SOBRE PARASITAGENS - Roberto Boaventura
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Para escrever meu artigo desta semana, tive de optar entre duas aberrações: uma veio da Secretaria de Educação de Rondônia, que tentou censurar livros de nossa literatura; a outra, de um discurso de Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro. Optei por esta, mesmo sendo professor de Literatura.
Dentre os falantes da língua portuguesa, poucos termos podem ser mais ofensivos, quando dirigido a alguém, do que “parasita”, pois nos causa repugnância já a partir de sua denotação.
Biologicamente falando, “parasita” diz respeito ao “organismo que vive de e em outro organismo, dele obtendo alimento e não raro causando-lhe dano”. Em contextos metafóricos, dir-se-á do “indivíduo que vive à custa alheia por pura exploração ou preguiça”.
Pois, creiam! Sem o menor respeito, Guedes, em palestra na Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV EPGE), disse que o funcionário público brasileiro é parasita que está matando o hospedeiro, no caso, o erário. Pior: foi aplaudido; claro, a plateia era narcísica.
Diante de tamanha agressão, fui ao Wikipédia verificar a biografia de Guedes. Do que vi, destaco sua atuação como docente, em tempo integral, na Universidade do Chile (Alguma parasitagem, ali?), quando ela esteve sob intervenção da ditadura militar de Pinochet, um dos maiores assassinos da América Latina; sobre isso, que o diga o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, localizado em Santiago. O Chile tem memória. O Brasil precisa consolidá-la.
Também destaco de sua biografia o seu doutorado em Chicago, onde aprendeu as lições falidas de Economia que os Chicago boys promoveram no Chile. Das lições aprendidas em terras do Tio Sam, Guedes quis nos impor o regime de capitalização na recente reforma da Previdência.
Detalhe: a capitalização que Guedes tentou nos impor ajudou a deteriorar a economia chilena, uma das melhores da América Latina. Também por isso, o Chile foi às ruas ano passado, e de forma violenta: fruto da miséria plantada na ditadura de Pinochet, que, repito, teve auxílio do brasileiro Guedes. Aqueles erros de três décadas passadas estão explodindo agora no território chileno.
Pois bem. Assim que Guedes classificou os servidores públicos brasileiros como parasitas, as reações foram imediatas e contundentes. Há entidades que já disseram que vão questionar o ministro juridicamente. O Ministério Público também deverá ser acionado, pois Guedes, além de promover agressões verbais, disse inverdades.
No mesmo sentido, a Associação Nacional dos Delegados da PF afirma repudiar "a estratégia sistemática de apontar os servidores públicos como culpados dos problemas nacionais, silenciando sobre as causas verdadeiras, bem como a de difundir notícias inverídicas a respeito... Guedes parece nutrir ódio crescente pelos agentes públicos".
Em matéria do Estadão, de 09/02, destaco a que segue: “Representante de diplomatas diz que fala de Guedes sobre servidores é insulto”.
Na verdade, Guedes superou os adjetivos que nós, servidores públicos, já recebemos ao longo do tempo: marajás, preguiçosos, incompetentes, elites, corporativistas, sangues-azuis. Isso sem contar os vagabundos, dirigidos especialmente aos aposentados.
Quanto desrespeito!
Mas a despeito disso tudo, continuaremos a servir nosso país, e não aos governantes de plantão; aliás, excetuando os beija-mãos, o ódio dos agentes bolsonaristas contra o servidor público é não nos ter em suas mãos.
PS.: depois das repercussões, Guedes pediu desculpas, mas isso é pouco diante do tamanho da ofensa.
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JUACY DA SILVA*
Em dezembro de 1983, o Secretário Geral da ONU encarregou Gro Harlem Brundtland de organizar e presidir uma Comissão de Alto Nível para atender ao que havia sido aprovado pela, então, última Assembleia Geral da ONU, para propor “Uma agenda global para a mudança” do mundo.
Dentre as diretrizes daquela decisão podemos inferir os objetivos que iriam nortear, por 900 dias, os trabalhos da Comissão, incluindo: a) propor estratégias ambientais de longo prazo, para obter um desenvolvimento sustentável, por volta do ano 2000, inicio de um novo milênio; b) recomendar medidas para que as, então, já crescentes preocupações com a degradação ambiental, pudessem se traduzir em cooperação entre países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social; c) despertar a consciência da população e dos governantes quanto à gravidade da degradação ambiental e urgência em combate-la de verdade; d) considerar e definir mecanismos mais eficientes e eficazes para lidar com as questões ambientais.
Em outubro de 1984 a Comissão se reuniu pela primeira vez e em abril de 1987 apresentou seu relatório, intitulado “NOSSO FUTURO COMUM”, cujos resultados e propostas representam um marco histórico na luta ambiental ao redor do mundo, antecedendo em cinco anos `a realização da ECO-92, no Rio de Janeiro, quando a questão ambiental aflorou com toda a sua gravidade.
Conforme descrito na apresentação do Relatório, em diversas línguas, “uma das ideias centrais do Nosso Futuro Comum afirma e comprova que um desenvolvimento econômico ideal torna imperiosa a conservação dos meios naturais” (biodiversidade do planeta). Sem mecanismos e medidas que assegurem a conquista deste macro objetivo, a humanidade colocará em risco a sua própria sobrevivência.
No corpo do citado Relatório foram apresentadas diversas advertências que, passados 33 anos ainda permanecem de uma atualidade gritante, só não vê quem não ou não deseja ver. Dentre tais advertências destacamos a realidade observada e constatada naquela época quando afirma que a cada ano, mais de seis milhões de hectares de terras produtivas se transformam em desertos inúteis.
Neste particular, a ONU acabou de declarar o período de 2021 até 2030 , como a DÉCADA DA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, tendo como objetivos a recuperação de nada menos que 350 milhões de hectares de áreas degradadas ao redor do mundo, inclusive algumas no Brasil e que pode gerar US$ 9 trilhões em serviços ecossistêmicos e remover de 13 a 26 gigatons adicionais de gases do efeito estufa da atmosfera.
Outra forma de degradação ambiental constatada então e que ao longo dessas três décadas aumentou e se tornou mais grave é a questão do desmatamento, principalmente das florestas tropicais, onde a Pan Amazônia já era percebida não apenas como o “pulmão” do mundo, mas o papel que as florestas desempenham no regime de chuvas no mundo todo.
Dizia o relatório, “anualmente são destruídos mais de 11 milhões de hectares de florestas”, atualmente só na Amazônia brasileira entre 1988 e 2019 já foram desmatados 421.904 km2 ou seja, 42,2 milhões de ha.
Se considerarmos o desmatamento na Amazônia sob a soberania dos demais países, podemos afirmar sem sombra de dúvida que o tamanho da área desmata na Pan Amazônia deve ultrapassar de 70 milhões de hectares.
O desmatamento, no caso do Brasil, por exemplo, tem sido feito também no Cerrado, na Caatinga, do Pantanal e na Mata Atlântico, onde a destruição de todos os ecossistemas ocorre em ritmo acelerado, principalmente na região denominada de MATOPIBA – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, outra área onde ocorre a expansão da fronteira agrícola de forma extremamente acelerada, deixando suas pegadas ecológicas.
De forma semelhante, se considerarmos que também em diversos países da África, Oceania e Ásia o desmatamento ocorre de forma acelerada, com certeza estamos diante de uma devastação e desmatamento sem precedentes na história da humanidade.
O desmatamento e as queimadas contribuem sobremaneira para a emissão de gases que provocam o efeito estufa, contribuindo para o aumento das mudanças climáticas, cujos efeitos deletérios já estão sendo sentidos em todos os países, inclusive no Brasil, apesar do ceticismo e omissão de diversos governantes, cuja visão distorcida quanto às ameaças e gravidade da degradação ambiental, revelam o descaso em relação à questão ambiental.
Tais governantes ignoram inclusive diversos alertas emitidos por estudiosos das questões ambientais e por milhares de cientistas que demonstram que o ritmo de degradação ambiental e das mudanças climáticas exigem esforços conjuntos de todos os países, conforme estabelecidos no tratado de Kyoto, na Agenda 21, nos Objetivos para o desenvolvimento sustentável, no Acordo de Paris e em todas as conferências da ONU sobre o clima.
Além da degradação dos solos, da desertificação e do desmatamento acelerado das florestas tropicais, outras aspectos também devem ser encarados com seriedade e urgência. Dentre esses destacamos: a questão da precariedade do saneamento básico que polui todos os cursos d’água; a produção de resíduos sólidos (lixo) de uma forma crescente, principalmente do lixo plástico; a poluição do ar principalmente pela emissão de gases tóxicos das fábricas, da exploração agropecuária, da frota de veículos movidos a combustível fóssil (petróleo, gás natural), a existência de uma matriz energética suja e altamente poluente, ainda muito dependente de combustíveis fósseis, inclusive o carvão.
Na questão da produção de resíduos sólidos (lixo), com dados alarmantes, cujo incremento é muito superior tanto às taxas de crescimento populacional quanto crescimento urbano e a cada dia coloca em risco a sobrevivência do planeta e a saúde das pessoas e da fauna marinha e da água doce (oceanos, rios, lagos, manguezais, baias).
Por ano morrem no mundo mais de 7 milhões de pessoas com doenças respiratórias, causadas pela poluição do ar, além de milhões por doenças de massa, decorrentes da falta de condições de moradia, sujeitas `as doenças relacionados com esgotos escorrendo a céu aberto e destino inadequado do lixo.
Com exceção de alguns poucos, a grande maioria dos países não atingem sequer 10% quando se trata da reciclagem do lixo gerado. Além disso não podemos deixar de mencionar a questão do desperdício em todos os setores: água, alimentos, energia, construção civil, produção agropecuária, transporte e o impacto econômico e ambiental que este desperdício, em torno de um terço de tudo o que é produzido no mundo, inclusive no Brasil, acaba no lixo. Isto significa o uso predatório de recursos naturais, baixa produtividade econômica e a geração de um passivo ambiental, praticamente impagável, deixando para as futuras gerações um planeta doente, cujos custos de reparação recairão sobre os ombros das gerações que irão nos suceder.
Da mesma forma que estamos pagando na atualidade os custos de um desenvolvimento predatório, imediatista de nossos antepassados que nunca tiveram uma visão de futuro, a nossa geração, principalmente nossos atuais governantes parece que só pensam no lucro imediato e no seu próprio bem estar e acumulação de renda e riqueza.
É por isso que o Papa Francisco estará se reunindo com jovens e estudiosos das questões econômicas, sociais, ambientais, culturais e sociais para discutir o que ele denomina de A NOVA ECONOMIA ou a ECONOMIA DE FRANCISCO.
A principal tônica em suas exortações se alinham no que tem denominado do paradigma da ECOLOGIA INTEGRAL e que este novo Sistema econômico, a Nova Economia, precisa estar embasado/embasada em alguns pilares como: respeito e parcimônia no uso dos recursos naturais; empregabilidade e salários justos, única forma de reduzir a pobreza e a desigualdade social e econômica; um maior equilíbrio entre as nações evitando todas as formas de hegemonia e exploração dos países mais pobres, subdesenvolvidos ou de baixa renda.
Enfim, diante de tantas e claras evidências da degradação ambiental que estão em curso no mundo, não podemos perder tempo em seu enfrentamento, afinal, a crise ambiental exige urgência e comprometimento de todos os países e, internamente em cada país, de todos os segmentos sociais, econômicos, religiosos, políticos e culturais.
Este pode ser considerado o nosso maior desafios na atualidade. Pense, reflita e veja o que você pode fazer para salvar o planeta e melhorar a qualidade de vida em sua localidade, seu município, seu Estado e nosso pais. O desafios é de todos e todas!
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Profa. Dra. Alair Silveira
Depto. Sociologia e Ciência Política – SOCIP/ICHS/UFMT
No período de 04 a 08 de Fevereiro/2020, na Capital de São Paulo, foi realizado o 39º Congresso do ANDES/SN. Considerado o maior Congresso dos últimos tempos, a USP recebeu 460 delegados, 178 observadores e 14 convidados, além de 34 diretores do Sindicato. Nesses tempos que mesclam, cotidianamente, crueldades, sobressaltos e absurdos palacianos, reunir tantos docentes dispostos a discutir e deliberar sobre os rumos da categoria é, realmente, um grande alento.
Convocado sob a insígnia “Por Liberdades Democráticas, Autonomia Universitária e em Defesa da Educação Pública e Gratuita”, o Congresso foi marcado pelo consenso quanto à gravidade da conjuntura, que sob várias categorizações políticas, converge quanto ao reconhecimento de um Executivo declarada e decididamente anti-serviço público e anti-direitos trabalhistas e sociais. Além de marcadamente anti-organização coletiva de qualquer natureza no campo popular, social e sindical. Houve consenso, também, quanto à urgência da unidade de classe para enfrentar os inúmeros e abrangentes ataques que alcançam todas as categorias. Coerentemente, aprovou, por unanimidade, greve da categoria, apostando na construção de greve geral, por tempo indeterminado.
O dia 18 de março será o Dia de Greve Geral pela Educação, como parte do “esquenta” para a Greve da Categoria e, quiçá, da Greve Geral.
No processo de construção da greve da categoria foi aprovado um calendário de atividades preparatórias que inclui, entre o período de 10 de fevereiro a 13 de março/2020, uma rodada de assembleias de maneira a contemplar os diferentes calendários acadêmicos das IES. E, nos dias 14 e 15 de março/2020, Reunião do Setor das Federais, em Brasília/DF.
As assembleias devem contemplar a seguinte pauta: a) Avaliação da construção da Greve do Setor da Educação [18/03/20] e a possibilidade de realização da Greve do Ensino Superior; b) Indicação para os setores dos eixos de reivindicação, incluindo a luta pela recomposição salarial, arquivamento da PEC n. 186/2019 [PEC Emergencial], a devolução da MP 914/2019 [Escolha de Reitores], rejeição ao Future-se e recomposição dos recursos orçamentários.
De acordo com o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (FONASEFE), a defasagem salarial no período de Julho/2010 a Dezembro/2019 alcança 33,9% (isso considerada a reposição de 5,5% em Agosto/2016 e Janeiro/2017); e de 15,9% para aqueles setores que assinaram acordos de reposição em quatro parcelas: 5,5% em Agosto/2016; 6,98% em Janeiro/2017; 6,64% em Janeiro/2018 e 6,31% em Janeiro/2019.
Na enorme relação de Projetos de Emenda Constitucional que tramitam no Congresso (e que se somam a outros Projetos de Lei e Leis já aprovadas) dedicados a retirar direitos dos trabalhadores em geral e dos servidores públicos em particular, cabe destaque aos conteúdos das PEC’s 186 (PEC Emergencial), 187 (PEC dos Fundos), 188 (PEC do Pacto Federativo), os quais integram o chamado “Plano Brasil Mais”, assim como da PEC 196, dedicada à Reforma Sindical.
Além da urgência da construção da Greve, imprescindível para o conjunto do funcionalismo público (atacado de todos os lados e formas), também os ataques à autonomia universitária (nomeação de reitores, restrições à participação em eventos científicos, perseguição à liberdade de cátedra, implementação do Programa Future-se [nos CEFETs, a versão atende pelo nome “Novos Caminhos”] etc), assim como aos cortes de recursos e contingenciamentos, foram amplamente discutidos e denunciados. Contra eles foram aprovadas formas de combate e resistência.
O Congresso, ao possibilitar o encontro de professores de IFES, IMES e IEES, assim como de CEFETs, permite não apenas dimensionar a combinação de ataques para destruir a educação pública em todos os níveis, mas, também, para identificar qual educação se pretende colocar em seu lugar. Além da privatização da educação pública, quer o Governo (com a conivência dos demais Poderes e esferas públicas), ocupar os espaços educacionais públicos sobreviventes com militares da reserva ou da ativa. Evidencia-se que o processo de militarização da educação tem assumido forma progressiva, inclusive com recursos bem superiores àqueles das escolas públicas civis. Nas escolas de ensino fundamental e médio através do Modelo “Cívico Militar”, nas universidades, por meio da ocupação de cargos diretivos.
Dentre as muitas denúncias e encaminhamentos de resistência estão a demanda pela recomposição orçamentária das fundações e agências públicas de fomento; a manutenção da Dedicação Exclusiva, a realização de concursos públicos; assim como a luta pela constituição de ouvidorias e comissões para enfrentar casos de assédio moral e sexual.
Devido às mudanças regimentais aprovada no 64º CONAD, que deliberou pelo encolhimento do período integral, um conjunto de Textos de Resolução (TR) não foram apreciados pela Plenária, em que pese o esforço para agilização das discussões, o que, inevitavelmente, acabou por comprometer a qualidade das intervenções no último dia do Congresso, assim como a serenidade necessária para muitas votações.
Propostas de atualização das lutas relativas a adoecimento docente; capacitismo; Previdência Social; Carreira; Democracia; Comunicação; Política de Ciência e Tecnologia; Política Agrária e Ambiental etc. foram apreciadas somente nos Grupos de Trabalho (GT’s), pois não houve tempo suficiente para análise e discussão pela Plenária. Em virtude disso, as propostas aprovadas integralmente nos GTs serão incorporadas. As demais serão encaminhadas para 65º CONAD, a ser realizado no mês de Junho/2020.
Por fim, resta registrar que uma das polêmicas que ocupou parcela importante do Congresso foi a apresentação de TRs propondo a desfiliação imediata ou em período próximo da CSP-Conlutas. Sem apresentar elementos concretos do ponto de vista dos princípios e da macropolítica, muitos TRs construíram seus argumentos a partir de seis eixos: 1) – CSP não cresceu nesse período e é muito pequena quando comparada à CUT; 2) – Congressos da CSP têm metodologia inadequada; 3) – A CSP está dominada por um partido hegemônico; 4) CSP é isolacionista; 5) – A CSP vive um “esgotamento”; e, 6) O Congresso da CSP aprovou políticas equivocadas.
A fragilidade desses argumentos é evidente. Primeiramente porque a relevância de uma Central não decorre de um exercício matemático, a partir do qual “mede-se” a qualidade e o compromisso de classe. Se assim fosse, certamente a CUT seria uma Central comprometida e combativa. Mais do que isso, muitos dos críticos da CSP nunca se dispuseram a, efetivamente, enraizar a CSP nos estados; nem tampouco reconhecem que o esvaziamento das entidades sindicais não é uma condição particular da CSP, mas do movimento sindical nacional e internacional. Em segundo lugar, problemas de método, nas organizações de trabalhadores, se resolve pela disputa interna e não promovendo políticas divisionistas. Em terceiro lugar, chega a ser irônico que as forças políticas que encabeçam os movimentos para desfiliação da CSP reclamem de “hegemonismo” quando são, eles mesmos, hegemonizados por suas respectivas forças políticas. Em quarto lugar, a CSP historicamente tem priorizado – e implementado – movimentos no sentido de construir unidade, constituindo-se em uma política recorrente da Central. Em quinto lugar, o referido “esgotamento” prescinde de qualquer fundamentação objetiva, aproximando-se mais de uma afirmação retórica que mais parece indicar uma percepção de “prazo de validade” do que uma avaliação programática. Por fim, cabe relembrar que as deliberações congressuais foram tomadas pelos delegados e não pela direção da Central. Porém, ainda mais relevante: é preciso que os defensores da desfiliação não se valham de inverdades para tentar convencer incautos quanto ao conteúdo do que foi aprovado. Muitos desses defensores desvirtuaram o que foi aprovado para fazer agitação contra a CSP e tentar garantir a desfiliação. Alguns para voltar para os braços da CUT, outros para fortalecer o Fórum Sindical, Popular e de Juventude, outros para ir para lugar algum. Paradoxalmente, todos falam em nome da unidade e concordam quanto à urgência de enfrentar a grave conjuntura!
Mas, em que pese o esforço somado desses grupos, os delegados presentes no 39º Congresso do ANDES/SN aprovaram a permanência do Sindicato à CSP-Conlutas. Foram 255 votos pela permanência, 142 pela saída e 15 abstenções. Apesar desse resultado, o Congresso também aprovou a realização de um CONAD Extraordinário, no segundo semestre 2020, para fazer uma avaliação da CSP, isto é, retomar a discussão sobre uma possível desfiliação.
Importa registrar que o 40º Congresso do ANDES/SN será realizado em Porto Alegre/RS, e será sediado pela ADUFRGS. Este será um Congresso importante, na medida em que será comemorado o 40º aniversário do ANDES/SN.
Por fim, resta anotar a participação qualificada da delegação da ADUFMAT (delegados e observadores) ao longo do Congresso.
Agora, colegas da UFMT, nenhum motivo para acomodar-se. Todos os motivos para lutar!
Greve Geral da Educação dia 18 de Março/2020!
Construção da Greve da Categoria!!!
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Depois de muitas cenas e capítulos absurdos (também) na Secretaria Nacional de Cultura, Regina Duarte – atriz e fazendeira – foi escolhida para dirigir a cultura do país.
Assim que seu nome foi anunciado, lembrei-me de O Salvador da Pátria, uma das mais importantes telenovelas exibidas pela Globo, já na redemocratização do país, mais exatamente entre 9 de janeiro e 12 de agosto de 1989.
Só para lembrar, o último capítulo daquela telenovela se deu pouco antes das eleições presidenciais de 89, polarizadas, no segundo turno, por Lula e Collor. À época, a direita entendia o enredo da novela como sendo enaltecedor de Lula, aludido pela personagem Sassá Mutema. A esquerda compreendia o oposto, uma vez que Sassá, excetuando no epílogo, apresentava-se como político manipulável, logo, corruptível.
Fosse como fosse, Regina, ao contrário da maioria dos artistas brasileiros, dizendo temer uma vitória de Lula, declarou voto em Collor, que representava as elites nacionais, incluindo a mídia, e o capital estrangeiro. Lula significava a esperança de um governo popular, concebido a partir de pontos socialmente significativos da Carta de 88.
Pois bem. Antes de outras considerações, adianto: Regina não fez parte do elenco de O Salvador da Pátria. Dentre tantas outras personagens, ela literalmente foi a Rainha da Sucata, exibida entre 02 de abril e 27 de outubro de 1990, ou seja, logo após a posse de Collor, ocorrida em 15 de março do mesmo ano.
Em rápidas palavras, a Rainha da Sucata tentava consolidar a ideia de que a vitória de Collor fora acertada; por isso, os mais pobres – incluindo os trabalhadores com sucatas, ou seja, algo de que nos livramos na lógica do descarte – tinham mais chances na vida.
Verdade seja dita, essa tarefa da Globo, mesmo ancorada em Regina no papel principal, não era fácil, pois, dentre outros pontos, no primeiro plano econômico daquele novo governo (o Plano Collor I), houve um retumbante confisco: 80% dos depósitos do overnight, das contas correntes ou das cadernetas de poupança que excedessem a NCz$ 50mil (cruzado novo) foram congelados por 18 meses. Por conta desse golpe econômico, muitos brasileiros cometeram suicídio.
Agora, Regina encontra-se como a salvadora de uma área sucateada até onde não se podia mais: o antigo Ministério da Cultura foi reduzido a uma Secretaria; como tal, seu orçamento desceu a ladeira. Portanto, a falta de um orçamento à altura das necessidades, por si, já seria um grande problema a ser enfrentado por Regina, mas seus entraves serão maiores.
Ao aceitar o convite, a atriz sabe, de antemão, que suas ações/decisões deverão estar inscritas nos limites da família convencional, da preservação da propriedade e do culto às tradições. Assim, ela passa a ser exaltada pelos conservadores e menosprezada pelos oponentes dessa visão de mundo.
Enfim, o aceite de Regina para fazer parte da equipe do governo Bolsonaro, por si, parece ser mais um elemento na divisão experimentada por nossa sociedade, mas mais em especial no meio cultural.
De minha parte, leio esse aceite como mais um reforço àquele comentário de Roberto Alvim – há pouco exonerado por ser identificado como nazista – chamando Fernanda Montenegro de sórdida. Como ninguém do governo condenou aquilo, todos, inclusive o presidente, consentiram.
É nesse ninho, portanto, que Regina entra, tentando ser, agora, não mais a Rainha da Sucata, mas a salvadora de uma área sucateada dentro de uma sociedade cada vez mais dividida.
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Texto enviado pelo Prof. Breno Ricardo Guimarães Santos
ELEIÇÕES CONSEPE
Link para votação: https://sistemas.ufmt.br/ufmt.eleicao.colegiado/Account/LogOn
Data: 04 e 05 de fevereiro
Prezados/as colegas, me chamo Breno Ricardo Guimarães Santos, sou professor do Departamento de Filosofia da UFMT/Campus Cuiabá, e Coordenador do Mestrado Acadêmico em Filosofia. Sou candidato a Conselheiro no CONSEPE, representando docentes da Classe A. Gostaria, com esse texto breve, de apresentar minha candidatura e contar com o apoio de vocês neste processo.
A atual conjuntura é de desmonte completo da universidade pública e gratuita. Na UFMT, temos visto os efeitos desse ataque diariamente, com o fim de serviços básicos e importantíssimos para o pleno funcionamento de uma universidade com ensino, pesquisa, extensão e socialmente referenciada.
Dentre todos os ataques, nossa carreira docente tem sido um dos direitos mais visados.
Diante desse quadro, a nossa atuação crítica se faz necessária. Acredito que a presença docente nos espaços democráticos da UFMT é de grande importância para garantir que a Universidade continue pública e atenda as demandas da sociedade.
Por esses motivos, coloco meu nome à disposição para a eleição de representante docente no CONSEPE, que ocorre nos dias 04 e 05 de fevereiro, no site da UFMT.
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JUACY DA SILVA*
Logo no inicio da Bíblia, no capitulo primeiro de do Livro de Gênesis, versículo primeiro está escrito de forma clara e objetiva: “No princípio Deus criou os Céus e a terra” e nos seguintes são detalhadas as etapas da criação, incluindo a criação do primeiro homem e da primeira mulher, Adão e Eva.
Diz também a Bíblia, livro considerado sagrado para todos os cristãos, católicos e evangélicos, que este primeiro casal foi colocado no Jardim do Éden e que tudo era perfeito, ou seja, havia um equilíbrio entre todas as obras criadas por Deus.
No Livro dos Salmos, capitulo 24, versículos 1 e 2, podemos ler outra assertiva a respeito das obras de criação de Deus, que é dito “ Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem; pois foi Ele (Deus , o Senhor) que a fundou (criou a terra) sobre os mares e as águas”.
Esta mesma ideia é novamente repetida na primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, capitulo 10:26 quando diz “ Porque do Senhor é a terra e toda a sua plenitude”, ou seja, todas as formas de vida animal e vegetal, enfim, os ecossistemas e toda a biodiversidade.
Podemos notar ainda esta preocupação em reforçar o princípio divino relacionado com o meio ambiente no Livro dos Atos dos Apóstolos 17:24 quando diz “ O Deus que criou o universo e tudo o que nele existe é o Senhor dos céus e da terra”.
Há praticamente cinco anos quando do lançamento da Encíclica Laudato Si, a chamada Encíclica Verde, o Papa Francisco tem insistido para a responsabilidade dos cristãos e também não cristãos no que concerne a preservação, conservação, enfim, nos cuidados que devemos ter em relação `a Casa Comum, a mãe terra, o Planeta em que vivemos.
Esta responsabilidade é muito maior para os cristãos tendo em vista que os mesmos tem o dever de colocar em prática os cuidados para evitar a degradação ambiental, evitar e combater os crimes ambientais, pois quem destrói o meio ambiente, que contribui para o aumento da poluição, que provoca as mudanças climáticas está atentando contra as obras da criação de Deus e isto não deixa de ser um pecado, o chamada “pecado ecológico”.
Este aspecto tem sido muito discutido pelo Papa Francisco e o mesmo, tanto antes quanto durante e agora após o Sínodo dos Bispos para a Pan Amazônia, vem exortando para o que tem denominado de “pecado ecológico”, “conversão ecológica” e tem dito que esses dois conceitos podem, em breve fazer parte da catequese, podendo mudar inclusive parte da doutrina da igreja.
Se formos mais a fundo neste tema, vamos encontrar estudos e debates bíblicos e teológicos entre diversas igrejas evangélicas e até mesmo entre os mulçumanos, com exortações do Profeta Maomé, sobre a importância de se respeitar o meio ambiente.
Os cristãos representavam em 2015 em torno de 31,2% da população mundial, contando com 2,3 bilhões de habitantes, com expressiva maioria tanto na Europa quanto nas Américas; seguidos dos mulçumanos com 1,8 bilhões (24,1%); vindo depois os hindus com 1,1 bilhão de pessoas ou 15,1% da população mundial.
Em decorrência desses números percebemos que os cristãos também foram os maiores poluidores do planeta por séculos, pois a revolução industrial, o surgimento e desenvolvimento do capitalismo teve como base a Europa, a América do Norte e também parte na América Latina.
Outro país que também promoveu a revolução industrial e o capitalismo, fora da órbita do cristianismo foi o Japão e só tardiamente, a partir de meados do século passado é que a China e a Índia passaram a ter uma economia pujante e em crescimento acelerado, países de minorias cristã.
Os 20 países que mais poluem o planeta, principalmente quando se refere à emissão de gases de efeito estufa, oriundos dos setores industriais, residências, sistema de transporte e desmatamento, são responsáveis por mais de 82% do total da poluição mundial e que estão provocando as mudanças climáticas que tantos males vem causando e causarão `a vida na terra.
Desses 20 países, 13 tem a grande maioria de sua população que se define como cristãos, ou seja, são e estão conscientes de que seu estilo de vida e suas ações estão destruindo as obras da criação divina e não estão respeitando os princípios bíblicos.
Isto se deve, talvez pela contradição profunda que existe entre uma fé de fachada, alienadora e por práticas definidas pelo materialismo, pelo consumismo, pelo desperdício dos recursos naturais, pela ganância em associação com a busca do lucro econômico e financeiro, o que pode ser chamada de “deus dinheiro”, pouco se importando com o passivo ambiental e com a precarização das condições de vida de seus semelhantes, principalmente as camadas mais excluídas da sociedade que, com certeza, também c são filhos e filhas de Deus, segundo a fé cristã.
É neste contexto que devemos entender as exortações e reflexões do Papa Francisco, líder do maior grupo religioso entre os cristãos, que são os católicos nada menos do que 1,3 bilhões de fiéis mundo afora, a quem, tais exortações devem ser analisadas para perceber a responsabilidade que tanto cristãos em geral quanto católicos em particular precisam assumir no combate `a degradação ambiental.
Este combate deve ser feito em cada localidade, em cada paroquia, comunidade, em cada igreja, templo, escola de confissão católica ou evangélica, através de projetos e ações concretas, arregimentando desde crianças, adolescentes, jovens , população adulta e também idosos, ou seja, se os cristãos se irmanassem em um verdadeiro mutirão permanente na defesa do meio ambiente, com a visão do que o Papa Francisco denomina da Ecologia Integral, com certeza podemos mudar o mundo, restaurar, se não o Jardim do Éden, como descrito em Gênesis, mas pelo menos em localidades mais aprazíveis e menos poluídas para vivermos.
No Brasil, por exemplo, existem mais de 11 mil paroquias e mais de 120 mil comunidades paroquiais, da Igreja Católica e mais de 50 mil templos evangélicos, todas essas localidades congregam centenas e as vezes milhares de pessoas, quase que diariamente.
Ora, se os cristãos devotassem um pouco mais de atenção e ações articuladas, independente de filiação a esta ou aquela igreja, com certeza, seriam milhões de pessoas em condições de atuarem efetivamente na defesa do meio ambiente, desde projetos de educação ambiental, reciclagem de lixo, arborização, reflorestamento, agricultura familiar, agricultura urbana, hortas domésticas, comunitárias, escolares, limpeza, etc. além de uma maior participação no que concerne `a definição de politicas publicas, planos e programas ambientais em todos os níveis.
Finalizando, apenas um lembrete e sugestão para a leitura da passagem contida no Livro de Apocalipse 11:18, onde é descrito que é chegado “o tempo de destruíres os que destroem a terra”, esta será a penalidade para quem não respeita as obras da criação divina, aqueles que destroem impiedosamente o meio ambiente. É neste sentido que para o Papa Francisco quem destrói a natureza, o meio ambiente e não respeita a criação de Deus está cometendo um pecado.
Vamos refletir um pouco mais neste binômio: fé e meio ambiente; qual o papel dos cristãos nos cuidados com a natureza/meio ambiente e a nossa responsabilidade ética, como cristãos , em relação `as futuras gerações?
Esses temas deveriam fazer parte dos sermões, das homilias, das ações pastorais, dos debates teológicos da Igreja Católica e também das Igrejas Evangélicas.
Concluindo, gostaria de deixar uma exortação contida também na Bíblia Sagrada, no Livro de Tiago 2:17 onde é dito de forma clara: “ Assim também, a fé, se não tiver as obras, é, em si mesma morta”. Não basta discursos, debates, estudos sobre a destruição do meio ambiente, orações pedindo a Deus para fazer chover ou parar de chover, precisamos agir, enquanto o grande desastre ambiental não chegue e possa representa rem sentido figurado, o que no Livro do Apocalipse é definido como o “Armagedom”, e também a restauração do que é denominado de “um novo céu e uma nova terra”.
Diversos cientistas através de seus estudos estão nos alertando, bem como governantes de todos os países, sobre a iminência, os riscos e consequências do que tem sido considerado “o dia seguinte”, ou seja, as catástrofes naturais, provocadas pelas ações humanas, longe de serem um castigo divino, decorrem das ações humanas que continuam destruindo o meio ambiente e colocando em risco o equilíbrio dos ecossistemas.
Todos temos responsabilidades diante dessas ameaças, principalmente os cristãos que professam uma fé que atesta que o planeta terra e, enfim , todo o universo são obras divinas e foram criadas por Deus. Mas parece que existe um grande fosso entre esta fé e as ações e omissões desses que se dizem cristãos.
Pense nisso caro leitor, reflita sobre este tema de forma mais profunda, com uma mentalidade crítica e criadora. Não se omita ante a destruição do meio ambiente e do planeta terra. Aqui é a nossa “casa comum”, onde vivemos! A omissão também é um pecado!
JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.,br" target="_blank" rel="noopener noreferrer" data-auth="NotApplicable">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.,br Twitter@profjuacy Blogwww.professorjuacy.blogspot.com
DO “DESIGN INTELIGENTE” À MORTE DA LÓGICA - Roberto Boaventura da Silva Sá
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Longe vai o tempo narrado por Drummond em “Cidadezinha qualquer”, poema inserido em Alguma Poesia de 1930:
“Casas entre bananeiras// mulheres entre laranjeiras// pomar amor cantar// Um homem vai devagar.// Um cachorro vai devagar.// Um burro vai devagar.// Devagar… as janelas olham.// Eta vida besta, meu Deus.”
Vida besta, mas no ritmo exato de seu tempo. Portanto, lógica; logo, sábia.
Hoje, por conta do avanço tecnológico, aquele tempo do poema está em extinção. Sob a égide da pressa, chegamos em um tempo em que as informações e as emoções delas advindas não nos vêm mais a galope, nem mesmo a jato; isso tudo ficou lento. Elas nos chegam em tempo real por meio da interatividade das mídias, incluindo todos os formatos das redes sociais. Por isso, o tempo de matutar, p. ex., sobre uma informação está encerrado. Se no passado podia-se ter uma “vida besta” por conta da vagarosidade do tempo, hoje, temos uma vida bestial motivada – também, mas não apenas – pelo oposto da lentidão de outrora.
O preâmbulo acima, leitor, é para dizer que, enquanto eu ainda matutava sobre as bestialidades nazistas do ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, um novo agente seu expôs outra aberração.
O bolsonarista da vez – à semelhança de seu chefe maior – é Benedito Guimarães Aguiar Neto, reitor da faculdade particular Mackenzie. Ele foi nomeado no último dia 24 como o novo presidente da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), responsável pelos mestrados e doutorados brasileiros.
Como outros bolsonaristas, eis mais um cristão. Até aí, nenhum problema. Todavia, segundo a Folha de São Paulo, “no ano passado, Aguiar Neto anunciou que o Mackenzie ampliaria estudos do design inteligente – uma roupagem contemporânea do criacionismo, que advoga natureza teológica da origem do universo... ‘Design inteligente’ tem sido o termo usado nas discussões que advogam a abordagem do tema na educação. Para seus defensores, o darwinismo seria insuficiente para explicar a origem da vida”.
Na mesma reportagem, é dito que Aguiar Neto, também no ano passado, afirmou:
“Queremos colocar um contraponto à teoria da evolução e disseminar que a ideia da existência de um design inteligente pode estar presente a partir da educação básica, de uma maneira que podemos, com argumentos científicos, discutir o criacionismo”.
Argumentos científicos para discutir o criacionismo? É sério?
As dúvidas que exponho surgem porque o “design inteligente” pretendido por Aguiar Neto é mero fruto de suas crenças, que estão na contramão da “Intelligentsia” brasileira, formada pela maioria dos que fazem a educação e a cultura nossas. Por isso, Aguiar Neto parece almejar a morte da CAPES, que vive sob a dinâmica das reflexões, não da fé. Detalhe: as universidades são como a cabeça de um corpo. Sem cabeça, exceto a mula dela desprovida, um corpo não se sustenta.
Em outras palavras, a postura de Aguiar Neto – de origem medieval – parece querer asfixiar a reflexão acadêmico/científica experimentada, contextualmente, por intelectuais sérios, desde antes dos marcos cronológicos da lentidão da vida besta daquela “cidadezinha qualquer”.
Diante da extemporaneidade da proposta de Aguiar Neto, sinto saudades dos seres do poema de Drummond. Inteligentemente, todos iam devagar, fossem aonde fossem. De todos, sinto mais saudades do burro. No compasso de seu trotear, vejo-o, com suas ancestrais e legítimas linhas inteligentes, seguindo no ritmo exato de seu tempo.
Que lição!
TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL - Juacy da Silva
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JUACY DA SILVA*
O Brasil durante quase quatro séculos, desde o período colonial, passando pelo Império e chegando até as vésperas da proclamação da República, em 1888, teve sua economia baseada na exploração do trabalho escravo, quando mais de 10 milhões de negros e Negras foram comprados e trazidos para executarem todos os tipos de trabalho, deixando uma mancha indelével e vergonhosa em nossa história, chegando até a atualidade em sucessivas gerações de afrodescendentes, que ainda pagam um alto preço na forma de exclusão social, econômica e politica, em manifestações racistas abertas ou disfarçadas e na vitimização pela onda de violência tão presente em nosso país na atualidade.
Só o trabalho, digno, com remuneração justa é que permite não apenas a sobrevivência, mas também a mobilidade social, o progresso, a melhoria do nível de vida e o sustento da família do trabalhador e oferece as condições da plena realização e libertação do ser humano.
Boa parte, para não dizer a maior parte das fortunas de usineiros, mineradores, cafeicultores e demais ciclos econômicos foram construídas sobre o suor, o sangue e o desrespeito à dignidade dos afrodescendentes e de outros trabalhadores submetidos a esta ignomínia que é o trabalho escravo ou em condições análogas à escravidão.
Ainda hoje, estima-se que mais de 160 mil trabalhadores, tanto negros, afrodescendentes e também brancos, pobres, são submetidos à condição análoga ao do trabalho escravo tanto em setores como de construção civil, emprego doméstico quanto em atividades extrativistas , agropecuárias e outras mais.
O trabalho escravo atualmente é considerado crime, definido pelo artigo 114 do Código Penal, mas ante à precariedade de quadros e mecanismos de fiscalização ou da omissão e conivência dos organismos públicos que devem fiscalizar esta prática nefasta que ainda está presente em nosso pais, ainda convivemos com esta realidade tão cruel, o que não deixa de ser uma vergonha para nosso país.
Conforme a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a CPT Comissão Pastoral da Terra), em 28 de janeiro, o Brasil celebra o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. A data é uma homenagem ao assassinato dos auditores fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva, e o motorista Ailton Pereira de Oliveira, no ano de 2004, quando apuravam denúncia de trabalho escravo na zona rural de Unaí (MG).
Apesar de já terem se passado mais de 15 anos este crime, da mesma forma que tantos outros crimes definidos como de exploração do trabalho escravo em nosso país, ainda continuam impunes, em decorrência da lentidão tanto das medidas investigativas quanto da tramitação dos processos no sistema judiciário.
Em 2014 foi apresentada a PEC 438/01 que acabou sendo aprovada no Congresso Nacional e homologada como Emenda Constitucional 81/2014, cujo texto prevê a desapropriação de imóveis urbanos ou rurais onde seja constatada a prática de trabalho em condições análogas ao trabalho escravo. Houve até mesmo um avanço com a aprovação da chamada lista suja de empresários que desrespeitam a legislação e praticam trabalho escravo.
Ainda de acordo com a CNBB, “A Igreja do Brasil está atenta à realidade do tráfico humano. Prova disso, é que a Campanha da Fraternidade de 2014 teve como tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). “A partir do trabalho e da reflexão dentro da CNBB, e do Conselho de Pastoral, foi aprovado para a Campanha da Fraternidade de 2014, tratar do trabalho escravo, por sua vez, ligado ao tráfico humano. Então nós vamos trabalhar na Campanha essas duas propostas: a denúncia do tráfico de pessoas e trabalho escravo, e todas as consequências que essas denúncias trazem para a Igreja”, explicou padre Ari. De acordo com a secretária do Grupo de Trabalho (GT) de Enfrentamento ao Tráfico Humano, da CNBB, irmã Claudina Scapini, o trabalho escravo é uma entre as modalidades do tráfico humano. “O trabalho escravo, a exploração sexual, o tráfico de órgãos, e a adoção irregular, são, para nós, as grandes modalidades do tráfico de seres humanos”, afirmou.”
Quando à Emenda Constitucional praticamente continua como letra morta ou como se diz: “para inglês ver” e quanto a lista suja dos modernos escravocratas, por pressão da bancada ruralista e uma arguição de inconstitucionalidade, por decisão do STF a mesma foi suspensa, abrindo caminho para esta prática nefasta e para a impunidade em relação a este absurdo que é o trabalho escravo possam continuar presentes em nossas relações de trabalho.
No momento em que o Brasil está empenhado em aderir e participar da OCDE , com certeza a presença de trabalho escravo, da mesma forma que o desrespeito `as normas e cuidados ambientais por certo irão dificultar sobremaneira este objetivo do governo brasileiro.
Neste dia 28 de janeiro, dedicado à reflexão em relação aos malefícios do trabalho escravo, pouco ou quase nada temos a comemorar, pois esta prática infame continua presente no meio rural brasileiro. O trabalho escravo é também um ato de violência e uma grave violação dos direitos humanos dos trabalhadores.
Estamos em pleno 2020, cabe então o questionamento: até quando vamos conviver com esta situação?
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular, fundador e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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JUACY DA SILVA*
Em todos os fóruns internacionais a degradação ambiental, as mudanças climáticas, há varias décadas, tem dominado as discussões e no momento, em que governantes, chefes de Estado, grandes empresários, cientistas e ativistas sociais e ambientais estão reunidos em Davos, sob o patrocínio do Fórum Econômico Mundial, como acontece todos os anos, esta temática também está bem presente nos debates que ali estão acontecendo.
Além das questões ambientais, outro desafio que continua na “ordem do dia” ou na agenda dessas discussões internacionais é a questão da pobreza. Durante um longo período, a discussão girava em torno da diferença de renda, riqueza, níveis de desenvolvimento entre países. Daí surgiram várias nomenclaturas como países sub desenvolvidos, países desenvolvidos, emergentes, de baixa, média e alta renda, centro x periferia, norte x sul, países capitalistas x socialistas etc.
Surgiram também diversos índices e indicadores para mensurarem essas diferenças de patamar econômico, social e politico entre os países, foram realizados estudos patrocinados pela ONU como os relatórios do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, para destacar outros aspectos e não apenas a renda per capita. O IDH leva em consideração a renda per capita, indicadores educacionais e de saúde. Existe uma discussão também para que sejam incluídos indicadores socioambientais na composição do IDH e também, uma ênfase na questão da concentração/distribuição de renda e como isto afeta o desenvolvimento.
Até algumas décadas, pouco se falava a respeito da concentração de renda internamente nos países, principalmente nos países do chamada terceiro mundo e muito menos, ou seja, zero, sobre a presença da pobreza, miséria que ainda existem nos países chamados centrais, os desenvolvidos, os integrantes do G7, do G20, a União Europeia etc.
A partir do inicio deste novo milênio, a questão da pobreza como um problema de ordem não apenas socioeconômico, mas também politico passou a fazer parte das discussões e nas últimas três décadas, ou seja, a partir da ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, as questões ambientais passaram a ter um peso maior nas discussões, inclusive nas patrocinadas pela ONU, incluindo suas Assembleias Gerais.
Neste sentido, cabe ressaltar o período em que o carro chefe das discussões e propostas giravam em torno dos OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO, pauta esta que a partir de 2015 foi substituída pelos OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL a vigorar daquele ano até 2030, quando todos os países fizeram adesão a tais objetivos, comprometendo-se a definir politicas públicas, estratégias, planos e programas para que todas as mais de 160 metas sejam concretizadas e um mundo melhor seja possível.
Além dos OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, na última Assembleia Geral da ONU foi aprovado que a década de 2021 até 2030, coincidindo com parte do período coberto pelos OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, seja considerada como a DÉCADA DA RESTAURAÇÃO/RECUPERAÇÃO DE ECOSSISTEMAS DEGRADADOS, mundo afora.
A grande meta desta década que se inicia no ano que vem é remover no mínimo 26 gigatons de gases que produzem o efeito estufa da atmosfera e que provocam as tão temidas mudanças climáticas, que, conforme diversos estudos por dezenas de milhares de cientistas em diversos países, sob o patrocínio e coordenação da ONU, colocam em risco a sobrevivência da vida no planeta. Pelas sérias consequências que essas mudanças climáticas já estão provocando e tendem a aumentar mais ainda nos próximos anos e décadas.
A degradação dos ecossistemas atualmente, conforme resultados de diversos estudos e pesquisas, comprometem/afetam o bem estar de 3,2 bilhões de pessoas e representam um custo equivalente a 10% do PIB mundial todos os anos, além da perda acelerada da biodiversidade, incluindo a extinção de milhares de espécies vegetais e animais todos os anos, um prejuízo incalculável para a vida no planeta.
A meta global estabelecida para a DÉCADA DA RESTAURAÇÃO/RECUPERAÇÃO DE ECOSSISTEMAS DEGRADADOS é recuperar 350 milhões de ha de áreas degradadas pela ação irracional e as vezes criminosa em, praticamente todos os países, inclusive no Brasil, cuja degradação ambiental atinge todos os seis biomas, com destaque para o que está acontecendo na Amazônia, no Cerrado e demais ecossistemas, ante a omissão ou até mesmo a conivência de nossos governantes e organismos públicos.
Nesta mesma linha de enfrentamento à degradação ambiental, a ONU em 2017, através de resolução em Assembleia Geral, aprovou um Plano Estratégico para as Florestas, a vigorar de 2017 até 2030, ou seja, mais um mecanismo para enfrentar a destruição ambiental.
A missão deste plano estratégico que serve também de base para definir os objetivos e metas a serem cumpridos/alcançados neste período que estamos vivendo é implementar uma gestão sustentável e estratégica (manejo) das florestas nativas e também incentivar, fomentar as florestas plantadas, seja através do reflorestamento com espécies nativas ou recuperar áreas degradadas através do reflorestamento, um dos mecanismos que podem reduzir tanto o volume de gases de efeitos estuda, que diversos países e setores produtivos continuam produzindo, apesar dos alertas quanto aos efeitos deletérios dessas práticas, quanto “sugar” parte do volume de gases de efeito estufa que estão acumulados na atmosfera.
Em 2017, conforme estudos que embasaram a elaboração deste plano estratégico para as florestas, ainda existiam 4 bilhões de ha de florestas nativas ou 40 milhões de km2, que representam 30% da área terrestre do planeta, mas que, ante o desmatamento, inclusive criminoso em alguns países, as previsões indicam que se nada ou pouco for feito para controlar esta sanha destruidora, dentro de no máximo 50 anos, as florestas nativas estarão em processo de extinção, gerando mais desequilíbrio ambiental e destruição de boa parte da biodiversidade do planeta, afetando de maneira terrível a vida e a sobrevivência de mais de 1,6 bilhões de habitantes que dependem das florestas para a sobrevivência, incluindo ribeirinhos, pequenos agricultores, coletadores, povos primitivos e inúmeras comunidades dos chamados povos das florestas.
Neste meio tempo, quando acaloradas discussões tem sido travadas, colocando em lados opostos os destruidores do meio ambiente e de outro ativistas e defensores do maio ambiente, pouco importando os argumentos de ambos os lados, a partir do protocolo de Kyoto e mais recentemente a partir de 2015 com o Acordo de Paris, enquanto a degradação e os desafios ambientais seguem, o mundo assiste posicionamentos de diversos chefes de Estado, de Governo e representantes de grandes conglomerados econômicos, industriais, do agronegócio ou outros setores econômicos ou políticos com posições dúbias, com discursos que podem ser considerados ambientalistas , mas com práticas que levam `a degradação ambiental, incluindo mistificações ideológicas como as defendidas nesta semana em Davos.
O Protocolo de Kyoto, foi aprovado em 1997; ratificado em 15 de março de 1999 por 55 países, que naquela época eram responsáveis pela produção de 55% dos gases de efeito estufa e entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, ou seja, prestes a completar 15 anos em meados do próximo mês.
Apesar de os países que mais poluem o planeta terem aderido ao Protocolo, países emergentes que também são grandes poluidores ficaram de fora em termos de obrigação. Mesmo assim, o Protocolo de Kyoto representou um avanço nas discussões ao estabelecer ações que deveriam ser implementadas por tais países, como forma de combater de fato as mudanças climáticas, tais como: reforma do setor energético e do setor de transporte; uso de fontes renováveis de energia; redução das emissões de gás metano; combate ao desmatamento e proteção das florestas.
Com apenas 10 anos de existência, o Protocolo de Kyoto foi “substituído”, pelo ACORDO DE PARIS que é um compromisso internacional discutido entre 195 países com o objetivo de minimizar as consequências do aquecimento global. Ele foi adotado durante a Conferência das Partes - COP 21, em Paris, no ano de 2015.
A mudança de Governo nos EUA com a eleição de Trump levou a maior economia do planeta, o segundo maior poluidor e causador do acúmulo de gases de efeito estufa, a abandonar o Acordo de Paris e outros países, como o Brasil que, direta ou indiretamente, fazem coro com as posições antiambientalistas do mandatário americano, dificultando ou quase impossibilitando que as metas globais de redução da degradação ambiental, como forma de controlar as mudanças climáticas sejam alcançadas nos prazos estabelecidos, agravando ainda mais as mudanças climáticas.
Todos os países que homologaram o Acordo de Paris se comprometeram, em documento encaminhado `a ONU, a atingirem metas concretas até 2030, sendo que tais metas devem ser concretizadas em períodos intermediários.
As metas brasileiras são: a) Reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025 e, b) Em sucessão, reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis existentes em 2005, no ano de 2030.
Todavia, diversos países, inclusive o Brasil não tem realizado um empenho mais significativo para o cumprimento de tais metas e, tendo em vista o posicionamento do governo Bolsonaro em relação ao meio ambiente que, para alguns faz vistas grossas para a degradação e os crimes ambientais que vem sendo praticados em nosso país, tendo, inclusive ameaçado , `a semelhança de Trump, a retirar o Brasil do Acordo de Paris, dificilmente o Brasil conseguirá atingir tais metas.
Causa espécie, por exemplo, a fala do Ministro da Economia do Governo Bolsonaro, no Encontro de Davos esta semana, cujos índices de desmatamento na Amazônia quase duplicaram em relação aos anos anteriores, práticas criminosas levadas a cabo por grileiros, desmatadores, garimpeiros, mineradoras e madeireiros, termos que ouvir meias verdades ou inverdades por parte do Ministro dizendo que a causa do desmatamento na Amazônia é a pobreza, no que foi prontamente rebatido pelo ex-vice presidente dos EUA, Al Gore e indiretamente pelo pronunciamento do futuro Rei da Inglaterra, o Príncipe Charles, que tem secundado os discursos e o ativismo de Greta Thunberg, esta jovem idealista, estudiosa e corajosa defensora das causas ambientais, personalidade do ano na Revista Time.
Finalmente, outro aspecto de suma importância em relação `a degradação ambiental é a questão do saneamento básico e a geração/produção de lixo, principalmente lixo plástico que atualmente representa 20% de todo lixo gerado no planeta e que, se nada for feito de concreto, dentro de poucas décadas atingirá mais de 50% do lixo global, poluindo os ecossistemas terrestres e também marinhos e contribuindo para a degradação da vida marinha, afetando a produção de alimentos e abastecimento de água.
Enfim, cada país, cada estado, cada município e cada localidade precisa incluir os desafios ambientais nas discussões e definição das politicas públicas, não podemos deixar para as próximas gerações um passivo ambiental impagável.
Por exemplo, neste ano aqui no Brasil estarão sendo realizadas eleições municipais, esta é uma ótima oportunidade para incluir na agenda politica e eleitoral municipal debates e propostas relacionados com a questão ambiental, cuja situação é vergonhosa em praticamente todos os municípios, sem exceção.
Cabe não apenas aos candidatos, mas também a todas instituições, incluindo Igrejas, sindicatos, ONGs, Clubes de Serviços, movimento comunitário , enfim, aos eleitores em geral participarem dessas discussões e contribuírem para a definição de politicas, planos, estratégias, projetos e ações municipais voltadas ao meio ambiente.
E você? Caro leitor, eleitor e contribuinte já despertou para esses desafios ou continua alienado, aguardando algum salvador da pátria para mudar esta realidade? Vamos refletir sobre esses desafios e definir o que podemos e devemos fazer, com a máxima urgência que esses desafios merecem.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT , sociólogo, mestre em sociologia, articulista e colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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2020 não poderia ter tido início mais perigoso; e não estou falando do estremecimento entre EUA e Irã. O perigo a que me refiro é pátrio; e ele se vê e se diz abençoado por Deus!
Em paráfrase a Chico Buarque, “trocando em miúdos”, 2020 começa dando sequência a muito do que já foi feito – na retórica e na prática – pelo perigosíssimo governo Bolsonaro; aliás, o atual presidente é um dos seres mais coerentes da perversa espécie humana. Até o momento, é impressionante sua capacidade de escolher – sempre à sua semelhança – o que de há de pior para ocupar cargos em seu governo. Narciso perderia feio nas eleições de seus iguais.
Ao afirmar isso, uma lista de gente de baixa qualidade – no plano do que se pode identificar como humano – seria rapidamente preenchida; talvez, gatos pingados ficassem de fora. Como gostam, a tapa ou a bala, o topo da pirâmide seria disputado por vários governistas que nasceram, cresceram e estão envelhecendo no berço cristão. Não há (a)gente no governo que não se declare assim. Ser cristão é condição sine qua non para pertencer ao governo Bolsonaro. Que medo!
Mas a maior das perversidades foi protagonizada, no último dia 17, pelo também autodeclarado cristão Roberto Alvim, ex-secretário de Cultura. Embora o episódio de que trato se pareça com ficção de terror, Alvim – no plano real e com riqueza de detalhes – superou qualquer tipo que represente a limitação humana que envolve todo o pensamento e prática bolsonaristas.
Mas o que fez Alvim para que o presidente – a contragosto – fosse obrigado a exonerá-lo?
Alvim plagiou – o que já é crime – um discurso de Goebbels, o abominável ministro da Propaganda na Alemanha nazista. Goebbles foi o Número 1 de Hittler, tendo contribuído para o assassinato dos cerca de seis milhões de judeus. Auxiliando Hittler, Goebbels foi um dos maiores criminosos da humanidade.
Ao plagiar Goebbels, Alvim chamou para si toda a carga desumana do nazismo. Se estivesse na Alemanha, Alvim, que acabava de ser elogiado por Bolsonaro em cerimônia oficial, estaria preso. Aqui, está solto, mas não consigo imaginar por onde ele possa caminhar sem ser identificado como nazista; talvez, só visitando algumas das residências do Vivendas da Barra, um condomínio na Zona Oeste do Rio...
Mas mesmo diante de tamanha perversidade, Alvim, que pretendia enquadrar as artes em um nacionalismo tosco e em um teocentrismo medieval estúpido, sem pretender, acabou fazendo um favor à cultura do país. Depois de seu discurso nazista, o Brasil parou para pensar sua trajetória política.
Do choque social à exigência de imediata exoneração da desprezível figura de Alvim, o tema censura, tão ao gosto do bolsonarismo, ganhou holofotes. Assim, cada agente do governo, inclusive o presidente, está sendo obrigado a saber que há limites para suas perversidades. Além disso, as novas gerações estão ganhando a oportunidade de conhecer mais sobre a história do Brasil, com ênfase ao que representa, ainda hoje, o golpe militar de 64.
Para finalizar, se há pouco tempo, Alvim era alguém no governo, agora, ele, sim, e não as artes, como ameaçou, virou nada. Mais do que nunca, nossos artistas precisam continuar livres para produzir, inclusive, se for necessário, a art engagé, que tem tido papel social imprescindível ao longo de nossa história. Nossos artistas, livres de quaisquer ditados governistas, precisam continuar enriquecendo nossa cultura, desde sempre, plural e diversa.
Salve(m) nossas artes e nossos artistas! Fora todo tipo de censura!