Sexta, 25 Maio 2018 17:25

*Atualizada às 14h55 do dia 28/05/18: A atividade cultural programada para a noite do dia 28/05 - Lusco Fusco Happy Hour Cuiabano - foi suspensa. 

 

No início da próxima semana, de 28 a 30/05, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) sediará, pela primeira vez, uma Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA). O evento foi realizado pela primeira vez em 2014 e, desde então, mais de 50 universidades já realizaram edições do encontro. O objetivo é inserir a discussão sobre o projeto de Reforma Agrária e os temas que circundam essa questão nos estudos desenvolvidos nas áreas de humanas, saúde, agrárias, educação, entre outras.

 

Para o professor da Faculdade de Economia, Armando Tafner, um dos organizadores do evento, trazer esse debate para dentro de um dos principais polos do agronegócio é fundamental. “É a primeira vez que a UFMT vai receber uma JURA, e isso é muito simbólico. O Mato Grosso é um dos maiores concentradores de terra da União. Aqui você tem o maior consumo de agrotóxico e o menor número de compradores, o que demonstra a inviabilidade do negócio: quanto menos pessoas com terra, mais pessoas sem terra. Então, que a JURA possa ser utilizada na instituição de ensino superior por meio da pesquisa, ensino e extensão, direcionando a discussão sobre as ferramentas para a redistribuição de terra acontecer”, afirmou o docente.

 

Tafner acrescenta que as Jornadas são realizados em todo o país nos meses de abril ou maio para relembrar o massacre de Eldorado do Carajás, onde 16 trabalhadores rurais sem terra foram assassinados. Vinte e dois anos depois, ninguém foi responsabilizado.

 

Além disso, para o professor, o evento significa uma aproximação da universidade com o Movimento Sem Terra (MST). “A instituição de ensino superior é um espaço onde uma elite intelectual poderá ouvir as demandas, ajudar a propor encaminhamentos, e fazer com que cheguem ao poder público, demonstrando as dificuldades da luta, mas também que é preciso fazer alguma coisa diante de um cenário tão caótico como o brasileiro, ainda pior em Mato Grosso”, acrescentou.      

 

De acordo com a professora Mirian Sewo, do Departamento de Psicologia, o evento contemplará discussões ainda mais amplas. “A JURA é um evento importante para colocarmos em pauta a discussão da Reforma Agrária Popular, a denúncia das opressões vividas no campo e na cidade, o Golpe de 2016, os efeitos do agronegócio na saúde do povo, as perseguições aos movimentos sociais, os retrocessos dos direitos da classe trabalhadora, entre outros temas. A Jornada reúne professores e estudantes de várias áreas diferentes, cada qual contribuindo com seus estudos e projetos, e esse é o ponto mais rico do evento, essa parceria na defesa da Reforma Agrária entrelaçada pela certeza de que uma outra sociedade é possível e de que a utopia continua viva e pulsante”, afirmou a docente, que também está na organização.

 

Entre os convidados para contribuir com os debates estão a historiadora Anita Leocádia Prestes - filha de Olga Benário e Luís Carlos Prestes, que lançará um livro no último dia do evento -, os dirigentes nacionais do MST, João Paulo Rodrigues e Kelly Manfort, e o professor da Universidade Federal do Amazonas, Gersem Baniwa.  

 

Além dos debates e oficinas, os participantes também poderão conhecer os produtos da Reforma Agrária em uma feira com diversos itens de Mato Grosso e de outros estados do país, e visitar a exposição fotográfica “Terra e Resistência”, que reúne cinco coleções fotográficas sobre a luta pela terra e formas de resistência empreendidas pelos trabalhadores sem terra, povos indígenas e quilombolas, e pela própria universidade.

 

Na noite do primeiro dia de evento, 28/05, o público do JURA será convidado especial da 2ª edição do Lusco Fusco, happy hour cuiabano, realizado pela Adufmat-Ssind. A ideia é promover diversas atividades culturais para marcar a unidade dos trabalhadores num contexto político cada vez mais delicado e de necessária mobilização. Além do espaço de debate descontraído, intervenções artistas e palco aberto co karaokê, os presentes poderão saborear comidas típicas e bebidas (ATIVIDADE CANCELADA - LEIA MAIS AQUI).

 

As inscrições para a JURA são gratuitas, basta preencher a ficha disponível no site do evento (clique aqui) e as atividades serão divididas entre o Museu de Arte e Cultura Popular da UFMT (Centro Cultural da UFMT), auditório da Adufmat-Seção Sindical do Andes e outros espaços da instituição. Confira na íntegra da programação abaixo:

   

 

28/05 SEGUNDA-FEIRA

13:30 - Audiência Pública na Assembleia Legislativa: Os direitos dos Povos Indígenas em Mato Grosso e no contexto nacional

Presença do Prof. Gersem Baniwa

Local: Assembleia Legislativa 

​14:00 - 17:00

Palestra: Zoneamento socioeconômico e ecológico e reforma agrária no MT

Local: Auditório da ADUFMAT

​15:30 - 18:00

Oficina de Poesia Marginal com Júlia Karoline e Lígia Viana. Só 60 vagas! Inscrição na Oficina

Local: Auditório do IGDH

​18:00 - Abertura da Exposição "Terra e Resistência"

Local: Museu de Arte e Cultura Popular da UFMT - MACP

​19:00 - 21:00

Palestra de abertura: Análise de conjuntura com João Paulo Rodrigues (MST-SP)

Local: Centro Cultural

29/05 TERÇA-FEIRA

 

8:00-10:00

​Palestra: Reforma agrária popular com Vanderly Scarabeli - MST/MT

Local: Centro Cultural

9:00-12:00

Lançamento do Relatório Dataluta Mato Grosso e Brasil com Profª. Onélia Carmem Rossetto - UFMT

 

Local: Auditório IGHD

Coordenação: Gabriel Miranda

10:00-12:00 

Mesa redonda: Violência no campo e trabalho escravo com Wellington Douglas Rodrigues da Silva e Cristiano Apolucena Cabral – ambos da CPT

Local: Centro Cultural

Coordenação: Luana da Cruz Burema

10:00-12:00

Roda de conversa: 50 anos da Pedagogia do Oprimido

Roda de conversa sobre Paulo Freire e os 50 anos da obra “Pedagogia do Oprimido”

- Prof. Aldi Nestor de Sousa - UFMT

- Prof. Luiz Augusto Passos - UFMT

- Profa. Mírian Sewo - UFMT

Local: Auditório do ICET

Coordenação:  Prof. Aldi Nestor de Sousa - UFMT

14:00-16:00

Mesa Redonda: Terra, saúde e trabalho

Local: Centro Cultural

A mesa abordará os temas que envolvem a concentração de terra, as relações sociais do trabalho e a saúde do trabalhador do campo.​

- Profª. Beatriz dos Santos de Oliveira Feitosa – UFMT

- Pofº. Maelisson Silva Neves – UFMT

- Profº. Sandro Aparecido Lima dos Santos - IFMT

Coordenação: Profº. Armando Wilson Tafner Júnior – UFMT

14:00-16:00

Painel: Territórios e resistências no campo

Local: Auditório do IGHD

Este painel tem como objetivo debater, na perspectiva da Geografia, as relações que ocorrem nos territórios camponeses que podem representar espaços de resistência.

- Dehbora Alves da Costa – Mestre em Geografia - UFMT

- Patrícia Wolff Sampaio – Mestre em Geografia - UFMT

- Zenildo Crisostomo do Prado – Mestre em Geografia - UFMT

- Dayane Pricila Alves Godoi – Mestre em Geografia - UFMT

- Clóvis Vaillant – Mestre em Geografia - UFMT e membro da Coordenação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária

Coordenação: Profª. Giseli Dalla-Nora e Profª. Meire Rose A. Oliveira - UFMT

14:00-16:00

Roda de conversa: Diálogos sobre Educação, Movimentos Sociais, Povos da Floresta e Comunidades Tradicionais

Local: Auditório do IE

- Profª. Nilce Vieira Campos Ferreira – UFMT

- Luciano da Silva Pereira - SEDUC

- Sandra Jung de Mattos – PROCEV/UFMT

- Silvia Maria dos Santos Stering – PROEG/IFMT

Coordenação: Profª. Nilce Vieira Campos Ferreira – UFMT

14:00-16:00

Seminário: Trabalho associado e agroecologia

Local: Auditório do PPGE/IE - Sala 68

O Seminário objetiva discutir o significado do Trabalho Associado e da Agroecologia, a partir da existência, resistência e experiências dos assentamentos e dos povos e comunidades tradicionais. O público alvo serão alunos/as de graduação e de pós-graduação, pesquisadores/as, camponeses/as e comunidade.    

- Trabalho Associado - Prof. Edson Caetano  - UFMT

- Agroecologia - Prof. Cristiano Cabral - UFMT

- Trabalho Associado e Juventude Camponesa - Eva Emília F. do N. Azevedo (Doutoranda PPGE/UFMT)

- Trabalho Associado e agroecologia - Germana Benedita da Silva (produtora agroecológica e moradora da Comunidade Mutum)

- Juventude do campo, trabalho e agroecologia – Shirley da Costa (assentada, produtora agroecológica, juventude do assentamento Roseli Nunes, Mirassol D’Oeste)

Coordenação: Prof. Edson Caetano  - UFMT

14:00-16:00

Cine debate: Arpilleras

Local: Auditório do ISC

O documentário conta a história de luta e resistência de cinco mulheres atingidas por barragens das cinco regiões brasileiras denunciando as violações de direitos das populações atingidas, principalmente as mulheres, o modelo energético e a lógica predatória das empresas do setor elétrico.

Coordenação: Victoria Oliveira

16:00-18:00 

Mesa redonda: Criminalização dos movimentos sociais

Local: Centro Cultural

- Profª. Alair Silveira - UFMT

- Profº. Paulo Delgado – UFMT

- Profª. Lélica Ellis Lacerda – UFMT

Coordenação: Profº. Daniel Fanta – UFMT

19:00-22:00

Conferência: Golpe e os direitos indígenas 

Profº. Gersem Baniwa - UFAM

30/05 QUARTA-FEIRA

 

​08:00-10:00

Mesa redonda: Levantandas do chão - Da luta por igualdade à perseguição do feminismo

Local: Centro Cultural

Coordenação: Profª. Qelli Rocha - UFMT

08:00-10:00

Palestra: Privatização da Reforma Agrária

Local: Auditório do IGHD

Vanderli Scarabeli - MST/MT

Coordenação: Profª. Camila Salles - UFMT

08:00-10:00

Mesa redonda: Educação do campo: avanços e desafios

Local: Auditório do IE

A palestra abordará a educação rural no Brasil, história e conceito da Educação do Campo, a Educação do Campo e o golpe e desafios da Educação do Campo.

Palestrante:

- Solange Serafim dos Santos - MST/MT

- Prof. Rui Leonardo Souza Silveira - IFMT

- Profa. Ozerina Victor de Oliveira - UFMT

Coordenação: Júlio César Barbosa Pedroso da Cruz

10:00-12:00

Mesa redonda: Faces do Golpe de 2016 na América Latina e um Projeto para o Brasil

Local: Centro Cultural

- Faces do Golpe na América Latina – Profª. Alair Silveira - UFMT

- O golpe e a discussão de um Projeto para o Brasil – Antonio Carneiro de Menezes (MST/MT)

- Golpe, autonomia universitária e reforma educacional – Prof. Reginaldo Araújo - UFMT

Coordenação: Profª. Haya Del Bel

14:00-16:00

Mesa redonda: Mineração, energia, reforma agrária e os conflitos dos programas de desenvolvimento

Local: Centro Cultural

A mesa irá discutir os grandes projetos agropecuários, minerais e energéticos impostos, desde pelo menos o golpe civil-militar de 1960 até a Amazônia Legal

- Profº. José Domingues de Godói Filho - UFMT

- Profº. Dorival Gonçalves Junior – UFMT

Coordenação: Profº Waldemir Rodrigues - UFMT

14:00-16:00

Mesa redonda: O Golpe de 2016 e suas relações com a imprensa e o judiciário

Local: Auditório do IGHD

– Profº. Paulo Rocha - UFMT

- Tiago Cury - UFMT

- Prof. Luiz Alberto Esteves Scallope - UFMT

Coordenação: Profº. Paulo Rocha

15:00-18:00

Oficina de Teatro do Oprimido com Profª. Naine Terena de Jesus. Só 30 vagas! Inscrição na Oficina

Local: Sala 1 do IGHD

16:00-18:00

Cine debate: Pão, paz e terra

Local: Centro Cultural

Debatedora: Luana Souza Santos

Coordenação: Armando Wilson Tafner Júnior – Economia/UFMT

16:00-18:00

Cine debate: Psicologia ambiental - O cerrado como território de vida, resistência e subjetividades

Local: SALA 3 do IE

- Profª. Jane Cotrin - UFMT

- Profª. Mírian Sewo - UFMT

- Profª. Jane Vignado - UFMT

Coordenação: Pofª. Mírian Sewo – UFMT

19:00-21:00

Conferência e lançamento do livro "Olga Benário Prestes - Uma Comunista Nos Arquivos da Gestapo"

Local: Centro Cultural

Profª. Anita Leocádia Prestes

 

Mais informações: https://juramatogrosso.wixsite.com/jura

 

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Sexta, 28 Julho 2017 11:22

 

Cerca de 500 trabalhadores rurais sem terra deixaram, na manhã dessa sexta-feira, 28/07, uma das fazendas da família do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, ocupada desde o dia 25/07. O ato fez parte da Jornada Nacional de Lutas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em defesa do direito constitucional à terra por meio da Reforma Agrária.

 

A fazenda do grupo Amaggi está localizada em Rondonópolis (218 km de Cuiabá), quilômetro 94 da BR 163, região sul de Mato Grosso. O grupo representa um dos maiores expoentes do Agronegócio na América Latina, com empreendimentos em todas as regiões do Brasil, além da Argentina, Paraguai, Holanda, Noruega e Suíça.  

 

Todo o processo de ocupação e as demais intervenções políticas ocorreram sem intercorrências. Os trabalhadores ocupados demonstraram, inclusive, entusiasmo com a perspectiva de dialogar com os funcionários da fazenda sobre as condições de trabalho na empresa, além das demandas do Movimento.  

 

A ocupação, como parte da Jornada de Lutas, que esse ano tem o tema “Corruptos, devolvam nossas terras”, ocorreu durante a divulgação de outro fato que envolve o ministro Blairo Maggi em transações aparentemente pouco republicanas: a aquisição, pelo grupo Amaggi, de 70% do subsídio leiloado para dar suporte ao transporte de milho (clique aqui para ler mais). De acordo com a Folha de S. Paulo, em matéria publicada no início dessa semana, “os resultados ressaltam uma situação incomum no Brasil, em que o principal funcionário do Ministério da Agricultura tem ligações com uma importante companhia do agronegócio. Praticamente todos os leilões deste ano foram voltados para o milho de Mato Grosso, o maior produtor brasileiro do cereal, onde a Amaggi tem atuação mais forte e onde os preços também sofreram mais o efeito de uma colheita recorde. Isso exigiu o programa do governo, que, por lei precisa garantir uma remuneração mínima aos agricultores”.

 

 

 

O ministro também já foi acusado de envolvimento com práticas de grilagem e plantação de soja em área de desmatamento ilegal.  

 

Em nota, o MST Nacional afirmou que Blairo Maggi "exerce a função de ministro para garantir as condições necessárias para o desenvolvimento das suas fazendas e do agronegócio", e cita, ainda, o apoio para autorizar a venda de mais veneno para ser usado na agricultura, e a redução das áreas de preservação ambiental, como a Reserva do Jamanxim, no estado do Pará.

 

Na manhã de quinta-feira, 27/07, os trabalhadores rurais bloquearam a Ferrovia Senador Vicente Vuolo (Ferronorte), que passa há poucos quilômetros do local ocupado, interrompendo o transporte de grãos no estado por pelo menos 8h.  

 

Foto: Divulgação MST

 

Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso, solidários à luta do MST, visitaram a ocupação logo após a ação na ferrovia. O presidente da Adufmat – Seção Sindical do ANDES, Reginaldo Araújo, acompanhado dos colegas Qelli Rocha e Aldi Nestor, foram ao local conversar com os trabalhadores.

 

Assim que deixaram a fazenda, os trabalhadores sem terra seguiram para a região central de Rondonópolis, onde participaram de uma celebração religiosa na Praça Brasil. Em seguida, partiram, em marcha, para o escritório da Amaggi no município.

 

Já no final do ato, o ministro Blairo Maggi foi ao local, escoltado pela ROTAM - Ronda Ostensivas Táticas Metropolitanas. Ele chegou a se aproximar dos manifestantes, mas de acordo com informações de participantes, não houve diálogo.  

 

Foto: Edzar Allen/Adufmat-Ssind

 

As ações da Jornada de Lutas do MST também marcam a posição contrária do Movimento com relação as reformas Trabalhista, da Previdência e a Lei da Terceirização.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Sexta, 28 Abril 2017 00:27

 

 

Velas na frente do auditório da Adufmat-Ssind na noite de quarta-feira, 26/04, indicavam: seria uma noite de luto. As pequenas chamas iluminavam os nomes dos nove trabalhadores rurais vítimas da chacina praticada no último final de semana na Gleba Taquaruçu, em Colniza, a 1.065 km ao norte da capital de Mato Grosso. O crime, com evidências de tortura, foi cometido a mando de fazendeiros da região. No auditório da Seção Sindical do ANDES na UFMT, à convite de entidades solidárias à luta pela terra, a noite de quarta-feira foi de luto, e muita comoção.

 

Na mesma semana em que o massacre de Eldorado dos Carajás completa 21 anos, sem a condenação ou punição dos responsáveis pelas 19 mortes, a chacina em Colniza escancara que ainda há muito a avançar para garantir o direito efetivo à terra. Há outros dados igualmente preocupantes. Em Mato Grosso, somente em 2016, mais de 40 mil famílias se envolveram em conflitos no campo. Registramos o maior número de assassinatos dos últimos 13 anos no país: 61 no total; uma média superior a cinco por mês. Os primeiros quatro meses de 2017 já somaram 32% do total de mortes do ano anterior.  

 

As informações acima são da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma das entidades organizadoras do ato, junto a Adufmat-Ssind, Instituto Caracol, Levante Popular da Juventude, PET Conexões de Saberes, Movimento dos Atingidos por Barragens em Mato Grosso (MAB/MT), Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA/UFMT), e Laboratório de Estudos e Pesquisas da Diversidade da Amazônia Legal (Leal - Juara/MT). Os números da violência foram lidos durante uma mística em volta de um rio de sangue, seguidos dos nomes das últimas vítimas. “Presente, presente, presente!”, diziam os convidados, após a pronúncia de cada nome.

 

“A violência e os assassinatos têm relação direta com o agronegócio”, disse a representante da CPT, Elizabete Flores. Ela afirmou ainda que o Estado é omisso e convivente com os crimes, pois as instituições responsáveis não tomam nenhuma providência, mesmo diante de centenas de denúncias. “No ano passado, uma comunidade registrou 396 boletins de ocorrência, e nenhum inquérito foi aberto até hoje”, garantiu.

 

Mas os depoimentos mais chocantes vieram de quem sofre a violência cotidianamente. Duas moradoras de assentamentos, que terão os nomes preservados, relataram diversos tipos de ameaças e agressões. Dentre as ações relatadas, constam absurdos como a queima dos lotes e residências; corte das cercas; sobrevoo com veneno, causando a internação dos assentados; ameaças às crianças; destruição das estruturas necessárias para a instalação de energia; destruição das plantações; capangas rondando as terras cedidas às famílias pelo Incra.

 

O principal apelo, apesar do descrédito e desânimo, foi para que as autoridades cumpram seu papel. “É preciso agir, abrir os olhos antes que provoquem outra tragédia como a de Colniza. A gente tem filho, a gente se preocupa. A gente recebeu a terra do Incra, e quer trabalhar”, afirmou uma das convidadas.

 

O vice-presidente da Adufmat-Ssind, Maelison Neves, destacou que as guerras químicas que causam terror no exterior também se dão no Brasil, em certo nível. A recorrente agressão direta com agrotóxicos, como relatam os trabalhadores do campo, além do uso dessas substâncias, muitas já proibidas em outros países, nos alimentos, oferecem riscos reais à população.

 

Além disso, o sindicalista evidenciou a posição do Estado diante desses conflitos. “As narrativas aqui mostram o caráter classista do Estado. Não somente os governos, mas a Justiça, o Ministério Público, todas as instituições estão do mesmo lado. Se mostram ligeiras para reintegração de posse de latifundiários, mas não conseguem apurar os crimes cometidos contra os trabalhadores rurais. Registro aqui o nosso repúdio, a nossa solidariedade aos companheiros, e o nosso compromisso com a luta pela terra”, afirmou.

 

Também fizeram parte da mesa os professores Alexandre César e Erivã Velasco, representando o Conselho de Direitos Humanos e a Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso, respectivamente. Ambos destacam o apoio das entidades nas lutas dos trabalhadores rurais.

 

No ato, bastante simbólico, os participantes entoaram ainda canções de luta, como “Funeral de um lavrador”, de Chico Buarque, e a versão em português de “Solo pido a dios”, de Mercedes Sosa. O Encerramento foi realizado após a leitura de uma nota, disponível para assinaturas de outras entidades no link: http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR99331

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind   

 

Terça, 25 Abril 2017 19:04

 

Famílias, que moram na área, são atacadas por fazendeiros desde 2004 
 
No dia 20 de abril, nove pessoas foram assassinadas em uma área rural, na gleba Taquaruçu do Norte, próximo ao Distrito de Guariba, no município de Colniza, localizada a mais de mil quilômetros de Cuiabá, capital de Mato Grosso. O município é um dos líderes no ranking de desmatamentos na Amazônia.
 
Segundo os técnicos da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) do estado, que realizaram os exames de necropsia nos corpos, algumas vítimas foram amarradas e apresentavam sinais de tortura – com golpes de facão e tiros de espingarda. São elas: Fábio Rodrigues dos Santos de 37 anos, Izaul Brito dos Santos de 50 anos, Ezequias Santos de Oliveira de 26 anos, Samuel Antônio da Cunha de 23 anos, Francisco Chaves da Silva de 56 anos, Aldo Aparecido Carlini de 50 anos, Edson Alves Antunes de 32 anos, Valmir Rangeu do Nascimento de 55 anos e Sebastião Ferreira de Souza de 57 anos, que era pastor da Assembleia de Deus. Sete vítimas são de Rondônia, uma de Mato Grosso e uma de Alagoas.
 
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os conflitos fundiários no local ocorrem há mais de 10 anos, onde já aconteceram outros assassinatos e agressões. A CPT informou que investigações policiais feitas nos últimos anos apontaram que “os gerentes das fazendas na região comandavam uma rede de capangas, altamente armados, que usavam do terror para que a área fosse desocupada pelos pequenos produtores”.
 
Vitor Wagner de Oliveira, 1° vice-presidente da Regional Pantanal do ANDES-SN, explicou que a disputa pela terra na Amazônia Legal, entre fazendeiros e pequenos agricultores é histórica. “A disputa por terras resulta em enfrentamentos em que pistoleiros entram em ação, bancados por fazendeiros, e ameaçam e assassinam os indígenas e os pequenos produtores de terra. Sabemos que neste caso, especificamente, as pessoas estavam recebendo ameaças há muito tempo e eles resistiram até, infelizmente, essa chacina ocorrer”, disse.
 
Histórico do Conflito

Segundo a CPT, em junho de 2004, as famílias do Taquaruçu do Norte foram expulsas do assentamento por homens fortemente armados, que teriam destruído suas plantações. Na área estavam assentadas 185 famílias. O suspeito pela expulsão dizia ter comprado às terras. 
 
Na época, o Juiz de Direito da Comarca de Colniza concedeu reintegração de posse em benefício da Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt (Cooperosevelt), formada por trabalhadores rurais. Na ação, os trabalhadores argumentaram que desde o mês de outubro de 2002 possuíam a posse de uma área do Assentamento Roosevelt, a Gleba Taquaruçu do Norte, com 42.715 hectares, onde exerciam atividades agrícolas.
 
Após a decisão da Justiça, em 2007, pelo menos 10 trabalhadores foram vítimas de torturas e cárcere privado. Os responsáveis pelas violências são fazendeiros que atuam na região de Colniza, em associação com uma organização que atua especificamente na extração de madeira ilegal. Ainda em 2007, no mês de janeiro, o agricultor Gilberto Ivo da Rocha foi assassinado. Em abril do mesmo ano, mais dois agricultores foram assassinados, João Pereira de Andrade e Olivar Ferreira Melo. Os suspeitos pelas mortes são da mesma associação de pistoleiros.
 
Números da violência  
Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em colaboração com movimentos populares, apontam que em 2016 foram registrados 1.536 conflitos, envolvendo 909.843 famílias. No ano anterior, os índices respondiam por 1.217 conflitos e 816.837 famílias – resultando em um aumento de 26% no número de conflitos.
 
O relatório revela, com destaque, a elevação dos crimes contra a vida. O número de assassinatos aumentou em 22% em 2016, em relação ao ano anterior. Em 2015, 50 trabalhadores rurais foram assassinados. Já no ano passado, o número corresponde a 61 mortes. A maior parte dos assassinatos, cerca de 79%, ocorreu na Amazônia Legal, área que compreende os estados da região Norte somados ao Maranhão e Mato Grosso. Em 2006, o número de mortos era a metade, 30. A área, de grande interesse dos setores ruralistas pela potencialidade de exploração, também responde pela maior parte das tentativas de assassinatos (68%) e ameaças de morte (86%). 
 
O diretor do ANDES-SN afirmou que os números traduzem a ausência do Estado nestas aéreas. “Os conflitos acontecem em regiões que o Estado não está presente, na forma de garantir direitos básicos e segurança, ele só chega depois do ocorrido, geralmente para manter a ordem do Capital. Além disso, o isolamento dessas comunidades facilitam as ações de pistoleiros e dos seus mandatários”, explicou.
 
21 anos de impunidade
O último dia 17 desse mês, marcou os 21 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, quando 21 integrantes do Movimento Sem Terra (MST) foram assassinados após a polícia militar paraense tentar impedir uma marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras na rodovia PA-150. Outros 69 trabalhadores rurais foram mutilados com facões e foices. A chacina ocorreu no ano de 1996, no município de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, e ganhou repercussão nacional e internacional, ao lado do Massacre do Carandiru (1992) e da Chacina da Candelária (1993). Muitos dos envolvidos no massacre até hoje não foram punidos.
 
“O caso ocorrido no dia 20 de abril não é um caso isolado. Aconteceu de fato, assim como diversos casos emblemáticos - como exemplo o massacre de Eldorado dos Carajás -, que desnudam o que acontece no cotidiano e vem acontecendo há décadas”, lamentou o diretor do Sindicato Nacional.
 
Por fim, Vitor Wagner de Oliveira cobrou a punição dos pistoleiros e fazendeiros envolvidos na chacina em Taquaruçu do Norte. Para ele, é de extrema importância o posicionamento do ANDES-SN nesta luta e em favor da Reforma Agrária. “É papel do Sindicato, classista e combativo, estar ao lado dos movimentos sociais de luta pela terra e cobrar do Estado a Reforma Agrária de fato para garantir a defesa dessas comunidades diante dos ataques dos inúmeros ataques dos fazendeiros e seus pistoleiros. Precisamos lutar em defesa do direito a terra”, concluiu.
 
 
Saiba Mais
Governo Temer acelera agenda de medida que acaba com a reforma agrária no país

 

Fonte: ANDES-SN (com informações da CPT )

 

Segunda, 24 Abril 2017 18:39

 

 

            No dia 19 de abril/17, nove trabalhadores rurais foram torturados e assassinados por homens encapuzados no Assentamento de Taquaruçu do Norte, em Colniza/MT. Como parte da tragédia anunciada que combina impunidade (vide massacre de Carajás, há 21 anos), latifúndio e criminalização das lutas sociais, desnuda-se o não-Estado de Direito àqueles que lutam por terra, trabalho e direitos sociais. De acordo com o Relatório sobre Conflitos no Campo 2016, da Comissão da Pastoral da Terra (CPT), somente em 2016 foram 61 assassinatos (o maior número registrado desde 2003). Considerando-se a totalidade dos conflitos por terra, pela água e trabalhista, 2016 alcançou os impressionantes números de 1.536 conflitos. Assim, a chacina de Colniza/MT vem a revelar, mais uma vez, a inação do Estado para assegurar, sequer, as mais elementares garantias constitucionais.

            Diante de mais essa tragédia que a todos os trabalhadores consterna, nós, abaixo assinados, vimos a público não somente manifestar nosso profundo pesar - e solidariedade a todos trabalhadores rurais - senão que exigir, além da punição dos verdadeiros responsáveis, também a efetividade dos direitos fundamentais individuais e coletivos que reconhecem dentre outros, a função social da propriedade e a livre associação.

       Direção da Adufmat-SSind. do ANDES/SN

Associação de Educação e Cultura Agroecológica Zumbis – AECAZ-Sinop/MT

            Centro Acadêmico de Ciências Sociais – CACIS/UFMT

            Centro Acadêmico de Geografia – CAGEO

            Centro Acadêmico de Saúde Coletiva – CASACO/UFMT

            Centro Acadêmico de Serviço Social – CASES/UFMT

            Fórum Teles Pires

            Frente Feminista da UFMT

            Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA

            Instituto Caracol

            Laboratório de Estudos e Pesquisas da Diversidade da Amazônia Legal – LEAL-Juara/MT

            Levante Popular da Juventude

            Movimento Agroecológico Estudantil – M.A.E

            Movimento dos Atingidos/as por Barragens – MAB/MT

            PET-Conexões de Saberes ‘Diferentes Saberes e Fazeres na UFMT’

            Projeto Canteiros da Unemat-Sinop/MT

            Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso – SINDJOR/MT

            Sindicato dos Servidores Públicos da Educação Profissional e Tecnológica de Sinop/MT – SINPROTEC

 

21/04/2017