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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
Muita gente tenta descobrir as origens do coronavírus e como o mesmo se transformou em uma pandemia, quando a epidemia atinge centenas de países em todos os continentes, como já há algumas semanas foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Alguns tentam identificar suas origens em dimensões transcendentais, como o Bispo Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que disse que tudo isto é obra do diabo, de satanás; outros usam a teoria da conspiração e dizem que a origem é militar e geopolítica e está associada à produção de armas biológicas, que todas as potências militares possuem e continuam fabricando e citam até o evento dos jogos militares mundiais que foram realizados há pouco tempo (2019) na mesma cidade (Wuhan) na China, local considerado o epicentro desta pandemia que está estrangulando a economia mundial e provocando um verdadeiro pânico ou cataclisma entre as pessoas e governantes.
Outros também tentam ligar o surgimento deste novo vírus, como ocorreu com o EBOLA, com a destruição das florestas e a migração de animais silvestres para as áreas urbanas e também certos vírus que antes estavam presentes apenas nesses animais e com esta nova convivência acaba infectando seres humanos.
Existem pessoas que associam o surgimento do coronavírus à hábitos alimentares, principalmente com o consumo de carnes de animais silvestres, hábitos muito presentes na China e diversos outros países asiáticos, africanos e de outros continentes.
E, finalmente, muitos com inspiração na Bíblia, no Apocalipse, não titubeiam em dizer que tudo isto está escrito através das visões de São João, na Ilha de Patmos sobre o que passou a ser denominado de fim do mundo ou fim dos tempos. Por isso, o livro de Apocalipse está quase sempre associado a pragas, ruina e destruição.
O certo, todavia, é que ninguém sabe de fato a verdade sobre as origens do coronavírus e todos correm contra o tempo para descobrir alguma vacina ou medicação para dominar definitivamente esta pandemia.
Apesar da onda do CORONAVIRUS que está, quer queiramos ou não, aterrorizando e levando o pânico ao redor do mundo, parecendo que nada mais existe do que esta pandemia que tem ceifado preciosas vidas ao redor do planeta, não podemos deixar que o pânico e nem a manipulação das massas pelos governantes, muitos de índole altamente totalitária e também quase que um terrorismo virtual promovido pelos meios de comunicação, não podemos esquecer que o CORONAVIRUS, como todas as ondas, vai passar ou até mesmo nem ter esta dimensão aterradora que em alguns países.
De repente o coronavírus virou o epicentro da politica, da economia, das igrejas e religiões, dos hábitos das pessoas com amplitude mundial e suas consequências já estão sendo sentidas e serão, com certeza, ante este pânico e o que virá após a crise passar, muito piores do que imaginamos. Ai podemos incluir aumento do desemprego, recessão mundial, aumento dos índices de pobreza, miséria e fome.
Todavia, devemos parar e refletir mais profundamente e nos indagar, quem está perdendo e quem esta ganhando com esta onda de pandemia? Quais os países que sairão destruídos e quais sairão fortalecidos ao final desta onda terrível?
Se a gente aproveitar este tempo de reclusão, de isolamento social, como dizem nossas autoridades, enfim, de prisão domiciliar, para ler, buscar um aprofundamento em outros temas, ouvirmos palestras através de vídeos disponíveis na internet, com certeza vamos perceber que o mundo continua girando, a realidade que nos cerca não passou por transformações profundas só por causa da onda do coronavírus, a história não vai acabar e nem parar.
Por exemplo, a degradação ambiental, mesmo que tenha havido uma certa trégua em decorrência da redução drástica das atividades econômicas no mundo todo, incluindo a poluição na China, nos EUA, na Europa , no Brasil, enfim, no mundo todo, isto não significa que conseguimos frear o desmatamento, a poluição, as emissões de gases de efeito estufa, do aquecimento global e das mudanças climáticas.
De forma semelhante, mesmo que nossa atenção esteja voltada, no mundo inteiro e, claro no Brasil em particular, para o avanço dos casos e das mortes pelo coronavírus, isto não significa que a probabilidade de desastres decorrentes de chuvas torrenciais tenham desaparecido, pelo contrário, como no Brasil onde mais de 60 milhões de pessoas residem em encostas de morros, favelas e habitações sub-humanas, sujeitos a tais catástrofes, como aconteceu recentemente na Baixada Santista, em Minas Gerais, no Espirito Santo, no Rio de Janeiro, estarão `a mercê de alagamentos e deslizamentos de morros.
A violência em geral, em todos os países, talvez pela reclusão das pessoas, possa estar se arrefecendo por uns tempos e assim todas as demais mazelas, mas isto apenas temporariamente.
Todavia, e isto é o que eu penso com meus botões, passada a onda do coronavírus o mundo voltará ao seu “normal”, com a mesma realidade cruel, talvez até mais cruel ainda, principalmente nos aspectos sociais, econômicos e políticos, inclusive com um aumento do autoritarismo por parte de diferentes governos.
Abrindo apenas um parênteses nesta reflexão, sabemos que o contágio pelo coronavírus é rápido e de amplitude enorme, mas, mesmo ante este alarmismo todo, precisamos colocar esta pandemia no contexto dos indicadores demográficos e de saúde, incluindo taxas de mortalidade decorrentes de outras doenças.
Parece que no fundo, o que apavora as pessoas é o medo de ficarem doentes e também o medo da morte. Quem estuda um pouco o tema da demografia sabe que existem taxas que indicam nascimentos, crescimento ou declínio da população, mobilidade e também as taxas de mortalidade.
Precisamos nos convencer de que o coronavírus não é a primeira e nem será a última grande epidemia/pandemia mundial. Para os adeptos do “apocalipse” outras piores ainda virão. Apenas para relembrar vamos citar algumas dessas grandes epidemias que dizimaram milhões de pessoas ao redor do mundo ao longo da história.
A PESTE NEGRA, entre 1.333 até 1.351 varreu parte da Europa e da Ásia e matou mais de 50 milhões de pessoas; a CÓLERA entre 1817 e 1824, matou centenas de milhões de pessoas; a TUBERCULOSE, que ainda hoje está presente em vários países, inclusive no Brasil, é responsável por mais de UM BILHÃO de mortes; a VARÍOLA/BEXIGA, entre 1896 e 1980 foi responsável por mais de 300 milhões de mortes; a GRIPE ESPANHOLA entre 1918 e 1922, logo após o término da primeira grande Guerra, dizimou 20 milhões de pessoas; o TIFO entre 1918 e 1922 foi responsável por mais de 3 milhões de mortes na Rússia e na Europa Oriental; a FEBRE AMARELA só na Etiópia, entre 1960 e 1962 foi responsável por 30 mil mortes; o SARAMPO, que está ressurgindo no Brasil, até 1963 foi responsável por 6 milhões de mortes no mundo; a MALÁRIA, ainda presente em diversos países, inclusive no Brasil mata a cada ano nada menos do que 3 milhões de pessoas, sem falar nos diversos tipos de câncer que ainda mata todos os anos 7,6 milhões de pessoas, com o destaque de que, por falta de cuidados e deficiências nas estruturas de saúde pública ao redor do mundo, nada menos do que 1,5 milhões de mortes poderiam ser perfeitamente evitadas.
Além disso cabe ressaltar que a gripe/influenza mata a cada ano em torno de 650 mil pessoas, apesar de que desde 1938, há quase um século, já existe vacina contra a mesma.
A pneumonia que também é uma doença respiratória grave foi responsável por 2,56 milhões de mortes em 2019, apesar de que, como a gripe, desde 1977 já existe vacina disponível nos diversos países.
Portanto, o coronavírus, pelo menos até o momento e diante das projeções, além dos cuidados que a população está tendo com certeza não terá um poder de destruição tão catastrófico como tantas outras pandemias e doenças que ainda continuam matando milhões de pessoas a cada ano, ao redor do mundo.
Historicamente as taxas de mortalidade tem se transformado de forma quase que radical. As causas de morte tem mudado, antes as principais eram as doenças infecto contagiosas e transmissíveis. Com o desenvolvimento econômico e da ciência e tecnologia, essas cederam lugar às doenças crônicas, degenerativas, enfim, as não comunicáveis. Todos os países, alguns já o fizeram e outros estão realizando e muitos outros ainda não chegarem sequer ao que é denominado de transição demográfica.
Em um primeiro estágio os países apresentam altos índices de natalidade e também altos índices de mortalidade, portanto, baixos índices de crescimento populacional. Em dado momento da história dos países e da humanidade, houve um grande e cada vez mais de forma super rápida, avanço da ciência, da tecnologia e da produção industrial e também nas áreas da medicina e da indústria farmacêutica e da biotecnologia, combatendo significativamente diversas causas de morte, com destaque para as vacinas e os antibióticos.
O Resultado foi uma queda significativa dos índices/taxas de mortalidade em geral, principalmente da mortalidade infantil, um aumento acelerado da longevidade e da expectativa de vida ao nascer, praticamente em todos os países. Isto resultou em um crescimento acelerado da população mundial.
Todavia, praticamente poucas décadas após esta explosão demográfica, quando diversos governantes e grupos sociais começaram a desenterrar as ideias malthusianas, também começaram a ocorrer mudanças no comportamento sexual, a revolução feminina, o surgimento e uso de métodos anticoncepcionais e de controle da natalidade e, ai passou a ocorrer a transição demográfica, ou o chamada “bônus demográfico”, quando tanto os índices de natalidade quanto de mortalidade são reduzidos drasticamente em alguns países e continentes, resultando em baixos índices de crescimento populacional, mas, em termos mundiais, ainda longe de uma estabilização do crescimento populacional, o crescimento zero ou até mesmo o “crescimento” negativo, quando os países passam a ter mais mortes do que nascimento e a população total entra em declínio.
Voltando à questão do coronavírus. Antes de seu surgimento e mesmo durante esta onda e depois que tudo isto for superado, todos os países apresentam índices de mortalidade, alguns ainda elevados e outros menores. De forma semelhante, os índices de mortalidade são diferentes tanto entre países quanto dentro dos países e também em razão das faixas etárias. Essas variáveis determinam o total de mortes que deve ocorrer em cada país anualmente.
Os índices de mortalidade infantil, por exemplo, apesar de uma queda significativa nos últimos 50 anos, ainda são elevados na maioria dos países, principalmente nos países mais pobres, subdesenvolvidos ou de baixa renda, em alguns casos mais do que o dobro de mortes por 1.000 habitantes ou por numero de nascimentos vivos, em relação aos países do primeiro mundo.
Mesmo que todos os países estejam fazendo um grande esforço para reduzir os índices de mortalidade infantil, em 2016, no mundo ocorreram 5,6 milhões de mortes de crianças com menos de cinco anos. E esta triste e cruel realidade não abalou a economia mundial, os fundamentos da economia, as bolsas de valores, o câmbio e nem mobilizou a atenção e as ações de governantes e nem apavorou bilhões de habitantes do planeta terra como atualmente está acontecendo em relação ao coronavírus.
No outro espectro, na faixa da população acima de 60 anos, a taxa/índice de mortalidade é muito alta e essas taxas aumentam significativamente à medida que as pessoas envelhecem, ou seja, os índices de mortalidade na faixa de 60 a 69 anos é praticamente metade das taxas de mortalidade da população entre 80 e 90 e esta taxa é muitíssimo maior na faixa acima de 90 anos. Razão pela qual, as pessoas à medida que envelhecem tem uma probabilidade maior de morrerem.
Em 2019, em termos mundiais a taxa global de mortalidade foi de 7,6 mortes para cada grupo de 1.000 habitantes, a taxa de mortalidade infantil foi de 28,0 e de pessoas com mais de 65 anos foi de 57,0 e de pessoas acima de 90 anos praticamente dobra.
Em decorrência desses padrões demográficos, todos os países que possuem uma parcela maior de idosos/idosas, acima de 70, 80 ou 90 anos, terão índices maiores de mortalidade não apenas nesta faixa, mas na população em geral, independente da presença de pandemias.
Diversas doenças, principalmente as crônicas, respiratórias ou não e as degenerativas estão muito mais presentes nas faixas acima de 60 anos e, em consequência, mais mortes deverão ocorrer nessas faixas etárias. Este é o caso dos países Europeus, do Japão, da Rússia, EUA e outros mais, onde o contingente de idosos é maior e os índices de mortalidade também são maiores, independente da presença ou ausência de qualquer pandemia ou outras causas de mortes.
No caso do coronavírus o grau de risco e morbidade entre idosos é muito alto, razão pela qual na Itália e em todos os demais países, inclusive no Brasil e Estados Unidos, o número de mortos por esta pandemia entre idosos está assustando/aterrorizado o mundo.
Em 2017, segundo dados da OMS o numero total de mortes foi de 56 milhões de pessoas, nada menos do que 48% , ou seja, 26,88 milhões de mortes foram de pessoas com 70 anos e mais.
Em 2020, volto a enfatizar, independente da onda do coronavírus, no mundo mais de 63 milhões de pessoas irão morrer, sendo que 31,8% ( 17,81 milhões) por doenças cardiovasculares; seguidas de vitimas dos diversos tipos de câncer, de doenças respiratórias e outras mais.
Entre 01 de janeiro deste ano até o dia 20 de março, segundo modelo matemático desenvolvido por diversas instituições, utilizando de dados populacionais da ONU, morreram 13,12 milhões de pessoas no mundo, o que significa uma media de 135.480 mortes por dia. Convenhamos, uma realidade muitíssimo mais graves do que todas as mortes decorrentes do coronavírus.
No Brasil, o Quadro também não é diferente, em 2019 ocorreram 1,377 milhões de mortes, tendo em vista que o índice de mortalidade geral/total é de 6,5 mortes por 1.000 habitantes. Na China no ano passado ocorreram 10,441 milhões de mortes, antes que o coronavírus tivesse surgido naquele país.
Na Índia foram 9,926 milhões de morte em 2019; nos EUA 2,909 milhões; na Nigéria 2,441 milhões, na Rússia 1,848 milhões e na Itália que está sendo sacudida pela onda do CORONAVIRUS, em 2019 ocorreram 642,2 mil mortes.
No Brasil, as autoridades e a população estão entrando em pânico, por que já temos 1021 casos de casos da pandemia e 18 mortes em três estados, além de 18 integrantes da Comitiva do Presidente da República que foi aos Estados Unidos, estão infectados pelo coronavírus.
Todavia, segundo este modelo matemático, do inicio de janeiro até 20 de março no Brasil deste ano, já morreram 284.529 pessoas em decorrência das mais variadas causas, que são praticamente as mesmas há mais de 10 anos, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias (gripe, pneumonia, tuberculose, asma etc.); diversos tipos de câncer, incluindo câncer do pulmão, acidentes de trânsito, assassinatos, doenças crônicas degenerativas, diabetes, suicídio, poluição, fome e outras mais.
A cada dia morrem no Brasil em torno de 3.738 pessoas, independente do coronavírus e esta realidade não vai ser alterada radicalmente após o término da onda desta pandemia. Nosso Sistema de saúde pública (SUS) vai continuar sucateado, a pobreza, a miséria, a fome, o desemprego, o subemprego, a concentração de renda que geram doenças, sofrimento e morte vão continuar presentes e bem visível em nossa sociedade e no cotidiano das camadas excluídas e oprimidas. Porém, nada disso comove nossas autoridades, nem os marajás da República e muito menos o baronato da economia, do agronegócio, enfim, os donos do poder.
Portanto, não podemos ter a visão e a consciência embotadas por esta grave onda, passageira, da pandemia do coronavírus. A única certeza que temos é que outras ondas, piores do que o CORONAVÍRUS, decorrentes da degradação ambiental, das mudanças climáticas, da exclusão social, econômica e da pobreza surgirão e irão aos poucos tornando a vida no planeta cada vez pior, isto sim, pode ser considerado o apocalipse, o fim do mundo para quem morre à mingua e vive em condições indignas de um ser humano.
Por deliberação da ONU 21 de Março, é o DIA DAS FLORESTAS, o DIA internacional contra a discriminação e o Dia Internacional da Síndrome de Down e neste domingo, 22 de março é o DIA MUNDIAL DA ÁGUA. Que tal a gente dar uma pausa em nossas ansiedades, no pânico que nos rodeia devido a esta pandemia e refletirmos um pouco mais sobre estes três assuntos e colocarmos também o coronavírus em um Quadro mais abrangente de analise?
O tema deste ano para ser refletido no DIA INTERNACIONAL DAS FLORESTAS é a BIODIVERSIDADE, destacando a ênfase que com a destruição das florestas, o desmatamento legal ou ilegal, estão sendo destruídos o solo, poluídas as águas, matando as cabeceiras, alterando o regime de chuvas no planeta e nas grandes regiões e, também, matando/destruindo uma riquíssima biodiversidade vegetal, aquática e animal.
Já, em relação ao DIA MUNDIAL DA ÁGUA, o tema procura relacionar a conservação da água e as mudanças climáticas e como tudo isto influencia positiva ou negativamente a questão da saúde da população.
A grande ênfase das autoridades sanitárias, mundo afora, é no sentido de que as pessoas precisam lavar as mãos diversas vezes por dia; para que isto seja possível é necessário que haja disponibilidade de água e também que não ocorra desperdício deste precioso liquido.
Como vemos, mesmo em meio a uma pandemia que assusta o mundo todo, não podemos perder de vista que sempre haverá um amanhã, quando esta pandemia será superada e teremos que nos confrontar com os graves desafios econômicos, políticos, sociais e culturais que temos diante de nós.
Não basta a gente concentrar todas as nossas energias para vencermos o coronavírus, é importante também que esta mesma energia e este mesmo empenho das autoridades e instituições públicas e privadas sejam direcionados na construção de um mundo melhor, com justiça e solidariedade, incluindo o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e todas as suas metas.
A Agenda 2030 ainda continua sendo nosso farol, nossa bússola na busca de sociedades mais justas, mais humanas e mais inclusivas, com mais dignidade e bem estar para todos e não apenas para as camadas do andar de cima.
Caro leitor ou leitora, não se esqueça que mesmo que a noite seja muito escura, ao amanhecer haverá um sol brilhando, aquecendo nossas esperanças. Por isso, acredito que mesmo com o coronavírus, o mundo não vai acabar!
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular, aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Em algum dia de 97, quando, além das atividades acadêmicas, eu participava intensamente da vida sindical, voltando de Brasília, viajei ao lado de um então reitor da UFMT. Ele retornava de um encontro da ANDIFES (Associação Nacional de Dirigentes das Federais); eu, de uma reunião do Sindicato Nacional dos Docentes das Universidades.
Naquele período, sob a presidência de Fernando Henrique, as universidades passavam por maus bocados; por isso, eu disse ao colega reitor que não compreendia o porquê da fragilidade política da ANDIFES, uma vez que ali aglutinavam-se os reitores das federais, todos eleitos.
Na verdade, eu lhe fizera uma provocação, pois os reitores, mesmo sendo eleitos, só eram nomeados diante de uma lista tríplice enviada ao MEC. A lista era a coleira legal a que os reitores estavam presos, e contra a qual eles não se opunham. Ato contínuo, depois de nomeados, com raras exceções, todos deixavam de ser reitores, de fato, e passavam a ser meros gestores governamentais.
A artimanha da lista, criada por FHC e mantida pelos petistas, ainda vigora. Assim, todos os governos subjugaram as federais. Todos, inclusive os petistas, impuseram-nos seus projetos, em geral, populistas, que certamente levariam as universidades ao estrangulamento financeiro. Todavia, até que chegasse Bolsonaro, as coleiras não eram tão perceptíveis. Agora, tudo se escancarou por meio de cruéis cortes orçamentários.
Com isso, as pró-reitorias de planejamentos/administrativas passaram a determinar como o orçamento deveria ser realizado. A própria democracia interna para deliberações acerca da pauta orçamentária está comprometida nas federais.
Com esse enfoque, as pró-reitorias das atividades fins (ensino, pesquisa e extensão) vivem sob humilhações; não conseguem o básico para tapar o sol com a peneira. Para piorar, o governo proibiu novas contratações, de concursados ou de substitutos.
Uma vez rebaixadas a esse patamar, só restariam às universidades a força da ANDIFES e a luta contundente dos sindicatos diretamente envolvidos. Contudo, não consigo ver nem uma coisa, nem outra. Mas posso (e quero) estar errado.
Não vendo isso, que seria positivo no cenário, assisto a cenas lamentáveis. Dias atrás, na UFMT, antes da explosão do coronavirus, houve a demanda da utilização do TU (Teatro Universitário) por parte da Orquestra de Câmara da UFMT (OCAM) e da ADUFMAT (Sindicato dos Professores da UFMT), que pretendia, no dia 31, realizar o ato-show “Nem cálice e nem cale-se”, contra a censura que já vem sendo experimentada no Brasil.
Como os eventos dar-se-iam em março, mês não contemplado por um perverso e mal escrito edital de utilização do TU, depois de muita pressão, a reitoria permitiu que a OCAM fizesse sua apresentação no TU. Todavia, os mesmos peso e medida não foram utilizados para a ADUFMAT, que se prontificava, inclusive, a pagar a diária àquele espaço.
Diante de uma proposta de evento artístico/político, que serviria como aula de cidadania, por meio de despacho gerencial, e não político, como deveria ser, o reitor, ou melhor, o gestor mor da UFMT – pretendendo ser candidato à reeleição e posteriormente ser nomeado por Bolsonaro – indeferiu o uso do TU. Para não demonstrar desdém completo, sugeriu – embora soubesse, de antemão, que seria recusada – a utilização do Centro Cultural, espaço sem estrutura àquela atividade.
Enfim, neste momento em que as federais estão sendo trituradas pelo governo, reitores politicamente fortes seriam bem-vindos. Gestores subjugados são desnecessários.
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Por Roberto de Barros Freire*
Bolsonaro supõe um apoio popular unânime a seu projeto que não é aferido em pesquisas de opinião. Pressupõe falar em nome de uma maioria inexistente; da grande maioria daqueles que nele votaram, que não é a maioria da população. E entre muitos dos seus eleitores, alguns concordam com algumas coisas, nem com todas, e nem com as maiorias, pois boa parte dos votos bolsonaristas, foram ante PT, mais do que pró Bolsonaro.
Com problemas na saúde pública e impactos no bolso, a população brasileira não vê em Bolsonaro um chefe de Estado à altura do cargo. O governo faz baderna política, inclusive convocando marchas infecciosas contra o Congresso e o Judiciário, pelo golpe militar, querendo chantagear os outros poderes.
Com declarações nas quais busca minimizar os impactos da pandemia e trata como exageradas algumas medidas que estão sendo tomadas no exterior e por governadores de estado no país, mesmo pelo seu ministro da saúde. Afirma sandices como o vírus está superdimensionado, é muito mais fantasia do que realidade, outras gripes mataram mais, as pessoas estão entrando em neurose ou histeria, não é tudo isso que dizem, querem o pior do país, principalmente a imprensa. Mentiras, ofensas, sandices, irresponsabilidade, hipocrisia de Bolsonaro.
O presidente que já carregava um cardápio pesado de problemas antes do coranavirus (por ofensas e mentiras que dissemina), diante da crise sanitária, comprova com nitidez inédita ser um inepto e um estorvo, para o país. Se dúvida ainda restava sobre a incurável incapacidade de Bolsonaro de exercer a função, foi enterrada com a sua aparição diante dos manifestantes, depois de desaconselhar anteriormente.
Num momento parece um adulto compenetrado no problema, em outro é um adolescente (aborrecente) petulante que faz o que quer contra tudo e todos. Que brade que se pegar a doença o problema é dele, mas inconsciente e perigosamente ignorante diante do fato, que ele é um possível transmissor da doença. Não pensa nos outros apenas em si e no seu sucesso medíocre nas redes sociais. Seus 15 minutos de fama vão acabar e será devidamente esquecido como um profundo e nefasto equívoco. O país está ficando cada vez pior, do ponto de vista social, político, econômico e moral. Só cresce o ódio e o ressentimento.
No último domingo, milhões de brasileiros estavam preocupados com as consequências do coronavírus para suas vidas: onde deixar os filhos pequenos e como alimentá-los, agora que as escolas começam a fechar; como proteger os idosos da família; como evitar o contágio no aperto do transporte coletivo; o que vai acontecer com o meu emprego, o meu bico, o meu pequeno negócio ou com a minha empresa quando a economia parar. Como conviver vários indivíduos em espaços reduzidos dos barracos e cortiços.
Mas o atual governante e seus seguidores só têm a oferecer ódio, despreparo e ignorância, combatendo a democracia e a civilidade, querendo derrubar a constituição.
Não temos alguém que seja capaz de orientar as pessoas. Bolsonaro está preocupado com a sua imagem, está preocupado com os seus panelaços, com as suas manifestações, está preocupado em se autodenominar mito. Ele nos faz perder tempo com suas idiotices e mesquinharias.
O país precisa tomar uma posição rapidamente; não podemos deixar mais um presidente que muitos consideram que deveria perder o poder só por insanidade, como Miguel Reale e Merval Pereira se manifestaram nessa semana, desvirtua dos problemas reais para encampar suas lutas tolas e atrasadas. O país está retrocedendo em todos os níveis, econômico, político, cultural, social, moral, ecológico, civilizatório e humano.
Um governante louco e ignorante que nos levará a uma catástrofe social, destruindo as instituições democráticas, atacando a honestidade de todas, como fez recentemente colocando em dúvida a justiça eleitoral. Lança maldades no ar, e espera que os fanáticos criem uma história conspiratória, para não verem o mais elementar; precisamos de um presidente que nos governe, não que nos jogue uns contra os outros.
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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A pedido do professor Vinicius Machado P. dos Santos, publicamos o texto abaixo, de autoria de José Roberto Torero*
Eu não sou louco, talkei?
Só porque eu encostei em 272 pessoas na manifestação de domingo e posso ter contaminado todas elas, já estão querendo dizer que eu sou louco.
Mas eu não sou! Não sou! Não sou!
Aquele tal de Miguel Reale, que pediu o impitimam da Dilma, até sugeriu que façam exame em mim. Mas já vou avisando: se vier algum psicólogo com gracinha, eu mordo!
A Janaína Pascoal é que é louca. Já viram aquele vídeo dela girando uma roupa que nem roqueira? Louca de pedra! Tanto que agora tá dizendo que se arrependeu de votar em mim. Pô, vai me dizer que não me conhecia? Eu continuo igualzinho. Ela é que tem dupla personalidade. E dupla personalidade é loucura, talkei?
Querem me tirar da presidência dizendo que eu sou lelé. Até um haitiano me disse isso ontem à noite.
Só que, se eu fosse louco, eu não ia saber que esse negócio de coronavírus foi inventado pela China. Mas eu sei! Pode reparar, Diário, sempre que eles têm problema econômico, criam um vírus e saem ganhando com isso. Foi assim com a febre suína e com a gripe aviária. Tá na cara que eles fazem isso de propósito. Um louco ia pensar isso? Não ia. Eu sou é gênio!
Eu posso parecer louco porque eu sou o Messias, o escolhido, aquele que tem uma missão. E quem não aceita isso não me entende. Mas eu e meus seguidores sabemos que nós somos melhores que o ser humano comum. Pode olhar no Facebook dos meus fãs. São sempre são cheios de selfies. E não é porque nós somos vaidosos. É porque nós somos autoconfiantes e sabemos que somos melhores que o resto. A gente vê o que os outros não conseguem. A escola acaba com a visão natural das pessoas.
Me diz, Diário, se eu fosse louco, eu ia propor o fim da cadeirinha de criança nos carros?
Se eu fosse louco, ia ter ministros como a Damares, o Weintraub e o Ricardo Salles?
Se eu fosse louco, eu ia postar vídeo de caras se mijando?
Se eu fosse louco, ia brigar com meu próprio partido?
Se eu fosse louco, ia ter os filhos que eu tenho?
Se eu fosse louco, ia ter tanto ódio de radar?
Se eu fosse louco, ia ser fã do Ustra?
E me diz, Diário: se eu fosse louco, eu ia ter um guru como o Olavo de Carvalho? Hein? Hein?
*José Roberto Torero é escritor e jornalista.
Fonte: @diariodobolso; https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Humor/Diario-do-Bolso-17-de-marco-de-2020/9/46810
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Roberto de Barros Freire*
O novo coronavírus - Covid-19 – é uma prova concreta que essas coisas de fronteiras e barreiras nacionais são ideias e artefatos arcaicos no mundo atual. O mundo está definitivamente globalizado, não há volta, não há como impedir o trânsito e o tráfego de ideias, bens, pessoas e doenças. O muro que Trump quer construir nada impede ou impedirá, nem pessoas, nem drogas, muito menos doenças de adentrar nos Estados Unidos. Dificulta apenas a vida dos pobres, pois que ricos entram de primeira classe em qualquer país.
Como ninguém vive isolado e o contato humano é inevitável, tudo que se pode fazer é aprender a conviver com as intempéries da vida, algo que se inicia sem culpados e que se tem que agir para não virar ou causar vítimas. O contato humano potencializou a todos, desfrutando as conquistas humanas, luz, máquinas, medicina e muitas outras coisas, mas trouxe e traz também algumas doenças que podem causar muitas perdas humanas.
No final o vírus causará poucas perdas, mas a degustação daqueles que lucram com a desgraça, promoverá perdas bem maiores. No mercado, sempre covarde, fugindo rapidamente de ter que arcar com os custos do convívio, e ainda querendo lucrar com eles, liquefaz o patrimônio de muitos, para se salvar da doença. Todos querendo ter dinheiro na mão, ao fim, ele pouco valerá, pois de que adianta o dinheiro num carro no meio da enchente? Quanto vale o ouro no meio de um deserto seco e sem água? E de que vale ter estudado em colégios caros e saber a fórmula da água sendo arrastado pelas águas turbulentas de um rio?
O fato é que temos de nos adequar mutuamente, aceitar nossas diferenças, aprender a extrair o melhor da convivência e a evitar o pior do contato, ofensas e violência, e algumas doenças. Também o ódio deve ser evitado e combatido. Nosso destino é coletivo e não há salvamento individual, ainda que possa haver prejuízo para todos, coletivos, globais.
Naturalmente, ainda que haja problemas e dificuldades, devemos continuar a traçar nosso destino e buscar o melhor para si, sem prejudicar os demais. Não ter nem manter inimigos. A vida comum é algo que nos envolve e potencializa a todos, e o seu futuro próspero depende de nossas ações atuais. Plantamos e colhemos o semeado. Escolher a semente certa, preparar adequadamente o solo onde se enraizará a planta, e depois desfrutar com os demais sua sombra e sua fruta, é algo que fomos conquistando desde a pré-história. Ao invés de combater supostos inimigos, conviver com o diferente, aceitando a multiplicidade e sem querer eliminá-la.
O que permite nos dedicarmos a nós mesmos é haver pessoas que estão trabalhando para desfrutarmos o lazer. Depois trabalharemos para que os demais possam também desfrutar um ócio merecido, pois todos precisamos de um tempo para nos dedicarmos ao nosso aperfeiçoamento e um tempo para nos dedicarmos ao bem de todos. É algo que advém de nosso esforço para o benefício mútuo.
Das crises pode-se retirar lições ou ressentimentos. Ressentidos são aqueles que não percebem que não há culpados para além de nossas escolhas para a nossa situação. E só se tira lições quando se adquire a sabedoria de perceber que os erros ao menos ensinam o que evitar.
Doenças novas assustam a todos. De uma forma geral, as pessoas temem novidades. Quase tudo que se lança no mundo, num primeiro momento assusta, depois se entende e logo depois já não se pode viver sem. Essa nova doença em breve terá uma vacina, novos remédios, novos protocolos de atendimento médico e sanitário. É com essas pragas que aprendemos higiene; é com esse vírus que descobrimos novos medicamentos.
Não é bom que essas coisas aconteçam, mas uma vez que é inevitável e sempre estaremos suscetíveis a novas patologias, devemos tentar entender e estudar formas de evitar e mitigar os males. A história mostra que não devemos nos desesperar, pois sempre se acha a cura. O importante é ficar atento e tentar evitar a desinformação, daqueles que gostam de lançar a cizânia e mentiras para confundir o público. Nosso maior problema hoje não são as notícias falsas, mas sim as mentirosas. A falsa vem da ignorância, mas a mentira vem da má fé.
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
O ano de 2015 foi muito significativo e emblemático para as questões ambientais. Inúmeros acontecimentos já estavam em curso desde 1972, quando do Relatório da Comissão mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento da ONU, desde então conhecido como “NOSSO FUTURO COMUM”, diversos marcos importantes vem sendo estabelecidos nas discussões relativas ao meio ambiente e à sustentabilidade.
Cabe destacar, por exemplo, o Protocolo de Kyoto, em 1997 que estabeleceu novos parâmetros relativos `as questões climáticas e a importância das questões ambientais como parte fundamental no processo de desenvolvimento mundial e nacional.
No ano de 2000 a ONU realizou a chamada CÚPULA DO MILÊNIO, quando foram definidos oito objetivos que, na perspectiva dos participantes, deveriam mudar o mundo. Esses objetivos deveriam vigorar, como de fato aconteceu, até o ano 2015.
Sempre é bom lembrar esses oito objetivos, para entendermos como a caminhada ambiental transcorreu até que o Papa Francisco, em 2015, apresentasse ao mundo a primeira Encíclica da Igreja Católica, a LAUDATO SI, onde um novo paradigma apareceu com toda a força. Este novo paradigma é a ECOLOGIA INTEGRAL.
Os oito objetivos do milênio são/foram os seguintes: 1) acabar com a fome e a miséria; 2) oferecer educação básica, de qualidade, para todos; 3) promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4) reduzir a mortalidade infantil; 5) melhorar a saúde da gestante; 6) combater a AIDS, a malária e outras doenças; 7) garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; e, 8) estabelecer parcerias para o desenvolvimento.
Pois bem, foi neste Quadro de referência de engajamento internacional que no dia 24 de maio de 2015; antes que a ONU tornasse a se reunir e aprovasse a Agenda 2030, com os OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, que o Papa Francisco assinou e deu ao público, católico e a não católicos, a ENCÍCLICA LAUDATO SI, por muitos conhecida como a ENCÍCLICA VERDE.
É bom recordar as palavras do Sumo Pontífice quando, logo no inicio da Laudato Si, afirma de maneira clara e objetiva que “Nesta Encíclica, pretende, especialmente entrar em diálogo com todos acerca da NOSSA CASA COMUM”.
Recorda também o Papa Francisco palavras de seu antecessor, o Papa Bento XVI que em discurso ao Corpo Diplomático acreditado no Vaticano, em 08 de Janeiro de 2007 disse , de forma enfática que é preciso “eliminar as causas estruturais das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de crescimento que parecem incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente”.
A Encíclica Laudato Si está estruturada em seis capítulos, seguindo o método de VER, JULGAR e AGIR: Capítulo I O que está acontecendo com a nossa casa comum; capítulo II O Evangelho da criação; Capítulo III A raiz da crise ecológica; IV Uma ECOLOGIA INTEGRAL; Capítulo V Algumas linhas de orientação e ação e, Capítulo VI Educação e Espiritualidade ecológicas.
Quando de seu lançamento, esta Encíclica representou um grande impacto nas discussões sobre esta nova visão de tratar as questões ambientais, antes havia a ideia de que existe uma certa separação entre o ser humano e a natureza, como se fossem duas realidades distintas e separadas.
Na Laudato Si, o Papa Francisco chama a atenção de que não existem uma crise ambiental propriamente dita e outra ou outras crises como social, econômica e política, mas que, como no refrão da música inspirada na Encíclica e que muito anima as reuniões da IGREJA, “tudo esta interligado, como se fôssemos um. Tudo esta ligado, nesta Casa Comum”.
Ainda sob o impacto do lançamento da Laudato Si, entre os dias 25 e 27 de Setembro de 2015, a Assembleia Geral da ONU aprovou por unanimidade os OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, em substituição aos Objetivos do Milênio, contendo 17 objetivos e 169 metas, todas praticamente contidas no bojo da Laudato Si.
A chamada AGENDA 2030, pretende ser a bússola para transformar o mundo, corrigir as mazelas ambientais, sociais, econômicas e politicas, acabar com a fome, a miséria, a desigualdade, as injustiças, a discriminação, a violência, as guerras, a destruição da biodiversidade, a poluição, as mudança climáticas, a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, enfim, garantir um mundo melhor para as próximas gerações.
Neste sentido os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ao enfatizar o conceito de sustentabilidade como pilar fundamental do desenvolvimento, representam não apenas o conceito, mas o novo paradigma de desenvolvimento destacado e enfatizado pelo Papa Francisco que é a ECOLOGIA INTEGRAL.
Antes de falar sobre a REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica, é necessário também mencionar que ainda no ano de 2015 foi assinado, em 12 de Dezembro daquele ano o Tratado de PARIS e, a partir daquele tratado, anualmente são realizadas as Conferências do Clima, as COPs, para aprofundar as discussões e compromissos dos governos e diversos setores, principalmente o mundo empresarial e outros setores não governamentais, quanto `a necessidade de se combater as mudanças climáticas, reduzindo a velocidade do aquecimento global e suas consequências sobre o planeta. Daí a ideia de que “tudo esta interligado”, o que um país ou região provoca em termos de danos ambientais acaba impactando negativamente o clima, o regime de chuvas em diversos outros países. A ideia de soberania nacional, neste contexto, reduz a corresponsabilidade com o “nosso futuro comum” e precisa ser revisto no contexto de uma ordem econômica, social e politica mundial, afinal, todos somos “filhos e filhas da terra”.
Anualmente um grupo de cientistas, conforme estabelecido na Resolução da ONU que aprovou os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, realiza estudos quanto às mudanças climáticas e apresenta relatórios fundamentados, científicos, quanto ao que está acontecendo com o Planeta Terra, em termos de mudanças climáticas e de aquecimento global.
Existe também um grupo que avalia anualmente a implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e suas metas, pelos diversos países, tendo como referência o ano de 2030, qual o progresso que está acontecendo e em que ritmo.
Duas outras iniciativas da ONU são importantes quando se busca implementar a ECOLOGIA INTEGRAL. Em 2017 foi aprovado o Plano Estratégico da ONU para as florestas, a vigorar até 2030, coincidindo com a Agenda 2030 e, mais recentemente, também a ONU aprovou a Década da restauração das áreas degradadas, a vigorar entre 2021 e 2030.
É neste contexto de aprofundamento das discussões e ações relacionados com o meio ambiente, onde os conceitos e paradigmas da Sustentabilidade e da ECOLOGIA INTEGRAL que o PAPA FRANCISCO em 15 de Outubro de 2017 convocou o Sínodo dos Bispos da Pan-Amazônia, que deveria ser realizado, como de fato foi, em outubro de 2019.
Antes desta convocação, quando de sua viagem apostólica ao Brasil, em 27 de Julho de 2013, o Papa Francisco disse, a respeito da presença da Igreja na Amazônia, o seguinte. “ A Igreja não está na Amazônia como quem enche as malas e, depois, de explorá-la, vai embora. Há muitos séculos está presente através de missionários, congregações, religiosas, sacerdotes, leigos, bispos; e a sua presença é fundamental para o futuro da região”
Na convocação do Sínodo, fica claro que a busca desses “novos caminhos” para a evangelização deveriam ser encontrados para e pelo povo de Deus, que habita a região da Pan-Amazônia, com suas diversidades e peculiaridades, tais como habitantes de comunidades rurais, das cidades, metrópoles, indígenas (de inúmeras etnias e diferentes línguas, culturas e religiões), ribeirinhos, seringueiros, migrantes, desalojados, extrativistas e favelados urbanos.
O que se busca é construir uma igreja com a cara da Amazônia e de seu povo, uma igreja em saída, missionária, acolhedora e também profética, no contexto da opção preferencial pelos pobres, excluídos e oprimidos. Uma Igreja que esteja a serviço da caridade, da solidariedade, da justiça, em defesa da vida em todas as suas dimensões, segundo os valores do evangelho, da doutrina social da Igreja e do paradigma da ECOLOGIA INTEGRAL.
Depois dos Encontros de Puyo/Equador em Abril de 2013; de Lima/Peru em Junho de 2013 e de Manaus em Outubro de 2013, os participantes, representantes de 11 países, no Encontro de Brasília entre os dias 9 e 12 de Outubro de 2014 decidiram constituir/fundar a REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica.
Conforme o documento constitutivo a Igreja, através da REPAM reafirma “seu compromisso de responder, de maneira eficaz e orgânica aos clamores de nosso tempo”.
A REPAM assumiu como missão “criar (e despertar) consciência nas Américas sobre a importância da Amazônia para toda a humanidade. Estabelecer laços entre as igrejas locais dos diversos países sul americanos, que estão na Amazônia, uma pastoral de conjunto, com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que privilegie os pobres e sirva ao bem comum”. (Documento de Aparecida 475).
Diversos organismos e setores da Igreja, em diferentes países contribuíram para a estruturação e atividades da REPAM, incluindo a CNBB, a CARITAS, CELAM e CLAR, as diversas Conferências de Bispos dos países Amazônicos, além de sacerdotes, leigos, religiosos, religiosas.
Com a convocação do Sínodo da Amazônia (Assembleia Especial dos Bispos) coube `a REPAM um papel fundamental tanto no desenvolvimento de uma metodologia para os estudos da realidade dos diferentes territórios e a elaboração do documento de trabalho “Instrumentum Laboris” – Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ECOLOGIA INTEGRAL”, documento este que serviu de base para as discussões e deliberações do Sínodo realizado no Vaticano entre os dias 06 e 27 de Outubro de 2019.
Ao final do Sínodo, foi aprovado por praticamente unanimidade o documento final “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ECOLOGIA INTEGRAL”, contendo seis capítulos, uma introdução e uma conclusão.
O capítulo I Amazônia: da escuta à conversão integral; capítulo II Novos caminhos de conversão pastoral; capitulo III novos caminhos de conversão cultural; capítulo IV novos caminhos de conversão ecológica; capítulo V novos caminhos de conversão sinodal.
Posterior ao encerramento do Sínodo e à publicação do documento final, o Papa Francisco, fez sua apreciação sobre o objeto do Sínodo através da Exortação Pós-Sinodal “MINHA QUERIDA AMAZÔNIA”, destacando e exortando tanto fiéis quanto a população em geral quanto à necessidade da leitura e reflexão sobre o documento final do Sínodo.
Em sua Exortação Apostólica, datada de 02 de Fevereiro de 2020, o Papa Francisco se dirige “Ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade”, ou seja, aos católicos e também aos não católicos.
Além de destacar o sentido da Exortação, o Sumo Pontífice, fala de seus sonhos em relação `a Amazônia, com os seguintes destaques: I) um sonho social; II) um sonho cultural; III) um SONHO ECOLÓGICO; IV) um sonho eclesial.
Tendo como base todos esses documentos e resultados das reflexões de alguns anos, a partir deste inicio de ano (2020) a REPAM, tanto no Brasil quanto nos demais países que integram a Amazônia, está realizando seminários pós-sínodo, buscando aprofundar, a partir dos diferentes territórios, o estudo da realidade e o que fazer para que todos os sonhos do Papa Francisco, sonhos esses que também são os sonhos de milhões de pessoas que habitam a Amazônia, sejam transformados em realidade.
Foi neste sentido que no último final de semana (07 e 08 Março 2020) mais de 60 pessoas, incluindo bispos, sacerdotes, religiosas, leigos e leigas, representantes de diversos povos indígenas estiveram reunidos em Cuiabá, no Centro Nova Evangelização – CENE, da CNBB/Regional Oeste 2 (Mato Grosso), representando praticamente todas as Dioceses de Mato Grosso e da Arquidiocese de Cuiabá.
Os resultados dos oito seminários que estão sendo realizados nos oito estados da Amazônia brasileira, deverão servir de base para o Plano de Ação e Evangelização, sob a coordenação e articulação da REPAM.
A metodologia utilizada foi a mesma: VER, JULGAR E AGIR.
Tanto a análise de conjuntura (ver) quanto o agir, tiverem como parâmetros os territórios (dioceses/arquidiocese) e também os sonhos cultural, social, ecológico e eclesial, inserindo-se na temporalidade, territorialidade e os sujeitos/atores que entram em relações no seu cotidiano.
Cabe aqui um destaque ao agir que surgiu a partir dos diferentes grupos de trabalho e reflexão, tendo como base os quatro sonhos de Francisco.
Foram identificados os principais problemas e desafios como desmatamento, queimadas, poluição e uso abusivo de agrotóxicos, garimpos e mineração ilegal, invasão de terras indígenas e de áreas de preservação ambiental, tráfico de pessoas, trabalho escravo, migrações internas e internacionais; ação ilegal de madeireiros, empobrecimento da população/favelização, precariedade dos serviços públicos, principalmente saúde, educação, transporte, habitação, problemas fundiários, grilagem de terras, violência contra agentes de pastorais, religiosos e religiosas e defensores do meio ambiente e dos direitos humanos.
As propostas do Grupo cultural foram: a itinerância; o pecado ecológico, a conversão ecológica, a demarcação das terras indígenas; a necessidade de respeitar a diversidade cultural e linguística.
As propostas do grupo da ECOLOGIA INTEGRAL foram: organizar a representação da REPAM nas dioceses; a criação de escola e cursos de ecologia integral, estruturar a PASTORAL DE ECOLOGIA INTEGRAL; promover a agroecologia; criar o observatório sócio ambiental pastoral na CNBB/Regional Oeste2; estimular a criação de legislação estadual e municipal que restrinja o uso de agrotóxico, principalmente a pulverização aérea.
As propostas do grupo social foram: criação, fortalecimento e articulação das pastorais sociais; fortalecimento dos conselhos de defesa de direitos; preparar leigos para participação nos conselhos de direitos.
As propostas do grupo eclesial foram: organizar a estrutura para ação missionária; articulação dos diaconatos; criar e fortalecer as Escolas de Fé e Política; usar melhor as redes sociais para evangelizar; criar a universidade amazônica; definir pecado ecológico e conversão ecológica e, fomentar uma maior participação da mulher nas ações da Igreja.
Com certeza estamos iniciando um novo tempo para que a Igreja possa realmente ter a “cara da Amazônia”. a cara dos pobres, dos excluídos e oprimidos que vivem e lutam neste imenso território, afinal, como bem tem dito o Papa Francisco, “o grito da terra” que está sendo destruída impiedosamente, é, também, o “grito do pobre”, pois é ele (o pobre) quem mais sofre com a degradação ambiental, com a exclusão socioeconômica e politica, a opressão, as injustiças e a violência que campeiam impunemente neste imenso território pan-amazônico.
Dentro de dois meses estaremos comemorando cinco anos do surgimento da LAUDATO SI, ocasião em que deveremos realizar uma avaliação da caminhada da Igreja rumo à ECOLOGIA INTEGRAL, como paradigma do desenvolvimento e da evangelização tanto na Amazônia quanto em outros territórios ao redor do mundo.
Este é o sentido do novo paradigma da “ECOLOGIA INTEGRAL”, que também abrange a sustentabilidade e um novo modelo de desenvolvimento, ambientalmente sustentável, economicamente aberto e solidário, socialmente justo, politicamente inclusivo e espiritualmente inculturado.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Enquanto o eu-lírico de Drummond – imerso na atmosfera da II Guerra, bem como nos desmandos da ditadura de Vargas – via “uma pedra no meio do caminho”, hoje, podemos ver não uma pedra, mas uma gigantesca sombra cruzando e escurecendo nossos caminhos.
Mesmo sem saudosismos de nosso passado político, no qual incluo os governos petistas, o fato é que o atual governo federal, pelo menos aos que não abrem mão da democracia, é qualquer coisa pra lá de assustadora. E os exemplos disso são muitos.
Pois bem. Como se passar por bom cristão nunca sai de moda, biblicamente falando, afirmo: tais exemplos nascem da mesma forma e na mesma proporção que o joio no meio do trigo. Assim, pontuarei alguns dos incômodos que me inquietaram mais do que deviam.
Começo pela edição da Medida Provisória (MP) 914, de 24/12/2019: véspera de Natal, que é o ponto máximo do calendário cristão. No plano do escárnio, seria o presente de Natal às universidades? Seria o que de melhor podia o rei mago brasileiro ofertar à nossa educação superior?
Centralmente, o conteúdo da MP é destruir a democracia nas federais. Ela dispõe sobre as eleições às suas reitorias, aprofundando o que já era disposto legalmente sobre a lista tríplice, criada por FHC e, lamentavelmente, mantida pelos governos subsequentes.
Com a lista tríplice, sempre ficou mais fácil aos governos de plantão indicarem seus aliados dentro das federais, quando fosse necessário. Todavia, essa prática tão explícita não era comum. Havia certa “elegância” nos processos de cooptação. O primeiro nome da lista era invariavelmente respeitado.
Com a MP 914, Bolsonaro só respeitará o primeiro da lista se esse for de seu campo ideológico: reacionário. Mais: a MP retira as eleições a diretores de faculdades e institutos, que serão indicados pelos reitores. É o círculo antidemocrático que se fecha. É o fim da democracia interna; logo, essa MP não pode virar lei.
Mas as federais são apenas parte de uma sociedade em que a democracia encontra-se em estágio doentio, ou sob estado sombrio. Para dimensionar isso, relembro que, no mês passado, Bolsonaro, ao ser questionado sobre a obra na biblioteca do Palácio do Planalto para abrigar uma sala de trabalho para a primeira-dama, reagiu mais uma vez com críticas à imprensa; ele fez o gesto grosseiro de “banana” aos repórteres.
Nesse mesmo sentido, há poucos dias, Bolsonaro escalou um humorista para dar bananas à imprensa. Com o circo que produziu, o presidente tentava evitar perguntas sobre o menor avanço do PIB em três anos. Dessa forma, escondendo-se em um humorista, novamente agride a imprensa; assim, menospreza a democracia.
Mas grosseria pouca é bobagem a esse senhor, sem etiqueta alguma, transformado em presidente; por isso, algo pior viria contra a imprensa. E veio no episódio com Patrícia Campos Mello, da Folha de SP.
Absurdamente, o presidente disse, sem rubor, que aquela jornalista não queria dar um furo, mas “o furo”, numa alusão de cunho sexual. Estarrecedor.
“Nunca antes na história deste país”, um presidente desceu tanto. Ao tocar o subterrâneo, Bolsonaro, além de ofender mais uma vez a imprensa, cospe na democracia. Metaforicamente, esbofeteia todas as mulheres; e tudo isso envolto ao emblemático 08 de março, bem como ao 14, quando se completarão dois anos do assassinato de Mariele Franco. Detalhe: ambas as datas são absolutamente caras a um dos países que mais agridem e matam as mulheres no mundo.
Estamos no lodo. Continuaremos nele?
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A pedido do prof. Vinicius Machado dos Santos, publicamos o texto abaixo, de autoria de José Roberto Torero*
Petróleo caiu 30%, a maior queda em 30 anos; o que que eu fiz? Soltei uma fake news dizendo que eu devia ter ganho a eleição no primeiro turno
José Roberto Torero
São Paulo (Brasil)
10 de mar de 2020 às 12:30
Diário, uma coisa que eu aprendi é que você não pode esquentar a cabeça. Tem que saber relaxar.
Ontem, por exemplo:
O dólar passou de R$ 4,70. O que que eu fiz? Tuitei contra aquele transexual que o Drauzio Varela abraçou. Dar uma tuitada contra alguém sempre me acalma.
A bolsa caiu 12%, a maior queda em vinte anos. O que que eu fiz? Fui no shopping tirar umas fotos com o pessoal. Ter gente puxando meu saco sempre me acalma.
O petróleo caiu 30%, a maior queda em 30 anos. O que que eu fiz? Soltei uma fake news dizendo que eu devia ter ganho a eleição no primeiro turno. Causar com fake news sempre me acalma.
O Brasil já tem caso de transmissão local daquela doença lá (é Coronavírus ou Covid-19, pô?). O que que eu fiz? Fui no Romero Brito ver o meu quadro, botar uns óculos malucos e pintar um pouco. Isso sempre me acalma. Aliás, aqueles livros de colorir merecem o sucesso que têm. Você só vai preenchendo as cores, nem precisa saber desenhar, e a coisa fica bacana. Acho que livro didático tinha que ser assim, com muita coisa pra pintar e sem aquele amontoado de letra.
Bom, Diário, agora que já escrevi um pouco em você, vou fazer umas palavras cruzadas (aquele Coquetel Picolé, que é facinho), porque hoje pode ser que o dólar suba de novo e a bolsa caia mais ainda.
Tem que saber relaxar.
*José Roberto Torero é escritor e jornalista, autor de livros como Papis et Circensis e O Chalaça. O Diário do Bolso é uma obra ficcional de caráter humorístico.
Fonte: https://operamundi.uol.com.br/diario-do-bolso/63447/diario-do-bolso-diario-tem-que-saber-relaxar
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Por Roberto de Barros Freire*
Quem mais lê a Folha de São Paulo e assiste a Rede Globo é Bolsonaro. Ele não consegue viver sem eles, diariamente vasculha, vê, procura, algo para amaldiçoar, transformando as notícias em espetáculo. Ele na verdade adora esses veículos de comunicação. E os usa diariamente no espetáculo grotesco na saída do seu palácio, para disfarçar ou esconder seus malfeitos, ou dos seus filhos investigados. Ele critica a imprensa, mas ele precisa do jornal, da televisão, das mídias.
É uma prática fascista transformar as notícias em espetáculo, o que deixa as pessoas viciadas no drama ou tragédia—quem entrou, quem saiu, quem foi demitido, quem foi ofendido, quem foi ridicularizado, quem foi atacado e quem foi defendido, cotidianamente eletrizando a todos, tentando tirar o foco dos seus mal feitos. Os dados ruins seriam só “mentiras de quem torce contra o Brasil”. Se distrair com a forma como um líder autoritário manipula a mídia, que dirá algo chocante justamente quando surgir alguma notícia que ele quer ocultar. O PIB está ruim, Flávio Bolsonaro está na mira do ministério público, nada consegue realizar em termos econômicos e sociais, então falemos das partes íntimas de uma repórter, escandalizemos o público para se esquecer o que de fato está ocorrendo, que a educação e os níveis sociais se deterioram, que as florestas estão sendo dizimadas.
Bolsonaro diz que representa os eleitores reais, rurais, ataca os progressistas e os gays, diz que o país está em declínio, é um tipo de política muito poderosa dizendo que o país pertence aos cristãos. O cristianismo é uma ótima religião, mas dizer que o Brasil é deles é uma versão do fascismo. Ele está minando as instituições. Na verdade, entre os cristãos tem uma infinidade de posições que longe está de ter alguma unanimidade, ou uma visão comum. Não há uma voz só a falar por essa infinidade de pessoas. E por vezes, os que mais defendem o cristianismo são os menos cristãos. Bolsonaro com certeza não é um cristão, não consegue admitir o perdão e quer a pena de morte. Como político fascista faz tudo girar em torno do inimigo, pois este é uma ameaça à civilização e as pessoas votam nele pois ele é o líder forte que vai protegê-los deste oponente monstruoso, e vai exterminá-lo, algo bem pouco cristão. Não quer o convívio com os diferentes, quer extingui-los. Dentre os inimigos sempre estará inclusa a classe intelectual, porque pensar é o inimigo. A falta de razão é a base do fascismo, pois é o ódio que o rege, não a compreensão. Regimes fascistas substituem pessoas competentes por incompetentes, competentes por aliados, cientistas por ideólogos, especialistas por cúmplices políticos.
O que está acontecendo é que os jornais normalizam seus comportamentos erráticos e estranhos, que são preocupantes. Os jornais tentam entender coisas, como rompantes ditatoriais, que em última análise tenta dar sentido a isso, ao invés de noticiar o que está acontecendo.
A imprensa não deveria ficar na entrada e saída do palácio presidencial irradiando suas estultices e grosserias de quem não sabe direito o que fala e o que faz. Nada deveria noticiar sobre sua teatralidade matinal e de fim de dia. Isso não é notícia, é tão somente um espetáculo grotesco, deselegante, deseducado, que mais prejudica nossos jovens e nossas crianças com situações sexualizadas (Bolsonaro e Damares só pensam em sexo), com coisas pouco cordiais, grotescas, bárbaras. Como disse alguém na imprensa “nos espetáculos que o presidente Jair Bolsonaro oferece quase diariamente na entrada do Palácio da Alvorada, é possível notar o exercício de transformar a política num show que mistura desinformação e ultraje.” Só ele se beneficia desse noticioso. A tática é útil sobretudo para políticos que querem esconder seus erros.
Não podemos deixar isso se tornar uma norma. A normalização não pode ser feita, pois a normalidade é diferente. Em uma democracia, as coisas são bem entediantes e prosaicas num cotidiano de debate racional. As ameaças à democracia já não vêm tanto na forma de tanques, mas de perda de saúde de suas instituições sempre agredidas. Como agora que estão convocando para uma manifestação a favor de um golpe militar, contra o Congresso e o STF, por pessoas ignorantes, que não sabem nem o que é uma ditadura. Ora, a diferença básica entre democracia e ditadura, é que na ditadura você não pode nem defender as coisas certas, e na democracia se tem liberdade até para defender as coisas erradas, como querem os bolsonaristas.
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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JUACY DA SILVA*
Por mais que eu pense, reflita, raciocine, converse com outras pessoas, não consigo entender como a morte de 3.200 pessoas pelo CORONAVIRUS em menos de dois meses pode abalar tanto os países, afetar as bolsas, o câmbio e até mesmo provocar uma instabilidade e recessão econômica mundial e a morte de mais de 59 milhões de pessoas a cada ano, inclusive em 2019 e 2020, não tenha causado tanto pânico e preocupação das autoridades e da população em geral.
Independente ou antes do surgimento desta onda do CORONAVIRUS morrem no mundo por dia em torno de 161 mil pessoas decorrentes de diversas doenças já sobejamente conhecidas e para as quais existem tratamento. Mas nada disso comove , desperta a atenção ou causa pânico e alarmismo nas autoridades mundiais e na própria população.
Coisas inexplicáveis! Só Deus sabe o que existe por trás desta realidade e do alarmismo que ronda o mundo inteiro.
Em recente entrevista a um programa de TV com grande audiência nacional, a médica infectologista Christina Barros, professora titular da UFRJ, disse, ao comentar sobre o “avanço” do coronavírus em diversos países, que o maior desafio das autoridades sanitárias ao redor do mundo, inclusive no Brasil, é que “a gente não está conseguindo conter o pânico e alarmismo em torno deste novo vírus”.
Em entrevista coletiva também as autoridades de saúde do Brasil disseram, mais ou menos na mesma época, que de quase cinco mil comunicações e telefonemas para o Ministério da Saúde e outros organismos da saúde publica, mais de 85% eram “fake news”, ou seja, mentiras.
Este é o Quadro que envolve a disseminação do coronavírus nesses quase dois meses. Parece que o mundo e o Brasil não foge `a regra, só tem uma pauta tanto em relação `as autoridades quanto dos grandes veículos de comunicação e também, lamentavelmente, nas redes sociais.
Em artigo recente, de 21 fevereiro último, intitulado “Coronavírus e o retrato de um ecossistema de desinformação”, Ricardo Torres, doutorando em jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina, faz um alerta nos seguintes termos “Em temas sensíveis como os que envolvem elementos relacionados à saúde, os riscos da disseminação massiva de informações falsas são ampliados e podem ter desdobramentos extremos que, em última instância, levam ao caos social e a um estado de pânico generalizado. Lidar com essa situação impõe um desafio significativo que está causando dificuldades para quem acessa e para quem produz conteúdos jornalísticos”.
Com certeza, pelo fato de se tratar de um “novo” vírus, sobre o qual pouco se conhece, cuja letalidade, ou seja, taxa de mortalidade é varias vezes maior do que as taxas de outras doenças já conhecidas, principalmente, respiratórias, como a influenza, ou gripe comum, o pânico, o alarmismo ou até mesmo uma certa dose de histeria coletiva amplia o foco do poder destruidor do coronavírus, acaba destruindo não apenas o corpo, mas a consciência e a convivência humanas.
Outro aspecto fundamental é a questão do medo da doença e, maior ainda, o medo da morte, afinal, se pudéssemos seriamos imortais e nossos corpos seriam e estariam protegidos contra todas as doenças e males que possam significar a morte.
Mesmo que o coronavírus ainda esteja em estágio inicial de disseminação pelo mundo e já tendo atingido quase cem países, com mais de 90 mil casos e pouco mais de 3 mil mortes, tanto as taxas de mortalidade e número de casos de várias doenças que anualmente dizimam milhões de pessoas, parece que pouca atenção, pouco alarde ou nenhum pânico causa nem entre governantes e muito menos entre a população.
No inicio deste ano, em 13 de janeiro último, antes do surto do CORONAVIRUS, a OMS – Organização Mundial da Saúde, alertou o mundo, todos os governos e a população em geral, em relação às 13 grandes ameaças urgentes para a saúde nesta década de 2020 até 2030, no contexto dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
De forma resumida essas são as 13 ameaças: 1) Conscientizar as pessoas e governantes que as mudanças climáticas afetam em muito as condições de saúde da população; 2) Os riscos para oferecer/promover cuidados de saúde em áreas de conflitos e guerras estão aumentando; 3) A importância em promover saúde em um mundo marcado pela desigualdade social, que gera pobreza, miséria, fome e exclusão é mais do que urgente e necessário; 4) É preciso, é fundamental promover a universalização das vacinas e medicamentos, principalmente para a população mais pobre que não dispõe de renda/recursos para cuidar da saúde; 5) É imperioso e urgente controlar e extinguir as doenças infecto contagiosas e doenças parasitárias que a cada ano provocam milhões de mortes; 6) É necessário e também urgente preparar os sistemas de saúde, públicos e privados, para enfrentar as epidemias e pandemias, como dengue, febre amarela, pneumonias, tuberculose, influenza, malária e (acrescento, no momento o CORONAVIRUS); 7) É também importante proteger a população contra produtos perigosos que levam a doenças e mortes, como alimentos e dietas impróprias, o consumo de álcool, tabaco, açúcar, sal, gordura (principalmente a trans) e medicamentos, onde o cuidado com a auto medicação é fundamental; 8) É preciso também investir mais no pessoal e profissionais da saúde, na formação, treinamento, segurança no trabalho, insalubridade, qualidade de vida); 9) É imperioso terem maiores cuidados com a segurança e proteção das crianças e adolescentes, evitando doenças e adições que também levam `a morte como DST/HIV/AIDS, drogas lícitas e ilícitas, sexo e gravidez na adolescência; delinquência, suicídio; 10) Investir para conquistar a confiança da população e da opinião pública nos Sistemas de saúde e nas campanhas de vacinação, combater as “fake news” relacionados com a saúde; 11) Promover com urgência a universalização do uso das novas tecnologias, acesso aos resultados das descobertas científicas na área da saúde, principalmente na fabricação de medicamentos, novos insumos, digitalização, informatização, telemedicina, inteligência artificial, biotecnologia, imagens que possibilitam mais eficiência e eficácia dos sistemas de saúde; 12) Proteger os medicamentos e evitar/reduzir as resistências antimicrobianas, antiviróticas e desenvolver novos antibióticos e antivírus, reduzindo a letalidade de diversas doenças; 13) Cuidar para manter os sistemas de saúde públicos e privados (hospitais, clínicas, consultórios) limpos, higiênicos para evitar as infecções hospitalares, a disseminação de doenças e contágios.
Como pode ser visto, a OMS apresenta um roteiro para que os sistemas de saúde de todos os países possam melhorar o padrão de atendimento, reduzir os custos das doenças e das mortes e propiciar maior dignidade e segurança aos pacientes.
Voltando à questão da mortalidade, devemos refletir com mais profundidade sobre a real situação da saúde tanto em nosso país quanto nos demais, afinal, vivemos em uma “aldeia global”, e tudo o que acontece em um país pode afetar o planeta inteiro. O maior exemplo é a situação que atualmente tanto pânico e alarmismo está causando, o CORONAVIRUS.
Tomando-se como referência os anos de 1980 até 2030, o número de mortes no mundo tem aumentando continuamente, apesar de que as taxas de mortalidade venham se reduzindo ao longo do período, mas como a população mundial e de vários países, inclusive os cinco mais populosos, ainda vem crescendo, a presença da morte por diferentes causas continua bem presente no cotidiano das pessoas.
Em 1980 ocorreram 46,7 milhões de mortes, em 1990 passou para 49,7 milhões, no inicio deste milênio, em 2000 foi de 53,1 milhões; em 2010 aumentou para 54,9 milhões, neste ano de 2020 deve atingir 59,3 milhões e as projeções indicam que em 2030 serão 62,8 milhões de mortes. A média anual para o período é de 54,7 milhões. Isto significa que entre 1980 até 2030, ou seja, em meio século vamos estar nos confrontando com 2,735 bilhões de mortes.
As principais causas de mortalidade no mundo em 2017 foram: a) doenças cardiovasculares (infarto e derrames -AVC) 17,8 milhões; b) Todos os tipos de câncer 9,6 milhões de mortes; c) doenças pulmonares obstrutivas crônicas 3,9 milhões; d) doenças das vias respiratórias inferiores 2,6 milhões; (essas duas que afetam o sistema respiratório somadas representaram 6,5 milhões de mortes; e) pneumonia 2,6 milhões, f) demências 2,5 milhões de mortes; g) diarreias 2,4 milhões h) desordens neonatais 1,8 milhões, i) diabetes 1,4 milhões; j) doenças hepáticas 1,3 milhões; k) acidentes de trânsito 1,2 milhões; l) doenças renais 1,2 milhões; m) tuberculose 1,2 milhões (o Brasil está entre os 20 países com maior número de casos e de mortes devido `a tuberculose); n) HIV/AIDS 954 mil; o) suicídios 793 mortes e, p) malária com 620 mil casos.
A influenza, gripe, registrou em torno de 32 milhões de casos nos EUA no período do inverno, entre outubro 2017 e abril 2018, com 310 mil internações e 18 mil mortes. Entre 2010 e 2020 (até fevereiro último) foram registrados 290,3 milhões casos de influenza, disso resultando 370 mil mortes, número maior do que todas as mortes de americanos nas guerras das últimas seis décadas, incluindo desde as guerras da Coréia , do Vietnam e demais guerras externas nas quais os EUA estiveram envolvidos.
No Brasil, por exemplo, desde que apareceram os primeiros surtos de mortes por HIV/AIDS em 1980 até 2018 esta doença, contra a qual muito preconceito foi criado, ocorreram 338,9 mil mortes. Em 2010 foram registrados no Brasil 44 mil novos casos e em 2018 foram registrados 53 mil novos caos de HIV/AIDS.
Desde 1980 até 2019, nada no mundo, menos do que 74,0 milhões de pessoas já foram infectadas com HIV/AIDS, 32 milhões de pessoas morreram neste período e 37,9 milhões de pessoas convivem com o HIV/AIDS e talvez outros 12 milhões estejam infectados e não saibam, o que agrava ainda mais o problema. Apesar de já existir medicamentos (coquetel) que possibilitam os pacientes a conviveram com a “doença”, em muitos países, inclusive no Brasil tanto para ser realizado o diagnóstico quanto acesso ao coquetel ainda existem muitas dificuldades, como ocorre com outros medicamentos e doenças, pela simples razão de que nossos governantes estão contribuindo para o completo sucateamento dos serviços públicos de saúde e empobrecimento da população.
Outro problema grave de saúde são os índices de infecção hospitalar, que no Brasil é um dos maiores do mundo, em torno de 15%. Segundo informações do Ministério da Saúde/SUS em 2016 o número de pessoas que contraíram doenças relacionadas com infecção hospitalar foi em torno de 400 mil e as mortes por infecção hospitalar atingiram mais de 100 mil ou 14% dos pacientes internados, número quase o dobro dos assassinatos no país, que tanta preocupação tem causado na população e na agenda politica e institucional nos últimos anos.
Nos últimos 20 anos mais de um milhão de pessoas morreram e continuam morrendo no Brasil por causas decorrentes de infecções hospitalares, sem falar nas demais doenças infecto contagiosas como gripe, pneumonia, malária, hanseníase (lepra) ou outras decorrentes da falta de saneamento e poluição do ar, dos alimentos, do solo e das águas.
Outra doença insidiosa e que está aumentando o número de casos e de mortes a cada ano, tanto no Mundo quanto no Brasil é o câncer (todos os tipos). No mundo o número de novos casos passou de 14,1 milhões em 2012, para 18,1 milhões em 2018, estando estimados 29,4 milhões para 2040.
De forma semelhante também as mortes decorrentes dos diversos tipos de câncer passou de 8,2 milhões em 2012; para 9,6 em 2018 e as projeções indicam que as mortes causadas por câncer (todos os tipos) deverão ser de 16,3 milhões em 2040.
Tenho tentado compreender o que pode ou deve estar por trás desta onda de medo, pânico, alarmismo e quase uma histeria coletiva em relação a uma doença que não esteja dizimando a população, enquanto existe um verdadeiro silêncio, ou seja, uma passividade em relação a doenças já sobejamente conhecidas, para as quais já existem tratamento e medicamentos que possibilitam se não a cura total, pelo menos prolongar a vida com mais dignidade para bilhões de pacientes quer seja em casa quer seja em leitos hospitalares que lutam pela vida, pela sobrevivência, enfim, pela dignidade e pelo mais sagrado dos direitos humanos que é a VIDA.
Lutar e colocar os países em condições médicas, sanitárias e hospitalares adequadas é importante, mas não menos importante é dotar os serviços de saúde, sejam públicos ou privados, de condições para enfrentar as doenças mencionadas neste artigo e que a cada ano provoca dor, sofrimento e morte a milhões de pessoas e seus familiares, é a maior obrigação, o maior dever das autoridades públicas e, ao mesmo tempo, direito das pessoas, da população em seu conjunto.
Afinal, qual a diferença de uma pessoa morrer de câncer, de gripe, assassinada, de doenças cardiovasculares, de poluição do ar, de tuberculose, de diabetes, de demência, de HIV/AIDS/DST, de malária, de pneumonia, de feminicídio ou atropelada impunemente em alguma via publica? A perda de um ente querido é a mesma, pouco importa a “causa mortis”.
Você, caro leitor, eleitor, contribuinte, já parou para pensar como está a situação e qual é o cenário da saúde, pública ou privada, em nosso país, em nossos Estados, em nossos municípios? No Mundo? Porque todo este pânico em relação ao coronavírus e uma certa passividade e alienação em relação a tantas doenças que também levam à morte, pessoas de todas as faixas etárias e condições socioeconômicas?
Pense nisso, reflita, dialogue com seus vizinhos, seus amigos e colegas de trabalho, as pessoas em sua igreja. Vamos colocar ou recolocar a questão da saúde pública na ordem do dia, na agenda politica e institucional de nosso país. Este ano deverão ser realizadas eleições para prefeitos e vereadores, você já perguntou aos candidatos o que eles já fizeram (no caso dos que já detém mandato eletivo) ou irão realizar se eleitos forem? Acorde enquanto é tempo. O perigo é muito maior do que apenas o apresentado pelo CORONAVIRUS! O CAOS na saúde pública brasileira, o sucateamento do SUS é muito maior do que qualquer vírus, por mais perigoso que ele seja. Não deixe que o pânico, o medo e o alarmismo tome conta de você e afete sua capacidade de pensar criticamente.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado Universidade Federal de MT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy