Terça, 23 Maio 2023 15:28

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****




Juacy da Silva e Aline Grasielli Monçale*





 

A semana de 21 a 29 de Maio de 2023 é marcada, tanto no Brasil quanto em diversos países, por dois acontecimentos muito significativos para o Meio Ambiente e para o diálogo ecumênico, inter-religioso. Neste período estará sendo celebrada a Semana de Oração pela Unidade Cristã e também a Semana Laudato Si, em comemoração à publicação de Encíclica com o mesmo nome, publicada pelo Papa Francisco em 24 de Maio de 2015, ou seja, nesta semana que se inicia estaremos comemorando o Oitavo Aniversário desta que é o mais importante documento da Igreja Católica relativo à Ecologia Integral.


Quando refletimos sobre a Semana de Oração pela Unidade Cristã é bom relembrar que, em 2021, o cristianismo era a religião com maior número de adeptos no mundo, mais de 2,1 bilhões de fiéis, seguido pelo Islamismo com 1,3 bilhão; hinduísmo com 850 mil adeptos e o budismo com pouco mais de 400 mil.

Segundo diversos estudos, constata-se que as religiões são responsáveis por aproximadamente 85% dos fatores que contribuem para a formação de hábitos, costumes, práticas, enfim, a base cultural que, por sua vez, interfere diretamente no comportamento e nas ações sociais, políticas, e também, ambientais da população.

Ou seja, o enfrentamento de todos os problemas mundiais e dos diversos países possuem uma interface com as práticas religiosas, como no caso atual, as temáticas da Semana de Oração pela Unidade Cristã e também das comemorações da Semana Laudato Si.

A busca pela Unidade Cristã, perdida ao longo de séculos, mais precisamente após a Reforma Protestante marcada pela publicação das 95 teses de Martinho Lutero, que acabou sendo afastado da Igreja Católica em 1521 e, posteriormente, com adesão de outros pensadores como Calvino, João Huss e outros mais; inúmeros teólogos, de diferentes tendências tem procurado encontrar as bases para que esta unidade perdida possa ser recuperada, fortalecendo e realçando o papel e a responsabilidade dos cristão com o destino da humanidade e do planeta.

Antes porém, já havia surgido um outro rompimento na unidade da Igreja Católica, que deu origem à Igreja Católica Ortodoxa em 1504, denominado de Cisma do Oriente. Atualmente esta Igreja reúne em torno de 250 milhões de fiéis ao redor do mundo, principalmente no Oriente Médio.

Mesmo com esses cismas e distanciamentos entre as Igrejas Cristãs (Católica Romana, Católica Ortodoxa e evangélicas), ao longo de séculos, desde o final do século XVI, existiu uma certa chama no sentido de que um dia tais igrejas poderiam trabalhar em comum. Daí surgiu o movimento ecumênico, que tem ganhado força nas últimas décadas. A ideia é de que podem existir diferentes igrejas com suas doutrinas, ou seja, um rebanho multivariado, mas seguindo um só Pastor, que é Jesus Cristo.

Desde o início do século passado, o movimento em busca da unidade cristã ganhou um reforço com o surgimento da Semana de Oração, de cunho ecumênico pela unidade cristã, tendo sempre um tema como base para as reflexões e celebrações.

O tema deste ano de 2023 será “Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça” (Is 1, 17), que estimula uma reflexão teológica e cristã sobre o racismo, mais especificamente sobre o racismo estrutural.

Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios. No hemisfério Norte, o período tradicional para a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) é de 18 a 25 de janeiro.

No hemisfério Sul, as Igrejas geralmente celebram a Semana de Oração no período de Pentecostes, que este ano ocorre de 22 a 28 de maio. A SOUC é também um momento simbólico para a unidade da Igreja. No Brasil, o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC) organiza as iniciativas para a celebração da Semana.

Quanto à Laudato Si, é importante que a mesma seja situada no contexto da renúncia do Papa Bento XVI e a escolha do Cardeal Jorge Mario Bergólio como seu sucessor.

O Cardeal Jorge Mario Bergoglio, ao ser escolhido papa em 13 de Março de 2013, causou tanta estranheza que foi denominado de “o papa do fim do mundo”, o primeiro da América Latina, o primeiro jesuíta e, mais ainda quando escolheu como novo nome Francisco, inspirando-se na vida e nas ações de São Francisco de Assis, considerado o patrono da ecologia.

Antes de Francisco, a Igreja Católica através de vários Pontífices e também de diversos teólogos, inclusive o brasileiro Leonardo Boff, já havia apresentado diversas contribuições em relação ao que e como a Igreja deveria ou deve pautar seu ministério, voltado para o enfrentamento das questões ou desafios socioambientais.

Pouco mais de três anos de seu pontificado, no dia 24 de Maio de 2015, um pouco antes de o mundo conhecer os termos do Acordo de Paris e também antes que a ONU concluísse a Assembleia Geral em que foram aprovados os ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, Francisco surpreendeu o mundo ao assinar a Encíclica Laudato Si, um novo marco no pensamento social da Igreja, voltado em maior profundidade  para os desafios que o mundo já, de há muitas décadas, vinha se ressentindo.

Para produzir esta primeira Encíclica totalmente voltada para as questões socioambientais, o Papa Francisco reuniu e ouviu diversos cientistas, teólogos, ambientalistas, manuseou dados estatísticos e revisitou inúmeras encíclicas sobre questões sociais, políticas, econômicas e ambientais.

O leitor da nova Encíclica, depara-se logo de início, com a menção que o Papa Francisco faz, recordando e transcrevendo as palavras de seu inspirador, São Francisco de Assis: “Laudato Si, mi Signore – louvado sejas, meu Senhor, contava São Francisco de Assis”....”Louvado sejas, meu senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta , governa e produz variados frutos, com flores e verduras”.

Logo a seguir, surge a visão e interpretação que o Papa Francisco irá seguir ao longo desta que é e continua sendo o documento base sobre o qual não apenas as reflexões devem ser elaboradas em se tratando do diagnóstico, mas também do agir da Igreja no enfrentamento a tais questões.

“Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos pensando que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se  a nossa terra oprimida e devastada, que está  ‘gemendo como que em dores de parto,.” (Papa Francisco, Laudato Si, 2).

Por ocasião do quinto aniversário da Laudato Si, em 2020, a CNBB destacou sete conceitos básicos ou ideias centrais em torno dos/das quais a Encíclica foi escrita; que são: 1) Casa Comum; 2) Ecologia Integral; 3) Tudo, nesta Casa Comum, está interligado; 4) O ser humano como guardião das obras da criação; 5) A crise ecológica tem como raiz a ação humana, irracional e destruidora; 6) Conversão ecológica; e, 7) Do consumismo e do desperdício a um novo estilo de vida.

A esses conceitos podemos também acrescentar outros como: a) Pecado ecológico e cidadania ecológica b) Ecumenismo, ou seja a Encíclica Laudato Si não é dirigida apenas aos cristãos católicos, mas também aos demais cristãos e a todos os adeptos e fiéis das demais religiões, crenças e filosofias, ou como enfatizado pelo Papa Francisco quando diz: “O urgente desafio de proteger a nossa Casa Comum inclui a preocupação de unir toda a família humana, na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar”; c) Novos paradigmas para realmar a economia (vide Economia de Francisco e Clara); d) Meio ambiente conectado com justiça social, direitos humanos, justiça ambiental, justiça racial e justiça intergeracional; e; finalmente conexão entre questões sociais e ambientais, em uma única crise socioambiental, em que a degradação do planeta afeta de forma mais cruel os pobres e excluídos.

Assim, ao celebrarmos esses dois eventos em uma mesma semana precisamos destacar quais são os reais problemas e desafios que estão presentes em nossas Igrejas, Paróquias ou outros territórios eclesiais, bem como relembrarmos que estamos, como fiéis, cristãos e não cristãos, sujeitos a todas as consequências e impactos dos efeitos da crise climática, da degradação dos biomas e dos ecossistemas, da destruição e extinção da biodiversidade vegetal e animal.

Este é o sentido e o significado das celebrações das Semanas de oração pela unidade cristã e, também, da Semana Laudato Si. Precisamos salvar o Planeta enquanto é tempo, começando aqui e agora!

*Juacy da Silva é professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral Região Centro Oeste.  Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 
 
**Aline Grasielli Monçale é Médica Dermatologista SBD, Mestre em Saúde Coletiva UFMT, Miss Beleza Baixada Cuiabana/MT, comunicadora, palestrante e fundadora do projeto social DermaTroller Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Instagram @alinemoncale_dermato 

Quinta, 18 Maio 2023 16:04

 

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****


 
Por Juacy da Silva* e Aline Grasielli Monçale**


 

Há bastante tempo, não apenas em Mato Grosso, no Pantanal ou na Baixada Cuiabana, mas também no Brasil inteiro, existe uma “luta surda” entre grandes grupos econômicos que, para saciarem seus apetites por um lucro fácil e imediato, não medem esforços para transformarem bens coletivos e de uso comum, como as florestas, os minérios, a água, enfim, recursos naturais que devem estar a serviço da coletividade, em mercadorias que possam ser apropriadas sem se importarem, sequer, com os danos ambientais que tais formas de apropriação privada provocam, impondo um passivo ambiental, não apenas às atuais gerações quanto, e principalmente, às gerações futuras.


Esta é uma verdadeira guerra, em que diversas batalhas tem sido e continuam sendo travadas em muitas dimensões ou, no que na linguagem da estratégia militar são denominadas, “teatros de operações”.


As principais instâncias em que essas batalhas estão sendo travadas estão localizadas nos tribunais (Poder Judiciário), nos poderes Executivo e Legislativo e também em organismos do poder executivo, principalmente naqueles que estão relacionados com o Meio Ambiente, na mídia, onde cada lado tenta ocupar seus espaços, divulgando suas “narrativas” e tentando justificar suas posturas e ações e, também, junto ao imaginário coletivo, que chamamos de opinião pública, além, é claro, junto às diversas organizações de representação da sociedade civil, como movimentos sindicais, comunitários, igrejas, clubes de serviços, escolas etc.


Cabe ressaltar também a importância do conhecimento e do papel das instituições de pesquisas, os Institutos e as Universidades, entidades prioritárias em oferecer conhecimentos atualizados quanto aos impactos e danos que, por exemplo, a construção de barragens nos diversos rios de Mato Grosso, da mesma forma que em outros estados, podem causar tanto para a preservação da biodiversidade, quanto às atividades econômicas e, principalmente, sobre o direito que as pessoas tem quanto ao uso da água, seja para abastecimento humano, industrial, animal e agropecuário.


Todavia, neste contexto, precisa haver um equilíbrio para que esses interesses de grandes grupos econômicos não prevaleçam em detrimento dos demais interesses, principalmente os interesses da população em geral.


É importante também atentar ao que estabelece a nossa Constituição Federal em seu artigo 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações.


§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
.... IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.”
 
Outro aspecto a ser destacado é o fato de que a ONU reconhece a água como um direito fundamental das pessoas e que a privatização deste precioso líquido, como ocorre quando grupos econômicos tentam se apropriar dos rios em uma região, afeta o direito das diversas comunidades e aglomerados, tanto rurais quanto urbanos.


No caso do Rio Cuiabá e seus afluentes (Bacia do Rio Cuiabá), o mesmo é parte da identidade natural, cultural, econômica e social de uma região cujo povoamento é o mais antigo deste estado e também do Centro Oeste.


Ao longo de décadas o Rio Cuiabá, da mesma forma que rios de vários outros estados serviram e ou ainda servem, como no caso dos rios da região amazônica, como vias de navegação, verdadeiras estradas fluviais, ligando populações e povoados que vivem ainda de forma isolada.


Existe uma verdadeira investida por parte de alguns grupos econômicos tentando construir ou já construindo mais de uma centena de barragens nos diversos rios de Mato Grosso, a maioria dos quais fazem parte da Bacia do Alto Paraguai e são importantes e fundamentais para garantir o regime das águas que formam a maior planície alagado/alagável do mundo, que é o PANTANAL, considerado pela UNESCO como patrimônio natural da humanidade, pela sua exuberância, beleza e riqueza de sua biodiversidade (fauna e flora), e o Rio Cuiabá e seus afluentes são fundamentais para este equilíbrio ambiental/ecológico.


Um desses grupos econômicos está tentando, há alguns anos, construir seis barragens no Rio Cuiabá, em um trecho de 190km, entre o município de Cuiabá até as cabeceiras do mesmo.


Para contrapor-se a esta tentativa de privatizar o Rio Cuiabá e a água neste trecho, cujos impactos econômicos, ambientais, sociais e culturais serão extremamente danosos, podendo causar a destruição da quase totalidade da biodiversidade do Pantanal, ferindo de morte a vida de pescadores, ribeirinhos e pequenos agricultores, afetando significativamente o abastecimento da população de todas as cidades da Baixada Cuiabana e diversos outros impactos extremamente negativos , conforme estudos da ANA – Agência Nacional da Água; da EMBRAPA Pantanal, da Fundação Eliseu Alves, da Universidade Federal de Mato Grosso e de diversas outras instituições de pesquisa, o Deputado Estadual Wilson Santos apresentou um Projeto de Lei na Assembleia Legislativa, para impedir a construção dessas barragens e que foi aprovado por ampla maioria dos deputados.


O referido projeto, sob o argumento de que seria inconstitucional, foi  VETADO pelo Governador do Estado e, posteriormente, graças a mobilização e pressão popular este veto foi rejeitado (como se diz popularmente, foi derrubado) pelos deputados por 21 x 4 votos e, posteriormente, sancionado pelo próprio governador que o havia vetado anteriormente.


Como acontece em todas as guerras, o referido grupo, sob o manto da CNI e de uma outra Associação econômica, ligada à área da energia elétrica, entrou com uma ação no STF arguindo a Constitucionalidade da referida Lei, sob o argumento de que cabe exclusivamente à União legislar sobre água e a exploração de outros recursos naturais.


Por mais que o relator da citada Ação no STF, Ministro Fachim, tenha elaborado um brilhante e extensivo parecer, negando “provimento” à ação proposta, dizendo, inclusive que o Estado (no caso Mato Grosso e, cremos nós, os demais estados) tem, não apenas o direito, mas também o dever de zelar pelos recursos naturais e meio ambiente que estão em seu território, com “competência concorrente com a União”, no que foi seguido pela presidente do STF Ministra Rosa Weber.
 
Todavia, oito outros ministros, votaram pela inconstitucionalidade da Lei Estadual que proíbe a construção de seis barragens no Rio Cuiabá e que garantiria que este lendário Rio e o Pantanal continuassem vivos.


Inúmeras pessoas, professores, cientistas, pesquisadores e parlamentares não se cansam de dizer que o STF não julgou o mérito da pretensão desses grupos econômicos, que teimam em privatizar os rios e as águas em nosso Estado e que a voz da ciência e a análise dos impactos negativos da construção dessas barragens cabe exclusivamente à SEMA – Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso, o que acabou acontecendo há poucos dias.


Por determinação da Presidência da SEMA foi constituído um Grupo de Trabalho, com profissionais de alto nível, doutores e pós doutores, de diversas instituições, com saberes multidisciplinares, necessários para tais pareceres, para que pudessem analisar, no mérito, os impactos que tais barragens poderiam causar ao meio ambiente, a economia, a cultura e a população que vive nesta região, caso as mesmas viessem a ser construídas.


Em meio ao clima quente, das polêmicas que a decisão do STF estava causando na população, no Parlamento estadual e na opinião pública, inclusive nos meios de comunicação há poucos dias, depois da análise da solicitação de licença ambiental por parte do Grupo econômico interessado em construir as seis barragens, privatizando o Rio Cuiabá no trecho antes mencionado, este grupo de trabalho da SEMA negou o pedido, ou seja, não concedeu a licença ambiental para que seis barragens possam ser construídas no mesmo.


Se por um lado a decisão do STF foi uma derrota para os defensores do Rio Cuiabá e do Pantanal, por outro lado, a decisão do Grupo de trabalho e da SEMA, negando a licença ambiental, foi uma IMPORTANTE VITÓRIA para a BAIXADA CUIABANA, para a Bacia do Rio Cuiabá e para o nosso PANTANAL.

Mas, como em todas as guerras, não podemos “baixar as armas”, pois, talvez ou com certeza, o inimigo (ou seja, grupos econômicos que querem destruir o meio ambiente) vai “voltar à carga” e poderá abrir novas frentes de batalha.


Isto significa que precisamos estar bem alertas ou como se diz, “não podemos dormir de touca”, um simples cochilo pode representar novas derrotas para os guardiões da Baixada Cuiabana, do Rio Cuiabá e do Pantanal.


Precisamos, mais do que nunca, juntar nossas forças para alavancar projetos e recursos para um grande programa de desenvolvimento econômico, social e cultural para a Baixada Cuiabana, promovendo um maior dinamismo para esta região que representa o berço histórico e cultural da ocupação e do desenvolvimento de Mato Grosso, onde vivem e sobrevivem mais de 30% da população do Estado.


A Baixada Cuiabana tem muitos problemas e desafios, principalmente nos aspectos ambientais, econômicos e sociais, bolsões de pobreza e miséria ao lado da opulência e da riqueza; mas tem também, ao lado do PANTANAL, grandes potencialidades em todas as áreas, principalmente como destino turístico, centro de prestação de serviços de excelência nas áreas da saúde, da educação, da gestão pública, é um grande centro comercial, de abastecimento e de prestação de serviços para todo o Estado razões mais do que suficientes para acreditarmos que a Baixada Cuiabana tem um grande futuro, pois aqui também estão as instâncias dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário deste grande e promissor estado que é Mato Grosso, que tanto se orgulha de ser o “celeiro do Brasil e do Mundo”.


O Rio Cuiabá e suas águas pertencem ao povo desta região e não podem ser privatizados, jamais. Cabe a nós defender o nosso Rio e o Pantanal, por isso não podemos nos omitir neste momento! O dia em que o Rio Cuiabá e outros rios de Mato Grosso morrerem, o Pantanal  também irá morrer! Pense nisso e fique esperto/esperta.

*Juacy da Silva, professor titular, aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral Região Centro Oeste. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy


**Aline Grasielli Monçale é médica Dermatologista SBD, Mestre em Saúde Coletiva UFMT, Miss Beleza Baixada Cuiabana/MT, comunicadora, palestrante e fundadora do projeto social Dermatroller. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Instagram @alinemoncale_dermato 

Quarta, 17 Maio 2023 14:09

 

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

****

 

Por Juacy da Silva* e Aline Grasielli Monçale**


O Dia Internacional da Reciclagem surgiu por iniciativa da UNESCO em 2009 e definiu que o mesmo deveria ser comemorado/celebrado anualmente em 17 de Maio.

“ `As próximas gerações poderíamos deixar demasiadas ruinas, desertos e lixo. O ritmo do consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida atual – por ser insustentável – só pode desembocar em catástrofes”; “A cultura consumista, que dá prioridade ao curto prazo e aos interesses privados, pode favorecer análises demasiadas rápidas ou consentir a ocultação de informações”; “Dado que o mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para vender os seus produtos, as pessoas acabam por ser arrastadas pelo turbilhão de compras e gastos supérfluos. O consumismo obsessivo é o reflexo subjetivo do paradigma tecnocrático”. Papa Francisco, Encíclica Laudato Si, 161,184 e 202.

Tanto a ONU, através de suas Agências Especializadas, como a OMS – Organização Mundial da Saúde, a UNESCO – Organização responsável pela educação, a cultura e o desenvolvimento Científico; a UNICEF – Agência dedicada aos cuidados com as crianças e adolescentes, a FAO – organização voltada para a Agricultura, nutrição e segurança alimentar ou a UNEP – braço da ONU voltada para as questões da ecologia, meio ambiente e tantas outras agências; bem como os países (Estados Nacionais, estados federados ou municípios), ou até mesmo Entidades da Sociedade Civil Organizada, costumam criar dias especiais para que sejam momentos celebrativos ou datas para despertar a consciência individual e coletiva quanto `a importância de pensarmos mais criticamente sobre aspectos de nossa realidade local, nacional, internacional ou planetária.

Tendo em vista que a partir de meados do século 18, em torno de 1750, alguns países europeus, com destaque para a Inglaterra e a França, depois seguidos por Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e também logo a seguir o mesmo aconteceu nos Estados Unidos, no Japão e outros mais que promoveram uma mudança radical de paradigmas em seus sistemas produtivos, com o advento da máquina a vapor, a energia elétrica e a industrialização em larga escala, processo este que se prolongou até aproximadamente 1.850. Esta fase da história econômica, política e social passou a ser denominada de primeira revolução industrial.

Este processo de industrialização provocou algumas mudanças significativas, tais como, demográficas, culturais, políticas, econômicas e nas relações sociais, além de promoverem ou estimularem uma rápida concentração de renda, riqueza e poder nas mãos de uma “nova classe social”, denominada como capitalistas ou burguesia.

Outro aspecto relacionado com esta primeira revolução industrial foi a expansão colonialista, onde os países europeus em maior grau e os Estados Unidos em menor grau, pressionados pela necessidade de matérias primas para alimentar a indústria nascente e que se consolidava, promoveram uma verdadeira rapinagem colonialista e imperialista, principalmente na África, na Ásia e na América Latina, deixando um rastro de degradação ambiental e conflitos internos nessas regiões.

Outro aspecto relacionado com esta primeira revolução industrial foram as migrações tanto internas, o êxodo rural intenso, quanto entre países, disto resultando também o crescimento acelerado do processo de urbanização, a eclosão de grandes conflitos sociais relacionados com o fator trabalho, o surgimento de grandes massas de desempregados nas cidades, agravadas por conflitos ideológicos, na esteira do surgimento dos movimentos sindicais, políticos e ideológicos.

Também não podemos esquecer que, graças a evolução da ciência e da tecnologia, apesar das precárias condições de vida nas cidades, houve também uma verdadeira revolução demográfica, com a redução significativa dos índices de mortalidade infantil e em geral de um lado e o aumento dos índices de fertilidade/natalidade de outro, disto resultando uma verdadeira explosão populacional, cujos efeitos permanecem até na atualidade.

De forma semelhante, tendo em vista a lógica da acumulação capitalista que exige o aumento da demanda, para fomentar o aumento da produção e, como consequência aumentar o lucro dos donos dos meios de produção (os capitalistas ou barões do sistema produtivo rural), era preciso “distribuir” um pouco a renda, para que as grandes massas pudessem consumir mais e mais os bens e produtos, um pouco acima da mera subsistência, no bojo do qual ocorreu também a libertação dos escravos por pressões econômicas deste processo de industrialização e modernização e, assim, girar a roda da economia, mesmo que neste processo também grandes massas de pobres, miseráveis e famintos pudessem acabar ficando `a margem deste processo, mas que, por ironia “do destino”, iriam alimentar o “exército” de desempregados, subempregados ou totalmente excluídos.

Assim, o crescimento populacional, aliado ao crescimento urbano e ao aumento da renda e dos consumidores, o resultado não poderia ser outro a não ser a geração de mais e mais resíduos sólidos/lixo, que por sua vez geram gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Fruto deste processo de aumento constante tanto da produção de resíduos sólidos/lixo per capita ou no total produzido pelos diferentes países, surgiu, tem aumentado e continua até os dias de hoje, um grande desafio para o mundo todo, em todos os países, sem exceção, ou seja, como vamos “lidar” com o problema gravíssimo dos resíduos sólidos/lixo?

Este aumento acelerado da produção/geração dos resíduos sólidos/lixo, já que é fruto do consumismo, do desperdício e da falta de políticas públicas que possam equacionar tal desafio/problema, tem contribuído sobremaneira para a degradação de todos os biomas e ecossistemas ao redor do mundo, afetando e até destruindo/matando os cursos d’água, tanto as bacias hidrográficas, quanto os rios, os lagos, lagoas e até mesmo os mares e oceanos.

O planeta terra, os mares, os cursos d’água e imensas áreas urbanas estão se transformando em verdadeiros lixões, lixeiras da humanidade, tornando a vida de todas as espécies vegetais e animais, inclusive a vida humana, extremamente difíceis ou até mesmo em processo de desaparecimento.

Ano após ano, décadas após décadas, apesar de milhares de estudos e tratados internacionais terem sido criados, aprovados e recebido a adesão de, praticamente, todos os países, o mundo caminha de forma acelerada para ir aumentando cada vez mais a quantidade de lixo produzida.

Cabe destacar que a produção/geração de resíduos sólidos está relacionada diretamente com os quatro fatores mais importantes: aumento da renda per capita, aumento da população urbana, aumento do consumismo e do desperdício.

A partir dos anos setenta do século passado, principalmente a partir de 1972 (primeira conferência internacional do desenvolvimento e meio ambiente), da segunda conferência que foi a ECO-92 no Rio de Janeiro, da Rio +10, também no Rio de Janeiro, a “Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável,” onde a questão da sustentabilidade passa a ser um novo paradigma que deveria ser abraçado por todos os países, pelo sistema produtivo, pelas organizações governamentais e não governamentais e, claro, pela população, o que só tem acontecido de forma extremamente tímida, cujos efeitos no contexto global são muito insignificantes.

É neste contexto que a ideia e as práticas da reciclagem começam a ganhar destaque, mas que, mesmo já tendo se passado, duas décadas o avanço tanto da reciclagem quanto da economia circular ainda não tem tido o impacto que se esperava em termos de reduzir a produção de resíduos sólidos, reduzir o consumismo e o desperdício e dar vida mais longa aos produtos e a reduzir o impacto que a procura/demanda por matérias primas tem sobre o meio ambiente.

Existe uma corrente de pensamento que considera a reciclagem apenas um paliativo, pois o que se precisa é ir mais a fundo, ou seja, a troca radical de paradigmas sobre os quais os sistemas econômicos e produtivos se organizam e exploram tanto os consumidores, através de técnicas modernas de propaganda e marketing, incentivando o aumento não apenas do consumo, mas sim do consumismo, ou seja, levando as pessoas a consumirem além das necessidades básicas e essenciais, mas sim uma verdadeira doença que é a compulsão por comprar, adquirir e desperdiçar.

Além disso, é importante que o mundo abandone as fontes de energia sujas, baseadas em combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), substituindo-as por fontes limpas, renováveis e não poluidoras.

Por exemplo, o mundo está sofrendo e correndo o risco de extermínio de várias espécies de animais, inclusive animais marinhos e também dos seres humanos pela quantidade de lixo em geral, e dos plásticos em particular. Vivemos em uma sociedade de plásticos, que a cada dia poluem mais e degradam mais o meio ambiente e destroem os biomas.
As cidades mundo afora, com raríssimas exceções não tem conseguido resolver a questão do lixo/resíduos sólidos, apesar de inúmeras leis, regulamentos e ações pontuais e tímidas por parte dos governantes.

Além da questão dos plásticos, tendo em vista a revolução científica, tecnológica com o surgimento do mundo digital, atualmente o mundo todo enfrenta mais um problema grave em relação `a questão dos resíduos sólidos que é o chamado “lixo eletrônico”, que ao ser descartado, por conter inúmeros produtos químicos e componentes altamente tóxico tem representado um grave perigo e enorme risco tanto para o meio ambiente quanto para a saúde e a vida humana quanto de outros animais e a biodiversidade vegetal.

A partir dos anos setenta do século passado o movimento de reciclagem vem ganhando força, mas de maneira muito tênue, a média mundial de reciclagem do lixo/resíduos sólidos gerado é em torno de apenas 20%, sendo que diversos países, como o Brasil, que é o quarto, quinto ou sexto pais do mundo que mais produz rejeitos/resíduos sólidos/lixo (dependendo da fonte de pesquisa os números são diferentes), não passa de 2%, 3% ou no máximo 5%.

Até recentemente havia uma prática internacional em que os países da Europa, Estados Unidos e alguns países asiáticos como Japão, Coréia do Sul e outros mais, exportavam lixo em grandes containers, navios para países pobres da Ásia e África, principalmente, deslocando seus problemas em relação ao acúmulo de lixo para poluírem e afetarem a saúde da população daqueles países.

Em sua origem, o movimento de reciclagem estava baseado em três “Rs”: REDUZIR (os produtos que são consumidos pelas famílias/pessoas e também pelo sistema produtivo); RE-USAR (ou seja evitar descartar tudo e dar nova utilidade aos produtos) e RECICLAR ( separar e transformar resíduos sólidos em novos produtos).

Hodiernamente, foram ou estão sendo incluídos mais três “Rs”, antes desses que mencionamos e que são: REPENSAR (ou seja, antes de adquirir algum produto, seja a população/famílias/pessoas perguntarmos “será que precisamos realmente de comprar/adquirir mais produtos?”; RESISTIR – como podemos fugir dos apelas consumistas estimulados pelo setor produtivo (indústria e comércio, principalmente, via propaganda subliminar e o marketing do consumismo?); e RECUSAR – precisamos recursas os dois “Rs”, anteriores, para realmente atingirmos um dos objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU que é a PRODUÇÃO e CONSUMO RESPONSÁVEIS e também sustentáveis.

Se conseguirmos Repensar nossos hábitos de consumo e nossa ânsia por consumir que é traduzido por CONSUMISMO, se conseguirmos RESISTIR e RECUSAR os apelos e manipulação subliminar para que consumamos cada vez mais, visando alimentar uma cadeira produtiva que não tem respeito e nem zelo seja pelo meio ambiente, seja pelos trabalhadores, seja pelos consumidores, com certeza, talvez, em um futuro muito longínquo, antes que o Planeta Terra seja destruído, possamos deixar de falar e praticar a reciclagem.

A ONU em estudo recente, em parceria com o Banco Mundial e diversas outras organizações nacionais e internacionais alertou o mundo, os países, a população em geral que estamos em uma corrida contra o tempo e que se não for enfrentada com seriedade, a produção de resíduos sólidos/lixo no mundo vai aumentar em 350% até o ano de 2050; tendo como base a situação deste problema em 2020, quando o crescimento da população mundial será de no máximo 24,3%, passando de 7,8 bilhões de habitantes em 2020 para 9,7 bilhões de habitantes m 2050.

Este será o fator básico para conter ou apenas mitigar os efeitos catastróficos e desastrosos acarretados pelas mudanças climáticas em curso e que muita gente e inúmeros países simplesmente não acreditam ou fingem acreditar, mas nada fazer para equacioná-lo.

Com o aumento populacional de um lado, o aumento da renda per capita de outro e o aumento acelerado do consumismo e do desperídicio de tudo o que é produzido, inclusive alimentos; estamos entrando cada vez mais em uma economia do descarte e da obsolescência prematura, que aumenta a produção de resíduos sólidos/lixo e com os baixos índices de reciclagem ainda vigentes, o cenário mundial e da maioria dos países, inclusive do Brasil, em relação `a produção e destinação do lixo, não é nada animador.

Esta é a reflexão que precisamos fazer de forma bem profunda, não apenas neste DIA INTERNACIONAL DA RECICLAGEM, 17 de Maio de 2023; mas de forma urgente todos os dias e aumentarmos a pressão para a mudança profunda dos hábitos de consumo tanto das pessoas quanto do sistema produtivo em geral, sem isso estamos caminhando de forma acelerada para um desastre ambiental e humano sem precedentes na história do planeta terra!

*Juacy da Silva, professor titular, aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólgo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral Região Centro Oeste. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

**Aline Grasielli Monçale, Médica Dermatologista SBD, Mestre em Saúde Coletiva UFMT, Miss Beleza Baixada Cuiabana/MT, comunicadora, palestrante e fundadora do projeto social DermaTroller. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @alinemoncale_dermato

Quarta, 10 Maio 2023 10:19

 

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****



Juacy da Silva*
 

Ao anoitecer do dia 08 de Maio de 2023, quando o STF formou maioria para declarar a inconstitucionalidade da Lei Estadual (de Mato Grosso) 11.865 de 31 de Agosto de 2022, cujo Projeto de Lei 957/2019, de Autoria do Deputado Wilson Santos, projeto aprovado por ampla maioria da Assembleia Legislativa, vetada pelo Governador do Estado e rejeitado (derrubado) o Veto por 21 votos a 3, dos Deputados Estaduais, passou a ser considerada INCONSTITUCIONAL.


O placar de votação no STF até ontem estava em 6 votos de ministros que consideraram a Lei Estadual INCONSTITUCIONAL , e ao final mais dois votos contrários, ou seja, o Relator Ministro Fachim e mais um ministro admitiram que a Lei Estadual e constitucional e mais, que o Estado (entes federados) tem o Direito e a obrigação de legislar de maneira concorrente sobre o Meio ambiente e uso dos recursos naturais.


A decisão do STF , por maioria de 8 votos  pela inconstitucionalidade da Lei estadual que proíbe a construção de seis barragens no Rio Cuiabá, não se relaciona com o mérito, mas apenas com a questão da constitucionalidade, ou seja, ainda existe um longo caminho e um grande espaço para que a população, as organizações da sociedade civil, incluindo clubes de serviços, ONGs ambientalistas, Pastorais, movimentos comunitário e sindical, para impedir que o Rio Cuiabá, seus afluentes e o Pantanal sejam totalmente degradados e acabem morrendo.


Todavia, não resta duvida que esta decisão alimenta ainda mais os apetites econômicos e financeiros de grupos poderosos que não consideram os custos, as consequências, a degradação de ecossistemas, desde que o lucro, muitas vezes contando com financiamento, recursos e subsídios por parte do Governo, vale dizer, indiretamente o dinheiro do contribuinte está sendo utilizado para destruir o meio ambiente e contribuir para a acumulação de capital e poder nas mãos desses grupos poderosos, que se julgam acima dos interesses coletivos e do direito a um “meio ambiente saudável e sustentável, para as atuais e futuras gerações”, como estabelece nossa Constituição.


Esta é apenas uma batalha, existe na verdade uma guerra, em que de um lado estão grupos poderosos e seus interesses econômicos e financeiros e de outro os interesses da coletividade, representada pelos pescadores, ribeirinhos, agricultores familiares, população urbana e rural desta região da Bacia do Rio Cuiabá (Baixada Cuiabana), que serão extremamente prejudicados caso tais barragens venham a ser construídas.


Cabe ressaltar que a área abrangida pela Bacia do Rio Cuiabá, tem em torno de um terço da população de Mato Grosso. Este lendário Rio faz parte da história desta região e é extremamente importante para o abastecimento de água para a população, para os sistemas produtivos rural e urbano e para o equilíbrio da vida pantaneira.


Além dos prejuízos econômicos para toda a região, devemos refletir sobre as perdas ambientais, a destruição da rica biodiversidade de toda a Bacia do Alto Paraguai,  em todas as demais regiões do Estado onde outros rios e bacias também estão ameaçados por tais grupos econômicos poderosos, que muitas vezes deixam apenas um rastro de destruição e morte, enfim, um enorme passivo ambiental que acaba recaindo sobre os ombros da população e dos contribuintes.


Precisamos participar desta luta, mobilizarmos, levantar nossas vozes, dizer que não queremos a morte do Rio Cuiabá, de seus afluentes e muito menos a morte de nosso PANTANAL, patrimônio mundial de acordo com a UNESCO.


A construção dessas represas para a construção de PCHs, vão contribuir para deteriorar ainda mais a imagem do Brasil em relação `as questões ambientais e, com certeza nosso país e nosso estado sofrerão retaliações econômicas, financeiras e comerciais.


Precisamos questionar nossos representantes políticos: Prefeitos, vereadores, deputados estaduais, federais e senadores e perguntar aos mesmos de que lado estão, do povo que irá pagar mais esta conta, dos eleitores que os escolheram livre e democraticamente para seus mandatos e cargos, ou os mesmos, sendo eleitos pelo povo vão se colocar a serviço desses grupos econômicos que agem como aves de rapina em relação ao nosso meio ambiente.


Este é o foco da luta, lembrando que esta luta é de todos, não tem cor partidária , ideológica ou religiosa, mas um só sentido: Impedir a construção das seis barragens no Rio Cuiabá e também em outros rios e bacias hidrográficas estaduais, contrapor-se aos apetites desses  grupos econômicos poderosos que se julgam acima do bem e do mal e não respeito nem o meio ambiente e nem o direito das próximas gerações de usufruirem de um meio ambiente saudável e sustentável, esses grandes grupos econômicos só pensam e agem em função de seus interesses imediatos, pouco se importando com o passivo ambiental que deixarão para as atuais e futuras gerações.


O momento de agirmos é agora, nenhum minuto a perder. Juntos vamos decidir os destinos de nosso Estado e de nossa região.

Salvar o Rio Cuiabá e o Pantanal é o nosso desafio imediato e impostergável!

*JUACY DA SILVA, professor universitário, aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e Articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Terça, 02 Maio 2023 10:04

 

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****


Juacy da Silva*



“A destruição do meio ambiente é um fato muito grave, porque, por um lado Deus confiou o mundo ao ser humano e, por outro, a própria vida humana é um dom que deve ser protegido das várias formas de degradação. Toda pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades”.  “O urgente desafio de proteger a nossa Casa Comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável, pois sabemos que as coisas podem mudar” Papa Francisco, Laudato Si, 4 e 13.


O ano de 2015 pode ser considerado como um marco significativo na história das lutas em defesa do Planeta, do meio ambiente e no estabelecimento de uma visão de longo prazo nas ações tanto dos governos nacionais, regionais, estaduais e locais, quanto de todas as organizações não governamentais, religiosas ou laicas e da população em geral.

São três grandes dimensões que se articulam, tendo como horizonte temporal a AGENDA 2030, prazo estabelecido pela ONU na definição dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e de suas 169 metas, como forma de orientar os 196 países e territórios a nortearem suas políticas públicas e planejamento, visando reduzir ou acabar com a pobreza, a fome, a miséria (enfim, com a exclusão social) e também melhor cuidado com a natureza, com os recursos naturais, em busca de sociedades justas e solidárias.

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável foram aprovados pela ONU em Setembro de 2015 e foram ratificados/aceitos/homologados pelos diversos países nos anos seguintes.

Já a segunda dimensão é representada pelo Acordo de Paris, fruto de negociações entre os diversos países, acordo este que veio substituir o Acordo/Protocolo de Kyoto de 1.997, foi aprovado em 12 de Dezembro de 2015 e entrou em vigor em 4 de Novembro de 2016.

A terceira dimensão é representada pela Encíclica Laudato Si, publicada pelo Papa Francisco em 24 de Maio de 2015, portanto, antecedendo os dois outros marcos sócio-político-econômico e ambiental mencionados anteriormente.

Todavia, é necessário enfatizar que enquanto a ONU através dos Objetivos do Desenvolvimento Social e suas Metas e o Acordo de Paris, principalmente pelas Conferências do Clima, realizadas desde então anualmente, com exceção do período da pandemia da COVID-19, mobilizam fundamentalmente os esforços das organizações governamentais, o mundo econômico e paralelamente as ONGs ambientalistas; a Laudato Si, pretende despertar a consciência ecológica, a conversão ecológica entre os fiéis, cristãos (católicos e evangélicos) e não cristãos.

Pesquisas indicam que 80% das ações das pessoas são influenciadas pelas respectivas religiões `as quais estão vinculadas e isto se aplica também aos hábitos alimentares, muitas vezes extremamente consumistas, ao desperdício, geração de resíduos sólidos, enfim, causando impactos sobre os recursos naturais.

No entanto, por iniciativa de diversas lideranças religiosas mundiais, a própria ONU já tem estruturado em suas ações um movimento ambientalista inter-religioso, como forma de juntar esforços e recursos de todas as Instituições mundiais, visando salvar o Planeta de uma destruição inexorável.

É neste contexto que estamos nos aproximando do dia 24 de Maio, que marca o OITAVO ANIVERSÁRIO da publicação da Encíclica Laudato Si, pelo Papa Francisco, um marco muito significativo no pensamento da Igreja em relação à crise socioambiental que se abate sobre o Planeta Terra, chamada de “Nossa Casa Comum” por Francisco.

No Mundo todo, os cristãos, principalmente a Igreja Católica, estão programando diversas ações em celebração a esta efeméride e no Brasil isto não será diferente.

A Igreja, em articulação da CNBB com a REPAM com o Movimento Laudato Si e a PEI – Pastoral da Ecologia Integral, em diversas Arquidioceses, Dioceses e Paróquias também deverão realizar alguns eventos, não apenas para marcar esta data, mas, fundamentalmente, estimulando a CONVERSÃO ECOLÓGICA, começando pela própria Igreja, hierarquia e fiéis, que ainda parece estar um tanto distante do que espera o Papa Francisco em suas exortações apostólicas, principalmente quando menciona e destaca que “O grito/gemido da terra é também o grito/gemido dos pobres e excluídos”.

Assim, a opção preferencial que a Igreja faz em relação aos pobres e excluídos, se não estiver articulada também com a defesa da Casa Comum (do meio ambiente no sentido global, onde estão incluidos o ser humano e a natureza, enfim, todas as obras da criação), deixa de considerar um aspecto fundamental de sua ação evangelizadora. E isto pode ser considerado um pecado ecológico, pecado por omissão.

“A Semana Laudato Si’ 2023 será celebrada de 21 a 28 de maio para marcar o oitavo aniversário da encíclica do Papa Francisco. O filme A Carta será o principal recurso para orientar os eventos da semana”.
 
Dom Sebastião Lima Duarte, Bispo da Diocese de Caxias, no Maranhão, juntamente com Dom Vicente de Paula Ferreira, então Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, Presidente e Secretário Geral da Comissão de Mineração e Ecologia Integral da CNBB, até recentemente, em documento apresentado ao papa Francisco em 2021, assim se pronunciaram “A obra da criação, precisa estar a serviço de todos e não apenas de alguns grupos. A Igreja, como uma das responsáveis em cuidar dela, tem proposto o debate da conversão ecológica numa semana intensa de reflexão sobre o tema no Brasil porque, celebrar a Laudato si’ significa trazer suas denúncias, sonhos, intuições e propostas para o cotidiano da vida litúrgica e pastoral de nossa Igreja, numa continuidade fluida entre a formação, a ação e a celebração cristã”.

Outro aspecto que está ganhando adesão da Igreja e dos fiéis ao redor do mundo, é a questão dos desinvestimentos em empresas que exploram combustíveis fósseis e que são os maiores causadores da degradação ambiental, principalmente pela poluição e emissão de gases que provocam efeito estufa, aquecimento global, as temíveis e terríveis mudanças climáticas que colocam em risco todas as formas de vida no planeta, inclusive a vida humana.
 

 “Enquanto empresas de combustíveis fósseis buscam novas formas de exploração de petróleo e gás, grupos religiosos anunciam 31 compromissos de desinvestimento, exortando outros a também desinvestir”.

Informações do movimento Laudato Si e outras fontes, inclusive do Vaticano, tem demonstrado que este movimento de desinvestimento em atividades econômicas que agridem o meio ambiente vem ganhando espaço nos últimos anos.

Vale a pena lermos essas informações para avaliarmos os impactos que essas ações estão provocando em relação ao estrangulamento econômico e financeiro desses grupos gananciosos  que não respeitam os limites do planeta e nem o meio ambiente.
 
“Liderado pelo Reino Unido – onde a maioria dos grupos cristãos desinvestiu, incluindo mais da metade de todas as dioceses da Igreja da Inglaterra atualmente – o anúncio de desinvestimento global por 31 instituições religiosas de seis países ocorre enquanto ativistas de base pedem a mais grupos religiosos que parem de financiar combustíveis fósseis

Enquanto as empresas de combustíveis fósseis continuam superaquecendo o planeta, investindo pouco em energias renováveis ​​e explorando novas fontes de petróleo e gás, o que vai contra advertências científicas;, 31 instituições religiosas dos EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá, Itália e França aderiram ao anúncio de desinvestimento global de hoje, declarando não ter fé nos combustíveis fósseis e deixando seus ativos permanentemente fora das mãos das empresas que os exploram.

O Reino Unido mostra o que é possível, com um desinvestimento por parte de quase todas as principais denominações cristãs: mais da metade de todas as dioceses da Igreja da Inglaterra agora assumiram um compromisso de desinvestimento,  incluindo a Diocese de Londres – sede do maior centro financeiro da Europa.

Metade de todas as dioceses católicas na Inglaterra e no País de Gales também se comprometeram a excluir permanentemente os investimentos em combustíveis fósseis. Em 2018, os Órgãos Nacionais de Investimento da Igreja da Inglaterra declararam que desinvestiriam de empresas de combustíveis fósseis não alinhadas ao Acordo de Paris até o final de 2023. O número crescente de compromissos de desinvestimento no Reino Unido levou até mesmo o CCLA, que administra fundos para muitas igrejas e dioceses do Reino Unido, a excluir investimentos futuros em combustíveis fósseis da carteira da Igreja da Inglaterra.

As instituições religiosas que aderiram ao anúncio de desinvestimento global de hoje incluem sete dioceses da Igreja da Inglaterra, dentre elas a Diocese de Londres; seis catedrais da Igreja da Inglaterra, inclusive a Catedral da Cantuária; duas dioceses católicas (Northampton, na Inglaterra, e Catania, na Itália); três ordens religiosas católicas, dentre as quais a Ordem Carmelita Internacional; duas igrejas locais no Reino Unido; oito instituições de caridade católicas, incluindo o Movimento Escoteiro Católico na Itália (AGESCI); a Diocese Anglicana de Newcastle, na Austrália; e uma instituição judaica nos Estados Unidos. 

Hoje os ativistas religiosos também se comprometeram a redobrar os esforços para fazer com que mais grupos desinvistam seu dinheiro de combustíveis fósseis, chamando as pessoas de fé a ajudar a preencher o mapa do desinvestimento,  esclarecendo quais organizações religiosas desinvestiram e quais ainda não o fizeram – algo que os ativistas do Reino Unido identificaram como a chave para seu sucesso.
 
O anúncio global de desinvestimento feito hoje por instituições religiosas foi organizado pelo Conselho Mundial de Igrejas, Operation Noah, Movimento Laudato Si’, Anglicanos Verdes, Dayenu e GreenFaith, e chega apenas dois dias antes do Dia da Terra 2023, cujo tema é ‘investir no nosso planeta’.

As instituições religiosas administram um total combinado de US$ 3 trilhões em investimentos globalmente e, embora ainda precisem de melhorias significativas, os grupos religiosos desinvestiram dos combustíveis fósseis mais do que qualquer outro setor e pediram que grupos religiosos retirem seu dinheiro de empresas de combustíveis fósseis – que gastam em média apenas 5% do investimento de capital em energia renovável e de baixo carbono – e invistam em soluções climáticas, como energias renováveis ​​e armazenamento de baterias.

Mais de 1.500 instituições de todos os setores, com ativos combinados de mais de US$ 40 trilhões, assumiram algum tipo de compromisso de desinvestimento de combustíveis fósseis a partir de uma quantia inicial de US$ 50 bilhões em 2014.

O desinvestimento não apenas retira a ‘licença social’ tácita da qual as empresas dependem para operar, mas também leva à  redução de emissões do mundo real,  encarece o financiamento de novos projetos de combustíveis fósseis e elimina bilhões do valor de mercado das empresas petrolíferas. 

Centenas de líderes religiosos, cristãos e não cristãos, ao redor do mundo tem exortado seus fiéis quanto `a necessidade tanto de um consumo sustentável quanto e, principalmente, uma produção sustentável.

À medida que a população despertar para a tragédia que as atuais gerações estão provocando, afetando principalmente as futuras gerações, com certeza esta conversão ecológica desembocará em um movimento em defesa da ecologia integral, incluindo deixar de consumir produtos, bens e serviços, de empresas que degradam os ecossistemas e que não respeitem o direito dos trabalhadores e dos consumidores.


Isto tem um nome Educação Ambiental/ecológica Libertadora, única forma de provocarmos uma mudança radical de paradigmas no que concerne as relações de produção, de trabalho e das relações dos sistemas produtivos com a natureza.


Assim, a PEI – Pastoral da Ecologia Integral, que não é uma ONG, nem um empreendimento econômico/financeiro e nem um grupo de consultoria ambiental, mas sim, uma Pastoral Integradora, transversal, é a forma concreta como a Igreja pode e deve atuar na defesa da Casa Comum, razão mais do que suficiente para que haja um despertar em todas as dimensões da atuação da Igreja no Brasil, principalmente nas regiões Centro Oeste, Pantanal e Amazônia, biomas que estão sendo destruídos aceleradamente ante o olhar passivo não apenas dos governantes mas também da população brasileira, que, majoritariamente ainda se diz cristã (Católicos e evangélicos), bem como demais religiões, cujas responsabilidades são decisivas no enfrentamento da crise socioambiental e no combate `a degradação dos ecossistemas.
 

*Juacy da Silva, professor universitário, aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da PEI – Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Sexta, 28 Abril 2023 16:00

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****


 
Por Vicente Machado de Avila

Professor aposentado da UFMT
 

 


ENELINDA - UMA POLITICA EM DEFESA DA VIDA.

Parabéns nesta data querida viva a sua luta em defesa da vida.
Não descrimina ninguém, nem preto nem branco, nem rico nem pobre. Defender a vida e uma causa muito nobre. A sua inteligência não é apenas na cabeça e também no coração – ela defende a vida com o amor e paixão. Enelinda é um exemplo a ser seguido pela multidão. Ela tem a cabeça nas estrelas, o coração na humanidade e os pés no chão.  Em sua luta cotidiana ela vive em vigília, ajuda muitas pessoas sem nunca esquecer a família. Se ela voltar no tempo seguirá a mesma estrada, com fé, amor é moral ilibada.     
 


Cuiabá-MT., 28 de abril de 2023.

Professor Vicente Machado Ávila

Terça, 25 Abril 2023 09:16

 

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****



JUACY DA SILVA*
 

“Business as usual não é uma opção!”, ressaltou. “Precisamos prevenir, deter e reverter a degradação dos ecossistemas em todo o mundo, incluindo nossas terras de cultivo e florestas; nossos rios e oceanos. Sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis podem ajudar a restaurar os ecossistemas e salvaguardar a produção sustentável de alimentos, sem deixar ninguém para trás. A Década da Restauração dos Ecossistemas Degradados (2021 – 2030) Criará milhões de novos empregos até 2030, gerará retornos de mais de 7 trilhões de dólares todos os anos e ajudará a eliminar a pobreza e a fome.” António Guterres, Secretário Geral da ONU, por ocasião do lançamento da Década da Restauração dos Ecossistemas Degradados, em 2019.

Há 53 anos , no dia 22 de Abril de 1970, antes mesmo da 1ª. Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento promovido pela ONU em Estocolmo, o Senador Gaylord Nelson que representava o Estado de Wisconsin, do Partido Democrata, um ambientalista convicto, ante o desastre do derramamento de óleo na região de Santa Barbara, na California em 1969, mobilizou os Estados Unidos, com o objetivo de despertar a consciência da população de que era (como continua sendo) necessário um maior e melhor cuidado com  o meio ambiente, tanto naquele país quanto no resto do mundo, promoveu uma grande mobilização naquele país.

No dia 22 de Abril de 1969, mais de 1,5 milhão de pessoas marcharam e protestaram em inúmeras cidades americanas,  contra aquele desastre ambiental e, assim, surgiu o DIA DA TERRA, que só em 2009 foi reconhecido como uma data a fazer parte do Calendário Ambiental da ONU.

Entre 1970 e 2009, o despertar da CONSCIÊNCIA AMBIENTAL, ou o que o Papa Francisco denominada de CONVERSÃO ECOLÓGICA, na Encíclica Laudato Si alguns anos depois (em 2015), diversos eventos internacionais ocorreram como a referida 1ª. Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente; a ECO-92, no Rio de Janeiro e outros mais.

Diante deste despertar mundial a ONU, em sua Assembleia Geral de 2009, aprovou uma Resolução instituindo o DIA INTERNACIONAL DA MÃE TERRA, a ser celebrado anualmente em 22 de Abril em todos os países membros, inclusive no Brasil, com o objetivo de despertar a consciência da população em geral e também, principalmente, engajar instituições governamentais, empresariais, entidades privadas representativas da sociedade civil, para refletirem sobre os riscos e consequências do processo acelerado de degradação de todos os biomas e ecossistemas, que continua a todo vapor, como se diz.

Além deste despertar da consciência ambiental, a ONU e suas agências especializadas buscam, na verdade, estimular as instituições públicas e empresariais, principalmente, a definirem políticas públicas e empresariais voltadas a um melhor cuidado com o meio ambiente, como forma de salvar o planeta terra de uma destruição que colocará, como já está colocando, todas as formas de vida, inclusive da vida humana, em sérios riscos de sobrevivência.

Desde que ocorreu o primeiro DIA DA TERRA, em 1970, dezenas de milhares de espécies vegetais e animais, flora e flora, inclusive grupos humanos (povos primitivos) já foram extintos, ante a conivência, omissão e passividade de governantes, empresários e a maior parte da população, LAMENTAVELMENTE.

Nas últimas celebrações do DIA DA TERRA, mais de 1,5 bilhão de pessoas tem participado anualmente de algum tipo de ação como forma de alertar a opinião pública em todos os 193 países e territórios que fazem parte da ONU.

Todavia, parece que essas celebrações por mais importantes e impactantes que possam ser e tem sido, acabam caindo no esquecimento ao longo dos demais 364 dias de cada ano.

Os países firmam acordos, comprometem-se a definirem políticas públicas, aportarem recursos orçamentários em todos os níveis de governo (âmbitos nacional, regional,  estadual, local, municipal) voltados para estratégias, planos, programas e açães voltadas ao meio ambiente; os empresários se comprometem em foruns internacionais a reduzirem a poluição, a implementarem processos que deixem de usar energia suja em suas atividades econômicas, estabelecem metas a serem atingidas dentro de alguns anos ou décadas, a população fica alerta quanto `a necessidade de que cada pessoa também é responsável pela destruição do planeta com seus hábitos consumistas, com um desperdício enorme de todos os bens, inclusive de alimentos, água, energia, materiais de construção e outros mais.

Todas as pessoas e instituições estão mais do que conscientes e conhecem a realidade devastadora da degradação ambiental, através de dados estatísticos detalhados, informações bem elaboradas, de estudos, pesquisas, alertas de milhares de cientistas quanto ao aquecimento global que está provocando mudanças climáticas, alterando o regime de chuva, todos sabemos que o desmatamento das florestas, as queimadas, a erosão, a destruição da biodiversidade, a poluição urbana e industrial estão degradando o ar, o solo, os córregos, os rios e os oceanos, que a chamada “civilização dos plásticos”, está acabando com o planeta, que os impactos dos desastres naturais, que em sua grande maioria são causados pela ação humana totalmente irracional e irresponsável, acabam afetando de forma terrível a população pobre, que a desertificação está em curso, que o uso e ocupação do solo, sem os cuidados necessários já provocou a degradação de mais de dois bilhões de hectares de terras férteis no mundo, e que o Brasil é um dos países que mais tem áreas degradadas (mais de 140 milhões de hectares, incluindo mais de 69 milhões de pastagens degradadas, ou seja, o dobro da área agrícola plantada nesta safra de 2022/2023, que está sendo considerada mais um recorde com seus pouco mais de 77 milhões de hectares).

Enfim, atualmente existe um vasto conhecimento de como se origina a degradação ambiental no planeta e em todos os países e quais as consequência econômicas, sociais, culturais, demográficas e humanas deste processo avassalador de destruição do planeta.

Todavia, pouco tem sido feito e muito está por fazer, antes que seja tarde demais.

A cada ano para orientar as celebrações do DIA DA TERRA tanto a ONU quanto a Organização Internacional responsável pela articulação dessas celebrações e ações, definem um tema para servir de base para este alerta global.

Em 2023 o tema escolhido foi INVESTIR NO PLANETA, ou seja, precisamos, organizações governamentais e não governamentais, inclusive e ou principalmente empresariais, que na verdade são os grandes destruidores do planeta e também a população em geral, repito, precisamos dar uma chance de sobrevivência à vida na terra.

Para tanto precisamos , como diz o Papa Francisco, realmar a economia, ou seja, não podemos continuar com modelos e sistemas econômicos que em sua busca por lucro fácil e imediato, não respeitem os limites da natureza, os limites do planeta, que não respeitem o meio ambiente e também o direito dos trabalhadores, o direito dos consumidores e o direito das atuais e, principalmente, das futuras gerações a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável. Esta proposta está contida na “Economia de Francisco e Clara”, vale a pena conhecer.

Precisamos substituir os atuais paradigmas das relações da humanidade com a natureza, principalmente no que concerne à economia, à produção de bens e consumo, por um outro paradigma que é a ecologia integral, uma maior racionalidade dos processos de produção e de consumo, mais conscientes, mais responsáveis, mais saudáveis e mais sustentáveis.

A agroecologia, a economia circular, a economia solidária, a economia criativa, a economia verdade, o cooperativismo, a substituição das matrizes energética e elétrica que atualmente são baseadas em fontes sujas de energia, que são os combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural),  que precisam ser substituídas de forma urgente e muito ampla pelo uso de fontes de energia limpa e renovável, principalmente a energia solar, a energia eólica, a energia das marés, pelo hidrogênio verde, pela bioenergia e outras fontes alternativas limpas que serão descobertas, desde que haja investimentos suficientes em educação, ciência e tecnologia, diferente do que ocorre no momento, quando, com raras exceções, os países, inclusive o Brasil, continuam negligenciando esses setores estratégicos e vitais para o futuro do planeta e dos países.

Precisamos transformar radicalmente nossos sistemas de transportes e logística, de transporte individual poluidor para transporte coletivo, para veículos elétricos; precisamos substituir o transporte de cargas do rodoviarismo pelo transporte ferroviário moderno, mais eficiente movido por energia limpa.

Enfim, precisamos de uma verdadeira REVOLUÇÃO AMBIENTA/ ECOLÓGICA. Assim, talvez, dentro de algumas décadas possamos celebrar o DIA DA TERRA com conquistas verdadeiras e não apenas com discursos e belas intenções em relação a um futuro que poderá ser muito mais catastrófico do que de resultados animadores.



*JUACY DA SILVA, 81 anos, professor universitário aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e Articulador da PEI – Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Segunda, 24 Abril 2023 09:31

 

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****


 
Por Vicente Machado de Avila

Professor aposentado da UFMT
 

 

I – DÉCIMO JÚNIO JUVENAL (DECIMUS LUNIUS JUVENALIS – nascimento 55 (século I) e morte 60 (século II), Cidadania Roma Antiga, Ocupação poeta, escritor e historiador, Obras destacadas Sátiras). Este e o autor da famosa frase “MENS SANA IN CORPORE SANO”. Infelizmente a brilhante sabedoria não foi posta em prática até hoje.

II – EDUCAÇÃO: Para por em prática a sabedoria de Juvenal, faz-se necessária uma revolução educacional/cultural.

III - PROPOSTA REVOLUCIONÁRIA: Este é o objetivo deste artigo. Pretende-se fazer uma “fusão” entre a educação pedagógica e a educação física

IV – PARCERIAS NECESSÁRIAS: Secretaria de Educação e Secretaria de Segurança Pública. Parte-se do pressuposto que os jovens estudantes participando também da educação física não ficarão expostos à tentação para o crime. As parcerias são necessárias, tendo em vista que a tese aqui exposta pressupõe uma expressiva redução da delinqüência juvenil (a ser confirmada pelas estatísticas policiais).

V – PROVAVEL REFLEXO NA SEGURANÇA DA SOCIEDADE: As estatísticas policiais informam que um elevado percentual dos atos de violências é praticado nas famílias.

VI – O AFETIVO: A afetividade nunca pode ser esquecida. Para não tornar esta proposta muito extensa, deixaremos a questão da afetividade para outra ocasião. Ressaltando porém, que a Educação Artística também tem um papel importante na formação de pessoas Humanas e Civilizadas.  

VII – ESPERANÇA DO FUTURO: Manifestamos a nossa fé nesta revolução, a qual posta em prática trará, com certeza, uma sociedade de paz e alegria de viver!
 


Cuiabá-MT.,  20 de abril de 2023.


Professor Vicente Machado Ávila

Quinta, 20 Abril 2023 12:17

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****


Publicamos a pedido do professor Aldi Nestor de Souza

 

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA PROPÕE CALENDÁRIO ACADÊMICO PARA A UFMT

Considerando,

1.  O que estabelece o processo 23108.020375/2023-98e a proposta de calendário acadêmico nele contida, em particular no que se refere aos dias de Pontos Facultativos que passam a contar como DIAS LETIVOS;

2.  Que o parcelamento das férias docentes em 3 blocos de 15 dias não produz efeitos significativos na sincronização do calendário acadêmico/civil;

3.  Que 30 dias de férias anuais, ininterruptas, são imprescindíveis para o descanso e a preservação da saúde física e mental de todo e qualquer trabalhador;

4.  Que um grande número de professores e estudantes da UFMT são de outros  estados e até de outros países e que janeiro é o único período que os possibilita visitar seus familiares;

5.  Que o semestre letivo iniciando no mês de janeiro compromete o trabalho das licenciaturas no que diz respeito aos estágios e vivências nas escolas, posto que estas encontram-se de férias;

6.  O que diz a resolução Consepenº 93 de 2011, que trata do período letivo especial(duas semanas). E em face dessa resolução, aqui adotaremos DUAS SEMANAS como um período de 14 dias corridos.

O colegiado do departamento de matemática da UFMT, campus Cuiabá, reunido em 18/04/2023, propõe  oseguinte calendário Acadêmico para os anos de 2023 e 2024.

Destacamos que a proposta abaixo mantém os 100 dias letivos por semestre, mantém o período letivo especial de duas semanas entre semestres, mantém o prazo de provas finais, de segunda época e de lançamento de notas no sistema, mantém as férias docentes de 30 dias em janeiro e regulariza/sincroniza o semestre letivo 2025-1 com o primeiro semestre civil de 2025.

Observamos que a proposta apresentada refere-se ao campus de Cuiabá e que as devidas adaptações precisam ser feitas pros campi do interior. Mas salientamos que tais adaptações não configuram alterações significativas da proposta apresentada.

Proposta

2023-1

Início: 29/06/2023 (conforme estabelecido no processo 23108.020375/2023-98)
Centésimo dia letivo: 25/10/2023(conforme estabelecido no processo 23108.020375/2023-98)
Último dia para  lançamento de notas no sistema 03/11/2023
Período Letivo especial 03/11 a 16/11/2023
Planejamento docente 13 a 16 /11/2023

2023-2

Início 17/11/2023
Novembro - 11 dias letivos
Dezembro – 19 dias letivos
Janeiro(2024) Férias docentes 30 dias
Fevereiro(2024) – 25 dias letivos
Março(2024)- 25 dias letivos
Abril(2024) – 20 dias letivos
Centésimo dia letivo: 24/04/2024
último prazo para lançamento de notas no sistema30/04/2024
Período letivo especial 02/05/2024 a 16/05/2024
Planejamento docente 15 e 16 /05/2024

2024-1

Início:17/05/2024
Maio 13 dias letivos
junho 25 dias letivos
Julho 27 dias letivos
agosto  27 dias letivos
setembro 8 dias letivos
Centésimo dia letivo: 11/09/2024
último prazo para lançamento de notas no sistema18/09/2024
Férias docentes 18/09/2024  a 02/10/2024
Período letivo especial 18/09/2026 a 02/10/2024
Planejamento docente 03 e 04/09/2024

2024-2

Início:05/10/2024
Outubro 22 dias letivos
Novembro 23 dias letivos
Dezembro  19 dias letivos
Janeiro(2025)  Férias docentes 30 dias
Fevereiro(2025) 24 dias letivos
Março 12 dias letivos
Centésimo dia letivo: 14/03/2025
último prazo para lançamento de notas no sistema21/03/2025
Período letivo especial 22/03/2025 a 04/04/2025
Planejamento docente 03/04 a04/04/2024

2025-1

Início 05/04/2025

Finalizamos reiterando que, sem prejuízo das férias docentes e discentes e das atividades acadêmicas obrigatórias,  a sincronização dos calendários civil e acadêmico , conforme apresentado acima, se regulariza no início do primeiro semestre de 2025.




Cuiabá, 19 de Abril de 2022

Colegiado de Departamento de Matemática

Quarta, 19 Abril 2023 10:07

 

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****



JUACY DA SILVA*
 

Estamos prestes `a comemorar o oitavo ano de publicação da Encíclica Laudato Si, pelo Papa Francisco, em 24 de maio próximo (2023). No entanto a citada encíclica ainda continua pouco conhecida tanto na hierarquia quanto entre os fiéis da Igreja Católica, demais igrejas evangélicas e outras religiões.
Parece que o Papa Francisco quanto inúmeros cientistas e ambientalistas ao redor do mundo, continuam pregando no deserto e o planeta terra continua doente, na UTI e em um processo de degradação incontrolável.

Esta Encíclica, juntamente com diversas Exortações apostólicas e pronunciamentos constantes em suas diversas viagens ao redor do mundo, durante esses dez anos de Pastor de uma Igreja que congrega mais de 1,37 bilhões de pessoas ao redor do mundo, das quais pouco mais de 106 milhões vivem no Brasil, Francisco não tem medido esforços para exortar e alertar para uma catástrofe anunciada, que coloca em risco a sobrevivência da humanidade e de toda a biodiversidade planetária.

Pesquisas recentes indicam que 80% dos hábitos de consumo, estilo de vida, enfim, o modo de pensar, sentir e agir das pessoas, o que denominamos de cultura, tem suas origens nos ensinamentos religiosos que recebemos ao longo de nossas vidas, ou seja, as religiões tem uma importância na vida das pessoas, inclusive no que concerne `as nossas relações com a natureza, apesar de que ainda na atualidade muita gente imagina que o ser humano nem faça parte do que denominamos de meio ambiente ou ecologia integral.

Diante disso, cabe também `as Igrejas, enfim, a todas as religiões, cristãs e não cristãs a despertarem, principalmente no que concerne `as suas hierarquias eclesiásticas e também em relação ao corpo de fiéis, para a responsabilidade que temos quanto a um melhor cuidado do que o Papa Francisco denomina de Casa Comum e outros denominam de Mãe Terra, Gaia, Pacha Mama, enfim, o nosso tão doente, sofrido e desrespeitado Planeta Terra.

Precisamos também ter em mente que este Planeta Terra não é uma “bola azul”, como uma pequenina parte de um imenso universo, mas sim, algo que está bem pertinho da gente,  em nossa residência, em nosso bairro, nossa cidade, nosso Estado, em nosso País. O planeta terra está bem perto de nós e todos os seres humanos e não humanos fazemos parte dele.

Só assim, podemos identificar o que está promovendo este processo avassalador de destruição e degradação ambiental e qual a parte que nos cada, como pessoas, como cidadãos e cidadãs, como eleitores, como contribuintes e, principalmente, como CONSUMIDORES nesta escalada insana.

A ONU ao estabelecer os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) em  2015, a chamada Agenda 2030, com 17 objetivos e mais de 160 metas, que tiveram a adesão de praticamente todos os países, inclusive do Brasil, realçou em um desses objetivos a importância da produção e do consumo responsáveis, ou seja, sustentáveis.

Pensando nisso tudo, gostaria de deixar para a reflexão coletiva alguns aspectos que a seguir destaco.

Passos para cuidarmos melhor do planeta – tudo começa pelo combate ao consumismo e ao desperdício. A) O CONSUMISMO é a principal causa do desperdício; B)  O DESPERDÍCIO gera mais lixo – resíduos sólidos; C) Os RESÍDUOS SÓLIDOS/Lixo geram mais poluição e degradação ambiental; D) A POLUIÇÃO E A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL  geram o aquecimento global; E)  O AQUECIMENTO GLOBAL gera as terríveis e temíveis mudanças climáticas e, F) AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS destroem o planeta e tornam impossível todas as formas de vidas na Terra, inclusive a vida humana.

Antes de avançarmos nesta reflexão, creio que seja bom, aprofundarmos o entendimento em relação a alguns conceitos e a realidade factual dos mesmos.

Por exemplo, por que assumimos a ideia de que na origem da degradação ambiental e suas consequência esteja o consumismo?

O consumismo, faz parte da dinâmica capitalista desde as suas origens, ou seja, existe uma logica que permeia o binômio produção x consumo, ou seja, para que a produção (oferta) seja ampliada e gere mais lucro para o capitalista (dono dos meios de produção) é necessário o aumento do consumo, seja através do aumento do numero de consumidores ou pelo aumento do consumo individual.

Todavia, todos os demais sistemas atuais ou anteriores, fora da órbita capitalista, também estimularam e estimulam o consumismo e as demais etapas do processo de degradação ambiental.

Como o surgimento de novas técnicas de propaganda e “marketing”, o sistema capitalista e os demais sistemas econômicos passaram a “trabalhar” a cabeça dos consumidores, estimulando os desejos dos consumidores de tal forma que as pessoas passaram a adquirir muito mais bens e serviços do que realmente precisam para suprirem suas necessidades.

Existe um exemplo clássico da esposa de um ditador filipino que tinha uma grande coleção de sapatos, mais de 3 mil pares de sapatos, isto demonstra que a citada primeira dama, como tantas outras que ainda orbitam os círculos do poder, tinha compulsão pela luxúria e por consumir exageradamente, muito mais do que adquirir simplesmente sapatos e outras peças de vestuário para serem usadas de forma regular.

De forma semelhante, nos dias atuais nos círculos das elites sociais, politicas e econômicas, no Brasil e em tantos outros países, muitas pessoas fazem questão de mostrarem suas coleções de centenas de pares de sapato ou tênis de marcas famosas, vestidos luxuosos que só usam uma única vez, centenas ou ate milhares de gravatas, camisas, calças, ternos etc. Famílias que possuem duas ou três vezes mais carros do que o número de pessoas adultas na residência.

O consumismo, além de uma doença psicossocial é também uma forma de demonstração de poder, de pompa e luxo e, ao mesmo tempo, uma pressão sobre os recursos naturais, as matérias primas, a energia, o fator trabalho e outros bens e serviços que são necessários para sua produção.

O corolário do consumismo é o desperdício, que não deixa de ser uma forma irracional de relação de produção, de trabalho e de circulação dos bens produzidos por um determinado setor ou de uma sociedade inteira, gerando o desperdício, que é outra anomalia social, cultural e econômica.

Por exemplo, enquanto mais de 828 milhões de pessoas passavam fome ao redor do mundo, com dezenas de milhares literalmente morrendo por falta de condições para adquirirem comida;  de acordo com o relatório da  FAO de 2021, constatou-se que por ano, 931 milhões de toneladas de comida vão parar no lixo, cujo valor é superior a US$400 bilhões de dólares, anualmente. Este volume seria suficiente para alimentar mais de 1,2 bilhões de pessoas, incluindo adultos, crianças, adolescentes e jovens.

Existem países em que o desperdício é superior a 30% ou até 40% de todo o alimento produzido. De forma semelhante existe um enorme desperdício de água, de energia, papel, madeira, materiais de construção e de outros recursos e matérias primas necessárias para produzirem não apenas alimentos, mas todos os demais bens e serviços de que o mundo moderno necessita.

Este desperdício causa um enorme impacto no meio ambiente ao utilizar,  desnecessariamente, recursos escassos e não renováveis, o que não deixa de ser uma grande irracionalidade econômica e social e um desrespeito com a natureza.

O desperdício contribui também para aumentar a produção de rejeitos sólidos/lixo, cuja situação é cada vez mais crítica no planeta e em todos os países.

Segundo relatórios recentes da ONU e de outras organizações internacionais (2022), Por ano, são produzidas mais de 2 bilhões de toneladas de resíduos no mundo. De acordo esses relatórios de diversos organismos, em torno de, 99% dos produtos que compramos são jogados fora dentro de seis meses, além do desperdício ao qual nos referimos anteriormente.

Isto significa que a produção média de lixo, per capita ano em 2022, estava em torno de 263,16kg. Todavia, esta média em países desenvolvidos é de aproximadamente mais do que o tripo, chegando, em alguns países em praticamente um kg per capita dia.

De outro lado, tais estudos indicam que os países em processo de desenvolvimento, muitos extremamente populosos como a Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria e também Brasil e México, seguem os mesmos padrões de consumismo e desperdício dos países industrializados, o que significa que o volume de resíduos sólidos/lixo deverá aumentar de forma significativa nas próximas décadas, chegando a 380kg per capita ano e um total de mais de 3,69 bilhões de toneladas em 2050.

Os diversos tipos de lixo como plásticos, eletrônicos, químicos, industrial além de esgoto não tratado, produzido pelas cidades,  provocam um impacto terrível no meio ambiente, tanto no solo quanto e principalmente nos mananciais, cursos d’água, córregos, rios, lagoas, lagos e pior em tudo isso, os países, principalmente os “desenvolvidos” , industriais ou mesmo os em desenvolvimento, como o Brasil, estão transformando os mares e oceanos em uma grande lixeira mundial. Por isso, por ocasião das comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, em 2018, o Secretário Geral da ONU afirmou recentemente que por volta de 2050 haverá mais lixo plástico nos oceanos do que peixes.

Em 2022 menos de 20% do lixo mundial foi reciclado, sendo que em relação aos plásticos o volume reciclado e de apenas 2%. No Brasil segundo o último relatório da Abrelpe, de 2022, apenas 4% de todos os resíduos sólidos gerados foram reciclados e em relação aos plásticos é em torno de apenas 1%.

A poluição dos mares e oceanos tem dois impactos no meio ambiente, de um lado reduz a capacidade dos mesmos em sequestrarem os gases efeito estufa que estão “armazenados” na atmosfera e além disso, a poluição provoca o aquecimento das águas dos mares e oceanos e produzem mais gases de efeito estufa.

O mesmo acontece com a questão da destruição das floresta e outros biomas, para serem incorporados `as fronteiras agrícolas e pecuária, pois o desperdício representam milhões de hectares de terras férteis destruídas irracionalmente a cada ano, impedindo também que essas florestas e outros tipos de vegetação sequestrem gases de efeito estufa e os armazene no solo, aumentando o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Para romper com este círculo vicioso de degradação ambiental, de destruição, sofrimento e mortes, antes de consumir, enfim, antes de alimentarmos nosso apetite consumista, precisamos:

a)REPENSAR nosso estilo de vida, romper com nossos hábitos CONSUMISTAS e perdulários e nossa ganância e compulsão, que buscam cada vez mais acumular bens e riqueza; b) RESISTIR `a propaganda e o marketing de empresas que estimulam o consumismo,  o desperdício, o desrespeito com o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores; c) RECUSAR todos os produtos cujas origens contribuem para a degradação do meio ambiente ou não respeitem os direitos e a dignidade dos trabalhadores. Exemplo, trabalho escravo ou semiescravo, ou fruto de invasões e desrespeito aos territórios dos povos indígenas e da grilagem de terras públicas ou de agricultores familiares; d) REDUZIR o consumo, o que seja supérfluo; o Papa Francisco nos exorta que podemos ser felizes com menos, pois a ganância prejudica a nós mesmos,  o próximo e o planeta; e) REUSAR tudo o que pudermos, ou seja, dar mais vida útil ao que temos ou adquirirmos, este hábito faz parte da chamada Economia Circular. “Uma das principais vantagens da economia circular é a redução do impacto ambiental. Ao reutilizar recursos, evita-se a extração de novas matérias-primas, o que reduz o consumo de energia e de água e minimiza a poluição do ar, do solo e da água. Além disso, a economia circular pode gerar novos empregos e oportunidades de negócios.”.https://www.vocerealmentesabia.com, e, finalmente, f)  RECICLAR tudo o que for reciclável, esta prática é ótima para a saúde do meio ambiente, do planeta e também gerar emprego e renda para milhões de pessoas. Este é um grande desafio que precisamos encarar com seriedade e determinação.

Quanto ao papel da Igreja Católica, principalmente, e, também de outras igrejas evangélicas e demais religiões, quer nos parecer que precisam acordar quanto a este desafio e assumirem o papel de defensores e defensoras da ecologia integral de uma forma mais proativa.

Por isso sempre é bom refletirmos sobre as exortações que alguns Papas tem feito diante desses desafios.

“A Igreja defende sim, o legítimo direito `a propriedade privada, mas ensina, também, com não menor clareza, que sobre toda a propriedade particular pesa sempre uma HIPOTECA SOCIAL, para que os bens sirvam ao destino geral que Deus lhes deu, pois não é, segundo o desígnio de Deus, gerir este dom, de modo que os seus benefícios aproveitem só a uns poucos (privilegiados)” Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, referindo-se ao que disse o Papa, hoje São João Paulo II, em pronunciamento aos indígenas e agricultores do México, em 29 de Maio de 1979.

“O Meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte (seja pessoa ou país) é apenas para administra-la em benefício de todos. Se assim não o fizer, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros” Laudato Si, (95)

No contexto da Laudato Si, podemos identificar algumas etapas, que não são apenas conceitos, mas orientações para nossas ações no cotidiano, que estão diretamente relacionadas com a crise socioambiental que está promovendo a degradação do planeta: espiritualidade ecológica, que está na base das ações da igreja, representada pela sua hierarquia e seus fiéis e reconhece a presença de Deus na história e em todas as obras da criação;  pecado ecológico que são nossos hábitos e estilo de vida que não respeitam a ecologia, portanto as obras da criação (natureza e os  seres humanos); conversão ecológica que representa o despertar da consciência e a mudança de paradigmas em relação aos nossos sistemas produtivos e de relações de trabalho, só assim iremos atingir a Cidadania ecológica, ou seja, salvarmos o planeta e construir um mundo novo, que, na verdade, seria o retorno ao “jardim do Éden”,  a “terra sem males”, a sociedade do “Bem viver”, enfim, o que os textos sagrados de todas as religiões e não apenas a Bíblia estabelecem, quando mencionam “um novo céu e uma nova terra”.

Precisamos refletir um pouco mais sobre esses aspectos e tentar mudar nosso estilo de vida e estimular outras pessoas a fazerem o mesmo. Isto tem um nome: CONSCIÊNCIA AMBIENTAL – ECOLÓGICA.


As mudanças só acontecem quando as pessoas despertam a consciência e lutam pelas transformações mais profundas, em busca de novos paradigmas que orientem nossas relações pessoais e coletivas e também com a natureza. Tudo isso passa ser realidade na ação sociotransformadora da Pastoral da Ecologia Integral, que é o instrumento da Igreja para um melhor cuidado com a Casa Comum.


Se você puder, dialogue, converse com outras pessoas sobre isso, compartilhe este texto, talvez assim esta mensagem possa atingir mais gente.

*Juacy da Silva, 80 anos, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso. Sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, Articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy