Segunda, 19 Março 2018 10:50

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Benedito Pedro Dorileo

 

 

O sentido da beleza independe do desejo, como contemplação pura da arte. No teatro, o ator assume o comportamento humano em sua magnificência, generosidade, grosseria, indignidade, vulgaridade e maldade – exprime o caráter do ser em sociedade. Platão sustenta uma existência autônoma da beleza, distinta do suporte físico, tal como a feiura externa e beleza interior.

A UFMT, em 1972, foi questionada pelo MEC do porquê criar um Departamento de Artes, já que não possuía um só curso na área. Difícil, todavia, explicado. Estava germinando a extensão. A ‘universitas’, essencialmente, prevalecia. Do espernear para consertar os cursos preexistentes, adaptar-se às circunstâncias históricas para não perder a oportunidade de legar uma Instituição superior fincada no cerrado cuiabano, onde há pouco prevalecia ‘a dor e o ranger de dentes’, diante do esquecimento do Centro-Oeste brasileiro.

Os três antigos colegas salesianos, Gabriel, Dorileo e Attílio, liderados pelo primeiro, tiveram coragem e contaram com o apoio dos companheiros professores e técnicos fundadores, e fizeram. Continuar é obrigação.

Da Arte praticada, com a primeira chefia de Marília Beatriz, chegou-se, em 1982, com o Teatro Universitário. O Estado não possuía uma sala de espetáculo na concepção hodierna, com os requisitos que a tecnologia oferece. Aplauso a Júlio Müller que, neste sertão bravio, deu-nos o Cineteatro na década de 1940, quando o nosso meio de comunicação era o Rio Cuiabá e o telegrama de Rondon.

Se o italiano Aldo Calvo, o homem reformador do teatro de Milão, após a segunda grande guerra, foi convocado, ou se o polonês Igor Sresnewski também veio definir a acústica, tivemos gente nossa como Fernando Pace que, além de atuar na parte interna, criou o museu dos tachos de cobre do Rio-abaixo, trazendo exemplares de tamanhos diversos – peças que carregam a história da industrialização da cana, com vanguardismo e dor da escravidão – devem ser juntados, novamente, no foyer para que todos sintam e pesquisem. A jovem UFMT recebeu pela vez primeira todos os reitores das Universidades Brasileiras, compondo o Conselho – que foi responsável pela Reforma Universitária de 1968 – que extinguiu, corajosamente, a cátedra para democratizar o ensino superior com o Departamento. O Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, nestes tempos, foi relegado pelas universidades públicas, sob o impulso da República disposta, intensamente, à multiplicação de sindicatos.

Tínhamos a XXIV reunião em Cuiabá. No palco, o reitor Gabriel e Tônia Carrero inauguraram, no dia 26 de janeiro de 1982, o Teatro Universitário, com a presença do Ministro de Educação Ruben Ludwig. A primeira dama do teatro brasileiro Fernanda Montenegro declinou da honraria para indicar a beleza de Maria Antonieta de Farias Portocarrero, nascida na antiga capital federal. Estava lá a autora da obra O Monstro de Olhos Azuis. O colunista da Folha de São Paulo, Ruy Castro asseverou: ‘Tônia Carrero era maior que a vida’, dado o seu passamento neste mês de março, no dia 3, com 95 anos de idade. Foi ícone do teatro, com brilho, ainda, na televisão e no cinema. O derradeiro papel, em ‘ Um barco para o sonho’, peça dirigida pelo neto Carlos Thiré; e no cinema, em ‘ Chega de Saudade’, de Laís Bodanzky, em 2007.

Segue logo a estreia, em 8 de fevereiro seguinte, com apresentação da peça de Mário de Andrade, Macunaíma, homenageando o ator e o  autor brasileiros. Sob direção de Antunes Filho, foram 4 dias de apresentação. Em dado momento apenas, o talco revestia o corpo nu. Resplandecia o lado plástico da peça, personagens e luzes. A grande imprensa brasileira fez o registro.

Antes, João Felício dos Santos, autor de Xica da Silva, visitando o campus em obra inaugural, exclamou, e produziu página inteira em Jornal de Minas, afirmando: ‘ a coisa de bom que o MEC apoiava, estava em Coxipó da Ponte, em Cuiabá’.

Incorporou o Teatro Universitário no objetivo dos fundadores, em estender o quanto possível o conhecimento de maneira imediata para o povo. A Extensão foi cogitada intensamente, em meio ao ferro e cimento, ensino e pesquisa audaciosa do Projeto Aripuanã. Em 1976, a UFMT, em Seminário no Rio de Janeiro, aprovava o Manual de Extensão da UFMT para todas as Universidades, com Maria Manuela na coordenação. Curso e serviço devem ser levados o quanto possível para a sociedade. A Universidade é antes de academia uma Agência do Desenvolvimento. Temos docentes e técnicos em nível de excelência que introduzirão os estudantes nesta filosofia do servir, já – principalmente, nestes tempos em que a corrupção corroeu as finanças e a alma dos brasileiros.

 

                                                                           Benedito Pedro Dorileo

                                                                         é advogado e foi reitor da UFMT

 

Terça, 26 Abril 2016 09:50

 

                                                                                   Benedito Pedro Dorileo

 

 

Na experiência alcançada em sala de aula a estudar a Estilística da Língua Portuguesa, fomos observando que as palavras se encontram subordinadas a uma escala de valores expressivos: umas fundamentais, garantidoras do sentido – as reais (semantemas): do substantivo ao pronome. Os instrumentos gramaticais (morfemas) são construídos por elementos de relação e precisão: artigos, preposições, conjunções e, por vezes, advérbios e numerais.

 

Na prática, a velocidade da vida hodierna impõe economia de palavras para se não perder tempo. O homem de ação arredonda a frase para agir, comandar, até para criar palavra de ordem – como nos sindicatos, ademais nestes tempos políticos de marqueteiros.

 

Hoje a linguagem da internet exige esta concisão – a palavra custa dinheiro.

 

As palavras reais distinguem-se pela sua força expressiva, despertando imagem enérgica das coisas a que se referem, criando em cada pessoa sensação/emoção que particularmente lhe sucede. Somos saudosos das horas vividas em meio aos estudantes, na bela alacridade a exprimir em cada um a sensação da palavra, invadindo-lhe a sensibilidade do cérebro.

 

A palavra chuva proporcionava uma festa nas chaves visual, térmica, olfativa, auditiva e até táctil. – E quantas ideias paralelas como bátega, ruído, enchente, goteira etc. Depois a concepção de frases: a prosa e chegava à poesia pelo poder sinestésico.

 

Imaginem as sensações provocativas das palavras: limão, céu, lágrima, sorriso. De nossa parte, o sino traz-nos a evocação das imagens saudosas do menino salesiano chamado nas manhãs para a celebração eucarística; o terceiro toque para a saída da procissão. Ou para o literato o significado fatal do sino para Macbeth na dramaturgia de William Shakespeare. Ou a emoção súbita de morte a qualquer hora anunciada pelo repicar fúnebre do sino. Acrescentem-se imagens sonora, motriz, visual e outras, como a lembrança do sineiro da Catedral, o adolescente Carlos Eduardo Epaminondas – médico cuiabano decano.

 

Predominam imagens visuais, como é próprio de objetos materiais, coisas tangíveis. A fantasia pode transcender para além do objeto e dá representações que pouca relação têm com ele – é o que se chama de parafantasia: o vento pode lembrar o barco, o moinho e até a energia eólica.

 

As palavras abstratas não são tão representativas em tese; porém, sua forma sonora gera fartas imagens, como a cor e sensações tantas. Estudiosos veem cor em saudade – azul; rancor – vermelho; esperança – verde; paixão – roxo. Chegamos a um ponto importante: a estas correspondências, interpenetrações de múltiplos sentidos levar-nos a um estudo interessante de cunho científico: a sinestesia, que desempenha função destacada na literatura. Basta saber que prosa e especialmente poesia socorrem-se naturalmente de percorrer o seu caminho. A continuar.

 

                                                  

                                                         Dorileo é associado da Academia

                                                         Mato-Grossense de Letras, cadeira nº 26.

                                                         Patrono: Joaquim Duarte Murtinho.