Segunda, 22 Fevereiro 2016 16:00

 

Dezessete. Esse é o número de dias que o salário dos trabalhadores terceirizados da UFMT está atrasado. Com o prazo para fechamento da folha de pagamento do próximo mês já encerrado, o temor é de que haja novo atraso do salário referente ao mês de fevereiro. Por esse e outros motivos, os trabalhadores iniciaram, nessa segunda-feira, 22/02, um movimento de paralisação.

 

Bem diferentes dos 15 minutos de tolerância diária para o atraso dos trabalhadores (quem não bate o ponto até 6h15 recebe falta), 17 dias de atraso já são responsáveis por algumas ordens de despejo em decorrência do não pagamento de aluguel, falta de alimento em casa, riscos provocados pela falta de medicamentos, entre outros. Não bastassem os baixos salários, inúmeros relatos ressaltam que é prática comum da Luppa Administradora de Serviços descontar partes dos vencimentos e do vale refeição, inclusive, de feriados trabalhados.

 

A Luppa, cujo proprietário é o ex-vereador Deucimar Silva, alegou, a princípio, que a culpa pelo atraso é a falta dos R$ 660.120,00 que a Universidade Federal de Mato Grosso repassa mensalmente. Mas a universidade responde que o repasse referente à janeiro não foi realizado porque a empresa não entregou a documentação completa para elaboração da nota.

 

Após a pressão dos últimos dias, a empresa havia se comprometido a pagar os funcionários até as 10h dessa segunda-feira, o que não ocorreu. Por isso, os trabalhadores seguiram em passeata até a Reitoria da universidade.  

 

De acordo com a reitora Maria Lúcia Cavali Neder, em reunião realizada na manhã dessa segunda-feira com trabalhadores terceirizados, técnicos, docentes e estudantes da UFMT, o contrato com a Luppa explicita, ainda, que no caso de atraso do repasse por parte da contratante, a empresa contratada deve cumprir com o pagamento dos funcionários. “Eu estou atenta, acompanhando. Lamento muito por isso. Não é a primeira vez. Essa empresa tem cinco contratos com a UFMT, e toda vez que ela ganha licitação a gente sabe que vai ter problema”, disse a reitora.  

 

Os representantes dos docentes, técnicos administrativos e estudantes da UFMT reclamam o compromisso da universidade com a situação. “É preciso ir além da retórica. A universidade tem um papel social a cumprir, de respeito e cuidado com qualquer trabalhador. Então a UFMT precisa exigir da empresa que a dignidade seja mantida. O fiscal tem de acompanhar as condições de trabalho, não apenas quem bateu ou não o ponto. Eu estou pedindo, oficialmente, que se estabeleça uma mesa com representantes da comunidade acadêmica para discutir isso”, disse o presidente da Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind), Reginaldo Araújo.      

 

Em resposta à manifestação de surpresa da reitora Maria Lúcia sobre os vários casos relatados de abusos sofridos pelos trabalhadores terceirizados, a estudante de Ciências Sociais, Laís Caetano, afirmou que as queixas não são registradas na administração superior por medo. “As pessoas não se pronunciam por causa das perseguições. A terceirização é um problema porque parece que a universidade se isenta dessa responsabilidade!”.

 

A representante dos servidores técnicos administrativos, Léia de Souza, reafirmou que a terceirização deve ser profundamente debatida. “Já que a essa é uma realidade na UFMT, a gente tem que tratar esses trabalhadores com respeito. Eu não quero mais ver terceirizada tendo de descansar no banheiro, em baixo de escada, por falta de espaço”, disse.

 

De acordo com a pró-reitora Administrativa da UFMT, Valéria Calmon, a partir de agora, a UFMT estabelecerá prazos para entrega dos documentos. “Nós vamos dar cinco dias de tolerância para a empresa apresentar a documentação a partir da data limite, analisar o que foi entregue e, caso faltem documentos, aguardar mais três dias para entrega. Se eles não entregarem, vamos glosar e mandar pagar com os descontos”, afirmou a pró-reitora.

 

Ficou acordado que uma comissão, com representantes da administração superior, docentes, técnicos administrativos, estudantes e terceirizados ficará responsável por acompanhar o caso. Além disso, um dossiê com todos os relatos e provas de desrespeito aos trabalhadores será elaborado e entregue à Reitoria.

 

Logo mais, às 16h30, os trabalhadores realizarão nova assembleia para debater os próximos passos da paralisação.

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind