Quarta, 17 Outubro 2018 09:00

 

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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JUACY DA SILVA*
 

Os resultados do primeiro turno das eleições gerais de 2018 tem deixado analistas, institutos de pesquisas, dirigentes partidários, acadêmicos, enfim, estudiosos da dinâmica politica brasileira um tanto estupefatos ou atarantados.


Alguns analistas e profissionais da mídia falam em um verdadeiro “tsunami” na politica brasileira, com a derrota de velhos caciques que durante décadas, alguns com quase meio século de vida pública, verdadeiros donos de currais eleitorais e de cadeiras cativas no Senado, na Câmara Federal e nas Assembleias Legislativas foram vergonhosamente derrotados nas urnas.


Parece que os eleitores, de forma anônima, deram cartão vermelho para velhas raposas,  boa parte ou talvez a maioria desses políticos e de outros que escaparam por pouco da guilhotina eleitoral, fazem parte de suspeitos e investigados por corrupção ou pertencem a grupos que são acusados de corrupção ativa e passiva, enriquecimento ilícito, formação de quadrilha e com alta probabilidade, ao perderem a impunidade e o foro privilegiado, poderão ter o mesmo destino de outros políticos que estão trancafiados, longe do convívio politico, social e econômico da vida nacional.


Outro aspecto desta onda foram as derrotadas dos chamados partidos de centro ou o “centrão”, incluindo os tucanos (PSDB), MDB, DEM e alguns outros de seus satélites. Comparados os desempenhos, por exemplo, da ex-presidente Dilma, do atual senador e futuro deputado federal Aécio Neves nas últimas eleições em 2014, tanto a derrota de Dilma para o Senado em Minas Gerais quanto a pífia votação de Geraldo Alkmin quanto de Henrique Meireles, foi possível perceber que os mesmos foram deixados à própria sorte por seus correligionários, traídos como se chegou a dizer de forma aberta.


Outra particularidade deste primeiro turno foi o derretimento de Marina Silva, que passou de mais de 20 milhões de votos há quatro anos quando quase  chegou ao segundo turno contra seus poucos mais de um milhão de votos, metade da votação de Janaina Paschoal, do PSL,  eleita como a deputada estadual em São Paulo, com mais de dois milhões de votos, a mais votada na história do Brasil.


A busca de um consenso como alternativa de centro para evitar a radicalização entre esquerda e direita, mesmo com o empenho de Ciro Gomes, de Geraldo Alkmin, Meirelles e outros candidatos fracassou de forma clara. Os eleitores preferiram os extremos, com Bolsonaro representando as forças de direita, os conservadores como a opção mais provável no segundo turno, a não ser que ocorra outro tsunami no segundo turno e Fernando Haddad, que representa a esquerda, venha a ser o vitorioso, realidade pouco provável.


Além do DEM, MDB e PSDB, que em passado recente eram os partidos que representavam os interesses do mercado, das forcas conservadoras, também o PT e alguns de seus aliados, principalmente o PCdoB, perderam espaço no Congresso Nacional. O espaço antes ocupado pelos partidos de centro deverão ser ocupados  de forma avassaladora pelo PSL um partido nanico até a presente legislatura e que a partir de 2019 deve ser a segunda força na Câmara Federal.


Com o advento da cláusula de barreira diversos partidos nanicos devem desaparecer e ou seus parlamentares eleitos deverão migrar para outros partidos. As perspectivas, devido ao fisiologismo que é a marca registrada da politica brasileira, a maioria desses parlamentares devem aumentar as fileiras do PSL, partido de Bolsonaro e outros que deverão ser seus aliados no Congresso.


Dificilmente os partidos de esquerda, mesmo com o bom desempenho do PSB, deverão ter número de deputados e senadores para barrarem o rolo compressor da direita tanto no Congresso Nacional quanto nas Assembleias Legislativas, incluindo a de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.


Nota-se perfeitamente não apenas uma polarização entre esquerda e direita na politica brasileira a partir deste segundo turno e com mais ênfase a partir de 2019, mas sim, uma guinada avassaladora das forças de direita, incluindo empresários e a classe media, servidores públicos graduados e os marajás da República nos três poderes, no MPF/MPE que, com exceção do Nordeste e do Pará e da população pobre, deverão mudar as pautas da vida nacional, estimulando, ainda mais não apenas os conflitos ideológicos, mas principalmente a violência politica nos próximos anos, incluindo as eleições municipais de 2020, onde esquerda e direita voltarão a se enfrentar em verdadeiras lutas fratricidas.


Quem viver verá.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Terça, 16 Outubro 2018 09:40

 

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Por Vicente Machado Ávila*
 

 
Capitalismo e comunismo andam numa via de mão dupla. Combater só um deles é enganação absurda.
 
Do embate entre capitalismo e comunismo resultou a Guerra Fria.  Se existisse só um deles ela não existiria, o velho comunismo de guerra, há quase três décadas foi sepultado, debaixo dos escombros do muro de Berlim ele se encontra soterrado.
 
O moderno comunismo- quem diria! Está construindo seus bons projetos fortalecendo a democracia.
 
Só a direita reacionária faz do anti-comunismo um discurso sem fim. Ignora a atuação revolucionária da grande senadora Graziotin.
 
Deram um tiro no pé os candidatos que usaram Cuba e a Venezuela em seus discursos absurdos, caminharam na contra-mão e de marcha a ré e não chegaram nem ao segundo turno.
 

Lula falou e fez

 
A paz a gente consegue não é com a força dos armamentos. É com a democracia, participação popular e alimentos. Através do Bolsa Família, matou e está matando a fome de milhões. Este programa é aplaudido na França e em outros rincões.
 

Pragmatismo e Ideologismo

 
Felizmente as relações internacionais seguem mais o Pragmatismo que o Ideologismo.

Vide EUA e China.
 

 

*Vicente Ávila
Professor de Economia Política da UFMT (aposentado)

 

Segunda, 15 Outubro 2018 13:53

 

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Por Roberto de Barros Freire*

 

O que caracteriza as eleições desse ano, é que o desemprego e a recessão que se prolongam por anos, e que sempre foram as principais discussões políticas nas eleições, deixaram de ser temas relevantes, assim como a saúde e a educação. O que mais conta, sem dúvida, é a segurança pública, a promessa de tratar os bandidos na bala e com fúria, de acabar com os direitos humanos, que para muitos parece só servir aos bandidos.

Propostas para o Estado e para o governo são vagas; e as pessoas simplesmente não têm paciência para ouvi-las. Identificam-se os culpados: a economia vai mal porque houve muita roubalheira. A solução é simples: morte à petralhada! Morte à sem-vergonhice: eis o conceito capaz de englobar tudo, dos ministros do STF aos transexuais, dos artistas de vanguarda aos professores da escola pública e índios, dos advogados criminalistas bem pagos aos miseráveis que vivem do Bolsa Família, dos quilombolas aos comunistas e homossexuais.

O desejo é um só, de destruição. Qual reforma pretende fazer? A resposta: "alguma".

Impostos? Quem ganha até uns cinco salários mínimos deixaria de pagar Imposto de Renda, dizem. Quem bancaria a diferença, pois o governo está quebrado? "Alguém" ou “O dinheiro retirado da corrupção!”

A campanha resume-se a demonizar o adversário mais do que o adversário demoniza você. E o melhor jeito de fazer isso é disseminar o medo entre os carentes, e o ódio entre os potentes. Quem pode odeia; quem não pode teme. O que não sabem é que o medo e o ódio podem eleger pessoas, porém não conseguem governar os homens.

Em seu ataque contra a velha ordem, Bolsonaro montou o tripé moralista de família, religião e Forças Armadas, as três instituições que ainda gozam de alguma confiança popular, ainda que o candidato em termos familiares não seja lá um exemplo, em termos religiosos menos ainda (com certeza não é um cristão) e foi expulso das forças armadas: nem as forças armadas suportaram suas idiossincrasias. Bolsonaro representa um risco imediato à democracia, à defesa dos direitos humanos, à defesa do meio ambiente. Defende tortura e morte aos “ruins”, e doar toda natureza aos ruralistas.

Mas, ele percebeu que a sociedade está enfurecida. E está encabeçando essa fúria. Uma pessoa que está no poder há 27 anos, que nunca teve participação ativa ou alguma sugestão para a nação em todos esses anos, que era amigo de Eduardo Cunha e reinava no baixo clero, sempre defendendo as piores coisas como tortura e ditadura, morte aos “inimigos”, a extinção de minorias, o fim da democracia, hoje lidera uma nação cega e surda pelo ódio e ressentimento. 

Bolsonaro não é levado a sério pelas elites financeiras. Seu evidente despreparo para tratar de temas econômicos e seu histórico de defesa do regime militar brasileiro, marcado pelo forte intervencionismo estatal, o descredenciam entre analistas de mercado e defensores do liberalismo. Porém, na falta de coisa melhor, empresários e o mercado vêm apostando tudo em Bolsonaro, apesar do entulho retrógrado que ele traz consigo. Qual é a alternativa?

A eleição para o legislativo aumentou a fragmentação partidária dentro do Congresso como nunca antes visto, ao ponto de torná-lo ingovernável. É um condomínio sem síndico, administradora ou regulamento interno. A chance de o prédio virar uma guerra de todos contra todos é alta. Ele terá que convencer esse congresso de suas propostas, pois que passam necessariamente por mudanças legislativas, mas dificilmente terá 308 deputados para que possa impor sua vontade.

Com um ano de governo Bolsonaro (assim como aconteceu com Collor) nos daremos conta de que ele nada sabe sobre nossos problemas, menos ainda conhece as soluções. Que os militares não sabem quais são os problemas e quais sejam as soluções; eis porque saíram do poder em 1985, e estão loucos para sair da encrenca do Rio de Janeiro. Com certeza a nação ficará arrependida em pouco tempo e não se descartará um impeachment para um governante que soube catalisar o ódio, mas não soube desenvolver o amor. Apostando na desunião, não se conseguirá depois realizar a união necessária para qualquer nação superar seus problemas; continuaremos nessa guerra de todos contra todos.

 

*Roberto de Barros Freire

Professor do Departamento de Filosofia/UFMT

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Quinta, 11 Outubro 2018 08:48

 

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Vanessa C. Furtado

Departamento de Psicologia - UFMT

 
Qual o cenário que temos pela frente? O da luta! Respondo prontamente, este foi, é  e será o caminho para conquista e garantia de direitos da classe trabalhadora. Não importa quem vença o pleito eleitoral a luta é a nossa única alternativa para barrarmos as reformas neo-liberais. O que podemos escolher neste momento é se elas virão de forma bruta, com violência e violação de direitos ou de forma serena, alisando a nossa cabeça.


É importante ressaltar, o projeto de política para o Brasil já está posto e, para nossa categoria docente, a privatização da universidade pública é o horizonte não tão distante. Bolsonaro anunciou, em seu pronunciamento do domingo, o enxugamento da folha de pagamento, responsabilizando os/as servidoras/es públicas/os pela oneração da conta do Estado. E nós, docentes federais, somos alvo direto dos governos, vocês já pararam para olhar sua folha de pagamento? O que e quanto efetivamente é o seu salário? Retirem dessa folha os auxílios alimentação, retribuição por titulação, auxílios creche (quem recebe), auxílio assistência à saúde (quem paga plano de saúde) e observem qual o real valor do seu salário? Pois bem, são todos esses “penduricalhos”, chamados benefícios que estão em jogo. A privatização da educação pública superior no Brasil é projeto de longa data, já iniciada nos de FHC, petistas e aprofundada no governo ilegítimo de Temer, com todos os pesos possíveis da liberação da terceirização das atividades fins. E nossa carreira, mais do que nunca, está sendo ameaçada!


Portanto, não há diferença em quem ganhar as eleições presidenciais? Sim e não. O que está em jogo neste cenário eleitoral é a ascensão de um discurso protofascista, que catalisou os discursos de ódio e preconceito tão presente em nossa sociedade. A sua ascensão e vitória no primeiro turno foi o desvelamento das raízes conservadoras da sociedade brasileira, algo que os movimentos sociais (negro, lgbt) vem denunciado e não é de agora. O que está em jogo são nossas liberdades civis e quando um candidato à presidência afirma que colocará “um ponto final em todo tipo de ativismo político no Brasil”, ele anuncia que tempos duros estão a caminho e que não haverá possibilidade de lutar contra projetos políticos com os quais não concordamos, a não ser de forma clandestina: 1964 bate à nossa porta! Isto é o que demarca fortemente as diferenças entre um e outro candidato.


O clima de insegurança e desconfiança já existe, recebo notícias e diversos relatos de pesquisadoras/es que têm suas bases teórico-metodológicas questionadas e deslegitimadas (eu sou uma dessas pessoas) enquanto ciência; de pessoas que, por medo do comunismo (como se o PT fosse comunista ou mesmo socialista) viram amigos, familiares se afastando; pais que aconselham filhas/os a não se aproximarem de pessoas com ideias “meio comunistas”, o que o protofascismo conseguiu foi, justamente, instaurar esse clima 64. As ideias plantadas pelo “Escola sem partido” já adentraram as salas de aula da universidade, estamos assistindo a ascensão da ignorância!


Por isso, o que não pode ser diferente, ganhe quem ganhar as eleições presidenciais, é a nossa luta, com um senado e congresso onde grande parte dos eleitos são militares, devemos estar em estado permanente de luta! A cooptação e institucionalização dos movimentos sociais, só o fez garantir o seu papel (do Estado) de gerente do Capital. E o que não devíamos ter deixado arrefecer era a luta, a pressão popular em efetivar direitos e acesso a eles. Portanto, o estado permanente de luta é essencial, ganhe quem ganhar!


O PT, durante os anos que esteve no governo, no que tange a política de educação cumpriu exemplarmente a agenda neo-liberal, destruiu nossa carreira em 2012 com a fundação de seu sindicato (PROIFES) e assinando, apenas com este, o acordo que destroçou a carreira docente. Sem contar nos cortes de verbas das universidades públicas cujos impactos sentimos agora seja na escassez de recurso para a assistência estudantil, seja no anúncio da UFMT em não comprar mais tinta para suas impressoras. Contudo, eu prefiro derrotar o projeto neo-liberal petista nas ruas, do que ter nossas liberdades individuais cassadas. Há luta companheiras e companheiros!

 

Quarta, 10 Outubro 2018 10:09

 

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Por Vicente Machado Ávila*

 

Voto de cabresto no passado.

 

A figura do coronel era muito comum durante os anos iniciais da República, principalmente nas regiões do interior do Brasil. O coronel era um grande fazendeiro que utilizava seu poder econômico para garantir a eleição dos candidatos que apoiava. Era usado o voto do cabresto, onde o coronel obrigava e usava até mesmo de violência para que os eleitores de seu “curral eleitoral” votassem nos candidatos apoiadores por ele.  Como o voto era aberto.

Coronéis capangas e candidatos

Os interesses dos coronéis e candidatos eram garantidos pala ação impiedosas dos capangas.

Esse sistema permitia que os títulos eleitorais se transformassem em títulos negociáveis e que o governo exercesse sobre eles o ato do voto, praticado sob a odiosa fiscalização e vigilância de seus agentes.  Da ameaça de represália, da peita e do suborno.

Voto de cabresto no presente

No sistema político e eleitoral brasileiro, nos dias atuais, é mais difícil controlar o voto das pessoas, mas há novos mecanismos de pressão que são usados como, por exemplo, anotar as secções em que os eleitores de uma determinada família ou localidade votam, para depois conferir se a votação do candidato correspondeu ao que se esperava dos eleitores, que em troca recebem dinheiro, lotes e alimentos (cesta básica). Embora não seja possível se determinar “quem” votou em “quem” por este método, ele é eficaz entre a população mais pobre como instrumento de pressão psicológica.

Mas há também o uso de poder das milícias, nas comunidades pobres, que obrigam os moradores locais a votar em quem eles querem, ou não permitem o voto em candidatos que a milícia não aceita; se a população não cumpre a milícia pode abusar do poder e causar mortes ou parar de “ajudar” os moradores

Laicos ou lacaios?

Ignorando o sadio principio que separa religião do estado muitos pregadores religiosos( padres e pastores)praticam o voto de cabresto influenciando seus fiéis a votarem em candidatos na-povo e com isso empurram suas ovelhas para as presas afiadas da selvageria capitalista. 

                                                          

Professor

 BRASILINO EXPERANÇOSO

Terça, 09 Outubro 2018 10:38

 

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Por Aldi Nestor de Souza*
 

Planejei submeter um relato de experiência para o congresso de educação, SEMIEDU, que acontecerá aqui na UFMT, no mês de novembro desse ano.  O relato trata de uma experiência que fiz em sala de aula, de uma disciplina de Álgebra, aqui do curso de licenciatura em matemática da UFMT, na qual Paulo Freire e sua Pedagogia do Oprimido se fizeram presentes e transitaram no meio da abordagem axiomática da teoria dos Anéis e Corpos de que trata a citada disciplina. Chamei a experiência de Álgebra do Oprimido.

Eu até cheguei a escrever o relato. Num wordzinho, como esse que aqui escrevo, num total de 6 páginas, estava tudo pronto e relatado: as leituras freireanas, as aulas de álgebra, a linguagem abstrata da teoria matemática em questão, os debates sobre: a serviço de quem estão estas palavras abstratas?, de quem são mesmo as palavras que constam dos livros de Álgebra?, quem lê livros de matemática?, é a Matemática, em particular, a Álgebra, uma concentradora de conhecimentos e que tem a linguagem como o grande gargalo?

A ideia de usar Paulo Freire foi justamente a de discutir, à luz de sua educação como prática da liberdade e de sua educação dialógica, o papel rígido, de certa forma indubitável das ideias e escritas matemáticas que gozam de um conforto estupendo no meio acadêmico e quase não sofrem crítica sobre sua forma de se apresentar à sociedade e, em particular, para estudantes de cursos como os de formação de professores.

Até fiz a inscrição no SEMIEDU, paguei o boleto e tudo mais. Na hora H, a de enviar o material, fui dar uma conferida nas instruções para tal submissão e parei. O conjunto de regras e normativas, coisas da ABNT, davam um total de 15 páginas. Isso só para a modalidade RELATO DE EXPERIÊNCIA, relato esse que, segundo uma das normas, deveria ter entre 4 e 8 páginas. Isso mesmo, 15 páginas de regras para a submissão de um texto com no máximo 8 páginas.

Quando eu pensei em relatar essa experiência foi com a melhor das intenções, e até mesmo acreditando estar contribuindo ou sugerindo uma possibilidade de abordagem para disciplinas, como a que relatei, marcadas por um alto grau de abstração e reprovação por parte dos estudantes. Pensei no relato como forma de mostrar pros colegas de ofício e receber deles a apreciação e críticas, tão fundamentais na construção de práticas de ensino e aprendizagem.

Mas as regras, ah, as regras, me retiraram de tal maneira a vontade da tal submissão que desisti por completo. Tamanho de letras, espaçamentos, margens, referências bibliográficas, tudo com suas medidas, tantas e tão implacáveis, que cansei até de lê-las.

Reproduzo aqui, como ilustração, um pouquinho das tais regras só para o uso de alíneas.

“ É possível, também, o uso de alíneas, que obedecem às seguintes indicações:

  1. a) Cada item de alínea deve ser ordenado alfabeticamente por letras minúsculas seguidas de parênteses, como neste exemplo;
  2. b) Use ponto-e-vírgula para separar as alíneas, exceto no último item;
  3. c) A lista de alíneas é separada do parágrafo de texto anterior por meia linha em branco (6pts) e do parágrafo de corpo de texto seguinte por uma linha (12pts);
  4. d) O estilo "Alínea" constante deste documento pode ser usado para a aplicação automática da formatação correta de alíneas.”

É claro que esse conjunto de regras não é um privilégio apenas do SEMIEDU. Para qualquer lugar que se ande na academia, é forte a pressão de órgãos que nos medem da cabeça aos pés, nos controlam e nos padronizam. Estamos, lembrando aqui de Herbert Marcuse,  unidimensionais, no apogeu do progresso técnico e vivendo numa sociedade cada vez mais sem oposição.

Mas qual será mesmo a gravidade estética de um espaçamento 1,5 ser trocado, por exemplo, por um de medida 1,0? Ou por outra, quão sério é uma margem superior 2,5 ser trocada por uma de 3? Mais grave do que tudo: imagine a tristeza de um avaliador do evento ao ter que conferir essas medidas. Imagine ainda dispensar um trabalho acadêmico sob a alegação de que numa referência bibliográfica, uma certa letra minúscula foi trocada por uma maiúscula.

Lembrei aqui de um artigo, no qual constava a demonstração da infinitude dos números primos e que foi feita em apenas uma linha. Segundo as normas do SEMIEDU, esse importante trabalho não teria chance de ser aceito.

Por fim, quem tem tempo de ter criatividade se uma avalanche de normas e regras rígidas tolhem a paciência, roubam o tempo e  asfixiam a liberdade de pensar sob o pretexto de, nos moldes de uma linha de montagem, padronizar os trabalhos pela escrita?

De quem são, afinal, as palavras iguais que constam dos trabalhos acadêmicos? A quem interessa tanta coisa cinza?



*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá.
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Segunda, 08 Outubro 2018 09:15

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Primeiro turno das eleições 2018 encerrado. Confirmada a polarização política que não poderia ter ocorrido em nosso país. Lembrando Drummond, eis a clássica pergunta: e, agora, José?

Agora, precisamos tentar entender os porquês de termos chegado a esse ponto de tão perigosa divisão social. Divisão que, aliás, mal começou. Se, no segundo turno, ocorrer a vitória dos bolsonaristas, muita coisa nova – e não necessariamente razoável em termos de cidadania – estará por vir, podendo transformar o porvir de muita gente num verdadeiro inferno.

Na tentativa de pensar sobre os motivos que nos trouxeram a esse ponto de esgarçamento, é preciso ouvir/compreender a sustentação discursiva que deu a vitória – por ora, parcial – a Bolsonaro, um antigo deputado federal que sempre esteve nas fileiras do baixo clero do Congresso. Antes de se lançar à presidência, Bolsonaro, saído da reserva das Forças Armadas, raramente era lembrado – nem mesmo visto – por alguém que não fosse do Rio, seu Estado de origem.

Mas, afinal, qual é a base discursiva dos bolsonaristas?

Resposta: Tradição; Família; Propriedade. Em outras palavras, a famosa tríade da entidade TFP, cujo lema, no Brasil, é “ipsa conteret” (“Ele vai”), retirado do universo bíblico (Gênesis; 3,15). Centralmente, aquela passagem bíblica refere-se ao ato do esmagamento da cabeça da serpente que provocara um tipo de “abalo sísmico” no Paraíso; ou seja, uma lorota que nos acompanha desde o ventre, mas que tem efeito devastador coletiva e individualmente.

Mas por que esse discurso conservador/reacionário, que estava adormecido, reapareceu agora?

Porque ele estava apenas adormecido, não extirpado; logo, se provocado fosse, poderia se reanimar. Provocado foi. Reanimou-se.

Quem o provocou?

Antes de quaisquer outros, os adversários diretos dos bolsonaristas que vão para o segundo turno, ou seja, os petistas, que, aos bolsonaristas, incorporam o fazer maligno da serpente, que precisa ser esmagada.

Cá entre nós, a corda foi esticada demais, e por muito tempo. De fato, não é qualquer um que aceita friamente, p. ex., um presidiário fazer se passar por um preso político e, de dentro de sua cela, manipular seu partido, tentando intervir diretamente nas eleições. Isso pode ter sido a gota d’água para muitos eleitores decidirem seus votos. Todavia, antes da gota, com certeza, um tsunami ocorreu durante os governos do PT, sempre eleito com base em discursos de honestidade política; logo, também de cunho moralista, mas travestido de discurso ético.

Desse tsunami fazem parte dois esquemas criminosos: o Mensalão e o Petrolão. Se aos petistas apaixonados isso é irrelevante, podendo ser esquecido e perdoado, aos demais brasileiros, não necessariamente.

O discurso petista de “eles também são corruptos” (e, de fato, a maioria é mesmo corrupta) parece que não terá a sustentação e a duração que se pretendia. Ele corre o risco concreto de ser interrompido com a ascensão dos bolsonaristas ao poder.

Com essa possível subida, esmagando a cabeça da serpente petista, tudo o que pode estar por detrás da “tradição”, “família” e “propriedade” virá com força por meio de decretos, projetos de lei, emendas constitucionais...

E o que pode estar por detrás desses termos acima?

Com base no discurso de defesa da ordem e da segurança, está todo o conjunto de direitos humanos duramente conquistados. Paradoxalmente, em nome de Deus, que, para os bolsanaristas, está “acima de todos”, eles poderão ser perdidos. Com certeza, serão interrompidos.

Dificultadas também serão as lutas do “politicamente correto”, que, novamente, cá entre nós, também esticou a corda desnecessariamente em várias situações. Nesse bojo, novos (e reacionários) direcionamentos para a educação poderão, infelizmente, vir.

Enfim, o porvir do povo brasileiro poderá ser vigiado, controlado; logo, apequenado.

O que nos resta?

Saber que “desesperar, jamais”.  

Quinta, 04 Outubro 2018 11:26
 
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Profa. Vanessa C Furtado
Departamento de Psicologia - IE/UFMT
 
  
Antes, eu, sinceramente estava radicalmente contra as aulas de empreendedorismo na UFMT, mas com o tempo fui mudando meu modo de compreender a necessidade de empreender. Por curiosidade, fui ler o que significa empreender e esta palavra está diretamente ligada com a capacidade de fazer, realizar coisas que são difíceis. A partir daí, entendi que o que faço, cotidianamente, para poder realizar meu trabalho é puro empreendedorismo!!
 
Vejam vocês, coordeno um grupo de extensão e realizamos um seminário anual sobre Saúde Mental, evento este que foi vencedor de editais para sua realização. Com o financiamento garantido, convidamos pessoas de renome e reconhecido trabalho científico na área que prontamente se dispuseram a vir. Toda a burocracia para realização do evento (reserva de espaço, solicitação de apoio de infraestrutura, certificados, etc) fora realizada.
 
Vamos ao evento!
 
Ao chegar no espaço reservado, por “sorte” as cadeiras estavam lá para o público se sentar, mas não havia caixa de som nem microfones para a palestra; não havia mesas para colocar no palco, não havia água para beber. Então, eis que vi na dificuldade uma grande oportunidade de por minhas habilidades empreendedoras em ação: realizamos o seminário! Contudo, foi exigido uma enorme capacidade empreendedora, pois como se não bastasse todas as faltas que já citei, no último dia a luz acabou! E, embora a universidade dispusesse de dois eletricistas para reparar o dano, não podiam dirigir o carro da universidade e não puderam fazê-lo. Haja resiliência! Diante do público inscrito, dos eminentes convidados, tivemos que encarar esta situação e, contando com a boa vontade de servidoras desta Universidade, conseguimos outro auditório para continuar nosso evento. E continuamos!
 
Fora as questões relacionadas ao evento, descobri, após minha pesquisa, que as atividades laborais docente são marcadas de atitudes empreendedoras, quem de nós nunca teve sua aula prejudicada porque não havia equipamentos necessários ou se eles existiam funcionavam de forma precária ou nem mesmo funcionavam? Quem de nós nunca deixou o seu próprio livro (comprado com parte de seu salário, sem qualquer custeio da instituição) na Xerox ou usa seus próprios computadores para dar aula? Ou vive dando jeitinhos para conseguir realizar seus projetos: seja uma parceria com empresas privadas, seja num contato amigo que libera o carro pra uma aula de campo fora do edital?
 
Logo, acredito que as aulas de empreendedorismo são fundamentais para que possamos fazer dessas adversidades oportunidades. Hoje defendo que elas sejam ampliadas ao corpo docente, porque entendi que esta habilidade nos será cada vez mais exigida a medida em que os projetos neoliberais avançam na universidade pública e a precarização está dada como projeto para Educação! Por outro lado, isto também está relacionado a pauta mais corrente na universidade: Saúde Mental!
 
Foi e é paradoxal discutir Saúde Mental na UFMT diante de tanta desvalorização do trabalho empreendido na universidade, por esta professora e todos os demais colegas, para realizar um evento científico e totalmente gratuito; diante da falta de respeito para com as pessoas que aqui estavam para prestigiar o evento; diante da violência que sofremos pelas péssimas condições estruturais para a realização de um evento nesta Universidade.
 
O processo de adoecimento mental se dá justamente nestas condições, em que individualizamos questões que são de cunho coletivo, culpabilizamos os sujeitos e os expomos enquanto incompetentes por não conseguirem resolver problemas, por não terem feito limonada dos limões que a vida lhe dá. E quando retiramos não culpabilizamos os indivíduos, limitamo-nos a jogar pra causalidade ou pro pensamento supersticiosos (sorte ou azar daquela pessoa) ao passo que exaltamos o empreendedorismo daqueles que, resilientes, enfrentam estas adversidades com criatividade! Nem um nem outro processo é menos enlouquecedor/adoecedor que o outro!
 
As ausências de infraestrutura básica para que exerçamos nossa atividade profissional nos impõe uma urgência em empreender. Num contexto em que as universidades tiveram um impacto real de 28% (número emblemático na UFMT) de cortes orçamentários, empreender deve mesmo ser a lógica para a realização de nosso trabalho docente. Venderemos, para o fórum de graduação, nossos standers às empresas privadas que virão decorá-los; venderemos nossas pesquisas de empresa em empresa para que consigamos os recursos necessários para desenvolver nosso trabalho; em breve, até os estágios curriculares obrigatórios deverão ser vendidos para termos financiamento de uma visita a comunidade, salas para atendimento, equipamentos que nos possibilitem a desenvolver a atividade... Numa sociabilidade em que tudo se transforma em mercadoria, seria incoerência nossa querer que a ciência não fosse tratada da mesma forma. Portanto, “ao empreendedorismo e além!” com o processo de desmonte da universidade pública brasileira e adoecimento de seus/suas servidoras/es e discentes.
 
 
 
Quarta, 03 Outubro 2018 15:13

 

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

Vivemos tempos difíceis em que a incompreensão, a intolerância, o ódio, o preconceito, o racismo, a homofobia, a violência tomaram conta de nossas relações sociais, econômicas, politicas, culturais, religiosas e até mesmo familiares e estão nos dominando. Na vã ilusão de tentar disseminar “nossas verdades”, em lugar do dialogo, da verdade real, do entendimento, subsituímos a amizade, o amor e a compreensão pela imposição de nossas ideias, de nossas ideologias, de nossas crenças, como se donos ou donas da única verdade fossemos.


O resultado é aprofundamento dos conflitos, construção de muros, barreiras, fossos em lugar de pontes, viadutos ou caminhos. Muitas pessoas acabam antigas amizades por preconceitos, por ódio às diferenças, por desprezo, por egoísmo ao defenderem seus privilégios ao invés de lutarem para que todos tenham pão à mesa para saciar a fome de quem nada tem; por um par de sapatos quando mais de uma centena desses estão empoeirados em nossos guarda-roupas; por um cobertor que nem usamos quando tanta gente, milhões dormem ao relento; isolados em nossas residências, palácios ou mansões com guardas armados, altos muros eletrificados, quando milhões nem um teto tem para morar; esquecendo que um dia partiremos deste planeta azul, que está sendo destruído pela ganância econômica de uns poucos que só pensam em acumular renda, riqueza, propriedades e nada mais,  esquecemos que quando de nossa partida nada levaremos, nem fama, nem dinheiro, nem propriedades, nem renda, nem cartões de crédito, nem pompa, nem privilégios; tempos depois nossos corpos físicos estarão apodrecidos e voltaremos ao pó e aos poucos seremos esquecidos ou relembrados apenas por alguns que conosco conviveram.


Na hora da partida, ricos e pobres, governantes e governados, famosos, famosas e pessoas comuns, milhões de anônimos, todos teremos um mesmo destino: o cemitério ou o forno crematório. Àqueles que ainda não partiram parecem que  não se aperceberam que todos nós temos um dia, uma hora e um minuto para esta partida, não adianta fingir que não percebemos esta realidade inexorável, meu dia, seu dia, nosso dia chegará e aí será a nossa vez de nos despedirmos para sempre.


Muita gente se pergunta, do que vale tanta soberba? Tanto ódio? Tanto preconceito? Tanta violência? Tanto materialismo? Tanta ganância? Que tal substituirmos tudo isso por mais amor, mais solidariedade, mas fraternidade? Que tal abrirmos mão de tanta coisa que buscamos desesperadamente acumular?


Estamos em meio a uma grave crise em nosso país, estamos construindo um fosso, um abismo que separa ricos x pobres; partidários do candidato A x candidato B. Estamos construído um país dividido entre negros/pardos x brancos; entre privilegiados x miseráveis; entre uma elite que tudo tem, tudo pode x uma pobreza que nada ou pouco tem e nada pode.


Precisamos pensar qual o futuro que desejamos construir para nós, para nossos filhos e nossos netos. De uma coisa estou certo, com ódio, preconceito, racismo e xenofobismo e prepotência não construiremos uma nação livre, democrática, plural, pacífica , nem próspera e feliz.


Que ao votar, nas eleições deste domingo, 07 de outubro e novamente no segundo turno em 27 de outubro de 2018, possamos refletir profundamente sobre as nossas escolhas. Muitas vezes por mais que tenhamos “certeza” de que estamos escolhendo o menos pior, podemos estar empurrando nosso país e nosso futuro para um grande precipício, de onde será quase impossível recuperar de um desastre tão grande.


A história nos mostra inúmeros exemplos de tragédias que tiverem suas origens não apenas em atos de força, revoluções, golpes de estado, quarteladas; mas também, em eleições “livres” e “democráticas”, mas com escolhas equivocadas. Existe um provérbio bem interessante que nos leva `a uma reflexão sobre nossas escolhas, “de boas intenções até o inferno esta cheio”.


Pense nisso antes de jogar pedras em quem de você discorda ou tem escolhas diferentes. Será que você é o único dono da verdade?


*JUACY DA SILVA, professor universitário, aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
 

Terça, 02 Outubro 2018 08:50

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Daqui a poucos dias, indicaremos quem presidirá o país pelos próximos quatro anos. Faremos isso imersos em situação por demais complexa. Popularmente falando, estamos num mato sem cachorro.

À frente, nas pesquisas, assistimos à arriscadíssima polarização entre dois grupos de fanáticos. De um lado, rançosos de direita, com o direito ao (mau) gosto pelo viés militarista. Acham-se guardiões da moral, da ordem, da família... De outro, os iludidos por um “mágico”, preso por corrupção. Estes, deliberadamente ludibriados, se pensam iluminados de esquerda; logo, vendem a falsa ideia de serem iguais aos da plebe, tornada historicamente ignara. Abaixo desses, e no meio da polarização, encontra-se o restante; ou o resto, a quem assim preferir.

Resumo da tragédia: como se estivéssemos nas xepas de uma feira-livre, “livremente”, teremos de escolher entre: a) fanáticos e equivocados de direita; b) corruptos e igualmente fanáticos, mas de falsa esquerda; c) oportunistas de um centro previsível; por isso, desprezível.

Ah, sim! Logo abaixo desse centro, ainda há os nanicos, quais sejam: a) os aventureiros, já cheios de vícios, de uma esquerda que não convence ninguém além de seus manjados séquitos; b) algumas “caras novas”, mas de um velho e falido neoliberalismo.

Haveria mais alguém nesse quadro de horrores?

Claro. O único clown; ou seja, aquele que se pensa enviado por Deus. Quando o vejo de Bíblia nas mãos, ao invés da Constituição de um país laico, como o nosso, sinto piedade. Penso: já que o TSE deixa rolar aquela propaganda inconstitucional, tenho de ser misericordioso, pois nem todo clown faz seu público sorrir de felicidade. Seja como for, por ora, esse tipo está descartado. Por ora, pois nossa capacidade de descer aos infernos parece ser vocacional.

Pois bem. Será desse quadro decadente que sairá o futuro líder do país. Mas não nos enganemos. Essa decadência ainda pode ser acentuada, caso seja vencedor um ou outro dentre os dois candidatos que hoje lideram as pesquisas.

Uma eventual vitória de Bolsonaro, que ao invés de programa de governo tem uma tábua de bons comportamentos sociais, à lá à tábua dos dez mandamentos, portanto, calcados em falsa cristandade, trará insegurança constitucional ao Brasil. Bolsonaristas rasgarão a Constituição. Detalhe: isso não é previsão; já foi verbalizado por eles. Será, pois, o retorno do autoritarismo pelo viés democrático. A Venezuela já vive isso. O povo – ou seja, essa estranha “voz de Deus” – poderá dar a Bolsonaro um papel em branco para ele borrar de amarelo e verde; e borrará.

Em caso de vitória de Haddad, o risco do autoritarismo não sumirá de cena. Para tanto, bastará um aceno no sentido de tentarem livrar da cadeia aquele que, hoje, de lá, à lá chefes do crime organizado, encontra-se preso, mas dá as ordens/coordenadas políticas aos seus fiéis e cegos seguidores. Se isso ocorrer, as armas e as ocupações em lugares fulcrais às democracias, como as universidades, poderão nos visitar sem bater à porta nem pedir licença.

Para fugir desse risco, estrategicamente, teríamos de pensar com o cérebro, não com o estômago. Todos deveríamos tapar o nariz, fechar os olhos e escolher, no primeiro turno, alguém que pudesse, no segundo, derrotar os dois da ponta. Detalhe: na escolha, o candidato do PSDB deveria ser a última das opções, pois, com ele, reapareceria a dicotomia “coxinhas versus mortadelas”.

Enfim, o futuro ruim está desenhado. Todavia, o ruim pode ser amenizado ou piorado: a escolher.