentes do PCC, Partido comunista chines, são fuzilados.
Não podemos permitir que os corruptos dominem o Brasil, espoliem o povo e destruam nossas instituições. Precisamos ter leis mais severas para punir esses crimes e criminosos. Deixar bandidos de colarinho branco, como aconteceu com os irmãos batista da JBS, que sequer foram presos e receberam total imunidade para seus crimes tanto por parte do MPF quanto do STF é um tapa na cada do povo, da mesma forma que aposentar compulsoriamente juízes e conselheiros de tribunais de contas por prática de corrupção, com aposentadorias de marajás não é punição, mas sim um incentivo, demonstrando que crimes de colarinho branco é um “negócio da china”, país onde, aliás, os corruptos recebem prisões por longas décadas, prisão perpétua com trabalho forçado ou até mesmo a pena de morte.
Algo mais severo tem que ser aplicado aos corruptos brasileiros, o povo e os contribuintes não podem continuar pagando a conta da corrupção.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites e outros veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
JUACY DA SILVA *
Será que alguém viu pela televisão, ouviu pelo rádio ou leu nos jornais, revistas, sites e blogs como tem sido a roubalheira de políticos em Mato Grosso recebendo pacotes de $$$ entregues pelo chefe de Gabinete do ex-governador Silval Barbosa, entregues pelo próprio ex-governador em sua delação premiada ou “colaboração” com a justiça e homologado pelo Ministro do STF Luiz Fux? Enquanto outros investigados e presos por corrupção no Rio de Janeiro foram soltos por determinação judicial do STF?
É revoltante ver essas cenas de roubo explícito e o cinismo desses criminosos de colarinho branco, travestidos de autoridades e representantes do povo ou empresários.
Antes era o Rio de Janeiro que foi governado por uma quadrilha de criminosos de colarinho branco, agora surge Mato Grosso para fazer companhia ao Rio Grande do Norte, Minas Gerais e outros estados.
A corrupção é a chaga, o câncer que está destruindo o Brasil, o povo paga tantos impostos, cada dia a carga tributária é maior, mas a corrupção e a incompetência de nossos governantes e gestores públicos estão estrangulando os serviços públicos, onde o caos impera abertamente.
Além de pagar uma carga tributária exorbitante, quem precisa de saúde de qualidade tem que pagar planos de saúde; quem quer educação de qualidade para seus filhos tem que pagar escola particular; quem quer segurança tem que colocar cercas eletrificadas e pagar segurança particular, enquanto isso os serviços básicos como saneamento, infra estrutura, justiça e outros serviços públicos estão cada dia piores.
Será que um Congresso cheio deste tipo de políticos tem moral e legitimidade para propor reformas que vão penalizar ainda mais o povo, enquanto os privilégios, mordomias e benesses continuam favorecendo esta casta de privilegiados?
Será que é justo um país que paga um salário mínimo de fome aos trabalhadores que dão o duro enquanto alguns marajás da República recebem dos cofres públicos, dos impostos pagos por uma população que sofre, verdadeiras fortunas, mais de um milhão de reais por ano?
Pense nisso e imagine o que podemos e devemos fazer para nos livrar desta corja de salteadores dos cofres públicos e seus apaniguados.
*Professor universitário, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites e blogs, e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
DE NOTAS E MAIS NOTAS - Roberto Boaventura
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Contrariando Antônio Vieira, que pedia ao orador do séc. 17 que desenvolvesse apenas um tema por ocasião, neste artigo, tratarei de dois.
O primeiro se refere a uma recente nota inserida no site da UFMT, reforçada em entrevista coletiva de sua reitora sobre a crise financeira da Instituição, ora empreendida pelo governo Temer/PMDB.
Na essência, sem contraposições; ao contrário, até exalto a atitude da magnífica. Falar publicamente de crise nas universidades é ato político legítimo e corajoso; é para poucos. Todavia, respeitosamente, aponto alguns itens que foram esquecidos.
Embora seja dito na nota que, “De 2014 para cá, perdemos 50% dos recursos de capital e 20% de custeio, sem contar a inflação...”, nada é exposto sobre o comportamento político dos governos e reitorias anteriores.
Tais comportamentos – compreendidos e denunciados pelo Sindicato Nacional da categoria (ANDES-SN) – não isentaram ninguém (de Collor a Dilma, e Temer poderá ser o da vez) de enfrentar greves das universidades. Nem Lula/PT – para quem reitores serviram de tapete político – escapou.
Aliás, de Lula – sempre desdenhoso para com os servidores federais e sedento para se perpetuar no poder – se chamou a atenção para a expansão irresponsável que seu governo se nos impunha, subtraindo-nos a autonomia. Seu Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades (ReUNI) e o ENEM são exemplos cabais.
Lula, ao injetar recursos para construção de prédios nas universidades – em geral, mal feitos, muito mais para contemplar interesses de empreiteiras – mandou e desmandou nas federais. Servimos de moeda de troca. Simples assim.
Pergunto: o que os reitorados e os reitoráveis da época fizeram para cuidar do futuro das instituições? O que fizeram para preservar a Autonomia Universitária, consoante o Art. 207 da Constituição?
Como “o futuro” já é, relembro: a maioria, além de apoiar aquele governo, golpeou/cooptou os conselhos superiores para a imposição dessas expansões.
Na UFMT, vários dos novos cursos e o campus (aliás, sem o vergonhoso acento circunflexo em um termo da Língua Latina) de Várzea Grande, vizinho da capital, mas não só, são exemplos de expansão irresponsável. Aqui, chegou-se ao cúmulo de votar coisas do gênero fora do campus (de novo, sem o circunflexo, pois está no singular). Lembram-se da votação na OAB?
Mais: o que fizeram os magníficos quando Lula e Dilma – de novo, o PT pensando na perpetuação da espécie no poder – canalizaram recursos públicos aos cofres das privadas, por meio do ProUNI, FIES etc.?
Em casos tais, o requinte de maldade desses mandatários foi estupendo, pois todos sabemos que as instituições particulares, com raríssimas exceções, não trabalham com acadêmicos, mas com clientes. Isso diz tudo: diplomas sem lastro e povo iludido, quando não endividado.
Mas sob o manto da inclusão, mesmo que falsa ou capenga, só “ouvimos o silêncio” dos magníficos, que agora precisarão gritar; e gritarão, afinal, Lula não está lá para ouvir.
Nem Dilma, para quem vários magníficos até posaram para foto de sua reeleição. Deu no que deu.
Portanto, apontemos legitimamente a crise. Democraticamente, condenemos Temer, de quem se deve mesmo temer sempre, mas não nos esqueçamos das outras farinhas, pois são todas do mesmo saco. Aliás, bem juntinhos, subiram a mesma rampa. Alguns já rolaram. Outros rolarão.
O segundo tópico é sobre as impactantes imagens das notas de maços de dinheiro em caixas, paletós e mochilas, recebidas por políticos mato-grossenses – e ao que tudo indica, corruptos – durante o governo Silval Barbosa, o delator do cerrado.
De seus delatados, há um que – além de ex-deputado e procurador do Estado – é docente de Direito na UFMT, pelo menos é o que constava na “Apresentação” de sua página virtual em 28/08/2017.
Da parte da PGE, em nota, já foi admitida a gravidade das cenas, sinalizando com a abertura de Processo Administrativo Disciplinar contra aquele seu procurador.
No Rio, o professor que, nas redes sociais, incitou a violência, empunhando arma para comemorar a vitória de seu time, já recebeu as devidas e necessárias punições, e receberá outras, tão devidas quanto necessárias.
E a UFMT? Continuará no silêncio, fazendo-se passar por quem nada tem a ver com o problema tornado público em todas as mídias?
Nosso silêncio não poderia parecer um tipo de atestado de conivência institucional com a possível corrupção de um professor do seu quadro de efetivos?
Só para lembrar: esse colega foi liberado de suas funções acadêmicas para nos representar na Assembleia Legislativa, após sua eleição a deputado estadual.
Mas sua representação era como as imagens mostraram? Se for, fica por isso mesmo?
Outra lembrança: a despeito de eventual subtração de recursos públicos, que podem ser traduzidos pelos maços enfiados em sua mochila, sua própria liberação já impusera – isso com certeza – custos adicionais à sociedade, uma vez que alguém deve ter lhe substituído em seu Departamento.
Enfim, não estou, aqui, pedindo a condenação pública do colega previamente e sem julgamento, mesmo diante da nitidez das imagens, que constrangem. Estou solicitando que a UFMT se pronuncie, publicamente, no sentido de dar apoio irrestrito às investigações que o caso requer. Se houver condenação, que a Instituição tome as devidas providências no futuro.
De uma coisa, tenho certeza: o silêncio não nos fará bem.
A IDEOLOGIA ESTÁ “MORTA”? DELAÇÃO DE SILVAL BARBOSA - Naldson Ramos da Costa
Naldson Ramos da Costa[1]
Depois de várias decepções com a política partidária no Brasil procurei me afastar um pouco deste debate, mas sempre mantive certa vigilância até para me manter informado e participar do debate quando provocado por amigos, interlocutores e alunos em sala de aula.
Como bacharel em ciências políticas e sociais, o ofício de sociólogo nos obriga a refletir cotidianamente nossa conjuntura política, econômica e social. Por força da minha profissão, um dos temas que sempre esteve em debate é a questão da ideologia. Afinal, para que serve essa tal ideologia? Inicialmente vou partir de uma definição bem simples e direta. Ideologia é o conjunto de crenças e princípios que acreditamos ser válidos para nós e aceito por aqueles que comungam com estes princípios. Eu diria, simplificando mais, que são os valores morais e éticos que orientam a nossa prática no dia a dia, em relação ao que fazer para manter para pôr em prática esses valores. Que valores são esses? Valores como democracia, justiça social, transparência, legalidade e legitimidade, probidade, lealdade, respeito à constituição e aos direitos individuais e coletivos do cidadão.
Uma definição mais filosófica do século 19 diria que a ideologia é a totalidade das formas de consciência social, o que abrange o sistema de ideias que legitima o poder de uma classe. Neste sentido haveria dois tipos básicos de ideologia circulando entre a sociedade para legitimar esse poder: a ideologia burguesa ou dominante, e a ideologia da classe dominada ou proletária e socialista. Historicamente, desde a revolução francesa de 1789, a ideologia dominante prevaleceu como visão de mundo, e como tendo valor universal. De lá para cá, a ideologia socialista e seus representantes lutam para desmistificar esse valor universal a partir de outra ética. A ética da emancipação libertadora. Para isto elegem seus representantes através dos partidos que se identificam com a classe dominada.
Esse conjunto de valores e formas de consciência social e política, em princípio, é que deveriam orientar a atuação principalmente dos que foram eleitos para nos representar, ou representar estes princípios e valores democráticos aceitos por todos, inclusive pelos representantes legitimamente eleitos pelo povo. Seu mandato é para defender o interesse do povo. É para isto que foram eleitos. Mas no Brasil a ordem dos fatores, ou melhor, dos valores se invertem de tal maneira que o eleitor fica completamente confuso, a ponto de achar que o errado passou a ser o certo. Roubar, corromper, sonegar, falsificar, mentir é que se tornou o correto. Os políticos, quando denunciados provam para a imprensa, para o eleitor, e até para a justiça que as imagens e o conteúdo das delações não são provas para incriminá-los. E ainda, contam com apoio do ministro Gilmar Mendes, entre outros para inocentá-los.
No Brasil tudo se inverte. Na velha República (1889/1930) se dizia: “nada mais liberal do que um conservador no poder; e nada mais conservador do que um liberal no poder”. De lá para cá, e até hoje, olhando para as delações premiadas eu diria: nada mais corrupto do que um representante da classe dominante no poder; e nada mais corrupto do que um representante da classe dominada no poder. Ou seja, tudo a mesma coisa. Tudo ladrão, corruptos e mentirosos. Vendem a sua dignidade em troca do poder, por outro lado, vendem a sua mãe para se manter no poder. Que ideologia que nada. Às favas a ideologia e o mandato para representar o povo. Parafraseando a letra da música ideologia de Cazuza eu diria que meus heróis não morreram. Fazem parte, ou estão no poder roubando, juntamente com meus inimigos.
Qual a saída, ou a solução? Delação premiada? Justiça? STF? Repito, meus inimigos têm representantes em todas as esferas do poder. Reconheço o esforço de Procuradores, Ministério Público, delatores bandidos “arrependidos”,e imprensa, não tem se mostrado eficiente para fazer justiça. O Presidente Michel Temer, corrupto e cara de pau, impede ($$$) que a Câmara dos Deputados dê autorização para investigá-lo. Gilmar Mendes, entre outros, impede a prisão dos seus aliados e amigos. No Brasil tudo se inverte para ficar tudo como está. A saída, que deveria ser de todos que votam, é não reeleger nenhum dos atuais políticos: de vereador a presidente da república. Ou então, VOTO NULO. Só assim para pressionarem a fazerem a reforma política.
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[1] Naldson Ramos da Costa, sociólogo, cidadão indignado com a política brasileira e mato-grossense.
JUACY DA SILVA*
Mais de cem milhões de habitantes no Brasil não tem acesso ao Sistema de coleta de esgoto, isto representa 49,7% da população em 2016, que estão lançando esgoto nas ruas, vielas, rios, córregos, lagoas, manguezais e no mar, transformando nosso país em um verdadeiro esgoto a céu aberto.
Dos esgotos tratados, apenas 42,7% são tratados. Todavia esses índices variam muito de uma região para outra. Na região Norte apenas 14,6% são tratados, passando para 32,1% no Nordeste; 47,4% no Sudeste, 41,4% no Sul e 50,2% no Centro Oeste. Para universalizar o acesso da população brasileira aos serviços de coleta e tratamento de esgoto serão necessários mais de 500 bilhões de reais entre 2017 até 2033, investimento anual em torno de R$40 bilhões.
Este é um dos retratos de nosso país, onde governantes , gestores públicos e empresários corruptos deixam de dedicar seus esforços, tempo e recursos para o atendimento da população que sofre o caos e descaso nos serviços públicos, para se dedicarem a montar esquemas sofisticados de como roubar os cofres públicos.
Nossa Constituição, a tão falada democracia e o endeusado “estado democrático de direito”, que já completaram três décadas, não tem conseguido nem realizar as obras físicas de saneamento básico e muito menos tratar o maior esgoto a céu aberto do país ou talvez do planeta, que é o esgoto politico a céu aberto, este sim, que transforma nosso país, a política, a gestão pública e as atividades empresariais em um lamaçal ético, uma realidade fétida.
Ano após ano nessas três décadas parece que a roubalheira, o descobrimento de verdadeiras quadrilhas de colarinho branco enquistadas na estrutura do poder, estão dilacerando nossas instituições e desacreditando as nossas autoridades.
O ex-presidente Lula, cujo governo foi um covil de salteadores, recentemente condenado em primeira instância por corrupção, deixou uma frase que sintetiza bem a situação, ao dizer que no Congresso Nacional teriam assento nada menos do que 300 picaretas, sem mencionar qual o percentual de corruptos e picaretas estariam nos demais poderes da República. O que se sabe é várias centenas de deputados federais, senadores, deputados estaduais, ministros, governadores, secretários, prefeitos e vereadores , conselheiros de tribunais de contas, membros do poder judiciário, empresários tem sido denunciados e uns poucos investigados e um número insignificante condenados por crimes de corrupção, formação de quadrilha, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e outros crimes de colarinho branco.
Por ironia do destino, coube a Câmara Federal iniciar o processo de impeachment da ex-presidente Dilma, possibilitando que seu companheiro de chapa Temer chegasse a Presidência da República, dando continuidade aos mesmos esquemas e mecanismos de corrupção que durante mais de 15 anos vigoraram nos governos Lula/Dilma, em uma aliança entre PT, PMDB e outros partidos menores.
Essa mesma Câmara, cujo ex todo poderoso presidente Eduardo Cunha encontra-se preso pela Operação Lava Jata, com o votos de centenas de deputados federais investigados por corrupção e com o uso de recursos públicos e outros expedientes nada éticos, acabou livrando Temer, pego em gravações comprometedoras e escandalosas, de ser investigado, processado, condenado e preso por corrupção.
Todos os dias, ao longo dos últimos anos, desde o caso dos anões do orçamento no Congresso Nacional, com destaque para o Mensalão e a LAVA JATO, diversas operações policiais são realizadas, em uma verdadeira caçada aos corruptos, quando autoridades , gestores públicos e empresários são presos por praticarem corrupção envolvendo recursos públicos.
Com o advento da delação premiada ou colaboração com a justiça, a opinião pública tem assistido de forma cínica e despudorada as confissões desses figurões da política e da administração pública de como e quanto roubaram e que ao serem presos ou investigados, para livrarem a própria pele, acabam confessando seus roubos, na certeza de que assim fazendo, poderão perder os anéis e preservarem os dedos.
Com toda certeza, se a falta de saneamento revela o lodo e outros excrementos que correm a céu aberto pelas nossas cidades, o que se passa na política e gestão pública brasileira é mais fétida e nosso país pode ser considerado um ou talvez o maior esgoto politico a céu aberto do planeta.
Será que alguém acredita que um Congresso Nacional, um Governo e partidos integrados por este tipo de gente tem dignidade, tem moral e ética para nos governar e ainda aprovar reformas e outras medidas que vão afetar negativamente a vida de milhões de brasileiros atuais e das próximas gerações?
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de jornais, sites e blogs. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blogwww.professorjuacy.blogspot.com
SOBRE SAUDADES - Roberto Boaventura
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Quem nunca ouviu dizer que “saudade” é termo peculiar da língua portuguesa, aliás, em avançadíssimo estágio de assassinato? E cá entre nós, essa peculiaridade já rendeu coisas interessantes. Algumas – frutos de aprendizados escolares – fazem parte, ao menos até o momento, de nossa memória afetiva.
Nesse sentido, mesmo sabendo da existência de outras, resgato duas pérolas do nosso Romantismo e uma aproveitada por MPB. Todas continuam nos ajudando (ou atrapalhando) na consolidação como seres saudosos que somos.
A primeira refere-se ao poema “Meus oito anos” de Cassimiro de Abreu. Quem não se lembra daquele “Oh! Que saudades que eu tenho// Da aurora da minha vida// Da minha infância querida// Que os anos não trazem mais”?
O segundo resgate não contém a palavra “saudade” uma vez sequer. Contudo, paradoxalmente, não me lembro de outro texto de nossa literatura que possa exprimir esse sentimento de forma tão intensa, pelo menos no âmbito de uma coletividade. Estou falando da “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias.
Aquele poeta – movido pela necessidade de seu tempo, ou seja, enaltecer sua pátria, por mais complexa que já fosse – soube traduzir, como poucos, o sentimento saudade. Para comprovar, transcrevo a primeira de suas cinco estrofes:
“Minha terra tem palmeiras// Onde canta o sabiá// As aves, que aqui gorjeiam// não gorjeiam como”.
Ufanisticamente falando, em relação ao referido “cá” (Portugal), tudo o que fosse e/ou pudesse lembrar o seu “lá” (Brasil) era melhor. Daí a força, naquela canção, de sua segunda estrofe:
“Nosso céu tem mais estrela// Nossas várzeas têm mais flores// Nossos bosques têm mais vida// Nossa vida mais amores”.
Agora, no âmbito da MPB, dorida ao extremo é a versão de “Meu primeiro amor”, de Hermínio Gimenez, feita por José Fortuna e Pinheirinho Jr.
Em plano de dor existencial, portanto, no espaço da individualidade, a palavra em pauta é a que abre a referida versão:
“Saudade’, palavra triste quando se perde um grande amor// Na estrada longa da vida, eu vou chorando a minha dor...”.
Pois bem. Se sobre essas “saudades”, as lembranças podem ser saudáveis, nem todas as nossas saudades resgatadas cotidianamente os são.
Para tratar disso, saio do foco das artes conhecidas como tais e vou para o campo da política. Nela, pelos espaços reais e/ou virtuais, muitos dos discursos saudosistas são repugnantes.
Das repugnâncias que tenho visto, destaco duas intoleráveis, cada qual por suas especificidades: a) saudades dos tempos da ditadura militar; b) saudades dos tempos dos desgovernos petistas.
Em recente debate de que participei, presenciei docentes universitários compartilhando, ao vivo e em cores, saudades tais. Fiquei estarrecido com ambos os casos, pois não tenho o menor apreço a nenhum desses entes passados. Aliás, de nossa história, de quantas páginas poderíamos sentir saudades? De quantas, a saudade seria digna?
Sobre a ditadura, crueldade, nunca mais. Simples assim.
A respeito da outra saudade política, deveria ser inconcebível admitir o retorno ao espaço de poder de um agrupamento político-partidário que se esmerou em ludibriar os trabalhadores com políticas focalizadas, que acirrou divisões entre brasileiros da mesma classe social, que se enlameou com empresários corruptos e que estabeleceu uma organização criminosa com tentáculos até mesmo em países alhures. Portanto, nem pensar nesse tipo de retrocesso.
Enfim, é mister que sejamos seletivos, pelo menos em nossas saudades. Isso só nos fará bem, expondo-nos menos ao próprio ridículo.