Terça, 16 Setembro 2025 14:38

 

 

A excelência da ciência desenvolvida pelas universidades públicas – as melhores do país - se deve a um fator primordial: tempo para análise e maturação dos dados. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) tem se destacado, nos últimos anos, como uma das 40 mais bem colocadas em alguns dos principais rankings, mas o esforço desses mais de 50 anos de existência pode estar ameaçado por iniciativa política, alheia à comunidade, apressada e prematura.

 

Isso porque a Comissão de Educação do Senado aprovou, nesta terça-feira, 16/09, a indicação ao Executivo para criação da Universidade do Nortão, por meio do desmembramento do campus da UFMT em Sinop. A ação é resultado da análise do Projeto de Lei 4.812/2020, de autoria do senador licenciado e atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD/MT).  

 

A iniciativa tem se dado sem debate dentro da comunidade acadêmica. Como ficou evidente em matéria divulgada pela Adufmat-Ssind em junho deste ano, diferentemente de outros campi que foram emancipados (as federais de Rondonópolis e Catalão, por exemplo), os campi da UFMT não construíram um projeto de universidade, e isso vai fazer total diferença, já que a disputa política fora dos muros da universidade tem se pautado em interesses econômicos (leia aqui a íntegra da matéria divulgada pelo sindicato em junho).     

 

A comunidade tem pedido tempo à Reitoria e aos parlamentares, mas a notícia da apreciação do projeto pela Comissão de Educação nesta terça-feira voltou a causar apreensão. “Nós entendemos que há uma indisposição entre a gestão do campus de Sinop e a Reitoria. Essa relação conflituosa é usada, aqui, para justificar um divórcio nada amigável. Sinop já tem uma universidade federal: ela se chama UFMT. A ideia de multicampia, com gestão compartilhada e propositiva está, de fato, longe dos objetivos institucionais. Contudo, esse desmembramento vem para alimentar interesses de alguns poucos que encaminham essa pauta sem discussão e à revelia da comunidade acadêmica. Desmembrar para dar independência a uma instituição sucateada e com problemas crônicos de pessoal e infraestrutura não é um ato simples. Nós corremos sério risco de, por conta do alinhamento político, ver a instituição criada virar um colégio do agronegócio, dando apoio irrestrito a pautas e projetos desse setor”, afirmou o professor Juliano dos Santos, coordenador-geral da subseção da Adufmat-Ssind em Sinop.

 

Para a professora Gerdine Sanson, também lotada na UFMT Sinop e diretora do sindicato, é preciso amadurecer a ideia, especialmente sobre como a nova universidade seria mantida. “A gente não sai de um lugar neutro. Estamos num momento muito desfavorável da relação entre Cuiabá e Sinop, pois, durante muito tempo, tivemos problemas administrativos, a questão do PAC [o campus perdeu recursos do Programa de Aceleração do Crescimento], até mesmo de desarticulação dos movimentos estudantis. Assim, foi construída uma animosidade, de forma deliberada, para cavar essa situação. Toda a movimentação é da parte política de Sinop, usando a separação do campus como algo positivo. Mas a gente sabe que não basta criar uma universidade; ela precisa ser mantida, e esse debate já deveria estar sendo feito há muitos anos no campus. Depois que se cria uma universidade, ela pode ser deixada, porque, politicamente, manter a qualidade de uma universidade não dá tanta visibilidade quanto criar uma nova. Esse é o nosso cotidiano, basta observar o caso de Cuiabá, todo o esforço que está sendo feito para reconstruir o campus de Cuiabá. É o que vai acontecer em Sinop numa escala muito pior, porque o campus já está sucateado antes mesmo de se tornar uma universidade autônoma. Vai nascer uma universidade sucateada. Ela vai viver ao sabor das emendas? Porque o orçamento nunca vai ser suficiente para tapar os buracos que já existem”, afirma a docente.

 

Para parte importante da comunidade acadêmica de Sinop, está evidente que a movimentação é apenas uma disputa por visibilidade política, já que o debate interno nunca foi realizado. O desmembramento do campus da UFMT de Rondonópolis, por exemplo, foi uma solicitação elaborada pela própria comunidade acadêmica e demorou 10 anos para ser uma realidade. Bem diferente disso, os servidores e estudantes dos campi de Sinop e Araguaia foram surpreendidos pela existência de mais de um projeto nesse sentido em 2024. “Nós tivemos uma única reunião há cerca de duas semanas aqui em Sinop, e mais nada. Não há amadurecimento interior nenhum, nós estamos longe disso. Essa universidade não vai nascer de uma construção interna, não reflete a vontade da comunidade acadêmica de Sinop, não tem movimento estudantil, a categoria docente não tem acúmulo. Eu mesma pedi ao pró-reitor que a convocação para a reunião para avaliar os projetos de lei fosse intitulada ‘emancipação ou multicampia’, e ele me respondeu que não poderia usar a palavra multicampia. Isso é neutralidade? Não é. Eles queriam fazer uma única reunião para dizer que a comunidade estava se posicionando a favor da emancipação. Algumas pessoas chegaram a sugerir que fizéssemos uma votação nesse sentido, o que conseguimos evitar, mas mesmo durante a reunião não se podia usar a palavra multicampia, porque para eles não é uma alternativa. Para quem quer a emancipação, já não existe mais a opção da multicampia”, contesta Sanson.         

 

Devido a essas iniciativas, o próprio Andes – Sindicato Nacional sentiu a necessidade de formar um Grupo de Trabalho “Multicampia e Fronteira”, que teve início, em Mato Grosso, em 2024, reunindo docentes de todos os campi. O professor Edson Spenthof é um dos representantes do Araguaia no GT, e manifesta preocupações no mesmo sentido.

 

“Sobre Sinop, temos uma novidade: a ideia da relatora em transformar o PL do Fávaro em Indicação ao Executivo, o que coloca a iniciativa nos termos corretos, pois nos parece que isso é mesmo matéria do Executivo. Contudo, membros do GT já levantaram o medo de que, nas mãos do Executivo, isso possa virar moeda de troca diante de um Congresso sequestrado pelo que o jornalista Octávio Guedes chamou de Parlamentarismo de Emendas, ao que se pode acrescentar a expressão Congresso conservador e chantagista. E vamos lembrar da tese central até aqui defendida pelo nosso GT, de que sem garantias de recursos, sem que estejam resolvidos diversos gargalos e sem um projeto claro de universidade, ou para cada campus, é temerário aprovar o desmembramento. Ao campus do Araguaia valem os mesmos medos. Em Barra do Garças e região, o poder econômico, representado pelas lideranças políticas, também está ansioso por instrumentalizar a UFMT para os seus interesses. E isso gera o mesmo medo que muitos colegas de Sinop estão enfrentando. Contudo, até agora, o Conselho de campus (Consua) mantém certa cautela, cedendo menos a essas pressões pelo que chamam de ‘emancipação’, e que, de emancipação pode não ter nada”, conclui Spenthof.

   

 

A Adufmat-Ssind também foi surpreendida pela notícia da apreciação do projeto pela Comissão de Educação do Senado. No entanto, já havia solicitado reunião com a Reitoria para tratar sobre o tema, agendada para a tarde desta quarta-feira, 17/09.

 

 

“É importante que a Reitoria tenha uma posição política em relação à questão da multicampia, que não delegue apenas para decisão de cada uma das unidades ou cada um dos campi da UFMT, como se a decisão não fosse uma questão de interesse de toda a comunidade acadêmica, em todo o estado de Mato Grosso. Então, dado que é uma questão de interesse de toda a UFMT em todo o estado de Mato Grosso, isso tem que ser pauta do conjunto da comunidade e não apenas dos campi que se pretende desmembrar. Nós esperamos que nesta reunião com a reitora, na quarta-feira, nós tenhamos uma indicação de qual é a posição política que a Reitoria vai assumir diante de um possível desmembramento, que não passa pelo debate democrático junto à comunidade e pelo interesse expresso, genuíno, da comunidade”, disse o diretor geral da Adufmat-Ssind, Breno Santos.

 

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Quarta, 18 Abril 2018 16:47

 

Foi sancionada, no último dia 11, a Lei nº 13.651, que cria a Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), por desmembramento da Universidade Federal do Piauí (UFPI), e a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape), por desmembramento da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). 

Os desmembramentos já haviam sido definidos em 2016, ainda no governo de Dilma Rousseff, através do Projeto de Lei do Executivo (PL) 5272/2016, mas só foram votados na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, em março de 2018.

 

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Fonte: ANDES-SN