Quarta, 29 Abril 2020 19:22

Enquanto a maior autoridade do país diz “e daí, o que eu posso fazer?” com relação ao coronavírus, sindicatos e movimentos sociais de trabalhadores brasileiros se movimentam para tentar salvar o maior número de pessoas possível. Diante do aumento alarmante de mortes e novos contaminados ao mesmo tempo em que governos pretendem afrouxar as medidas de proteção, sindicatos de Mato Grosso lançam uma carta para pressionar os governos locais. Esse será o tema da entrevista ao vivo (live) da Adufmat-Ssind na sexta-feira, 01 de maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores. A live, que terá início às 19h30, pode ser acompanhada pela página do sindicato no facebook, na qual os participantes também podem escrever perguntas para que os convidados respondam. 

Na entrevista estarão presentes representantes das entidades que assinam a carta exigindo: 

- direito à quarentena para todos até que a pandemia seja controlada;

- transferência de renda mínima aos trabalhadores informais durante todo o período;

- suspensão da cobrança de aluguéis e financiamentos bancários; suspensão da cobrança de água e luz;

- cadastramento da população de rua por meio do CREAS e oferta de meios de higienização pessoal;

- disposição de prédios públicos em desuso e imóveis privados com dívidas junto ao poder público para a moradia da população de rua;

- testagem em massa da população (viabilizada em parceria com institutos federais de ensino, universidades públicas e indústria farmacêutica nacional), além da informação precisa de transparentes;

- investimento em equipes de saúde da família para testagens e acompanhamento das condições de saúde das comunidades, sobretudo as periféricas, indígenas e quilombolas;

- transporte exclusivo para profissionais da saúde, farmácias, supermercados, postos de combustível, bem como auxílio moradia (para que preservem suas famílias);

- oferta do número suficiente de respiradores, fomentando pesquisas para seu desenvolvimento em universidades públicas e institutos federais;

- renegociação de dívidas de micro e pequenas empresas e agricultura familiar;

- ampliação de leitos via estatização dos serviços de saúde e fila única gerida pelo SUS;

- oferta dos equipamentos de segurança individual adequados aos trabalhadores que enfrentam diretamente a pandemia;

- nomeação imediata de todos os trabalhadores aprovados em concursos públicos do SUS, SUAS e INSS e efetivação dos terceirizados e contratados;

- proibição de demissões e redução de salários;

- pagamento dos servidores públicos em parcela única até o dia 30 de cada mês;

- garantia de salário de servidores públicos contratados;

- suspensão do aumento da alíquota previdenciária;

- apresentação e implementação imediata de um plano de custeio da Previdência, com o objetivo de equacionar o déficit atuarial do Regime Próprio de previdência social estadual;

- suspensão da tramitação da PEC da reforma da previdência estadual e de todo e qualquer município do Estado de Mato grosso;

- suspensão de cobrança de empréstimos consignados;

- taxação de grandes fortunas, do agronegócio e dos agrotóxicos;

- suspensão definitiva das PECS de teto de gastos;

- não pagamento das dívidas públicas Estadual e Federal;

- revogação das reformas da Previdência e Trabalhista, que deixam os trabalhadores totalmente desprotegidos. 

A coordenadora da Live, professora Lélica Lacerda, diretora de Imprensa de um dos sindicatos signatários da carta (a Adufmat-Ssind), afirmou que as entidades pretendem também demonstrar à população a necessidade de uma transformação radical da sociedade. “De que adianta o desenvolvimento de inteligência artificial se deixamos seres humanos morrerem de fome todos os dias? De que adianta podermos ir ao espaço, se por negligencia estamos naturalizando as mortes por asfixia de milhares de pessoas? Se no Brasil perdermos a capacidade de nos chocar com milhares de mortes, então o mal-estar civilizatório caminhará pela ruptura com a civilidade? Optaremos pela barbárie? Transformar radicalmente as estruturas desiguais que geram desigualdade: este é o caminho!”, afirma a docente. 

Nessa terça-feira, o Brasil superou o número de óbitos registrados na China – país mais populoso do mundo e primeiro epicentro da COVID-19. Mais de 5 mil pessoas já morreram no país, cujas políticas adotadas foram criticadas até por Donald Trump, um dos últimos a reconhecer a gravidade da doença. Pesquisadores afirmam que os números reais no Brasil devem ser muito maiores do que os registrados, pela subnotificação causada pela ausência de testes. Assim, milhares de certidões de óbitos são emitidas sem a causa da morte ou por motivos relacionados à insuficiência respiratória – que também pode ser causada pela COVID-19.   

No debate de sexta-feira, os convidados também devem falar sobre o motivo real para preocupações como as de Jair Bolsonaro e seus aliados – grandes empresários: a defesa de um projeto de sociedade que precariza a saúde pública, a educação pública, e os serviços públicos em geral para ganhar dinheiro com a privatização dos mesmos. Assim, em meio a uma pandemia que coloca em xeque esse modelo que privatiza e priva pessoas de seus direitos, o governo e seus apoiadores se apressam para ditar regras que os beneficiem.   

Confira, abaixo, a íntegra da carta que será lançada no estado em 01 de Maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores, e acompanhe a live da Adufmat-Ssind na próxima sexta-feira. 

CARTA ABERTA AOS TRABALHADORES MATO-GROSSSENSES EM DEFESA DA VIDA EM TEMPOS DE PANDEMIA

A vida em primeiro lugar! Esse é o mote que deve guiar aqueles que nada têm além da sua força de trabalho para sobreviver. Enquanto patrões e governos encastelados obrigam trabalhadores à trabalharem em meio a uma pandemia mundial que já matou mais de 217 mil pessoas em todo o mundo; mais de 5 mil pessoas no Brasil, já tendo ultrapassado os números chineses.

Por trás do COVID 19, está outro marcador que o Capital tenta esconder, a crise econômica. E mesmo em situação de pandemia mundial mantém funcionando fábricas, bancos, e serviços públicos não essenciais, sem falar dos trabalhadores terceirizados ou contratados presentes em todas essas esferas de trabalho.

É sobre retirar direitos e continuar produzindo a discussão presente à realidade trabalhadora que nada têm a ver com a crise que os capitalistas produziram e que os mesmos impedem que trabalhadores protejam suas vidas. É o genocídio do Capital, ora piorando às condições de vida, ora expondo ao risco da efetiva morte.

No Brasil, o governo negligencia a saúde dos seus trabalhadores e trabalhadoras com jargões “resfriadinhos” ou “gripezinhas”, enquanto a Europa enterra suas centenas de mortes por dia e as estatísticas de mortos e infectados crescem de maneira significativa em escala nacional, na mesma proporção dos países europeus. Para além disso, propõe uma medida provisória que pretende diminuir salários e beneficiar banqueiros com 1,2 trilhões de reais

É chegado o momento de nós trabalhadores e trabalhadoras,não só resguardarmos a nossa saúde, mas de lutarmos por nenhum direito à menos, recuperando direitos que este e outros governos já retiraram. A saúde pública segue sucateada e é a única capaz de combater e atender a COVID-19, a educação pública brasileira sofreu duros golpes nos últimos anos e também é a única que pode desenvolver pesquisa e extensão no combate de vírus e outras doenças.

A flexibilização das leis trabalhistas, onde impôs vários trabalhadores em contratos precários de trabalho e piorou de maneira significativa não só salários, como jornadas e garantias. A reforma da previdência que impossibilita a grande maioria dos trabalhadores brasileiros de se aposentarem e também a drástica diminuição de políticas assistenciais num país que possuí 11,6% de sua população trabalhadora desempregada.

A sanha por dinheiro segue mesmo sabendo que custará a vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras ! Não bastasse este conjunto de ataques que temos amargurado, agora, diante de uma pandemia que paralisou o mundo em quarentena para a preservação das vidas de trabalhadores e trabalhadoras, mais uma vez nossos patrões e governantes demonstram descaso com nossas vidas nos impondo expor nossas vidas em risco para manter seus negócios e lucros, numa política genocida criticada em todo o mundo.

É neste cenário caótico de morte e miséria que os patrões e os governos desenham para nós. Em defesa do direito à vida, os sindicatos e entidades que assinam esta carta vem exigir:

- direito de quarentena a todos, até que a pandemia seja controlada;
- transferência de renda mínima aos trabalhadores informais enquanto a pandemia estiver fora de controle;
- suspensão da cobrança de aluguéis e financiamentos bancários pelo período da quarentena;
- suspensão da cobrança de água e luz no período da quarentena;
- cadastramento da população de rua por meio do CREAS, bem como oferta de meios de higienização pessoal;
- dispor de prédios públicos em desuso, bem como imóveis privados com dívidas junto ao poder público para a moradia da população de rua;
- Acompanhamento da situação da pandemia por meio da testagem em massa da população (viabilizada em parceria com institutos federais de ensino, universidades públicas e indústria farmacêutica nacional), bem como informações precisas e transparentes;
- Investimento em equipes de saúde da família para testagens e acompanhamento das condições de saúde das comunidades, sobretudo as periféricas, indígenas e quilombolas;
- Transporte exclusivo para profissionais da saúde, farmácias, supermercados, postos de combustível, bem como auxílio moradia (para que preservem suas famílias);
- Oferta do número suficiente de respiradores, fomentando pesquisas para seu desenvolvimento em universidades públicas e institutos federais;
- renegociação de dívidas de micro e pequenas empresas e agricultura familiar;
- ampliação de leitos do via estatização dos serviços de saúde e fila única gerida pelo SUS;
- oferta dos adequados equipamentos de segurança individual aos trabalhadores que enfrentam diretamente o coronavírus;
- nomeação imediata de todos os trabalhadores aprovados em concursos públicos do SUS, SUAS e INSS e efetivação dos terceirizados e contratados;
- proibição de demissões e redução de salários;
- Pagamento dos servidores públicos em parcela única até o dia 30 de cada mês;
- Garantia de salário de servidores públicos contratados;
- Suspensão do aumento da alíquota previdenciária;
- Apresentar e implementar imediatamente um plano de custeio da Previdência, com o objetivo de equacionar o déficit atuarial do Regime Próprio de previdência social estadual;
- Suspensão da tramitação da PEC da reforma da previdência estadual e de todo e qualquer município do Estado de Mato grosso;
- Suspensão de cobrança de empréstimos consignados;
- taxação de grandes fortunas, do agronegócio e dos agrotóxicos;
- suspensão definitiva das PECS de teto de gastos;
- Não pagamento da dívida pública Estadual e Federal;
- Revogação das reformas da previdência e trabalhista que deixam os trabalhadores totalmente desprotegidos.

Assinam a carta:

- Associação das/os Amigas/os do Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário Prestes (AAMOBEP);
- Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat / UFMT);
Associação dos Docentes da Universidade Federal de Rondonópolis (Adufmat / UFR);
- Associação dos Docentes da
ABEn-MT (Associação Brasileira de Enfermagem - Seção MT);
- Associação dos docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso (Adunemat);
- ANDES/Sindicato Nacional (Regional Pantanal);
- Clube de mães do Renascer;
- Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica (Sinasefe);
- Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários e do Ramo Financeiro de Mato Grosso (SEEB-MT);
- Central Única dos Trabalhadores ( CUT);
- Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (SINDJOR - MT);
- Sindicato dos Trabalhadores Técnicos Administrativos em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (Sintuf/UFMT);
- Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT);
- Diretório Central dos Estudantes (DCE - Ufmt/Cuiabá);
- Comissão Pastoral da Terra (CPT);
- Comissão Pastoral do Migrante (CPM);
- Sindicato dos Servidores Públicos de Saúde de Mato Grosso (SISMA-MT);
-Fórum de Direitos Humanos e da Terra;
- Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST)
- Fórum de Mulheres Negras de Mato Grosso (FMN/MT);
- Fórum Permanente de Saúde de MT;
- Fórum de População em Situação de Rua de Cuiabá (Fórum Pop Rua Cuiabá);
- Rede Nacional de Medicas e Médicos Populares em MT;
- Coletivo Negro Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso (CNU/UFMT)
- Nós do Renascer;
- Consulta Popular;
- Conselho Regional de Enfermagem (COREN);
- Conselho Regional de Psicologia (CRP). 

Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Sexta, 24 Abril 2020 20:25

 

Ironicamente chamado de "A Reconstrução do Estado", o programa apresentado nessa quarta-feira (22) pelo Ministério da Economia prevê o desmonte total da máquina pública. A proposta foi ofuscada por outro programa, o Pró-Brasil, também anunciado em coletiva de imprensa ontem pelo ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto.

O projeto desenvolvido pela Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia (SEDDM), assinado por Guedes, propõe como soluções centrais para o país pós-covid-19 três eixos: venda de ativos da União; acelerar o programa de concessões e investimentos; e reformas estruturantes.

"Reduzir o tamanho do Estado e reordenar o seu papel na economia, por meio de políticas de desestatização e desinvestimento, incluindo a formulação de novas diretrizes, coordenação e definição de critérios de governança corporativa das empresas estatais federais, bem como a racionalização do patrimônio da União", é a função da SEDDM, conforme aponta o documento.

De acordo com a apresentação disponibilizada pela pasta, as medidas seriam necessárias para recuperar a economia do País. Na previsão do Ministério da Economia, a dívida pública pode chegar a 90% do PIB ao final desse ano.

O arquivo apresenta uma lista de empresas públicas divididas entre as que já estão em processo de desestatização, as passíveis de desestatização e as que não devem ser estatizadas. Nesse segundo grupo, aparece a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – Ebserh.

Programa traz ainda um calendário para a privatização das estatais

 

"Vantagens" da desestatização

Com foco em atender a demanda de empresas e bancos, a SEDDM apresenta, como vantagens da desestatização para o setor privado, a melhoria do ambiente de negócios, a abertura comercial, o aumento da competitividade e o fortalecimento do mercado.

Já entre os benefícios para o setor público, na perspectiva neoliberal, o documento aponta a redução do tamanho do Estado e sua presença na economia. "Vamos transformar o Brasil em uma sociedade aberta e no caminho da prosperidade!", afirma Paulo Guedes, ministro da Economia, ao final da apresentação.

Confira aqui o programa.

Pró-Brasil

Já o Pró-Brasil foi desenvolvido pela dita "ala política" do governo, em conjunto com diversos ministérios. Ou seja, na narrativa construída pelos personagens do Executivo Federal, não se baseia apenas em posições técnicas e, segundo especulações da imprensa, não teria o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes, que não esteve presente na coletiva de imprensa.

O programa reúne ações de todos os ministérios e será coordenado pela Casa Civil. Segundo a pasta, foram definidos dois eixos de ação: Ordem e Progresso. No eixo Ordem serão contempladas medidas como alterações do arcabouço normativo, atração de investimentos privados, segurança jurídica, melhoria do ambiente de negócios e mitigação dos impactos socioeconômicos. No eixo Progresso, estão previstos investimentos com obras públicas, custeadas pelo governo federal, em parcerias com o setor privado.

A fase de estruturação do programa será entre maio e julho. O detalhamento dos projetos serão feitos em setembro para a implantação a partir de outubro.

Imagem: Divulgação

Propaganda racista


Chamou a atenção o cartaz de divulgação do projeto, que foi apresentado durante a coletiva de quarta-feira. Trata-se de uma imagem com cinco crianças olhando para o slogan do governo. Todas brancas.

 

Fonte: ANDES-SN

Sexta, 24 Abril 2020 19:37

 

Em nova programação de distribuição de máscaras, sindicatos de trabalhadores da Educação de Mato Grosso visitaram, nessa quinta-feira, 23/04, os bairros Parque Geórgia, Renascer, Pedregal e Terra Prometida, em Cuiabá. Além da falta de proteção com relação ao coronavírus, os sindicalistas identificaram a ausência total do Estado em todos os aspectos.   

 

“Nós já visitamos vários bairros, e todas essas visitas foram importantes, mas a do Terra Prometida foi a mais desconcertante para mim até agora. Resistentes a duas ordens de despejo, o povo segue  bravamente, agarrado em suas lutas, suas  pouquíssimas coisas, suas casinhas de madeira unidas com papelão, e mirando alvenarias. Não tem asfalto, nem calçamento, nem escola, nem postinho, nem Estado algum. O chão é irregular, de pedregulho e não tem árvores”, descreveu o diretor geral da Adufmat-Ssind, Aldi Nestor de Souza.

 

O bairro, localizado entre o CPA e o 1º de Março, é formado há cerca de 10 anos por 300 famílias, que já sofreram duas ordens de despejo. Em 2018, após o último deles, mulheres, homens e crianças chegaram a acampar as margens da Avenida do CPA, paradoxalmente um dos metros quadrados mais caros da capital mato-grossense.

 

Num período de pandemia, no qual o mundo é ameaçado por um vírus, a realidade brasileira transborda novamente, reafirmando que a luta diária pela sobrevivência é anterior a qualquer doença.

 

Aos mandatários que afirmam zelar pela Constituição Federal, ou mesmo que se arrogam a personalização da Carta Magna, falta a vergonha de assumir que os direitos mais fundamentais à vida, à moradia e ao trabalho, previsto por ela já nas primeiras páginas, são justamente os mais aviltados. Especialmente em períodos de “crise”.

 

A extrema pobreza, convencionalmente abafada por governos comprometidos com “a Economia” e não com a vida, se revelam nas palavras dos mais inaptos, que ocupam determinados cargos nesse sistema – por essencial - mortal. “É a vida, alguns vão morrer”, disse o presidente do país há alguns dias, com a tranquilidade de quem não tem nada a ver com o assunto. E assim a Necropolítica inerente ao capitalismo vai se mostrando.

 

Pelos relatos, os sindicalistas que representam as entidades envolvidas nas ações solidárias - professores e servidores técnico-administrativos da Universidade Federal de Mato (Adufmat-Ssind e Sintuf-MT), da Universidade do Estado de Mato Grosso (Adunemat-Ssind), do Instituto Federal de Mato Grosso (Sinasefe), e ANDES – Sindicato Nacional  - encontraram no bairro cuiabano mais do que pessoas vulneráveis à pandemia. Encontraram famílias carentes de tudo, que se apoiam umas nas outras para enfrentarem cada dia.

 

“As crianças, seminuas, seguiam seus pais, ardentes por uma máscara, por um olhar. O Luis, morador que nos acolheu, um homem amável, nos guiou em todo o trajeto. Conhece todos os moradores, sabe suas horas e ajuda a organizar um pouco a vida lá. Agradeceu com alegria, desejou que voltássemos, ficou com umas mascaras extras para distribuir pra quem não estava na hora”, relatou Souza.

 

Mais uma vez, é a solidariedade de classe que oferece resistência ao projeto neoliberal.  

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Quarta, 22 Abril 2020 18:31

 

“É um consenso entre os cientistas que pandemias por influenza são apenas questão de tempo, devido ao adensamento populacional humano e principalmente com o contato em sistemas de criação intensiva de animais domésticos, além da proximidade com estirpes virais oriundas da fauna silvestre”. A afirmação é da médica veterinária Danny Moraes, doutoranda pela Universidade do Porto com o tema Doenças Virais Emergentes, convidada para a entrevista ao vivo da Adufmat-Ssind (live) que será transmitida pela página do sindicato no facebook na próxima sexta-feira, 24/04, às 19h30.

 

Dessa vez a conversa será sobre o porquê, apesar de todas as evidências científicas, as sociedades não se preparam para combater pandemias como a da COVID-19, podendo causar a morte de milhares de pessoas.

 

Quase cinco meses após o primeiro alerta emitido pela organização Mundial de Saúde (OMS) - no final de dezembro de 2019, a poeira começa a baixar e os questionamentos sobre a doença ganham mais racionalidade. Quando vidas de trabalhadores estão em risco, a centralidade do debate não deve ser a economia capitalista, mas como as sociedades devem agir para proteger a população. Pesquisadores de todo o mundo anunciam que as pandemias, já vistas anteriormente, poderão ser cada vez mais frequentes.

 

“Desde meados do século XVI já houve ao menos 30 episódios pandêmicos. Somente no último século o vírus influenza foi o agente etiológico de quatro pandemias: a Gripe Espanhola, em 1918, que afetou cerca 40% da população mundial, culminando em 50 milhões de mortes (sua transmissão foi propulsionada quando os combatentes da I Guerra Mundial regressaram); a Gripe Asiática, entre 1958-1959, com cerca de 2 milhões de mortos; a Gripe de Hong Kong, que causou a morte de 1  milhão de pessoas; e, por fim, a Gripe Suína, em 2009, com 200 mil mortos e 1,7 bilhão de pessoas contaminadas”, explica Moraes.

 

De acordo com a pesquisadora, as situações que envolvem grandes números de mortes alteraram a maneirade se pensar e conduzir as sociedades, pois materializa o maior medo de todos: o fim da vida. “A dor e a lembrança vívida da perda remetem aos sentimentos mais primordiais e forçam à reflexão sobre o que somos ou construímos enquanto humanidade. A estrutura econômica foi desenvolvida para viabilizar ordenamentos comerciais e sustentar a forma de viver em sociedade. Entretanto, por diversas vezes ela é usada de argumento para sustentar desigualdades e manter privilégios”, acrescenta.

 

Assim, o debate sobre a ausência de planejamento preventivo ou mesmo de recursos para testar a população acusa que a verdadeira prioridade dos Estados neoliberais nunca foi o cuidado da população. No Brasil, a rejeição do presidente Jair Bolsonaro à ciência e à informação agrava o cenário. “A conduta adotada pelo Estado brasileiro em testagem apenas dos casos graves produz dados subestimados e a validação de políticas públicas a partir disto é, no mínimo, irresponsável, pois causa um estado de paz inexistente. O governo brasileiro deveria tratar com seriedade este problema e se reportar à população com clareza e honestidade de informações”, afirma a pesquisadora.

 

Nesse momento, inclusive, a aliança Setor Privado - Governo Bolsonaro força um debate precipitado de normalização das atividades para socorrer a economia brasileira “pós-pandemia”, quando os números de mortos e infectados ainda estão reconhecidamente abaixo da realidade, e especialistas começam a “estranhar” o número de mortos por insuficiência respiratória no país.

 

Nesse sentido, Moraes salienta que o discurso de “tranquilidade" é fortemente patrocinado pelo empresariado brasileiro, a partir de manifestações públicas de figuras como Luciano Hang (presidente do grupo Havan) e Junior Durski (dono da rede de restaurantes Madero), afirmando que as medidas de isolamento social no Brasil serão nefastas aos próprios trabalhadores. As mesmas figuras que declararam apoio ao atual governo durante a campanha reproduzem agora o mesmo discurso, no sentido de que a crise econômica será ainda mais prejudicial à população do que a própria pandemia.

 

Para a pesquisadora, isso representa uma tensão do limite neoliberal, no qual o risco iminente de morte é confrontado à queda da produtividade, causando uma recessão econômica. “Não há margem para atuar com a vida dos trabalhadores. O discurso de que o Brasil está preparado para lidar com a pandemia não condiz com os reiterados cortes do Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda que o Brasil apresente 2,6 leitos de UTI para cada 10mil habitantes (valor considerado adequado pela OMS), eles não estão disponíveis, muito menos são adequadamente distribuídos pelo país. Os cortes na saúde pública servem de sustento ao famigerado ‘Estado mínimo’, e neste contexto pandêmico denotam a bancarrota do capitalismo. Somente com o acesso universalizado ao sistema de saúde, atendimento profilático e maciço, poderemos ter um panorama pouco menos tenebroso do que o que nos espera”, garante a veterinária.

 

Outro indício de que a economia brasileira já se mostrava derrotada antes da pandemia, é o fato de 40% dos trabalhadores estarem na informalidade, e outros milhares desempregados (12,3 milhões no início de fevereiro de 2020). O que a pandemia escancara, portanto, é que o discurso de “Estado mínimo” já não se enquadra para tempos considerados “de normalidade”, e chega a ser inconcebível em tempos de crise.

 

“A nebulosidade trazida pela imensidão de informações e pelo desespero em ver o gestor chefe do executivo tomando decisões arbitrárias e completamente anticientíficas torna iminente a morte das pessoas mais vulneráveis. Sem uma interferência maciça do Estado, com medidas claras, rápidas e objetivas de transferência de renda associada ao fortalecimento do SUS (insumos para os profissionais de saúde, condições de trabalho, estrutura entre outros) não há como transpassar este panorama sem grandes traumas”, finaliza Moraes.

 

O debate com a médica veterinária, que pode ser enquadrado como um tema da Necropolítica (decisões políticas que definem quem, numa sociedade, vai sobreviver ou morrer), será realizado ao vivo na página da Adufmat-Ssind no facebook (acesse aqui) na sexta-feira, 24/04, às 19h. Participe, contribua com o debate, envie perguntas, elas serão respondidas na hora pela entrevistada.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

 

Quarta, 22 Abril 2020 15:51

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Aldi Nestor de Souza*
 
 

Os cordões umbilicais eram tratados com fumo de rolo esfarinhado. Não havia luz elétrica. Carro era aqui acolá, de passagem, na carroceria de um caminhão. As letras eram basicamente sagradas e distantes.  As mãos eram, por óbvio,  calejadas. As notícias graúdas, de longe, das guerras, das pestes, andavam em cordéis e chegavam muito tempo depois. O sol determinava as horas. A lua ajudava no plantio. A chuva era prevista pelas pedras de sal postas no telhado. A ciência era basicamente experiência e tradição. A simbiose com a natureza era uma obrigação. Ainda se mantinha relação direta com os quatro elementos. O mundo governado pelas mercadorias parecia algo muito distante e incompreensível.

Ela, que nunca tinha arredado o pé dali, sabia transformar uma semente de algodão numa blusa, posto que dominava a arte do plantio, da colheita, do fiar, do tecer, do costurar. E tudo produzido naquelas rocas, naqueles fusos, naqueles teares rudimentares, improváveis, inacreditáveis. Naquelas máquinas de costurar a sobrevivência. Naqueles bastidores de bordar o dia a dia. Naquelas tardes sem tamanho.

Ela, que do plantio à xícara, também sabia dar todos os termos ao café; que da casca dos troncos dos juazeiros sabia fazer xampu e creme dental;  que sabia fazer sabão e tingir roupas e tecidos com lama; que sabia montar num cavalo, meter-se no meio da violência das juremas e ir dar conta de uma rês fugidia;  que sabia tirar leite e transformá-lo no mais delicioso dos queijos;   que sabia extrair fogo do choque de pedras.  Ela que achava ofensivo e incompreensível haver lugares onde as pessoas eram obrigadas a comprar água.

Foi inevitável pensar nela, e naquele mundo, quando, por esses dias, depois de mais de um mês convivendo com as consequências do vírus, com as mortes batendo recordes, vi o tilintar dos governantes e uma frota de aviões decolarem rumo ao outro lado do planeta, à China, em busca de uma compra de máscaras. Comprar máscaras na China? Certamente isso seria um espanto grande para ela. Talvez maior do que a esquisitice de se comprar água.

Que máscaras são essas? Do que são feitas? Por acaso é de algum derivado de petróleo? É de algodão? De algum outro tecido? Pensei nela, que parecia saber de tudo,  mas pensei também no desfile de tecnologias, as mais avançadas possíveis, que inundam o nosso dia a dia e que estão prestes a nos roubar todos os movimentos, toda nossa memória, todo nosso saber.  Afinal, que modo de vida é esse que prescinde de gente como ela, saberes como o dela e não dar conta de produzir máscaras? E para onde estamos indo? A quem serve tudo isso que sabemos e produzimos?

Pensei nessa forma de vida a que somos submetidos, amontoados em cidades, automáticos, alheios a tudo a nossa volta, sem saber nada do que produzimos, nada da natureza. Nessa ciência controlada nas mãos de muito poucos e submetida à tarefa urgente de virar tecnologia e, logo, uma mercadoria. Nessa poderosa engrenagem que, mesmo depois de um mês de calamidade, não nos permitiu bolar uma máscara.

Por força da pandemia,  essa engrenagem enlouquecedora parou por uns dias e já deu pra sentir o ar mais limpo; o céu mais vistoso; os animais em passeio, golfinhos nos canais famosos, leões descansando nas rodovias, faisões, pebas e tatus à vontade nos centros urbanos; o petróleo com preço negativo.

Pensei no dia em que ela, já com a idade em alta, passou a viver na cidade, à força, arrastada de seu canto pela ação de um projeto de desenvolvimento que tomou-lhe a terra. Pensei, particularmente, na hora em que, com os olhos embaçados, olhando para aquele amontoado de casas enfileiradas, para aquele monte de gente indo e vindo, ela disse: não há nada que eu saiba fazer nesse lugar.

O que ainda resta de comunidades como a dela, dos quilombos, dos povos tradicionais, vive sob ameaça constante de morte, de desaparecer, na iminência de perder suas terras, de perder suas culturas, de dar lugar ao progresso, de ceder ao fetiche da mercadoria.

Ela, que por acaso era mina mãe, na verdade representava todos daquele mundo. Mundo que viu os anos de 1980 nascerem e darem suas flores. Mundo que, com seus modos, com seu saber, com suas tradições, carregou a história da humanidade até ontem. O saber que vivia nela não era uma mercadoria, nem servia a nenhuma individualidade, era um saber cultural, de todos e compartilhá-lo era um ato de sobrevivência.

O mundo que não da conta de fazer uma máscara, que mata o saber das pessoas, que as transforma em vultos, em meras mercadorias, que alega não ter víveres de reserva  pra aguentar um mês,  acabou de nascer, ainda é um bebê em choro, ainda não sabe como tratar seu próprio cordão umbilical, ainda está em busca de algum fumo que lhe vede a sangria.

A promessa das flores dos anos 80 era a de, com seu cheiro, amenizar esse choro. Mas o que fizeram foi aprofundar o corte.

 

*Aldi Nestor de Souza é professor de matemática e pai de três.

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Quarta, 22 Abril 2020 14:06

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Roberto de Barros Freire*
 

Esses que não respeitam o isolamento social e que não fazem parte daqueles responsáveis pelas atividades essenciais, serão responsáveis por termos que ficar ainda mais tempo nessa quarentena, ampliando a reclusão. Ainda que não sejam a maioria, havendo uma grande obediência as normas de saúde, esses desobedientes são em grande quantidade. Mais ainda, incentivados pela presidência e ignorantes, insensatos, afora saírem em contraposição à norma civilizatória da saúde, poderão causar mais danos, propagando a doença, não havendo hospital para todos, não havendo respiradores para todos, nem UTI, nem ambulância, teremos corpos espalhados por todo lado.


Alguns só perceberão que o Coranavirus é grave quando perderem alguém próximo. A arrogância de se achar acima dos demais, que as doenças não os pegam, e pode ser até que não a sofra, mas a espalhará aos demais, levando para alguém próximo. Ora, é preciso que se perceba que deve haver um esforço coletivo, que não devemos nos dividir, com cada um fazendo o que quer do seu jeito. É preciso civismo e humanismo nesse momento, se perceber como parte do todo, responsável por si e pelos demais.


O que se vê, infelizmente, no país, é uma minoria pedindo não apenas desobediência às normas de saúde e civilizatória, a abertura do comércio e de toda atividade econômica, mas um golpe de Estado, que as forças armadas imponham uma nova ditadura, enfim, algo não apenas contra a saúde, mas um ato criminoso, de terrorismo, que deveria ser punido exemplarmente por estarem proclamando e propagando atos contra a constituição e a imensa maioria da população. Esses poucos loucos acham que são o povo, quando é um bando de gente arrogante com carro importado passeando pela cidade, enquanto o povo está ou trabalhando nos serviços essenciais, ou em casa não propagando o vírus. O povo mesmo está também nos ônibus, está em bairros afastados, está em condições sofríveis de existência, e em grande número, muito maior do que dos carros, e desses infames a proporem o fim da democracia e sem ver a grande maioria; só circulam pelas avenidas refinadas. Não querem conversar como afirma o nosso débil presidente, querem impor a todos suas prescrições fundamentadas nas suas vontades egoístas e mesquinhas tão somente. Falta pouco para esse insano achar que é preciso alguma atitude de força sobre a nação, quando inflamados pelo doido todos desobedecerem a tudo, como nos induz o comportamento errático de Bolsonaro.


Esses que se acham superiores aos cientistas, sábios e a grande maioria da humanidade civilizada, que seguem o isolamento social como forma de mitigar os males da doença, não apenas são péssimos cidadãos, são contrários à humanidade. São favoráveis à ditadura, à tortura, à morte, ao extermínio de tudo (as instituições) e de todos (a oposição). Enfim, devem ser repreendidos, processados e multados, pois que esses só têm no bolso a sensibilidade da sua pequena alma. Sentem mais a perda dos bens do que das pessoas.


Se todos seguíssemos o isolamento, maciçamente, o aumento da epidemia seria contido, e teríamos tempo suficiente para novos remédios e para uma vacina. Teríamos garantido que teríamos recursos hospitalares para abrigar a todos, e algum tempo para nos preparar melhor para o crescimento da doença que sempre pode ocorrer, visto que não temos ainda anticorpos para esse vírus, por ser um vírus novo e desconhecido.


Devemos ignorar o presidente e seus fanáticos seguidores, e num gesto político proclamemos que seguiremos a ciência, os sábios, a experiência bem sucedida dos outros povos, não as vontades presidenciais, que sem base em nada que não seja sua visão estreita e pequena, proclama como se fosse superior a todos do planeta regras equivocadas e prejudiciais. Ainda que cada um esteja em sua casa, estamos juntos contra a doença, esperando o momento certo para retomarmos as atividades normais. Continuemos seguindo as autoridades competentes para nos instruir, os médicos e a ciência.

 

 
*Roberto de Barros Freire é professor do Departamento de Filsofia/UFMT

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Segunda, 20 Abril 2020 23:52

 

Os sindicatos de trabalhadores de Mato Grosso continuam agindo nos bairros distantes do centro da capital do estado numa campanha de solidariedade de classe e conscientização. Na última quinta-feira, 16/04, distribuíram 500 máscaras nas regiões do CPA, Osmar Cabral e Pedra 90.

 

Além do trabalho solidário e fundamental nesse momento, os trabalhadores fazem a disputa de projeto de sociedade, defendendo os serviços públicos, o Sistema Único de Saúde (SUS) e as universidades, o que o modelo capitalista atual tenta, o tempo todo, quebrar. “Esse é o momento propício para isso. A população entende que, de certa forma, são os serviços públicos que estão respondendo ao acirramento que a crise está causando”, afirmou o diretor geral da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind, Aldi Nestor de Souza.

 

O docente, que ajudou a distribuir as máscaras, explicou que a ideia foi fazer a distribuição em locais que teriam aglomeração por conta do pagamento de R$ 600,00 que começou a ser realizado na semana passada. “Nós fomos a casas lotéricas, bancos e realmente tinha muita gente desprotegida. Mas a nossa atividade teve muito aceitação, diferentemente do ano passado, quando as pessoas tinham muita animosidade ao ouvirem falar em serviços públicos. Qualquer atividade que a gente fizesse antes tinha algum tipo de ação de segurança. Agora não, o SUS é unanimidade, todo mundo é favorável à defesa do SUS”, comentou o professor.

 

Dessa vez, a mensagem transmitida pelas entidades via áudio, circulando num carro de som, foi centralizada no fato de a crise econômica não ter sido causada pelo coronavírus. Já havia um contexto de crise, alto índice de desemprego e condições trabalho cada vez mais precarizada quando a pandemia foi anunciada. O coronavírus aprofunda uma condição social já ruim, colocando em risco não só a saúde, mas também a própria vida dos trabalhadores.

 

  

“A população reconhece a importância dos serviços públicos e da distribuição de máscaras nesse contexto. Por isso, eu acredito que as universidades têm de parar com a discussão sobre aulas à distância, retomada ou normalização de suas atividades, e centrar seus esforços na defesa da vida. O calendário que interessa agora é o da defesa da vida”, enfatizou o docente.

 

A “Frente Popular em Defesa do Serviço Público e Solidariedade no Enfrentamento à Covid-19”, coletivo que realizou a ação na quinta-feira, é formada por diversas entidades, como os sindicatos de professores e demais servidores da Universidade Federal de Mato (Adufmat-Ssind), Universidade do Estado de Mato Grosso (Adunemat-Ssind), Instituto Federal de Mato Grosso (Sinasefe), além do ANDES – Sindicato Nacional. Na semana passada, a atividade ganhou a participação do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos da UFMT (Sintuf-MT), que também integra a Frente a partir de agora.

 

“O Coronavírus não é uma gripezinha como disse o presidente. O risco de contrair o vírus é cada vez maior no Brasil. Já são mais de 31 mil pessoas infectadas e praticamente duas mil mortes. Já tivemos mortes no nosso estado e na nossa cidade. Colegas da nossa carreira já testaram positivo para a doença. Então, não adianta ficar pensando que é algo longe, está ao nosso redor e é fundamental prevenir”, destacou a coordenadora geral do Sintuf-MT, Luzia Melo.  

 

 

Os participantes acreditam que outras entidades devem se aproximar nos próximos dias. “Nós queremos formar uma ampla cadeia de solidariedade, transcendendo entidades e incluindo pessoas. Em breve nós teremos uma vaquinha virtual. Estamos nos organizando para convidar quem possa doar parte do seu tempo para produzir, mais a frente, milhares de máscaras”, finalizou Souza.

  

Por meio do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público (Sintep), a Adufmat-Ssind também doou cestas básicas para trabalhadores contratados da Educação que estão sem contrato. O sindicato assumiu o compromisso de fazer essa doação mensalmente, enquanto durar a quarentena. A compra das cestas também envolve outras entidades, pois os trabalhadores da Educação Pública no estado que não têm perspectiva de trabalho e de salário até que as aulas possam ser retomadas são entre 16 e 20 mil.

 

Vale lembrar que a Adufmat-Ssind é um ponto de coleta de alimentos não perecíveis e materiais de limpeza. Interessados em fazer essas doações podem ir até a sede do sindicato, que fica dentro da Universidade Federal de Mato Grosso, quase em frente ao Hospital Veterinário.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind.

Segunda, 20 Abril 2020 15:06

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Lélica Elis Lacerda*
 

O governo brasileiro entende que atender às urgências do sistema financeiro é 7,5 vezes mais importante do que salvar a vida da população brasileira da COVID-19. Esta é proporção de investimento do pacote de salvamento de cerca de uma dezena de bancos, que receberam R$ 1,2 trilhão, em relação aos R$ 160 bilhões destinados ao amparo de mais de 200 milhões de brasileiros. Isso aos trancos e barrancos, depois de muita pressão social para que o governo entendesse que, sem auxílio, a população morreria de fome.
 
Essa prioridade existe porque os bancos nos cobram uma suposta e impagável dívida pública, no valor de R$ 5 trilhões. E já que a prioridade é cobrar dívidas, proponho, aqui, relembrarmos - e cobrarmos! - uma dívida histórica ainda mais antiga.
 
A elite bancária internacional de hoje teve como principal meio de acúmulo de capital o mercado triangular no qual a Inglaterra ganhava dinheiro a partir do tráfico negreiro - venda de pessoas sequestradas e escravizadas. A matéria prima barata e o trabalho escravo das colônias barateavam ainda mais as mercadorias. O dinheiro dos bancos de hoje é proveniente, portanto, das mãos negras e indígenas escravizadas, tornadas mercadorias rentáveis, que produziam ou extraiam outras mercadorias: ouro, prata, açúcar, café, etc. Todo o trabalho realizado pelo povo escravizado serviu para o enriquecimento dos antepassados da elite que hoje abocanha, anualmente, entre 40 a 50% do orçamento federal brasileiro – e a quem o pacote de salvamento econômico de R$ 1,2 trilhões se destina.
 
Nossa elite nacional, por sua vez, foi formada por senhores de escravos, donos de engenhos, de fazendas de café e de minas, nas quais vidas humanas eram consumidas por meio de trabalho penoso e muito açoite para “fomentar” a exploração máxima. O Brasil foi um dos países que mais comprou pessoas escravizadas no mundo e o último país ocidental a abolir a escravidão.
 
Essa elite, sob a violência do açoite e da pólvora, submeteu homens, mulheres e crianças indígenas e africanas a um intenso processo de expropriação formal da humanidade, reduzindo-os a instrumentos de trabalho falantes. Por mais de três séculos, o trabalho escravo barateou o preço das matérias primas da indústria central nascente por meio do consumo dos corpos humanos. A vida útil de um trabalhador escravizado era, em média, de 19 a 25 anos. O que viabilizou essa forma de economia pautada na descartabilidade dos corpos foi a inesgotabilidade de oferta de mão de obra que os brancos europeus encontraram a partir da desumanização de indígenas e africanos.
 
Atualmente, elites de dois países tiveram a desumanidade de ir às ruas para pressionar os governos a determinarem o retorno da população ao trabalho. No Brasil, um desfile de carros importados defendeu que os trabalhadores peguem ônibus lotados para socorrer a economia, pois ela não pode parar, mesmo que voltar ao trabalho custe a vida de boa parte da população periférica, majoritariamente negra. Nos EUA, um aglomerado de homens brancos portando a bandeira da suástica reivindicou quase o mesmo.
 
Não por acaso, Donald Trump minimizou a gravidade do coronavírus, o que faz com que os EUA sejam hoje o país com maior número de mortos do mundo. O presidente estadunidense até mudou a postura diante do caos provocado pela pandemia, mas isso não resultou em nenhuma autocrítica. Pelo contrário, exercendo sua masculinidade branca (e narcisista), projetou a culpa na Organização Mundial da Saúde (OMS) e, tragicamente, se negou a continuar repassando recursos à entidade. No Brasil, temos o único presidente que ainda ignora a pandemia e sai às ruas para cumprimentar as pessoas. Jair Bolsonaro foi eleito pelo The Washington Post o pior estadista do mundo no trato do coronavírus.
 
Evocando o passado escravagista dos dois países, podemos observar quem são as pessoas que ainda estão sem receber a renda mínima – no Brasil aprovada há mais de 15 dias. A resposta é óbvia: trabalhadores autônomos e informais, os mais precarizados, os mais pobres, as mulheres chefes de família, os negros e indígenas.
 
Destinar mais recursos a bancos em vez da garantir uma renda mínima digna para a população passar a quarentena em segurança equivale a um chicote de açoite moderno que pode matar num só golpe milhões de moradores das periferias, no Brasil e nos EUA. Priorizar o setor financeiro em vez do acesso à saúde pública é outro açoite, agora contra as mãos retintas que trabalham para a economia não parar, acabam infectadas e não encontram atendimento nos hospitais. Quando se prioriza bancos e não a compra de equipamentos de segurança para os trabalhadores, é porque o chicote da “responsabilidade fiscal” está agindo em detrimento da preservação das vidas das técnicas de enfermagem, enfermeiras, trabalhadoras da limpeza, entre outras, que estão expostas na linha de frente do enfrentamento ao coronavírus.
 
Persiste, portanto, a concepção de subordinar o sangue retinto aos lucros dos homens brancos e ricos. Isso porque as elites jamais deixaram de tratar os pobres, negros e indígenas como não humanos, meros instrumentos de trabalho, cuja única razão de existir é dar-lhes dinheiro. Quanto mais esta elite nos desumaniza, mais desumana se torna. Por isso são as duas únicas no mundo que defendem abertamente o genocídio ao confrontar a quarentena.
 
Essa postura genocida, racista e patriarcal é tão cega de ódio que não se permite enxergar o caráter coletivo da saúde que a COVID-19 nos convida a compreender. Enquanto houver foco da doença em algum ponto do planeta, ela continuará sendo uma ameaça para todos!
 
Não adianta a Casa Grande pensar que a doença vai afetar apenas a Senzala. Não cabe mais a ideia dos países centrais que nos tratam como colônias habitadas por corpos descartáveis. É tempo de impor, pela luta, o reconhecimento de fato de nossa humanidade, cobrando das elites internacionais o compartilhamento de riquezas e tecnologias produzidas por nós, trabalhadores, capazes de constituir vigoroso sistema de saúde e centros de pesquisa em universidades em todos os países do mundo!
 
É tempo de taxar fortunas, lucros milionários, o Agronegócio e os bancos para garantir a todos o direito de quarentena (e renda) pelo tempo que a pandemia apresentar ameaça. É tempo de investir expressivamente em saúde pública para a constituição de sistemas de saúde capazes de fazer testagem em massa e tratamento dos doentes. É tempo de investir em educação e ciência para o desenvolvimento de equipamentos de segurança, tratamentos e vacinas.
 
Superar o coronavírus no Brasil exigirá, também, a superação da nossa condição de colônia e das elites que se portam ainda como colonizadoras!
 

 

*Lélica Elis Lacerda, assistente social e diretora da Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind)
 

 

Sábado, 18 Abril 2020 00:49

 

 

A pandemia de COVID-19 escancara realidades. Uma delas é que, muito embora alguns grupos utilizem como estratégia o discurso de “não politizar” a doença, é impossível ignorar que as condições que temos para enfrentar a pandemia e as decisões que estão sendo tomadas a todo tempo para enfrentá-la resultam de decisões políticas.

 

Também não é possível ignorar que, diante do protagonismo do setor público, da evidência de que o Estado deve ampliar sua atuação social, o setor privado mostra sua cara e tenta se impor. Ampliar a atuação social do Estado significa reduzir os benefícios concedidos ao setor privado, alcançados, por exemplo, com decisões políticas de “reformar” – na verdade retirar – direitos trabalhistas e previdenciários, entre outras.

 

O mesmo setor privado recebe agora auxílio do Estado no valor de R$ 1,2 trilhão para salvar a economia, enquanto os recursos para assistência social mereceram apenas R$ 160 bilhões. Além disso, as empresas receberam o aval legal para cortar salários e “suspender contratos” (na verdade, demitir), no período de maior necessidade dos trabalhadores. Obviamente não é essa a imagem que o setor quer ver repercutir nos jornais. Por isso, nessa sexta-feira, 17/04, ganharam espaço em diversos programas para demonstrar suas ações de solidariedade.

 

Sim, os empresários brasileiros foram às ruas pressionar os governos a determinarem a reabertura do comércio, colocando em risco a vida das pessoas, mas agora demonstram seu lado humano, formando grupos para arrecadar recursos e viabilizar a entrega de alimentos, materiais de limpeza, realizam o transporte gratuito de materiais e a confecção de máscaras. Também nessa sexta-feira, o banco Itaú, que obteve lucro líquido de R$ 26,5 bilhões em 2019, anunciou a doação de R$ 1 bilhão à sua própria Fundação para que promova ações de combate ao coronavírus. Até o momento é a maior doação vinda da iniciativa privada.

 

Enquanto isso, os serviços públicos assumem a dianteira. Mesmo sendo penalizados por governos neoliberais que ascenderam no Brasil desde a década de 1990 por um suposto “inchaço” no aparato estatal, é na prática que o serviço público demonstra sua qualidade – e imprescindibilidade. Isso impossibilita que sejam interrompidos abruptamente. Vale lembrar que esses mesmos serviços públicos foram assegurados pela Constituição Federal de 1988, ou seja, poucos anos antes do início do seu desmonte.

 

Com a pandemia, o Sistema Único de Saúde (SUS) continua exercendo o seu papel: recebendo e tratando pessoas doentes de forma universal. As universidades públicas, responsáveis por mais de 90% das pesquisas realizadas no país, também continuam exercendo sua função: formando os profissionais que atendem no SUS e em outras áreas, realizando pesquisas para entender doenças e orientar tratamentos, mapear as regiões mais expostas, entre tantas outras coisas.  

 

A Universidade de São Paulo (USP), cujos pesquisadores sequenciaram o genoma do vírus em 48h, já está testando uma possível vacina. A Universidade de Brasília (UnB) também procura medicamentos. Pesquisadores da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) identificaram um alvo potencial para o tratamento da Covid-19. A Universidade de Campinas (Unicamp) desenvolveu testes rápidos. A Universidade Federal do Rio de Janeiro está ocupada com a produção de respiradores pulmonares em massa.

 

Estão resolvendo disputas políticas, em que as grandes potências econômicas, como os Estados Unidos da América, embargam a compra de materiais essenciais para salvar as vidas de pessoas de outros países.    

 

Outras universidades públicas, federais, estaduais e municipais, também trabalham em diversas regiões do país para ajudar. Em Mato Grosso, Universidade Federal (UFMT), o Instituto Federal (IFMT) e Universidade do Estado (Unemat) produzem equipamentos de proteção para os profissionais do SUS, protetores faciais, álcool em gel 70%, além de estudos sobre a projeção do coronavírus no estado e outros materiais informativos. A UFMT também lançou um edital de cursos de extensão voltados ao combate, prevenção, monitoramento e segurança da população frente à pandemia do coronavírus e entre outras - Dengue, Zica, Chikungunya.

 

A retirada sistemática de recursos dessas áreas – saúde e educação - oferece ao setor privado o cenário perfeito para que realizem sua função social: nas universidades, oferecem parceria em algumas pesquisas; os hospitais privados tratam quem pode pagar, é assegurado por algum plano, ou qualquer outro cidadão, desde que o governo garanta o repasse de recurso público para cobrir

os gastos e garantir o lucro.

 

A pandemia de coronavírus coloca as sociedades diante de duas visões de mundo contraditórias, e demonstra onde cada uma pode dar. Economia e saúde não são assuntos dissociados, mas não é a saúde que depende da economia, e sim a economia que depende da saúde. “Essa pandemia demonstra que o Estado brasileiro tem dinheiro, sim, e pode viabilizar as condições para melhoria da saúde pública, dos serviços públicos. Se fez agora, pode fazer a qualquer momento. O que os governos não têm é o serviço público como prioridade”, disse a economista Lucinéia Soares da Silva em entrevista à Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind) nessa sexta-feira (assista aqui a entrevista completa).

 

As contradições são óbvias, estão explícitas, mas nessa disputa de narrativas há muito elementos que podem contribuir ou atrapalhar as escolhas das populações. Nas palavras de Noam Chomsky, “o entendimento não é suficiente, alguém tem de pegar a bola e correr com ela”. O desafio dos trabalhadores organizados está nesse movimento. Apesar de tudo, é tempo de reflexão, de florescer da solidariedade. Há esperança.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

 

 

  

Sexta, 17 Abril 2020 14:29

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Neste tempo de (quase) isolamento social, muitos têm profetizado que sairemos melhores – como seres humanos – após a experiência COVID-19. Será?  

Diante de tantas manifestações positivas sobre o porvir, confesso que, de início, quase que nelas acreditei. Essa minha quase crença se deu pelo fato de eu desejar muito ver a espécie humana, de fato, mais humana.

Um outro fator que me influenciou na quase crença desse futuro refinamento da humanidade foi a arte, sempre sublime. Nunca como antes compartilhamos tanta arte. Nunca como antes trocamos tantos poemas e músicas, todos importantes para o enfrentamento da quase solidão das horas... Talvez, a “live” de Bocelli, cantando na vazia Catedral de Milão, tenha sido o ápice disso tudo.

E as aulas de danças que nos enviam!? Tudo isso junto vai nos dando a sensação de pertencimento – mesmo sem saber exatamente a que – poucas vezes experimentada.

E as experiências de solidariedade?! De receitas culinárias a exercícios físicos e relaxamentos mentais, há um pouco de tudo. Insiro nesses espaços as campanhas para ajudar a matar a fome de tantos que, mesmo em condições “normais” de vida, já não têm como se alimentar no cotidiano feroz de diferentes sociedades.

No mesmo clima de positividade sobre o porvir estão as manifestações de agradecimentos a profissionais indispensáveis, com destaque aos da área da saúde. A eles, aplausos e emocionantes homenagens são vistos mundo afora. Tudo muito lindo e verdadeiro! Tudo muito humano! Enfim, um mundo novo desejado...

Mas, pergunto: desejado por quem?

Por quem já é minimamente humano; por quem já enxerga o outro como um ser que merece respeito; por quem já tem a vida humana acima de tudo; por quem já tem o privilégio de conseguir apreciar boas manifestações artísticas; por quem já é solidário desde sempre; por quem sempre quis ver a humanidade, de fato, mais humana.

Todavia, nem só desse tipo – tipo o trigo no meio do joio – foi “criada” a humanidade; aliás, eu diria que a “criação” da humanidade é bem mais cheia de estranhamentos do que poderíamos supor; portanto, na contramão desses tipos realmente humanos estão o que sempre estiveram, quais sejam: os que não enxergam o outro, a não ser que o outro lhe seja cópia fiel; os que nunca puseram a vida humana, principalmente a dos outros, acima de tudo; os que nunca conseguiram apreciar boas manifestações artísticas e, tampouco, ser solidários, a não ser com seus interesses; os que, por meio de seus espelhos embaçados, acreditam que a humanidade atingiu o apogeu, estando acima de todos, quiçá, só abaixo de um deus, em que pensam e juram acreditar, talvez porque nunca o enxergarão por aqui.

Como exemplos desses tipos, cito as lideranças políticas que, hoje, desrespeitando o conhecimento científico, atuam para desmontar as recomendações de cuidados sociais que visam a preservar vidas.

Cinicamente falando em nome da salvação de economias, tais “mitos” políticos incentivam uma legião de cegos e odiosos seguidores, mesmo alguns escolarizados, como aquele empresário, e tesoureiro do PSL de um munícipio mato-grossense, que atrai para a janela de seu carro um morador de rua, oferecendo-lhe dinheiro e, ao invés disto, quando o rapaz se aproxima, lhe dá um covarde murro no rosto. Desumanidade.

Por tudo isso, que pode infectar bem mais do que o próprio novo corona-vírus, infelizmente, digo que as relações humanas e as desumanas continuarão, basicamente, como dantes nas terras dos abomináveis e boçais mitos.