Quarta, 10 Agosto 2016 17:32

 

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Levados pelo clima dos jogos olímpicos, corremos o risco de acreditarno hiperbólico sloganda Globo “Somos todos olímpicos”.

 

A propósito, em momentos de competições das quais nosso país participa, como anfitrião ou visitante, a mania de um gigantismo nacional tem sidoimposição recorrente na mídia.Contudo, em nada crescemos por conta de uma empolgação quase sempre sem lastro.

 

A quem duvidar dos exageros, diante de um telejornal, em tempos normais, basta contarsuas notícias positivas. Faça o mesmo com as negativasqueapresentam brasileiros desesperados por conta da calamidade da saúde pública, cada vez mais distante do aceitável. Ea violência urbana? Seusnúmeros superam países em guerra.

 

Infelizmente, a tranquilidade do Olimpo não é aqui.Manuel Bandeira – contrariando o nacionalismo do poeta Gonçalves Dias – entendeu bem isso; assim, determinou-se a ir “embora pra Pasárgada”.Mesmo do alto, os braços abertos do nosso Cristo Redentor são curtos demais para uma terra tão cheia de contrastes, como já mostrara Roger Bastides.

 

O gigantismo que não se sustenta nunca foi tão bem traduzidocomo em quase tudo o que envolveu a realização da Copa/2014. De grandioso mesmosóos superfaturamentos de quase todas as obras, incluindo asnão concluídas. Tais exageros em nada são positivos a ninguém, muito menos ao Estado que precisa dar dignidade de existência atodos.

 

Mas, em meio a exageros, não é um deles dizer que a cerimônia de abertura das Olímpiadas/Riofoi temática e esteticamente bem resolvidapelo grupo de artistas – cineastas, principalmente – que idealizou e deu vida ao tema; e tudo com muita tecnologia. Na medida, um show de bom gosto.

 

Só para lembrar, a Grécia antiga, berço da primeira maratona, coroava com louros não só os vencedores esportivos; corava também seus artistas. Sem contar o cultivo das reflexões filosóficas que remontam tempos pré-socráticos. Heráclito de Éfeso, observador por excelência do movimento das águas de um rio, que o diga.

 

Aqui, se não posso literalmente coroar os artistas que abrilhantaram a abertura, faço destaques do que vi pela TV.No limite, tudo contemplado: nosso dolorido percurso histórico ea abrangente luta por igualdade de direitos. Nesse sentindo, a pluralidade de nossos ritmos foi coerente.O mundo ainda viu um recado: cuidar do planeta.

 

Bem antes, surpreendentemente, acompanhado por um conjunto de cordas, a afinada voz de Paulinho da Viola (en)cantou o Hino Nacional. Marcos Valle ofereceu-nos o “Samba de verão”.

 

Lembrar da“Garota de Ipanema”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, na voz de Daniel Jobim, foi emocionante. Como bonito foi ver Gisele Bündchen desfilar sobre projeções que formavam obras de Niemeyer, sempre inspirado pelas linhas curvas.

 

Num caldeirão musical, o que falar de Elza Soares interpretandoCanto de Ossanha”, de Baden e Vinicius? Do “Rap da Felicidade”, hino das favelas, apresentado porLudmilla? O quadro foi fechado com as rappers MCSoffia, de apenas 12 anos, e KarolConka, queapresentaram Toquem os Tambores”, com versos sobre empoderamento feminino e contra o racismo.

 

Igualmente maravilhoso foi ver Wilson das Neves e o garotinho Thawan sambando numa bela união de gerações longínquas. Caetano, Gil, e acompanhados por Anitta, Ben Jor, as escolas de sambas... Tudo valeu a pena.

 

No desfecho, “A flor e a náusea” de Drummond – declamado por Fernanda Montenegro e Judi Dench – expôs um paradoxo de nosso tempo. Tudo muito digno de louros e medalha de ouro. 

Terça, 09 Agosto 2016 16:22

 

A orla da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, recebeu na sexta-feira (5) cerca de dez mil manifestantes que protestaram, na Avenida Atlântica, na presença de turistas e atletas que estão na cidade para os Jogos Olímpicos. O protesto na abertura da Olimpíada 2016 marcou o descontentamento de uma grande parte dos trabalhadores, de movimentos sociais e da juventude com a má gestão, corrupção e o superfaturamento das obras dos jogos.

 

A atividade foi organizada, em unidade, por diversos movimentos sociais, sindicais e populares, com bandeiras políticas “Fora Temer, nenhum direito a menos e contra a calamidade olímpica”, consignas que unificaram todas as entidades envolvidas no ato.

 

De acordo com o dirigente da Secretaria Executiva Estadual da CSP-Conlutas no Rio de Janeiro, Sérgio Ribeiro, o objetivo do ato foi dar visibilidade aos ataques promovidos pelos governos Federal, do estado do Rio de Janeiro e do município carioca. “Queríamos aproveitar a abertura dos jogos para denunciar o projeto de lei 257, que retira direitos dos servidores, e da PEC 241 que visa cortar gastos com serviços públicos essenciais. No Rio de Janeiro, estamos vivendo a absoluta destruição das áreas públicas da saúde e educação, com fechamento de hospitais, falta de verbas em universidades e escolas, além do atraso de salários dos servidores e falta de pagamento aos trabalhadores terceirizados”, comentou. 

 

 

Diversas categorias de trabalhadores que compõem a Central no Rio marcaram presença, entre eles, bancários, metroviários, metalúrgicos, trabalhadores dos Correios, profissionais da educação do Estado e município, servidores públicos, estudantes e outros.

 

Para Alexandre Galvão, secretário-geral do ANDES-SN, a atividade, com a consigna “Fora Temer” e “Nenhum direito a menos”, foi um ato importante com grande participação de militantes, com a presença vários de representantes do ANDES-SN,  expressou um esforço de dialogar com vários setores organizados dos movimentos sociais, sindicais e de movimentos populares, mesmo com suas divergências, na perspectiva de construção de ações conjuntas com pautas que possam de fato convergir para aglutinar esses e outros setores na luta. 

 

 

"A luta contra a retirada de direitos é uma luta que unifica, como a luta contra o PLP 257 e a PEC 241, e também no caso mais específico da Educação, a luta por uma escola sem mordaça. Ações como essas, que denunciam essas pautas em meio aos jogos olímpicos, que são um grande espetáculo para mostrar um Brasil que não tem problemas, é um momento importante da classe trabalhadora. Pois, na abertura das Olimpíadas, quanto o mundo todo está voltado para o Rio de Janeiro, cheio de estrangeiros, realizar um ato na praia de Copacabana com uma enorme quantidade de turistas, possibilitou denunciar para o mundo todo e para a população brasileira a calamidade pela qual passa a nossa sociedade e nossos serviços públicos”, ressaltou Galvão.

 

Para o diretor do ANDES-SN, a manifestação realizada no último dia 5 foi o pontapé inicial para a construção de novos atos com um conjunto maior de setores organizados que estão em luta contra os ataques aos direitos dos trabalhadores. “Tudo indica que, por meio de espaços como o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) e também a última reunião organizada com a presença de todas as centrais sindicais para chamar o dia 16, nós vamos poder organizar atos mais consistentes, com mais gente, espalhados por todo o Brasil para tentar barrar esse conjunto de medidas, que na verdade são os instrumentos do ajuste fiscal que estão atacando os direitos da classe trabalhadora”, avaliou. 

 

Fonte: ANDES-SN (com informações e imagens da CSP-Conlutas)