Quarta, 13 Maio 2020 15:33

 

Por mais que se queira homenagear profissionais da saúde atribuindo a eles superpoderes, a cruel realidade se impõe. No Brasil, mais de cem profissionais da Enfermagem não retomarão a vida após a pandemia. E os registros só aumentam. Por isso, nessa terça-feira, 12/05, Dia Internacional da Enfermagem, os cuiabanos que passaram pela Prainha, região central da capital mato-grossense, encontraram um triste e silencioso ato público: no canteiro central de uma das principais avenidas da cidade, uma cruz e uma vela para cada enfermeiro morto por Covid-19 no Brasil.

 

Em meio à pressão dos governos para reabertura do comércio e restabelecimento da economia capitalista, a Frente Popular em Defesa dos Serviços Públicos e de Solidariedade ao Enfrentamento da Covid-19, que organizou a intervenção em Cuiabá, ofereceu não só uma homenagem e uma denúncia, mas um choque de realidade para a população, uma reflexão: será possível seguir como se nada estivesse acontecendo?

 

Com máscaras, preocupada, a população segue nas ruas tentando garantir o alimento e o dinheiro do aluguel, já que 15 milhões de trabalhadores ainda não conseguiram ter acesso ao recurso emergencial disponibilizado pelo governo federal. Mas quem conseguiu receber também está nas ruas, porque R$ 600,00 certamente não é suficiente para morar e comer.

 

“A sensação é de que será necessário um grande esforço da classe trabalhadora pra cobrar do governo o direito de manter-se em quarentena e salvar-se do vírus, porque as ruas estavam cheias, os ônibus, com as pessoas indo trabalhar”, comentou o diretor geral da Adufmat-Ssind, Aldi Nestor de Souza.

 

E as denúncias são importantes recursos de luta da classe trabalhadora. As cruzes da terça-feira denunciaram que muitos profissionais estão morrendo porque trabalham expostos, sem os equipamentos de proteção necessários. Denunciaram que a saúde pública nunca foi prioridade dos governos neoliberais. Denunciaram que a política adotada pelos governos federal, estadual e municipal é genocida, pois insiste na quebra do isolamento social e coloca em risco a vida das pessoas em nome de uma economia que só beneficia um grupo minúsculo de empresários bilionários.

 

O verdadeiro dilema, no entanto, persiste, pois o direito de existir sempre foi o desafio número 1 da classe trabalhadora. Viver ou continuar alimentando a riqueza de poucos? Cerca de 13 mil brasileiros já não terão mais a oportunidade de responder a essa questão, mas para os sobreviventes é uma escolha inevitável. Há pelo menos três séculos, nos piores momentos de crise, a questão é a mesma: será possível seguir como se nada estivesse acontecendo?

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind       

Sexta, 08 Maio 2020 14:54

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

O coronavírus e todas as epidemias e pandemias, aparecem apenas para retirar o véu, desnudar as estruturas injustas que estão associadas ao poder e que geram pobreza, miséria, fome, exclusão, dor, sofrimento e morte, tudo o mais é secundário ou  leitura distorcida de uma realidade extremamente cruel que caracteriza a ambição humana por poder, riqueza, apego a bens materiais, entesouramento, prestígio e status.

Em poucos meses, um vírus muito pequeno, invisível a olho nu, revelou em imagens o que o mundo todo já sabia há muito tempo, afinal, antes do COVID 19, Novo Coronavírus, inúmeras epidemias e pandemias já assolaram o mundo, matando dezenas, centenas de milhões ou bilhões de pessoas em diversas países.

Como nas pandemias anteriores, também o COVID 19 tem um poder destruidor muito mais do que as tão temíveis armas nucleares ou convencionais que, ao longo da história, quando usadas nas diversas guerras que o mundo tem presenciado tem sacrificado também milhões de vitimas, não apenas os militares que são engajados diretamente nas batalhas, mas principalmente a população civil, com destaque para pessoas totalmente indefesas como crianças, idosos e deficientes.

Durante as guerras, principalmente com o surgimento de avançadas tecnologias que transmitem em tempo real imagens, sons e corpos dilacerados, edifícios, pontes e o outras estruturas totalmente destruídos e destruídas.

Todavia, nesses tempos de coronavírus, não podemos passar o dia todo, todos os dias de quarentena, de isolamento social ouvindo e vendo governantes e os veículos de comunicação massificando e alienando a população através apenas de estatísticas que nos amedrontam com a contagem de números de pessoas infectadas, do número de mortes em cada ponto do planeta, ou sobre as filas da morte em hospitais que não tem leitos de UTI e respiradores; da crise dos sistemas de saúde, da falência dos sistemas funerários, com cenas tristes, tétricas, horripilantes.

Pouco espaço existe para  refletirmos, discutirmos o que estava acontecendo no mundo, no Brasil, em nossos estados, municípios e em nossas comunidades antes da chegada do coronavírus, quais os impactos que o mesmo irá provocar em nossas vidas futuras. Parece que o mundo vai acabar junto com o coronavírus, falta esperança, falta visão quanto ao futuro, como iremos construir um futuro com mais solidariedade, com menos exclusão social, um mundo melhor, um mundo e países que tenham estruturas suficientemente fortes e capazes para enfrentar novas pandemias, talvez piores do que o coronavírus, que o mundo deverá enfrentar, a começar com a catástrofe ambiental que se abaterá sobre o planeta com piores consequências do que as advindas do coronavírus com certeza, a menos que mudanças radicais sejam efetuadas nos modelos de desenvolvimento e de crescimento econômico, o que são pouco prováveis, devido à visão medíocre e tacanha da grande maioria dos governantes e empresários em todos os países, inclusive no Brasil.

Ou seja, precisamos nos preparar hoje, para o que deve acontecer  no dia seguinte, o pós coronavírus, não podemos permitir que governantes e as politicas públicas deixem de considerar as necessidades de sistemas públicos de saúde para que estejam em condições de, realmente, enfrentarem todas e quaisquer epidemias, como os militares realizam em seus estudos de pranchetas ou computadores denominados de “hipóteses de Guerra”, tentando antever quais os fatos portadores de futuro e como controlar os mesmos, antes que uma grande desgraça como a do coronavírus se abata sobre a população.

É ‘interessante” notar como o coronavírus, diferente das guerras, poupa em todos os países as estruturas físicas das cidades e das áreas rurais,   mas também produz cenas que são impactantes: hospitais com corredores abarrotadas de pessoas que estão sofrendo, muitas das quais irão morrer neste processo; como em diversas países, em milhares de cidades vemos intermináveis filas da morte, se não fisicamente, pelo menos pessoas anônimas que em abrigos de idosos, residências suntuosas ou casebres em favelas ou na porta de unidades de saúde, aguardam o passaporte para a eternidade.

Alguns países para combater este inimigo invisível, que Trump e inúmeras autoridades e pessoas que adotam uma visão de mundo definida pela ideologia, que sempre buscam um bode expiatório, um culpado para a origem do coronavírus e ai, a Guerra ideológica vem com toda a força, embasada nas teorias da conspiração.

Os extremistas de direita, os neofacistas, os neonazistas, os liberais e neoliberais não titubeiam em afirmar categoricamente, se possível embasados em mentiras, fake news que eles próprios espalham, não titubeiam em dizer que o coronavírus foi criado em laboratório na cidade de Wuhan, cidade chinesa que foi o primeiro epicentro desta pandemia. Isto seria parte do arsenal de armas biológicas que a China está desenvolvendo, mas que já foram utilizadas pelos japoneses nos anos quarenta do século passado, durante a segunda guerra mundial , quando da ocupação japonesa na China, além dos arsenais de armas biológicas que mais de uma dezena de países possuem e fabricam, como os EUA, Rússia, China, talvez a Coréia do Norte, Iran, países europeus e outros mais.

Como não existem vacinas e nem medicamentos para prevenir ou tratar as pessoas que sejam infectadas ou potencialmente vitimas desta pandemia, a única alternativa ou estratégia tem sido o isolamento social, o distanciamento social, em alguns casos de forma radical como aconteceu na China e na Índia e em alguns outros países, de forma parcial, para evitar aglomerações e aumento de contágios.

Ao lado dessas medidas de isolamento para impedir ou dificultar que o vírus se espalhe  e contamine multidões, causando o colapso dos sistemas públicos e privados de saúde, outras medidas como higienização e o uso de máscaras são adotadas, seja de forma voluntária ou de forma compulsória.

Mesmo com o número de casos e de mortes aumentando de forma exponencial em inúmeros países , ainda existem pessoas, até governantes que simplesmente ignoram a gravidade do problema e o potencial destruidor deste inimigo invisível; alguns, como os presidentes Trump e Bolsonaro, outros governantes em alguns países que preferem ignorar a realidade sanitária e se preocupam muito mais com as dimensões econômicas, principalmente com os lucros e capital dos grandes grupos econômicos, apesar de que para o público invocam dimensões de comiseração com os grupos vulneráveis e excluídos nas sociedades.

A pobreza, a miséria, o desemprego, o subemprego, a informalidade, o sucateamento dos serviços e sistemas de saúde, a violência, o feminicídio, a corrupção e as mortes já existiam bem antes da chegada do coronavírus e nada disso era realmente preocupação de tais governantes, cujas politicas públicas sempre favoreceram e continuam favorecendo o grande capital, os grandes grupos econômicos em detrimento da grande maioria da população.

No caso do Brasil, a desigualdade de renda, de salários, de riqueza, de patrimônio colocam nosso país no topo da pirâmide, a distância social e econômica entre os 1% mais ricos, que estão no ápice desta pirâmide e os 10%, 20% ou 50% mais pobres, incluindo os miseráveis que agora estão saindo da toca (barracos, casebres, palafitas ou das ruas e praças onde “moram”) em busca de um auxílio, uma migalha de R$600,00 seiscentos reais por dois ou três meses, se contrapõe com `as bilionárias renúncias fiscais, incentivos fiscais e sonegação consentida e os privilégios dos donos do poder que todos os anos envergonham o Brasil.

Todos os organismos sociais, seja a ONU e suas agências especializadas como OIT, UNICEF, OMS e outras mais, a OCDE, o Banco Mundial, o FMI e inúmeros estudos e pesquisas ao redor do mundo tem demonstrado que o coronavírus é mais letal em relação aos pobres, favelados e outros grupos excluídos, como moradores de rua e outras pessoas com problemas de saúde preexistentes como diabetes, doenças cardíacas, tabagismo, obesidade etc.

Recentes dados divulgados pela ONU, pela OCDE, pela OIT e diversas organizações não governamentais e universidades, tentam discutir quais os impactos do covid-19, coronavírus em dois aspectos fundamentais da economia e da sociedade: o aumento acelerado dos índices de desemprego tanto no mundo quanto nas diversas macrorregiões quanto nos países e o aumento da pobreza e da miséria (pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza), isto tudo, em relação aos índices de crescimento do PIB ou de recessão que deverão ocorrer de forma diferenciada em cada país.

De acordo com esses estudos o coronavírus poderá provocar um aumento de até 190 milhões de desempregados no mundo, aumentando significativamente os índices de desemprego mundial que em 2009 era de 5,6% e em 2019 caiu para 4,9%. Alguns países como o Brasil apresentavam elevados índices de desemprego e de subemprego. Em nosso país o índice de desemprego em dezembro de 2019 foi de 11% quando 11,6 milhões de trabalhadores formais estavam desempregados; em março de 2020, antes do agravamento do coronavírus no Brasil o índice de desemprego formal chegou a 12,2% totalizando 12,9 milhões de desempregados.

No caso do Brasil aos índices de desemprego formal, mesmo antes do coronavírus, somavam-se aos desempregados em torno de mais 35 milhões de subempregados, trabalhadores temporários ou intermitentes, totalizando praticamente 50 milhões de pessoas.

A situação atual, apenas em meio da pandemia do coronavírus, talvez o Quadro seja muito pior ao final da referida pandemia, as inscrições de pessoas que estão desempregados, ou totalmente sem renda, sequer do trabalho informal, que antes eram classificadas como subempregadas, somam mais de 85 milhões de pessoas.

O problema é que este “corona voucher”, ajuda emergencial, de R$600,00 seis centos reais é apenas por tempo determinado dois ou três meses. Os cenários do pós coronavírus indicam que o desemprego pode atingir até 20% da força de trabalho no Brasil e em outros países , ou seja, o desemprego formal no Brasil, sem contar os subempregados que em março atingiam 12,9 milhões de pessoas, poderá em um futuro bem próximo atingir 21,1 milhões de pessoas em nosso país.

Diante deste quadro social terrível, perguntamos, o que esses 85 milhões de pessoas que hoje estão nas filas quase que mendigando os R$600,00 irão fazer? De onde irão conseguir recursos para sustentar suas famílias, dar de comer aos seus filhos? O governo federal, os governos estaduais e municipais em nome do equilíbrio das contas públicas vão ignorar que essas pessoas vão morrer de fome ou se transformar em turbas, massas que agirão com vandalismo, empurradas pela fome famélica, que não pode ser considerado crime? Será que a resposta do governo será o emprego da violência policial ou o uso das forças armadas e de segurança para a “garantia da lei e da ordem”? ou seja, usar a violência do Estado contra massas famintas e sem emprego? Será isto justo?

Em termos mundiais, a ONU calcula que metade da população mundial ao final da covid-19 estará vivendo na pobreza, ou seja, 3,9 bilhões de pessoas; e que pouco mais de meio bilhão (548 milhões de pessoas )terão sido empurradas para abaixo da linha de pobreza, milhões dessas, tanto pobres quanto miseráveis vivem e estarão vivendo ou tentando, desesperadamente, sobreviverem no Brasil. Este é o resultado da gripezinha que o Presidente Bolsonaro se referiu quando o coronavírus estava apenas chegando ao Brasil, faltou ao mesmo e a sua equipe de governo terem a capacidade de analisarem mais profundamente a realidade e as implicações econômicas e sociais que estavam e com certeza iriam acontecer, como de fato já estão acontecendo. Mas a mediocridade impediu que isto fosse realizado e o que vemos são ações desarticuladas, desesperadas sendo feitas, correndo contra o tempo e ante o avanço acelerado do coronavírus.

No entanto, apesar da gravidade dos fatos e dos cenários pouco animadores quanto ao futuro, pouco se tem falado sobre outros fatores de risco, como por exemplo, mais de cem milhões de pessoas que convivem com esgoto a céu aberto por não terem nem água tratada e muito menos esgoto, seja apenas coletado ou tratado, milhões de pessoas que ainda vivem abaixo da linha de pobreza em nosso país, milhões que para sobreviverem precisam de migalhas que caem da mesa dos poderosos, dos donos do poder, através de programas sociais como distribuição de sacolões, cestas básicas, bolsa família, afora milhões de outras que vivem da caridade pública ou retirando o alimento do dia a dia para si ou para suas famílias em lixões, convivendo com animais peçonhentos, ratos, urubus e outros agentes patogênicos.

Milhões que há décadas vivem no desemprego, na informalidade e no subemprego, que sempre fizeram parte da paisagem urbana e rural de nosso país e que nunca eram vistos por nossos governantes e que agora estão super “preocupados” com o desemprego e com a sorte e o destino dessas massas de excluídos.

Será que o presidente Bolsonaro , governadores e prefeitos não sabiam da realidade social e econômica do Brasil quando pleitearam ser eleitos, não sabiam que no Brasil como em tantos outros países a cada dia, a cada ano os pobres estão aumentando;  o número de miseráveis e estes (os miseráveis) estão morrendo de fome, de doenças, da falta de atendimento no sistema público de saúde que esta praticamente falido?

O que significa esta conversão de governantes que sempre foram insensíveis para esta realidade cruel em que vive nosso país em novos “apóstolos” da solidariedade humana? Será que é uma “conversão’ verdadeira ou apenas estratégia politica de explorar a pobreza para atingirem ou se perpetuarem no poder?

Estudos recentes, tanto alguns baseados na realidade de favelas como Paraisópolis em São Paulo, como Rocinha, Maré, Morro do Alemão no Rio e centenas de outras espalhadas por todos os Estados, principalmente nas regiões metropolitanas, estão demonstrando que a chegada do coronavírus a tais assentamentos sub-humanos terá um impacto muito maior do que a situação atual que tem atingido muito mais as classes alta e média. A chegada do coronavirus nessas áreas empobrecidas onde ao invés de mansões, palacetes são caracterizadas por verdadeiros amontoados humanos, onde em casebres com menos de 30 ou 40 metros quadrados convivem (amontoados) seis, oito ou até dez pessoas.

Como falar em isolamento social, em distanciamento social para milhões de pessoas que vivem nessas condições, até mesmo os espaços públicos nessas áreas são limitados, não existem propriamente ruas ou avenidas, mas becos, vielas, muitas vezes “guardadas”, vigiadas ostensivamente por soldados do crime organizado, do tráfico e também das MILÍCIAS, espécie de marginalidade que, diferente dos traficantes, tem um pé na criminalidade e outro pé nas estruturas públicas.

Como falar em higienização se as vezes não existe sequer o fornecimento regular de água potável? Como falar em higienização das mãos, do corpo e das roupas se essas pessoas não tem renda, não dinheiro para sequer a compra de sabão ou sabonete e muito menos álcool em gel, que além de não existir para compra ainda tem seu preço manipulado pelos especuladores?

É significativo o que falou um professor da USP em relação a esta questão do coronavírus no contexto da realidade brasileira onde o distanciamento é muito mais social e econômico do que físico e isto causa um impacto diferenciado tanto em termos de casos quanto de mortes, quando afirma, “Essa situação de desigualdade não é nova. A doença não nos colocou diante de um quadro novo. O que temos é o vírus expondo claramente essa situação de desigualdade e punindo com a morte os menos favorecidos”, classificou César Simoni, professor do Departamento de Geografia da USP (Universidade de São Paulo) e vinculado ao laboratório de Geografia Urbana da faculdade.

Muita gente imagina que a máscara representa a igualdade, que encobre facialmente as marcas das desigualdades existentes na sociedade, mas isto é um ledo engano, dentro de algum tempo o coronavírus será uma realidade, uma triste realidade do passado, em todos os países, inclusive no Brasil e as mascaras não serão mais usadas, ai as diferenças dos rostos surgirão novamente.

O coronavírus, com ou sem mascaras, irá deixar suas marcas para milhares , dezenas de milhares, centenas de milhares que perderam seus entes queridos e nem sequer puderam despedir-se dos mesmos e nem um funeral digno puderam realizar, milhares não saberão sequer onde foram enterrados seus mortos, milhares em valas comuns. Esta é uma das facetas do pós coronavírus, pessoas que irão conviver com uma dor eterna.

Outras facetas como a pobreza, a miséria, a fome, a concentração de renda, a exclusão social, a falência dos sistemas públicos de saúde, a degradação ambiental, o egoísmo, a insensibilidade dos governantes, os privilégios que favorecem a vida dos donos do poder, seus aliados, os marajás da República, a ganância, todas essas facetas que ajudam a construir a realidade concreta que nos cerca estarão presentes e poderão, inclusive , serem agravadas, para azar de quem faz parte desta realidade como excluídos!

Enquanto isto, os adeptos da direita e da extrema direita em diversas países, inclusive no Brasil, continuam contra o afastamento social, continuam promovendo passeatas e outros atos antidemocráticos e atos ilegais, pedindo o fechamento do poder Judiciário (STF), do Congresso, a volta do AI-5; intervenção militar (autogolpe) com Bolsonaro como presidente (ditador), como fez Getúlio Vargas quando implantou a ditadura do Estado Novo.

É triste e lamentável que, ao lado da pandemia do coronavírus, tenhamos que conviver com uma crise politica, fabricada artificialmente, apenas antecipando debates que deverão ocorrer nas eleições de 2020, se antes não houver nenhum atalho antidemocrático, o que dificulta ainda mais os cuidados e o combate ao coronavírus.



*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
 

 

Quinta, 07 Maio 2020 13:41

 

A Comunidade Acadêmica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), representada pela Seção Sindical dos Docentes (Adufmat-Ssind), Sindicato dos Técnicos Administrativos (Sintuf-MT) e Diretório Central dos Estudantes (DCE) comemora mais uma vitória. Nessa quarta-feira, 06/05, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) decidiu suspender novamente o calendário acadêmico da graduação e pós-graduação, agora por tempo indeterminado, e não aprovou a flexibilização das atividades por Ensino à Distância (EaD).

 

A pressão do governo federal para retomada das atividades, incluindo o Ensino à Distância como possibilidade, preocupou ainda mais a comunidade acadêmica, que debateu e o assunto e apresentou suas considerações à administração e conselheiros. A live exibida na noite de terça-feira com o tema (disponível aqui), contou com a presença de representantes das três entidades e a interação de maus de uma centena de interessados. A mobilização pode ter provocado a retirada do processo de flexibilização das atividades da graduação à distância da pauta.

 

Além de defender que a universidade se concentre na defesa da população e utilize suas ferramentas – pesquisa e extensão - exclusivamente para atuar no combate ao coronavírus, as entidades questionam a efetividade do Ensino à Distância. É de conhecimento geral que parte dos estudantes não tem sequer acesso à internet, e que a compreensão de conteúdo é ainda mais difícil pelo contato não presencial - ainda mais porque muitos cursos precisam praticar o conhecimento em laboratórios. A compreensão é de que o EaD só reproduz - se não aprofunda - o velho esquema social de desigualdade. 

 

A diretora da Adufmat-Ssind, Lélica Lacerda, comentou a decisão. “Hoje a comunidade acadêmica que tem compromisso com o seu povo, com uma universidade vinculada ao interesse popular e não do mercado, ganhou uma batalha importante. A direção da UFMT, a serviço do governo, queria que nós retomássemos as aulas para continuar fingindo que nada está acontecendo, minimizando os efeitos da pandemia, e nós conseguimos colocar o debate de que tipo de universidade nós queremos. Nós não queremos uma universidade que mantenha uma pseudo normalidade enquanto pessoas morrem. Nós queremos uma universidade que produza conhecimento e que tenha práticas que possam aproximar a produção científica às necessidades da população. Se nós estamos passando por uma guerra contra um vírus, uma guerra que, da forma como está sendo tratada, mais de um milhão de pessoas podem morrer, o compromisso dos professores, estudantes, pesquisadores, não é completar calendário escolar,  é desenvolver pesquisa, ciência e extensão que possa ajudar o nosso povo a sobreviver à pandemia e a construir um país muito melhor do que ele sempre foi. E é esse projeto que venceu uma batalha hoje. Um dia muito importante, de comemoração das entidades”, avaliou a docente.  

    

Por meio de nota, o DCE também se manifestou. “Nossa unidade e mobilização garantiram que nossas vidas não fossem postas à prova com um retorno presencial em meio à pandemia. Contudo, a luta por um projeto de educação de qualidade, que supere as desigualdades e proponha uma ciência a serviço do povo é contínua e passa pela defesa do acesso total à educação, e, logo, pelo combate ao EaD. Enquanto diretório, reiteramos nosso comprometimento em ser a expressão do Movimento Estudantil combativo que tem objetivo levar a cabo um projeto popular de educação”, afirmou a entidade estudantil.

 

A comunidade se prepara, no entanto, para a próxima etapa dessa discussão, a partir da provável insistência do governo. A reinclusão da flexibilização das atividades por meio de EaD deve voltar à pauta na próxima reunião do conselho, após discussões dos departamentos e institutos.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Quarta, 06 Maio 2020 19:35

 

Nessa sexta-feira, 08/05, a live da Adufmat-Ssind convida o médico Reinaldo Gaspar, a cientista política Alair Silveira e coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Lucinéia Freitas, para debaterem diferentes concepções de sociedade e, consequentemente, maneiras de como lidar com a pandemia. A mesa "E daí ou O que fazer? As possibilidades históricas da crise" terá início às 19h30, na página oficial do Facebook da Adufmat-Ssind.

 

“E daí?”

E daí que a frase desdenhosa do presidente brasileiro diante das mortes causadas pelo coronavírus expõe a verdadeira face do capitalismo: desprezo total pelos trabalhadores. O presidente até tentou se desculpar depois de mais esse ato falho, mas sua posição elitista é tão consolidada que se faz recorrente. Nessa mesma semana, Jair Bolsonaro consolou a empresária que se referiu aos profissionais da saúde como “pessoas que reconhece pelo cheiro de banho mal tomado e sem perfume”. Diante das câmeras, o político disse balançando os ombros que a atitude não foi agressiva, e se foi não passou de agressão verbal, como as que recebem o tempo todo.

Mas o desdém de Bolsonaro e seus correligionários ao povo se manifesta objetivamente nas ações políticas, sempre preocupadas em beneficiar o mercado, enquanto a população espera em filas quilométricas, faça sol ou chuva, para receber um auxílio muito abaixo do ideal. Do alto do seu conforto, os mesmos empresários que esbravejam contra os trabalhadores que garantem sua riqueza conseguiram autorização para demitir e cortar salários - com bastante agilidade.

Vale destacar que antes mesmo da pandemia Bolsonaro já defendia que os trabalhadores é que deviam se sacrificar pela pátria, abrindo mão de seus direitos por meio da Carteira de Trabalho Verde e Amarela, Terceirização e das enganosas reformas Trabalhistas e da Previdência. Da mesma forma, para o atual presidente, os trabalhadores do setor público deveriam aceitar a redução de seus salários, assim como a população deve apoiar o esfacelamento dos serviços públicos que atendem as demandas populares diariamente, e aos quais podem recorrer em momentos como o atual.

 

“O que fazer?”

Se preocupar, pesquisar, se informar, agir, ser solidário, respeitar, ajudar. Na contramão do projeto de sociedade representado por Bolsonaro, trabalhadores do mundo inteiro agem com relação à pandemia, mesmo sem ter nas mãos a ferramenta mais poderosa para isso: o Estado. Diante de mais uma dificuldade apresentada a quem já sofre com desemprego, doenças, ou até fome, a solidariedade de classe se faz presente e os trabalhadores organizados seguem na luta pela sobrevivência e por dignidade.

Considerando que todos os direitos sociais e trabalhistas duramente atacados no presente foram conquistados no passado por trabalhadores cientes de sua importância no processo de produção de riqueza e inspirados pelas experiências socialistas no mundo, a ideia de que o capitalismo está sendo desmascarado e que o mundo pós-pandemia poderá ser mais solidário e igual preocupa a classe dominante.

Diferentes visões de mundo estão colocadas, mas qual será o fator determinante para definir os rumos das sociedades? Você pode ajudar a refletir sobre isso na live da Adufmat-Ssind da próxima sexta-feira, às 19h. Acesse a página do Facebook do sindicato por meio do link https://www.facebook.com/ADUFMAT-SSIND-211669182221828/?ref=bookmarks e faça a sua pergunta aos convidados durante o debate.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Quarta, 06 Maio 2020 17:24

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Katia Morosov Alonso1

Ana Lara Casagrande2

 

Uma das discussões a ser feita no momento diz respeito ao nosso trabalho num átimo tão difícil quanto o que vivenciamos nos dias atuais. Além de todo panorama político complicado, de assalto aos direitos dos trabalhadores, de negação dos valores democráticos, convivemos com uma pandemia que, para sermos responsáveis conosco próprios e com os demais, devemos seguir o denominado “isolamento social”... A ordem daqueles que pesquisam a Covid-19 é a de ficarmos em casa, recolhermo-nos e evitarmos aglomerações. Para nós professores, isso poderia ser fatal, na medida em que nossa atuação se dá com os outros, juntos, em diálogo, na construção e recriação de saberes e conhecimentos.

A questão que se coloca agora é extremamente relevante: afinal, haveria aprendizagem quando nosso trabalho, aquele de aprender e ensinar, tivesse que estabelecer-se em relação não presencial? Isso vem sendo debatido há anos e a resposta, pelo menos até agora, é: NÃO!

Em uma relação não presencial na distância – ignoremos a Portaria n° 343/2020, que num trágico desconhecimento, como comumente muitos vêm fazendo, reputa ao denominado ensino a distância (nem sequer Educação a Distância (EaD3)) – a panaceia para darmos prosseguimento às nossas atividades docentes, por óbvio, envolve a preocupação com as não aprendizagens, isto é, as desigualdades das condições de trabalho e estudo, bem como o fator psicológico: estão na ordem do dia.

Aprender significou, sempre, compartilhar, debater, estar em relação. Desde Vygotsky à Paulo Freire, há o alerta de que o processo de ensino-aprendizagem exige interação, mediação e diálogo. Para nós educadores, que nos dedicamos a pensar educação, emancipação, leitura de mundo e significar nossas existências, nada mais pueril! Aprendizagem na distância, solitariamente, autodidatismo ou vire-se como puder, não é possível, jamais seria aprender. Como aqui não estamos dedicados a estabelecer tratados novos e outros sobre aprendizagem, acredito que a máxima: aprender significa estar junto em colaboração/cooperação, seja suficiente para entendermos que o trabalho do docente é, justamente, o de prover condições para tanto, entre outros afazeres, é claro.

Pois bem, vivemos em tempos de cultura digital, que não está fora da gente, mas conosco, fazendo-nos e possibilitando pensar modos de produção da vida atravessados pelas denominadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Cultura digital não expressa, apenas, uso mais intenso das TIC, isso é uma ponta das transformações pelas quais passa a humanidade nos últimos vinte anos. Como diz Thompson (2008), pela primeira vez, a humanidade pode experimentar/vivenciar a superação da disjunção do espaço e tempo. O que faz ressignificar nossas experiências todo o tempo, o tempo todo. Claro que temos, ainda, problemas de acesso a determinados recursos, de serviços de comunicação caros e, frequentemente, mal distribuídos. Mas isso não nos impediu de, pouco a pouco, criar outros sentidos para nossas convivências, nossas formas de relacionarmo-nos e de estarmos juntos. Longe de ‘ferramentas’ no sentido instrumental delas, encantamo-nos, para o bem e para o mal, com tecnologias, dispositivos e artefatos culturais que nos caracterizam como praticantes da cultura digital.

Diante disso, há a necessidade de repensar o processo educativo não apenas naquilo que lhe concerne enquanto instituído, uma vez que isso apontaria implicações profundas no modo de organizar o escolar, incluindo as universidades. Pensar sobre tal problemática é essencial, não só pelo isolamento social, mas, sobretudo, por conta daquilo que nos afeta cotidianamente.

Gere (2008) apresenta, de maneira ampla, as características da “cultura digital”, evidenciando os vários âmbitos e domínios de nossas vidas em que se observa a entronização de elementos que transcendem o uso das máquinas e conformam nossos cotidianos, tais como: big data, arte digital, música eletrônica, performance e interatividade, arte e tecnologia, literatura eletrônica, games, o punk e o design gráfico, cyberpunk... Elementos que aliciam e nos fazem presentes em interações e formas de comunicação afetando, portanto, modos de vida. A criação da World Wide Web (WWW), rede que nos faz conectados, é própria da cultura digital. Pois bem, nesse sentido, Castells (2014) denuncia o que denomina de obsolescência da educação:

 

A aprendizagem na maior parte das escolas e universidades é totalmente obsoleta, porque insistem em produzir uma pedagogia baseada na transmissão de informação[...]não precisamos de transmissão de informação, já que ela está toda na internet. (https://www.youtube.com/watch?v=eb0cNrE3I5g)

Como antes anunciado, não se trata apenas de repensar o instituído pelo modelo da escola moderna, teremos, ao que parece, de repensar uma forma de organização institucional que implique os novos modos de viver, que transformaram profundamente a maneira pela qual nos comunicamos e produzimos conhecimento.

Se considerarmos que a informação em si não implica conhecimento, então o desafio que temos pela frente é hercúleo, no sentido de trabalhar outros e novos modos de vida, de consumo e, considerando a instituição universidade especialmente, as novas configurações do trabalho. Esses, então, são os pontos sobre os quais nos debruçaremos aqui.

Muito longe de negar a relevância da defesa da escola pública, gratuita e de qualidade, mas, acrescido a tal bandeira histórica, faz-se necessário reconhecermos que, como projeto histórico, cabe à escola, especialmente a universidade, a formação e produção de conhecimentos fundados naqueles ideais e valores. Isso como chamamento dos mais jovens com relação ao futuro, bem como a insurgência de uma cultura altamente técnica e tecnificada, que se expressa na insegurança econômica, competitividade, no aumento da exploração do trabalho e do trabalhador e na deterioração das convivências, sobretudo, no não reconhecimento do outro, como se esse outro não se conformasse nas mesmas condições dos demais.

Sendo assim, o convite é para juntos construirmos convivências possíveis de um fazer juntos, sem aglomeração por enquanto, embora isso seja parte da essência do humano. Então, a disponibilização de recursos de comunicação que permitam aprendermos colaborativamente é o chamamento do agora. Claro, assentados na clareza de a qual projeto de sociedade a universidade se prestará, pois, a própria educação é uma prática social e um ato político.

Flexibilizar com a mediação das TIC é uma realidade na universidade pública brasileira, muitos projetos de pesquisa e extensão precisaram sim ser flexibilizados. A entrevista a ser realizada com gestores passou a ser mediada pelas tecnologias, bem como as aulas de música, para que beneficiários se mantivessem praticando. Tal estratégia para o terceiro elemento do tripé da universidade precisará ser democraticamente debatido.

Distantes jamais, juntos aprendendo, descobrindo e experimentando é o que os recursos digitais nos ensejam e desafiam. Mais que repositórios de conteúdos, as TIC apoiam a interação, mediação e convivências, tão caras ao aprender. Mais do que nunca, as aprendizagens dependem de nós professores, no sentido de superar a informação em si, o conteúdo pronto e disponível nas redes de comunicação. Do mesmo modo, cabe a nós discutirmos e enfrentarmos, junto com os estudantes, a avalanche das fakenews, dos analitycs, que pretendem prever nossos desejos e, daí, superaremos, quem sabe, a denominada pós-verdade.

É preciso tentar! Saberemos que não cruzamos os braços ou deixamos em um vazio existencial os(as) estudantes imersos na cultura digital e público da instituição que, entre outros, visa estimular o pensamento reflexivo, estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente. Precisamos pensar sim em uma flexibilização que não prejudique aqueles que não terão acesso às condições necessárias para o processo ensino- aprendizagem mediado pelas TIC. Não é objetivo de ninguém, aqui está o ponto comum de todos que estudam a educação na perspectiva crítica, penso, prejudicar estudantes. A questão é seguir da melhor maneira possível. O eixo ensino-pesquisa-extensão precisa seguir. Ninguém esperava a situação pela qual estamos passando, aí cabe à universidade pública, referência na produção de conhecimentos sobre o trabalho com TIC, ser um ponto de despertar da atoniticidade.

O fato é que uma educação de qualidade passará, sem dúvida, pelo crivo da reinvenção, não dos valores democráticos e de liberdade, mas de ressignificação de leituras, de apropriação de linguagens e de compreensão do vivido, aí sim, distantes das panaceias que nos pretendem iguais, constrangidos pelo autoritarismo que tem implicado destruição cotidiana e regular dos nossos locais de trabalho: as universidades públicas. Tentemos, apropriemo-nos criativamente da possibilidade de uso das TIC a nosso favor e não a favor “deles”. Por isso, é tempo de afirmar que os tempos são estranhos e imprecisos... Negar o possível, sem propor alternativas é cômodo, talvez o ato político mais importante agora seja o de nos mantermos juntos em resistência e, sim, fazendo, ensinando. Aprendendo.

 

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1 Departamento de Ensino e Organização Escolar (DEOE/UFMT), Campus Cuiabá. Líder do Grupo de pesquisa Laboratório de Estudos sobre Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação (Lêtece). E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

2 Departamento de Ensino e Organização Escolar (DEOE/UFMT), Campus Cuiabá. Pesquisadora do Grupo de pesquisa Laboratório de Estudos sobre Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação (Lêtece). E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

3 Falar em EaD envolve um conceito específico, historicamente construído, cujo percurso próprio não se assemelha às noções de adaptação postas para a prática pedagógica mediada por tecnologias nas diversas etapas da educação brasileira.

 

Referências:

 

CASTELLS, Manuel. A Obsolescência da Educação. You Tube - Fronteiras do Pensamento. (2014, 07 de abril) (4min14seg) Son. Color. Áudio: Espanhol. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eb0cNrE3I5g>. Acesso em: 15 out. 2019.

 

GERE, Charlie. Digital Culture. London, Expanded Second Edition. Reaktion Books Ltd, 2008.

THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade – uma teoria social. 9ª. ed. Petrópolis RJ: Ed. Vozes, 2008.

Quarta, 06 Maio 2020 17:16

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Althen Teixeira Filho e José Domingues de Godoi Filho*

 

Frente a atual pandemia, a iniciativa do secretário geral da ONU de propor um cessar-fogo de conflitos bélicos no planeta é imprescindível para milhões de necessitados e demonstra um mínimo de senso humanitário.

Guerras são travadas por egoísmos, arrogâncias ou, pela falta de princípios éticos e morais que, há muito, deveriam ser a referência principal nas relações da espécie humana.

Entretanto, bem ao contrário, vive-se outra “guerra”, tão ou mais desumana das que roubam vidas no trovão de um míssil, no sibilo de um projetil ou na agonia de armas químicas.

Essa “guerra” não mata num súbito, mas amargura povos, tortura pela fome, aflige na incerteza do amanhã. Seus “generais”, longe dos campos de batalhas, refestelam-se em caros festins e em luxuosos escritórios urbanos de instituições financeiras. As táticas não visam a morte, mas calculam o domínio subliminar e como converter a energia do trabalho alheio em dividendos pessoais. Nela, botões são gatilhos que digitam cálculos bizarros, transmutando dívidas em repastos de insaciável ganância monetária. O aniquilamento não se faz sobre prédios, mas na desolação da cultura, na ausência do ensino e em profundas trincheiras de obscurantismo. As ordens do dia desvirtuam processos civilizatórios, impedem o progresso, propalam o engodo de promessas jamais cumpridas, jurando um futuro que jamais virá. Os espólios provêm desde vidas intrauterinas, mas também de crianças que choram medo, desesperançadas e degradadas em vidas sem rumo.  A estratégia não usa o impacto do balaço, mas a sutileza de dependência monetária infinda, a artimanha da interferência indevida, a política enquanto arma de corrupção. Essa “guerra” algema em grilhões de falsa moral, exigindo pagamentos não mais devidos, retirando o que não mais se pode cumprir, arrancando o que os povos não mais têm condições de oferecer.

A exploração da força de trabalho e dos recursos naturais pelo “capital” atingiu níveis impensáveis que geraram por questões do tipo, levantadas nos anos 90: - “É preciso merecer viver para ter esse direito? Será útil viver quando não se é lucrativo ao lucro?”

A riqueza mundial produzida é desfrute de ínfimo número de poderosos, nada restando para imensa parcela de miseráveis. Crescem mais o acúmulo das riquezas do que os salários, provocando um sem número de desvalidos. Surgem, sempre exponenciais, o lucro de empresas (bancos, indústria armamentista, de agrotóxicos, farmacêutica, outras), enquanto proventos rareiam ao ponto de não permitir o saciar da fome. Geram-se guetos, favelas, marginalidades sem água, sem esgoto, sem qualidade de vida (se é que podem ser nominadas “vidas”)!

A humanidade está obcecada no egoísmo do acúmulo de bens, na exploração insana da natureza, na financeirização de tudo e de todos.

A pandemia que ora vivemos fere de morte um sistema de especulações, de rendimentos em bolsas de valores, de juros obscenos, de agiotagem, de consumismo desenfreado, de ímpios cálculos que precificam vidas, da primazia de capitais sobre interesses da humanidade.

Então, assim como exigir o fim dos conflitos bélicos, deve-se imediatamente libertar, de uma vez por todas e para sempre, os países dos tentáculos de “dívidas” que sugam energias financeiras, as quais seriam empregadas para o progresso e proteção de cidadãos. A proposta apresentada de simples “suspensão” da dívida por seis meses é grotesca e só atesta falta de dignidade e excelência.

Esta “alforria” seria um marco civilizatório regido por lucidez, bom senso, humanidade, benevolência, amparo, caridade...

Nosso planeta precisa e merece ser, minimamente, mais humano!
 

*Althen Teixeira Filho – Professor da Universidade Federal de Pelotas/Instituto de Biologia – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
 José Domingues de Godoi Filho – Professor da Universidade Federal de Mato Grosso/Faculdade de Geociências – O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
 

Terça, 05 Maio 2020 14:16

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Roberto de Barros Freire*

 

O atual ministro da saúde que foge da imprensa, dos governadores, dos compromissos com a sociedade, é apenas um fantoche. É visível até seu constrangimento diante das câmeras de televisão, por ter que fazer um esforço gigantesco para não mencionar o isolamento social como prática necessária diante do crescimento da doença. Um exercício de contorcionismo para fugir da verdade dos fatos.


Afirmou na semana passada que a pandemia estava diminuindo no país, e hoje vemos que ela está aumentando, e muito, não é pouco não, milhares de vezes mais do que gostariam as autoridades. Muito mais do que previa o atrasado Osmar Terra, conselheiro do presidente, que olha a medicina com olhos moralistas ao invés de científicos.


Diante do enorme crescimento dos números, o que o ministro (sic!) faz? Diz que os números são diferentes em diferentes lugares do país, um tratado geral do óbvio. E o que recomenda? Nada, silêncio absoluto. Não pode dizer para mantermos o isolamento social ou o ampliemos, como seria o recomendado pela medicina e ciência, pois isso desagradaria o chefe, e ele está lá para servir ao chefe, não o país. Não diz o que fazer, nem ao menos recomenda que usemos máscara e higienizemos as mãos. Enfim, ele está lá para constatar a praga e nada fazer, e desconversar com a nação sobre as atitudes a serem tomadas. Nada a recomendar, nada a defender, nada a dizer nem ao menos para as famílias das vítimas que não tiveram uma UTI e que agora nem têm onde serem enterrados seus mortos. Fica dizendo que precisa melhorar os números, mas nem melhora a testagem, nem toma atitude com os números desagradáveis que já temos, e que se melhorar a amostragem, vai piorar ainda mais o quadro de infecção, o que deveria obrigar, se fosse sensato e não um capacho de Bolsonaro, a pensar em alguma instrução para a ampliação do isolamento social, para educar os bolsonaristas a não agirem contra o país em suas manifestações.


É uma vergonha ver um adulto prestar um serviço tão servil, tão medíocre, com atitudes mais de um servo ou escravo do que de uma pessoa livre e autônoma. Pode ser médico de formação, mas é um office boy do presidente. Tenho dúvidas se ele sabe a gravidade que vivemos, tão encantado está em agradar e servir seu dono, digo chefe.


Nossa saúde que nunca foi uma prioridade das autoridades governamentais, nem teve muitos recursos para consertar seus gargalos históricos, está acéfala, doente, incapaz de ser uma liderança e a indicar as recomendações necessárias para atravessar a pandemia. A troca de Mandeta foi uma aposta na doença, pois a doença talvez sirva a Bolsonaro para dar uma desculpa pelos resultados pífios que tem a oferecer com seu governo errático e criminoso. A doença parece servir aos interesses inconfessáveis do presidente, que como mostram as manchetes, apenas tem sarcasmos para aqueles que lhe indagam: “E daí? ... quer que faça o quê?”, diz o presidente desaforado diante do número de mortos. Queremos que ele tome uma atitude de gente grande e razoável. Temos que torcer que os governadores mais sensatos melhorem a saúde, pois a depender do governo federal, estamos em péssimas mãos. Nossa saúde caminha para o coma.


Temo que o mesmo ocorrerá agora na Justiça e na Polícia Federal, com pessoas que estarão a serviço do presidente, não do país. O presidente cerca-se de capachos e aduladores, como o ministro da saúde, que lá está para fazer a vontade do líder, não o que obriga a lei.
 
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Terça, 05 Maio 2020 14:04

 

Nunca conseguimos terminar de contar nossos mortos! Sobre o sangue dos indígenas mortos, escorreu o do povo africano escravizado e açoitado; escorreu o sangue de nossas lideranças  desde Zumbi dos Palmares, Dandara e Tereza de Benguela, a Marighella, Margarida e Marielle. Jamais paramos de enterrar os nossos!

 

E se não bastasse matar, querem apagar nossa existência! Quantos dos mais bravos dentre nós foram enterrados como indigentes? Quanta ocultação de cadáver escondeu de nós mesmos as memórias mais caras da nossa própria luta?! E assim o fazem com a pandemia, subnotificando casos e enterrando corpos sem contabilização!

 

Diante da crise que se aprofunda, o capital rosna expondo seus dentes fascistas e a elite brasileira ergue o chicote contra nossos trabalhadores. “Alguns vão morrer, mas a economia não pode parar!”

 

São de mulheres e negros a maioria dos corpos dos quais se desdenha com o sonoro “E daí?”, lançado pelas elites pela voz do presidente da república diante de 5 mil mortes! E a perspectiva é que ultrapassaremos um milhão.

 

Como o senhor da morte que sempre se apresentou, o bolsonarismo faz dela o motor de seu poder! Não bastasse a gravidade que representa a crise sanitária que atravessamos durante a maior pandemia deste século, ainda temos de suportar um governo genocida que sadicamente atrasa o auxílio emergencial para ter o sórdido prazer de ver o desespero dos mais pobres expondo suas vidas para terem o que comer. Por isso autorizam demissões e redução de salários, permitem o aumento dos preços, sucateiam nossas escolas, tiram recursos de nossas pesquisas e hospitais até mesmo em meio a pandemia. Matam nossos trabalhadores para enviarem a maior parte do dinheiro de nossos impostos aos bancos.

 

Eles cometem todas as atrocidades à luz do dia, sem meias palavras. Não que não esperam que reajamos; contra isso, anunciam mais morte! Com todas as letras falam do projeto autoritário que pretendem construir para conter a revolta popular: criminosamente, pedem o fechamento do Parlamento e do Supremo Tribunal Federal (STF), além de aparelhar a Polícia Federal; perseguem a imprensa, os artistas, professores e cientistas; reivindicam o moralismo e a “família de bem”, marcada pela hierarquia e violência; querem fechar escolas e universidades para impor religião no lugar da ciência.

 

Covardes como sempre, fazem-no num momento em que o afastamento das ruas é condição de luta pela sobrevivência de um povo largado a própria sorte em meio a maior crise sanitária do século, talvez da história brasileira.

 

A Adufmat-Ssind vem, por meio desta nota, afirmar também com todas as letras que não esquecerá dos corpos tombados pelo escravismo colonial, nem dos militantes assassinados pelas ditaduras ou dos jovens negros periféricos chacinados pela política militar, nem dos que se foram por negligência pela COVID-19. Por cada um, lutaremos por memória e justiça!

 

O sindicato não se calará diante do peso dos anos de chumbo, nem aceitará que homens ricos, brancos e nefastos ao povo brasileiro ditem os rumos do país à revelia da vontade popular!

 

A Diretoria

Terça, 05 Maio 2020 10:50

 

 

O mundo ainda nem se recuperou do caos provocado por uma pandemia e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) já se preocupa com a volta as aulas. Aliás, no continente latino e, especialmente, no interior do Brasil, onde a UFMT está localizada, é possível que o pior ainda nem tenham chegado. Mesmo assim, membros do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) debaterão, nessa quarta-feira, 06/05, a possibilidade de retomar as aulas à distância.

 

Por esse motivo, representantes docentes, técnico-administrativos e estudantis farão um debate por meio de live na noite de terça-feira, 05/05. A ideia é qualificar o debate e apresentar propostas afirmando que a universidade tem de funcionar, sim, atendendo aos anseios da população, isto é, direcionando todos os seus recursos para o combate ao coronavírus. 

 

“No momento do enfrentamento à pandemia da COVID-19, o papel da universidade pública brasileira é fundamental, colocando sua produção científica e tecnológica a serviço da vida, com a colaboração de todas suas áreas de conhecimento: profissionais de ponta e conhecimento acumulado para colocar à disposição das múltiplas e complexas tarefas necessários para a defesa da vida da população”, afirmam os representantes da comunidade acadêmica num documento que será apresentado durante a live e entregue à Reitoria.    

 

A defesa, no entanto, é de que as aulas continuem suspensas. As entidades afirmam que grande parte dos estudantes não tem condições de acompanhar as aulas à distância, e que o contato professor – aluno é imprescindível para o aprendizado.

 

Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind), Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos (Sintuf-MT) e Diretório Central dos Estudantes (DCE) afirmam, ainda, que sempre defenderam uma universidade comprometida com seu povo e não com o mercado e, por isso, denunciam também a política de morte apresentada pelo governo atual. Nesse sentido, a universidade pública precisa adotar rumos diferentes. Assim, as propostas que serão apresentadas à Reitoria e ao CONSEPE sugerem:

 

1)    manutenção da suspensão de atividades didáticas de ensino na graduação e pós graduação, bem como qualquer etapa necessária para o ingresso 2020/1 que coloque a vida dos estudantes, técnicos e professores em risco;

2)    construção de um plano estratégico de ações no âmbito da pesquisa e da extensão com financiamento público de bolsas e demais despesas necessárias para o desenvolvimento de conhecimentos, tecnologias e técnicas focadas no enfrentamento e acompanhamento da pandemia, dentro das possibilidades das áreas de conhecimento da universidade;

3)    adesão voluntária de docentes, técnicos, pesquisadores e estudantes a esses projetos de pesquisa e extensão, respeitando as condições psicológicas e estruturais de poderem ou não se engajar nessas ações;

4)    criação de um comitê para coordenação e acompanhamento das ações, com representação democrática de todas as unidades acadêmicas.

 

Durante o debate ao vivo desta terça-feira, 05/05, às 19h30 os ouvintes poderão interagir com os convidados enviando perguntas e comentários. Acompanhe a live na página da Adufmat-Ssind, de sua opinião, tire suas dúvidas. O acesso à página oficial da Adufmat-Ssind no Facebook pode ser feito por meio do link: https://www.facebook.com/ADUFMAT-SSIND-211669182221828/.

 

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Segunda, 04 Maio 2020 10:12

 

 

 

Uma das tantas facetas cruéis da nossa sociedade excludente que se aprofunda com a pandemia do novo coronavírus é o capacitismo. A discriminação e opressão às pessoas com deficiência se expressa ao considera-las inferiores, incapazes de produzir, de trabalhar, de aprender, amar, cuidar, de sentir desejo e de serem desejadas. Tem por base uma normatividade opressora, que inviabiliza.

Para entender como essa opressão se intensifica nesse momento e como lutar pela inclusão e garantia de direitos às pessoas com deficiência, o ANDES-SN conversou a docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marinalva Oliveira.


“Os discursos e práticas que envolvem o capacitismo têm a tendência de achar que a “não deficiência” é o “normal” e que pessoas com deficiência precisam se virar para se encaixar na norma. Hierarquiza as pessoas em função da adequação dos seus corpos à corponormatividade e capacidade funcional”, explica a docente.


Marinalva coordena o Laboratório de Inclusão, Mediação simbólica, desenvolvimento e aprendizagem (LIMDA) da UFRJ. Tem orientações em dissertações de mestrado na área de desenvolvimento e aprendizagem de crianças com síndrome de Down e formação de professores para a educação inclusiva de pessoas com deficiência. Atua com temas como Desenvolvimento e construção de conhecimento em crianças com síndrome de Down, com suporte na Teoria Histórico Cultural de Vygotsky, além de trabalhos concentrados nas politicas públicas de inclusão para pessoas com deficiência intelectual.

ANDES-SN: Como o capacitismo se expressa em nossa sociedade?

Marinalva Oliveira: A nossa sociedade é baseada numa cultura de maximização da produção e do lucro. Nessa lógica, as pessoas com deficiência constituem-se em sinônimo de ineficiência, improdutividade, consideradas incapazes de contribuir nessa sociedade, que tem suas relações definidas pela produção e pelo lucro, afastando aqueles que não atendam às suas demandas -  os improdutivos. Isso acarreta práticas capacitistas, que têm como consequência o estabelecimento de limites. Esses limites impossibilitaram, por anos, que pessoas com deficiência tivessem condições de lutar, em igualdade, por direitos na sociedade.

As barreiras impostas às pessoas com deficiência para acesso à Educação Superior, por exemplo, têm relação com a imposição de uma sociedade que os elimina e que se fundamenta na cultura do capacitismo, na qual pessoas com deficiência são vítimas, sendo perversa a concepção de igualdade de oportunidades para todos, que acaba por responsabilizar a pessoa pelo seu sucesso ou fracasso na sociedade. Isso tem como consequência, no processo de inclusão de um modo geral e, mais especificamente no caso das pessoas com deficiência, a prática do princípio da “normalização”.

Ou seja, quando o reduzido número de pessoas que chegam ao Ensino Superior tem a obrigatoriedade de se adaptar às metodologias utilizadas, que em sua maioria se baseiam na concepção meritocrática e normalizadora, através da qual a pessoa é percebida por sua capacidade individual, intelectual e sua condição de produtividade.

ANDES-SN: Você acha que o capacitismo se aprofunda nesse momento, em relação às medidas adotadas para conter a pandemia do novo coronavírus?

Marinalva Oliveira: O capacitismo se aprofunda na atual conjuntura, pois sequer há medidas capazes de proteger a pessoa com deficiência. Ou seja, estão mais do que nunca invisíveis nas medidas restritivas como isolamento e distanciamento sociais, além da comunicação como medida de informação, não ser acessível.

É importante destacar que a deficiência por si só não coloca a pessoa no grupo de risco. No entanto, as comorbidades a coloca. Diabetes, hipertensão, problemas cardíacos são doenças mais presentes em algumas pessoas por conta da deficiência, além da baixa imunidade que acompanha algumas pessoas com alterações genéticas. As pessoas com síndrome de Down, por exemplo, possuem problemas respiratórios, baixa imunidade, hipotonia, que dificulta no processo respiratório. A Covid 19 ataca diretamente o sistema respiratório, assim estas pessoas estão no grupo de risco.

Além disso, por falta de políticas públicas que propiciem a autonomia, muitas pessoas com deficiência não são independentes e precisam de apoio de cuidadores, geralmente as mães. O auto-isolamento e o distanciamento social podem ser impossíveis para aquelas que requerem apoio para comer, vestir-se ou banhar-se.

Outro ponto a ser considerado no aprofundamento do capacitismo em tempos de pandemia do coronavírus é a comunicação que vem sendo feita, muitas vezes excluindo o acesso à essa parcela da população.

Neste momento de isolamento obrigatório para quem pode, as redes sociais têm sido uma das poucas formas de comunicação. Por isso, é mais do que imprescindível possibilitar acessibilidade comunicacional a todos e todas. Se já estamos isolados e isoladas no contato humano, não vamos ampliar o isolamento das pessoas com deficiência, que já são cotidianamente excluídas.

Inclusive as campanhas de proteção e ou prevenção veiculadas na grande mídia e em vários canais de comunicação não tem acessibilidade comunicacional (interpretes de Libras, legendas e áudio descrição). As pessoas cegas precisam de materiais com áudio descrição ou em braile, as pessoas surdas, de materiais visuais. Já as pessoas com deficiência intelectual precisam de uma comunicação com linguagem simples.

ANDES-SN: Quais são as ações imediatas que você acha que devem ser tomadas pelos governos para preservar as pessoas com deficiência nesse momento de pandemia?

Marinalva Oliveira: É fundamental termos medidas para proteger as pessoas com deficiência e seus familiares. O Brasil possui cerca de 22% da sua população com algum tipo de deficiência. As deficiências são classificadas como leve, moderada ou severa e os riscos e os cuidados variam de acordo com o grau de dependência. Além de seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e demais autoridades sanitárias, em se tratando das pessoas com deficiência é importante os governos cumprirem o que consta na LBI (Lei 13.146/2015, art. 10): "Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será considerada vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua proteção e segurança."

Portanto, cabe ao Estado cumprir seu dever em relação à proteção das pessoas com deficiência, dada a situação de duplo risco, saúde e social, a que estão sujeitas com a pandemia. Se não forem adotadas medidas urgentes, será impossível conter o avanço da Covid-19 entre as pessoas com deficiência, o que levará a centenas de infectados, podendo acarretar complicações da saúde destas pessoas, bem como um grande número de mortes de pessoas com deficiência e de seus familiares (cuidadores).

Precisamos ter campanhas de esclarecimento com comunicação acessível e também ações por parte do poder público. Os cuidadores podem ser infectados pela Covid-19, por isso é importante ter outra pessoa já treinada para assumir o cuidado da pessoa com deficiência. Os intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras) devem ter cuidado redobrado com a higiene das mãos por tocarem o rosto durante a comunicação. Pessoas com deficiência que utilizam cadeiras de roda, muletas, bengalas e andadores terão que fazer a limpeza adequada. Ter atenção redobrada por parte das pessoas responsáveis às pessoas que não conseguem dizer o que estão sentindo, por exemplo, quem tem deficiência intelectual tem dificuldade de relatar mal estar e outros sintomas.

Outra questão importante é divulgar amplamente que as pessoas com deficiência têm direito ao atendimento preferencial, conforme assegura a Lei Brasileira de Inclusão (LBI): Seção Única Art.9º - A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: I. proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; II. atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público.

ANDES-SN: Assistimos ao prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, dizer que as escolas vão voltar a funcionar aos poucos e que as crianças com deficiências serão as primeiras a retornarem às aulas. O que tem a dizer sobre isso?

Marinalva Oliveira: Crivella deveria cumprir o que consta na LBI, que em seu artigo 10 declara que, em estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será considerada vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua proteção e segurança. Portanto, cabe ao Estado cumprir seu dever em relação à proteção das pessoas com deficiência. Muitas dessas crianças estão no grupo de risco do novo coronavírus, pois apresentam baixa imunidade, problemas cardíacos, outros fatores comprometedores e não podem servir de cobaias dessa prefeitura.

A declaração de Crivella é irresponsável e criminosa, indo na contramão das orientações da OMS e da LBI. Acho que isso envolve, ainda, a discussão sobre direitos humanos, a proposta do prefeito Crivella é de expor justamente as crianças mais vulneráveis a retornarem à sala de aula. É uma medida eugeunista, neonazista, criminosa.

*As opiniões contidas nesta entrevista são de inteira responsabilidade dos entrevistados e não necessariamente correspondem ao posicionamento político deste Sindicato

 
Fonte: ANDES-SN