Sexta, 20 Maio 2022 17:48

 

 

Fotos: Bruna Obadowski / Imprensa JURA 2022

 

A Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) começou em Mato Grosso com exposição de produtos e debates realizados, pela primeira vez, em praça pública. A Praça Alencastro, localizada em frente à Prefeitura da capital mato-grossense, foi o palco dessa experiência realizada nos dias 12 e 13/05, já avaliada muito positivamente pelos organizadores. A programação, no entanto, seguirá com diversas atividades nos próximos meses.  

 

Para a professora Mirian Sewo, o aspecto mais positivo até o momento foi justamente a realização da Feira Saberes e Sabores da Terra na Praça Alencastro. “A gente já tinha feito feiras com produtos dos assentamentos em outras JURA’s, mas sempre dentro da universidade, no centro cultural, e dessa vez a gente levou para a praça. Então ela ganhou uma dimensão maior, porque a JURA sempre teve foco muito maior nos debates dentro do âmbito da universidade, seminários, conferências, mesas redondas. Dessa vez, o foco foi a própria produção dos assentados, dos pequenos agricultores, da economia solidária, artesanato. Isso ficou em primeiro plano nesse início da atividade. Os debates foram acontecendo ao redor da Feira, de uma forma em que os produtores e o pessoal da economia solidária podiam participar”, disse a docente do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).  

 

Na praça, os debates realizados por meio da Roda de Conversa proporcionaram maior aproximação com o público que passava pela região. “Com o debate realizado na praça, você não precisa sair do espaço da feira para participar da discussão. É óbvio que a gente precisa aprimorar um pouco mais, podemos pensar em alternativas para que fique melhor ainda da próxima vez, mas eu já acho que foi muito legal. É muito bacana você estar participando de um evento na praça, com feira, com animação, com gente indo para lá e para cá e ao mesmo tempo conseguir fazer uma roda para debater temas tão importantes. Não percebi que pessoas da rua entraram para a Roda, mas quem sabe nas próximas a gente consiga chamar para conversar. É difícil, porque de alguma maneira quem está na rua está indo ou vindo para algum lugar, não tem tanto tempo para sentar no evento, mas acho que essa dinâmica sai um pouco desse modelão de dentro da universidade, que está um pouco cansativo”, avaliou.        

 

 

Sewo também ressaltou que, na praça, a venda dos produtores foi muito boa, que a feira teve uma boa aceitação por parte da população, e os poucos produtos que restaram a universidade se comprometeu a comprar para utilizar no restaurante universitário. Isso demonstra, na avaliação da docente, que o evento conseguiu aproximar o debate de instituições. “A feira conseguiu dar esse salto: além de aproximar, abrir o diálogo com a administração a respeito das necessidades que os camponeses possuem no campo, mostrar que a universidade pode se aproximar mais, desenvolver projetos, uma série de atividades que dialoguem mais com essas necessidades. Esse diálogo foi aberto na medida que a universidade atendeu praticamente todos os nossos pedidos e continua atendendo, porque a JURA ainda não acabou. A gente continua com atividades no assentamento Zé da Paes entre outras. A própria repercussão que a JURA causa na comunidade como um todo contribui para melhorar o diálogo com as instancias públicas”, afirmou.  

 

A docente apontou ainda, como ganhos da edição deste ano, o envolvimento das pessoas na organização coletiva em todos os aspectos, frutos da própria metodologia da JURA, e a importante repercussão na mídia, devido a ampliação da equipe que se comprometeu a ajudar na cobertura do evento. A Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind) é uma das entidades que apoiam a realização da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária todos os anos.

 

“A JURA é uma atividade que permite a realização de todos ali num papel de primeira ordem. Isso é muito bacana, o envolvimento e compromisso das pessoas tanto da academia, de professores, estudantes, técnicos, movimentos sociais, grupos, representações políticas, é um espaço bastante amplo e de muito compromisso e participação. É muito trabalhoso, mas animador, traz um animo para todos nós, vontade de fazer mais, de continuar. É legal quando você termina uma parte da atividade querendo continuar, fortalecido para continuar, com vontade de fazer mais, e nós temos até setembro para continuar com as atividades da JURA.

 

Assim como Sewo, a professora do Departamento de Serviço Social da UFMT, Eva Freire, acredita que os dois primeiros dias de atividades da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária foram muito importantes.

 

“A JURA é construída em um processo coletivo, por várias mãos e mentes. São vários saberes que também vimos materializados na feira Saberes e Sabores da Terra. Para além dos saberes, sabores, temos ainda a resistência. Resistência essa que se materializa na produção de alimentos sem veneno, com preços justos; na luta pela reforma agrária popular, especialmente em um estado como Mato Grosso, com alto índice de concentração de terras. Levar a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) para a praça, ao meu ver, possibilitou ampliar o alcance desses debates”, afirmou.    

 

 

 

Para a professora Rosa Lúcia Rocha, a feira conseguiu sintetizar o principal objetivo do “movimento JURA”, que é colocar em discussão e repercutir nos meios de comunicação e, consequentemente, entre a população, o projeto de reforma agrária e os temas que o circundam, com o máximo de articulação social.

 

Nesse sentido, a professora aposentada do Departamento de Enfermagem da UFMT elencou alguns pontos que, na sua avaliação, foram demonstrados pela JURA 2022 na Praça Alencastro. “Primeiro, as universidades públicas brasileiras apoiam a Reforma Agrária como forma de democratização da estrutura agrária social, econômica, política e educacional brasileira - aqui nós tivemos de forma bem evidente essa expressão, com a grande presença da UFMT, inclusive da sua gestão superior, apoiando a JURA de diversas formas, com todo o apoio institucional que nós solicitamos; segundo, a defesa da Educação Pública de qualidade e da Reforma Agraria são bandeiras articuladas em torno da construção de um projeto popular para o país - nós temos buscado repercutir isso a todo momento dentro da JURA e, consequentemente, dentro da Feira; terceiro, as universidades públicas reconhecem os movimentos sociais populares do campo como sujeitos coletivos de produção de conhecimento – e neste aspecto, nós tivemos uma importante expressão desse encontro de saberes, campo e universidade com seus professores, pesquisadores, artistas, dialogando e se retroalimentando com seus saberes”, destacou Rocha.  

 

A feira na Praça Alencastro trouxe, ainda, um ganho político fundamental a toda sociedade. De acordo com a professora, a atividade mostrou “em alto e bom som” que as universidades públicas brasileiras, aqui representadas pela UFMT, são contrárias a toda e qualquer prática de criminalização dos movimentos populares - especialmente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) - e reconhecem a legitimidade das suas lutas em defesa da qualidade da alimentação do povo brasileiro e da democratização da terra, da educação, da cultura e da comunicação.

“Em síntese, a gente conseguiu, com a Feira Saberes e Sabores da Terra, colocar no centro da capital, chamada do agronegócio, o debate da Reforma Agraria popular, com o MST como o mais importante movimento popular social do Brasil - podemos dizer um dos maiores movimentos sociais populares que questionam esse modelo de sociedade, esse modelo econômico que já demonstrou ser incapaz de atender às necessidades da humanidade. Viva a JURA, a UFMT, viva a Reforma Agrária Popular”, concluiu Rocha.          

 

Já no dia 07/06 a JURA terá nova atividade: o “Dia D do Grito, Seminário 200 anos de (In)dependência: para quem?”. Será no Auditório Dom Máximo Biennes, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Poconé, das 8hàs 11h.

  

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Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind