Quarta, 03 Março 2021 10:49

 

 

O cenário é alarmante. O Brasil registrou 1.726 mortes por Covid-19 nas últimas 24h nesta terça-feira (2). Mais um recorde macabro. O maior número de óbitos em um dia desde o início da pandemia.

 

Desde o dia 21 de janeiro, a média móvel de mortes tem se mantido acima de 1.000 pessoas por dia. Em vários estados, a situação já é pior do que o pico da pandemia no ano passado e o país superou a marca de 257 mil óbitos. .

 

Vagas de UTIs em hospitais públicos e privados estão esgotadas em vários estados do país. Onde ainda não se deu o colapso, está em vias de acontecer. De acordo com dados das secretarias estaduais de saúde, as taxas de ocupação são de, pelo menos, 80% em 19 estados. Em nove regiões, passa de 90%.

 

Filas de pessoas à espera de um leito já se tornaram uma realidade. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a taxa de ocupação de UTIs para Covid-19 atingiu 101,08% e 136 pessoas aguardavam uma vaga no último sábado (27). Em alguns estados, cirurgias eletivas começaram a ser suspensas, como em Minas Gerais e no Paraná.

 

A servidora estadual da Saúde no Rio Grande do Norte Rosália Fernandes relata que a taxa de ocupação de UTIs no estado é de 95% e a situação é de “estrangulamento completo da rede pública e privada”.

 

“De 16 a 28 de fevereiro, 39 pacientes morreram sem conseguir acesso a uma UTI. Há casos de pessoas que tiveram de ser entubadas dentro de uma ambulância do Samu porque não tinha vaga na UTI. As trabalhadoras e trabalhadores da Saúde estão esgotados, sem férias, sem licença, trabalhando em meio a esse caos”, contou Rosália, que também é integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.

 

“Diante dessa situação, vemos o governo federal seguir uma política genocida e os governos tomarem medidas paliativas. O prefeito de Natal, que é do PSDB, decretou o fechamento das praias nos finais de semana, mas mantém as escolas abertas e desde o início da pandemia permite a circulação dos ônibus com apenas 70% da frota, causando aglomeração de pessoas. Mesmo sendo médico, indica o uso de ivermectina para o tratamento da Covid, que não tem eficácia comprovada”, denuncia. “Já a governadora Fátima Bezerra, do PT, fez um decreto meia boca. Definiu toque de recolher das 22h às 5h da manhã, mas até esse horário tudo funciona, inclusive as escolas, shoppings, comércio. Enfim, a mesma política do prefeito e do presidente Bolsonaro”, completou.

 

Segundo Rosália, a CSP-Conlutas/RN, juntamente com outras centrais e entidades, irão entrar com uma ação popular para exigir lockdown no estado. “Hoje não basta abrir mais leitos de UTI. É preciso um lockdown de verdade para barrar a proliferação do vírus para desafogar a rede. Por isso, todas as atividades que não são essenciais devem ser fechadas”, afirmou.

 

Secretários de saúde pedem toque de recolher

 

Apesar dessa situação gravíssima, Bolsonaro segue agindo de forma criminosa. Esta semana, criticou os decretos de toque de recolher anunciados por alguns governos, falou contra o uso de máscaras e o isolamento social e minimizou o colapso nos hospitais. Uma política genocida!

 

Secretários estaduais de Saúde divulgaram uma carta na segunda-feira (1°) em que afirmam que o Brasil vive o “pior momento da crise sanitária”. No texto, os 27 secretários dos estados e do Distrito Federal apontam a baixa cobertura vacinal e ausência de uma coordenação nacional como um dos fatores para a queda na adesão a medidas de isolamento.

 

Pedem uma lista de medidas para tentar evitar o colapso na rede de saúde, entre elas, a determinação de um toque de recolher nacional das 20h às 6h, suspensão das aulas presenciais e lockdown nas regiões com ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação de casos e mortes.

 

Vacina, lockdown e auxílio emergencial, já!

 

Em artigo, os integrantes da SEN da CSP-Conlutas Atnágoras Lopes e Irene Maestro denunciam a política genocida de Bolsonaro e as medidas insuficientes tomadas pelos governos.

 

“Em São Paulo, por exemplo, enquanto a equipe de médicos e sanitaristas, que assessora o governador João Doria, recomenda lockdown, ele baixa um decreto de toque de recolher das 23h às 5h da madrugada, hora em que a maioria do povo já está em casa. Em diversos outros casos a contradição é que esses mesmos governadores e prefeitos insistem em impor a exigência de volta às aulas presenciais, submetendo toda comunidade escolar a um maior risco de contaminação e morte. Diferente nos discursos, na verdade, acabam sendo parte dessa política geral irresponsável”, afirmam.

 

Ambos denunciam ainda que não bastassem a falta de leitos nos hospitais, vacinas, auxílio emergencial e emprego, os trabalhadores ainda enfrentam uma brutal carestia e ataques do governo Bolsonaro que em meio a essa grave pandemia aproveita para “passar a boiada” com projetos de privatizações, cortes nas áreas da Saúde, Educação e Ciência, retirada de direitos do funcionalismo e ataques aos serviços públicos, entre outros.

 

Os dirigentes defendem que é preciso construir um calendário e formas de luta comuns e debater a necessidade de construção de uma greve geral sanitária para enfrentarmos o terror que está sendo imposto as nossas vidas.

 

“É hora de fortalecer nossa resistência e desenvolver ações concretas em defesa e auxílio emergencial e lockdown geral, já; vacina para todos e quebra das patentes; estabilidade no emprego, redução e congelamento dos preços dos alimentos, combustíveis e gás de cozinha; volta às aulas só depois da vacinação; não às privatizações; Fora Bolsonaro e Mourão, já”.

 

Fonte: CSP-Conlutas

Segunda, 01 Março 2021 11:21

 

São Paulo – Início das aulas presenciais durante a pandemia de covid-19 na Escola Estadual Caetano de Campos, na Consolação | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

 

Desde que o ensino presencial foi retomado nas escolas estaduais, municipais e privadas pelo país, professores seguem mobilizados em defesa da greve sanitária e com exigência de suspensão das atividades na pandemia, que colocam em risco profissionais da educação e as comunidades como um todo.

 

Com centenas de casos de contaminados nas redes de ensino, trabalhadoras e trabalhadores em educação, além de pais e estudantes, via ação da CSP-Conlutas estadual São Paulo, divulgaram, nesta quarta-feira (24), um abaixo-assinado em que é exigida a suspensão imediata até que haja controle da pandemia com vacinação em massa.

 

Até a tarde desta quinta (25) mais de 3 mil pessoas já haviam assinado o documento. É possível assinar e fortalecer essa luta pela vida no link: “Escola fechadas, Vidas preservadas”.

 

Aprendizado se recupera, vidas não

Somente no estado de São Paulo, já são mais de 60 mil mortos pela Covid-19 e, oficialmente, já temos cerca de 10 escolas fechadas por casos de contágio.

 

São 741 contaminados e mais de 1.100 casos suspeitos, segundo dados de 16/2, emitidos pelo próprio governo de João Doria.

 

Mas os números parecem muito subestimados. A subnotificação é gritante tendo em vista apenas a apuração realizada pela Apeoesp – sindicato da categoria – que indica haver mais de 1045 casos de contágio, em 548 escolas e instituições de ensino.

 

Registro de carreata de protesto na região da Zona Leste de São Paulo | Foto: Coletivo Reviravolta na Educação

 

E o lockdown anunciado nesta quarta-feira (24) por Dória apresenta restrições muito limitadas. Abrangendo apenas o período de 23h às 5h, a medida não garante nenhuma segurança aos professores e outros trabalhadores em educação, nem mesmo às famílias das crianças e dos adolescentes que retornaram às atividades presenciais, em escolas com pouca ou nenhuma estrutura para atender o momento específico de pandemia.

 

Segundo previsão do governo do Estado, é possível que em 3 semanas o sistema de saúde entre em colapso, devido aos desafios que essa nova cepa, mais contagiosa, coloca em realidade. Atualmente, já ultrapassamos o marco histórico de lotação das UTIs.

 

Nossas vidas importam

Para a professora Flávia Bischain, do Coletivo Reviravolta na Educação, as medidas para conter a pandemia têm sido insuficientes. Ela, que está presente em todas as ações de denúncia e de conscientização sobre o problema, acredita que para reduzir os danos e as mortes é preciso garantir urgentemente “condições para a população fazer o isolamento adequadamente – com auxílio do estado – , melhorias e condições para o ensino remoto – que hoje é precário -.

 

“A cada dia recebemos mais e mais denúncias. São, até o momento, mais de mil denúncias subnotificadas, dos 740 casos confirmados pelo governo”, disse em carreata de protesto da categoria, realizada nesta quarta-feira (24) em SP.

 

Flávia ainda relembrou o caso da professora da rede estadual de Caçapava, Maria Tereza, que faleceu devido a complicações da Covid-19. Sua mãe também foi contaminada e, assim como a filha, não resistiu.

 

Conforme noticiado anteriormente em nosso site, segundo o site Agora Vale, no dia 15 de fevereiro, a escola onde Maria Teresa lecionava dispensou os alunos após uma professora testar positivo para Covid-19. Outros dois professores também estavam com suspeita da doença.

 

Luta

Em São José dos Campos, uma carreata deve acontecer nesta sexta-feira (26). Na capital paulista, os professores farão a “Passeata em Defesa da Vida“, com saída programada para as 10 horas, partindo do Vão do MASP rumo à Secretaria da Educação.

 

No Recife, o SIMPERE já espalhou a campanha da categoria contra a retomada das atividades presenciais em cerca de 50 outdoors da cidade.

 

Os materiais denunciam para a população a falta de estrutura física da rede de ensino público do Recife e a irresponsabilidade desta prefeitura e do governo do Estado nas movimentações para a volta às aulas presenciais.

 

Essa luta pela vida só será vitoriosa com vacinação em massa enquanto a pandemia estiver ameaçando a comunidade escolar e a categoria.

 

“Não será nenhum protocolo que irá garantir a vida das pessoas e sim que as unidades de ensino permaneçam fechadas” alerta o sindicato.

 

Para a CSP-Conlutas, não é possível fingir uma falsa normalidade com o retorno às aulas presenciais. Seguimos com nossa campanha “Escolas Fechadas, Vidas Preservadas”, com a possibilidade de ensino remoto de qualidade em caráter emergencial para todos.

 

Fonte: CSP-Conlutas

Segunda, 01 Março 2021 11:21

 

São Paulo – Início das aulas presenciais durante a pandemia de covid-19 na Escola Estadual Caetano de Campos, na Consolação | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

 

Desde que o ensino presencial foi retomado nas escolas estaduais, municipais e privadas pelo país, professores seguem mobilizados em defesa da greve sanitária e com exigência de suspensão das atividades na pandemia, que colocam em risco profissionais da educação e as comunidades como um todo.

 

Com centenas de casos de contaminados nas redes de ensino, trabalhadoras e trabalhadores em educação, além de pais e estudantes, via ação da CSP-Conlutas estadual São Paulo, divulgaram, nesta quarta-feira (24), um abaixo-assinado em que é exigida a suspensão imediata até que haja controle da pandemia com vacinação em massa.

 

Até a tarde desta quinta (25) mais de 3 mil pessoas já haviam assinado o documento. É possível assinar e fortalecer essa luta pela vida no link: “Escola fechadas, Vidas preservadas”.

 

Aprendizado se recupera, vidas não

Somente no estado de São Paulo, já são mais de 60 mil mortos pela Covid-19 e, oficialmente, já temos cerca de 10 escolas fechadas por casos de contágio.

 

São 741 contaminados e mais de 1.100 casos suspeitos, segundo dados de 16/2, emitidos pelo próprio governo de João Doria.

 

Mas os números parecem muito subestimados. A subnotificação é gritante tendo em vista apenas a apuração realizada pela Apeoesp – sindicato da categoria – que indica haver mais de 1045 casos de contágio, em 548 escolas e instituições de ensino.

 

Registro de carreata de protesto na região da Zona Leste de São Paulo | Foto: Coletivo Reviravolta na Educação

 

E o lockdown anunciado nesta quarta-feira (24) por Dória apresenta restrições muito limitadas. Abrangendo apenas o período de 23h às 5h, a medida não garante nenhuma segurança aos professores e outros trabalhadores em educação, nem mesmo às famílias das crianças e dos adolescentes que retornaram às atividades presenciais, em escolas com pouca ou nenhuma estrutura para atender o momento específico de pandemia.

 

Segundo previsão do governo do Estado, é possível que em 3 semanas o sistema de saúde entre em colapso, devido aos desafios que essa nova cepa, mais contagiosa, coloca em realidade. Atualmente, já ultrapassamos o marco histórico de lotação das UTIs.

 

Nossas vidas importam

Para a professora Flávia Bischain, do Coletivo Reviravolta na Educação, as medidas para conter a pandemia têm sido insuficientes. Ela, que está presente em todas as ações de denúncia e de conscientização sobre o problema, acredita que para reduzir os danos e as mortes é preciso garantir urgentemente “condições para a população fazer o isolamento adequadamente – com auxílio do estado – , melhorias e condições para o ensino remoto – que hoje é precário -.

 

“A cada dia recebemos mais e mais denúncias. São, até o momento, mais de mil denúncias subnotificadas, dos 740 casos confirmados pelo governo”, disse em carreata de protesto da categoria, realizada nesta quarta-feira (24) em SP.

 

Flávia ainda relembrou o caso da professora da rede estadual de Caçapava, Maria Tereza, que faleceu devido a complicações da Covid-19. Sua mãe também foi contaminada e, assim como a filha, não resistiu.

 

Conforme noticiado anteriormente em nosso site, segundo o site Agora Vale, no dia 15 de fevereiro, a escola onde Maria Teresa lecionava dispensou os alunos após uma professora testar positivo para Covid-19. Outros dois professores também estavam com suspeita da doença.

 

Luta

Em São José dos Campos, uma carreata deve acontecer nesta sexta-feira (26). Na capital paulista, os professores farão a “Passeata em Defesa da Vida“, com saída programada para as 10 horas, partindo do Vão do MASP rumo à Secretaria da Educação.

 

No Recife, o SIMPERE já espalhou a campanha da categoria contra a retomada das atividades presenciais em cerca de 50 outdoors da cidade.

 

Os materiais denunciam para a população a falta de estrutura física da rede de ensino público do Recife e a irresponsabilidade desta prefeitura e do governo do Estado nas movimentações para a volta às aulas presenciais.

 

Essa luta pela vida só será vitoriosa com vacinação em massa enquanto a pandemia estiver ameaçando a comunidade escolar e a categoria.

 

“Não será nenhum protocolo que irá garantir a vida das pessoas e sim que as unidades de ensino permaneçam fechadas” alerta o sindicato.

 

Para a CSP-Conlutas, não é possível fingir uma falsa normalidade com o retorno às aulas presenciais. Seguimos com nossa campanha “Escolas Fechadas, Vidas Preservadas”, com a possibilidade de ensino remoto de qualidade em caráter emergencial para todos.

 

Fonte: CSP-Conlutas

Quinta, 04 Fevereiro 2021 14:40

 

A situação da pandemia se agrava a cada dia. Agora não se morre apenas da própria COVID-19, mas também pelas sequelas de um sistema de saúde em colapso e absolutamente sobrecarregado, do qual a situação de Manaus é a mais emblemática, levando dezenas de pessoas a morte por asfixia diante da ausência de oxigênio.

Alguns especialistas chamam de segunda onda e outros apontam que no Brasil nem sequer a primeira onda foi controlada, já que não tivemos medidas firmes de isolamento social e fechamento das cidades. O fato é que vivemos hoje uma realidade em que mais de 220 mil pessoas morreram e 9 milhões já foram contaminadas, sem contar com as subnotificações de um país que nega a ciência, o Sistema Único de Saúde (SUS) e prioriza o capital em detrimento da vida.

O ANDES-SN reafirma a necessidade da vacinação para todos e todas já, como estratégia coletiva, baseada na ciência, de possibilidade de controle da pandemia. Entendemos que o Plano Nacional de Imunização deve contemplar toda a população brasileira, pois só atingiremos uma imunização com segurança quando 70% da população for vacinada. Devido à desorganização do Ministério da Saúde para a vacinação em massa, é preciso que seja respeitado um calendário que atenda os grupos prioritários. Neste sentido, entendemos que o conjunto da categoria deve seguir o calendário apresentando. Ao mesmo tempo, é preciso acelerar o processo de imunização, com a aprovação de outras vacinas pela ANVISA e a compra dos insumos necessários à fabricação no país. Somente com essas medidas poderemos ter condições de um planejamento eficiente para a imunização de toda a população.

A compreensão do ANDES-SN é que a luta imediata deve ser pela imunização do conjunto da população, até atingirmos o percentual estipulado pelas organizações da saúde, para o controle da pandemia. É necessário responsabilizar o governo federal pelas mortes, pela alta contaminação e especialmente pela lentidão do Plano Nacional de Imunização (PNI).

Desde o início da pandemia todas as ações do governo federal foram pautadas na perspectiva negacionista e da anticiência, explicitada em inúmeras falas de desprezo em relação às mortes, além da omissão em investir no Ministério da Saúde e no SUS, e num planejamento para a imunização, o que obrigatoriamente exigiria a compra de vacinas e de insumos. Mais do que isso, o governo federal sequer cogita a hipótese de quebra de patentes para acelerar a produção de vacina, em uma explícita posição de não se chocar com os interesses na mercantilização das vacinas pela indústria farmacêutica.

Defendemos que a alternativa à falta de planejamento do governo federal, ao invés de antecipar vacinação à(o)s docentes, deve ser a de lutar para que somente com vacinação para todas e todos poderemos cogitar o retorno presencial às aulas. A antecipação da vacinação só estaria servindo para atender especialmente às pressões do setor privado da educação e aos governos que querem o retorno às aulas presenciais em prejuízo da vida. Isto aglomeraria e tornaria ainda mais exponencial, pela natureza do trabalho escolar, a contaminação do(a)s demais trabalhadore(a)s que não estão inserido(a)s nas prioridades.

Essa posição é política mas, acima de tudo científica e se pauta nos seguintes elementos:

- O(A)s menores de 18 anos não estão incluído(a)s no PNI devido à falta de testagem para essa faixa etária, o que impõe que o restante da população seja imunizada para que a pandemia seja controlada;

- As crianças têm mais possibilidade de serem assintomáticas, mas nem por isso deixam de se contaminar e de transmitir. Portanto, crianças expostas tem mais riscos de se contaminar e de serem vetor de transmissão para dentro de sua casa, caso suas famílias não tenham sido imunizadas;

- O fato do(a)s professore(a)s se imunizarem não significa, pelos estudos e comprovação de eficácia das vacinas disponibilizadas, que não se contaminarão. Significa apenas que uma vez imunizado(a)s ficam resguardado(a)s de sintomas mais graves da COVID-19. Ou seja, não impede totalmente a contaminação e, portanto, não impede que professores e professoras também sejam vetores de transmissão. Mais um motivo para defender a imunização da população respeitando os grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização, do qual profissionais da educação já fazem parte;

- Em dez meses de pandemia muitos trabalhadores e trabalhadoras não puderam realizar trabalho remoto e se mantiveram exposto(a)s aos riscos da contaminação. Muitos se contaminaram e muitos morreram. Nesse momento, em que tem início a imunização, defendemos que esses/essas trabalhadore(a)s devem ter prioridade na vacinação, assim como os grupos mais vulneráveis. Por isso, defendemos o retorno presencial só com vacina para todos e todas e continuar com o trabalho remoto, de forma excepcional, enquanto não houver vacinação em massa para preservar vidas;

- É necessário que se considere que a maior parte da população que acessa a educação pública, utiliza-se de transporte coletivo público, o que em si já representa um risco de contaminação. Mais gente nos ônibus, mais circulação do vírus, mais contaminação. Com mais contaminação, idoso(a)s, pessoas com comorbidades, pessoas com deficiência, entre outros, podem ser mais facilmente contaminados, mesmo estando em casa em isolamento social, uma vez que passam a conviver com pessoas, sejam professores e professoras ou estudantes que vão voltar a transitar nas ruas e em espaços aglomerados;

- Nesse momento, o retorno presencial exigiria uma estruturação das instituições de ensino e do transporte público, para o qual o país não se preparou. Isso ficou evidente, por exemplo, na aplicação das provas do ENEM, realizadas em instituições de ensino que em sua maioria não estavam preparadas e não tinham estrutura sanitária;

- A identificação da nova cepa do coronavírus, que circula na Amazônia, pode chegar em vários estados brasileiros e é ainda mais contagiosa. Até que ocorra a imunização da população, a única alternativa para evitar que se espalhe de forma mais veloz, intensificando o colapso do sistema de saúde e ampliando as mortes e evitar aglomerações, é manter o isolamento social;

- O debate sobre a imunização prioritária de professores e professoras desconsidera o conjunto da comunidade acadêmica e escolar. A escola e a Universidade não são feitas só de professores e professoras, assim como os hospitais não são estruturados só com médicos e médicas. A defesa deve ser pela imunização de toda a comunidade acadêmica e escolar, assim como de todo o(a)s profissionais que trabalham na saúde;

- Deve-se destacar, que pelo PNI do governo federal, o(a)s professore(a)s já constam como prioritário(a)s para vacinação, estando no grupo 4. Nos grupos 1, 2 e 3 estão o(a)s profissionais da saúde, idoso(a)s, indígenas, quilombolas e pessoas com comorbidades. Ou seja, exigir passar o(a)s professores e professoras para o primeiro ou segundo grupo significa inviabilizar a imunização de segmentos absolutamente prioritários, seja pelo seu alto grau de exposição ao vírus, seja pela sua vulnerabilidade no caso de contaminação.

Por fim, destacamos que o problema da pandemia não foi criado por nós e a resolução para tal problema é responsabilidade do governo federal,que vem a cada dia explicitando seu desprezo à vida, em especial dos mais pobres, negros e negras e pessoas com deficiências. Nesse sentido, consideramos que nosso desafio seja unificar todo o conjunto da educação para exigir a Vacina já para todos e todas e condicionar o retorno presencial à segurança sanitária.

Reafirmamos nosso compromisso com a defesa da educação pública de qualidade, o que na nossa avaliação necessariamente passa por uma educação presencial. Mas neste momento compreendemos que o que está em jogo são vidas e estas não temos como recuperar. O semestre letivo, os conteúdos, as defasagens temos como recuperar tão logo seja possível o retorno presencial.

Que sejamos capazes de dialogar entre as categorias da educação e fazermos o devido enfrentamento ao governo seja no âmbito federal, estadual ou municipal, em defesa da vida. Que a alternativa para o capital e para o governo genocida não seja a vida dos pobres. A luta e a resistência são nossa alternativa!

Pela unificação das lutas em defesa da vida e da educação pública!

Não temos aula presencial, Bolsonaro, é a culpa é sua!

Em defesa do SUS!

Vacina para todos e todas já!

 

 

Terça, 02 Fevereiro 2021 09:58

 


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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*


A pandemia causada pelo coronavírus que, em seu inicio aqui no Brasil foi considerada uma “gripezinha” pelo Presidente Bolsonaro, até 31 de Janeiro de 2021 já infectou 102.853.080 milhões de pessoas e já causou a morte de 2.225.433 vítimas ao redor do mundo, continua presente e, em diversas países, inclusive no Brasil está quase fora do controle, a considerar tanto os novos casos e novas mortes a cada 24 horas quanto à falta de leitos de UTIs e até de oxigênio, provocando a morte de pacientes por asfixia, o que não deixa de ser uma verdadeira aberração e um crime hediondo, provocado pela incúria de gestores do sistema publico de saúde por não terem capacidade de prever os recursos para a gestão plena de hospitais, como aconteceu em Manaus e outras cidades do Estado do Amazonas e pode acontecer também em outros estados e cidades.
Apesar de que o número de pessoas infectadas tenha uma certa preponderância no que tange `as pessoas com 60 anos e mais, não se pode descartar o risco de infecção e até mesmo de mortes entre grupos populacionais em faixas etárias abaixo de 50 anos e acima de 20 anos.

Todavia, quando a variável são as mortes, em todos os países, praticamente sem exceção, mais de 70% ou em alguns casos chegando a mais de 80% dos óbitos ocorrerem entre grupos de idosos, principalmente acima de 70 anos. Além de idosos ou inclusive entre esses, o que tem sido observado também é a presença de outras comorbidades, principalmente doenças cardio e cerebrovasculares, diabetes, doenças respiratórias e renais que contribuem para o agravamento da situação de pacientes nessas condições e faixas etárias.

Mesmo que diversas vacinas já tenham sido aprovadas para uso emergencial ou algumas em caráter definitivo em alguns países e várias outras estão em processo de testes, o que se nota é que ainda não existem vacinas disponíveis em quantidade suficiente para a imunização sequer de todos os grupos de risco em todos os países, incluindo, profissionais de saúde que estão atuando direta ou indiretamente no que se chama de “linha de frente”, onde, inclusive, tem sido constatada, em números alarmantes, tanto a infecção quanto óbitos nesta categoria, provocando não apenas temor, medo de quem continua trabalhando arduamente enfrentando condições precárias de trabalho, como falta de máscaras adequadas, produtos de higiene e limpeza, medicamentos, respiradores, leitos de enfermaria e de UTIs , oxigênio ou até mesmo instalações adequadas, gerando um verdadeiro caos ou pandemônio em meio a esta terrível pandemia.

O cenário, em alguns locais, em diversas países, inclusive no Brasil é como uma Guerra, uma frente de batalha, doentes amontoados nos corredores, gente gemendo, familiares desesperados por noticias de seus entes queridos nas portas de unidades de saúde, de hospitais ou de necrotérios, ambulâncias retidas por falta de vagas com doentes em macas, jornadas extenuantes e falta de quadros profissionais.
Enquanto isso governantes posam para tirarem fotos junto aos primeiros vacinados, quando existem diversas perguntas que esses governantes, verdadeiros enganadores, demagogos não conseguem responder como continua acontecendo no Brasil.  Onde foram parar milhões ou bilhões  de reais de recursos financeiros, equipamentos e produtos super faturados? O que foi feito com esses criminosos de colarinho branco que roubam recursos escassos da saúde pública? Por que não tiram fotos em frente a pilhas de caixões que nem os familiares podem abrir para se despedirem?

Três países disputam os primeiros lugares neste campeonato macabro em número de casos: Estados Unidos, que durante mais de um ano de pandemia tinha como presidente um negacionista que debochava da pandemia e do coronavírus (Trump) registrou até 31 de janeiro de 2021 nada menos do que 26,2 milhões de casos (25,5% dos casos no mundo, apesar  de os EUA terem apenas 4,3% da população mundial); em segundo em número de casos desponta a Índia com 10,7 milhões de casos ou 13,4% do total mundial, em que pese que aquele país conte com 1,38 bilhões de habitantes o que representa 17,7% da população mundial.
E na terceira posição, bem distante do quarto lugar, vem o Brasil com 9.2 milhões de casos ou 8,9% dos casos quando nossa população corresponde apenas 2,7% do total mundial. O quarto lugar é ocupado pelo Reino Unido, com 3,8 milhões de casos ou 41,4% dos casos registrados no Brasil, em que pese que aquele país represente apenas 32% da população brasileira.

Quanto ao Reino Unido cabe destacar que no inicio da pandemia o primeiro ministro Boris Johnson tinha uma postura totalmente negacionista e sempre que podia minimizava o tamanho e a gravidade do problema e acabou pagando o preço de seu negacionismo, tanto pessoalmente quando contraiu o coronavírus e teve que ser internado quanto na situação em que estive o país na primeira onda e o sufoco em que se encontra atualmente no auge da segunda onda e das novas variantes do vírus.

Quanto ao número de mortes, o total mundial até este último dia de janeiro de 2021 atingiu 2,22 milhões de vítimas. Os EUA ocupam também o topo quanto ao número de mortes 440,9 mil, número maior do que as mortes de soldados americanos na primeira e na segunda Guerras mundiais; na Guerra da Coréia e na Guerra do Vietnã.

Enquanto a COVID 19 já matou 440,9 mil pessoas nos EUA em pouco mais do que um ano, todas as guerras mencionadas duraram entre 4 a 10 anos. Segundo fontes do Governo Biden, a expectativa é de que até final deste ano de 2021, mesmo com o incremento da vacinação, o coronavírus deverá provocar mais de 630 mil mortes, número também maior do que a mais cruel Guerra em que os EUA se envolveram que foi a Guerra civil, durante 4 anos de abril de 1.861 ate abril de 1865, quando 620 mil vidas foram estupidamente ceifadas em uma Guerra fratricida.

No caso do Brasil, apesar de ser o terceiro país em número de casos, há quase um ano ocupa o triste segundo lugar em número de mortes, tendo sido registrados até o último dia de janeiro de 2021 nada menos do que 223,94 mil mortes. Tanto o número de casos quanto de óbitos provocados pelo coronavírus há mais de um mês tem sido acima de 50 mil casos e mais de 1,200 mortes diárias, chegando em alguns dias a mais de 1.500 mil óbitos diários, o que não deixa de ser preocupante, alarmante ou até mesmo desesperador como acontece há mais de um mês em Manaus e outras cidades.

Isto pode servir de base para que seja elaborado um cenário,  mesmo com o inicio muito lento e tímido da vacinação, que dentro de três meses teremos mais de 12 milhões de casos e mais de 310 mil mortes, o que é uma situação muito triste, número maior do que a soma de todas as mortes por assassinatos, acidentes automobilísticos, suicídios, acidentes de trabalho e domésticos.

O pior em toda esta situação é que ainda temos muitas autoridades de forma direta ou indireta boicotando a campanha de vacinação, parece que torcendo para que mais gente seja infectada e venha a morrer e também boa parte da população que, mesmo diante de tanto sofrimento, morte, falta de recursos médicos e hospitalares e noticias da imprensa demonstrando a gravidade da situação, parece  que ignoram a  velocidade de como o coronavírus se espalha e a letalidade do mesmo, principalmente para os grupos de risco, principalmente as pessoas idosas e com comorbidades.

O próprio Presidente da República, há poucos meses declarou explicitamente que o Brasil ou melhor, seu governo, não iria comprar a vacina chinesa (da Coronavac em parceria com o Butantan), chegando, inclusive, a desautorizar o seu próprio Ministro da Saúde, General Pazuello, obrigando-o a voltar atrás e cancelar uma promessa de compra de 46 milhões de doses da vacina junto ao Instituto Butantan , depois de dizer abertamente a todos os governadores que iria comprar, tendo que cancelar o compromisso.

Todavia, de forma contraditória, coube ao Governo Federal firmar contrato de exclusividade para a compra de 100 milhões de doses da vacina do Butantan, como se diz, usando sinais trocados. O que o governo fala um dia, pela boca do Presidente, acaba mudando de posição na primeira oportunidade, isto gera dúvidas e falta de orientação para outros níveis de governo e da população.

Durante vários dias e semanas o Governo Federal tentou desacreditar a eficácia da vacina do Butantan, chegando o presidente a dizer que se alguém tomar a vacina e sendo homem vai ficar falando fino ou alguém pode virar jacaré, ou que a vacina não pode ser obrigatória, lançando dúvidas na cabeça do povo, mesmo assim, pesquisas de opinião pública continuam indicando que mais de 70% ou até 80% em alguns estados e grupos demográficos que essas pessoas desejam e irão tomar a vacina, tão logo a mesma esteja disponível.

Apesar de que o Presidente Bolsonaro há alguns dias tenha falado abertamente que o Brasil é o sexto país em termos de imunização/vacinação, isto não é verdade, tanto em número de doses aplicadas quanto do percentual de pessoas vacinadas em relação à população total do país, comparativamente com outros países, neste final de janeiro, bem depois da declaração do Presidente, ocupamos um dos últimos lugares, o 43a. posição, com pouco mais de 2,05 milhões de pessoas vacinadas, ou seja, apenas 1% da população total ou 1,27% da população com 18 anos ou mais ou então apenas 2,6% do total de pessoas que são classificadas como grupos de risco (idosos acima de 60 anos, pessoal da área de saúde e pessoas com as diversas comorbidades), que atingem 80 milhões de pessoas, o que demandaria pelo menos 160 milhões de doses de vacina, algo muito longe de ocorrer nos próximos meses.

O Brasil só começou a vacinação, mesmo que de forma lenta e sem previsão exata da disponibilidade de vacina para todos os integrantes de grupos de risco, após mais de 46 países terem dado inicio a imunização, o que não deixa de ser um fiasco para um país que tanto se orgulho de seu potencial e projeção econômica no cenário mundial (em termos de PIB o Brasil foi em 2019 a nona economia).

Apesar da propaganda dos diversas níveis de governo e também por parte da maioria dos veículos de comunicação incentivando a população a se vacinar, o fato concreto é que o  Brasil é dependente tecnologicamente nesta e em diversas outras áreas importantes e estratégicas (por jamais ter tido um plano de longo prazo e não ter investido o suficiente em  educação, ciência e tecnologia) de outros países para a importação dos insumos necessários `a produção de vacinas, inclusive em relação `a covid-19, seja no Instituto Butantan ou na FIOCRUZ e existe uma certa escassez  a nível mundial tanto de vacinas quanto desses insumos e outros produtos e também considerando a desorganização, falta de uma coordenação nacional mais efetiva por parte do Governo Federal e também a uma verdadeira Guerra politica, eleitoral e ideológica entre o governo federal e alguns governos estaduais, principalmente o Governador de São Paulo, possível adversário de Bolsonaro em 2022, dificilmente a população brasileira, nem mesmo todas as pessoas dos grupos de risco, conseguirão se imunizar até meados deste ano. Vivemos um verdadeiro pandemônio em meio a uma das piores pandemias de que se tem notícia na história do pais.

Tendo em vista a velocidade da transmissão do coronavírus, o surgimento de novas cepas, variantes ou enfim, mutações que estão sendo observadas, constatadas, estudadas e também ao caos em que se encontra a saúde pública brasileira, que já era enorme e tornou-se pior com o advento da pandemia, com tendência de piorar nos próximos meses, mais o descaso da maioria da população quanto `as medidas e recomendações das autoridades sanitárias quanto à biossegurança, a situação da pandemia do coronavírus no Brasil pode, com alta probabilidade de ocorrer, atingir patamares incontroláveis como o que está acontecendo nos EUA e em alguns países europeus e de outras regiões, fruto da combinação desses fatores, aliados ao negacionismo tanto por parte do Governo Federal quanto de diversas outros entes e níveis governamentais e boa parte do setor empresarial, ávido por seus lucros.

Aqui cabe uma ressalva importante, uma coisa são as aglomerações com a finalidade de “curtir”, de se divertir em praias, festas privadas, clandestinas, comemorações em família; outra coisa bem diferente, mas que acarreta as mesmas consequências é a necessidade da grande massa de trabalhadores, seja dos setores essenciais ou de outros não essenciais, mas que continuam trabalhando “normalmente”, tendo que se locomover em sistemas de transportes urbanos sucateados, amontoados em trens, ônibus, metros sem possibilidade de qualquer distanciamento social, aumentando sobremaneira a possibilidade de novos contágios e transmissão do vírus, já que o Brasil continua sendo um dos países que menos testes para covid-19, por milhão de habitantes, realiza no mundo.

Além disso, fica difícil manter isolamento social ou promover higienização pessoal para milhões de famílias pobres, miseráveis que vivem em favelas, casas de cômodos, palafitas ou outras formas precárias e sub-humanas de “habitação”, com cinco ou seis pessoas em um ou dois cômodos, em vielas estreitas, casas que não tem ventilação, sem esgotamento sanitário e, as vezes, até sem água potável. Isto também contribui para a proliferação da pandemia e o aumento de casos da covid-19 e das mortes, conforme dados estatísticos tem demonstrado que esses grupos populacionais são os que mais demandam atendimento no Sistema único de Saúde (SUS), onde o sucateamento e precariedade são gritantes.

Enquanto a população pobre, miserável, sem emprego, sem renda sequer para comprar comida, vive este drama, os nossos governantes, marajás da República, quando contraem o coronavírus, rapidamente se deslocam para São Paulo `a procura de atendimento em hospitais de primeira linha, cujas diárias nesses hospitais correspondem a mais de 15 ou 20 meses de “auxílio emergencial’ de R$600,00 , que em determinado momento foi considerado muito alto e cortado pelo Governo Bolsonaro pela metade, tendo se encerrado no final do ano.

Outro aspecto importante que contribui para o agravamento da situação da pandemia do coronavírus no Brasil é a falta de empenho direto do Presidente da República e de seu ministro da saúde em planejar, articular, coordenar e liderar todas as ações relacionados com o enfrentamento à pandemia, como acontece com mandatários de outros países, cujo melhor exemplo pode ser mencionado o empenho do recém empossado Presidente dos EUA, Joe Baiden, que deu um novo rumo no combate da covid 19 naquele país.

Este fato, ou seja, falta de protagonismo do Governo Federal e o próprio Presidente Bolsonaro, contribui para que governadores e prefeitos, principalmente  das capitais e grandes cidades ocupem esses espaços e o resultado é um Sistema totalmente caótico, com desperdício de recursos, corrupção e um “bate cabeças”, todos, sem exceção tentando usar o combate `a pandemia como plataforma para ganhos políticos, eleitorais e partidários, como aconteceu nas eleições recentes para as prefeituras e, certamente, deverá ocorrer a partir de agora em função das eleições gerais de 2022.

Este é o lado triste de toda esta história, o uso politico, ideológico e eleitoral do sofrimento do povo, principalmente dos pobres, excluídos. E aí também podemos incluir o debate e embate relacionados com o auxílio emergencial, que, em determinados  momentos, as necessidades imediatas da população que mais sofre com a pandemia, inclusive que tem aumentado  os níveis e índices de pobreza, de miséria e de fome, sendo colocado em um lugar secundário em nome do equilíbrio das contas públicas e do teto dos gastos.

Para esses políticos, gestores e governantes a fome, a miséria, o desemprego e o sofrimento humano de milhões de brasileiros pouco contam tanto em relação aos seus projetos pessoais ou de grupos quanto na manutenção de seus privilégios. O povo é visto apenas enquanto eleitores que lhes darão acesso e manutenção do poder e das benesses que daí advém.
Este é o retrato da realidade em relação ao avanço do coronavírus no Brasil, bem distante tanto da propaganda oficial quanto do descaso por parte da população, lamentavelmente! Estamos nos aproximando de uma situação em que a melhor solução pode ser a do “salve-se quem puder”.

Diversos analistas tem concluído que a derrota de Trump para Biden, deveu-se, fundamentalmente, à forma negligente e negacionista (a mesma seguida por Bolsonaro) como o mesmo tratou/administrou a pandemia do coronavírus nos EUA e que acabou fugindo totalmente do controle do governo e da população. Este foi o preço pago por seu negacionismo.

Há quem diga que isto também poderá acontecer em breve no Brasil, se bem que até 2022, espera-se  que a covid-19 seja algo do passado, mas suas consequências humanas, econômicas, sociais e politicas permanecerão por vários anos, podendo afetar politicamente a realidade e ter reflexos profundos nas eleições gerais de 2022 e nos anos seguintes. Quem viver verá!

JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, articulista/colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

Segunda, 11 Janeiro 2021 10:11

 


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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

“Após meses de isolamento, casal sai para cortar cabelo e morre de Covid-19” Fonte: Site CNN (EUA) 30/12/2020 Simret Aklilu, da CNN. “Visita de Papai Noel com Covid-19 provoca 18 mortes em lar de idosos na Bélgica. 121 moradores e 36 funcionários foram infectados no começo de dezembro no asilo localizado na Antuérpia.” Fonte: Site G1 Globo, 27/12/2020.

“Pelo menos 46 idosos foram diagnosticados com Covid-19, em um surto de contágio registrado em um asilo no município de Cantagalo, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Até o momento, quatro pessoas morreram”. Fonte: CNN Brasil 30/12/2020.

Essas são apenas três noticias, várias histórias de vida, sofrimento e morte, dentre milhares ao redor do mundo e também no Brasil, onde e quando pessoas infectadas com a COVID-19, sem saberem que estão contaminadas com o CORONAVIRUS ou até mesmo sendo assintomáticas, não se resguardam, ou não são orientadas e assistidas como no caso de idosos, muitas das quais não usam máscaras, não mantem o distanciamento social de dois metros, não higienizam as mãos e acabam sendo contaminadas e também contaminando outras pessoas, principalmente idosos/idosas e outras integrantes dos vários grupos de risco.

Essas pessoas, ao lado da negligência dos poderes públicos, na verdade, são os agentes do sofrimento, das desgraças e das mortes que continuam dizimando milhões de pessoas ao redor do mundo e o Brasil também está nesta mesma situação e faz parte desta triste e lamentável realidade.

Não bastasse o descaso de governantes, que negam a existência e a letalidade do vírus, alguns, como Bolsonaro que dizia, no inicio da pandemia no Brasil, que o CORONAVIRUS “é apenas uma gripezinha”, ou insinua que quem usa mascara não passa de maricas, quando referindo a esta realidade, disse explicitamente que “o Brasil precisa deixar de ser um país de maricas”.

O CORONAVIRUS, COVID-19 está circulando no mundo todo e ultimamente com novas variantes mais contagiosas e letais, muitos imaginavam e ainda imaginam que o surgimento de uma ou várias vacinas iria representar o fim da pandemia de um dia para o outro e que tudo estaria resolvido, o mundo e os países voltariam ao “antigo” ou “novo” normal. 

Ledo engano, mesmo com a vacina, apesar de que mais de 50 países já estarem imunizando suas populações e nos próximos dias, semanas ou meses com certeza mais de uma centena de países também estarão protegendo suas populações, inclusive, países com dimensões econômicas e geopolíticas de peso muito menor do que nosso país, o Brasil, lamentavelmente, pela incompetência, descaso, negacionismo e incúria de nossos governantes, está no fim da fila, sem vacinas e nem seringas e agulhas o Ministério da Saúde consegue comprar, o que demonstra tanto o descaso quanto a falta de planejamento e de compromisso do Governo Bolsonaro e de diversas governantes estaduais e municipais com a saúde e a vida da população.

Por outro lado não podemos culpar apenas ou exclusivamente tais governantes insensíveis ou negacionistas mas, também, boa parte ou talvez a maior parte da população que é estimulada por tantas demonstrações de descaso quanto aos perigos e letalidade da COVID-19 por parte de autoridades, a quem atribuem uma grande dose de verdade, continua se aglomerando, promovendo festas e comemorações clandestinas ou ostensivas, pessoas saindo `as ruas ou frequentando áreas de comércio popular, com grande número de pessoas aglomeradas e circulando sem distanciamento social e sem o uso de máscaras, tem contribuído para o aumento assustador de novos casos de infecções e de mortes nos últimos dois meses, caracterizando que estamos em plena segunda onda desta pandemia.

Dados estatísticos e inúmeras reportagens tem demonstrado que o Sistema de saúde, principalmente o Sistema público de saúde, está entrando ou em alguns estados e capitais já entrou em colapso total.

Hospitais não tem mais leitos, nem de enfermaria e muito menos de UTI para atender ao aumento assustador de casos, números esses que, conforme diversas especialistas, tendem a aumentar nas próximas duas ou três semanas, como consequência e resultado das aglomerações e falta de cuidados por parte da população e falta de ação dos poderes públicos para coibirem tais eventos durante os festejos natalinos e de final de ano.
Da mesma forma que a segunda onda impôs novas medidas drásticas de isolamento, fechamento de estabelecimentos comerciais, atividades econômicas, esportivas, de lazer e outros setores na Europa e em vários outros países, talvez, já que a vacina ainda vai demorar muito tempo, muitos meses para estar disponível para toda a população, o Brasil terá que adotar, novamente, medidas restritivas, tendo em vista que os hospitais estão super lotados e sem chances de atender o aumento do volume de pessoas infectadas que demandam leitos hospitalares, principalmente leitos de UTIs, respiradores, além de equipes de profissionais de saúde que também estão morrendo e desfalcando tais quadros técnicos, o que torna a situação ainda mais crítica e assustadora. Só não vê quem não quer ou quem acredita em fake news, charlatanismo ou curandeirismo que continuam negando a existência e a letalidade do coronavírus.

Temos ouvido e visto no noticiário diário que o Sistema de saúde pública está encontrando dificuldade para contratar novos profissionais de saúde, seja para repor os cargos/funções de inúmeros que contraem a COVID-19 e outros que foram vitimas/morreram.

Conforme dados da OMS até Agosto pouco mais de 7 mil profissionais de saúde perderam a vida para o coronavírus, sendo 1.077 nos EUA, 649 na Inglaterra; 634 no Brasil; 631 na Rússia e 573 na Índia, entre os diversas países.

No caso do Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde, em reportagem no site Agência Brasil, a COVID-19 infectou 257 mil profissionais de saúde e provocou centenas de mortes, impactando negativamente o volume e qualidade dos serviços prestados aos pacientes.

Cabe ressaltar que enquanto a corrupção através de criminosos de colarinho branco, dentro e fora dos organismos públicos continuam roubando recursos destinados ao enfrentamento do coronavírus, falta dinheiro para pagar pessoas abnegadas, como os profissionais de saúde, que colocam suas vidas em risco, ou adquirir equipamentos, sem os quais se torna impossível oferecer serviços de qualidade, como acontece em vários estados.

Roubar dinheiro da saúde pública deveria ser considerado crime hediondo e esses ladrões deveriam receber penas longas, por muitas décadas, para demonstrar que, realmente, o crime não compensa, já que no Brasil não existe pena de morte e nem de prisão perpétua para tais tipos de crimes e criminosos.

Lamentavelmente os ladrões de colarinho branco ainda continuam agindo e soltos após cumprirem penas bem leves, passando a mensagem para outros corruptos de que o crime compensa, já que a impunidade é a tônica dominante.

O Brasil, por falta de planejamento e gerenciamento precário no Sistema de saúde pública vive também um verdadeiro paradoxo, de um lado estão faltando leitos hospitalares e de outro existem milhares de leitos equipados mas falta pessoal técnico e de apoio, principalmente médicos e outros profissionais especializados.

Só no Rio de Janeiro, onde a situação está praticamente fora do controle, existem mais de mil leitos de UTI desativados por falta de médicos e outros profissionais de saúde, principalmente em hospitais públicos federais, estaduais, municipais e também hospitais universitários, o que é um absurdo, verdadeiro crime contra a população que tem na saúde pública a única forma de buscar atendimento e socorro.

Volto a repetir e a enfatizar, os hospitais estão superlotados, o número de leitos de enfermarias e, principalmente, de UTIs estão praticamente com capacidade esgotada, as filas da morte com dezenas de milhares de pessoas em todos os Estados aguardando uma vaga de UTI que não surge e ai a MORTE CHEGA NA FRENTE, tem aumentado dia após dias a angustia de doentes e seus familiares.

Neste cenário vamos continuar assistindo, ouvindo relatos, noticiário da imprensa radiofônica, impressa e televisiva pessoas amontoadas em corredores de hospitais ou nas portas de unidades de saúde, em ambulâncias que perambulam de hospital para hospital, muitas morrendo sem qualquer assistência. É muito triste e revoltante observarmos uma situação como esta.

Falamos tanto em democracia, em “Estado democrático de direito”, em direitos fundamentais das pessoas, direitos humanos como consta de nossa Constituição Federal que em seu artigo 196 assim estabelece “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

Ora, a saúde é mais do que importante para que as pessoas, os cidadãos e cidadãs possam exercer vários de seus direitos fundamentais, dentre os quais, o direito mais sagrado, a partir do qual todos os demais direitos estão vinculados que é a VIDA.

Sem saúde todos os demais direitos, inclusive o direito `a vida, se tornam sem sentido, por isso é a mesma Constituição Federal, que todos os Governantes juram cumprir e fazer cumprir e inclusive existe a mais alta instância do Poder Judiciário , que é o STF, cuja única atribuição é de ser o guardião de nossa Carta Magna, mas que em muitos casos, inclusive nesta pandemia, quase 200 mil pessoas não tiverem seu direito a vida garantido e foram tragadas pela morte.

Até o dia 05 de Janeiro de 2021, o Brasil já registrou 7,8 milhões de casos e 197,7 mil mortes, sendo que nas últimas 24 horas do dia 04 para 05 de janeiro foram registrados 56.648 novos casos e ocorreram 1.171 novas mortes, dentro de mais três meses, quando supõe-se que pelo menos parte dos grupos de maior vulnerabilidade possam já ter sido vacinados, estima-se que o número de casos podem seja igual ou superior a 10 milhões e o de mortes pode superar 250 mil, mantendo-se o atual índice de letalidade da COVID-19 no Brasil que é de 2,5%, como tem ocorrido ao longo dos últimos meses.

Sempre é bom ler e reler o que consta de nossa Constituição Federal, como, por exemplo em seu artigo quinto quando estabelece “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes….”

No andar atual “da carruagem”. como se diz, o plano nacional de imunização, no que tange à COVID-19, poderá não passar de um belo documento, para enfeitar prateleiras ou para que os governantes o exibam perante os meios de comunicação, jamais um plano real que represente ações de fato, que contenham metas e indicadores, prazos precisos e que consigam reduzir ou eliminar a circulação do vírus em nosso país.
Até que mais da metade dos brasileiros , incluindo todas as pessoas integrantes dos grupos de risco possam receber a vacina, vamos ter que aguardar vários meses ou talvez até o ano todo de 2021 para que isto aconteça.

Enquanto isso, dezenas de milhares de pessoas  serão infectadas  e centenas morrerão todos os dias. Assim, o Brasil poderá contabilizar e superar em 2021 mais de 12 milhões de pessoas infectadas pela COVID-19 e mais de 300 ou 350 mil mortes.

Neste contexto, é bom refletir que o Brasil continua sendo o terceiro país em número de casos, atrás dos EUA e da Índia. Mesmo tendo pouco mais de 15,3% da população Indiana tem 31,7% mais casos do que aquele país, isto significa que o índice de mortalidade por COVID-19, por 100 mil habitantes é de 10,7 na Índia e de 92,9 no Brasil. Nos EUA este índice é de 107,2 mortes por 100 mil habitantes e no mundo é de apenas 24,4 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes.

Quando comparamos os índices de letalidade, ou seja, qual o percentual das pessoas diagnosticadas/infectadas com COVID-19 que acabam morrendo,  esses índices são os seguintes: mundo 2,2%; Itália 3,5%; Inglaterra 2,7%; Espanha 2,6%; Brasil e França 2,5%; Alemanha 2,0%; Rússia 1,8%; EUA 1,7%; Índia 1,4% e Turquia 1,0%. Esses são os dez países com maiores números de casos no mundo. A média do índice de letalidade desses dez países é de 1,9%.

No entanto, desde o inicio da pandemia do coronavírus os dados estatísticos tanto em relação ao mundo como um todo quanto de inúmeros países onde tais dados estão disponíveis indicam que a taxa de letalidade cresce de acordo com o aumento das faixas etárias, a despeito de que os índices de contágio sejam mais uniformes, ou seja, pessoas em todas as faixas etárias, a partir de 20 ou 30 anos são contaminadas, mas, mesmo que os idosos com 60 anos e mais sejam a minoria da população, proporcionalmente são infectados em maior percentual e, pior ainda, apresentam índices de letalidade diversas vezes maiores do que das faixas etárias menores do que 60 anos.

Os dados a seguir são do Estado de São Paulo, até meados de dezembro e representam a média nacional em relação aos Brasil como um todo e guardam a mesma relação  com dados da China, de diversas países Europeus, dos EUA e também de praticamente todos os países da América Latina.

Internamente, no caso do Brasil, os índices de letalidade variam bastante e decorrem tanto do estado de higidez da população quanto da qualidade dos sistemas de saúde, principalmente dos sistemas públicos.
Isto significa que as pessoas cujo estado imunológico esteja comprometido com outras comorbidades, como portadores de diabetes, doenças cardíacas, vasculares, renais, câncer, fumantes, obesos ou que sofrem com doenças respiratórias ou degenerativas quando infectadas pelo coronavírus tem a probabilidade de serem afetadas com maior severidade e irem a óbito do que as demais pessoas que tenham melhor imunidade e não tenham comorbidades.

Além disso, a falta de condições no atendimento do Sistema público de saúde principalmente, com a falta de leitos hospitalares, falta de medicamentos, falta de profissionais e técnicos de saúde contribuem para a demora no atendimento e diagnóstico correto, complicando sobremaneira a situação desses pacientes e aumentando a probabilidade de um aumento de mortes. Nessas situações os grupos populacionais excluídos, pobres e moradores das periferias urbanas e meio rural são as maiores vitimas.

Voltando aos índices de letalidade no Estado de São Paulo, por faixa etária, os dados indicam que em pessoas com menos de 40 anos este índice é de 0,2% ou seja, de cada mil pessoas infectadas apenas duas vão a óbito, nas demais faixas etárias os índices são: 40 a 49 anos 1%, em mil contaminados 10 morrem; 50 a 59 anos 2,8% ou seja, de cada mil infectados 28 acabam morrendo; de 60 a 69 anos 8,4% indicando que em mil pessoas contaminadas 84 acabam morrendo; 70 a 79 anos 18,5% ou seja, de cada mil infectados 185 morrem; 80 a 89 anos 32,0% indicando que de cada mil pacientes nesta faixa diagnosticados 320 acabam morrendo e pacientes com mais de 90 anos o índice de letalidade é de 37,8% demonstrando que quanto maior e a faixa etária maior é o índice de letalidade, no caso dos idosos com mais de 90 anos 378 dos diagnosticados com COVID-19 acabam morrendo.

Na maioria dos países e também aqui no Brasil, idosos com 60 anos ou mais representam 76% do total de mortes por COVID-19, isto significa que das 197,7 mil mortes ocorridas até o dia 05 de Janeiro de 2021, nada menos do que 150,2 mil óbitos foram de pessoas idosas com 60 anos ou mais, um absurdo, quando este grupo representa apenas 13,6% da população brasileira.

A negligência em relação a esses grupos, principalmente os mais idosos, pode representar um verdadeiro genocídio, ou seja, extermínio de boa parte dos idosos em idade mais avançada.

Merece também um destaque para o fato de que os índices de letalidade no Brasil variam muito entre os Estados. Enquanto o índice de letalidade do Brasil é de 2,5%, em Mato Grosso do Sul de 1,9%, em Pernambuco 5,3% e no Rio de Janeiro 6,6%.

Para situarmos melhor a questão dos idosos em relação à COVID-19 e a vacinação, precisamos destacar que existem no Brasil 28,9 milhões de idosos (pessoas com 60 anos ou mais) ou 13,6% da população brasileira.
Por faixas etárias temos o seguinte Quadro: a) de 60 a 74 anos existem 22,2 milhões de idosos, ou 77% de idosos que serão excluídos inicialmente do plano de vacinação do ministério da saúde; b) acima de 75 anos existem 6,7 milhões de idosos ou 23,0% da população idosa, que, em princípio serão vacinados em caráter prioritário nos termos do plano de vacinação do governo federal.

Só para vacinar todos os idosos o Brasil teria que garantir nada menos do que 57,8 milhões de doses de vacinas, além dos grupos de risco como profissionais de saúde, portadores de comorbidades, cujos dados exatos estão ausentes nos diversas planos de vacinação dos governos federal, estaduais e municipais.

É neste contexto que precisamos discutir a questão da vacinação, pois além dos idosos, não apenas acima de 75 anos, mas sim, acima de 60 anos sejam vacinados, em cumprimento inclusive ao que consta do Estatuto do idoso, que em seu artigo 15 estabelece “ É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo  a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos”.

Ora, neste e em nenhum outro artigo o grupo de idosos de 60 ate 75 anos consta que este grupo deva ser excluído, razão pela qual tanto o Governo Federal quanto os governos estaduais e prefeituras não podem excluir a maior parte dos idosos no Brasil em se tratando de vacinação contra a COVID-19.

Os idosos no Brasil (pessoas com 60 anos e mais) representam 13,6% da população; 16,3% dos casos de COVID-19 e o absurdo de 76,8% das mortes por esta terrível pandemia.

Em relação à vacinação e fabricação de tantos insumos e equipamentos fundamentais e imprescindíveis para o pleno funcionamento dos sistemas de saúde, é importante refletirmos que, enquanto alguns países como EUA, diversas europeus, Rússia, China, índia e Japão estão em um estágio avançado em educação, ciência e tecnologia em todas as áreas, inclusive nesta de equipamentos e insumos hospitalares e de saúde, o Brasil, ao longo de décadas pouco tem investido em educação, ciência e tecnologia e tanto se orgulha de ser um dos grandes exportadores de commodities, matérias primas com baixo índice de agregação de valores, como era a economia brasileira durante os períodos colonial e do império. Esta é uma razão para não produzirmos vacinas, respiradores e até mascaras e luvas, itens que devem ser importados, uma vergonha!

Parece que um cenário como este não abala as preocupações dos políticos, gestores e governantes municipais que começaram uma nova gestão a menos de uma semana ou políticos estaduais e federais que só pensam nas eleições de 2022, até lá, o povo que se dane, o povo que se lasque, o povo que continue chorando seus doentes e enterrando seus mortos, sem sequer poder vela-los com dignidade.

Também é necessário que os Ministérios Público Federal e Estaduais, que são “os fiscais da Lei”, as Defensorias públicas e inclusive o Poder Judiciário, tenham uma ação mais decisiva e efetiva para que os Governantes e instituições públicas e privadas realmente cumpram com as leis que garantem os diversas direitos da população. Afinal, a existência de Leis que não são cumpridas não passam de “belas mentiras”, ou como dizem, “para inglês ver”.

Este é o Brasil que teremos, em 2021, no que tange à maior crise sanitária de nossa história, é a falência total do Sistema público e, em parte do Sistema privado de saúde, inclusive dos planos e seguros de saúde, além de todas as demais mazelas que colocam nosso país no centro do noticiário internacional como o descaso, degradação e crimes ambientais, a violência endêmica que já tomou conta de nossa sociedade, a corrupção que continua correndo solta, a pobreza, a miséria e a fome que afetam mais da metade da população brasileira, situação que vai piorar muito com o fim do auxílio emergencial a partir deste inicio de 2021.

JUACY DA SILVA, professor universitário, aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia e colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

 

Sexta, 26 Junho 2020 18:51

 

O reitor da Universidade do Estado da Paraíba (UEPB) encaminhou uma minuta de resolução para estabelecer normas para atividades não presenciais durante a pandemia, num processo de consulta pública virtual. O documento torna obrigatório, tanto para docentes quanto para estudantes, o ensino remoto. 

A minuta foi elaborada após uma pesquisa virtual com estudantes, cujos resultados são questionados pela Associação dos Docentes da UEPB – Aduepb Seção Sindical do ANDES-SN. O texto está sendo analisado pelos Conselhos Superiores da UEPB.

“A universidade quer continuar o semestre como se nada estivesse acontecendo. Como se a vida continuasse normalmente nessa pandemia, como se tivesse uma transposição automática do ensino presencial para o ensino remoto. É um assunto muito delicado para toda a comunidade acadêmica que precisa de muito debate”, denuncia Mauriene Freitas, presidente da Aduepb SSind.

Por se posicionar contrária ao ensino remoto excludente, a seção sindical foi alvo de ataque por parte do reitor da universidade. Em participação no programa Jornal do Meio-Dia, na rádio Campina FM, Antônio Guedes Rangel Júnior criticou a seção sindical e acusou de boicotar a pesquisa sobre condições de acesso à internet e a adesão às aulas remotas.

Uma avaliação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese, realizada a pedido da direção da Adueb SSind, mostrou várias contradições entre o discurso adotado pela Reitoria e os resultados da pesquisa realizada pela instituição.

A pesquisa mostrou que 51,92%, de aproximadamente 16 mil alunos que a universidade possuía em 2019, sequer responderam o questionário. Esse percentual, acrescido dos 10,98% que não possuem computador geraram uma maioria de 62,9% no segmento que não opinaram ou estão sem condições de acompanhar o ensino remoto. Apenas 37,1% disseram possuir computadores, mesmo que de forma compartilhada. 

Entre os professores, os percentuais foram semelhantes, com 68,28% não respondendo ao questionário, não possuindo condições de trabalho em casa ou possuindo parcialmente. Apenas 31,72% conseguiriam cumprir suas obrigações num regime de trabalho remoto. Mas o resultado não arrefeceu o ânimo da reitoria em implantar o ensino virtual.

“A Aduepb SSind., assim como o ANDES-SN, é contra as aulas remotas porque, nas condições atuais, não existe condição de aulas para todo mundo. Para se ter aula remota, todos têm que ter acesso. Para ilustrar isso, a universidade lançou um questionário online sobre as condições de docentes e discentes que teve seu resultado amplamente criticado pela Aduepb. O resultado foi que 50% dos alunos não responderam. Isso nos aponta as dificuldades que nossos alunos têm para acessar”, conta Mauriene, que considerou muito infelizes as acusações do reitor.

A diretora da Seção Sindical afirma que de acordo com a minuta apresentada pela reitoria, todos os professores serão obrigados a aderir ao ensino remoto e os alunos também. Para os estudantes, existe a possibilidade de trancamento da matrícula o que, na leitura da Aduepb SSind., é um reforço da exclusão social. 

“Cerca de 50% dos alunos da UEPB são advindos de cotas sociais (escola pública) e nos parece que será essa parcela mais prejudicada. A proposta da universidade é de reforço de privilégio para aquele que tem as condições materiais para fazer aula remota. Outro fator é que a UEPB tem oito campi. Apenas dois são localizados em grandes cidades e os outros seis são fora do eixo comercial e atende muitos alunos da zona rural, que tem pouco ou nenhum acesso à conexão de qualidade”, explica.

Ela acrescenta que o grande temor é que, ao se aprovar a obrigatoriedade da aula, a universidade privilegie quem tem as condições materiais, físicas e emocionais para o ensino remoto e acabe deixando para trás os estudantes em vulnerabilidade social, que necessitam de uma universidade inclusiva, que não têm equipamentos e nem boas condições físicas e emocionais para o aprendizado virtual.

Na perspectiva do professor, Mauriene aponta que também há vários problemas. Segundo a docente, a universidade editou uma instrução normativa que era facultativa, à qual os professores não aderiram. Para ela, isso demonstra dificuldades também por parte do corpo docente em executar aulas remotas.

“Agora a reitoria vem com a minuta, de cima pra baixo, e não dialoga com os diversos professores. Dentro da universidade, temos cursos de diversas áreas, como humanas, saúde, exatas, cada um com suas especificidades. É preciso escutar esses profissionais para saber o que pode servir ou não”, disse.


A presidente da Aduepb SSind. alerta, ainda, que muitos docentes não possuem boa conexão de internet e não têm intimidade com os equipamentos necessários para gravação e ou transmissão das aulas. Além disso, as mulheres, em especial, estão sobrecarregadas com o cuidado com a casa, filhos, o que também dificulta o engajamento e dedicação para as aulas.

Ela lembra, no entanto, que desde o começo da pandemia, a comunidade acadêmica está constantemente se reunindo para pensar alternativas, realizando atividades de pesquisa e orientação, e que já foram apresentadas propostas para que a universidade oferte aos estudantes, e a toda a sociedade, educação pública, gratuita e de qualidade através de seminários, palestras, congressos e outras atividades virtuais, sem comprometer os alunos que estão atualmente matriculados nos cursos.


“São muitos problemas na proposta que a Universidade apresentou. Fizemos uma série de indagações que ainda não foram respondidas. A Aduepb SSind. preza por uma educação pública, gratuita e de qualidade. A reflexão sobre isso demanda tempo. Essa é a primeira vez de fato, do ponto de vista regimental, que a universidade chama os conselhos para debater. Para além da operacionalização, se tivermos aula temos que garantir que todos participarão. O que foi apresentado [pela reitoria] tem problemas e não garante a inclusão de todos”, afirma.

 

Fonte: ANDES-SN

Sexta, 26 Junho 2020 12:51

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

Mesmo em países super desenvolvidos ainda tem muita gente ignorante, descuidada e que não acredita que o CORONAVIRUS exista e, pior do que isso, não acredita que este vírus é letal e pode ser transmitido para as pessoas que teimam em se aglomerar.

Todas as comunidades médicas, cientistas, gestores públicos e governantes responsáveis e conscientes, com algumas exceções como Trump, Bolsonaro, Boris Johnson e alguns ditadores de ex-repúblicas soviéticas, e diversos governadores, prefeitos e empresários obscurantistas, repito, com essas exceções, tem enfatizado que as únicas maneiras de se evitar a proliferação deste vírus e novos contágios pelo Coronavírus, é através do isolamento social/distanciamento social, uso de máscaras e práticas higiênicas como lavar as mãos e outros cuidados para combater o covid 19.

Pois bem, conforme notícia da imprensa de hoje (26/06/2020), em Dallas, no Texas (EUA) uma família resolveu ignorar todas essas recomendações e realizar uma "festinha" familiar para comemorar um aniversario, prática tão comum em tempos chamados normais, antes que esta pandemia chegasse a todos os países e cantos do mundo, mas altamente perigosa em meio `a pandemia do coronavírus.

Resultado, 18 pessoas contraíram o vírus e deverão pagar caro por esta ignorância e negligência, com sofrimento, muitos gastos financeiros e, quem sabe, até algumas mortes naquela família.

Fatos como este e outros que provocam aglomerações, multiplicam-se, com muita frequência, em todos os países, inclusive no Brasil, que, mesmo em meio `a expansão da pandemia, com o número de pessoas infectadas e de mortes tem crescido, praticamente em todos os Estados e na grande maioria dos municípios.

Tanto nos EUA quanto no Brasil já tem ocorrido diversas casos de contágios e até de mortes pelo coronavírus em pastores, sacerdotes e fiéis de igrejas que teimaram e ainda teimam em abrir as portas de seus templos. No Brasil, por decreto de Bolsonaro, por exemplo, as igrejas são consideradas atividades essenciais e isto também tem facilitado o contágio, infecção e até mortes.

Há poucos dias a imprensa brasileira noticiou que dos 27 jogadores de um time Famoso de futebol de São Paulo, ao serem testados para o coronavírus constatou-se que 21 dos mesmos estavam infectados, ou seja, nada menos do que 77,8% do total estavam com o vírus.

Bem no inicio da pandemia, quando de uma viagem aos EUA a comitiva do Presidente Bolsonaro, ao retornar ao Brasil foi noticiado que 22 dos integrantes da comitiva, com exceção do Presidente (estranhamente), praticamente todos foram infectados e, com certeza, ajudaram a “espalhar” o vírus em seus entornos rotineiramente.

Diversos frigoríficos em vários estados tem se convertido em focos de contagio e motivado diversas medidas de controle, conforme frequentes noticias veiculados nos mais diferentes veículos de comunicação.

Pessoas contaminadas, tanto as sintomáticas e também as chamadas assintomáticas (aquelas que não demonstram nenhum sinal de estarem infectadas com o coronavírus) podem transmitir a COVID19 para amigos, parentes, inclusive integrantes dos grupos de risco como idosos ou  pessoas que, mesmo não sendo idosas, façam parte de grupos com certas comorbidades, como diabetes, problemas renais, pacientes em tratamento de câncer, HIV, fumantes, obesos, pessoas que sofrem de alguma doença cardiovascular.

De acordo com estudos da OMS as pessoas idosas, com poucas exceções, são portadoras de uma, duas ou até mais doenças crônicas, algumas degenerativas e incuráveis, as quais passam a ter comorbidades e apresentarem maiores taxas/índices de mortalidade. Na Europa, por exemplo, a população com 60 anos ou mais representam “apenas” 24% do total da população, sendo que o grupo com 65 anos e mais representava em 2019 em torno de 19%. No entanto no total de mortes por coronavírus em torno de 90% tem 60 anos ou mais.

Esta mesma tendência deve ser observada tanto nos EUA quanto no Brasil e nos demais países. São idosos e idosas que, mesmo em isolamento social/distanciamento social, muitas vezes acabam sendo contaminadas por familiares que não observam as normas indicadas para evitar que o coronavírus se espalhe ainda mais.

Dia e noite médicos, infectologistas, estudiosos das doenças de massa e contagiosas, pneumologistas, pesquisadores e outros profissionais da área da saúde, além de gestores públicos que usam o bom senso e conhecem a realidade epidemiológica brasileira, tem enfatizado alguns aspectos importantes como: a) a única estratégia para conter o avanço do coronavírus é o distanciamento social/isolamento social e o uso de máscaras e praticas higiênicas; b) os sistemas de saúde em geral e particularmente o SUS estão falidos, não existem leitos, principalmente leitos de UTIs e respiradores suficientes na maior parte dos estados e dos municípios, para fazer face ao aumento rápido, contínuo e acelerado de novos casos; c) existe, em todos os lugares, todos os estados, principalmente nas cidades polos e capitais (já que as cidades menores e do interior não possuem estrutura de saúde em condições de atender aos casos mais graves pois não contam com leitos hospitalares em geral e muito menos leitos de UTI e respiradores), estão sendo formadas as FILAS DA MORTE, ou seja, doentes graves ficam `a espera de um leito de UTI e respiradores e acabam morrendo nessas filas, pois as vagas só são abertas com a recuperação ou morte de alguns doentes que estavam ocupando esses leitos.

Além desses alertas, no caso brasileiro, o que presenciamos é um verdadeiro PANDEMONIO, uma confusão geral, muita improvisação e o que podemos chamar de “bate cabeças” entre níveis de governo, no que concerne ao enfrentamento do coronavírus.

As autoridades/governantes não se entendem, não existe uma coordenação a nível nacional, nem entre os estados e municípios, o que vemos é uma verdadeira balbúrdia, falta de transparência e falta de diretrizes que orientem corretamente as ações, parece um verdadeiro “exército brancaleone”.

O Presidente Bolsonaro, desde o inicio da pandemia joga contra, fazendo “gol contra” seu próprio time; cria conflitos com seus ministros da saúde, tendo demitido dois ministros da saúde em apenas um mês, em meio a esta pandemia e o terceiro, um general, sem nenhum preparo na área da saúde ocupa interinamente, há mais de um mês o ministério da saúde e ali colocou/nomeou diversos militares para ocuparem posições que deveriam ser ocupadas por pessoal técnico e qualificado na área da saúde; os prefeitos estão em constantes conflitos com os governadores; o poder judiciário é provocado com frequência para dirimir esses conflitos  e as vezes essas decisões judiciais acabam em novos conflitos, gerando mais confusão na cabeça das pessoas.

Por exemplo, como aconteceu em recente decisão judicial que obriga as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande, o maior aglomerado urbano de Mato Grosso, a imporem quarentena obrigatória por duas semanas, tendo o Prefeito da Capital, atendendo interesses de setores econômicos do município, recorrido da decisão judicial, mas, graças ao bom senso, o Tribunal de Justiça negou o pleito do prefeito.

Outro aspecto decorrente da ignorância popular em relação ao CORONAVIRUS tem sido a quebra dos índices de isolamento social/distanciamento social e a falta de uso de máscaras. Neste sentido podem ser observadas praias lotadas, baladas, festinhas ou festonas clandestinas em sítios, pousadas ou clubes clandestinos, resultando em novos contágios e pressão sobre os sistemas de saúde já falidos e mais mortes.

Além da ignorância popular, presente em todas as camadas sociais, econômicas e culturais, o coronavírus tem como outro aliados a incompetência e descaso governamental em todos os níveis, federal, estadual e municipal.

Bem antes da chegada do coronavírus o SUS já estava falado, em completo caos, deteriorando-se a olhos vistos todos os dias, crise nos hospitais públicos; crise nas santas casas de misericórdia, crise em hospitais conveniados, gente sofrendo e morrendo nas filas físicas ou virtuais, como ao longo de meses e anos a imprensa tem denunciado, ante o olhar passivo até de organismos de controle das ações publicas. Nem a judicialização buscada por doentes e familiares tem conseguido demover os entraves burocráticos criados pela incompetência e descaso governamentais.

Esta falência, apesar de um certo esforço para dotar o Sistema de saúde de recursos necessários ao enfrentamento do coronavírus, incluindo construção de hospitais de campanha, aquisição de leitos por parte do SUS em hospitais particulares, mesmo assim, a corrupção na área da saúde continua, através de empresas fantasmas ou simulacros de empresas terceirizadas para gestão de unidades de saúde e servidores públicos, gestores e governantes corruptos.

Esta falência é constatada não apenas na falta de leitos, principalmente de UTIs e respiradores, mas também, como já acontecia e continua acontecendo, a falta de medicamentos, principalmente os necessários e imprescindíveis para o tratamento de pacientes em estados mais graves. Também merece ser mencionado neste contexto a falta de pessoal capacidade para atuar na área da saúde publica.

Segundo denúncias recentes de diversas entidades representativas de setores da saúde, inclusive do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, conforme veiculado pela imprensa, praticamente em todos os estados estão faltando esses medicamentos, o que coloca em sério risco a vida de quem esteja internado e entubado e em estado grave.

Outro fato vergonhoso, para não dizer criminoso, é a falta de transparência de dados e informações não apenas em relação aos números de pessoas infectadas e de mortes, mas também quanto ao número correto de leitos em geral e leitos de UTIs e respiradores em particular.

Um exemplo desta situação foi constatada em Mato Grosso onde o Tribunal de Contas do Estado ao realizar uma auditoria em 08 hospitais públicos em alguns  municípios, incluindo Cuiabá, Várzea Grande e mais quatro ou cinco municípios polos do interior, foi constatado que o número de leitos informados pela Secretaria de Saúde do Estado e pelos hospitais e que é a base para o cálculo do estágio em que se encontra a pandemia no Estado e a capacidade de atendimento do Sistema público de saúde, volto a dizer, foi constatado que a realidade é bem pior, ou seja, não existem o total de leitos informados pelos gestores estaduais e municipais, isto não  é uma “pequena” falha, mas um verdadeiro crime contra a saúde publica.

Em uma auditoria realizada e divulgada publicamente há poucos dias pelo Ministro Vital do Rego do TCU (Tribunal de Contas da União) foi dito com todas as letras que o Governo Federal não tem uma estratégia coerente, eficaz e eficiente para coordenar e combater o coronavírus a nível nacional. Isto é uma das causas de muita confusão e do avanço da pandemia pelo Brasil afora.

Em seu relatório, aprovado por unanimidade pelo TCU, o referido ministro faz uma critica mordaz e pede providências da Presidência da República, inclusive no que concerne a Comissão responsável pela articulação das ações, sob a coordenação do Ministro Chefe da Casa Civil, mencionando o fato (absurdo) de que na referida comissão não existem representantes de organismos de saúde, ou seja, todos os integrantes representam ministérios mas não existem representantes de Instituições de pesquisa em saúde, das Associações médicas em geral e muito menos de entidades representativas com  epidemiologistas, infectologistas e dos conselhos relacionados com a saúde como Conselhos Federais de Medicina, de enfermagem, de fisioterapia, de médicos intensivistas, ou seja, de quem, realmente entende de saúde pública

Isto não é surpresa pois tanto o Presidente Bolsonaro quanto boa parte de seus ministros e seguidores, os bolsonarianos, não acreditam no coronavírus e são contrários a todas as formas de isolamento social/distanciamento social, o uso de máscaras e práticas de higiene das mãos. Basta ver as demonstrações do Presidente Bolsonaro que até bem pouco tempo andava sem mascara, provocava aglomerações, participava de manifestações antidemocráticas, estimulava conflitos com seu ministro da saúde, com governadores e prefeitos.

Finalmente, mais uma prova de incompetência e descaso de nossos governantes, a começar pelo Governo Federal e também de todos os governadores e prefeitos é a questão dos testes para diagnosticar se as pessoas já foram infectadas ou não pelo coronavírus e, enfim, conhecer em maior profundidade a extensão, a complexidade e gravidade da pandemia e sua expansão pelo território brasileiro.

Como já afirmado em outras reflexões, o Brasil ocupa a 151a. posição em número de testes por cem mil ou um milhão de habitantes. Estamos em pior situação, apesar de o Brasil ser o segundo país em numero de casos de pessoas infectadas pelo coronavírus e de mortes pelo mesmo, somos a décima ou nona economia do planeta, do que países pobres da África, Ásia, América Latina.

Três exemplos demonstram que esta falta de testagem em massa provoca a subnotificação dos casos de pessoas infectadas. O primeiro vem de uma pesquisa nacional realizada pela Universidade Federal de Pelotas em parceria com o IBOPE, cuja segunda fase da pesquisa  já foi concluída e ficou constatado que o número de casos do coronavírus é de sete vezes maior do que as estatísticas oficiais.

Outro vem de uma pesquisa da Prefeitura de Fortaleza em que foi constatada que esta subnotificação é de 14 vezes menor do que a realidade daquela capital e a terceira, vem de outra pesquisa feita pela prefeitura de São Paulo em que a subnotificação é de dez vezes.

Se tomarmos essas três pesquisas e fizermos uma média ponderada, podemos concluir que o número de pessoas que já contraíram o coronavírus no Brasil é dez vezes maior do que os dados que são divulgados, ou seja, mais de 12 milhões de casos e esses números tendem a crescer rapidamente nas próximas semanas ou meses.

Enquanto o Brasil não promover uma grande testagem em massa , mais de 20 ; 30 ou 40 milhões de pessoas, não teremos condições de sabermos realmente a gravidade do coronavírus e, por consequência, não teremos condições de promover uma “abertura” ou volta das diversas atividades, sob pena de surgir uma segunda onda pior do que a primeira que estamos presenciando.

O que constatamos no momento é fruto desta falta de testagem em massa, com dados subnotificados, com informações nada transparentes e em certo sentido manipuladas pelos grupos que advogam o retorno de tudo `a “normalidade”, por pressão de alguns setores econômicos, preocupados, não com o desemprego ou miséria e pobreza que se agravará com a pandemia, (mas que já existiam há alguns anos e ninguém do governo ou do empresariado se importava), e o descumprimento de todas as recomendações de quem entende de pandemias que é a OMS e outras entidades médicas e científicas, abrindo praticamente tudo e agora ter que voltar atrás e decretar novamente quarentena obrigatória, “lockdown” e outras medidas restritivas.

O Brasil teve três meses para se preparar, enquanto a pandemia atingia violentamente países europeus, Estados Unidos e outras regiões, mas o descaso, falta de coordenação intergovernamental e interinstitucional, a  improvisação e com ajuda da corrupção que ainda está entranhada em todas as esferas governamentais, principalmente na área da saúde, estamos perdendo o que chamam de “Guerra ao coronavírus”. Nem a designação de um general no comando, não das tropas militares, mas da saúde publica, está conseguindo vencer esta Guerra a um inimigo invisível.

Muita gente imagina e acredita que o coronavírus poderia ser parte de uma Guerra bacteriológica, área bem conhecida, pelo menos teoricamente, pelas forças armadas da maioria dos países, inclusive do Brasil, dos EUA, dos países europeus, Rússia e China, mas para a qual, parece que os militares desses países não estavam e nem estão preparados. Imaginemos se o coronavírus fosse realmente fruto de uma Guerra bacteriológica, seriamos derrotados fragorosamente.

Os últimos números de ontem (25/06/2020), relativos ao Brasil, mesmo com a subnotificação, chegaram a 1.180 novos casos de morte nas últimas 24 horas, totalizando 55.054 vidas ceifadas e nada menos de que 40.673 novos casos de pessoas infectadas em 24 horas, um novo recorde nesta triste realidade, totalizando 1.233.147 casos, conforme dados do Consórcio de alguns dos maiores órgãos de imprensa do país.

Pelo que se vê e pelo que ainda está por vir o coronavírus não é apenas uma “gripezinha” ou “resfriadinho” como disse o Presidente Bolsonaro, de forma afoita e irresponsável, quando do inicio da pandemia no Brasil, é a maior crise sanitária que tem se abatido no mundo e no Brasil em um século.

Para algumas pessoas, atitudes como esta tanto por parte do Presidente quanto de governadores, prefeitos , empresários, dirigentes esportivos, próceres religiosos e outras pessoas além de representar um descaso com o sofrimento e morte de tantas pessoas, é, também, uma atitude criminosa, pois representa omissão diante de uma pandemia, cuja gravidade e alerta vem sendo enfatizada por diversas organismos de saúde, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e também um estímulo para comportamentos de milhões de pessoas que acreditam nessas autoridades, cujos exemplos acabam estimulando aglomerações, infectando-se e infectando muitas outras pessoas, inclusive seus entes queridos, entre os quais idosos/idosas, os mais frágeis e vulneráveis.

Vivemos um tempo especial e grave, o coronavírus não é brincadeira, nem uma simples gripe ou uma doença para a qual haja vacina ou medicamentos. Coronavírus impõe sofrimento e morte, cabe a cada pessoa defender sua própria vida e a vida das demais pessoas, a começar por seus familiares, vizinhos e colegas de trabalho, se assim não ocorrer, vamos ter que conviver com esta pandemia e suas graves consequências econômicas, financeiras, aumento da pobreza, da miséria e do sofrimento por muito tempo.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy
 
Quinta, 25 Junho 2020 19:05

Para o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, a vida dos cuiabanos anda tranquila. A iminência da morte e do desemprego não parecem ser suficientes para sensibilizar o político, da mesma forma que não sensibiliza o setor empresarial que buzina reivindicando a reabertura do comércio. Não bastasse o pânico provocado pela pandemia de uma doença altamente letal e ainda desconhecida, tanto a população quanto os profissionais da Saúde Pública – expostos ao contato direto com a Covid-19 - têm agora uma outra preocupação: perseguições políticas.

  

Nessa quarta-feira, 24/06, a frente do antigo Hospital Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC) - agora Hospital de Referência contra a Covid-19 - voltou a ser ponto de protesto. Desde o início da pandemia, os profissionais da enfermagem, categoria que melhor conhece as condições de atendimento da população cuiabana, denuncia a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), medicação, insumos, leitos, que já costumam faltar em Cuiabá até mesmo em situações de normalidade – há diversas denúncias nesse sentido anteriores à pandemia. No entanto, a partir da provocação que o Sindicato dos Profissionais da Enfermagem do Estado de Mato Grosso (Sinpen/MT) fez ao Ministério Público (leia aqui), que motivou nova pressão para fechamento do comércio, surgiram as perseguições. 

Na semana passada, após o apelo do Sinpen/MT às autoridades, uma “denúncia” resultou na abertura de armários de servidores da unidade de saúde, e a presença de EPI’s guardados nos armários individuais - mesmo sendo no local de trabalho – está sendo utilizada como justificativa pela Prefeitura para a exoneração de 12 servidores.    

Considerando a postura da Prefeitura de Cuiabá injusta, colegas de trabalho dos acusados se reuniram em frente ao HPSMC no dia seguinte à vistoria, 20/06, para protestar. Também sofreram retaliações. Servidores efetivos foram transferidos compulsoriamente, e os trabalhadores contratados foram exonerados – uma delas, chamada Edinei Dias, com o diagnóstico de Covid-19. Após a exoneração ela gravou um vídeo com mensagem direta ao prefeito Emanuel Pinheiro. “Eu quero dizer ao prefeito Emanuel Pinheiro que eu não sou política, mas que as duas vezes que você se candidatou o meu voto foi seu. Eu nunca te procurei, nunca falei nada que você foi meu candidato, mas eu tenho uma palavra para você nessa tarde. Eu sei que o meu contrato ia vencer, mas eu quero dizer que isso não se faz com os funcionários que estão dando a vida pelos pacientes internados. Porque é pelos pacientes. Nós não tivemos aumento salarial, estamos com o salário básico, colocando a nossa vida e de todos os nossos familiares em risco”, disse a enfermeira, que havia concedido uma entrevista durante o ato em frente ao HPSMC, contando que foi infectada pela Covid-19 durante o trabalho.    

“Hoje segunda feira [22/06] nos deparamos com a segunda parte do plano maquiavélico de gestores da Secretaria de Saúde de Cuiabá/MT. O RH ligou para alguns servidores que estiveram no ato de sábado (20/06/2020) para dar resposta às injustas acusações de ‘roubo’ de equipamento de proteção individual feitas por gestores do Hospital de Referência ao Covid-19 de Cuiabá. Ainda não temos certeza do teor das ligações, porém não podemos esperar flores de uma gestão que tem atitudes desumanas”, escreveu um servidor que prefere não se identificar a um grupo de colegas. “Preocupados com a qualidade da assistência aos nossos pacientes, pedimos somente condições melhores de trabalho, mas o que recebemos em troca? Mais coação, assédio moral e agora possíveis retaliações dentro do pacote de maldades dos gestores da Secretaria de Saúde de Cuiabá”, acrescentou. 

O presidente do Sinpen/MT, Dejamir Soares, chegou a citar o afastamento de 20 funcionários após a manifestação do dia 20/06 em frente ao antigo HPSMC. Ou seja, além dos trabalhadores da saúde afastados porque fazem parte de grupos de risco – 1.504 no total, sendo que 600 atuam na linha de frente -, e dos trabalhadores que estão sendo afastados diariamente porque são infectados, a população terá de sofrer ainda com o agravamento da falta de profissionais afastados por retaliação ao exercício do direito – ou mesmo do dever - de denunciar o caos ao qual a Saúde Pública de Cuiabá está submetida. O prefeito não quer que digam publicamente que é preciso decretar o fechamento total das atividades da cidade, porque a Saúde Pública da capital não tem condições de atender quem dela precisar. 

“Infelizmente, em pleno ápice da pandemia, precisamos também nos defender do vírus incubado na gestão da saúde de Cuiabá”, conclui o mesmo servidor na mensagem compartilhada com colegas. 

Uma das servidoras que recebeu as ligações as quais o colega se refere acima relatou: “eu estava com Covid-19 e voltei a trabalhar no dia 14. Dia 19 teve aquele negócio [abertura dos armários dos servidores], e dia 20 era meu plantão, eu trabalhei normal. Mas eu fiz um vídeo sobre a situação e enviei para o Felipe Wellaton, que é o vereador opositor. Ele postou esse vídeo na mídia dele e hoje [22/06] simplesmente me ligaram dizendo que eu estou à disposição da UPA Morada do Ouro, sem explicação nenhuma. E ainda tiveram a cara de pau de me dar um documento retroativo, do dia 19, sabendo que não era meu plantão e eu não tinha nada a ver com as UTI’s que eles viram os armários. Eu sou da UTI pediátrica”, afirma. 

Enquanto o secretário de Saúde do estado, Gilberto Figueiredo, repete diariamente que Mato Grosso chegou ao caos, e não há mais “UTI’s, remédios, respiradores e equipes” para quem precisar de tratamento, Emanuel Pinheiro e seus secretários perseguem servidores que denunciam o descaso de agora e de sempre e exigem melhorias. 

O enfermeiro Wylly Murtinho chegou a encaminhar um áudio para a Imprensa pedindo ajuda. “Boa tarde pessoal da Imprensa. Estou gravando essa mensagem porque estou muito indignado com o que está acontecendo comigo. Eu sou enfermeiro, me chamo Wylly, trabalho há 13 anos no HPSMC, tudo o que eu sei eu aprendi ali, tenho uma história ali dentro. Nunca tive problema nenhum com nenhuma gestão, mas essa gestão atual, do Emanuel Pinheiro, junto aos dois capatazes que ele tem dentro do Pronto Socorro – o senhor Milton e o Douglas – está fazendo uma barbárie com os colegas, profissionais da Enfermagem. Estão colocando à disposição, mandando gente embora, pai de família, gente boa, trabalhadora. Estão acabando com a vida de muita gente. Eu estou indignado. Sou concursado, mas eu me preocupo com os meus colegas. Eu estou ali para trabalhar, dou o meu sangue, dei a minha vida naquele lugar para ser maltratado, escorraçado, porque eu fiz denúncia grave. Está faltando EPI, não tem condições de trabalho. A gente está sofrendo, a gente se vira para dar o melhor para o paciente e eles fazem uma palhaçada dessas, colocar a gente à disposição, exonerar funcionário bom, isso não está certo, gente. A gente precisa da ajuda da Imprensa para divulgar isso”, relatou.    

O secretário municipal de saúde, Luiz Antônio Possas, comentou os protestos dizendo: “não estamos no momento de politicagem, o momento agora é de salvar vidas”. O caos na Saúde Pública, no entanto, é fruto de decisões políticas de gestões que se preocuparam mais em agradar o setor privado do que em oferecer à população o atendimento decente e de qualidade que ela merece. 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Terça, 23 Junho 2020 17:40

 

Foto: divulgação Sindmetalsjc

 

Desde o anúncio da pandemia no Brasil, a maioria das indústrias não paralisou em nenhum momento e mesmo as que chegaram a tomar alguma medida inicial, como concessão de férias coletivas ou licença, começam a voltar ao funcionamento normal, apesar do crescimento do número de casos no país. Com isso, milhares de trabalhadores estão submetidos cada dia mais a condições de trabalho que aumentam o risco de contaminação e adoecimento pela Covid-19.

 

Surto nos frigoríficos

Ganhou as manchetes dos jornais nos últimos dias o surto em fábricas da JBS e BRF, ao ponto de ser necessária a atuação do Ministério Público e haver cobrança para o fechamento de plantas. Segundo levantamento do MPT, mais de 3.200 trabalhadores de frigoríficos no Rio Grande do Sul testaram positivo para Covid-19.

 

Em entrevista ao G1, a procuradora do MPT Priscila Dibi Schvarcz explicou que entre os principais fatores que auxiliam a propagação do vírus estão a grande quantidade de trabalhadores em um mesmo setor, o transporte dos funcionários e a falta ou pouca renovação de ar.

 

Explosão de casos entre petroleiros

 

Outro setor industrial com surto da doença é o petroleiro. A situação nas unidades Petrobras é grave, seja em terra ou em alto mar, como vêm denunciando os sindicatos da categoria. Seguindo a política irresponsável e de descaso do governo Bolsonaro, a direção da empresa omite os casos e mortes que já se espalharam por todo o sistema.

 

Estima-se mais de 3 mil infectados e outros mais de 1 mil suspeitos, somente entre os petroleiros efetivos (a empresa não informa os terceirizados que hoje já são maioria no sistema). As mortes também não são informadas, mas os sindicatos já confirmaram 15 óbitos entre petroleiros efetivos.

 

“O adoecimento e a morte seguem na Petrobrás pela incapacidade da alta direção em lidar com o problema e devido à falta de transparência e controle da pandemia, obrigando os sindicatos a moverem processos judiciais que sequer têm suas sentenças respeitadas. Certamente, o motivo do escamoteamento dos óbitos pela direção da Petrobrás se dá por números alarmantes”, afirma o dirigente do Sindipetro-RJ e da FNP Eduardo Henrique.

 

Outro foco de contaminação é em meio aos operários da construção civil que atuam nas obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Segundo dados recentes já são 86 casos confirmados e dois óbitos de motoristas de vans que fazem o transporte local. Ainda assim, a Petrobras e as empreiteiras querem retomar completamente as atividades até o final do mês.

 

Metalúrgicos e químicos

 

Nas fábricas metalúrgicas, os casos também são cada vez mais comuns. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, no Vale do Paraíba (SP), filiado à CSP-Conlutas, logo após o anúncio da pandemia pela OMS chegou a realizar uma campanha pela paralisação de fábricas da categoria. A entidade vem monitorando os casos e já contabiliza 45 trabalhadores infectados em 11 empresas da base.

 

Na Latapack Ball e Ardagh, duas metalúrgicas localizadas em Jacareí (SP), foram 15 casos registrados em cada uma. Na Latapack, a produção chegou a ficar parada por 21 dias com a deflagração de greve pelos trabalhadores e posterior intervenção do Ministério Público.

 

“Após nossa mobilização, várias empresas chegaram a conceder férias coletivas e licença-remunerada, o que segurou o avanço da contaminação na categoria. Mas várias empresas já se preparam para voltar, como a GM, Embraer e TI, o que levanta muita preocupação, principalmente, quando os governos acabaram precocemente com as medidas de isolamento social”, avalia o presidente do Sindicato Weller Gonçalves.

 

Ainda na região, na categoria dos trabalhadores em indústrias químicas, também já há registros da Covid-19 dentro das fábricas. Segundo o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Químicos de São José e região, filiado à CSP-Conlutas, Davi Paulo de Souza Jr, o Sindicato está atento e tem cobrado das empresas, além de todas as medidas de segurança, a realização massiva de testes junto aos trabalhadores.

 

Na Compass Minerals, em Jacareí, foram confirmados três casos no dia 13 de maio. Os trabalhadores chegaram a paralisar a produção, obrigando a empresa a realizar testes e aplicar várias medidas de segurança. Na Target também foram confirmados outros três casos.

 

Morte em Itajubá (MG)

 

Em Minas Gerais, a pandemia também avança nas fábricas. Inclusive, com recente notícia da morte de um trabalhador. No último sábado (13), o metalúrgico Raimundo Lourenço Simões, funcionário da estatal Imbel – Indústria de Material Bélico do Brasil, que fica em Itajubá (MG), morreu por Covid-19.

 

O metalúrgico chegou a trabalhar até a véspera de ser internado, uma semana antes. A Imbel, contudo, em nenhum momento informou o caso ou tomou alguma medida de segurança.

 

Saiba mais: Trabalhador da Imbel (Itajubá-MG) morre por Covid e empresa não toma nenhuma medida preventiva

 

Ainda em MG, há também o caso da Valourec (antiga Manesmann). Boletim interno informou que os casos na empresa quase dobraram, entre 28 de maio e 5 de junho, saltando de 63 para 108 trabalhadores testados positivos.

 

Ganância acima da vida

 

A disseminação do novo coronavírus nas fábricas é apenas mais uma das faces cruéis da realidade imposta à classe trabalhadora diante da pandemia. O mesmo quadro se repete em outras categorias e locais de trabalho como os trabalhadores da Saúde e de serviços essenciais, dos Correios, da mineração, bancários, comerciários, entre outros.

 

O número de casos de Covid-19 no Brasil se aproxima da assustadora marca de 1 milhão de casos.  São mais de 45 mil mortos. Ainda assim, diante deste quadro ascendente, governantes começaram a afrouxar as parciais medidas de isolamento social que estavam em vigor. Após a abertura do comércio ocorrida nos últimos dias, já há registros, inclusive, de um aumento na disseminação da doença em várias cidades.

 

Quarentena geral, já!

 

“A proliferação do coronavírus nas fábricas é resultado da política irresponsável do governo Bolsonaro e Mourão e governos estaduais e municipais”, avalia o dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Atnágoras Lopes.

 

“O quadro é alarmante, pois sabemos da subnotificação existente no país, com uma taxa irrisória de realização de testes. Há setores não essenciais, que poderiam paralisar até que a pandemia possa se estabilizar, mas a ganância e o descaso dos patrões, abertamente defendidos por Bolsonaro, são maiores que a preocupação com a vida dos trabalhadores”, disse.

 

Atnágoras destaca ainda que as empresas, principalmente grandes indústrias, acumularam lucros recordes nos últimos anos, como a Petrobras, as montadoras, mineradoras. Ou seja, têm condições para garantir estabilidade e licença-remunerada para os trabalhadores, sem submetê-los ao risco de contaminação, e evitar ambientes que possam ser focos da doença.

 

“Não bastasse o risco iminente, os trabalhadores vêm sofrendo ainda a perda de direitos e arrocho salarial, pois o governo Bolsonaro está aproveitando a pandemia para aumentar a flexibilização dos direitos”, complementou.

 

“A CSP-Conlutas defende que é preciso Quarentena Geral para defender a vida dos trabalhadores; garantia de estabilidade no emprego e licença-remunerada até que a pandemia retroceda. Que os pequenos proprietários tenham crédito para manter seus negócios e manter empregos. Vamos cobrar isso dos governos e empresas”, afirma Atnágoras.

 

“A auto-organização e mobilização de nossa classe neste momento é fundamental, pois diante da ameaça as nossas vidas, somente a nossa luta pode garantir condições de saúde e segurança. Além disso, colocar para Fora Bolsonaro e Mourão segue sendo outra tarefa fundamental, pois somente a derrota deste governo de ultradireita poderá, de fato, barrar essa política genocida e de ataques aos nossos direitos”, concluiu.

 

Fonte: CSP-Conlutas