Sexta, 30 Julho 2021 17:39

 

 

Diante da repercussão negativa e de, como diz o ditado popular, “passar vergonha no crédito”, a Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro teve de apagar em poucas horas a postagem que fez no dia de ontem (28), para marcar o Dia do Agricultor, que trazia um homem armado com um rifle.

 

A exclusão da postagem, contudo, não apaga o fato de que a imagem escolhida pelo governo não foi um mero erro ou gafe de algum funcionário desavisado da Secom. Na verdade é a expressão da concepção sobre o campo deste governo de ultradireita: violenta e miliciana.

 

A postagem foi considerada absurda e vergonhosa por várias organizações, até mesmo por setores empresariais.  A foto utilizada foi adquirida pelo governo em bancos de imagens na internet. O Getty Images, por exemplo, descreve a foto como a representação da silhueta de um caçador.

 

Em nota, a CPT (Comissão Pastoral da Terra) definiu como “criminosa” a postagem. “A tentativa do governo Bolsonaro de vincular o ser social e histórico das camponesas e dos camponeses à figura de um jagunço é um ato criminoso. O modo de vida campesino, ao contrário do submundo jagunço, é voltado para o cultivo da vida, seja da vida da terra, das matas e das pessoas”, afirmou o coordenador nacional da entidade, Carlos Lima em nota.

 

A CPT destaca ainda o aumento da violência no campo, uma realidade que se aprofundou no governo de ultradireita. Dados da organização mostram que, em 2020, foram registradas 2.054 ocorrências de conflitos no campo, envolvendo quase 1 milhão de pessoas. Além disso, foram 1.576 ocorrências de conflitos por terra, o que equivale a uma média diária de 4,31 conflitos por terra, que envolveram 171.625 famílias brasileiras, em um contexto de grave pandemia. Esses números de ocorrências foram os maiores já registrados pelo Centro de Documentação da CPT – Dom Tomás Balduino (Cedoc).

 

Ainda segundo o tradicional levantamento feito pela organização, 81.225 famílias tiveram suas terras e territórios invadidos em 2020. É o maior número da série histórica registrada pela CPT desse tipo de violência.

 

A ONG Ação Cidadania também se pronunciou. “Na ponta daquele rifle retratado na postagem estão os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos e os pequenos produtores que lutam dia a dia pela sua sobrevivência, enquanto o agronegócio avançar em cima de suas terras, com agrotóxicos e espingardas”, afirmaram.

 

Descaso com a agricultura familiar

 

O fato é que a foto de um homem portando um rifle, ao invés de usar conhecidos instrumentos de trabalho do pequeno agricultor, que em muitas regiões ainda é uma enxada, faz jus ao constante discurso de ódio e a favor de mílicias característico de Bolsonaro.

 

“Quem anda armado não são os camponeses, o pequeno agricultor. Quem anda armado são os pistoleiros que agem a mando dos latifundiários”, disse Amaro Lourenço da Silva, secretário da Fedafer (Federação Democrática dos Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais) do estado de Pernambuco, entidade filiada à CSP-Conlutas.

 

“Em todos os governos vimos uma política tacanha em relação à agricultura familiar, para nos manter na miséria. Mas este governo piorou ainda mais, com o sucateamento do INCRA e o aumento da violência para favorecer grileiros e empresas. Neste momento mesmo, em Jaqueira (PE), estamos assistindo o despejo de famílias de agricultores”, relatou.

 

Estima-se que 70% dos alimentos que chegam à mesa da população brasileira são oriundos da agricultura familiar. Entretanto, os pequenos produtores denunciam que faltam políticas públicas para o desenvolvimento do setor e que possam garantir preços mais baixos para produtos que a população consome.

 

Isso porque governos, principalmente o atual de Bolsonaro, preferem privilegiar o setor do agronegócio, que exporta soja e milho para alimentar principalmente gado, suínos e aves, ao invés de ter uma política de garantir segurança alimentar para o povo brasileiro.

 

Em plena pandemia, por exemplo, Bolsonaro vetou projetos de lei que chegaram a ser aprovados no Congresso que permitia ao poder público comprar diretamente de agricultores familiares para alimentar os mais pobres, bem como negou o pagamento do Auxílio Emergencial a esses trabalhadores.

 

Fonte: CSP-Conlutas