Quinta, 06 Outubro 2022 17:42

Em meio a mais um anúncio de bloqueio de orçamento das universidades, a Adufmat-Ssind divulga a nova produção da campanha “Em Defesa da UFMT”.

Além dos “contingenciamentos” - como o Governo prefere chamar -, as universidades federais enfrentam anos de cortes de recursos sistemáticos: em 2016, 14,74% do total; em 2017, 11%; em 2018, mais 5,55%; em 2019, 3,43%, sendo a maior parte (24,84%) destinada aos gastos discricionários - água, energia, serviços terceirizados e manutenção; em 2020, menos 17,5% para as mesmas despesas discricionárias; em 2021, nova redução de 18,16%; em 2022, bloqueio de 14,5% da verba de custeio (revertida em partes) e agora o novo anúncio, que consolidou o bloqueio de R$ 2,39 bilhões do Ministério da Educação, sendo R$ 328 milhões nos limites de emprenho de cada universidade.

A previsão orçamentária para 2023 é de mais cortes: pelo menos R$ 224 milhões para as universidades. Na UFMT, os impactos dos cortes são visíveis. Sem os serviços necessários, como segurança, bolsas de auxílio, limpeza e diversos reparos, a comunidade acadêmica sofre e se dissolve. Nunca foi tão baixo o número de matriculados, e nunca foram disponibilizadas tantas vagas remanescentes em praticamente todos os cursos.

Em Ciência e Tecnologia, estima-se que as universidades perderam cerca de R$ 35 bilhões em 11 anos. A situação é insustentável, e é preciso reagir urgentemente a esse projeto de universidade implementado pelos governos neoliberais, representados, neste momento, por Jair Bolsonaro. Esse é o recado da nova edição do “Em Defesa da UFMT”, confira no vídeo a seguir:

Sexta, 22 Julho 2022 17:54

Os pombos estão presentes em praticamente todos os grandes centros urbanos do mundo. Desde que foram introduzidos na América Latina, em meados do século XVI (sua origem é euroasiática), também são vistos em grande quantidade pelo Brasil, onde encontraram condições ideais para sobrevivência e reprodução.

Durante muito tempo, os pombos foram criados domesticamente, por diversos motivos, entre eles o serviço de entrega de mensagens e até mesmo o consumo da sua carne. O descontrole populacional dessas aves, no entanto, fez com que perdessem o status de recurso econômico, turístico, ou até poético - lembrando das diversas canções em que são mencionados -, e passassem a ser uma preocupação sanitária.

A reprodução de pombos sem as devidas condições de higiene pode ser o ambiente perfeito para a transmissão de dezenas de doenças. Uma delas é a criptococose, micose sistêmica provocada por um fungo de nome parecido, que pode causar meningite e levar à morte a pessoa infectada. Segundo a Rede Criptococose no Brasil (RCB), ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), são notificados anualmente entre 200 e 300 mil novos casos da doença em todo o mundo, que causam uma média de 180 mil óbitos.

Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), os pombos não são vistos em muitos lugares. No entanto, nos blocos ocupados pelos cursos voltados às Ciências Biológicas e da Saúde – Medicina, Nutrição, Enfermagem, Biologia e Saúde Coletiva -, a situação é bastante crítica. São centenas de pombos sujando os pátios, corredores, portas de acesso à estrutura interna. Durante a pandemia, chegaram a se abrigar dentro de salas, alguns visivelmente doentes.

“Após o início da pandemia, pela falta da presença humana, os pombos tiveram as condições necessárias para se reproduzirem mais, e quando nós chegamos tínhamos uma séria infestação em nossa área de trabalho, fundamentalmente aqui na secretaria. E quando foi solicitada a incorporação gradual dos nossos funcionários em nossa faculdade, apoiados na nossa Comissão de Biossegurança, não foi uma decisão unilateral, acordamos que não entraríamos no local de trabalho até que fossem resolvidos os problemas de seríssima contaminação. Até filhotes de pombos nós tínhamos em algumas salas, uma quantidade muito grande de fezes, que tem alto poder de contaminação”, afirmou o diretor em exercício da Faculdade de Nutrição, professor Jorge Luis Rodriguez Perez.

Uma primeira lavagem foi feita para o retorno às atividades presenciais, mas a limpeza continua sendo um desafio diário na Faculdade de Nutrição, devido a grande quantidade de sujeira e do número reduzido da equipe que realiza essa função na universidade, em decorrência dos sucessivos cortes de recursos. Vale lembrar, também, que além do ambiente, as fezes dos pombos podem contaminar a água e os alimentos, tornando-os impróprios para o consumo.

O diretor relata, ainda, que não houve diagnóstico, mas uma professora da Faculdade chegou a ser internada, antes mesmo da pandemia, com sintomas similares ao da criptococose: problemas respiratórios, febre, tosse, dor no peito, perda de peso e fraqueza.

O professor do Instituto de Biociências, Vitor Piacentini, explicou que a presença massiva de pombos naquela região pode se dar por diversos motivos. Além do acesso à abrigo, água, alimento, e ausência de predadores, pode também ter sido o primeiro lugar onde as aves se instalaram no campus. “Os pombos são aves profundamente ligadas ao local onde se instalam. Elas tendem a permanecer a vida inteira reproduzindo num mesmo lugar. Daí serem utilizadas como mensageiras, porque sempre voltam ao local de onde saíram”, afirmou.

Além disso, a estrutura dos prédios da universidade é atrativa, reproduzindo, de certa forma, o ambiente natural de áreas rochosas em que viviam seus antepassados. Os pombos gostam de locais altos, como coberturas dos prédios, forros, telhados, instalações de ar condicionado, beirais, onde conseguem fazer ninhos utilizando uma grande variedade de materiais, inclusive lixo produzido em nos centros urbanos, como canudos plásticos e pregos.

Os pombos podem viver até 30 anos na natureza, mas nas cidades vivem em torno de cinco. Começam a se reproduzir entre seis e oito meses de vida, quando iniciam a fase adulta. Formam casais por toda a vida e têm entre quatro e seis ninhadas por ano, cada uma com até dois filhotes, que levam cerca de 19 dias para romperem os ovos, e 30 dias para começarem a voar.

Mas são as condições materiais que definem a proporção na qual vão se reproduzir. Onde há fartura de alimentos, a população tende a aumentar, onde há escassez, tende a diminuir, e esse é um dos pontos centrais destacados por Piacentini, pois na UFMT há muitos pontos em que a comunidade oferece alimentos aos felinos abandonados.

“As medidas mais efetivas para reduzir a população de pombos seria não oferecer alimentos e fazer um controle do ambiente, para que não seja tão atrativo. Seria promover cuidados em todo o prédio, instalando barreiras físicas, chapas de metal, isolando as áreas que eles usam, especialmente para a reprodução – porque é a reprodução que mantém a população ativa o tempo inteiro. Assim, a médio prazo, eles acabariam sendo predados, morrendo de causas naturais, e isso eliminaria a população”, disse o docente.

Preocupados, os diretores das faculdades estão tentando implementar esses cuidados, mas ainda de forma tímida, por falta de recursos. Todo o andar da Faculdade de Medicina, por exemplo, já está gradeado. Também há inclinações no andar ocupado pela Faculdade de Biologia, e algumas grades no andar da Faculdade de Nutrição. O problema, no entanto, é que a questão deveria estar sendo tratada pela universidade deforma coletiva - com uma política institucional, de saúde, inclusive -, mas está sendo tratada de forma individualizada. Assim, quem tem recursos próprios tenta reduzir seu prejuízo, quem não tem, convive com os riscos.

Alguns relatos entre os docentes indicam que já houve alguma tentativa de formar comissões para pensar formas de resolver a questão. A Adufmat-Ssind enviou perguntas à Assessoria de Imprensa da UFMT no dia 04/07, e cobrou respostas da instituição em duas outras ocasiões. No entanto, até a data da publicação desta matéria, a universidade não havia se pronunciado.

Para a diretora da Faculdade de Medicina Veterinária, Adriana Borsa, a resolução desse importante problema não está só relacionada à falta de recursos, mas também à forma como esse recurso é utilizado. “Deve haver um diálogo reunindo diversos setores da universidade. Até mesmo a questão dos felinos, que a gente sabe que tem alimentadores em todos os setores. Ninguém está falando em deixar os gatos com fome, mas nós deveríamos ter representantes de todos os setores para poder discutir essa questão. Em muitas reuniões nós discutimos os problemas, mas não tiramos diretrizes. Essa questão do alimento, a gente pode pensar: vai colocar a ração só em determinados pontos que os pombos não consigam alcançar? Em casinhas para restringir esse acesso? Então, a questão dos recursos é fundamental, mas também não adianta ter uma má gestão desses recursos”, enfatizou a professora.

Analisando a questão, o professor Perez, que é cubano, segue a mesma linha de raciocínio, considerando que, apesar da gravidade, a resolução deste problema é relativamente fácil. “Cuba é um país que tem limitações diversas, mas sabe utilizar o pouco que tem da melhor forma. Nós precisamos de uma política institucional para este caso, com participação das faculdades e institutos, no Consuni, pensando desde o ponto de vista legal, mas também biológico, ético, para evitar problemas maiores”, afirmou.

Vale lembrar que o Artigo 557 da Lei municipal 04/92, isto é, o Código Sanitário de Cuiabá, determina que “os animais que constituem a fauna, bem como os seus ninhos, abrigos, criadouros naturais e ecossistemas necessários à sua sobrevivência, são considerados bens de domínio público, cabendo ao Poder Público Municipal e à coletividade o dever de defendê-los e preservá-los para as presentes e futuras gerações, observando o disposto na ‘Declaração Universal dos Direitos dos Animais’. Assim, é terminantemente proibido exterminar ou maltratar qualquer animal de forma deliberada, cabendo às instituições tratarem da questão da forma mais adequada.

Confira o vídeo produzido pela equipe de Comunicação da Adufmat-Ssind, Em Defesa da UFMT:

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Sexta, 03 Junho 2022 14:13

 

 

As próximas semanas serão de luta nas ruas em defesa da Educação pública e gratuita. Além dos cortes de recursos sistemáticos dos últimos anos, as propostas de cobrança de mensalidade nas universidades, a permissão do ensino domiciliar (homeschooling) e o bloqueio de recursos bilionário do setor mobilizou entidades representativas para uma série de atividades nas próximas semanas.

 

Em Cuiabá, elas serão nos dias 08 e 09/06. No dia 08 (quarta-feira), a mobilização será dentro da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com panfletagens nas guaritas e passagens nas salas de aulas.

 

No dia 09 (quinta-feira), às 14h, as entidades organizam um grande ato na região central de Cuiabá, com concentração na Praça Alencastro.  

 

No dia 14/06, terça-feira da semana seguinte, haverá mais um “Ocupa Brasília”, reunindo manifestantes de todo o país na capital federal. As entidades envolvidas na mobilização deverão disponibilizar um ônibus para a comunidade acadêmica interessada em participar.

 

Desde essa sexta-feira, 03/06, um carro de som circula pela UFMT divulgando a programação, e um grupo com representantes docentes, estudantis e dos servidores técnico-administrativos passam nas salas explicitando a situação e convocando para as atividades. Esta mobilização deve ocorrer, ainda, no início da próxima semana.    

 

 

AGENDA:

 

08/06 (quarta-feira) – Mobilização dentro da UFMT

09/06 (quinta-feira) – Ato na Praça Alencastro às 14h

14/06 (terça-feira) – Ocupa Brasília

 

 

 

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

 

 

 

Quinta, 02 Junho 2022 17:01

A Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind) estava produzindo uma matéria sobre as condições estruturais precárias da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) quando chegou mais uma notícia: o Governo Federal bloqueou o restante dos recursos previstos para as instituições de ensino superior em 2022. A desculpa é a mesma de sempre, cumprir o teto de gastos.

Diante da precarização exposta já há alguns anos, seria impossível ignorar mais este fato, especialmente pelo fato de o anúncio ter sido feito na mesma semana em que a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos deputados tentou encaminhar a proposta que autoriza a cobrança de mensalidades nas universidades.

A ideia de que a educação superior não deve ser acessível a todos não é nova. No entanto, desde 2016, quando os recursos da Educação - especialmente de ensino superior - começaram a ser sistematicamente reduzidos, a intenção de sacar das universidades seu atributo de “direito” e atribuir-lhe o caráter de “serviço” deixou de ser apenas uma ideia e passou a ser um plano em execução. O Future-se, apresentado em 2020, foi uma intenção de abreviar o plano, mas diante do rechaço retumbante das instituições – quase 70% deles rejeitaram formalmente a proposta -, seguiram-se os próximos passos. A gratuidade das universidades públicas brasileiras corre sérios riscos.

No caso da UFMT, instituição que se destaca em alguns cursos, mas periférica (e, portanto, não prioritária) se comparada a instituições como Unifesp e UFRJ, a questão fica ainda mais delicada, pois o montante de recursos disponibilizados pelo Ministério da Educação ainda é disputado pelas instituições dentro da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Uma consulta rápida do sindicato aos institutos da UFMT registrou dezenas, se não centenas, de precariedades estruturais, de reparos e manutenções que estão na fila há anos aguardando resolução, que não vem por falta de condições da universidade.

No Instituto de Linguagens (IL), por exemplo, o elevador do novo bloco (didático), inaugurado em 2018, nunca funcionou. “O equipamento está novo, teoricamente pronto para uso, mas é preciso uma liberação do Corpo de Bombeiros, uma questão de segurança, um documento técnico que ateste o seu bom funcionamento. Isso implica na contratação de uma empresa de manutenção, e a universidade não consegue estabelecer esse contrato. Quando tem alguma demanda a gente usa o elevador do outro prédio, que estava juntando água e agora uma bomba retira a água - a ponto de dar um choque. É pavoroso”, explica Roberto Boaventura, diretor do IL.

Uma das portas do mesmo prédio deu problema desde o início. O acesso às salas depende exclusivamente de duas portas de rolo, e não se sabe exatamente por que elas estão ali, pois nenhuma outra porta dos blocos construídos recentemente, todos no mesmo padrão, utiliza esse tipo de porta. Uma dessas portas já não abre mais. A outra abre torta e, quando emperra, obriga o guarda ou algum técnico a pular uma janela para tentar abrir por dentro.

Estudantes no Bloco Didático do IL, sentados entre as portas de rolo. Uma porta abre, a outra não.

Ainda no Bloco Didático do IL, a sala que abriga a bomba de água não tem qualquer recurso de circulação de ar, guardando calor, umidade e um cheiro bastante forte.

No prédio antigo do IL, além do elevador também parado, o banheiro feminino do térreo está interditado, porque os azulejos simplesmente desmoronaram no período da pandemia. A universidade até enviou ao Instituto, na última semana, a informação de que há um projeto de reforma disponível. Mas se já estava difícil fazer qualquer manutenção ou reforma antes, com o novo bloqueio anunciado na sexta-feira, 27/05, a instituição não deve executar o projeto tão cedo.

Banheiro Feminino do IL está com o azulejo desabando.

Há ainda problemas de infiltração e alagamentos no corredor onde ficavam os centros acadêmicos e a fotocopiadora, problemas na rampa de acesso de pedestres advindos da Avenida Fernando Corrêa ao bloco, além da questão da limpeza, que chegou a ser disponibilizada em esquema de revezamento, com dia e horários marcados para serem realizadas. “O número reduzido de servidores da limpeza é visível. Agora querem inaugurar outro prédio, o roxinho, também já cheio de problemas, e vai ser mais um para elas limparem. Eles vão usando as mesmas servidoras para limpar toda aquela região, de tal forma que elas não conseguem dar essa manutenção em todos os espaços de manhã, tarde e noite, que seria o adequado”, afirma o diretor do Instituto.

Os trabalhadores do local reclamam também que a sala, sem janelas, está sem ar condicionado e, por isso, têm de levar ventiladores de casa para o trabalho. No entanto, a sala guarda um switch (equipamento que possibilita a conexão de computadores em redes) e, sem a ventilação adequada, o equipamento pode ser danificado. A segurança, como já indicou a Adufmat-Ssind, também é um ponto de preocupação no IL, e uma das áreas profundamente prejudicadas pelos cortes de recursos da universidade.

Na Matemática, docentes e técnicos já pegaram rolos e pincéis para pintar salas e tiraram recursos do próprio bolso para comprar vidros e evitar que as janelas ficassem quebradas. Algumas delas ainda estão com madeiras, papelões e outros materiais improvisando tampões. A responsabilização individual por reparos no local de trabalho – muito embora ele seja público – acaba sendo recorrente, porque lâmpadas, maçanetas, chaves, e outros recursos não podem ficar sem funcionar até que a universidade consiga resolver. “Não tem como a sala ficar aberta”, resume o chefe de Departamento da Matemática, Reinaldo de Marchi.

Ali, a situação é periclitante. Em algumas salas - inclusive do curso de doutorado -, os dedos adentram às divisórias de madeira compensada, danificadas por cupins. São visíveis também os problemas de infiltração nas paredes.

Há três anos a unidade aguarda que a universidade recolha cerca de 30 nobreaks para manutenção. Enquanto, isso, sem funcionar, eles ficam empilhados, ocupando espaços em salas já pequenas. O laboratório do curso tem computadores velhos, enquanto outros, mais novos, permanecem sem funcionar no chão de outro laboratório, simplesmente por uma questão burocrática de redistribuição.

O diretor do IL e o chefe de Departamento da Matemática, embora ocupem os cargos por períodos determinados, sabem bem do que falam e conhecem bem a instituição em que trabalham há muitos anos. Eles apontam o percurso de precarização da instituição: foram extintos os cargos de chaveiro, vidraceiro, serralheiro, marceneiro – entre outros da carreira dos técnicos administrativos, como seguranças e responsáveis pela limpeza. A mudança visava obrigar a universidade a contratar serviço terceirizado, o que não necessariamente sai mais barato para a instituição. Com os cortes de recursos cada vez mais frequentes, a universidade não consegue garantir esses serviços. Assim, as possibilidades de respostas para as centenas de solicitações diárias vindas dos institutos são: não há recursos para grandes reformas; pequenos reparos são feitos de forma improvisada, por profissional não especializado e sem ferramentas e materiais adequados.

Cupins devoram a estrutura de paredes divisórias na Matemática

No campus do Araguaia, os problemas de laboratório, denunciados pela Adufmat-Ssind em 2018, persistem. Novas fotos, enviadas pela comunidade acadêmica, registram problemas antigos: grades nas janelas dos laboratórios, duas portas por segurança, chuveiros lava óleo, equipamentos já adquiridos não instalados. A Adufmat-Ssind já havia denunciado todas essas condições em 2018 (leia aqui).

A comunidade reclama também da ausência de cantina no bloco, que fica distante de outros estabelecimentos comerciais, além da falta de segurança.

Assim como IL e a Matemática, no campus de Cuiabá, o campus da UFMT no Araguaia também tem problemas de acessibilidade e aguarda adaptações para receber de forma adequada a primeira estudante cadeirante do campus.

Grades no Laboratório de Química do campus da UFMT no Araguaia impediriam saída do local em caso de acidente. Comunidade aguarda providências desde pelo menos 2018.

O campus de Várzea Grande também teria problemas a registrar, se tivesse um campus. Em 2014, a promessa era de que os estudantes da UFMT Várzea Grande dividiriam os laboratórios e as salas com os de Cuiabá por um ano. Em 2015, anunciaram que o campus estava 80% concluído, mas só ficaria pronto em 2016. Em 2018, a Adufmat-Ssind registrou que as primeiras turmas estavam se formando sem pisar no campus prometido (leia aqui). Essa continua sendo a realidade dos professores, técnicos e estudantes, lotados em espaço “improvisado” e “provisório”.

Sinfra

Os entrevistados deixam evidente que um dos grandes problemas que resultaram nos problemas de manutenção dos prédios da UFMT tem a ver com o enfraquecimento da Secretaria de Infra Estrutura (Sinfra).

O professor Roberto Boaventura afirmou que as Ordens de Serviço (OSs) que solicitam os reparos eram respondidas de forma rápida, muito embora o trabalho já estivesse sendo feito há algum tempo com material de qualidade ruim e mão de obra nem sempre especializada. “Há pouco tempo as coisas eram relativamente resolvidas de forma rápida, acontece que a Sinfra ficou sem estrutura para atender a universidade inteira, ela praticamente não tem mais trabalhadores. Então a universidade teria de contratar empresas para fazerem esses trabalhos pequenos. Nem sempre a universidade tem dinheiro e nem sempre as empresas querem pegar o trabalho, porque é pequeno, por não valer a pena deslocar trabalhadores. Tudo isso agora é problema. Então essas questões estruturais, que eram pequenas e a gente resolvia rapidamente com a Sinfra, agora a gente não resolve. E tem mais um problema: as vezes a gente faz uma OS e não recebe uma resposta da Sinfra, a gente fica num vazio. E os institutos, em geral, só podem agir com recursos próprios depois de ter uma negativa da universidade. A gente não pode sair fazendo obras, exceto quando a própria universidade diz que não pode arcar. Aí a gente aciona a Uniselva, através do PGA (Plano Geral Anual), e esse recurso, que é nosso - no caso do IL, advindo dos cursos de extensão e das provas de proficiência -, pode ser usado.

Para o professor de Marchi, há boa vontade dos trabalhadores, o problema é mesmo falta de condições, “São ciclos esses períodos. Há momentos que a gente percebe que tem recursos, tem profissionais. Antigamente tinha chaveiro, vidraceiro, mas por conta, acho, desses cortes de verbas, acabou recuando com esses profissionais, diminuindo o quantitativo. O pessoal da limpeza reduziu bastante. E os profissionais vêm fazer, até com boa vontade, mas faltam ferramentas. Vieram aqui arrumar um teto com um arame, um prego e um martelo, só isso. Veja como está precário o atendimento desses profissionais”.

E assim, exaltando o empreendedorismo, a educação financeira ou a educação do futuro, a UFMT vai abrindo caminhos para as propostas que depõem contra a ideia de educação que a categoria docente historicamente defendeu. “Eu sou muito franco com os colegas acerca de algumas demandas. O que é possível nós vamos solicitando para a universidade e quando a universidade não pode e nós dispomos de recursos, vamos suprindo. De certa maneira, muitos institutos estão suprindo tarefas, obrigações que seriam da universidade, da Administração Superior, com os recursos advindos do Ministério, do Governo Federal. Como esses recursos têm sido cada vez mais escassos, para não fechar as portas, não interromper determinados trabalhos, os institutos que têm condições vão dando conta de sobrevivência. Aqueles que têm menos condições ou não têm arrecadação de nada, vão ficando na extrema dependência da Universidade cada vez mais sucateada”, alertou Boaventura.

Que fazer?

A UFMT foi uma das primeiras universidades a vir a público minimizar mais este ataque ao ensino público superior representado pelo bloqueio de recursos anunciado em 27/06. Na nota oficial, a instituição informa que o “montante de R$ 13.754.175,09 (treze milhões, setecentos e cinquenta e quatro mil e cento e setenta e cinco reais e nove centavos), que representa aproximadamente 21,2% do orçamento discricionário, aquele destinado ao funcionamento da Instituição de Ensino Superior (IES)”.

A Reitoria afirma que “este bloqueio não incide nos recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), nem no montante de capital, aqueles destinados à compra de equipamentos, mobiliários e construção de novas obras”, mas há controvérsias. Por fim, concluiu que a “UFMT, por meio da Pró-Reitoria de Planejamento (Proplan), está verificando os efeitos deste bloqueio em seu orçamento e, posteriormente, serão realizados os ajustes orçamentários necessários, tendo em vista a priorização da manutenção do ensino, pesquisa e extensão da instituição”.

Estudantes, docentes e técnicos-administrativos, no entanto, que denunciam há anos essa precarização planejada da instituição, manifestarão suas posições também nas ruas nos próximos dias. A agenda incluiu mobilizações na UFMT ao longo do dia 08, ato na Praça Alencastro no dia 09, às 14h, e um grande ato em Brasília no dia 14/06.

Uma posição mais contundente das instituições em defesa desse projeto de universidade defendida pela Adufmat-Ssind e pelo ANDES-Sindicato Nacional, por óbvio, deixaria de atrapalhar e passaria a somar na luta em defesa do ensino superior público, gratuito, de qualidade e socialmente referenciado. Afinal, expor publicamente contrariedade às políticas voltadas para a educação adotadas por este ou qualquer outro governo, como fizeram tantas outras universidades, também é uma forma de fazer pressão. É o que se espera não só da Andifes, mas das Reitorias das mais de 60 universidades federais brasileiras. Nas palavras do professor Boaventura, ou o orçamento é recomposto, ou as universidades testemunharão uma tragédia sem precedentes. “Os cortes foram significativos, e o que a Andifes tem feito, conforme relatos do Evandro [Soares, atual reitor da UFMT], é tentado, junto ao MEC, rever esse contingenciamento. Enquanto isso não for liberado para as universidades, elas entrarão num processo de penúria vexatório”.

No vídeo abaixo, mais um da campanha "Em Defesa da UFMT", a Adufmat-Ssind traz as entrevistas com os professores contatados para essa reportagem. Assista:

Veja mais fotos das condições estruturais na Galeria de Imagens (clique aqui).

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Sexta, 02 Agosto 2019 16:22

 

A comunidade acadêmica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) - representada pela Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind), Sindicato dos Servidores Técnicos-administrativos (Sintuf-MT) e Diretório Central dos Estudantes (DCE) - organizou uma agenda de atividades para debater o projeto Future-se na instituição durante a próxima semana. 

 

A ideia é realizar aulas públicas nos saguões de diversos Institutos, demonstrando como a proposta do Ministério da Educação pretende reduzir o papel da universidade pública a simples produtora de mercadorias capazes de garantir altos lucros de empresas, em detrimento da produção de conhecimentos que realmente interessem a população.

 

Os estudos sobre comunidades tradicionais, doenças que acometem populações mais vulneráveis - e os possíveis tratamentos, dinâmicas políticas e sociais que favorecem determinados grupos, assim como as ciências básicas e licenciaturas, são algumas das áreas que serão prejudicadas se as universidades públicas forem privatizadas.

 

Mesmo que o governo alegue que o programa se dará por adesão, ou seja, que as universidade poderão escolher aderir ou não ao projeto, os cortes sistemáticos de recursos da Educação têm um único objetivo: forçar as universidades públicas a recorrerem ao Future-se. Assim, ao contrário do que diz o governo, sua intenção é impor, sim, a privatização das universidades. No entanto, preservando sua história e seu histórico de lutas, as comunidades acadêmicas não aceitarão esta imposição.            

 

Adufmat-Ssind, Sintuf-MT e DCE Cuiabá ressaltam que a participação de todas e todos é imprescindível nesse momento, para garantir que a universidade continue pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, e que o Estado assuma sua responsabilidade, assegurando a autonomia financeira das instituições de ensino superior. 

 

Confira, abaixo, o calendário de atividades para esta semana:  

 

 

 

 

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind