Quinta, 16 Janeiro 2020 12:09

 

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Artigo enviado pelo Prof. Juacy da Silva "A universidade em busca de um novo tempo”, fonte: Caderno IHU ideias ISSN 1679-0316 (impresso) • ISSN 2448-0304 (online) Ano 17 • nº 290 • vol. 17 • 2019, de  Pedro Gilberto Gomes, Instituto Humanitas Unisinos.

Quarta, 15 Janeiro 2020 08:37

 


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JUACY DA SILVA*

Ao longo dos últimos quase 60 anos, ou seja, desde 1961 quando foi idealizada a Campanha da Fraternidade ou então a partir de 1962, quando teve inicio de fato da primeira Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de Natal, RN; a CNBB, juntamente com a CÁRITAS BRASILEIRA, tem incentivado tanto católicos e não católicos, principalmente a cada cinco quando quando a CAMPANHA DA FRATERNIDADE tem um caráter ecumênico, juntamente com o CONIC que representa diversas Igrejas Evangélicas, a refletirem sobre o sentido e a defesa da vida, isto de forma direta ou indireta.

Ao longo dessas quase seis décadas diversos temas de suma importância tanto para a vida material, a vida em sociedade quanto para a vida espiritual, da Igreja tem conduzido as reflexões, não apenas durante o período da Quaresma quanto ao longo do restante do ano.

Temas como a defesa da vida já iluminaram diretamente as Campanhas da Fraternidade de 1984 “Fraternidade e vida” com destaque que para o lema “Para que todos tenham vida”, a  de 2011 com destaque para “Fraternidade e a vida no planeta”,  2016 “Fraternidade e a casa comum, nossa responsabilidade”; 2017 “Fraternidade e os biomas brasileiros e a defesa da vida”, e, agora, em 2020 com o tema “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, com destaque para o Lema “ viu, sentiu compaixão e cuidou dele”, passagem retirada da parábola do Bom Samaritano.

É bom ressaltar que quando se fala em defesa da vida, o seu significado não se restringe apenas `a defesa da vida humana, mas todas as demais formas de vida, vegetal, animal, enfim, biodiversidade que garante a vida humana no planeta e a sobrevivência da raça/espécie humana.

De forma semelhante diversas campanhas da fraternidade tiveram como temas o combate a violência, principalmente a violência contra a mulher, contra a criança e adolescente e os idosos. Foram também temas o combate ao tráfico humano, a questão das drogas; os desafios da saúde, da educação, a defesa da biodiversidade, o apoio aos imigrantes, principalmente os que fogem de áreas de conflitos, guerras ou desastres naturais.

Coube também a Campanha da Fraternidade de 2019   dar ênfase à questão das politicas públicas no contexto da ação da Igreja , dos católicos, enfim, dos cristãos na esfera da politica, para suas responsabilidades, primeiramente como cristãos e só depois como figuras públicas. O lema escolhido foi “Serás libertado pelo direito e pela Justiça” Livro do Profeta Isaias, 1:27.

O cerne da Campanha da Fraternidade é despertar nos católicos e nos demais cristãos e também não cristãos, enfim, mulçumanos, judeus, budistas, espíritas, ateus e agnósticos para a realidade de que vivemos em um mesmo planeta e somos partes de uma grande família que é a raça humana e que precisamos nos tratar de forma verdadeiramente fraterna, construir nossas instituições, nossas culturas, nossos sistemas econômicos, políticos e sociais sobre o fundamento da verdadeira fraternidade, onde a violência, o egoísmo, o materialismo, a ganância que geram pobreza, miséria e exclusão, sofrimento humano, vitimando os mais frágeis, mais vulneráveis e excluídos não tenham mais lugar.

Precisamos a cada dia, cada vez mais sermos partícipes da civilização do amor, resgatar a ideia do paraíso, da sociedade do bem viver.

Este é o sentido quando o Papa Francisco quanto seus antecessores, diversos teólogos de diferentes religiões, credos e igrejas destacam a importância de vivermos em harmonia, dentro de nossas famílias, em nossas comunidades, em nossos países e no mundo todo, harmonia esta que fundamenta  a paz, que decorre da verdadeira justiça, a justiça social e a própria sustentabilidade ambiental ou a ecologia integral.

As nossas ações e também as nossas omissões em relação aos excluídos, representados pelo homem que foi assaltado, ficando em sofrimento a beira da estrada, sendo ignorado por sacerdotes, doutores da Lei, levitas e que só não veio a morrer porque foi socorrido por um anônimo transeunte a quem Jesus denominou de “Bom Samaritano”.

Ainda hoje milhões de pessoas mundo afora e em nosso país, continuam sofrendo à margem, não das estradas esburacadas, praticamente intransitáveis, das rodovias , ruas e praças de todos os países, mas também sendo empurrados para a periferia social, politica e econômica, onde a pobreza, a miséria e a fome representam tanto sofrimento quanto a violência física.

Continuamos vivendo em sociedades dividas em classes sociais, onde uma minoria, verdadeiras castas dominantes, tem todo o conforto, vivem `as vezes nababescamente e desperdiçando todos os bens produzidos socialmente e destruindo a natureza, enquanto a maioria da população vive ou meramente sobrevive com praticamente migalhas que caem  das mesas dos poderosos.

A concentração de renda, de salários, de bens, propriedades e riquezas em poucas mãos não deixa de ser um acinte contra a dignidade humana, ou na forma de pensar do Papa Francisco, um pecado, inclusive um pecado ambiental. Nossas sociedades continuam produzindo muito mais excluídos do que de bons Samaritanos.

Não podemos confundir fraternidade, solidariedade com pequenos gestos esporádicos em  algumas datas ou momentos de destaque em nossa sociedade como o dia das crianças, do pai, da mãe, do amigo/amiga, do natal e da Quaresma ou dias especiais devotados a pessoas que sofrem com determinadas doenças. Esses pequenos gestos, podem ser representados por moedas de pequeno valor que “jogamos” em mãos ou chapéus estendidos por pessoas que imploram a caridade pública para talvez poderem comer um prato de comida, quando nem mesmo comida encontram ao revirarem lixo nas ruas ou lixões, disputando com animais, cachorros, ratos, porcos e urubus restos que são jogados como lixo doméstico ou comercial.

A Cáritas Brasileira em suas atividades destaca três tipos de fraternidade/caridade: a) assistencial/emergencial (dar o peixe, pão a quem tem fome e água a quem tem  sede) ou seja, como fez o Bom Samaritano “viu, sentiu compaixão e cuidou dele” referindo-se ao homem assaltado que estava morrendo `a beira da estrada, como milhões de excluídos mundo afora, inclusive em nosso país, desempregados, subempregados, morando em habitações sub-humanas, passando frio e fome; b) caridade/fraternidade promocional (ensinando a pescar), levando que as pessoas excluídas tenham novas oportunidades de se inserirem produtivamente na sociedade, no mercado de trabalho, na economia, e, c) caridade libertadora (pescando juntos/juntas), como fez o Bom Samaritano, além de socorrer o homem que estava `a beira da estrada/da sociedade, levou o mesmo para uma hospedaria e pagou ao dono da hospedaria tudo o que era necessário tanto para curar as feridas da violência sofrida, como tantas vitimas em nosso país, como as mulheres violentadas por seus conjugues, companheiros ou jovens que caem nos laços da drogadição e que precisam de tratamento, de cuidados médicos, hospitalares e um acompanhamento.

No caso do Bom Samaritano, disse o mesmo ao dono da hospedaria, “faz tudo o que for preciso para restaurar-lhe a saúde e a vida”, deixando algum dinheiro e dizendo, se os gastos forem maiores, quando “eu retornar” lhe pagarei a diferença.

Será que os orçamentos públicos tem destinado recursos suficientes para atender as necessidades básicas de saúde pública, educação, justiça, segurança, habitação, saneamento básico, capacitação para que os excluídos de hoje não continuem excluídos eternamente em nossa sociedade?

Será que nossos governantes não poderiam implementar politicas públicas que reduzam a concentração  de renda, riqueza e oportunidades não mãos, bolsos e contas bancárias das elites dominantes no Brasil ou em paraísos fiscais, dos marajás da República, como acontece com as bilionárias renúncias fiscais, incentivos fiscais, anistias a grandes sonegadores, que a cada ano, somam mais de 25% dos orçamentos públicos, maiores do que a soma de tudo o que os poderes públicos “gastam/investem” em saúde pública, educação pública, segurança pública, meio ambiente, saneamento, habitação social?

Com toda a certeza nossas instituições governamentais estão muito mais a serviço dos donos do poder, dos poderosos, do que da grande massa dos excluídos, esses com certeza continuam sofrendo `a espera do Bom Samaritano dos dias atuais.

Finalmente, o terceiro tipo é a caridade/fraternidade/solidariedade libertadora, que representa o “pescar juntos”, quando não apenas sentimos emocionalmente ou verbalmente a dor do próximo, mas nos colocamos ao lado dele, dos excluídos, dos injustiçados, dos violentados para não apenas o levantarmos mas também caminharmos ao lado dele, apoiando suas lutas, buscando vencer seus desafios materiais, humanos, emocionais, políticos, econômicos, sociais e espirituais.

A Caridade/fraternidade libertadora representa uma luta contra todas as formas de injustiças, contra os privilégios, contra a corrupção, contra o consumismo, contra o desperdício, contra a degradação ambiental e a favor do que o Papa Francisco denomina de ECOLOGIA INTEGRAL, corporificada tanto nos evangelhos, quanto na Doutrina Social da Igreja e nos ensinamentos dos profetas, relembrando uma passagem bíblica que diz “se os profetas se calarem, até as pedras falarão”. (Evangelho de São Lucas, 19:40). Este é o sentido de uma “Igreja em saída, uma Igreja missionária”, com a cara dos pobres e excluídos.

Portanto, neste ano de 2020 a CAMPANHA DA FRATERNIDADE exorta-nos, como cristãos, que a defesa da vida não se restringe apenas às formas de caridade/fraternidade assistencial, emergencial, promocional, mas também, e, fundamentalmente, que pratiquemos a caridade/fraternidade libertadora, caminhando ao lado dos excluídos, juntando nossas vozes, nossas ações politicas, sociais, culturais e econômicas a milhões de pessoas que aguardam a mão amiga de um BOM SAMARITANO.

O mundo e o Brasil principalmente, carecem  muito mais de BONS SAMARITANOS do que doutores das Leis, sacerdotes, religiosos e levitas omissos e coniventes com os atuais salteadores (donos do poder e classes dominantes) que roubam e violentam as pessoas em nossa sociedade, incluindo os salteadores dos cofres públicos  e dos orçamentos públicos, principalmente os de colarinho branco ou de outras cores e formas de vestimentas honoríficas.

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, articulista e colaborador de alguns veículos de comunicação. Twitter@profjuacy Blogwww.professorjuacy.blogspot.com Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank" rel="noopener noreferrer" data-auth="NotApplicable">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Segunda, 13 Janeiro 2020 09:50

 


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Por Aldi Nestor de Souza*

 

Meses atrás aconteceu a seguinte palestra na UFMT

"Gestão de si: como afeto o mundo a minha volta quando cuido de mim."

Esse título, que nunca mais consegui esquecer, traz, a meu ver, duas palavras que são as mais graves doenças do nosso tempo.

Gestão e Mim.

E não são, na minha leitura, apenas doenças graves, são doenças que geram outras, igualmente graves, como depressão, ansiedade e empreendedorismo.

Que diabos é o MIM na fila do pão? quem é MIM? que importância tem o MIM ? Pra que serve o MIM? Que faz o MIM ? Só uma sociedade gravemente enferma perde tempo com o MIM e dá a ele uma importância que, evidentemente, não tem. MIM e nada é exatamente a mesma coisa. Dá bola pro MIM só serve pra deixar um bando de MINS com cara de quem engoliu um vereador. E, portanto, suscetível às mais corriqueiras doenças que acometem esses ansiolíticos dias.

E Gestão? Pra começar, é uma palavra completamente desnecessária. Todo mundo consegue viver sem ela numa boa. Em qualquer que seja a repartição, tem um diretor, um presidente, essas coisas. Mas gestor não existe. Gestor é um misto de nada com coisa nenhuma que só serve pra fazer o sujeito pensar que é um MIM. Além disso, Essa palavra só passou a ser usada, assim como gripe, bem recentemente, no bojo do desenvolvimento neoliberal, que pretende transformar a coletividade num bando de MINS, sisudos, isolados, doentes e "gestores de si".

A tal palestra foi proferida por uma Coach. E aí, desde esse dia, todo o tempo livre que tenho uso pra tentar descobrir o que faz um(a) coach.

Nesses recessos vadios de fim de ano, portanto, tô metido nas leituras do mundo dos coaches. Descobri hoje, mesmo sem saber ainda o que faz um coach, que existe "coach quântico" e que significa o seguinte.

"O Coaching Quântico é uma imersão em busca de você mesma(o). É uma jornada para despertar o seu potencial infinito de se realizar e obter os melhores resultados na sua Vida Pessoal e Profissional."

Uma outra definição é a seguinte:

"COACHING QUÂNTICO -
Uma Imersão para Despertar seu Potencial Evolutivo e Girar a Chave da sua Vida!"

Uma terceira definição flerta com a física quântica e um tremendo bafafá com os físicos pode ser conferido na Internet

"Por definição, coaching é uma metodologia que busca elevar a performance de um indivíduo ou grupo, atingindo os objetivos e resolvendo problemas. Já quântico é um termo que pertence a uma teoria que acredita que todos os seres humanos são formados por energia e estão conectados por meio dela. Dessa forma, o coaching quântico tem como objetivo o alinhamento energético. "

"Agora pare, pegue no bumbum
agora desce, pegue no compasso
pegue no bumbum
pegue no compasso
pegue no bumbum
pegue no compasso." É o tchan.

Descobri que vai haver um encontro em Recife, em Janeiro de 2019, sobre coaching quântico e que, dentre outras coisas, vai ensinar o seguinte:

- A voz do mentiroso:

Como identificar a voz do mentiroso que opera dentro de você e o desvia do seu propósito e de ter uma vidafeliz e abundante?

- Libertação do mentiroso:

Como se libertar do mentiroso?

- Como se transformar num Ímã:

Como atrair a abundância e saúde para a sua vida, qualificar seu relacionamento atual ou atrair um novo relacionamento, um novo emprego, uma nova viagem para um novo lugar, ou uma incrível viagem para dentro de você?

Então: O que esperar de um MIM quântico, empreendedor e GESTOR de si mesmo, além do aquecimento da indústria dos tarjas pretas, das armas, da violência, da intolerância, do terrorismo e do fascismo?


*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de Matemática da UFMT/Cuiabá
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Sexta, 10 Janeiro 2020 12:32

 


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Fernando Nogueira de Lima*

 

Dia desses, andava eu à toa num shopping quando me vi diante do José Saramago. E, então, para não perder a oportunidade de conversar com o Nobel de literatura me dirigi até ele e manifestei esse meu desejo. Pois bem, minutos depois, confortavelmente sentado em um dos bancos espalhados naquele espaço comercial, iniciei uma agradável e instigadora conversa com o escritor português sobre o pedido de perdão da Igreja Anglicana a Charles Darwin, que se deu por ocasião da comemoração dos duzentos anos do seu nascimento.

De saída, colocando em dúvida a existência deles, afirmou que para os leitores ingênuos isso é uma boa notícia. Esclareceu que nada tem contra pedidos de perdão que, segundo ele, ocorrem quase todos os dias por uma ou outra razão. Todavia, apressou-se a colocar em dúvida sua utilidade, pontuando que mesmo se o Darwin fosse vivo e aceitasse o pedido não apagaria uma única das injustiças sofridas. Assim, o único beneficiado é mesmo a Igreja Anglicana que, sem despesas, veria aumentado seu capital de boa consciência, disse ele.

Não parou aí e lançando mão da ironia como figura de linguagem, recurso linguístico cada vez menos utilizado entre nós e quando empregado cada vez menos compreendido, disse que deveríamos agradecer o arrependimento, ainda que tardio, pois talvez estimulasse o Papa Bento XVI a também pedir perdão a Galileu Galilei e Giordano Bruno, destacando que este cristão foi caridosamente torturado até a fogueira em que foi queimado.

Distanciei-me dos seus argumentos e fiz considerações sobre o perdão na perspectiva de quem perdoa que, a meu sentir, nada tem a ver com esquecer o que se deu, e sim com deixar de sofrer ao se lembrar do ocorrido. Afirmei que perdoar alguém pós-morte ou a quem pede perdão movido pelo arrependimento, ao assumir os erros do seu proceder reconhecendo a injustiça cometida e os males dela advindos é opção para deixar a vida seguir em frente, virando páginas de um passado ruim do livro da vida, que insiste em se fazer presente.

Destaquei, também, que guardo comigo boa dose de desconfiança quanto às verdadeiras motivações para o remorso transformado, tardiamente, em ação. Pois, mesmo diante da hipótese de benefícios para a história, para a ciência, para descendentes ou para a popularização da prática do perdão, aqui e alhures, nada mais é do que uma súplica inútil. É um grito solto aos quatro ventos, porém, sem eco advindo de quem não pode mais perdoar.

Por conta de compromissos outros tivemos de suspender a conversa, convencidos de que iríamos nos encontrar outras vezes - não mais ali, para dialogarmos sobre este e outros assuntos do cotidiano da vida e sobre alguns personagens da história contemporânea. Então, antes de nos despedirmos, conclui meu raciocínio anterior dizendo que em relação a quem não tem consciência do erro cometido ou a quem não carrega culpa pela atitude perpetrada não há que se falar em perdão, e que, nesses casos, resta apenas o diálogo ou a indiferença.

Creio que você deve estar se questionando: o José Saramago? Dias desses? Como assim? Apresso-me a explicar: na verdade, estava eu no tal shopping quando vi um Sebo Cultural para onde me dirigi de imediato, e lá o olhar se direcionou para um dos livros que estavam à mostra na vitrine principal, qual seja o Caderno de José Saramago que contém os textos escritos para o seu blog, durante setembro 2008 a março de 2009. Após comprá-lo, sentei-me no banco mais próximo e vivenciei momentos de excelente leitura e de boas reflexões.

A propósito do tema daquela conversa fictícia, para os que falam que é fácil dizer que temos de perdoar, difícil é fazê-lo, eu respondo que na vida as coisas são simples, nós é que as complicamos em demasia. Parafraseando Ataulfo Alves e Mário Lago, no samba “perdão foi feito pra gente pedir”, assevero: perdão, por ser uma atitude que pressupõe uma via de mão dupla foi feito pra gente acolher e assegurar a plenitude dos benefícios atinentes, dentre eles o de viver sem mágoas e sem ressentimentos.  Em paz com os outros e consigo mesmo.

Por fim, atenho-me a reminiscências de um filme que assisti há muito tempo. Dele, recordo-me do final em que os protagonistas que vivenciavam uma separação litigiosa se encontram, por acaso, quando vinham em direções opostas pela mesma calçada. Diante um do outro, se entreolharam, e em seguida, ele ou ela – não lembro mais quem, disse: perdoe-me. Nada mais foi dito, apenas abraçaram-se carinhosamente e depois, braços dados, seguiram juntos e em paz na mesma direção. Assim terminou o filme e assim termino este texto. 

Que o Ano Novo seja tempo para viver em paz com os outros e consigo mesmo. E, quiçá, também seja tempo para declínio do antagonismo estéril e avanço do pensamento crítico, em prol do bem comum.  

 

*Fernando Nogueira de Lima é engenheiro eletricista e foi reitor da UFMT

Sexta, 10 Janeiro 2020 12:29

 

 

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Artigo enviado pelo Prof. aposentado da UFMT, Juacy da Silva

Soleimani, as manobras de Trump alarmam o Papa. No Vaticano, código vermelho Fonte: Site www.ihu.unisinos.br 06/01/2020 

AGRAVAMENTO DA CRISE NO ORIENTE MÉDIO 2020

Soleimani, as manobras de Trump alarmam o Papa. No Vaticano, código vermelho

Fonte: Site www.ihu.unisinos.br 06/01/2020 

Soleimani, as manobras de Trump alarmam o Papa. No Vaticano, código vermelho

"O assassinato do general Soleimani não ocorreu no curso de uma "ação militar normal". Foi o assassinato planejado e espetacularizado de um altíssimo expoente do Irã. Uma exposição do poder soberanista", escreve Marco Politi, vaticanista, jornalista, escritor, professor universitário, e autor do livro intitulado "A solidão de Francisco: Um Papa profético, uma Igreja na tempestade", em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 05-01-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

No Vaticano, código vermelho. O pontífice acompanha constantemente os eventos em curso entre Teerã e Washington. O assassinato do general Soleimani ocupa as manchetes do Osservatore Romano desde 3 de janeiro.

A escalada de violência de Donald Trump preocupa gravemente o Papa Francisco. O cardeal Peter Turkson, prefeito do dicastério para o Desenvolvimento, denuncia a incumbência de uma "espiral de vingança com todos os sinais ... de tensão e de guerra". O núncio do Vaticano no Irã enfatiza fortemente nas últimas horas um conceito básico de Francisco: "A boa política está a serviço da paz, a comunidade internacional deve se colocar a serviço da paz".

L'Avvenire, o jornal da CEI, reflete com precisão (e com maior liberdade por não ter vínculos diplomáticos) o clima que reina na comitiva papal. A eliminação do general iraniano Qassem Soleimani - escreveu em um editorial de primeira página - “é um frio assassinato … reflete a atitude incompreensível e indefensável do governo Trump, que parece agora proceder sem nenhum planejamento estratégico sério, de forma impensada, manobras impulsivas ... ".

O pontífice sempre discorda de operações militares unilaterais, disfarçadas em boas intenções, porque vê seus propósitos de poder. Em 2015, falando às Nações Unidas em Nova York, ele lembrou que "não faltam provas graves das consequências negativas das intervenções políticas e militares não coordenadas entre os membros da comunidade internacional". Foi ainda mais claro na entrevista coletiva em seu retorno da Coreia do Sul, em agosto de 2014: "Precisamos ter memória! Quantas vezes, com essa desculpa de deter o agressor injusto, as potências se apoderaram dos povos e fizeram uma verdadeira guerra de conquista! Uma única nação não pode julgar como parar um agressor injusto".

Vaticano tem uma memória longa, não raciocina seguindo a métrica dos tweets, mas das décadas. No Vaticano, lembram que João Paulo II foi contra a empreitada estadunidense no Afeganistão e, em 2003, desenvolveu todas as ações diplomáticas possíveis para impedir a invasão do Iraque defendida pelo presidente Bush e baseada em alegações totalmente falsas de posse de armas de destruição em massa por parte de Saddam Hussein. As guerras no Afeganistão e no Iraque foram um desastre para os Estados Unidos e o Oriente Médio e alimentaram poderosamente o surgimento do ISIS e uma onda sangrenta de terrorismo em todo o mundo. Os efeitos ainda são sentidos hoje.

A diplomacia do Vaticano é prudente, não alimenta ilusão sobre manobras, ataques, atentados provocados nos últimos anos pelo Irã; mas ninguém tem a menor dúvida sobre a responsabilidade de Trump nos dias de hoje de abandonar o "conflito de baixa intensidade" que opôs os iranianos aos estadunidenses (e seus respectivos aliados) nos últimos anos, provocando uma escalada de violência com resultados imprevisíveis. O assassinato do general Soleimani não ocorreu no curso de uma "ação militar normal". Foi o assassinato planejado e espetacularizado de um altíssimo expoente do Irã. Uma exposição do poder soberanista.

No Vaticano, também não esquecem a ação negativa exercida nessas décadas pela direita expansionista israelense, que no início do século (primeiro-ministro Ariel Sharon) instigou sistematicamente os líderes estadunidenses a agir contra Saddam Hussein e que, nos últimos anos, sob o governo Netanyahu - em uma mistura de fanatismo nacionalista e fundamentalista - incitou contra o Irã para eliminar qualquer contrapoder no cenário do Oriente Médio que pudesse retardar a crescente anexação de territórios palestinos.

O objetivo último de Netanyahu - a diplomacia do Vaticano registrou isso atentamente - é anexar o vale do Jordão. O editorial do Avvenire fala claramente: “Aproximar-se de um conflito aberto com o Iraque (é) um objetivo nem tão velado pelos falcões em torno de Trump ou pelos lobbies ligados aos círculos de poder mais radicais de Israel e da Arábia Saudita que influenciam o errático avançar da Casa Branca”.

Fechado no Vaticano, o Papa Francisco está medindo as palavras. Certamente abordará a questão na próxima reunião com o corpo diplomático. Mas a diferença entre a Santa Sé e Washington ampliou-se dramaticamente. O pontífice não perdoa Trump por ter se retirado do acordo com o Irã sobre a energia nuclear e por sabotá-lo abertamente, nem por ter legitimado as pretensões de anexação israelense sobre a parte oriental árabe de Jerusalém, das colinas sírias de Golã, das "colônias" implantadas ilegalmente em terras palestinas.

Francisco está alarmado com a crescente ideologia soberanista em Washington e em outros lugares. "O soberanismo é um exagero que sempre acaba mal - afirmava em agosto passado em uma entrevista ao jornal La Stampa. Leva a guerras".

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Quarta, 18 Dezembro 2019 15:22

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Por conta de recessos e de férias, este artigo deverá ser o último que produzo este ano. Deverei retomar meu grande vício – escrever – na segunda quinzena de janeiro/2020.

Em geral, em meus últimos artigos de cada ano, gosto de fazer um balanço do período vivido. Hoje, farei diferente; ou quase...

Como a cultura e os artistas brasileiros foram agredidos como raramente antes, terminarei o ano com arte, mais especificamente com dois poemas do livro “Matrioskas” (BesouroBox; Porto Alegre: 2018) de Rubermária Sperandio, uma “mineira, criada em Mato Grosso, que hoje reside no Rio”. Na UFMT, Comunicação Social foi o seu curso de graduação; no mestrado, formou-se em Mídia, Política e Cultura pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Linguagens, também da UFMT.

Da orelha de Matrioskas, consoante João Pedro Roriz, “...O livro revela a capacidade de síntese e de ação de uma feminista que, através de seus versos, devolve a humanidade à caverna ideológica que sempre habitou...”.

Ainda para Roriz, “A obra revela um talento inominável no campo social e poético. Rubermária nos conduz a um estado de desconforto imediato. Na sequência de histórias, é possível enxergar o estupro coletivo de uma menina na favela do Rio, o apartar de uma mãe das garras do marido agressivo; o planejamento do aborto consentido pela instituição familiar, a narrativa sobre a fé cega confiada à Igreja e à Lei”.

A esses comentários, acrescento: os poemas de Matrioskas são engajados; nem por isso podem ser identificados como panfletos. Ao contrário, pois são textos sustentados por vários recursos que envolvem a criação poética. Deles, destaco os ricos intertextos e interdiscursos, sem contar com a capacidade de Rubermária acionar um conjunto valoroso dos processos figurativos: aliás, exigência elementar para a boa literatura.

Como se sabe, “matrioskas” – ou bonecas russas – são brinquedos tradicionais na Rússia. Em geral, elas são feitas de madeira, colocadas umas dentro das outras; somente a menor (que é sempre a última) não é oca. Importante salientar a complexidade dos motivos pintados em tais bonecas. Também vale destacar a variada personificação das bonecas; elas podem ser figuras femininas vestidas de campesinas, personagens de contos de fadas ou até líderes da antiga URSS.

Mas vejamos o primeiro dos dois poemas que destaquei para este momento: “Matrioskas” (p. 42), que dá nome ao título do livro, se propõe metaforicamente a tratar da condição feminina alhures:

Pra não romper nas nervuras,// facilitar o entalhe,// secar sem se entortar,// é preciso escolher a madeira certa.// Depois, faz-se um buraco nela.// ‘Vai doer!’// Ainda dói// o miolo estripado.// No seu oco// coloca-se a outra// feita à sua semelhança;// cópia da cópia.// Para animar mais o artesão,// cores alegres e divertidas.// Verniz contra o gelo// pra ela não desmaiar.// Assim são espalhadas pelo mundo,// em diferentes cores e fantasias.// mães e filhas, bonecas// fazendo a festa do artífice.// E lá dentro da matrioska, mulheres diminuídas.// Mas tudo tem um fim.// A última será a inteira.

O segundo poema é “Cegueira” (p. 49); seu elemento central é a força da ignorância, algo que tem crescido assustadoramente no Planeta:

A ignorância, quando nasce,// é um elefante neném// Pisa na própria tromba.// Chora a dor,// mas não sabe de onde vem.// Quando cresce, a ignorância// se torna invisível,// Um elefante trombando no outro//, acerta o pai, a mãe e o irmão com seu fusível// Chora a dor, mas não sabe de onde vem.// Os clãs em guerra.// Alvos para todos os lados.// Bala perdida na boca de neném.// Todos aterrorizados.// Submarinos invisíveis nos golfos.// Choram a dor,// mas não sabe de onde vem”.

Pois bem. Cumprimentando a excelente escritora Rubermária Sperandio, aproveito o poema acima para conclamar cada leitor a se somar na luta contra a ignorância, já tão abrangente, pois isso poderá comprometer o futuro das novas gerações, o futuro de nosso país.

Boas festas a todos e renovadas forças para 2020.  

Terça, 10 Dezembro 2019 10:06

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Para os mato-grossenses, 2019 é daqueles anos marcantes: Cuiabá, sua capital, completa 300 anos; sua universidade federal (a UFMT), 49.

Dito assim, tudo poderia ficar apenas no calor dos aplausos. Todavia, a UFMT tem buscado marcar este momento com homenagens valorizadoras da identidade do “povo cuiabano”. Assim, destaco um título já concedido e uma demanda ainda em curso na Instituição.

Em meados de novembro, o Conselho Superior da UFMT outorgou o título de Dra. “Honoris Causa” a Domingas Leonor da Silva. Hoje, dia 10/12, no Teatro Universitário, ocorre a cerimônia pública da homenagem.

No início dos anos 90, recém-chegado em Cuiabá, durante viagens a diversas cidades de MT para o compartilhamento de saberes acadêmicos e populares com trabalhadores da educação, conheci a Domingas, que simplesmente me ensinou a amar esta terra, esse povo, essa cultura.

Mas quem é Domingas?

Uma cuiabana de descendência indígena que, provavelmente num dia de sol, nascera em 1954, na Comunidade de São Gonçalo Beira Rio. Desde cedo, absorvera os saberes herdados de seus pais e avós.

Nas palavras do prof. Fernando Tadeu, relator do processo de outorga, “os saberes da Sra. Domingas Leonor sobre o modo de viver do ribeirinho, os segredos da arte em cerâmica, da culinária regional e a manifestação disso tudo em poesia garantem a preservação, transformando em arquivo vivo uma fonte de oralidade das mais preciosas”.

Em 1993, Domingas fundou o “Flor Ribeirinha”, o grupo de dança que já fez franceses, alemães, belgas, chineses e turcos assistirem ao siriri e ao cururu, duas das maiores expressões culturais de MT. Na Turquia, o grupo foi campeão mundial do Festival Internacional de Arte e Cultura.

Que honra ter podido participar também desse momento! A Dra. Domingas Leonor, agora mais do que nunca ao nosso lado, só nos enriquece, nos enche de orgulho.

Por outra sorte, o primeiro título de “Notório Saber” que já poderia ter sido concedido na UFMT, ainda se arrasta nos meandros da burocracia, que, aliás, pode estar escondendo ações (ou omissões) indevidas.

Explico: desde 2016, o professor Abel Santos Anjos Filho vem pleiteando o título de Dr. Notório Saber. Infeliz e imprudentemente, há quem lhe indique o percurso convencional para a obtenção do título de doutor.

Aqui, advirto para a possibilidade de preconceitos diante da solicitação desse colega. O convencional é para os convencionais, que são muitos. A notoriedade é para os notórios, que são poucos. Simples assim. As produções acadêmicas e artísticas do professor Abel se encaixam na notoriedade. Ademais, seu pleito é legal.

Abel pertence ao grupo dos primeiros colegas que tive no Instituto de Linguagens. De cara, passei admirá-lo como artista buscando valorizar a arte e a cultura populares de MT. Logo depois, a respeitar também sua trajetória acadêmica, pois foi ele o primeiro a levar os signos mais representativos de nossa cultura regional ao exterior.

E seu percurso artístico/acadêmico tem sido profícuo. Até o momento, são quatro livros publicados, além de diversas composições de obras musicais eruditas, sacras e populares. Do conjunto, destaco a “Sinfonia Pantaneira”, primeira obra, no mundo, para viola de cocho e orquestra.

Em 1995, Abel foi escolhido como um dos personagens do Programa “Gente que faz”, da Rede Globo/BamerindusAssim, produziu e compôs arranjos musicais de 26 CD’s sobre a cultura regional, com destaque às manifestações do cururu e siriri.

Na condição de palestrante, em 1996, foi recebido pelas universidades portuguesas do Porto, Aveiro e Évora. Em Paris, apresentou-se a um grupo de Etnomusicólogos da Sorbonne.

Lá mesmo, um ano depois, no “Musée de L’Homme”, mas na condição de concertista, realizou um concerto-palestra na abertura da temporada de Primavera de Paris. Ao final, em nome de todos nós, presentou o museu com um exemplar da viola de cocho; faltava esse instrumento naquele espaço. Não falta mais.

Na sequência, recebeu uma bolsa de investigação científica pela Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa, o que lhe possibilitou realizar pesquisas sobre a viola de cocho em território europeu. Isso se encontra documentado no Livro/CD “Uma Melodia Histórica”, de 2002.

Portanto, após o importante “honoris causa” a Domingas Leonor, a UFMT, infelizmente, fechará 2019 com o débito do “Notório Saber” ao professor Abel.

Espero que a dívida seja reparada em 2020, estando sua importante presença na centralidade das comemorações dos 50 anos da Instituição. Assim, gostaria de vê-lo aplaudido não somente porque poderá abrilhantar – como tem feito há décadas – mais uma cerimônia da UFMT, mas porque todos os presentes terão reconhecido seu notório e notável saber.

Em tempo: o ex-reitor Paulo Speller, na cerimônia do dia 10, recebeu o título de Emérito da UFMT.

 

Quinta, 05 Dezembro 2019 10:25

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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2019 já está em sua reta final. Se me perguntarem sobre um dos sentimentos que mais experimentei durante este ano, respondo sem medo de errar: vergonha alheia; aliás, há alguns dias, a vergonha alheia tem sido acionada a cada momento, bem mais do que o esperado.

Mas por que esse sentimento tem sido tão recorrente?

Porque temos um governo de sociopatas. Até onde se pode perceber, poucos dos que nos governam conseguiriam fugir dessa triste, vergonhosa e miserável condição humana.

Antes de tudo, vale dizer, ainda que de forma mais genérica e chão possível, que a “sociopatia” refere-se ao “transtorno de personalidade que é caracterizado por um egocentrismo exacerbado, que leva a uma desconsideração em relação aos sentimentos e opiniões dos outros”.

No caso dos agentes governistas brasileiros, mais do que isso: como esse egocentrismo parece não ter o menor registro de limites, a desconsideração em pauta vai além dos “sentimentos e opiniões dos outros”: ela ignora o real concreto; ou seja, aquilo que está absolutamente posto em termos de construção histórica, de lógica, de sustentação científica etc.

Nesse sentido, nos últimos dias, o país assistiu a capítulos impensáveis para o século XXI.

Do conjunto de enunciados abusivos, começo pontuando o que permeou o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20/11.

Por “coincidência”, o novo presidente da Fundação Cultural Palmares, Sr. Sérgio Nascimento de Camargo, que assumira o cargo no dia 27/11, começou declarando que aquela comemoração, que busca reviver a luta da população negra, historicamente excluída de condições dignas de sobrevivência, bem como resguardar a cultura afro-brasileira, deveria ser abolida. Aquele senhor chegou ao sarcasmo de afirmar que a escravidão foi benéfica ao negro, pois lhe possibilitara a conquista das cotas nas universidades. Francamente.

Em uma de suas redes sociais, autoritário por excelência, dentre tantas aberrações que ali podem ser vistas, disse que “negro de esquerda é burro, é escravo”; que, em seu Face, “todo esquerdista será bloqueado; todo comentário de esquerdista será excluído. Não perca sem tempo aqui. Não sirvo capim!”.

Que ser ofensivo! Que inteligência duvidosa!

Durante minha carreira no meio acadêmico, mesmo pertencendo ao campo progressista, sempre convivi com incontáveis colegas inseridos nos quadros da direita brasileira; obviamente, via de regras, tive posturas políticas adversas a desses colegas. Contudo, o respeito mútuo sempre foi a tônica. Aliás, reconheci em diversos instantes a inteligência de muitos componentes dos quadros da direita.

Infelizmente, esse reconhecimento pelo senhor em pauta é simplesmente impossível. Nesse sentido, talvez o fato de ele não se prontificar servir capim a quem que seja se dê pela necessidade de se autoalimentar com as ervas de que dispõe. Em seu caso, qualquer distribuição de capim a outrem poderia lhe fazer falta para sua sobrevivência. Simples assim.

Além dessa figura, outras bizarrices surgiram. Destaco o novo presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes), maestro Dante Mantovani, discípulo do ultraconservador Olavo de Carvalho. Além de Mantovani desconsiderar todo acúmulo científico sobre a circunferência da Terra, postura bem comum a muitos do atual governo, ele ainda consegue ligar o rock a drogas, sexo, aborto e satanismo. Para essa sua última ligação, Mantovani afirma que o próprio John Lennon disse que fizera “um pacto com o diabo”.

Pergunto: temos ou não muitos motivos para vergonha alheia sem-fim?

Quinta, 28 Novembro 2019 13:16

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Quem mora em grandes ou  médias cidades, em regiões que possam ser atingidas por terremotos, maremotos, furacões, tornados, encostas de morros ou áreas alagadiças  como no Brasil e em vários países, onde desastres naturais ou ataques/bombardeios aéreos, como em regiões afetadas por guerras civis,  está mais do que acostumado com as sirenes de ambulância, corpo de bombeiros ou da defesa civil a qualquer hora do dia ou da noite. Isto é o que representa emergência.


A razão desses alertas é para reduzir as perdas humanas durante esses desastres e catástrofes. Mas nem sempre tais alertas tem conseguido atingir seus objetivos e cada vez mais milhares e milhares de pessoas acabam perdendo a vida ou bens materiais incalculáveis. Emergência então serve como um alerta permanente para evitar as consequências das catástrofes.


O mundo todo e não apenas alguns países estão em estado de EMERGÊNCIA CLIMÁTICA. Há mais de meio século praticamente todos os anos, milhares de cientistas vem alertando governantes, empresários e a população em geral quanto aos riscos crescentes resultantes das mudanças climáticas, decorrentes do aquecimento global, provocado por emissões crescentes de gases do tipo efeito estufa, fruto da ação humana, em certo sentido, irresponsável.


As mudanças climáticas provocam, além do aumento da temperatura média do planeta, também o aquecimento das águas e elevação do nível dos oceanos,  podendo desalojar mais de duzentos milhões de pessoas que moram em regiões próximas dos mesmos; aumentar a poluição do ar, afetando também dezenas de milhões de pessoas.


Segundo os dados dos últimos relatórios da ONU e da OMS sobre as mudanças climáticas e saúde, atualmente mais de sete milhões de pessoas morrem todos os anos em decorrência da poluição do ar. Esta já é a terceira maior causa de mortalidade no mundo.


No último relatório do Painel intergovernamental das mudanças climáticas da ONU, desta última semana de novembro de 2019, a grande maioria dos países, principalmente os integrantes do G20, responsáveis por praticamente 80% das emissões  de gases de efeito estufa não cumpriram com as metas estabelecidas no Acordo de Paris em 2015, metas essas aceitas pelos referidos países.


Além de não terem conseguido reduzir a quantidade de emissão desses gases, na contramão dos termos do referido acordo, tais emissões aumentaram em media entre 8% e 10%, colocando em risco não apenas o cumprimento das metas estabelecidas mas também a sobrevivência da espécie humana no planeta terra e  a destruição da biodiversidade.


Por outro lado, as mudanças climáticas vão impossibilitar o cumprimento dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, estabelecidos pela ONU e homologados por todos os países, inclusive o Brasil, tendo como horizonte temporal o ano de 2030, mesmo ano também estabelecido pelo Acordo de Paris para que o aumento da temperatura do planeta não ultrapasse 1,5 graus centígrados e a emissão de gases do tipo efeito estufa retorne aos patamares de 1990.


O Brasil, por exemplo, pouco ou quase nada tem feito, principalmente pelo governo Temer e atualmente pelo Governo Bolsonaro, para cumprir as metas estabelecidas, tendo, pelo contrário aumentado em 8% as emissões de gases efeito estufa, cujas origens são o Sistema de transporte, o parque industrial obsolete e em desacordo com as normais ambientais, o desmatamento e as queimadas em todos os biomas, principalmente na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal,  a precariedade do saneamento básico, principalmente a questão da produção e tratamento de lixo/resíduos sólidos e a falta de  coleta e tratamento de esgotos, entre outros desafios.


Esses são apenas alguns dos principais desafios que a COP 25, reunião do Clima que será realizado , sob os auspícios da ONU em Madrid, a partir da próxima semana, entre os  dias 02 e 13 de Dezembro de 2019, quando mais de 25 mil pessoas, entre representantes de governos, entidades não governamentais, empresariais, cientistas, estudiosos e ativistas contrários às mudanças climáticas e ao aquecimento global estarão debatendo o estado atual das questões ambientais e o futuro do planeta.


O Relatório do Painel intergovernamental das mudanças climáticas e os resultados de outros relatórios climáticos e do meio ambiente tanto da ONU quanto de outras organizações que tem sido divulgados são mais do que um alerta geral, chegando mesmo ao nível de indicar que estamos diante de um desastre ambiental sem precedente e cuja gravidade parece que tem sido simplesmente ignorada por governantes e empresários ao redor do mundo, muito mais preocupados com o poder, com as próximas eleições ou outras mediocridades que embasem suas ações. No caso do setor empresarial, ignoram todos os alertas quanto `a emergência climática e ambiental e se debruçam única e exclusivamente na exploração predatória dos recursos naturais, na busca do lucro imediato e na acumulação de renda, riqueza e propriedades, deixando para  o presente e para as próximas gerações um passivo ambiental impagável tanto em termos econômicos/financeiros quanto social e ambiental.


Ao assim agirem tanto governantes quanto empresários e, em certo sentido boa parte da população, agem como criminosos a quem pouco importa a sorte do planeta, das camadas mais empobrecidas, continuam insensíveis como tem acontecido com grileiros, madeireiros, latifundiários e falsos empresários que destroem as florestas ou empresas mineradoras a quem pouco importa a sorte de pessoas que perdem suas vidas e propriedades quando crimes ambientais são cometidos.


O alerta contido no  último e mais recente relatório do painel do clima diz textualmente “ nossos oceanos, nossas terras, o ar que respiramos, enfim, a humanidade inteira estão na iminência de um risco gravíssimo, ou seja, uma EMERGÊNCIA CLIMÁTICA jamais vista, se os níveis da emissão de gases tipo efeito estufa não forem reduzidos drasticamente em curto tempo, até 2030”.


As discussões na COP 25, na próxima semana em Madrid, deverão girar em torno de alguns objetivos que também são os desafios mais prementes relacionados com as mudanças climáticas, cabendo destaque para: 1) Que os países, principalmente os integrantes do G20, que são responsáveis por, praticamente, 80% das emissões de gases de efeito estufa, principalmente a China, os EUA, a Índia, a Rússia, o Brasil, o Japão e alguns países da União Europeia; cumpram com os termos do ACORDO DE PARIS, de 2015 e as resoluções da COP 24, de 2018 na Polônia, para que o aumento da temperatura do planeta não exceda 1,5 graus centigrados até 2050.


Tanto no acordo de Paris quanto na COP 24, vários compromissos foram firmados por todos os países no sentido de que até 2020 e depois até 2030, todos os países reduzissem/ reduzam as emissões de gases de efeito estufa. No entanto, tais compromissos foram e continuam simplesmente ignorados e o volume das emissões aumentaram e continuam aumentando significativamente.


2) Que todos os países signatários do ACORDO DE PARIS e das resoluções da COP 24 cumpram integral, fielmente e imediatamente com seus compromissos, para que as metas relativas `as emissões de gases efeito estufa sejam cumpridas de fato.


3) Que o Mercado de carbono como aprovado na COP 24 seja uma das prioridades nas discussões da COP 25 e que os mecanismos de redução das emissões sejam efetivamente colocados em vigor.


4) Que a questão do acesso aos mecanismos de mitigação das perdas e danos estabelecido no Acordo de Warsóvia em 2013, associados aos impactos que as mudanças climáticas tem provocado nos países subdesenvolvidos e emergentes seja debatida e aprofundada, estabelecendo as bases de ação em relação a tais perdas e danos ambientais, econômicos e sociais.


5) A imperiosa necessidade do avanço das discussões e negociações quanto aos fundos e recursos financeiros que os países desenvolvidos se comprometeram a repassar aos países subdesenvolvidos e emergentes, para implementarem ações de combate `as mudanças climáticas, o chamada Fundo Verde do Clima.


Ainda no contexto das discussões a serem travadas na COP 25, temas como produção e consumo sustentáveis; a economia circular, reciclagem, logística reversa, redução do desperdício, redução da produção, tratamento e destino do lixo , agroecologia, a agricultura urbana e periurbana, o reflorestamento, cidades sustentáveis, substituição das matrizes energética e elétrica que atualmente usam combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) por energias limpas e alternativas como energia solar, eólica, biomassa; eficiência energética; ampliação e modernização do Sistema de transporte público de massa,  de qualidade em substituição ao uso de transporte individual por carros e outros veículos movidos a combustíveis fósseis (gasolina e óleo diesel).


Outro aspecto que começa a ganhar corpo nessas discussões é a questão de um imposto sobre danos ambientais e poluição a ser cobrado de todos os setores e agentes poluidores e que degradam o meio ambiente, incluindo frota de veículos,  fábricas, mineradoras, ou seja, a ideia é que quem polui e degrada o meio ambiente deve pagar pela poluição e degradação provocada e não deixar a conta para o público em geral ou as futuras gerações.

A lógica atual da privatização lucro e a socialização das perdas, em todos os setores, mas principalmente em relação ao meio ambiente é danosa à sociedade em geral e aos cidadãos em particular e incentiva práticas degradadoras.


Esta lógica perversa precisa acabar e em seu lugar estabelecer ônus a quem não respeita o meio ambiente e pensa apenas no lucro imediato.

Enfim, mais uma vez, como em anos anteriores, o mundo estará sendo confrontado com desafios que não podem ser postergados e muito menos ignorados como tem acontecido até o momento. Este é o sentido do ativismo ambiental que temos visto crescer de forma significativa mundo afora e que precisa ser também estimulado no Brasil, antes que seja tarde demais!


Para que esta EMERGÊNCIA CLIMÁTICA seja enfrentada o ativismo ambiental, a luta em defesa do planeta, o compromisso de que as futuras gerações possam exercer o direito a um meio ambiente saudável, menos poluído é mais do que imperativo, é uma luta em defesa da vida, um direito humano fundamental de todos os seres humanos.


Existe um proverbio que afirma “quem não luta em defesa da vida não é digno/digna de vive-la”, ou seja, não podemos ser meros expectadores passivos do que acontece no mundo, a começar pelo que acontece a nossa volta, em nossa vizinhança, nossa comunidade, nossa cidade, nosso Estado, nosso país. Devemos “pensar globalmente e agirmos localmente”.


Precisamos lutar para que a questão das mudanças climáticas, enfim, o meio ambiente ou o que o Papa Francisco tanto enfatiza como a Ecologia Integral, faça parte das  discussões públicas, da agenda pública nacional, estadual e municipal, principalmente, no caso do Brasil, que em 2020 estarão sendo realizadas eleições municipais, base de todas as nossas ações.


Não  podemos continuar assistindo passivamente a tanta mediocridade, ou planos de governo que pouco ou nada apresentem em termos de propostas relativas ao meio ambiente.


Precisamos urgentemente de uma politica de meio ambiente e de um Plano Nacional, Planos Estaduais e Planos  Municipais de meio ambiente, com o estabelecimento de objetivos, metas, indicadores, recursos a serem investidos nesta área, mecanismos de articulação das ações governamentais em todos os níveis de poder e mecanismos de controle e avaliação dos resultados. Sem isso estaremos perdendo o bonde da história e colhendo apenas os resultados negativos que esta omissão produz.


Discursos vazios, demagogia ou obscurantismo ambiental não podem continuar como práticas de governantes e empresários que simplesmente ignoram a degradação ambiental, crimes ambientais e o future do planeta.


Só assim estaremos combatendo as mudanças climáticas e salvando nosso planeta de uma destruição sem volta.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

 

Quarta, 27 Novembro 2019 15:57

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Quem nunca “deu uma de médico”, receitando “remediozinho” a alguém, ou nunca armou alguma loucura, geralmente bem pensada, que atire uma pedra. Por isso, poucas expressões da língua portuguesa abarcam mais o povo brasileiro do que a conhecida “De médico e louco, todo mundo tem um pouco”.

Mas o que pode acontecer quando extrapolamos os limites daquele “...um pouco” dessa expressão idiomática?

Muitas e impensáveis coisas; e é disso que trato aqui. Para tanto, lançarei mão da entrevista do Ministro da Educação, Abraham Weintraub, ao Jornal da Cidade, concedida no dia 22/11/19.

Desde que assumiu o MEC, buscando combater “as ideologias” advindas do “marxismo cultural”, Weintraub tem dito inúmeras inverdades. Todavia, na entrevista em questão, ele passou dos limites; fez afirmações inimagináveis, tentando macular as universidades federais.

Após acusações tão graves, ações judiciais serão movidas pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais do Ensino Superior e pelo Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior. As duas entidades terão como sustentação de suas ações justamente a entrevista em pauta.

Mas o que Weintraub disse que provocou tanta indignação, se dizer tolices já é marca registrada de sua atuação no MEC?

Começou afirmando que a autonomia das universidades (garantida pelo Art. 207/ CF) transfigurou-se em soberania; por isso, pasmem, para ele, “em algumas federais”, podem ser encontradas “...plantações extensivas de maconha, a ponto de (se) ter borrifador de agrotóxico...”.

Diante de afirmação tão grave quanto leviana, o ministro passa a ser, legalmente, obrigado a apontar onde há essas plantações; ou o ministro indica os locais e apresenta provas ou incorre em crime, pois a um servidor público não é permitido omitir informações, quando as detém. E não vale “plantar” provas contra a vítima. Isso é bem comum no Brasil.

Mas Weintraub disse mais: “Você pega laboratórios de Química – uma Faculdade de Química não era um centro de doutrinação – desenvolvendo drogas sintéticas, metanfetamina, e a polícia não pode entrar nos ‘campi’. O desafio é esse. Foi criada uma estrutura muito bem pensada durante muito tempo”.

Que afirmação gravíssima! Que erro grotesco dizer que a polícia não pode entrar nos campi! A Polícia Federal pode. As outras, constitucionalmente, não.

Agora, o ministro também terá de dizer quais laboratórios estão “desenvolvendo drogas sintéticas”.

Diante dessas duas afirmações, Weintraub sugere – de forma genérica – saber de ilícitos, além de, subjetivamente, comparar as universidades a espaços sociais de alta criminalidade.

Quanto ódio! Quanto despreparo para um cargo! Quanta humilhação para um país!

Até quando?

O MEC nunca desceu tanto de nível. Nessa descida, o ministro ainda afirma que as federais “são madraças de doutrinação”.

Com essa expressão, a um só tempo, Weintraub ofende a comunidade acadêmica e a fé muçulmana, pois “madraças” são escolas muçulmanas ou casas de estudos islâmicos.

Todavia, mesmo sem nível algum, o ministro segue fazendo campanha para difamar um dos mais importantes patrimônios (materiais e imateriais) de nosso país, que é o conjunto de nossas federais.

Com essa postura, Weintraub encerrou a entrevista, dizendo que, nas federais, quanto mais se adentra mais se “conhece”; que, depois de “cada enxadada é uma minhoca”.

Perplexo, afirmo: a permanecer esse ministro no MEC, com tantas minhocas na cabeça, a educação brasileira ruma ao fundo do poço; e muito velozmente...